É mais ou menos consensual que falta um extremo ao plantel do FC Porto para atacar a época 2016-17. Um extremo, ou o extremo. Mas que falta ali alguém, falta. Agora imaginemos que era possível contratar um extremo com as seguintes caraterísticas:
a) Alta velocidade;
b) Dono de assinaláveis recursos técnicos;
c) Muito destemido no momento de arriscar o um-contra-um;
c) Muito destemido no momento de arriscar o um-contra-um;
d) Faz habitualmente a diferença;
e) Aparece com sucesso em zonas de finalização.
Parece, sem dúvida, interessante. Agora imaginemos que esse extremo já estava no plantel do FC Porto. E não se trata de Brahimi, Corona ou Varela. Trata-se de Zé Manuel, pois foi com todas estas caraterísticas que o reforço jogador contratado a custo zero foi apresentado no site do FC Porto, com destaque para esta frase: «Se o sistema da carta de condução por pontos se aplicasse nos relvados, Zé Manuel já teria perdido muitos por excesso de velocidade».
Ninguém, ninguém acerta nas análises a todos os jogadores. Mas há casos tão flagrantes, tão claros, que choca que possam ver o contrário. Não é por acaso que nunca ninguém imaginou que o FC Porto tivesse uma dupla de centrais formada por Sérgio Lomba e Alfredo Bóia.
De todos os aspetos que possam tentar justificar esta contratação, nenhum se enquadra no campo desportivo. É até de questionar o porquê de Felipe e João Carlos Teixeira terem tido direito a apresentação no Dragão, com direito a foto com o presidente. Já Zé Manuel não teve direito ao mesmo tratamento. Apareceu por lá no primeiro treino, discretamente. Indisponibilidade do presidente para se apresentar ao lado de Zé Manuel (neste caso, Alex Telles não teve a companhia do presidente por Pinto da Costa estar de férias)? Ou ninguém se quis mostrar ao lado desta contratação?
Estamos a falar de um jogador que teve um contrato de cinco anos quando até tinha dificuldades para se impor numa equipa cuja concorrência era Luisinho ou Renato Santos. Quem achou que Zé Manuel era jogador para o FC Porto? Só resta uma teoria possível: era um pedido de José Peseiro e, com a saída do treinador, o Zé Manuel ficou ali caído nos braços. Os portistas questionam qual será então o propósito da contratação de Zé Manuel. Ou então o propósito terá sido cumprido no dia da assinatura do seu contrato.
Estamos a falar de um jogador que teve um contrato de cinco anos quando até tinha dificuldades para se impor numa equipa cuja concorrência era Luisinho ou Renato Santos. Quem achou que Zé Manuel era jogador para o FC Porto? Só resta uma teoria possível: era um pedido de José Peseiro e, com a saída do treinador, o Zé Manuel ficou ali caído nos braços. Os portistas questionam qual será então o propósito da contratação de Zé Manuel. Ou então o propósito terá sido cumprido no dia da assinatura do seu contrato.
Entretanto o FC Porto confirmou a contratação de Alex Telles. E é interessante ver a forma como o brasileiro se descreveu nas apresentação: um «lateral de vocação ofensiva», que sobressai nas «assistências, cruzamentos e nas bolas paradas». Ou seja, esta descrição é perfeita para... Miguel Layún.
Bom. Necessário? |
Alex Telles é um lateral bastante razoável, de qualidade, uma boa opção. É muito rápido, sobe bem, apoia bem o extremo, progride com bola e procura a linha. E é um jogador que já está no mapa do FC Porto há 3/4 anos, na altura quando a Juventude, em parceria com o banco BMG, já negociava outros voos para o lateral, referenciado como possível sucessor de Alex Sandro. Ou seja, não é nenhuma descoberta de Nuno Espírito Santo, pois é um jogador já há muito conhecido pelo FC Porto.
Mas embora que seja um jogador que cruza razoavelmente bem, Alex Telles faz poucas assistências e é um lateral que não tem golo (Layún marcou e assistiu mais esta época do que Alex em toda a sua carreira). Não é muito forte fisicamente e, por vezes, falta-lhe alguma agressividade e maior critério a soltar a bola. Terá capacidade para dar mais do que Layún deu em 2015-16?
Até porque Alex Telles, quando se apresenta, destaca sobretudo o seu papel no ataque, não defensivamente. E há muitos portistas que consideram que Layún, defensivamente, não dá garantias. Resta torcer para que, no final da época, não estejamos a dizer o mesmo sobre Alex Telles: bom a atacar, inseguro a defender.
Embora seja uma boa contratação, o timing lança naturalmente dúvidas. Isto porque a posição de lateral-esquerdo era das poucas que não estava carenciada no plantel. O FC Porto já estava servido, e bem, com Layún e Rafa (que sai depois de ter sido garantido, pelo presidente, que faria parte do plantel). Logo, se a SAD ainda vai investir 6,5M€ num lateral-esquerdo, escolham uma das quatro: a) má gestão de recursos; b) precaver uma venda de Layún a curto ou médio prazo; c) falta de confiança em Rafa; d) não falta dinheiro à SAD, por isso até pode começar por gastar 6,5M€ numa posição que não está carenciada.
O FC Porto decidiu avançar para a compra de Layún no final de maio, numa altura em que já se limavam as arestas para que Nuno Espírito Santo fosse o novo treinador do FC Porto. Logo, comprando nessa altura Layún, o FC Porto já tem que saber que planos Nuno teria para ele no plantel. A contratação de Alex Telles não pode mudar nada.
Rafa era, é, um projeto perfeito para pegar de estaca no FC Porto. Vai jogar um ano no Rio Ave, um bom clube para rodar (mãos à obra, mister Capucho), embora considere que já estaria pronto para integrar e ter responsabilidades no plantel principal.
Só tem 4 meses de primeira liga, sim. É pouco? Bem, imaginemos que em 2009 o FC Porto teria achado o mesmo em relação a Cissokho. Não teria preenchido uma grande carência no plantel (na altura a concorrência era fraca, com Benítez e Lino - havia Fucile para jogar à esquerda); não teria tido um papel importante na luta pelo título; não teria feito jogaços contra Atlético e Manchester na sua estreia na UEFA; e não teria saído por 15M€.
Com a diferença que Cissokho tinha pouca experiência de futebol sénior, sem grande percurso nos escalões de formação, enquanto Rafa está há anos, época após época, a demonstrar que tem tudo para ser o lateral do futuro. Oxalá que o futuro esteja reservado para o final da época, pois o presente já bateu à porta.
Boas vindas a Alex Telles, boa sorte a Rafa e felicidades a Zé Manuel, que nunca poderá deixar de estar grato o suficiente a quem o levou a assinar pelo FC Porto. Quem o fez viu o que mais ninguém viu e que ninguém chegará a ver. Velocidade vertiginosa, só mesmo na rapidez com que recebeu guia de marcha.