Uma equipa B, com média de idades sub-20, ganhar a longa e extremamente competitiva segunda liga, onde a experiência tem um grande grau de importância, é um feito histórico. Mas não é um acidente.
Não podemos falar de um Leicester, de um David contra Golias. O FC Porto B tem um dos maiores orçamentos da segunda liga, senão o maior. Os seus jogadores têm excelentes condições de treino e logísticas, a todos os níveis. Teoricamente, o FC Porto B deveria ser sempre candidato a lutar pelo topo da segunda liga.
Por exemplo, o Freamunde, equipa que luta pela subida de divisão, disse que o seu orçamento para esta época é de 750 mil euros. Se tivermos em conta que só 50% do passe de Víctor García, o lateral direito da equipa B, custou 1,8M€, já temos uma ideia de quão afortunado é o investimento do FC Porto na sua equipa secundária quando comparado com os demais clubes.
A equipa B significou, a partir de 2012, a oportunidade de passar a apostar a médio prazo em mais jogadores da formação, o que talvez permitisse uma redução da folha salarial. Não foi ainda, de todo, o caso. Nas quatro épocas anteriores à criação da equipa B, a média salarial anual foi de 46,59M€. Nas quatro épocas seguintes à criação da equipa B, e contando com a projeção orçamental para 2015-16, a média aumentou para 60,44M€. Estes quase 15M€ de aumento por ano não se devem, certamente, inteiramente à equipa B, mas mostram que ter a equipa secundária não inverteu o despesismo na equipa A (tendo também em consideração que ter uma equipa B, com mais 25 jogadores com contrato profissional, implica um aumento óbvio de custos; mas não de quase 15M€, sobretudo tendo em conta que desde 2012 só o golo de Kelvin rimou com campeão; e continuar a ter 30 emprestados não ajuda).
Agora é tempo de pensar em colher os frutos deste trabalho. Uns vão fazer a pré-época na equipa A, outros serão dispensados, outros emprestados e outros continuarão na equipa B. A verdadeira valia da equipa B não estará em ganhar a segunda liga, mas sim em lançar jogadores que ajudem a equipa A a voltar aos títulos. Vamos ao quem é quem (contando apenas os jogadores que terminam a época na equipa B, pois os emprestados terão o seu próprio post).
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Sem espaço |
Começando pelos guarda-redes e pelo talismã Andorinha, que foi campeão em todos os escalões pelo FC Porto. Jogou pouco, por culpa de José Sá e Gudiño, mas foi apenas o seu primeiro ano como sénior e deve prosseguir a sua evolução na equipa B. Contrariamente, Caio tem que sair. Vai para o seu 4º ano de sénior e foi sempre guarda-redes suplente na equipa B, onde fez apenas 4 jogos em 3 anos.
José Sá (tecnicamente jogador da equipa A, mas como só jogou pela B é aqui avaliado) acabou por tornar-se com naturalidade o titular da equipa B, onde não pode ficar para a próxima época. Vai para o 5º de sénior sem nunca ter sido o titular na primeira liga (chegou a alternar o lugar com Salin no Marítimo, mas sem a consistência desejada). Ficar na equipa A para ser suplente ou terceiro guarda-redes não ajudará à sua evolução, por isso o empréstimo é o mais adequado; a resolução dos casos de Helton, Casillas (que diz que fica até 2018) e dos guarda-redes seniores emprestados ajudará a perceber um pouco o enquadramento que possa ter para a próxima época.
Na defesa, Víctor García está pronto para o salto. Três épocas como titular da equipa B é mais do que suficiente. Cumpriu sempre que foi chamado à equipa A e certamente que terá a oportunidade de jogar numa primeira liga na próxima época. Se será no FC Porto, talvez só a pré-época o possa esclarecer. É um valor seguro para o futuro.
Ronan vai sair pela mesma porta por onde entrou, sendo daquelas contratações que ninguém chega a perceber. Rodrigo Soares, que até foi dar uma perninha ao lado esquerdo da defesa após a saída de Rafa, tem jogado com regularidade nas últimas semanas, mas dificilmente será o suficiente para justificar a sua continuidade no FC Porto, até porque já tem 23 anos e pouco ou nada mostrou na carreira até ao momento.
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O futuro atrás |
Diogo Verdasca deu mais um passo na sua evolução, que pode muito bem terminar com a afirmação de central da equipa A. Após a saída de Maurício e a promoção de Chidozie agarrou o lugar na equipa B (não é descabido imaginar que Verdasca fizesse tanto ou melhor do que Chidozie nas oportunidades que este último teve, mas foi uma escolha de Peseiro). Para o segundo ano de sénior, deve continuar na equipa B.
Palmer-Brown está emprestado pelo Kansas City, e desconhecem-se os termos que poderiam permitir ao FC Porto comprar o jogador. Mostrou muitas coisas interessantes, embora só tenha chegado em fevereiro, e a sua continuidade por pelo menos mais um ano pode muito bem ser ponderada. Aliás, o Kansas City anunciou que o jogador seria emprestado até ao fim de 2016. Como não faz sentido ter um emprestado que pode sair a meio da época, o FC Porto terá que rever a sua situação no fim da época. A América do Norte é um mercado pouco explorado pelo FC Porto e o Kansas City é um clube que costuma vender barato, por isso a sua continuidade deve ser avaliada.
Vamos ao meio-campo. Pité, também muitas vezes utilizado a defesa-esquerdo por Luís Castro (uma invenção melhor do que Kayembé, mas continua a parecer ser no meio-campo que Pité mais pode ter a dar), teve uma lesão que praticamente o fez terminar a época em janeiro. Mas até então, já mostrava alguns problemas de consistência exibicional, o que fez com que nunca conseguisse fazer 3 jogos seguidos a titular. O 2º ano de equipa B não foi o desejado, apesar de ter tido números muitíssimo interessantes (faz um golo/assistência a cada 82 minutos). É um jogador para continuar a merecer a atenção do FC Porto, pelo menos mais um ano.
Nassim Zitouni, emprestado pelo Vitória de Guimarães e que chegou em janeiro, pouco ou nada mostrou. Foi, tal como Cláudio Ribeiro (o FC Porto aparenta ter extremos mais talentosos nos seus quadros), um jogador que chegou através da MNM Sports (a empresa de Fernando Meira e Pedro Mendes). Ambos dificilmente caberão nos planos do FC Porto.
Rui Moreira, recuperado da grave lesão sofrida no último ano, teve uma boa série de exibições entre fevereiro e abril. Será natural que continue na equipa B. Sérgio Ribeiro teve um papel secundário no seu primeiro ano de sénior, sendo quase sempre o suplente que entrava para os últimos minutos. Há quem defenda que o seu posicionamento em campo deve ser reconsiderado, recuando no corredor. Ficar na equipa B pelo menos mais um ano seria o ideal.
Haykeul Chikhaoui chegou a meio da época e não se conseguiu adaptar à equipa a tempo de ter um papel importante em 2015-16. É provável que avance para o segundo ano de equipa B, por ter mostrado potencial considerável nos escalões jovens em França. Já Fede Varela foi opção secundária ao longo de toda a época, e pouco mostrou nas oportunidades que teve. Já Enrick Santos ainda nem sequer jogou na segunda liga, e vai sair pela mesma porta por onde entrou.
Tomás Podstawski, uma das promessas da formação do FC Porto, está pronto para o salto, pois já não está a evoluir na equipa B. Não pode continuar na equipa B, já fez 3 épocas (sendo que na primeira ainda era sub-19), e aos 21 anos está pronto para jogar num patamar superior (melhor a 6 do que a central). E pode ser dito o mesmo sobre Francisco Ramos, com a ressalva de que em 2013-14 jogou apenas nos sub-19. Grande evolução no último ano, e é natural que tenha um lugar na pré-época (veremos em que medida os Jogos Olímpicos podem condicionar o seu caso).
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Um mini Moutinho |
O passe de Omar Govea já foi comprado. O FC Porto costuma pagar caro por jogadores mexicanos, e desconhece-se se terá sido uma vez mais o caso, mas Govea justifica a continuidade no FC Porto. Tem tudo para singrar no futebol europeu: posiciona-se bem, boa qualidade de passe, visão de jogo, sabe sair a jogar e é incansável ao longo dos 90 minutos. Faz lembrar um pouco Moutinho.
Já João Graça ganhou lugar na pré-época, após uma temporada em cheio na equipa B. Depois do papel secundário que teve em 2014-15, foi um dos melhores e mais consistentes jogadores da temporada. É daqueles que não engana, de grande elegância técnica, que joga e faz jogar. Tem que melhorar a sua capacidade física, sem dúvida, mas está a dar garantias de futuro. Veremos como corre a pré-época, mas Graça já teria lugar em muitas equipas da primeira liga.
E agora o ataque, começando pelo nome que mais deu que falar: Ismael Díaz. Está emprestado e surgiram notícias de que o seu passe custaria 3M€ (lá meteram o Benfica ao barulho, sempre bom para inflacionar preços). Ora, o FC Porto não pode pagar 3M€ por Ismael.
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O preço da evolução |
Expliquemos. O potencial de Ismael justificaria um investimento de 3M€? Sim. Mas o problema é este: Ismael atingiu este potencial por todo o trabalho que a equipa técnica do FC Porto desenvolveu com o jogador no último ano. O FC Porto tem que pagar um valor alto pelo próprio trabalho que fez no desenvolvimento do jogador? Questionável.
Em toda a sua história, segundo o Transfermarkt o Tauro só fez uma venda revelante: Luís Henríquez, para o Lech Poznan, por 70 mil euros. O FC Porto vai pagar 40 vezes mais por um jovem de 18 anos, que há um ano era um perfeito desconhecido (aliás, muitos já o tinham visto no Mundial de Sub-17 e no Sudamericano de sub-20)? Não faz sentido. Contratar um jogador no Panamá deveria, deve, ser barato. A não ser que o Tauro seja um negociador implacável, que pulveriza o recorde de maior venda da história do Panamá. Queremos ficar com Ismael Díaz, claramente. E neste momento, entre pagar 3M€ e ficar sem Ismael, provavelmente a maioria prefere pagar os 3M€. Mas se o FC Porto começar a pagar por jogadores que o próprio clube desenvolve, então a equipa B sairá (ainda mais) cara.
Leonardo Ruiz também está emprestado, e o seu contrato acaba esta época. Alguns golos, mas esteve na sombra de André Silva e revelou algumas dificuldades na dimensão física da segunda liga. Precisa de evoluir mais. A sua continuidade poderia justificar-se por um valor dificilmente superior a 1M€, o que já seria bastante generoso. De preferência pela totalidade do passe. Se for para ser o número 9 prioritário, então que se avance (Rui Pedro vai fazer o segundo ano de sub-19 ou começar já na equipa B?)
Gleison é outro caso de um emprestado que o FC Porto deve ponderar em contratar. Só há dúvidas quanto ao preço. Gleison pertence ao Portimonense, cuja maioria da SAD pertence a Teodoro Fonseca. Quanto custará comprar Gleison? Nas últimas semanas, baixou imenso de forma, e a segunda metade da época é incomparável ao que fez nos primeiros meses. É um produto totalmente inacabado, de capacidade técnica requintada mas com as limitações próprias dos extremos brasileiros. Se não for caro e não for para ser tratado como Kelvin - o FC Porto desistiu da sua evolução enquanto jogador desde o minuto 92 -, recomenda-se a sua continuidade.
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A crescer |
Por fim, Rúben Macedo, também em primeiro ano de sénior e com potencial que recomenda a sua continuidade na equipa B. É, juntamente com Andorinha, Verdasca e Rui Moreira, o sobrevivente da equipa de lançamento do Visão 611. Há a destacar, isso sim, a relação entre o Projeto de Jogador de Elite e esta fornada de talentos que está a sair da equipa B. Rafa e João Graça são bons exemplos. Sobretudo após a crítica de Rui Moreira, tem havido uma tentativa de colar o Visão 611 a este título, quase sempre através do jornal O Jogo. Se isso assim é, então podemos deduzir que 6 jogadores da formação estarão na equipa A em 2016-17? É que o Visão 611 prometia isso todas as épocas.
Falta elogiar a equipa técnica, começando por João Brandão. Já tinha passado pelas camadas jovens no FC Porto, chegou para adjunto e está para Luís Castro como Vítor Pereira esteve para Villas-Boas: o sucesso de um deveu-se muito aos métodos de treino do outro.
Quanto a Luís Castro, após 10 anos no comando da formação do FC Porto, e sem grandes proveitos que justificassem aposta e continuidade, atinge agora o resultado de maior sucesso. Enquanto treinador da equipa B, teve aquilo que os técnicos da equipa A raramente têm: estabilidade. Teve mais derrotas do que vitórias em 2014-15 (com apenas 17 vitórias em 46 jogos e uma diferença de golos de +2), mas poucos foram críticos para com o seu trabalho. Sobretudo porque a muitos pouco interessava a equipa B até ao último fim-de-semana. O seu trabalho na equipa B nunca pareceu estar particularmente articulado com os treinadores da equipa A. Sobretudo por ser difícil fazê-lo quando o treinador da equipa A, ao fim de 2 maus resultados, já tem a cabeça a prémio. Já Luís Castro, mesmo após uma época de maus resultados, mau futebol e escassa evolução de jogadores, nunca teve o seu lugar em perigo.
Não é fácil treinar uma equipa B e ser campeã com ela, logo tem que haver mérito. A equipa técnica perdeu jogadores em janeiro, teve muitas caras novas e sistematicamente há jogadores a irem às seleções ou à equipa A. Não se ganham títulos sem competência. Que Luís Castro teve e tem condições que mais ninguém teve, sem dúvida que sim. Tem as melhores condições de treino, o plantel (ou um dos) mais caro da segunda liga, e passou quase imune à crítica pelos maus resultados até esta época. E desta vez não insistiu num esquema com dois (por vezes até três) médios de caraterísticas defensivas, o que foi meio caminho andado para meter o FC Porto a fazer golos com grande regularidade (defensivamente a equipa foi sempre insegura, tanto que o FC Porto B tem uma das piores defesas da parte superior da tabela, também porque houve muitas alterações no setor defensivo).
Luís Castro tem contrato por mais um ano e fala-se no interesse de equipas da primeira liga. Se de facto existir, o FC Porto não deve colocar entraves à sua saída. Se quiser ir, que o FC Porto assim o permita. Sai como campeão e terá a oportunidade de mostrar, noutro contexto, a sua valia. Caso contrário, é natural que os resultados atingidos esta época justifiquem a sua continuidade.
Pergunta(s): Que jogadores da equipa B têm lugar no FC Porto em 2016-17?
PS: Na sondagem sobre quem mais se destacou na equipa B, foram considerados apenas os 20 jogadores mais utilizados esta época. Maurício foi excluído, por ter saído em janeiro e não pertencer ao FC Porto. Podem escolher mais do que um jogador.