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sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Guardiola, VAR, 54 remates e um golo

Este post começa com algo diferente: a análise a um golo do... Manchester City, mais concretamente o golo que foi apontado pela equipa de Guardiola aos 90+5 minutos de um jogo frente ao Southampton.


Quem tiver oportunidade que observe os últimos 40 segundos do jogo. Último minuto, Southampton a defender com 11 atrás da linha da bola. E o que faz o City? Passes curtos, circulação, tabelas, desmarcação. Mesmo perante a pressão do relógio e do resultado, uma equipa que se manteve fiel aos seus princípios de jogo até ao último instante. O remate de Sterling podia até ter ido para a bancada, mas vimos uma equipa que tinha um plano e agarrou-se a ele até ao último instante.

A determinada altura, aquilo que vimos no Moreirense x FC Porto foi um caos tático total. O chamado «tudo ao molho e fé em Deus». Jogadores fora de posição, tudo em pânico a tentar meter a bola na grande área. E o mais irónico de tudo isto é que podia perfeitamente ter funcionado, pois o FC Porto acaba por chegar ao golo no último minuto.

E muito do que se passou acaba por se resumir a esse lance. É absolutamente inaceitável que, em plena época de implementação do VAR, as equipas de arbitragem continuem a ignorar o apoio desse sistema. É muito simples: o auxiliar Paulo Miranda não tem um ângulo de visão favorável no momento em que Ricardo vai ganhar a bola de cabeça e devolvê-la para a zona central, onde aparecem Soares (este sim, em posição irregular) e Waris (o único a participar na jogada e sem que ninguém, em perfeita honestidade, possa garantir que está em posição de fora-de-jogo).

Paulo Miranda, naquele lance, deveria ter a sensibilidade de deixar correr a jogada. O FC Porto marcava, o FC Porto festejava. Depois, se houvesse posição irregular, então certamente o VAR informaria a equipa de arbitragem de que o lance teria sido ilegal. O que não foi o caso. É um lance em que não é possível escrutinar qualquer fora-de-jogo a Waris. É um lance de dúvida. Já estão todos fartos de ouvir que «em caso de dúvida beneficiasse quem ataca». Não, não é preciso: em caso de dúvida usem a porra do VAR!

Mais. Este foi o quarto empate do FC Porto na I Liga. E tal como aconteceu na receção ao Benfica e na visita ao Desp. Aves, há mais uma grande penalidade flagrante a ficar por assinalar, desta vez com o guarda-redes a socar Felipe em cheio. O VAR deveria, precisamente, acabar com a existência deste tipo de lances: aquele que podem passar despercebidos aos olhos da equipa de arbitragem no relvado, mas que nas imagens televisivas não deixam margem para dúvidas.

Os erros de arbitragem não desculpam mais uma exibição em que o FC Porto joga a meio-gás, mas devem ser sempre assinalados. Dos oito pontos que o FC Porto não conseguiu somar neste Campeonato, seis deles tiveram forte influência de erros de arbitragem. Poderíamos estar a falar de uma equipa com 18 vitórias em 19 jornadas.

Depois da péssima preparação para esta época, chegar ao início de fevereiro a depender de si próprio para se manter na liderança do Campeonato, a um (grande) passo do Jamor e com os objetivos na Champions cumpridos já é, por si só, um milagre que tem como base o trabalho de Sérgio Conceição e do plantel. Mas ver sistematicamente o campo inclinado a cada perda de pontos torna esta missão impossível algo ainda bem mais difícil de alcançar.





Laboratório (+/-) - Um lance que poderia estar neste momento a correr o mundo: aquele livre de Alex Telles, à futebol de praia, foi uma das mais brilhantes jogadas estudadas que já vimos no FC Porto. Imprevisível, a todos os níveis, com uma execução perfeita no plano: colocar Brahimi na cara do golo. A má finalização de Brahimi manchou uma jogada que mostra trabalho de casa. Por outro lado, há que realçar: uma equipa que trabalha tão bem este tipo de lances, de bola parada, não consegue arranjar outra alternativa que não seja despejar bolas na frente à espera que alguém apanhe uma? Infelizmente, este lance provavelmente não voltará a funcionar na I Liga, pois a colocação de Alex Telles já «denunciará» se vai voltar a tentar bater desta forma. Que foi perfeito, foi. Ou quase.

Os laterais (+) - Inconformismo puro. Juntos, Ricardo e Alex Telles foram responsáveis por 187 ações com bola e tentaram 17 cruzamentos, além de terem passado os 90 minutos a fazer piscinas defesa-ataque/ataque-defesa. Fartaram-se de correr e de tentar dar largura a corredores que encontraram os muito desinspirados Marega e Brahimi. Nem sempre tomaram a melhor decisão (o remate de meia distância de Alex Telles, já em tempo de compensação, foi um disparate e um exemplo de quem já não tinha um plano de jogo a seguir), mas ninguém lhes pode apontar o dedo por falta de garra e empenho.

Zonas de ação de Alex Telles e Ricardo Pereira
Felipe (+) - Ainda deve estar a tentar compreender como é que aquela bola não entrou. E, diga-se, Felipe tinha que meter aquela bola lá dentro. Um jogador com a sua dimensão física, com uma entrada mais determinada, teria levado tudo à frente naquele lance: entrava bola, entrava jogador, entrava tudo. Foi a mancha numa exibição que esteve bem perto de ser irrepreensível. Ganhou 9 dos 12 lances de cabeça que disputou, foi o mais rematador do FC Porto (3 tentativas, as mesmas de Soares) e ganhou todos os lances pelo chão (3/3). O Moreirense não fez um único remate na direção da baliza de José Sá e, perante a falta de Marcano, Felipe assumiu-se como o patrão da defesa, numa das melhores exibições da época. Faltou, literalmente, apenas o golo. 





Circulação de bola (-) - O minuto 34 sintetiza um pouco daquilo que foi a incapacidade do FC Porto para circular a bola (ainda que o relvado, de facto, não estivesse nas melhores condições). Sem qualquer oposição, e com o Moreirense com as linhas bem recuadas, Felipe e Reyes deixam escapar a bola pela linha lateral no início de construção. Foi o exemplo de uma equipa que parecia estar a jogar junta pela primeira vez, sem saber muito bem como começar a construir.

De facto, este era um novo meio-campo. Herrera mais recuado, perante a ausência de Danilo, Óliver mais à frente e Paulinho, em estreia, a jogar a partir da direita. Mas é incompreensível a incapacidade do FC Porto em fazer tabelas, em jogar curto nos últimos 30 metros, em procurar o espaço entre linhas. Este Moreirense sofria golos há 17 jogos consecutivos. Bombear a bola para as costas da defesa, num campo curto e com uma equipa com a linha defensiva baixa, não funciona.

Eficácia (-) - Os golos anulados frente a Sporting e Moreirense foram lances de manifesta infelicidade (será a palavra correcta?) para o FC Porto. Mas quando olhamos para os resultados que ficam para a história, nos últimos 315 minutos de jogo o FC Porto fez um golo - e teve que ser um defesa do Tondela a oferecê-lo. O FC Porto já perdeu o estatuto de melhor ataque da Liga e tem tido, de facto, imensas dificuldades para chegar ao golo.

Durante este ciclo de 315 minutos, o FC Porto rematou 54 vezes, das quais apenas 19 à baliza. E entre todas estas ocasiões, os dragões tiveram 12 oportunidades flagrantes de golo (isto é, sem um opositor entre o rematador e a baliza para além do guarda-redes) - falharam 11 e só mesmo Marega acertou frente ao Tondela.

Na I Liga, o FC Porto tem uma média de um golo a cada 7,32 remates. Logo, se nos últimos 54 remates só um acabou em golo, não é preciso muito mais para se concluir que há um problema de eficácia neste momento no ataque. Estávamos felizes por 2018 não ter CAN em janeiro/fevereiro, mas a verdade é que pouco se viu dos atacantes africanos do FC Porto em Moreira de Cónegos e nas últimas semanas. Se todos os jogadores que estavam a garantir golos se apagam... Waris e Paciência terão mesmo que ser «reforços».

Lugar cativo? (-) - É difícil comentar este tema, e é difícil apontar seja o que for a Sérgio Conceição, que fez milagres até aqui. Mas se com a saída de Iker Casillas do 11 habitual o treinador provou que não havia lugares cativos, o que dizer quando vemos um jogador não dar uma para a caixa em 90 minutos e continuar em campo? As coisas não correram bem a Brahimi, e não é difícil perceber porquê: está completamente esgotado fisicamente. O mesmo era visível em jogadores como Alex Telles, Herrera, Aboubakar, e o próprio Marega.

Paulinho, que esteve nas três jogadas de perigo na primeira parte, foi o primeiro a sair, para dar lugar a Soares, protagonista de três ocasiões desperdiçadas no ataque. Waris substituiu Aboubakar (um remate, um bom passe na primeira parte e pouco mais) e até poderia ter sido o herói no último instante, mas nota-se claramente que ainda se está a adaptar a uma nova realidade e não está entrosado com os colegas.

Sérgio Oliveira entrou já numa fase de desespero. Começa mal, ao falhar dois passes, mas depois colocou duas vezes a bola em zona de finalização, cumprindo a sua missão para os instantes finais - meter a bola na grande área.

Ok, só dava para tirar três. E se Corona não corresponde nos treinos - e nos jogos -, torna-se difícil condenar Sérgio Conceição por não o lançar mais vezes, mas a falta de alternativas é demasiado gritante. Herrera, que começa por substituir Danilo, acaba o jogo a jogar com Marega na frente. Brahimi criou apenas uma ocasião de golo em toda a partida, o cruzamento para Soares.

Mas o mais preocupante é que, no último jogo antes do fecho do mercado, não se vislumbrou outra alternativa que não seja manter Marega em campo 90 minutos, mesmo sem o maliano dar uma para caixa. Exceção a um passe para Paulinho, Marega não conseguiu fazer nada em campo. Fez apenas um remate, aos 90', sem perigo; acertou apenas 3 passes dos 13 que tentou; falhou as suas 2 tentativas de drible; não cruzou nenhuma vez. Foi provavelmente o seu pior jogo nas competições nacionais esta época. 

Desde que Marega entrou no 11 titular, o avançado falhou apenas 16 minutos de jogo por vontade do treinador - em ambos os casos, foi substituído para a ovação, em dois jogos em que conseguiu bisar. De resto, é Marega e mais 10. O maliano luta muito, tem a interessante média de contribuição de quase um golo por jornada, mas não podemos estar dependentes de um jogador que erra muito mais do que acerta. Pode até regressar aos golos já diante do SC Braga, mas chega a parecer que o FC Porto versão 2017-18 não pode prescindir em instante algum de Marega. Nem Madjer, Deco ou Hulk tinham utilização tão cativa na equipa. 

É Marega que é assim tão bom? Ou é o FC Porto que está tão curto em soluções? Só há algo pior do que ver Sérgio Conceição confiar sistematicamente em Marega para fazer 90 minutos: é que se calhar não sobram mesmo assim tantas soluções. E entre o talento intermitente/molengão de Corona ou até Otávio, e um Hernâni que só tem servido para fazer número (mais até na bancada do que na ficha de jogo), o treinador prefere o empenho e a capacidade física de Marega. É penoso ver o maliano nestas situações em campo. Mas chegámos a um pouco em que parece que resta aceitar isso. 

Os 45 minutos que faltam disputar frente ao Estoril eram uma oportunidade para reforçar a liderança da Liga. Agora são a oportunidade para recuperá-la. Basta uma jornada para tudo mudar novamente. Para o bem ou para o mal.


4 comentários:

  1. Finalmente alguém que põe o dedo na ferida e questiona o porquê de ser “proibido” tirar o Marega!

    Percebo o argumento do esforço, aceito o argumento da força física, mas não quando não se acerta UMA única acção durante um jogo.

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  2. A análise que faz referente ao VAR é lógica e quase verdade de La Palice. É preciso fazer uma análise muito profunda para perceber a honestidade destas decisões. Ou são mesmo fracos, ou estão corrompidos, ou então, expremendo a honestidade toda que possa existir, os árbitros evitam a utilização do VAR com receio de penalização de nota... se o VAR corrigir uma decisão dos elementos da Equipa de Arbitragem, não terão estes penalizações em termos de nota? Mas mais uma vez, ótima análise... creio também que a equipa se começa a ressentir da falta de (boas) opções e que tragam ritmo competitivo. Este é um plantel curto que nem sequer foi escolhido por SC. Melhores jogos virão certamente, a (re)começar amanhã!

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  3. Relativamente ao treinador não me vou alongar mais muito mau gestor. Agora consta que existem conflitos no balneário. Se não houver mudança agora contra o braga tenho sérias dúvidas que o Porto seja campeão.

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  4. Benfica empata aqui no dragão, foi massacrado e favorecido. Ficou atrás 3 PONTOS,viram alegria deles? se fosse porto, nós estaríamos a reprovar equipa , exibição e treinador.
    Exigência sim......exagero não.......até aqui herrera era o melhor, marega espectáculo......agora parece que não temos equipa? lol.....somos os mesmos, infelizmente o que não muda são os ladrões e os fascistas. Não há equipa nem treinador que resistam
    Nem com guardiola e messi seriamos campeões em portugal

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