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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Um colinho que até atropelou os regulamentos da FIFA

Este é um novo tipo de colinho. O colinho que faz com que profissionais sem provas dadas cheguem onde só deveriam chegar os melhores. O colinho que pula as necessárias demonstrações de competência para conferir um estatuto de elite a quem só tem dado provas do contrário. Com isto chegamos a Tiago Martins, um jovem árbitro na ordem do dia, que tem sido muito criticado por adeptos do FC Porto.

Caros portistas, é hora de fazer mea culpa e reconhecer que estamos perante um valor de elite da arbitragem. Tiago Martins é não só uma promessa da arbitragem portuguesa como também a nível mundial. É tão bom que reparem que o Conselho de Arbitragem decidiu atropelar os regulamentos da FIFA e levar dois jovens árbitros ao colinho até ao estatuto de árbitros internacionais.


Este é o regulamento da FIFA para o licenciamento de árbitros internacionais. E diz que todos os árbitros «devem ter arbitrado regularmente na principal divisão do seu país durante pelo menos dois anos». Ora à data em que foi promovido, Tiago Martins tinha... dois jogos na primeira liga. Bem, dá a média de um jogo por ano, deve dar para passar. Portugal é o único país que promove árbitros estreantes na primeira categoria a internacionais.  Os navegadores devem estar orgulhosos com este pioneirismo.

Mérito: zero
Tiago Martins, da Associação de Futebol de Lisboa e filho de um ex-árbitro bem conhecido de Vítor Pereira, só chegou este ano à primeira categoria, por isso foi promovido contra aquilo que consta dos estatutos da FIFA. Ainda não arbitrou um único jogo de Benfica, FC Porto e Sporting na primeira liga e já é um árbitro internacional.

Isto torna-se ainda mais interessante sabendo quem era o principal favorito a ser promovido a internacional: Manuel Oliveira, do Porto. Um árbitro com quem curiosamente os 3 grandes nunca perderam pontos. Mas por milagre da santa, decidiram promover um árbitro que em Maio andava a apitar jogos dos juniores (!!!). Qual é a lógica? Bem, garante-se que assim a APAF continua a ter o dobro de árbitros internacionais de Lisboa em relação aos do Porto.

Diz o Conselho de Arbitragem que Pedro Proença também era jovem quando foi promovido. Tinha 32 anos,  recordam. Que bela desculpa esfarrapada, pois Pedro Proença já levava 5 anos de primeira categoria a arbitrar quando foi promovido. Tiago Martins? Ainda nem um jogo grande arbitrou. 

Para já, é isto que temos de amostra:
22-03-2014, OJOGO
25-02-2015, OJOGO (Oriental 3 x 0 FC Porto B)
28-01-2015, OJOGO (Taça da Liga)
Porque os mais pequenos também têm o direito de se queixar e serem ouvidos
É este o trabalho que o jovem internacional Tiago Martins tem apresentado em Portugal. Claramente, está a merecer um joguinho grande na primeira liga muito em breve, aí nas próximas 2 ou 3 jornadas. Place your bets.

Mais. O excelentíssimo Tiago Martins já arbitrou 5 vezes o FC Porto B. E o FC Porto B não ganhou nenhum desses jogos. Perdeu 4 e empatou 1. Foi culpa do árbitro? Seria demagogo afirmar isso. Mas que é um belo currículo, lá isso é. Sobretudo tendo em conta que o Sporting B ganhou todos os jogos com ele (3/3) e o Benfica B ganhou 2 e perdeu 1.

Além de Tiago Martins, também Fábio Veríssimo foi promovido sem qualquer experiência e provas dadas. Fun fact: em Novembro apitava nos distritais. Um mês depois, foi promovido a árbitro internacional, também em detrimento de Manuel Oliveira. O currículo com o FC Porto B também é promissor: em 4 jogos, apenas uma vitória.

Sistema de nomeações sem critério, promoção a internacionais sem justificação lícita e contra as normas da FIFA, árbitros que tombam a balança dos erros para o mesmo lado, árbitros que só servem para arbitrar alguns clubesum CA e uma FPF que continuam a assobiar para o lado, e ainda um presidente do CA que prefere passar uma manhã inteira no Seixal, na calorosa companhia de Luís Filipe Vieira, em vez de dar a cara por todas estas situações enumeradas. Bem vindos ao futebol português, ou como alguém disse, à Liga Wrestling: todos sabem que é a fingir, mas continua a entreter muita gente e há quem ache que é real.

Substituir «Wrestling» por «futebol português»
Senhor Vítor Pereira e demais vices e vogais do Conselho de Arbitragem: façam um favor ao futebol português, o que resta dele, e demitam-se.

O que vale um clássico e Lopetegui (texto de opinião de Pinto da Costa incluído)

A época 2014-15 é particularmente importante para o FC Porto por dois motivos: responder desportivamente a uma das piores temporadas da era Pinto da Costa; recuperar financeiramente do maior prejuízo da história da SAD e sustentar o maior orçamento de sempre. Normalmente, a vertente desportiva e financeira estão interligadas no FC Porto. Mas não necessariamente este ano.

Com o apuramento para os 1/4 na Champions, caso se confirme, o FC Porto supera as expectativas orçamentais e na Champions supera também as desportivas. No que toca ao campeonato, vencer o clássico no Domingo deixa o apuramento directo para a Champions 2015-16 praticamente garantido. Simultaneamente, o principal activo do FC Porto mantém-se com cotação alta (Jackson Martínez), outros valorizaram-se nos últimos meses (Danilo, Herrera, Brahimi) e começaram a aparecer nomes de presente e futuro (Rúben Neves e Gonçalo Paciência os principais rostos). Financeiramente, está tudo encaminhado para os objectivos serem cumpridos.

Em termos de campeonato. Do último 11 que foi campeão nacional o FC Porto só mantém 3 titulares (Danilo, Alex Sandro e Jackson). O Benfica mantém mais (Maxi, Luisão, Salvio, Gaitán e Lima). O Benfica mantém o mesmo treinador há quase 6 anos, o FC Porto mudou a equipa técnica. Em termos de investimento, os custos operacionais, despesas com pessoal e investimento em contratações são pouco superiores aos do Benfica. O Sporting, como é defendido desde o início, não tem treinador, plantel e estrutura para competir a curto prazo com Benfica e FC Porto. Pode intrometer-se na luta pelo título (tirou pontos aos 2), mas não ser campeão.

Depois há os factores externos, que Lopetegui e os jogadores não podem controlar. Psicologicamente, é extremamente desgastante andar jornada após jornada a tentar recuperar do prejuízo, sabendo que do outro lado não deixam cair quem treme. Que os adeptos do rival procurem sobrepôr o mérito às circunstâncias, é normal. Que os portistas ignorem as circunstâncias na hora de avaliar o mérito do FC Porto, não.

Fonte: zerozero.pt
Olhando para esta tabela, o FC Porto tem o melhor ataque desde os anos do penta e uma das melhores defesas dos últimos 20 anos. Podemos falar nos pontos perdidos contra o Boavista ou contra o Marítimo, mas podemos resumir tudo isto a um jogo: o clássico com o Benfica. Ganhando, teríamos o melhor ataque dos últimos 20 anos, uma das melhores defesas nesse período e ainda a liderança isolada, frente a um dos Benficas mais fortes das últimas décadas. E por força não falamos necessariamente de qualidade de jogo ou de plantel. De todo. O tempo dos campeonatos em piloto automático, com dois dígitos de pontos de avanço, acabou.

Isto diz tudo da importância de um clássico. Domingo há que ganhar, pois é a única forma de continuar a lutar pelo título. Financeiramente, ganhando ao Sporting os objectivos ficam praticamente todos cumpridos. Mas isso não é desculpa para se continuar a assistir serenamente ao assalto desportivo na temporada 2014-15. Lá porque financeiramente estará tudo cumprido, não significa que desportivamente as coisas não possam ter uma nota negativa. Sobretudo face à passividade com que a SAD tem assistido ao desenrolar da época. 

O objectivo do FC Porto ainda é, ou devia ser, o sucesso desportivo, não o financeiro. A componente financeira ajuda a reforçar as condições para o sucesso desportivo. E o sucesso desportivo por sua vez retribui com activos para reforçar a condição financeira. Está tudo interligado. Esta época, o FC Porto pode cumprir os objectivos financeiros e ficar curto nos desportivos. Poderá ser considerada uma época bem sucedida?

Há dois objectivos fulcrais para já. Um é ir aos 1/4 da Champions, o que seria um atestado de qualidade para Lopetegui e para o plantel. No Campeonato, ninguém pode excluir da equação como foi forjado o líder ao fim de 22 jornadas. Em condições normais, o FC Porto seria líder. Mas isso não invalida que seja necessário fazer um pouco mais, a começar por vencer o clássico de Domingo. É que 4 clássicos consecutivos sem vencer, 3 deles no Dragão, torna-se difícil de justificar.

O projecto de Lopetegui não se esgota numa época. Se é um projecto de 3 anos, o treinador não pode ficar refém do saldo do primeiro ano, sobretudo dadas todas as circunstâncias já enumeradas acima. Há um motivo para o FC Porto estar a disputar a passagem aos 1/4 da Champions, invicto, enquanto o líder do campeonato português fez a sua pior Champions de sempre. E não é apenas, nem sobretudo, devido à diferença de qualidade entre as equipas nas fases de grupos. 

Sendo cedo para fazer o balanço desportivo, Lopetegui já deu provas mais do que suficientes da sua valia. É verdade que desconhecia o futebol português, abusou da rotatividade e não consolidou o sistema no início. Mas o que se tem visto desde então é um treinador a adaptar-se às circunstâncias e a evoluir.

Conhecimento do futebol português? Existe cada vez mais, daí a contratação de Sérgio Oliveira, Hernâni e André André. Aposta na formação? Muito acima de qualquer outro treinador neste contexto (no verão teremos cerca de 10 portugueses, pelo menos, a fazer a pré-época). Rotatividade? Acabou. Tanto que o melhor central, Martins Indi, não entra no 11 pois Marcano e Maicon estão a atravessar uma boa fase e mexer na dupla de centrais é sempre delicado. Espanholização? A nacionalidade não obedece aos seus critérios de escolha, tanto que Andrés e Campaña quase não são opção. Discurso? Começou por ser cordial, mas percebeu que mais ninguém iria defender o FC Porto do que tem sido a desvirtualização da Liga; mudou o discurso, passou a contra-atacar e marcou uma posição firme, cada vez mais identificado com o que precisa de ser um treinador do FC Porto (daí que seja cada vez mais um alvo). Gestão de balneário? Sem casos, sem indisciplina, a ponto de dizer quem sabe que Quaresma é hoje um dos melhores profissionais do FC Porto e que não há quem não leve os treinos a sério (coisa que não é tão simples como possa aparentar). Qualidade de jogo? Podia ser melhor. Mas a apresentada é suficiente para estar na luta pelos 1/4 da Champions e devia ser suficiente para liderar o campeonato. Para primeiro ano e dadas todas as circunstâncias, é um nível bem aceitável. 

Na próxima época será melhor. Domingo é dia de dar mais uma forte razão para acreditar nisso.

PS: O Tribunal do Dragão partilha abaixo o texto de opinião de Pinto da Costa, via JN, que sairá na próxima Revista Dragões e que merece subscrição quase total. E sobretudo que lhe deem eco.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Mudanças necessárias e escolhas por catálogo encarnado

A parte mais relevante e pertinente da entrevista de Pinto da Costa ao jornal O Jogo está na questão das nomeações. Não coloca em causa o valor e o desempenho dos árbitros, como estava perfeitamente no direito de o fazer, mas sim os critérios para as nomeações. Vale a pena citar.

«O mal não está nos árbitros, está no critério das nomeações. Repare que chegámos ao final da primeira volta e o senhor Manuel Mota tinha arbitrado três jogos do FC Porto. Três! E havia vários internacionais que não tinham apitado nenhum. Parece-me um critério difícil de justificar, para dizer o mínimo. Aliás, já pedi uma justificação para isto e não ma deram. Depois, há jogos como um Vitória de Guimarães x FC Porto, um Vitória de Guimarães x SC Braga, um SC Braga x Benfica ou um Sporting x Vitória de Guimarães. São jogos que devem merecer a escolha dos árbitros que possam dar mais garantias. Repare que o Vitória de Guimarães x FC Porto da primeira volta foi disputado numa altura em que os dois clubes era líderes, com 9 pontos. Portanto, a priori, deveria ter sido escolhido um dos árbitros mais conceituados. Ora, o árbitro desse jogo foi justamente o senhor Paulo Baptista, que tinha descido de divisão. Um mês ou dois antes do jogo, ele desceu de divisão. (…) À quarta jornada, o árbitro que desceu e foi repescado e ficou acima da linha de água foi apitar o jogo entre dois líderes do campeonato. Qual é o critério de uma escolha destas? É por isso que sou um defensor de um regresso a um sorteio condicionado. Se houvesse sorteio, naturalmente já teríamos sido apitados por árbitros internacionais e o senhor Manuel Mota não teria feito, em meio campeonato, três jogos nossos».

O porquê do SLB querer
a nomeação directa
E então Pinto da Costa sugere um regresso ao passado: sorteio. Uma ideia que merece todo o apoio e que faz todo o sentido. Ao fim de quase ano e meio de profissionalização da arbitragem, a única coisa que se conseguiu foi que Rui Santos, o dono do espaço de opinião que mais vezes associou o mérito desportivo do FC Porto (47 troféus em 25 anos - um arquivo bem modesto) aos bastidores do sistema, dissesse isto.

Já não se trata de questionar a qualidade dos árbitros, mas sim as nomeações. Quais são os critérios? Toda a análise de Pinto da Costa é sustentada e pertinente. Sim, o regresso às nomeações já a partir de 2015-16 deve ser defendido. Sobretudo porque não hão-de faltar vozes a insurgir-se contra isto.

A saber. A Liga decidiu avançar para a nomeação directa em 2003. Decisão aprovada pela maioria, mas alguns clubes rejeitaram. Casos de FC Porto, Sporting e Guimarães. O Benfica apoiou a nomeação directa. Durante dois anos, as nomeações eram sistematicamente questionadas, por isso em 2005 voltou a propor-se o regresso ao sorteio. Só um clube queria continuar nas nomeações directas: o Benfica (o Beira-Mar não votou na altura por estar em mudança directiva). Algo que ajuda a explicar a faculdade de Luís Filipe Vieira ter podido escolher um árbitro por catálogo no processo Apito Dourado, em 2004, para uma meia-final da Taça de Portugal. Ao menos que tenha tido a cortesia de oferecer pequeno-almoço ao major.

Na altura, a nomeação directa tinha uma vantagem: era possível nomear os melhores árbitros para os maiores jogos. Era suposto os árbitros melhor classificados serem premiados com as nomeações para os clássicos, os derbys e os jogos que interferissem na luta pelo título e nas qualificações para a UEFA. Ora o que se vê, conforme é dito por Pinto da Costa, é que esse critério deixou de existir. A nomeação directa deixou de fazer sentido a partir do momento em que não há critério lógico para os grandes jogos.

O que se vê são árbitros não internacionais que apitam 3 vezes um grande na mesma volta. Árbitros que nos últimos 3 anos só arbitraram 1 dos 3 grandes e, coincidentemente, quase só são chamados para jornadas de alta dificuldade (ler mais aqui), ou árbitros que basta serem uma vez condenados publicamente por um dirigente de um grande e desaparecem do mapa das nomeações para esse clube. Isto aplica-se a todos os árbitros, a todos os clubes. Se um árbitro não serve para arbitrar um determinado clube, então não devia servir para arbitrar nenhum jogo.

Além da nomeação directa ter perdido a sua lógica, não há justificação possível para o facto de Tiago Martins ter sido promovido a árbitro internacional sem nunca ter arbitrado os 3 grandes. E logo na primeira amostra, na Taça da Liga no Dragão, mostrou porque é que há um ano estava na segunda categoria, não porque chegou a internacional. Não faz sentido nem há justificação possível.

Capela: há 1080 minutos sem sofrer
João Capela, árbitro com quem o Benfica nunca perdeu e com quem em 12 jogos nunca sofreu golos (não há-de faltar muito para bater o recorde de Mazaropi), foi nomeado para arbitrar numa jornada extremamente importante na luta pelo título. O 18º árbitro do ranking da época passada a arbitrar uma reedição do jogo onde o Benfica, em 2012-13, começou a deixar escapar o título. Qual o critério do CA da FPF?  

Porque é que foi nomeado um dos piores árbitros de 2013-14 para arbitrar o Benfica quando Jorge Sousa ou Marco Ferreira, dos melhores do ranking da época passada, vão arbitrar jogos de equipas que lutam para não descer? Onde está o critério da nomeação directa que defendia os melhores árbitros para os maiores jogos?

Artur Soares Dias foi nomeado para o FC Porto x Sporting. Já arbitrou as duas equipas esta época e fez globalmente boas arbitragens nos dois jogos anteriores entre FC Porto e Sporting. Esta foi a apreciação feita pelo painel do jornal O Jogo antes do clássicos anteriores:

18-04-2011 (FC Porto x Sporting, 3-2)

Os únicos erros apontados por unanimidade por Jorge Coroado, Pedro Henriques e Paulo Paraty são um fora-de-jogo mal assinalado a Varela e uma falta mal assinalada sobre Helton num choque com Guarín. Nada com interferência no resultado.






28-10-2013 (FC Porto x Sporting, 3-1)

O único erro apontado por Jorge Coroado, Pedro Henriques e José Leirós é um cartão amarelo mal mostrado a Iván Piris.






Ideal? Não, mas este curto historial, juntamente com uma classificação minimamente aceitável em 2013-14, ajuda a justificar a nomeação directa. No jogo do líder, que será um enorme interessado no resultado do clássico, não. Então se a lógica de nomear os melhores árbitros para os melhores jogos não é cumprida, que se regresse ao sorteio.

Como é claro, não se pode misturar todos os árbitros da primeira categoria no mesmo pote. Há que criar um sorteio condicionado, senão tanto podia aparecer Pedro Proença, o melhor árbitro português e agora retirado, como Bruno Paixão, que foi 20º há um ano. 

A solução proposta é criar escalões dentro da primeira categoria. Não se pode dividir entre internacionais e não internacionais, pois a promoção de Tiago Martins mostra que chegar a internacional não implica demonstrações prévias de competência nem experiência em jogos grandes.

Portanto, criar 3 ou 4 escalões (jogos de interferência em liderança/luta pelo título; jogos de competições europeias e metade superior da tabela; jogos entre equipas sem candidatura ao título ou à Europa) para os árbitros de primeira categoria, para condicionar o sorteio, seria o ideal. 

A mudança deve começar aqui
E para precaver o risco de árbitros com desempenho negativo serem sistematicamente nomeados, por sorte/azar, para o mesmo clube? Condicionar a repetição de nomeações, isto é, não permitir que árbitros que tenham tido uma nota anterior inferior a determinado valor (3,5 seria o ideal) possam ser nomeados para arbitrar a mesma equipa mais do que 2 ou 3 vezes na mesma época. A classificação final da época ajudaria a definir se os árbitros baixam ou sobem dentro do mesmo escalão da primeira categoria.

E o sistema de observações? Tempo de passar a incluir as imagens televisivas? Para quem não sabe, os observadores não avaliam os árbitros em função das imagens de TV. O sistema é simples: logo no fim do jogo, têm cerca de uma hora para enviar um SMS a Vítor Pereira ou ao representante secundário do CA com a nota para os árbitros, de 1 a 5.

Como a maioria dos erros graves (sobretudo os foras-de-jogo) só são perceptíveis a partir da TV, isso implica que os árbitros possam continuar a ter boas notas mesmo em jogos onde há erros graves de arbitragem, como vitórias por 1x0 a acontecer com um golo em fora-de-jogo. Isto desvirtua o sistema de avaliações. Há que criar um mecanismo para impedir que o mesmo assistente esteja associado a um acumular de erros neste tipo de avaliações, sobretudo porque grande parte dos erros de arbitragem são cometidos pelos auxiliares. Exemplo da ignorância que isto pode implicar é adeptos benfiquistas culparem Pedro Proença pelo clássico de 2011-12, quando na verdade o erro do golo de Maicon é de um auxiliar, não de Proença.

E acima de tudo, há que perceber que anular mal um golo por fora-de-jogo é mais grave do que validar um, isto porque as directrizes dizem que em caso de dúvida há que beneficiar a equipa atacante (isto é sempre ambíguo, porque na hora de decidir o árbitro tem que estar convicto da sua decisão, não ter dúvidas em função do estádio ou da cor da camisola). E enquanto adeptos de futebol, queremos golos e aceitamos o erro como parte deste desporto. Só não aceitamos o acumular de erros para o mesmo lado e a isenção face a tal. 

Avaliar o desempenho dos árbitros através da TV será sempre ponto de discórdia. Mostrem a mesma imagem a um benfiquista, a um portista e a um sportinguista e cada um deles vai ver uma coisa diferente, mediante o lance seja em benefício ou prejuízo para o seu clube. Mas se os erros só são detectados através da TV e os árbitros são avaliados em função da sua própria perspectiva e não em função das imagens, o sistema de avaliação demonstra que é tempo de uma reforma. Reforma essa que rima com Vítor Pereira e com os demais membros do Conselho de Arbitragem da FPF - que ironicamente tem a pasta da arbitragem, mas acha que ainda não foi pertinente reagir ao desvirtuar da competição esta época pelos senhores da bandeira e do apito. A utilização dos vídeos seria pertinente. Claro que Luís Filipe Vieira vai discordar, pois o Benfica votou contra esta proposta na mesma reunião em que era pedido o regresso do sorteio.

Que esta seja a única vez que é necessário falar de arbitragem até ao final da semana (até ao final da época já era pedir demasiado).

PS: O Record diz que a CII da Liga abriu o inquérito à manipulação de resultados proposta pelo presidente do Benfica ao presidente do Sporting, segundo disse Bruno de Carvalho. Num curto espaço de horas, José Eduardo Moniz e João Gabriel saem da toca e tentam de imediato desviar atenções para o FC Porto. Calma, meus senhores, não há motivos para estarem nervosos. Ou há?

Muito, pouco e suficiente

Nos últimos 33 anos, só por duas vezes o FC Porto ganhou por mais de um golo no Bessa. Hoje foi a segunda. E nesse espaço de tempo, o FC Porto só ganhou 1/3 dos jogos no Bessa. Os que ganhou, foram sempre em dificuldade. Como hoje.

Sem 4 titulares, com mais duas mudanças nas alas, num relvado de borracha, contra uma equipa que faz da sua defesa o ataque às canelas e confirmado-se o que já se esperava de Hugo Miguel (é dos árbitros com critério mais largo no campeonato e ia sempre tentar deixar jogar). Todas as condições reunidas para um jogo difícil, ou não se tratasse de um derby. O resultado são 3 pontos, mais saborosos do que elogiosos, e a felicidade de ninguém se ter aleijado ali (tanto Benfica como Sporting ficaram ali sem jogadores, por exemplo). Não podíamos falhar e não falhámos, mesmo já tendo tido resultados piores com exibições bem melhores.





Ricardo Pereira (+) - Mais uma vez uma garantia de qualidade. Excelente toque de bola, grande disponibilidade ofensiva e é o movimento de ruptura dele que dá origem ao primeiro golo. Cruza cada vez melhor e chega a ser surpreendente que este tenha sido apenas o seu 2º jogo no campeonato. Merecia jogar mais, mas não é qualquer um que tem a honra de ser a alternativa ao lateral direito mais cobiçado do mundo. A alternativa de hoje e o sucessor de amanhã, assim o esperemos.

Ruben Neves (+) - Não tem ainda a capacidade de choque de Casemiro, nem é tão forte no jogo aéreo, mas no que toca ao início de construção e à qualidade de passe está muito acima. Teve o azar do meio-campo hoje ter estado mal até à saída de Quintero, mas não deixou de fazer um bom jogo, fez várias aberturas para os flancos e não deixou o Boavista criar nenhum lance de perigo pela zona central.

Tello (+) - Com objectividade e simplicidade é tudo mais simples. No primeiro golo ultrapassa o defesa, ganha a linha e lê a movimentação do ponta-de-lança (Jackson também excelente a ganhar a posição). No segundo vê Brahimi desmarcado e faz a segunda assistência. É o jogador com mais assistências no FC Porto. Já são nove, praticamente 1/4 do total. Este Tello dava um jeitaço para Domingo (e para o resto da época).

Nova solução (+) - Brahimi é o jogador do FC Porto que mais arrasta marcações e a sua capacidade de progredir com bola ajuda a disfarçar as dificuldades no jogo interior. Enquanto não há Óliver, pode ser uma excelente solução para jogar atrás de Jackson, isto em jogos contra autocarros e contra equipa que entregam o meio-campo ao FC Porto. Os próximos 3 jogos serão difíceis e equilibrados, mas em fases de aperto, como hoje, é claramente uma opção a ter em conta. Nota positiva ainda para Ángel e Marcano. 





Zangado com o mundo (-) - Foi a primeira oportunidade de Quintero no lugar de Óliver. Sejamos justos, o FC Porto adaptou-se muito mal ao sintético (Herrera, Jackson, Quaresma, tudo jogadores com dificuldades neste piso) e este foi um jogo com circunstâncias particulares. Mas o que se viu de Quintero foi demasiado pouco. Um bom passe a isolar Jackson... e mais nada. Foi prejudicado pela dinâmica da primeira parte (que sentido faz ter que ser o 3º médio, logo o mais criativo, a baixar para a primeira linha de construção?), mas esconde-se demasiado do jogo, movimenta-se pouco sem bola e são poucas as ocasiões em que combina com os flanqueadores. Não foi um bom teste, apesar das circunstâncias pouco favoráveis.

Cruzar para quem? (-) - Contei pelo menos 21 cruzamentos de Ricardo, Quaresma ou Angel. Não houve um único em que o FC Porto tivesse alguém a cabecear. Herrera apareceu muito pouco na grande área, o segundo extremo poucas vezes surgia ao segundo poste e Jackson não chega para tudo. Para uma equipa que explora tanto os corredores, o FC Porto tira pouco proveito na hora de cruzar. O lance em que conseguimos meter 5 homens na grande área em bola corrida, coincidência ou não, deu golo. As críticas à dificuldade de jogo interior são as mesmas, mas desta vez nem Quintero as disfarçou (noutros jogos já foi várias vezes solução).

A rever (-) - Maicon não acertou uma abertura para o flanco. A partir do momento em que temos Marcano, o central que melhor constrói, e Ruben Neves a 6, nada justifica tanto pontapé de Maicon. Depois, é preciso apostar na capacidade de meia-distância desta equipa. São muito poucas as tentativas de remate à entrada da grande área (felizmente Brahimi não caiu na tentação de lateralizar mais um pouco). Hernâni foi ao encontro das expectativas, o seu futebol terá que levar uma formatação enorme para ser opção no FC Porto (o minuto 24 foi ilustrativo: correu de uma baliza à outra, depois apareceu-lhe a linha de fundo à frente e a bola... foi-se), mas ao levar tanta porrada e estrear-se num sintético não era fácil. Quaresma e Herrera abaixo do que era preciso para o clássico de hoje... e para o clássico de Domingo.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Um novo capítulo da Liga Aliança

«Joguei no FC Porto e também sei o que é ser o melhor e ser desvalorizado». O FC Porto escreveu ao final da noite esta frase de Costinha no Facebook. É verdade, Costinha, tu sabes o que isso é. Sabes o que é jogar no FC Porto, ser o melhor e ser desvalorizado (não precisamos que nos valorizem, porque é para isso que os títulos existem). Mas não sabes o que é jogar no FC Porto e ficar de bracinhos cruzados à espera que um treinador e um plantel novos resolvam os problemas de um Campeonato que está, e não vale a pena poupar nas palavras, viciado. 

Quem quiser falar sobre o Apito Dourado, porque diariamente aparecem leitores que têm imensa dificuldade em perceber o que significa «de e para portistas», esteja à vontade para ler o trecho abaixo, porque não é assunto que trate como tabu. O resto pode saltar.
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O Apito Dourado foi um escândalo de corrupção no futebol português. Não no FC Porto, no futebol português. As escutas que vazaram para público foram feitas de forma filtrada. Dois utilizadores anónimos no Youtube largaram as escutas que incriminavam o FC Porto. Nunca se ouviu falar de outras escutas. Até que um dia o jornal Público decide transcrever uma escuta que também mostrava o presidente do Benfica a escolher árbitros (que é feito de quem escreveu a notícia?). Uma escuta que convenientemente nunca caiu no Youtube. Nem outras. Anos depois, numa extrema coincidência, a CMTV consegue em exclusivo novas escutas. Escutas essas que também iam contra o FC Porto. Será que a CMTV teve acesso aos dois utilizadores anónimos do Zimbabué do Youtube? Ou os de Zimbabué é que foram beber à mesma fonte? 

O Apito Dourado foi um caso afunilado, que ignorou a envolvência de outros clubes protagonistas de tráficos de influência e corrupção no futebol português, com o objectivo de acertar no FC Porto. E dito isto, a opinião pouco popular entre portistas: o FC Porto foi punido e bem. As escutas mostram que houve de facto tráfico de influências a anteceder esses jogos. Por isso, considerei justa a punição, opinião que ainda mantinha aquando da absolvição. 

Dito isto, retrospectiva que dá vontade de rir: a corrupção suprema dos últimos 30 anos foram dois jogos contra Estrela da Amadora e Beira-Mar? Um clube que desapareceu, outro que anda a pairar na cova. O máximo que conseguiram arranjar para associar o FC Porto a uma imagem de corrupção que dominou os últimos 30 anos foram 2 jogos contra dois clubes simpáticos, logo numa época em que fomos campeões europeus? É o máximo que conseguiram espremer do Apito Dourado? Falo abertamente do Apito Dourado pois é isto que fica: numa indústria centenária como o futebol, que move milhares e milhões, e como tal nos bastidores as actividades pouco cristalinas se acumulam, o máximo que conseguiram arranjar para associar o FC Porto a corrupção foram jogos contra Beira-Mar e Estrela da Amadora. Durmo bem.

Trecho do texto «José Maria Pedroto e Jorge Nuno Pinto da Costa», de 16-01-2015. 

Então, há provas de que houve manipulação em jogos a envolver 6 pontos, dos quais o FC Porto nem precisava para ser campeão, quer na época em questão (2003-04), quer na época da punição (2007-08). É caso para perguntar: de quantos Apitos Dourados já beneficiou o Benfica com as arbitragens em 2014-15? 

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Costinha, tu soubeste o que era jogar num FC Porto que reagia às injustiças. Um FC Porto inconformado. Que até podia ter o melhor comunicador do mundo a treinar a equipa (José Mourinho), mas que não deixava de ter uma voz de comando entre os responsáveis da direcção. Reagia aos ataques externos, não assistia em silêncio a uma luta desigual, era liderado no dia-a-dia com a garra e determinação dos pergaminhos do clube.

«Treinador tem competência, rigor, paixão e ambição». Ainda esta semana Pinto da Costa recordou os quatro pilares da sua presidência, falando sobre Lopetegui. O FC Porto até pode ter e manter esses 4 pilares, presidente, mas de que vale se nos responsáveis pelo futebol português não existir o pilar chamado «competência»? Aliás, competência até tem havido muita. Mas não é a servir o mais lícito dos interesses.

O erro faz parte do futebol, como quando foi anulado um golo ao FC Porto em Guimarães, ou quando ficou por marcar um penalty a favor do Braga no Dragão. O que não é normal é um tão regular e habitual acumular de erros, quase todos para o mesmo lado, sobretudo nas alturas em que o rival começa a tremer. Se o FC Porto não fala, ou não quer ou não pode. Verdade é que este silêncio não serve nem defende os interesses do FC Porto, e dentro de duas semanas o estimado Fernando Cerqueira começa a preparar a candidatura para o 14º mandato. A reflexão não deve ser feita apenas pela massa associativa mas sobretudo pelos responsáveis do FC Porto, porque não é a postura - e para mudar de postura não é necessário mudar de protagonistas - dos últimos 18 meses que queremos ou que necessitamos para o próximo triénio.

Não tendo visto, embora lido, o que se passou em Moreira de Cónegos, diz-se que Maxi Pereira, Enzo Pérez, Javi Garcia e tantos outros que atribuíram profissões pouco éticas às mães dos árbitros gozam de um regime de isenção especial, um pouco à imagem de taxas urbanísticas. Se chamar filho da senhora-de-profissão-duvidosa-mas-ninguém-duvida-do-que-ela-faz é tão grave que vale cartão vermelho directo, então porque é que os clubes não são punidos com jogos à porta fechada quando os adeptos chamam em coro filho da senhorita ao árbitro?

André Simões é especial, é o primeiro a receber vermelho directo por isso. Um jogador que curiosamente já assinou por outro clube e que no Moreirense já não tem nada a ganhar, nem a perder, por a manutenção estar garantida. E o Moreirense tem na baliza um jogador que deve ter dificuldade em perceber o que são 90 minutos, pois desde o primeiro minuto andava a pedir cartão, e depois até decide dar um empurrãozinho ao Eliseu. A mostrar as credenciais que justificam este interesse.


«Ah mas o Benfica já desmentiu o Marafona». Claro que sim. E todos sabemos o que vale a palavra do arcanjo.


É o guarda-redes, é o melhor jogador do Moreirense... Bem, mas não se pode dizer que o Moreirense não estivesse já vacinado. É que em jogos anteriores contra o Moreirense, que na primeira volta até esteve a ganhar na Luz, já não foi preciso nem Marafona nem Simões.

O JOGO, 22-11-2014



Mas chega da falar do Moreirense. Jorge Ferreira merece atenção, o cidadão que expulsou Maicon no Dragão. Que tenha um critério disciplinar apertadíssimo, tudo bem, está no seu direito. Desde que o siga e aplique a todos os clubes, nenhum problema. Na verdade é o árbitro que mais jogadores expulsa em Portugal: são já 20. Mas no meio desses cartões todos, o único que expulsou na primeira parte por uma falta a meio-campo foi Maicon e o único por protestos foi André Simões. O Benfica é denominador comum quanto ao benefício.

E agora vamos a uma coincidência maravilhosa: em jogos arbitrados por Jorge Ferreira, o Benfica ganhou sempre. E nos últimos 3 jogos, acabou todos a jogar contra 10 e ganha com erros graves em todos.

Na época passada, num Belenenses x Benfica, Fredy é expulso e o Belenenses perdeu 1x0. Aconteceu isto:


E já esta época, Marinho foi expulso contra a Académica já com o jogo decidido, mas antes acontece isto em Coimbra:


Como não se pode atribuir o (de)mérito todo a Jorge Ferreira, os auxiliares Inácio Pereira e Jorge Oliveira em caso de duvida não tiveram dúvidas: beneficiar a equipa que ataca o Benfica. Mas para a história fica que o Benfica venceu 100% dos jogos arbitrados por Jorge Ferreira, enquanto o FC Porto só venceu metade deles. Cada jogo é um jogo, mas no que toca ao rival cada jogo tem tido muito em comum.

Enquanto isto, o jornal Record trouxe-nos uma notícia interessantíssima. Vamos só dar um olhinho na timeline.

14 de Fevereiro: Bruno de Carvalho denuncia a Liga Aliança.
16 de Fevereiro: O Sporting contrata um novo director de comunicação, ex-assessor de José Sócrates.
18 de Fevereiro: A WL Partners, também de um socialista, assume a estratégia de comunicação do Sporting.
21 de Fevereiro: O Record lança uma notícia de trocas de mensagens entre Bruno de Carvalho e Nélio Lucas, da Doyen, a confirmar os pedidos de uma reunião com o presidente do Benfica.

Podíamos dizer que o departamento de comunicação do Sporting já está a trabalhar. Ao publicar a mensagem no Facebook, Bruno de Carvalho denunciou que não é o salvador da integridade e transparência no futebol, pois guardou durante quase 2 anos informações face a propostas de manipulação e corrupção no futebol português, e se as comadres não se chateassem talvez nunca o iria dizer publicamente. Foi o argumento possível depois do discurso lido por Luís Filipe Vieira, que na altura contra-atacou bem.

«Serviço público»
As denúncias de manipulação no futebol português foram varridas pela generalidade para debaixo do tapete. É o belíssimo serviço público da RTP, que entrevistou esta semana Maria José Morgado, mas não houve nem 30 segundos para pedir uma pequenina opinião sobre a actualidade do produto favorito dos contribuintes - o futebol, gostem ou não. Uma pincelada de Rui Santos, meia dúzia de minutos nos debates televisivos e pouco mais. Valha-nos Bernardino Barros, que deu o peito às balas como ainda nenhum dirigente do FC Porto fez esta época - para tantos portistas que se queixam que o Porto Canal não defende suficientemente o FC Porto... Talvez queiram repensar essa opinião.

E chegamos então a esta notícia do Record. Um belo presentinho envenenado, porque isto não vem confirmar a aliança proposta por Luís Filipe Vieira a Bruno de Carvalho. Isto vem é dar um pretexto para uma desculpa, que é esta: «Então é crime um presidente querer reunir-se com outro para falar de transferências de jogadores?» Pois claro que não é!

Esta notícia do Record, um jornal que aposta tudo em proximidade ao Sporting para aumentar as suas vendas (A Bola domina o mercado do Benfica, O Jogo o do FC Porto), não incrimina ninguém. Pelo contrário, lava as mãos! Porque agora pode pensar-se de duas maneiras: a) Bruno de Carvalho mostra, com estas mensagens, que recusou prontamente qualquer proximidade com Vieira para discutir manipulação de resultados; b) Bruno de Carvalho centra toda a polémica em Luís Filipe Vieira, isolando-o nas suspeitas - que nas palavras de Bruno de Carvalho são certezas - de corrupção.

Mas porque não andamos a nanar, há pormenores que fazem toda a diferença. Podemos dividir a mensagem de Bruno de Carvalho no Facebook essencialmente em duas partes.

1. «Ainda me lembro de Luís Filipe Vieira, mal fui eleito, a pedir várias vezes ao seu amigo da Doyen, Nelio Lucas, para me levar a sua casa tomar o pequeno almoço, convite que sempre recusei».
2. «De andar a correr atrás de mim na Liga a tentar convencer-me a fazer uma aliança consigo e que assim poderíamos ir alternando as vitórias no campeonato, pretensão a que nunca anuí».

Onde está o desmentido?
Na primeira parte da informação, é falada a possibilidade de tomar o pequeno-almoço. Tomar o pequeno-almoço com um empresário com fundos de jogadores e um presidente de outro clube não é crime. Aqui não há nada de incriminatório.

A parte que interessa está logo a seguir. É dito que Vieira andou atrás de Bruno de Carvalho na Liga. E nesta parte, que é a parte da corrupção e manipulação desportiva (o Benfica já teve tempo mais que suficiente para o desmentir, e não o fez), não se fala de Nélio, nem da Doyen. Fala-se dos presidentes de Benfica e Sporting, unicamente.  Então, esta capa do Record não é mais que uma distração, pois nas informações denunciadas por Bruno de Carvalho as acusações de corrupção são centradas unicamente em Luís Filipe Vieira e a Doyen Sports não é envolvida nessa suposta aliança. 

Então, esta notícia do Record lava as mãos de Bruno de Carvalho e isola Luís Filipe Vieira. Mas há uma frase que muda tudo: diz que Nélio Lucas pediu para validar as mensagens em notário. Uma perguntinha: porque havia o responsável da Doyen, que está em litígio com o Sporting, aliar-se numa estratégia de defesa do Sporting contra o Benfica, clube que tem negócios com o fundo em questão?

Cooperação via omissão
Está Nélio Lucas a reforçar a sua estratégia de defesa no caso Rojo, confirmando que Bruno de Carvalho estava em contacto com a Doyen antes da aproximação do Manchester United? Ou este foi o primeiro passo para meterem o FC Porto ao barulho na Liga Aliança? Sim, porque a Doyen Sports, segundo a afirmação de Bruno de Carvalho, não tem absolutamente nada a ver com a proposta de corrupção de Vieira. Mas sabendo-se que a Doyen Sports é parceira do FC Porto em vários jogadores (Ángel, Casemiro, Brahimi...), faz parte do plano meter o FC Porto ao barulho na Liga Aliança em breve? A sopinha foi servida, mas lamento, tem que ser muito melhor temperada para que alguém a engula.

Conclusão, estas mensagens não serviram absolutamente para nada. Nem para ilibar o Sporting, nem para incriminar ainda mais o Benfica. Só serviram para agravar a necessidade e urgência de investigar a manipulação de resultados em 2014-15. E depois do que se passou em Moreira de Cónegos, nem era preciso esta capa do Record para reforçar o quão importante é a Liga, a FPF, o MP ou a CII abrirem imediatamente uma investigação.

Não fiquem calados, portistas. E no caso dos responsáveis do FC Porto, deixem de ficar calados!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A hora do 12º jogador, com Lopetegui no comando

Fabian Frei, capitão do Basel: «Sinceramente, não tinha visto uma equipa tão forte neste estádio nos últimos dois ou três anos. (...) Não, nem mesmo no jogo do Bernabéu em que perdemos 5-1. O Real é incrível do ponto de vista individual, mas coletivamente o FC Porto é mais impressionante. A forma como eles correm, como crescem, como são do ponto de vista técnico…É difícil acompanhá-los».

Paulo Sousa, treinador do Basel: «O FC Porto foi super, super, super superior a partir do vigésimo minuto (...) Foi o nosso pior jogo desta época. O FC Porto foi muito superior».


Costinha, ex-jogador do FC Porto e antigo director do Sporting: «Lopetegui tem toda a razão no que diz. Eu quando joguei no FC Porto sentia exactamente o mesmo. O FC Porto ganha, joga bem, controla, está melhor e o mérito vai sempre para a equipa que defende. O FC Porto banalizou o Basel».

Três tipos que não percebem nada disto, portanto. O FC Porto fez em Basel mais do que o Real Madrid (com a ressalva do Real ter ganho, apesar de ter levado massacre todo o jogo), o Liverpool, o Chelsea, o Bayer Munique e o Manchester United nos últimos 4 anos em Basel. Ontem eram os números que o diziam, como puderam ler aqui. Mas já não são os números que o dizem, é o próprio capitão do Basel.

Claro que isto não é garantia de nada. Em 2012-13 Chiellini disse que só queria evitar uma equipa na Champions, o FC Porto. E a verdade é que o FC Porto foi eliminado pelo Málaga, que apesar do valor que tinha era a equipa que todos queriam nos 1/8. Tal como este ano a maioria preferia o Basel. Para muitos o que separa a qualidade do fracasso, infelizmente, são os resultados. Não tivesse Danilo marcado o penalty e viria aí o enésimo apocalipse da era Lopetegui. 

Já vimos o FC Porto jogar bem e menos bem. Mas nunca vimos o FC Porto de Lopetegui encolher-se, nunca o vimos deixar de lutar, nunca o vimos ter menos remates, posse de bola e iniciativa do que os adversários. Se calhar preferiam os catedráticos da nota artística, que tanto espectáculo dão que são corridos à primeira da Champions e nos jogos grandes encolhem-se a defender o pontinho. Ou os treinadores que são líderes, enfrentam a ditadura e empolgam as massas, mas chegam ao campo e tacticamente kaput. Vale tanto como ter umas belas jantes cromadas, mas na altura de arrancar salta-se o pneu.

Para as memórias mais curtas, o FC Porto desde que ganhou a Champions só foi uma vez aos 1/4. Em 10 anos. É extremamente difícil consegui-lo para uma equipa portuguesa. Mais difícil ainda, é conseguir estar 9 jogos seguidos na Liga dos Campeões invictos. Com um plantel totalmente renovado. Com um treinador não só novo como com novas ideologias. Com a pressão de saber que está num Campeonato onde o que fizer dentro de campo pode não chegar. E ainda por cima tendo de superar a depreciação da crítica, mas também dos próprios «adeptos».

Estamos num ciclo extremamente importante. Boavista (que dá pau à Basel, e curiosamente foi escolhido como árbitro Hugo Miguel, que é dos que menos jogadores expulsa no Campeonato), Sporting, Braga e Basel outra vez. Quatro jogos que definem uma excelente Champions e que vão dizer muito da luta pelo Campeonato até ao fim. E a má notícia é que não podemos contar com Óliver, o pirralho que mete a máquina de Lopetegui a funcionar, que vai voltar a ficar de fora um mês.

Sem Óliver, o FC Porto vai precisar de muito mais do que Quintero ou Evandro. Vai precisar sobretudo do 12º jogador. É que quanto a treinador, não poderíamos estar melhor servidos.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

A caminho de onde merecemos estar

Nota prévia: à hora em que este texto é publicado, ainda há o risco do árbitro Mark Clattenburg decidir anular o penálti do Danilo. Por isso, as desculpas antecipadas se os leitores vão ser induzidos em erro.

Danilo marcou
Enorme FC Porto. Mas enorme mesmo. Enorme porque fez do Basel pequeno. Quantos remates fez o Basel em todo o jogo? Um. Ora vejam lá quantos remates o Basel fez na receção ao Liverpool: 11 remates e 56% de posse. E agora vejam lá contra o Real Madrid: 17 remates (!!!!) e 45% de posse de bola.

Se acharem o Real Madrid e o Liverpool equipas fraquinhas, há mais por onde escolher. Em 2013-14 ganharam ao Chelsea em Londres, por 2x1. E quando receberam o Chelsea, sabem o que aconteceu? Venceram por 1x0, com 16 remates contra apenas 1 da equipa de José Mourinho. O todo-poderoso e milionário Chelsea, treinado pelo melhor do mundo, só fez um remate em Basel e foi bombardeado durante todo o jogo. Há 3 anos, Manchester United e Bayern Munique perderam ali. Podíamos continuar, mas já se deve perceber a ideia.

Isto para dizer que portista que não esteja hoje satisfeito com a prestação do FC Porto, o melhor é mesmo fazer amizade com PES, FIFA ou seja lá que jogo for, porque só mesmo na Playstation é que podem atingir essa perfeição que idealizem. O que o FC Porto fez hoje foi de grande nível e merece todo o reconhecimento. Estamos a caminho dos 1/4 da Champions e com todo o mérito.





Exibição (+) - O FC Porto reduziu o Basel a pó. Em termos de anular o futebol do adversário (que é o princípio básico para qualquer equipa que jogue fora nos 1/8 da Champions), o FC Porto secou o Basel. A excepção foi, claro, o golo, com muita passividade da defesa e Fabiano mal na fotografia. De resto, o Basel não fez nada. E não foi porque estivessem satisfeitos com o 1x0, o FC Porto é que não deixou. Seria bom criar mais situações de golo, mas a forma como a equipa treinada por Jaime Pacheco Paulo Sousa entrava a matar inibe qualquer jogador. Mas o FC Porto não só secou o Basel como criou boas situações para marcar. Em termos de Champions, não se pode pedir mais.

Um tanque de combate
Óliver (+) - Fez mais de 50 passes, num jogo fora, onde cada jogador do FC Porto que tivesse a bola levava porrada. Eficácia de passe: 96%, segundo o site da UEFA. Hoje o FC Porto até podia ter perdido por 3x0, que a pior notícia da noite nem seria o resultado, mas sim a lesão de Óliver, tamanha que é a sua qualidade, importância e influência. 

Jackson Martínez (+) - Há um lance em que o Quaresma cruza para a grande área e todos perguntam: onde está o Jackson? Que tarefa ingrata é ser o ponta-de-lança do FC Porto. Passou o jogo todo a levar porrada, a baixar para recolher e dar linha de passe, a aguentar a bola, a ser sistematicamente agarrado por um central da escola Materazzi e a empurrar a equipa para a frente. Quase que se torna difícil pedir, depois disto, que ainda marque o golo da praxe. Provavelmente não é o melhor ponta-de-lança do mundo, mas o FC Porto não ficaria a ganhar com nenhum outro que viesse para o lugar dele neste momento. Top, Jackson.

Outras notas (+) - Danilo ao nível que justifica o interesse de grandes clubes. É ele que ganha e marca o penalty, e o espírito de entrega é contagiante para colegas e adeptos. Maicon e Marcano não estão bem no lance do golo (falhas graves), de resto jogo certinho e não deixaram que Fabiano tivesse que fazer uma única defesa. Alex Sandro a bom nível, Quaresma e Ruben Neves com boas entradas em campo.





Levar a bola para casa (-) - Os adversários conhecem cada vez mais Brahimi. Por isso leva sistematicamente com 2 ou 3 defesas em cima dele. E sabes o que significa quando tens 3 defesas à tua volta, Brahimi? Significa que tens 2 colegas livres. Tem que passar a bola, tem que aprender a soltar a bola, tem que deixar de abusar nos lances individuais. Herrera muito bem no equilíbrio no meio-campo (fez 13km), mas desta vez pouco eficaz no passe. E algo que urge rever: há algum pacto para não aleijar a baliza? Uma, duas, três vezes que há espaço para rematar e a equipa prefere sempre lateralizar. Chutem!

Desconcentração e pouca objectividade (-) - Em termos de controlo de jogo e das ameaças do adversário, o FC Porto esteve fortíssimo. Mas isso não significa que a equipa não tenha de melhorar em termos de objectividade. Há pouca verticalidade (quando Herrera não a dá, e sobretudo na ausência de Óliver, tudo se perde no FC Porto), pouco desequilíbrio na zona central e muito futebol mastigado perto da grande área. Depois, o problema de sempre: nos jogos grandes, o FC Porto sofre um golo quase sempre ao primeiro lance de perigo do adversário. Isso já nos custou a Taça de Portugal (Sporting), a liderança do Campeonato (Benfica) e quase duas derrotas na Champions (Shakhtar). Uma vez é azar, várias vezes é desconcentração e má preparação.

Jornal AS (-) - Não vamos criticar a exibição de Casemiro. Vamos criticar o Jornal AS. Porque pior que a exibição do Casemiro, só mesmo este comentário do Jornal AS: «Casemiro, cedido en el conjunto portugués por el Real Madrid, fue el más destacado del partido y lideró a su equipo en los momentos más difíciles».


O FC Porto não reagiu a isto. Então que sentido fará reagir a isto?

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Perdão às senhoras: a puta da vergonha ultrapassou os limites

Estamos em vésperas de um importantíssimo jogo da Liga dos Campeões. Neste momento nada mais deve interessar a Lopetegui e aos jogadores do que ganhar ao Basel. Mas não é aos jogadores e ao treinador que cabe reagir com a veemência que se impõe ao recente escândalo da Liga Aliança. Sobretudo quando a imprensa desportiva e o jornal mais vendido do País, a saber o Correio da Manhã, alinham numa estratégia sem escrúpulos, que renuncia a todo o tipo de valores éticos e de procura pela verdade com o único objectivo de não deixar que o escândalo seja tratado nas instâncias devidas.
CM, 17-02-2015

A Liga Aliança visava implementar uma rede de manipulação de verdade desportiva para que só Benfica e Sporting fossem campeões nacionais. Então qual é o melhor remédio para afastar este fantasma que paira sobre Lisboa? Atacar o futebol do Norte. Como é que o CM faz isso? Trazendo à manchete do seu jornal uma notícia de... 2013!!!

E agora vamos mergulhar num mar de maravilhosas coincidências. Esta notícia é de Setembro de 2013 (ler aqui). Quatro gestores do BPN, nomeadamente Oscar Silva e três ex-administradores da linha de crédito automóvel, foram acusados de burla e abuso de confiança pelo Ministério Público. A saber, além de Oscar Silva, foram acusados Mário Martins, Jorge Humberto Costa e Alfredo Miguel Viera Machado.

Basicamente, as linhas de crédito eram atribuídas para comprar automóveis, mas os automóveis não chegavam a ser adquiridos. Foram identificados 10 beneficiários, que tiveram os empréstimos com baixíssimas taxas de juro e sem garantias adequadas. Acabaram, segundo o JN, por pagar tudo o que deviam e celebraram novos acordos com o BPN. Isto em Setembro de 2013.

Quando é que o CM achou pertinente publicar esta notícia? A 12 de Janeiro de 2014. Adivinhem lá em que dia: num dia de um BenficaxFC Porto, onde se o Benfica ganhasse isolava-se na liderança. Mas que belo dia para associar actividades ilícitas ao futebol do norte.

E agora, meus senhores, por obra do Espírito Santo (ou será do anjo Gabriel?), o CM decide publicar hoje exactamente a mesma notícia que já tinha saído em 2013 e que foi repetida em Janeiro de 2014. Então porquê? Porque podem meter na capa que houve dirigentes do Leça, do Salgueiros e do FC Porto entre os beneficiários da linha de crédito de 23M€. Que têm estes 3 clubes em comum? São do Norte. E porquê tentar que voltem a associar-se actividades ilícitas ao futebol do norte? Para que não se fale da Liga Aliança a Sul e que se esqueça o perdãozinho da CM de Lisboa às taxas urbanísticas do Benfica. Bravo, arcanjo, bravo!

CM, 12-01-2014
Este é um assunto mais do que sabido e que remonta a 2013. Mas todos vão querer recordar que Reinaldo Teles, juntamente com o irmão, foi um dos 10 beneficiários do esquema, no valor de 780 mil euros. Que tem o FC Porto a ver com isto? Absolutamente nada. Se Reinaldo Teles arranjou quem lhe concedesse uma linha de crédito com juros baixos e sem garantias, maravilha para ele. Em relação ao FC Porto, não há nada a apontar. Se houvesse, bastava seguir a linha de raciocínio praticada para os lados de Alvalade: «Um vice-presidente depositou dinheiro na conta de um árbitro, mas o clube não tem nada a ver com isso».

Claro que o CM vai falar dos ex-presidentes do Leça, do Tirsense, do Famalicão e de Reinaldo Teles. Dá jeito associar isto aos clubes do norte. Mas sabem quem foi o maior beneficiário deste esquema? Nélson Almeida, em 6,43M€. Para quem não sabe, é um empresário com jogadores nos 3 grandes. Mas vamos lá em mais uma viagenzinha ao passado.

Para que usou Nélson Almeida a sua linha de crédito? Recordando o que diz o JN em 2013, usou para negócios particulares, entre eles comprar um clube chamado Corinthians Alagoano. Que clube especial é este? Um clube que celebrou, por exemplo, um protocolo com o Benfica para despejar um camião de jogadores entre o clube e o satélite Alverca, na altura de Luís Filipe Vieira. Com quantos jogadores desse protocolo ficou o Benfica? Zero. Mas tem que haver aqui um agradecimento, porque um desses jogadores chamava-se Anderson Luiz de Souza.

E este clube especial, o Corinthians Alagoano, que fez no último verão? Transferiu Djavan para o Benfica, jogador que passado 2 meses já estava em Braga. Quem tratou do negócio? O caríssimo Nélson Almeida, beneficiário da linha de crédito do BPN. Mas dá mais jeito falar no Leça, no Tirsense e no Reinaldo, não é CM?

E porque recuperar uma notícia de 2013 não chega, agora Somos Todos Patrício. Podem brincar com o catolicismo, com o islamismo e mais o resto, mas não brinquem com a maior religião de todas: o clubismo. Não, não sai um discurso charlieziano, porque a piada da Sagres foi de facto mau gosto, na medida em que se trata do guarda-redes da Selecção Nacional, que a própria Sagres patrocina.

Só seria bom que dessem um terço do tempo de antena que estão a dar a um anúncio publicitário à Liga Aliança. O frango do Patrício enche manchetes, vai a telejornais, chega a debates televisivos. E a denúncia de uma rede de manipulação de verdade desportiva no futebol português? Zero. Ninguém fala, excepção feita ao Porto Canal. Mas quando fazemos comunicados para desmentir o preço do Hernâni e optamos por não reagir a isto, que fazer?

E agora mais uma coisa giríssima. O mínimo que se pode exigir nas declarações de Bruno de Carvalho é investigar. Se for verdade, que o Benfica seja devidamente punido. Se for mentira, então que Bruno de Carvalho seja julgado pela difamação e descredibilização do futebol português. Por isso, o mínimo que se espera é que a Liga abra o inquérito.

Então adivinhem lá qual é a notícia saída ontem: a Liga quer fechar a Comissão de Instrução de Inquéritos!! Numa altura em que a mais grave afirmação que envolve o futebol português nos últimos anos merece uma investigação profunda, a Liga entende que é hora de fechar a CII. E de forma a tentar evitar somar 2+2=4, o CM avança com a informação altamente pertinente: «O FC Porto esteve sempre contra a CII». Claro, o problema é o FC Porto não querer a CII aberta, não é que ela sirva para abrir a investigação às afirmações de Bruno de Carvalho e desmascarar a Liga Aliança. Brilhante, CM, brilhante.

Pinto da Costa bem dizia que a vergonha não se vende nas farmácias. Mas se se vendesse, o stock estaria esgotado para muita gente.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Que contas, Danilo? (E uma nota sobre a Liga Aliança)

Dentro de duas semanas vamos conhecer as contas semestrais da SAD. Logo quaisquer dúvidas, ou parte delas que possa haver, serão esclarecidas. Mas a propósito do interesse de Barcelona e Real Madrid em Danilo, O Jogo publicou uma notícia que merece a atenção: diz que o FC Porto tem 90% do passe de Danilo.


Isto é uma grande novidade. Porquê? Porque não se ouviu falar em lado nenhum de uma alienação ou venda de 10% do passe. Depois porque no último R&C é dito que a SAD tem 100% de Danilo, a mesma percentagem que é declarada desde o primeiro dia em que a sua contratação foi incluída nos relatórios. Tendo em conta que a informação oficial está à distância de meia dúzia de cliques, ou O Jogo está a dar uma novidade que levanta questões (para onde foram os 10%?), ou cometeu uma imprecisão.

O FC Porto, para efeitos oficiais, tinha/tem 100% do passe de Danilo. Uma SAD pode ter que dar 10% a um clube, mas isso não implica que deixe de ter os 100%. Porque uma coisa é ter uma percentagem do passe, outra é ter direito a uma percentagem de uma venda. Na prática, pode ser o mesmo. É o que vai acontecer quando a FIFA proibir a partilha de passes, algo que já foi explicado aqui. Os fundos/empresários vão deixar de ter percentagens de passes, mas vão passar a ter direito a percentagens de futuras vendas.

Continuando, neste caso de Danilo há um dado que embora nunca tenha sido oficializado pode ajudar a perceber onde foram buscar estes 90%.

As contas do passe de Danilo
«O Porto ainda se comprometeu com o Peixe a lhe repassar 10% do lucro numa futura transação por Danilo», Globoesporte, em Julho de 2011. Sendo Danilo o mais caro activo contratado pela SAD, para desaparecerem 10% teria certamente que ser declarado à CMVM. Por isso o que está aqui em causa são mesmo, ou devem ser, os tais 10% a que o Santos tem direito. 

Danilo já disse que há conversações para renovar o contrato. Na altura ainda não era público que Barcelona e Real Madrid estavam interessados (pelo menos é o que dizem os jornais espanhóis com afiliação aos 2 clubes). Este interesse muda muita coisa. O Barça está impedido de registar contratos até 2016, o que já complica a possibilidade de um leilão com o Real Madrid. Mas seja como for, este interesse só reforça a pressão e necessidade de renovar rapidamente com Danilo. Se o FC Porto não tiver o jogador protegido com maior longevidade no contrato, os interessados no Verão vão querer sempre negociar por baixo (a não ser que haja mesmo leilão e que um puxe pelo outro). Depois, se Danilo por acaso não renovasse, o FC Porto acabaria sempre por ter que vendê-lo no Verão.

Como só se admite que as partes renovem, vamos acreditar que o FC Porto consegue mais um grande negócio e que no Verão Danilo sai por 30M€. A cláusula é de 50M€, mas não vale a pena pensar em mais. Talvez só Dani Alves tenha sido vendido por mais, isto no que toca aos laterais-direitos. Por isso, tomemos os 30M€ como referência.

Pode-se desde já deduzir 3,5M€ para a amortização contabilística do primeiro contrato. Se Danilo renovar, como se espera, é expectável que a amortização suba para um valor que não fugirá aos 5,5M€ (por padrão, o FC Porto nunca renova com titulares por menos de 3 anos - no caso de Jackson, o vínculo foi estendido por um ano, mas as novas condições contratuais entraram logo em vigor, ou seja de 2014 a 2017).

É urgente renovar
Depois, a intermediação. Quando Danilo foi contratado, os encargos foram de 27,12% do valor da transferência (negócio explicado aqui). Que percentagem de intermediação esperar? 10% é o valor referência do mercado de empresários, mas se a contratação de Danilo já foi inflaccionada, poderá acontecer o mesmo na saída? Não se sabe, mas aponte-se para os 10%. Saltam 3M€.

Por fim, os 10% que é suposto dar ao Santos/DIS. São 10% da futura venda ou 10% da mais-valia gerada pela transferência? Se forem 10% da futura venda, saltam mais 3M€. Se forem 10% da mais-valia, à partida saltam 1,7M€. Mas O Jogo diz que o FC Porto só tem 90% do passe de Danilo, algo que se possa crer tratar-se dos tais 10% do passe, não da mais-valia.

Assim, dos 30M€ que à partida seriam o valor da transferência, sobra uma mais-valia de 18,5M€. Considerando que Jackson Martínez pode gerar uma mais-valia entre 20M€/21M€ e que Defour e Mangala já geraram cerca de 25M€, ficam a faltar 2M€/3M€, valor que pode subir pela contratação de Hernâni (ou simplesmente não existir, por via da receita-extra na UEFA). Tendo em conta os jogadores que o FC Porto tem emprestados, este défice, a existir, tem que ser coberto com a venda de excedentários. Assim se mantém a regra de Pinto da Costa de não vender mais de 2 titulares por época, sem que isso implique transitar novamente resultados negativos para 2015-16.

PS: O jornal O Jogo traz à capa, numa frase, o escândalo da manipulação de resultados proposta por parte do Benfica (se não existiu a proposta, que o Benfica não desmentiu, então existe mentira e difamação de Bruno de Carvalho, que coloca em causa a integridade do futebol nacional). Nos restantes jornais, nem uma palavra. Pelos vistos A Bola e o Record acharam que o mais interessante no comunicado de Bruno de Carvalho foi ter chamado Papa a Vieira, a típica frase para entreter o povo. É este o nosso futebol. Mas se o próprio FC Porto não quer/quis reagir, que fazer? Esperar pela Liga? Pela CII? Pelo MP? Pela FPF? Dormientibus non sucurrit jus.