sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Pinto da Costa, Herrera e os seis milhões

Saidy Janko é uma daquelas contratações que nos levam a questionar onde estava exatamente o interesse desportivo da SAD no momento do negócio. Foi comprado sem interesse do treinador, sem persetivas de ser solução de equipa A e não tardou em receber guia de marcha.

No momento em que assinou pelo FC Porto, Janko publicou no Instagram uma mensagem em que agradecia à Key Sports Management por terem ajudado a concretizar a transferência. Certo é que no Relatório e Contas da SAD não há qualquer menção de um serviço de intermediação por parte desta entidade. A imprensa desportiva, nomeadamente o jornal Record, chegou a noticiar a intervenção de Paulo Rodrigues e Alexandre Pinto da Costa no negócio, mas o R&C da SAD não esclarece qual foi ao certo o empresário/empresa a lucrar com a transferência de Janko para o FC Porto.

A SAD comprou 80% do seu passe ao Saint-Étienne por 2,25 milhões de euros. E o negócio deve ter sido tão bom para o clube francês que eles nem se terão importado de não terem recebido um cêntimo no momento da concretização do negócio - Janko foi apresentado a 27 de junho mas, segundo a rúbrica de Fornecedores, no final do mês a SAD ainda devia a totalidade da transferência ao Saint-Étienne. 

Certo é que, apesar de Janko não ter ficado no plantel, arrisca-se a ser um jogador que o FC Porto nunca quererá vender. Isto com base na surreal afirmação de Pinto da Costa na apresentação do R&C.

No momento em que Fernando Gomes respondia a perguntas, Pinto da Costa decidiu intervir, em defesa do seu administrador da SAD: «Se o tivéssemos vendido não recebíamos tudo, porque só temos parte do passe [de Herrera]». É a primeira vez que isto aparenta ser um problema. O FC Porto sempre vendeu jogadores sem ter a totalidade do passe nas suas mãos. São já quase duas décadas em que o FC Porto praticava e defendia a política da repartição de passes e da envolvência de investidores/fundos/empresários/terceiros nos negócios.

Agora, subitamente, a venda de Herrera seria um problema, porque o FC Porto não receberia tudo. Ajudem, por favor: digam em que negócio é que o FC Porto alguma vez recebeu «tudo». De A de Alexandre a Z de Zahavi, não há grande negócio feito pelo FC Porto em que não surgisse uma terceira parte a lucrar. E agora, havia problema? Mas porquê? Por serem só 80%? Ou porque os 20% iriam para o Pachuca e não para um empresário parceiro?


Pinto da Costa é capaz de comover uma sala inteira com um discurso e uma eloquência incomuns para alguém com 80 anos, cativando e inspirando uma plateia inteira de portistas em noite de gala, e logo a seguir cometer argoladas destas que não têm o menor tipo de sentido ou coerência. 

Continuando, citando palavra a palavra o presidente do FC Porto: «No caso do Herrera, se tivéssemos vendido ou vendêssemos, só temos parte do passe. Portanto, não era tudo... Se pagássemos o que ele queria para a renovação, que eram 6 milhões de euros, éramos nós que pagávamos tudo, mas se vendêssemos tínhamos que distribuir...»

É uma novidade, e salutar: pela primeira vez, aparenta haver preocupação por ter que «distribuir» o dinheiro da venda de jogadores. Já era hora. Repare-se que, neste mesmo Relatório e Contas, o FC Porto fartou-se de distribuir na venda de Ricardo Pereira ao Leicester: a sua venda foi intermediada pela PP Sports. Quem? Nada mais, nada menos que a empresa que sucedeu à Energy Soccer (mudou de nome em 2017, mas manteve a morada e o mesmo escritório), que ficou celebrizada pela participação de Alexandre Pinto da Costa na empresa e que aparecia frequentemente a intermediar negócios de jogadores que não representava no FC Porto. Além destes serviços de intermediação, o FC Porto pagou uma percentagem ao Vitória de Guimarães e outra à bem conhecida Pacheco & Teixeira. Descontando tudo, o FC Porto recebe de Ricardo Pereira bem menos do que os 80% que receberia de Herrera. Mas aqui não aparentou ter havido problema.


Depois, o valor. Seis milhões de euros. Mas o que é que significa, afinal, pedir seis milhões de euros?

1. Herrera queria 6 milhões de euros de prémio de assinatura?
2. Herrera quer passar a ganhar 6 milhões de euros por ano?
3. A extensão de mais 2 ou 3 anos de contrato custariam mais 6 milhões de euros?
4. Os seis milhões pressupõe prémio de assinatura + aumento salarial?
5. Os seis milhões constituem o prémio de assinatura mais a comissão para os seus representantes?
6. Os seis milhões implicam um novo acordo por direitos de imagem?
7. Há um contrato por objetivos que obriga o FC Porto vender Herrera ou a rever o salário mediante a recusa de X propostas?
8. Este mesmo relatório e contas mostra que a operação de renovação de contrato de Aboubakar custou 5,1 milhões de euros. Não se sentirão outros jogadores no plantel no mesmo direito de ter as mesmas (ou melhores) condições e, até neste caso, entre eles Herrera?

Não sabemos. Pinto da Costa lançou a bomba ao ar e deixou que o tema se dividisse entre adeptos e imprensa, entre discórdia e especulação. O máximo que Pinto da Costa consegue com esta afirmação é colar uma imagem de ingratidão a Herrera e de exigências incomportáveis do ponto de vista salarial. Estamos a falar do capitão do FC Porto, que está na mesma situação que Marcano ou Maxi na época passada, mas Pinto da Costa decidiu que era boa ideia meter isto cá para fora.

Se se cruzarem com qualquer jogador do FC Porto da década de 90, eles dirão isto: «Para Pinto da Costa, o balneário é um templo, é sagrado». O presidente blindava o balneário como poucos, protegia os jogadores, afastava as polémicas. Neste caso, é o próprio presidente quem decide atirar a bomba e deixar que os efeitos se alastrem. O que ganhou com isto? Está à espera que no final da época se culpe Herrera, o pesetero, em vez da administração que se gabou de rejeitar 30 milhões de euros pelo mexicano e que deixou o ativo chegar ao final de contrato? Cada adepto que tire as suas conclusões, mas quem fica a arder são os cofres da SAD.

Já agora. Por que é que só houve aquele desabafo sobre Herrera? Então e sobre Brahimi, nem uma palavrinha? Que tal esclarecer os portistas sobre a lose-lose situation em que o argelino, saia ou renove, implicará um pagamento de 6,5 milhões de euros à Doyen? Só Herrera é que interessa?


Ou então bastava não ignorar que o Relatório e Contas estava literalmente ali ao lado e que é fácil tirar conclusões sobre o porquê da ausência de renovações de contrato. O orgulho de Fernando Gomes em afirmar que a SAD cumpriu as metas da UEFA era tanto que isto quase escapava: a SAD não tinha praticamente margem para renovar contratos na época passada, uma vez que estava no limite da margem autorizada pela UEFA.

O FC Porto não poderia apresentar mais de 20 milhões de euros de prejuízo nos parâmetros definidos pela UEFA. Ficou-se pelos 17,2 milhões. Ou seja, «sobraram» 2,8 milhões de euros. As renovações com Herrera e Brahimi dificilmente ficariam, cada uma, por menos desse preço, pois estamos a falar de jogadores de 28 anos que, após várias épocas em Portugal, pensam naturalmente em contratos mais vantajosos e na possibilidade, talvez única, de jogarem em ligas mais apelativas. 

Mas atenção. Não havia dinheiro para isto, mas houve dinheiro para, em junho, comprar Janko por 2,25 milhões de euros (por 80% do passe) e metade do passe de Rafa, ao Portimonense, por 1,5 milhões de euros - e note-se que Rafa havia sido cedido ao Portimonense em janeiro. Um negócio quase tão maravilhoso como a compra de Ewerton - dispensam Rafa em janeiro para recomprá-lo em junho, mesmo sem que houvesse intenção de Sérgio Conceição em reservar um lugar para ele no plantel (nem integrou o arranque dos trabalhos de pré-época). Só aqui são quase quatro milhões de euros que não serviram o propósito de reforçar o plantel e que, numa época sem grande margem para investimentos, poderiam ter sido muito mais bem usados. Os jogadores e os seus representantes não vivem na ignorância: eles conhecem estes casos e as contas do clube. 

Repare-se que a administração poderia ter aproveitado a oportunidade de realçar a importância que teriam para Sérgio Conceição e para o ataque ao bicampeonato. «Meus senhores, são jogadores importantes para o treinador, para o ataque ao bicampeonato e para as nossas ambições europeias». Mas não. O problema é que a SAD não tem o passe todo de Herrera e que ele pediu seis milhões para renovar - seja lá o que isso signifique.

12 comentários:

  1. nao percebo esta complicaçao com herrera, se tirarem SC que nao deve aguentar ate ao natal, nenhum treinador poe herrera a jogar, isto e herrera e perfeitamente dispensavel. Repito neste momento so temos 3 jogadores dificeis de substituir a qulquer momento, casillas e militao, todos os outros sao substituiveis por melhor a qualquer momento e so saber escolher. Por acaso enquanrto outros colocam a jogar jogadores da formaçao e as aquisiçoes, SC tem dois laterais da seleçao do brasil e nao os poe a jogar, tem um holandes da seleçao holandesa e nao o poe a jogar e tem um def central da sel do congo e nao o poe a jogar. Entao querem o que?? enquanto leonardo jardim faz 700 milhoes em jogadores , SC fara 0, e depois e pinto da costa e a sad que tem culpas??

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    1. É da boa essa. Dá para fumar? Adoro pessoal que não vê treinos e acha que o futebol profissional é como jogar FM. A única verdadeira culpa do Sérgio é ter-nos dado o campeonato com uma equipa fraquinha. Agora o PdC só fala qd está na mo de cima. 80 e tal anos e ainda a dar de mamar ao filho o, n dá para muito mais...

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    2. Nunca nestes longos anos da era Pinto da Costa, este tipo de situação veio a publico, muito menos divulgada pelo mesmo, este meu FCPorto está em plena mutação, infelizmente penso que para pior.

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  2. Isto é dos comentários mais surreais que já li.
    O número mínimo de jogos que Herrera fez desde que chegou ao Porto, numa época, foi de 31 (na primeira, em que ainda jogou 8 pela equipa B). Desde aí 46, 38, 35 e 42. Portanto, ao contrário do que vende e se tem vendido, apesar de herrera nunca ter sido um preferido dos adeptos (eu incluído), sempre jogou muito.
    Depois, quanto aos jogadores da selecção, excluindo o caso de militao, que eu também concordo que devia jogar à direita, porque maxi não rende (e não por ele ser melhor a lateral do que a central, que acho que não é), dizer que Jorge é jogador da selecção do Brasil, quando só tem uma internacionalização, é puxado. E se considerarmos que o nosso LE titular é Alex telles, menos lógica ainda há nessa reivindicação.
    Bazoer, que eu espero que seja reforço de qualidade e que tenha espaço para o demonstrar, tem 6 jogos pela Holanda, o último em Junho de 2016. De lembrar, também, que esteve lesionado recentemente, após uma ridícula ida à equipa B.
    Mbemba esteve lesionado com gravidade e o erro na gestão deste caso, na minha opinião, prendeu-se com o ter deixado o jogador integrar a convocatória da selecção do Congo imediatamente após de voltar de lesão.

    Posto isto, e embora concorde que ha jogadores que merecem mais minutos e que possa haver erros na gestão da equipa, os argumentos apresentados são risiveis e o comportamento da nossa sad nos últimos anos é indesculpável e não pode ser branqueado

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  3. A SAD sabe que tem carta branca, por isso está livre para dizer tudo e o seu contrário. A propósito de contas, o orçamento foi divulgado, e é muito interessante. Com 60 milhões "fresquinhos" (20 da tv mais 40 da Champions), qual é o lucro previsto? 1.5 milhões. Milhão e meio. Pegaram em 28 milhões de prejuízo, adicionaram 60 milhões de novas receitas e o resultado foi 1.5 de lucro. Tudo normal. Ficaria muito surpreendido se no R&C semestral o passivo estivesse abaixo dos 500 milhões.

    Termino com uma sugestão para um texto: o Sporting vai-se inscrever na Liga de basquetebol na próxima época. Um clube estrangulado financeiramente, apesar do perdão de dívida, onde as modalidades já custam uma fortuna, que ainda não recebeu 1€ pelo Gelson. Esta nova equipa significa que passam a ter... 6 profissionais!!! 5 masculinas de pavilhão e futebol feminino, a que se somam as despesas substanciais com atletismo, ténis de mesa, o que metem no ciclismo, etc.

    O foco não é o Sporting, mas para onde vai o dinheiro do Porto. A administração tem direito a fechar a porta ao futebol feminino, voleibol, seja o que for, mas como explicar um investimento tão reduzido nas poucas equipas que existem? O basquetebol venceu 3 ligas no século XXI: 18 anos, 3 ligas. Qual é a lógica financeira por trás desta gestão?

    Como é que em 2018, após décadas com a mesma direcção, as modalidades são um terço (!) das que existem num clube extremamente mal gerido como é o Sporting? Como explicar que só com 3 equipas, e tendo os rivais 4/5, mais n outras equipas/desportos, nenhuma equipa de pavilhão seja a principal favorita? Como é que um clube que tem o estádio pago, que não gastou 1€ numa academia, que é conhecido internacionalmente pelas verbas astronómicas que faz com vendas, e por estar praticamente sempre na Champions, chega a 2018 com um passivo de praticamente 500.000.000?

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    1. tens de comprar arbitros, delegados, juizes, deputados e por ai fora, se aplaudes essa maneira de gerir candidata te

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    2. tens um remedio que outros tentaram fazer, seres unico a competir, comprares juizes, delegados, arbitros, deputados, jornalista e por ai fora, o porto com metade dos apoios daquilo que se sabe hoje que o benfica tem a todos os niveis praticamente ate ao presidente da republica ganhava tudo mas a brincar. As contas estao mal?? e as dos outros?? e que tal desistirmos?? ou entao arranja assinaturas para uma assembleia de destituiçao, e tao facil e evitao se conversas da treta como estas que se dao por aqui. OU HAVERA TOUPEIRAS TAMBEM POR AQUI, PARECE QUE SIM.

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  4. É só para lembrar que o Adrián Poker também termina contrato e ainda não renovou :-D

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  5. Sempre foi assim.antes as vitórias tapavam os olhos do povo. O barco esta afundar,mas á que sacar o pouco que resta é de preferência não convém sair ja não va alguém para lá e se lembre de fazer uma auditoria as contas.

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  6. ah ja agora nem da seleçao portuguesa nos temos la titulares indiscutiveis quanto mais, o ruben dias tambem so tem 1 ou 2 internacionalizaçoes A, o sergio oliveira idem aspas, ate parece que temos o rei na barriga, nao serve everton, paulinho, janko, warris, oliver, apereira, gonçalo, leite, mas servem hernanis, fabianos, coronas so porque o novo mestre da tatica ou o mestre da tatica numero 2 quer nao?? pelo menos o mestre da tatica numero 1 vendeu muito jogador aos lampioes exemplos?? enzo, gaitan, que nao jogam ponta de corno

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  7. Têm a palavra os accionistas e sócios.

    Tive uma proposta de venda por um bem gerido pela minha sociedade no valor de 30 mi. Menos de um ano depois admito oferecê-lo por 0.

    Aceito propostas de emprego.

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  8. Para mim Herrera é um jogador duro, raçudo, que não vira a cara á luta e o ano passado estoirou os vermelhos aos 90 minutos de jogo.
    Mas é um jogador tecnicamente muito limitado.
    E felizmente temos u meio campo com gente capaz.
    Além disso, Herrera está a "tapar" Oliver Torres, que é um jogador fabuloso. Este, mantendo a capacidade de luta que demonstrou no jogo com o Feirense. está de pedra e cal.
    A não ser em determinados jogos, que necessitem de outra "abordagem" Oliver é o patrão.
    Além disso, temos o Danilo, Sérgio Oliveira, Bazoer e os miúdos da equipa B.
    Penso que o Nosso Clube não deve entrar em loucuras.
    Pés assentes, pois as contas não andam bem.

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