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quarta-feira, 24 de maio de 2017

Atual

«De qualquer forma, não vale a pena trocar de treinador só por trocar, que é o que muitos sugerem, com escolhas de nomes que não lembram ao Espírito Santo (pun intended).

No dia em que o FC Porto quiser escolher um novo treinador, terá que mudar de perfil. Chega de projetos de apostas de risco. Será necessário um treinador experiente. Habituado a lutar por títulos e a ter vedetas no balneário. Um treinador que saiba que tem que jogar quase sempre contra equipas fechadas, em maus relvados e a deparar-se contra o anti-jogo. Um treinador que saiba potenciar e evoluir jovens e ter que reconstruir a equipa ano após ano. E por fim, um treinador que saiba que vai ser mais criticado por uma derrota do que elogiado por 10 vitórias, um treinador que saiba que vai ter muita gente a não gostar dele - e não só clubes rivais. Quem achar que há alguém deste perfil livre, por aí, telefone ao presidente».

Um texto escrito n'O Tribunal do Dragão em 2015, ainda era Julen Lopetegui o treinador do FC Porto e já se prognosticava, à distância, uma eventual e indesejada chegada de Nuno Espírito Santo ao Dragão. 

Agora, mais do que nunca, é o momento do FC Porto, na palavra do seu presidente, responder à questão: vão assumir a mudança, privilegiando a aposta num treinador de créditos firmados (algo difícil de encontrar no mercado nacional, certo) ou continuar nas apostas de risco que não têm funcionado nos últimos anos? 

Vem isto a propósito da interessante manchete do jornal O Jogo, que escreve que o FC Porto quer investir numa equipa forte para convencer Marco Silva a rumar ao Dragão. O que sugere a repetição de erros do passado. Acabou a era dos campeonatos em piloto-automático: não precisamos de criar condições para fazer de um treinador campeão; precisamos sim de um treinador que potencie, ao máximo, as condições já existentes (não esquecendo que, até ao final do próximo mês, há inúmeros problemas para resolver quando ao orçamento da época e ao fair-play financeiro). 

A questão é: esse treinador existe? Quem apresentou Nuno Espírito Santo para a época que agora findou tem a oportunidade de se redimir. E quem sabe quantas mais haverá. 

É também a oportunidade de se recuperar esta célebre intervenção de Pinto da Costa: «Às vezes não é preciso um treinador como Lopetegui. Quando se tem Hulk, Falcao ou James, é-me indiferente quem é o treinador. Com eles é difícil não ganhar.» Certo. Então vamos só recordar que neste plantel não há Hulks, nem Falcoes, nem James. E desconhecem-se quantos destes craques nasceram com a visão de Marco Silva. 

segunda-feira, 22 de maio de 2017

«Mas uniu o grupo»

Percentagem de vitórias dos treinadores do FC Porto nos últimos 12 anos:
1. André Villas-Boas 84,48%
2. Vítor Pereira 69,89%
3. Julen Lopetegui 68,83%
4. Jesualdo Ferreira 67,20%
5. Co Adriaanse 64,44%
6. José Peseiro 59,09%
7. Paulo Fonseca 56,76%
8. Luís Castro 56,25%
9. Nuno Espírito Santo 55,10%

Sorri, Bruno!

Voltamos àquela velha discussão: o FC Porto não vai cumprir sempre os seus objetivos, mas tem que lutar sempre por eles até à última gota; de sangue, de suor, de orgulho. Por isso, o resultado em Moreira de Cónegos só pode orgulhar o adepto que anseia ver sempre o FC Porto lutar de forma aguerrida e determinada. 

Em Moreira de Cónegos, vimos total empenho do FC Porto na sua missão. Cada passo, cada passe, cada movimento. A partir do banco de suplentes, Nuno Espírito Santo também deu o seu melhor nesse sentido. Cada opção tomada aproximava o FC Porto do seu objetivo possível para a 34ª e última jornada do Campeonato. 

O Moreirense fez um, dois, três golos. O FC Porto esforçou-se, batalhou, ripostou, e empenhou-se até ao apito final de Fábio Veríssimo para um Campeonato que não pode surpreender ninguém pelo seu desfecho e ausência de taças. 

Ainda assim, o mérito e o esforço têm sempre que ser relevados. E aqui fica o reconhecimento: o FC Porto esteve excelente na sua missão para o jogo contra o Moreirense, desde o primeiro ao último minuto.

Infelizmente, no final o FC Porto falhou na luta que lhe sobrava. Mas acreditem: não foi por nada do que fizeram em Moreira de Cónegos, pois fizeram tanta borrada quanto possível. No entanto, lá teremos que levar com o Tondela mais um ano na Primeira Liga. É pena, pois o FC Porto dificilmente poderia ter feito pior para perder aquele jogo. Mas calma, nem tudo é mau: Bruno de Carvalho, do recém-aliado Sporting, já não correrá o risco de se cruzar com Carlos Pinho, presidente do Arouca, nos túneis na próxima época. 


Termina assim uma época em que se não se faz história e que passa à história. Uma época que nos distancia ainda mais da história recente que orgulhava todos os portistas. Segue-se a mudança de treinadores (a fatura mais fácil de cobrar e que mantém ilesos os verdadeiros culpados responsáveis pela quebra abrupta do FC Porto), promessas de um plantel à Porto, renovadas expetativas... Hmm, esperem. Onde é que já vimos isto?

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Salazar estaria orgulhoso

Despedida do Estádio do Dragão da época 2016-17, com a garantia de que se completará um ciclo de, pelo menos, cinco anos sem que voltemos a festejar um título na nossa fortaleza. A mesma fortaleza em que o FC Porto não consentiu uma única derrota esta época, mas em que somou três empates que comprometeram seriamente a luta pelo título.

Mas ao contrário do que se possa fazer crer, este não é um título que se perde em casa - o FC Porto, na época 1999-2000, somou 49 pontos em 51 possíveis e mesmo assim não deu para chegar ao título. Este é um título que se perdeu por muitas vias: começando pela pré-época, com uma má escolha para o cargo de treinador e uma má abordagem na gestão/reforço/definição do plantel; perdeu-se com sucessivos erros arbitrais que impediram o FC Porto de ganhar pontos e confiança preciosas em algumas jornadas; perdeu-se com a falta de crescimento da equipa e de qualidade individual em alguns momentos; perdeu-se porque o FC Porto falhou em quase todos os momentos decisivos, enquanto o Benfica raramente tremeu quando o FC Porto pressionou - mesmo que tenha havido fatores externos a reforçarem-lhes as varetas na hora da pressão. Inegável, mas para a história fica sempre o mesmo: o FC Porto perdeu este título de campeão para o Benfica. Mais um. 

E agora? E agora há quem clame que o Benfica pode ser tetra pela primeira vez, mas que o FC Porto continua a ser o único penta. Quem diria, um portista cada vez mais agarrado ao passado para combater a realidade do presente. Talvez ignorem é que, dentro de um ano, o penta pode muito bem deixar de ser um exclusivo, sobretudo se não houver melhorias necessárias de forma gritante, desde a equipa técnica à postura da SAD em todas as posições do futebol profissional (desde o mercado aos órgãos de poder), bem como reajustes no plantel em todos os setores. E acima de tudo, não pensar que é com uma troca de treinadores que se resolvem todos os problemas, sobretudo quando conseguem escolher um pior do que o que já cá estava, sem quaisquer valias ou currículo que o recomende para o FC Porto.

Esta vitória sobre o Paços de Ferreira não será recordada nos livros de história, infelizmente, mas não deixa também de ser curioso a facilidade com que desta vez se apitaram duas grandes penalidades a favor do FC Porto. Ainda assim, a maior história do jogo não é essa. Já lá vamos.





Héctor Herrera (+) - Um golo atípico na sua carreira, de cabeça, e uma bela assistência para Diogo Jota. Sem Danilo de início e com André André a baixar muitas vezes no início de construção, aproveitou para se libertar e foi o jogador mais interventivo em campo, tendo não só chegado várias vezes a zonas de finalização como tido diversas ações defensivas (16 no total). Uma boa exibição, mas ainda assim não deve continuar a haver muitas pessoas que teriam recusado uma proposta de 30M€ por ele no último verão. Fica também uma palavra para mais uma exibição bastante razoável de Otávio no meio-campo. 

Diogo Jota (+) - Entrou, agitou o ataque, fez um golo, arrancou um penálti e confirmou um estatuto invulgar para um jogador emprestado no seu primeiro ano de equipa grande: é o jogador do FC Porto com maior influência direta em golos por minuto no Campeonato. Diogo Jota faz um golo ou assistência a cada 110 minutos, uma média excelente para um menino que completou apenas 20 anos em dezembro. E agora? Agora terá a palavra o FC Porto, o Atlético de Madrid e Jorge Mendes. Não necessariamente por esta ordem. 





Será que chega? (-) - Quando Soares chegou ao FC Porto e teve uma entrada a matar, não tardaram as comparações com grandes goleadores da história do FC Porto. Uns falaram em Derlei, outros chegaram a Jardel. Mas talvez a comparação mais ajustada seria esta: Adriano. Não necessariamente pela qualidade técnica dos jogadores, mas por terem tido o seguinte papel: excelentes como reforços de inverno, mas talvez não o suficiente para serem considerados titulares no FC Porto a longo prazo.

Soares superou claramente as expetativas no FC Porto - 12 golos em 16 jogos é sempre excelente, apesar de nos últimos 9 jogos ter apontado apenas 3. Mas será necessário ponderar seriamente se terá a capacidade de se assumir como um titular indiscutível e decisivo no FC Porto. Adriano (que curiosamente também foi determinante num clássico contra Sporting, este sim verdadeiramente decisivo e a valer o título) também chegou, foi determinante na luta pelo título, mas a longo prazo viu-se que não deu para mais. 

Soares, que teve uma exibição francamente má no seu último jogo no Dragão (nenhum remate, nenhuma jogada de perigo), pode e deve ter a oportunidade de fazer a pré-época com a equipa, quiçá com um treinador que saiba trabalhar avançados, e com isso talvez até consiga evoluir e afirmar-se como uma solução de créditos de médio prazo, em vez de ser apenas um reforço de inverno com impacto imediato. No entanto, o presente recomenda que ninguém entre na próxima época a pensar que o FC Porto será Soares e mais 10. 

A cuspidela de Nuno (-) - Nuno Espírito Santo deu os parabéns ao Benfica. Nuno Espírito Santo deu os parabéns ao Benfica. Nuno Espírito Santo deu os parabéns ao Benfica. Sim. O mesmo Benfica que se aguentou na liderança ao som do apito, que tem ostracizado o FC Porto em todas as ocasiões, que vários portistas tentaram combater ao longo do último ano, com um revoltante sentimento de injustiça. Não, o FC Porto não jogou futebol de campeões em 2016-17, mas que ninguém diga que o Benfica jogou muito mais. Não foi um campeão incontestável. Nunca saberemos o que aconteceria em campos menos inclinados.

Mas o que faz NES? Cospe em toda a luta dos portistas ao longo da época, ao felicitar o Benfica. Percebe-se, de certa forma, que o faça. Afinal, os comentadores afetos ao Benfica em espaço televisivo têm feito questão de elogiar, e muito, NES desde o início da época. Por uma dupla razão: não só têm todo o interesse desportivo em manter NES no FC Porto como mantêm de pé o bom nome de um cliente de Jorge Mendes. E podem ter a certeza: não faltarão, nos próximos dias, benfiquistas a enaltecerem que fez um excelente trabalho e que merece continuar. Nem é preciso cartilha para o antecipar. Preocupante é que também haja portistas a partilharem dessa opinião, mas é um direito que lhes assiste. O problema é que as consequências, depois, tocarão a todos. 

O orgulho de Salazar (-) - Muitos portistas - e o próprio clube nas suas vias oficiais - decidiram chamar a este Campeonato a Liga Salazar. Mas muito possivelmente o que mais honra o legado de António Salazar não é o tetra do Benfica: foi o que se passou nas bancadas do Estádio do Dragão, com os Colectivo 95 a serem impedidos de fazer o que já se fez em tantas outras ocasiões - manifestarem o total e legítimo direito à crítica. À crítica. Não à ofensa, não à difamação, não ao insulto. À crítica. 

Os Colectivo não são a claque mais popular de Portugal, todos sabem isso. Mas são tudo aquilo que deve ser uma claque. Não priorizam merchandising ou proximidade com dirigentes/funcionários em detrimento da sua postura de adeptos independentes no Estádio do Dragão. Apoiam. Sofrem pela equipa. Viajam com a equipa. Estão lá nos maus momentos. Mas também têm algo fundamental: ter posição crítica. Essa mesma posição que, note-se, foi censurada por quem tem no seu cargo uma função que inclui a «ligação» entre adeptos. Os C95 esperaram pelo final da época para assumirem essa posição crítica. Ao longo da temporada, nunca faltou apoio à equipa. E agora, no final da temporada e numa fase em que se impõe a análise e o balanço, querem inibir o direito de opinião a quem sempre batalhou pelo FC Porto!?

O próprio presidente do FC Porto já tinha feito a distinção entre os verdadeiros portistas e os demais, entre os bons e os maus. Este episódio foi nesse sentido: bom portista, aparentemente, é aquele que fecha os olhos a tudo o que está mal, que come e cala, e que começa cada vez mais a invocar o passado em vez de se preocupar com presente e futuro. Não é uma conversa nova: já vem desde o milagre de Kelvin. São quatro - a caminho de cinco - anos a seco.

Nenhum, nenhum dos portistas que vibraram com o golo de Kelvin, há quatro anos, imaginaria que esta seria a realidade do presente: o Benfica se calhar está mais perto de ganhar o quinto Campeonato consecutivo do que o FC Porto o primeiro em cinco anos. 

Fica aqui uma total de manifestação de solidariedade para com os C95, como não poderia deixar de ser num espaço que também sempre fez uso da crítica legítima, sustentada e construtiva. Ainda assim, a tarja erguida não parece corresponder totalmente à verdade: o espírito de campeão já não parece viver em todos os portistas. 


Pró ano há mais. Do mesmo?

sexta-feira, 12 de maio de 2017

O futuro de Casillas

«Por mais vontade que [Casillas] tenha de continuar no clube, até pela forma como foi tratado desde o momento em que deixou o Real Madrid, Iker compreende que a SAD azul e branca possa ter outros planos para 2017/18. Por isso aguarda serenamente por uma indicação do clube, depois de mais uma época em que o título está próximo de lhe escapar». O Jogo, 10/05/2017

Iker Casillas, segundo esta notícia do jornal O Jogo, aguarda uma indicação do FC Porto para conhecer o seu futuro. Destaca-se esta frase: «Iker compreende que a SAD azul e branca possa ter outros planos para 2017/18».

É um tanto estranho que o futuro de Iker Casillas, a cerca de mês e meio do final do seu contrato, ainda esteja por resolver e/ou esclarecer. Afinal, houve uma posição bem diferente assumida pelo próprio presidente do FC Porto no dia 16 de março de 2016. 

«Eu e o senhor Antero Henrique, agora administrador da SAD, já conversámos e chegámos a acordo com o empresário que representa o jogador para, além do próximo ano, prorrogarmos o contrato por mais um ano. A bola está agora do lado dele, o acordo está feito, já lhes dissemos que assinaremos quando quiserem». Foram declarações prestadas ao próprio site oficial do FC Porto.

Se o próprio Pinto da Costa confirmou, nos meios oficiais do FC Porto, que chegou a um acordo com o empresário de Iker Casillas para renovar contrato, como é possível que, 14 meses depois, surja agora uma pseudo-novela em torno da continuidade do guarda-redes?

Uma renovação tratada há 14 meses
A renovação é, claramente, um tema sensível. O próprio Pinto da Costa afirmou que o FC Porto não pagava nem um terço do salário de Iker Casillas. O Real Madrid deixa, a partir de junho, de comparticipar no salário de Iker Casillas. Ou seja, o FC Porto passa a ter que pagar a totalidade do seu vencimento.

Mas o que significa isso? Que Casillas aceita reduzir drasticamente o seu salário? Ou que o próprio FC Porto aceitou igualar as condições que Iker auferia no Real Madrid? Muitas questões. Mas se Pinto da Costa chegou a acordo com o seu representante, há 14 meses, para a renovação do contrato de Casillas...

Não deixa também de ser curioso que Pinto da Costa afirmara que foi proposta a renovação a Iker Casillas quando existia uma cláusula de renovação que poderia ser accionada quando o guarda-redes cumprisse um determinado número de jogos. Ora, esse requisito já foi atingido há três meses, aquando do jogo frente ao Tondela.

Há 14 meses, Pinto da Costa disse haver acordo para renovar. Há três meses, foram atingidas as metas para a renovação automática. Há dois, Iker Casillas assumiu que queria continuar. E dentro de um mês e meio, como será?

O FC Porto tem a melhor média de golos sofridos das principais Ligas Europeias, com 0.47 golos (à frente dos 0.5 do Benfica). É a segunda vez em três anos que o consegue, pois já o tinha feito em 2014-15, era o contestado Fabiano o guarda-redes. 

O FC Porto sofreu apenas 13 golos nessa época, enquanto desta feita sofreu 15, a duas jornadas do final. Ou seja, a qualidade do guarda-redes não fica necessariamente patente nos golos sofridos, pois Fabiano sofreu menos, mas Iker Casillas tem qualidade infinitamente superior. A diferença?

Talvez Fabiano tenha beneficiado de ter à sua frente uma defesa de betão e uma equipa coesa e organizada. Fabiano nunca teve que brilhar mais do que a equipa. Com Iker Casillas, tem sido o contrário: tem sido uma figura determinante no balneário e dentro das quatro linhas. 

Neste momento, o FC Porto não tem jogadores com cultura/experiência de campeão. Só dois jogadores sabem o que é ganhar frequentemente: Maxi Pereira, que veio do rival Benfica, e Iker Casillas. Estará o FC Porto em condições de prescindir de um dos poucos que acrescentam experiência, maturidade, qualidade indiscutível e cultura de campeão ao clube? Ou talvez a questão não seja essa: estará o FC Porto em condições de sustentar um jogador assim?

Segundo a própria palavra de Pinto da Costa, sim. Esperemos que valha tanto quanto a qualidade de Iker Casillas. Dentro e fora do relvado.

terça-feira, 9 de maio de 2017

Um amargo superar de expetativas

A duas jornadas do final do Campeonato, aconteceu o que chegou, a determinada altura da época, a parecer improvável: o FC Porto assegura a qualificação direta para a Liga dos Campeões. Motivo para celebrar? Não, porque ainda está para nascer o dia em que o FC Porto celebre o primeiro dos últimos lugares - ainda que o passado recente obrigue a concordar que já esteve mais longe. Mas por incrível que possa parecer, a surpresa em ver este FC Porto ir diretamente à Liga dos Campeões não é menor do que desilusão de ver o Benfica a um passo de ser tetracampeão pela primeira vez.

Não há portista que não sonhe alto, nem que não queira mais. Mas desde o início da época a realidade era esta: não foi uma temporada preparada para fazer do FC Porto campeão. Desde a escolha do treinador a toda a gestão da pré-temporada. No meio de tudo isto, o mais admirável é que o FC Porto tenha mesmo conseguido (a diferença de golos em relação ao Sporting já o assegura), sob o comando de Nuno Espírito Santo, ir diretamente à Liga dos Campeões. 

Todos temos que concordar que as arbitragens foram más esta temporada. Muito más. Sonegaram vários lances que poderiam ter ajudado o FC Porto a desbloquear alguns jogos difíceis. Por vezes as equipas não crescem e se constroem apenas com boas exibições: é preciso ter aquela pontinha de sorte num mau jogo, trocar a ópera pelos pontos, sofrer para vencer. 

Mas a verdade é só uma: este FC Porto, versão 2016-17, joga demasiado pouco. Demasiado pouco para poder clamar que tinha estofo de campeão. Como já aqui foi dito, o mais frustrante é mesmo isso: mesmo numa época de mau futebol, o FC Porto tinha todas as condições para ser campeão. Não o foi por motivos diversos: falta de algumas soluções no plantel (e outras desaproveitadas a determinado momento, começando por Aboubakar, passando por Brahimi e acabando em Layún), a falta de qualidade de Nuno Espírito Santo, as más arbitragens, um Benfica bem mais feliz na hora de apitar. Podemos também falar da bola que vai ao poste, do jogador que falha de baliza aberta, de infelicidades próprias do jogo. Também acontece. Mas as quatro coisas anteriormente referidas eram possíveis de se antecipar, ao contrário das meras incidências de jogo.

Vários leitores criticaram O Tribunal do Dragão por ter defendido muitas mais vezes Lopetegui do que o vez em relação a Nuno Espírito Santo. Não só é uma crítica válida como é verdade: houve muitos mais momentos de defesa a Lopetegui do que a NES. Mas há uma grande diferença na hora de avaliar os dois treinadores.

Lopetegui era um absoluto tiro no escuro. Praticamente nenhum adepto o conhecia. Foi uma aposta de Pinto da Costa da qual não sabíamos o que esperar. Ninguém podia afirmar «não vai resultar», porque pouco ou nada sabíamos de Lopetegui.

No caso de NES, já estava aos olhos de todos aquilo que podíamos esperar no FC Porto. Letra por letra. NES não tem qualidade para ser treinador do FC Porto. Pode vir a ter? Não sabemos, pode um dia evoluir bastante. Mas à data de hoje, não tem. Como não tinha após ter concluído - ou deixado por concluir - os seus trabalhos no Rio Ave e no Valência. Não fossem as expulsões da Roma no play-off e possivelmente nem à fase de grupos da Champions o FC Porto teria chegado. Ter começado logo desde o início da época a usar essa vitória como um atestado de crescimento e qualidade foi das piores coisas que se poderiam fazer.

São já seis pontos a menos do que os da época 2014-15. Menos golos marcados, mais sofridos. O FC Porto de Lopetegui, a tal equipa que falhava em momentos decisivos, fez uma belíssima Champions, lutou pelo título (quase) até ao final, valorizou um punhado de jogadores e teve melhor futebol. Muito melhor, sobretudo na época celebrizada pelo colinho. Ainda assim, muitos adeptos vaticinaram logo que não dava. E agora, dá?





Otávio (+) - Esteve mal no passe, mas conseguiu cumprir na função que lhe cabia no último terço: o momento do desequilíbrio. Fez um golo, conseguiu ter alguma objetividade na primeira parte e ainda quis mostrar trabalho defensivo, com um total de 13 ações na defesa. Soube medir bem os momentos em que tinha que sair para o drible (algo que conseguiu fazer duas vezes, enquanto Brahimi tentou 15) e adaptou-se bem ao caos híbrido que é o FC Porto 2016-17.

Outros destaques (+) - Primeira parte bastante boa de Héctor Herrera, que esteve sempre bem nos apoios no jogo interior. Esteve por todo o lado e ofereceu sempre soluções ao portador da bola, na melhor fase do jogo do FC Porto. Quando a equipa recuou, jogando da forma pequena como NES a idealiza, perdeu-se Herrera e perdeu-se o FC Porto. Até lá, Fernando Fonseca (há dois anos alvo de uma análise d'O Tribunal do Dragão que o apontava como um valor seguro - quanto a laterais-direitos estamos perfeitamente servidos, desde Ricardo Pereira a Diogo Dalot) e Brahimi (embora pecando demasiado no lance individual - mas a sério, quem o condena perante o que se passa à sua volta?) também iam fazendo pela vida. 





Não aprender com os erros (-) - Isto é um problema que transcende o FC Porto e a forma como NES aborda as bolas paradas defensivas, mas que afetou uma vez mais equipa. A «velha escola» do futebol ensinava uma coisa que se aprendia desde a formação: nos pontapés de canto, é preciso meter um jogador a cobrir o poste. Isto poderia, por exemplo, ter evitado o golo de Lisandro no Dragão, no FC Porto x Benfica da primeira volta. E também teria evitado este golo do Marítimo.

É preciso notar que o FC Porto tem os 11 jogadores na grande área a defender neste pontapé de canto (com Brahimi na quina da grande área, a evitar o canto curto, e Otávio na meia lua). E no meio de tantos jogadores, ninguém se preocupou em cobrir o poste... e o próprio marcador do golo do Marítimo. Djoussé está completamente sozinho no momento em que o pontapé de canto é batido! E André André pareceu ser o único a aperceber-se disso - o jogador que estava na outra ponta da jogada e que começou a correr que nem um perdido na grande área, numa missão, em vão, de tentar evitar o cabeceamento. Bolas paradas defensivas é uma coisa que se trabalha nos treinos e que obriga a coisas básicas, como saber cobrir os postes e ter atenção a um tipo forte fisicamente e no jogo aéreo, como Djoussé. Esta jogada ignorou tudo isso.

Nada. Não jogam nada (-) - Sabem aquele bronco que aparece nos estádios todos e cujo vocabulário de análise tática não vai muito além de «estes gajos não jogam nada»? Não precisa de dizer mais nada: é uma análise adequada a este FC Porto. NES não sabe nada do que é jogar à Porto. Joga no FC Porto como tentou fazê-lo no Rio Ave e no Valência. Tem culpa disso? Não, está a fazer um trabalho idêntico ao que fez noutras paragens. Culpa - ou responsabilidade - tem quem apostou nisso mesmo. NES está a ser igual a si próprio desde o início da época. Que responsabilidades lhe podemos imputar por fazer um trabalho de acordo com as suas ideias e valia?

Não há ideias para nada neste FC Porto. Ou se procura Alex Telles na profundidade para cruzar para terra de ninguém, ou bombeia-se diretamente a bola para a frente. O FC Porto tem extremas dificuldades em encontrar espaço no jogo interior e decide muitíssimo mal no último terço (algo que também é da responsabilidade dos atletas). É penosa ver a hesitação dos jogadores sempre que chegam à entrada da grande área: não sabem se hão-de dar mais um ou dois toques, se devem jogar em apoio, se devem aguentar a posse, se devem dar mais uma fintinha. Rematar é que nada. O guarda-redes do Marítimo fez duas defesas em todo o jogo. Duas! Num jogo em que se não houvesse vitória servíamos de bandeja o primeiro tetra da história do Benfica. 

Isto não é o tempo do Eusébio. Podemos invocar todos os Salazariamos, mas à época havia uma verdade insossa: o Benfica era melhor do que o FC Porto. Por isso ganhava mais vezes, por isso estivemos tantos anos sem ser campeões. Nos últimos 30 anos, o FC Porto habituou o mundo a ser melhor do que o Benfica. Mas agora, ver o Benfica ser tetracampeão nesta era? Nestas circunstâncias? Uma equipa que não consegue fazer ponta na Europa, mas que se prepara para fazer um póquer de títulos entre colinhos e campos inclinados? Um Benfica que à 8ª jornada de 2015-16 estava morto e que esta época não mostrou melhor futebol? E ainda assim, vão ser tetracampeões? Chegámos a esta fase: a fase em que o Benfica nem precisa de fazer muito para ser campeão. Ou lhe fazem a papinha, ou o FC Porto não consegue também ele servir um prato à altura. 

Ser 2.º classificado esta época é um superar de expetativas, pelo menos face às análises feitas neste espaço no início da época. Mas ver o Benfica ser tetracampeão desta forma? Inaceitável.  E agora, pagam a fatura os lesados do NES? Não. Porque se há algo que Nuno Espírito Santo fez esta época, foi algo que tem faltado a muita gente no seio do FC Porto: não ficou abaixo das expetativas, pois não era, à partida, particularmente expectável ganhar algo sob o seu comando esta época. A não ser que anseiem pela repetição do ciclo «a culpa é do treinador». 

Pró ano é que é. 

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Dois golpes pela metade

Um grande jogo? Não, de todo. Um jogo em que a vitória esteve em risco? Também não. Uma vitória que acabou por ser natural e justificada? Sim. Primeira parte deplorável, como muitas outras, segunda parte com qualidade revelada a espaços. Em dose suficiente para ganhar em Chaves, mas dificilmente suficiente para colmatar a falta de consistência que vale campeonatos.

Sobressaiu o facto de o FC Porto ter jogado com um meio-campo bem diferente daquele que seria, à partida, o preferencial no início da época (Danilo, Herrera e Óliver), e da vitória ter nascido precisamente através das unidades de meio-campo, com André André em particular destaque e a reviver o momento de forma que chegou a ter em outubro/novembro de 2015. 

Já não há grande margem para sonhar com o título, mas a luta mantém-se de pé até ao final.




André André x2 (+) - A vitória deve-se a dois momentos de André André no jogo. Primeiro, por ser capaz de se adiantar na linha de pressão sobre o portador da bola. Os momentos que antecedem o 2x0 são sugestivos: o FC Porto tem 6 jogadores nos últimos 20 metros! Isto é algo que tem faltado desde o início da época: soluções à entrada da grande área.

André André tem Soares a correr para a marca de penálti, mas tem também quatro soluções livres de marcação ao lado: tem Corona aberto na linha, Jota no eixo, Otávio a dois metros e ainda tem Rúben Neves na meia direita para entrar na grande área. Entre todas estas opções, optou pelo remate, ao qual a sua posição e enquadramento também convidavam. 

No lance do 2x0, um exemplo de como é questionável a forma como os avançados do FC Porto têm sido usados. Mas antes, um lance que também tem faltado esta época: um médio a aparecer em zonas de finalização servido por um outro elemento do meio-campo. Grande passe de Otávio, desmarcação inteligente de André André. Mas repare-se que Soares, logo antes do passe de Otávio, está completamente sozinho... encostado junto à linha. Não está a arrastar nenhum defesa, não está numa zona de perigo, não está na jogada. Os otimistas dirão que estava a abrir espaço na zona central para André André entrar. Como, se não tirou de lá nenhum defesa? Felizmente, a pintura de Otávio e André neste lance foi letal. Caso contrário, seria mais um exemplo de que nada vale ter um finalizador se ele não estiver em zonas de... finalização.


Rúben Neves (+) - É um clássico, uma repetição em todos os jogos em que Rúben joga no lugar de Danilo: Danilo tem coisas que Rúben não tem, mas Rúben dá outras coisas ao jogo. Maior capacidade de circulação, mais toques e passes na bola, maior amplitude no momento da saída e algumas tentativas de meia distância. É certo que Rúben não ganhou nenhum lance de cabeça, mas ainda assim teve 16 assinaláveis intervenções defensivas que ajudaram a manter a baliza de Casillas a seco. 




Um clássico de primeira (-) - Nos últimos 7 jogos, o FC Porto saiu para o intervalo a vencer em dois. Contra o Setúbal, com um belo golo de Corona aos 45+1' num momento de inspiração individual, e contra o Belenenses, por Danilo, numa bola parada. Dois golos específicos e que disfarçaram, na altura, primeiras partes em que o FC Porto revelou inúmeras dificuldades para criar lances de perigo, para jogar de forma organizada e orientada na procura do 1x0. Um futebol sem ideias, sem ambição, sem querer procurar a vitória desde o primeiro minuto. Algo que vai-se tornando numa imagem de marca desta equipa, incapaz de jogar bem em primeiras partes - e muitas vezes sem conseguir recuperar do prejuízo nas segundas.

Já agora fica o aviso: o jogo contra o Marítimo terá, à partida, 90 minutos. Jogar apenas 45 tem tudo para correr mal.