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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Mudanças necessárias e escolhas por catálogo encarnado

A parte mais relevante e pertinente da entrevista de Pinto da Costa ao jornal O Jogo está na questão das nomeações. Não coloca em causa o valor e o desempenho dos árbitros, como estava perfeitamente no direito de o fazer, mas sim os critérios para as nomeações. Vale a pena citar.

«O mal não está nos árbitros, está no critério das nomeações. Repare que chegámos ao final da primeira volta e o senhor Manuel Mota tinha arbitrado três jogos do FC Porto. Três! E havia vários internacionais que não tinham apitado nenhum. Parece-me um critério difícil de justificar, para dizer o mínimo. Aliás, já pedi uma justificação para isto e não ma deram. Depois, há jogos como um Vitória de Guimarães x FC Porto, um Vitória de Guimarães x SC Braga, um SC Braga x Benfica ou um Sporting x Vitória de Guimarães. São jogos que devem merecer a escolha dos árbitros que possam dar mais garantias. Repare que o Vitória de Guimarães x FC Porto da primeira volta foi disputado numa altura em que os dois clubes era líderes, com 9 pontos. Portanto, a priori, deveria ter sido escolhido um dos árbitros mais conceituados. Ora, o árbitro desse jogo foi justamente o senhor Paulo Baptista, que tinha descido de divisão. Um mês ou dois antes do jogo, ele desceu de divisão. (…) À quarta jornada, o árbitro que desceu e foi repescado e ficou acima da linha de água foi apitar o jogo entre dois líderes do campeonato. Qual é o critério de uma escolha destas? É por isso que sou um defensor de um regresso a um sorteio condicionado. Se houvesse sorteio, naturalmente já teríamos sido apitados por árbitros internacionais e o senhor Manuel Mota não teria feito, em meio campeonato, três jogos nossos».

O porquê do SLB querer
a nomeação directa
E então Pinto da Costa sugere um regresso ao passado: sorteio. Uma ideia que merece todo o apoio e que faz todo o sentido. Ao fim de quase ano e meio de profissionalização da arbitragem, a única coisa que se conseguiu foi que Rui Santos, o dono do espaço de opinião que mais vezes associou o mérito desportivo do FC Porto (47 troféus em 25 anos - um arquivo bem modesto) aos bastidores do sistema, dissesse isto.

Já não se trata de questionar a qualidade dos árbitros, mas sim as nomeações. Quais são os critérios? Toda a análise de Pinto da Costa é sustentada e pertinente. Sim, o regresso às nomeações já a partir de 2015-16 deve ser defendido. Sobretudo porque não hão-de faltar vozes a insurgir-se contra isto.

A saber. A Liga decidiu avançar para a nomeação directa em 2003. Decisão aprovada pela maioria, mas alguns clubes rejeitaram. Casos de FC Porto, Sporting e Guimarães. O Benfica apoiou a nomeação directa. Durante dois anos, as nomeações eram sistematicamente questionadas, por isso em 2005 voltou a propor-se o regresso ao sorteio. Só um clube queria continuar nas nomeações directas: o Benfica (o Beira-Mar não votou na altura por estar em mudança directiva). Algo que ajuda a explicar a faculdade de Luís Filipe Vieira ter podido escolher um árbitro por catálogo no processo Apito Dourado, em 2004, para uma meia-final da Taça de Portugal. Ao menos que tenha tido a cortesia de oferecer pequeno-almoço ao major.

Na altura, a nomeação directa tinha uma vantagem: era possível nomear os melhores árbitros para os maiores jogos. Era suposto os árbitros melhor classificados serem premiados com as nomeações para os clássicos, os derbys e os jogos que interferissem na luta pelo título e nas qualificações para a UEFA. Ora o que se vê, conforme é dito por Pinto da Costa, é que esse critério deixou de existir. A nomeação directa deixou de fazer sentido a partir do momento em que não há critério lógico para os grandes jogos.

O que se vê são árbitros não internacionais que apitam 3 vezes um grande na mesma volta. Árbitros que nos últimos 3 anos só arbitraram 1 dos 3 grandes e, coincidentemente, quase só são chamados para jornadas de alta dificuldade (ler mais aqui), ou árbitros que basta serem uma vez condenados publicamente por um dirigente de um grande e desaparecem do mapa das nomeações para esse clube. Isto aplica-se a todos os árbitros, a todos os clubes. Se um árbitro não serve para arbitrar um determinado clube, então não devia servir para arbitrar nenhum jogo.

Além da nomeação directa ter perdido a sua lógica, não há justificação possível para o facto de Tiago Martins ter sido promovido a árbitro internacional sem nunca ter arbitrado os 3 grandes. E logo na primeira amostra, na Taça da Liga no Dragão, mostrou porque é que há um ano estava na segunda categoria, não porque chegou a internacional. Não faz sentido nem há justificação possível.

Capela: há 1080 minutos sem sofrer
João Capela, árbitro com quem o Benfica nunca perdeu e com quem em 12 jogos nunca sofreu golos (não há-de faltar muito para bater o recorde de Mazaropi), foi nomeado para arbitrar numa jornada extremamente importante na luta pelo título. O 18º árbitro do ranking da época passada a arbitrar uma reedição do jogo onde o Benfica, em 2012-13, começou a deixar escapar o título. Qual o critério do CA da FPF?  

Porque é que foi nomeado um dos piores árbitros de 2013-14 para arbitrar o Benfica quando Jorge Sousa ou Marco Ferreira, dos melhores do ranking da época passada, vão arbitrar jogos de equipas que lutam para não descer? Onde está o critério da nomeação directa que defendia os melhores árbitros para os maiores jogos?

Artur Soares Dias foi nomeado para o FC Porto x Sporting. Já arbitrou as duas equipas esta época e fez globalmente boas arbitragens nos dois jogos anteriores entre FC Porto e Sporting. Esta foi a apreciação feita pelo painel do jornal O Jogo antes do clássicos anteriores:

18-04-2011 (FC Porto x Sporting, 3-2)

Os únicos erros apontados por unanimidade por Jorge Coroado, Pedro Henriques e Paulo Paraty são um fora-de-jogo mal assinalado a Varela e uma falta mal assinalada sobre Helton num choque com Guarín. Nada com interferência no resultado.






28-10-2013 (FC Porto x Sporting, 3-1)

O único erro apontado por Jorge Coroado, Pedro Henriques e José Leirós é um cartão amarelo mal mostrado a Iván Piris.






Ideal? Não, mas este curto historial, juntamente com uma classificação minimamente aceitável em 2013-14, ajuda a justificar a nomeação directa. No jogo do líder, que será um enorme interessado no resultado do clássico, não. Então se a lógica de nomear os melhores árbitros para os melhores jogos não é cumprida, que se regresse ao sorteio.

Como é claro, não se pode misturar todos os árbitros da primeira categoria no mesmo pote. Há que criar um sorteio condicionado, senão tanto podia aparecer Pedro Proença, o melhor árbitro português e agora retirado, como Bruno Paixão, que foi 20º há um ano. 

A solução proposta é criar escalões dentro da primeira categoria. Não se pode dividir entre internacionais e não internacionais, pois a promoção de Tiago Martins mostra que chegar a internacional não implica demonstrações prévias de competência nem experiência em jogos grandes.

Portanto, criar 3 ou 4 escalões (jogos de interferência em liderança/luta pelo título; jogos de competições europeias e metade superior da tabela; jogos entre equipas sem candidatura ao título ou à Europa) para os árbitros de primeira categoria, para condicionar o sorteio, seria o ideal. 

A mudança deve começar aqui
E para precaver o risco de árbitros com desempenho negativo serem sistematicamente nomeados, por sorte/azar, para o mesmo clube? Condicionar a repetição de nomeações, isto é, não permitir que árbitros que tenham tido uma nota anterior inferior a determinado valor (3,5 seria o ideal) possam ser nomeados para arbitrar a mesma equipa mais do que 2 ou 3 vezes na mesma época. A classificação final da época ajudaria a definir se os árbitros baixam ou sobem dentro do mesmo escalão da primeira categoria.

E o sistema de observações? Tempo de passar a incluir as imagens televisivas? Para quem não sabe, os observadores não avaliam os árbitros em função das imagens de TV. O sistema é simples: logo no fim do jogo, têm cerca de uma hora para enviar um SMS a Vítor Pereira ou ao representante secundário do CA com a nota para os árbitros, de 1 a 5.

Como a maioria dos erros graves (sobretudo os foras-de-jogo) só são perceptíveis a partir da TV, isso implica que os árbitros possam continuar a ter boas notas mesmo em jogos onde há erros graves de arbitragem, como vitórias por 1x0 a acontecer com um golo em fora-de-jogo. Isto desvirtua o sistema de avaliações. Há que criar um mecanismo para impedir que o mesmo assistente esteja associado a um acumular de erros neste tipo de avaliações, sobretudo porque grande parte dos erros de arbitragem são cometidos pelos auxiliares. Exemplo da ignorância que isto pode implicar é adeptos benfiquistas culparem Pedro Proença pelo clássico de 2011-12, quando na verdade o erro do golo de Maicon é de um auxiliar, não de Proença.

E acima de tudo, há que perceber que anular mal um golo por fora-de-jogo é mais grave do que validar um, isto porque as directrizes dizem que em caso de dúvida há que beneficiar a equipa atacante (isto é sempre ambíguo, porque na hora de decidir o árbitro tem que estar convicto da sua decisão, não ter dúvidas em função do estádio ou da cor da camisola). E enquanto adeptos de futebol, queremos golos e aceitamos o erro como parte deste desporto. Só não aceitamos o acumular de erros para o mesmo lado e a isenção face a tal. 

Avaliar o desempenho dos árbitros através da TV será sempre ponto de discórdia. Mostrem a mesma imagem a um benfiquista, a um portista e a um sportinguista e cada um deles vai ver uma coisa diferente, mediante o lance seja em benefício ou prejuízo para o seu clube. Mas se os erros só são detectados através da TV e os árbitros são avaliados em função da sua própria perspectiva e não em função das imagens, o sistema de avaliação demonstra que é tempo de uma reforma. Reforma essa que rima com Vítor Pereira e com os demais membros do Conselho de Arbitragem da FPF - que ironicamente tem a pasta da arbitragem, mas acha que ainda não foi pertinente reagir ao desvirtuar da competição esta época pelos senhores da bandeira e do apito. A utilização dos vídeos seria pertinente. Claro que Luís Filipe Vieira vai discordar, pois o Benfica votou contra esta proposta na mesma reunião em que era pedido o regresso do sorteio.

Que esta seja a única vez que é necessário falar de arbitragem até ao final da semana (até ao final da época já era pedir demasiado).

PS: O Record diz que a CII da Liga abriu o inquérito à manipulação de resultados proposta pelo presidente do Benfica ao presidente do Sporting, segundo disse Bruno de Carvalho. Num curto espaço de horas, José Eduardo Moniz e João Gabriel saem da toca e tentam de imediato desviar atenções para o FC Porto. Calma, meus senhores, não há motivos para estarem nervosos. Ou há?

11 comentários:

  1. E a contra-informação ao mais alto nível!
    http://portistasanonimos.blogspot.pt/2015/02/o-vendido-e-publicidade-enganosa.html

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  2. Não negam os factos, mas resolvem atacar o Fcp e factos do passado...
    Mas a CII da Liga vai fazer...Nada!
    Ao Jorge Jesus....multa de 39 euros...
    Ele nem é reincidente...
    Caro Td ontem ouvi que o tal Jonathan veio com o selo de Jorge Gomes...
    Ele é scout do Carnide?


    Falando mais a sério...o Lopetegui podia colocar o Brahimi a 10....
    E não podemos negar...alguns erros de palmatória do Mister.....
    Eu acho que há alguma coisa que impede uma reação mais forte do Fcp...
    A entrevista de Pinto da Costa.. É pouco acutilante...

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  3. TD mais uma vez um passo à frente dos outros, confirma-se André André reforço!! :D Será que há a possibilidade de ir buscar o Hassan ao Rio Ave?? Com Aboubakar + Gonçalo Paciência + Hassan tínhamos 3 goleadores de características diferentes e com grande futuro. Emprestava o André Silva e o Leonardo a uma equipa da primeira liga. Cumprimentos e bom trabalho!

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  4. A este propósito e dos "Arquivos" atentem nesta OPORTUNA Cronica :

    http://www.reflexaoportista.pt/2015/02/arquivos-dos-ultimos-25-anos.html

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  5. Arquivo dos últimos 25 anos, vamos a isso .

    Mas não esquecer nem branquear os outros 75 anos.....

    "CEM ANOS de HOSTILIDADE"

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  6. É óbvio que o problema é dos árbitros. A maioria é do Benfica e vêm que o seu clube não joga nadinha e só consegue o Bicampeonato com ajudas constantes. É como um pai babado a ajudar o filho que gatinha para andar. Mas a SAD cala e consente. Cobardes.

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  7. Excelente post!!! Belíssimo trabalho a servir o nosso clube!! Há muita coisa que tenho tentado reunir e arquivar sobre a arbitragem, mas de facto rendo-me à profundidade da análise deste post, pois falta no meu arquivo o registo do nível de cada árbitro que tenho registado (isto é, se é internacional, 1ª ou 2ª divisão, etc)!
    Obrigado pelo serviço ao nosso clube!! PORTISTAS propaguem este post, propaguem a verdade sobre esta Liga do Colo!! Não nos podemos calar NUNCA!!
    Contra tudo e contra todos, sempre Porto!!!

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  8. Eles estão borradinhos... e envergonhados por dentro!

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  9. Equipa B a jogar com 8 frente ao Oriental!

    Arbitro Tiago Martins!!!

    Já são vários os jogos em que nos prejudicam na B, como por exemplo na Luz, com o arbitro Manoel Oliveira mas o Luís Castro "calou" !!!

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  10. TRES EXPULSÕES na B !!!!!!

    O CENTRALISMO a mostrar quem manda ?

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De e para portistas, O Tribunal do Dragão é um espaço de opinião, defesa, crítica e análise ao FC Porto.