Ao sétimo e último clássico da época, a primera derrota frente a um dos rivais. As grandes penalidades voltaram a ser uma realidade na qual o FC Porto não encontrou a felicidade, ironicamente novamente com os ferros à mistura. Para trás ficam 660 minutos (sete jogos + um prolongamento) nos quais o FC Porto confirmou dois predicados nos clássicos esta época: uma equipa que defende bem, mas que também denuncia muitas limitações na dimensão ofensiva.
Em Alvalade, repetiu-se um filme que não era inevitável, mas que já havia sido anunciado. Recordando aquele que foi o único «Machado» do jogo da primeira mão, em que o FC Porto venceu por 1x0, golo de Soares.
No post anterior também já tinha sido feito o alerta: o Sporting venceu todos os jogos que disputou em Alvalade, a nível interno, desde o início de novembro e sempre sem sofrer golos (se der para prolongarem essa sequência até à receção ao Benfica, a malta é capaz de agradecer). Mas o que aconteceu ao longo dos quase 90 minutos em Alvalade? O FC Porto fez o que quis.
Sérgio Conceição montou uma equipa para anular o Sporting. E conseguiu-o, quase até ao final. Essa foi uma constante nos clássicos desta época: o FC Porto poucas vezes concedeu grandes ocasiões de perigo aos rivais. Basta dizer que foram apenas 2 golos sofridos: o de Rafael Leão, no Dragão, e o de Coates, numa jogada de ressaltos/bola parada. É atípico sofrer tão poucos golos em clássicos.
O Sporting, obrigado a ganhar e à reviravolta, foi quase inexistente ao longo dos 90 minutos. Bas Dost não se viu a incomodar Casillas, Bruno Fernandes não teve espaço para a meia distância nem para o último passe, os laterais foram barrados e o pouco que Gelson produziu não chegou para pôr à prova Casillas. No que toca à missão defensiva, o FC Porto esteve quase sempre no controlo.
Mas faltou pensar no outro lado. Pois se é verdade que o FC Porto secou o Sporting, também há que reconhecer que o FC Porto foi absolutamente inexistente no ataque. Rui Patrício não fez uma defesa. E, cúmulo das ironias, também não teve que defender nenhum penálti para seguir em frente. O Sporting pouco conseguiu fazer, mas Rui Patrício também não teve que fazer quase nada. Não combina com algo positivo.
Na primeira parte o FC Porto teve momentos de boa circulação, soube jogar em apoio e com as linhas mais próximas do que o fez na Luz, mas a equipa praticamente não teve presença nos últimos 18 metros. Admita-se ou não, o FC Porto jogou sempre com o 1-0 da primeira mão no pensamento, e não admitiu nunca que o Sporting pudesse chegar ao golo e forçar o prolongamento.
Um momento muito contentado pelos adeptos do FC Porto foi a última alteração de Sérgio Conceição, a entrada de Diego Reyes. E a verdade é que essa alteração, dentro das opções existentes, é de fácil compreensão.
O FC Porto esteve sempre em controlo do jogo. O Sporting, mesmo após a entrada de Montero para jogar ao lado de Bas Dost, não estava a colocar bolas na zona de finalização. Mas Sérgio Conceição quis antecipar-se à possível reação do Sporting. Felipe e Marcano estavam a jogar para dois avançados do Sporting. E, para os mais esquecidos, o FC Porto não só não tem Danilo como não tem nenhum outro médio-defensivo no plantel. Ali, naquele momento, foi a alteração que qualquer treinador faria: colocar um tampão na zona central, para evitar que os centrais fiquem expostos a uma situação de 2x2.
E poderia perfeitamente ter funcionado. Tanto que o golo do Sporting acontece depois de duas situações que nada têm a ver com a composição tática da equipa: uma bola parada e, logo depois, um corte incompleto de Marcano. Foi o pior que podia ter acontecido: no momento em que reforça o setor defensivo, e até ganha mais argumentos para as bolas paradas defensivas, o FC Porto sofre um golo que é raro de ver acontecer nesta equipa (uma falha de um central na grande área).
Nas grandes penalidades, Sérgio Conceição fez o inverso ao que é comum nos jogos: colocou os defesas a bater primeiro. E Herrera, Aboubakar e Brahimi, que tinham falhado na Taça da Liga, ficaram fora da lista dos 5 batedores. O único a falhar foi Marcano (que tinha marcado na vitória no Campeonato), que até conseguiu enganar Rui Patrício, mas o poste voltou a fazer a diferença.
Mas foi pelos penáltis que o FC Porto se pode queixar de falhar o Jamor? Não. Foi por um lance de infelicidade na grande área e por não ter tido a ambição de procurar um golo que mataria a eliminatória em Alvalade. O FC Porto esteve tão concentrado e empenhado na missão de anular o Sporting, algo que conseguiu quase até ao fim, que se esqueceu de impor a sua própria força.
A dificuldade do FC Porto em fazer golo nos grandes jogos já foi aqui diversas vezes analisada, desde a Champions aos clássicos. Mas curiosamente, isto vai de encontro à filosofia que Sérgio Conceição assumia antes de chegar ao FC Porto.
Com Sérgio Conceição, os clássicos não são jogos para 4x3. São jogos para 1x0. Uma equipa que defende bem, anula bem o adversário, mas que depois acaba por se limitar a ela própria no ataque. Há que reconhecer que o FC Porto, nos sete clássicos disputados, teve muito mais volume ofensivo do que os adversários, mas para a história ficam apenas quatro golos - ou cinco, contando com o que foi anulado a Herrera na receção ao Benfica.
A última imagem é sempre a que fica. Por isso recordamos sempre o golão de Herrera na Luz, aos 90 minutos, e ficámos a ver uma exibição de muito empenho, garra, luta e dedicação até ao final. Mas a verdade é que, até ao golo de Herrera, a última vez que o FC Porto tinha criado perigo foi no remate em arco de Brahimi, aos 66 minutos. Desde então, foram quase 25 minutos em que o FC Porto não metia bolas na frente, não chegava à grande área e não criava situações de remate. Não tivesse existido o golo de Herrera e provavelmente muitos encontrariam, na exibição do FC Porto na Luz, tantos ou mais defeitos do que os viram nas meias-finais da Taça em Alvalade.
Mas a que se deve essa seca de golos? À dinâmica da equipa? Ou ao subrendimento individual? Basta olhar para a seca de golos dos avançados para perceber que passa por aí. Porque as lesões não só limitam o FC Porto nas suas opções. A lesão, além de afastar um jogador dos relvados, quebra o momento de forma/ritmo que esse atleta vinha tendo.
Aboubakar é um exemplo disso. O maior, aliás. Em dezembro era o segundo avançado mais concretizador da Europa, só atrás de Cavani. Mas nos últimos três meses e meio só conseguiu um golo. Soares marcou oito golos em fevereiro. Desde então não voltou a faturar. Brahimi, nas últimas 13 jornadas, teve intervenção direta em apenas 3 golos. Marega, o melhor marcador no Campeonato, não serve para os jogos grandes (leia-se, Champions, clássicos, eventualmente os jogos com o SC Braga - Marega não marcou nenhum golo nos principais desafios). Waris e Gonçalo Paciência foram reforços de inverno para o ataque, mas não só não faturaram como estão na cauda das opções para o ataque.
Os avançados do FC Porto não estão a conseguir faturar. Entre lesões e azares, já lá vão dois meses desde a última vez em que os avançados do FC Porto fizeram golos (Marega e Soares, em Portimão). É certo que há o desgaste da época, e que a equipa atravessa a fase de maior exigência e dificuldade da temporada. Mas nos últimos dois meses, o FC Porto fez apenas 7 golos - nos 135 minutos anteriores a este ciclo, em Portimão e no Estoril, tinha feito oito.
O Jamor já lá vai. O FC Porto não vai à final da Taça de Portugal, mas terá quatro finais pela frente. As próximas duas jornadas são de uma importância nuclear. Se o FC Porto passa o Vit. Setúbal e o Marítimo, pode ter uma oportunidade para matar o Campeonato na 33ª jornada. Sendo que não pode haver ilusões: se o FC Porto não fizer a sua parte, rapidamente corre o risco de ver o Sporting ficar mais próximo do que propriamente a liderança do Campeonato. Margem de erro zero. Há expetativas de ver o Benfica escorregar em Alvalade, mas o FC Porto só terá interesse em meter olhos nesse jogo se fizer seis pontos nas próximas duas jornadas.
O Vit. Setúbal empatou na época passada no Dragão. E para quem não se recorda, o Benfica tinha empatado em Paços de Ferreira. Ou seja, se o FC Porto tivesse vencido os sadinos, passava para a liderança da Liga, à 26ª jornada, mas falhou. No espaço de um ano, o Vit. Setúbal empatou na Luz, ganhou ao Benfica no Bonfim, tirou pontos ao Sporting e, há duas semanas, só não voltou a empatar contra o Benfica por culpa de um penálti arrancado nos descontos. Máxima exigência, máxima seriedade.
Quatro finais para ganhar o Campeonato. Hoje podem ficar a faltar apenas três. E não vão ser 90 minutos. O Vit. Setúbal não vai deixar jogar 90 minutos. Nem metade. Quanto mais tardar o golo, mais a equipa adversária poderá dedicar-se à missão de atrasar a reposição da bola em campo, passar tempo a rebolar no chão e tentar enervar a equipa do FC Porto. No final não queremos uma equipa a queixar-se do anti-jogo: queremos sim, desde o início, uma equipa que não vai deixar o adversário fazer anti-jogo, pois vai atacar, massacrar e marcar cedo.
Depende de vós.