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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O peso das receitas televisivas, com a Benfica TV à mistura

Os direitos televisivos são o ganha pão para muitos clubes europeus. Em países como Inglaterra, Alemanha, França ou Itália, assim como nas competições da UEFA, aplica-se o modelo centralizado, colectivo. Em Portugal e Espanha é prática o plano individual, que prejudica os clubes mais pequenos. Só Benfica, Sporting e FC Porto conseguem chegar à barreira dos dois dígitos em milhões em receitas televisivas anualmente. Para clubes de segunda linha, como Braga, Marítimo ou Guimarães, é extremamente difícil chegar aos 4 milhões de euros. Para clubes da segunda liga, um campeonato com 46 jornadas e que implica centenas de quilómetros em viagens, além de despesas de alojamento, as receitas televisivas não chegam a 300 mil euros/ano por clube. Apenas para explicar o quão distante é a realidade do campeonato português.
Portugal, realidade à parte

Tomemos a liga inglesa como exemplo. Em 2012-13, o QPR, que desceu de divisão, recebeu 50,56 milhões de euros só em direitos televisivos. Mais do que Benfica, FC Porto e Sporting receberam juntos na última época. Esta diferença abismal mostra bem o quão auto-insustentável é o futebol português.

A centralização dos direitos televisivos beneficiava os clubes pequenos (um trabalho interessante do Público, ainda que já antigo). Mário Figueiredo chegou à liga com a promessa não só do alargamento como da centralização dos direitos televisivos. Os clubes mais pequenos desesperam por receitas e agarraram-se à tábua de salvação que viram. Em vão. Não é segredo para ninguém o poder que a Olivedesportos ocupa no futebol português. Qualquer portista reconhece e entende a longa ligação do FC Porto ao império de Joaquim Oliveira - menos António Oliveira, claro.

A Olivedesportos, mais do que dona do negócio do futebol português, é uma financiadora da gestão dos clubes, muitas vezes adiantando verbas para fazer face aos problemas de tesouraria, como é o caso do FC Porto (ver R&C de 2013-14). O actual contrato da Olivedesportos é válido até 2018 e rende um total de 82,8 milhões de euros, quantia que não é repartida equitativamente por causa dos adiantamentos já referidos, não excluindo também rendimentos progressivos.

Em 2013-14, as receitas televisivas do FC Porto foram de 15.928M€, face aos 13.185M€ de 2012-13. O crescimento deve-se em grande parte à receita de 1.628M€ do Porto Canal. Mas este último ponto não é necessariamente uma boa notícia, pelo menos não em 2013-14, tem em conta que os fornecimentos e serviços externos cresceram sobretudo por culpa dos custos de exploração da PortoMedia. Logo ainda é cedo para perceber o impacto que o Porto Canal possa ter, mas vamos tomar como referência os 15.928M€ de 2013-14 (dos quais 14M€ oriundos da PPTV/Olivedesportos).

Ligação deve continuar
Em 2014-15, a SAD prevê receber 16M€ em receitas televisivas. Dinheiro que cobre sensivelmente 20% dos proveitos operacionais. Mas como o orçamento apresenta logo um défice à partida, que tem que ser coberto as mais-valias em transferências, neste caso as receitas televisivas vão cobrir apenas 14% das despesas operacionais para 2014-15. Quando comparado com o Reading ou um QPR, que conseguem pagar a época só às custas dos direitos televisivos, isto diz tudo sobre a nossa realidade.

É possível aumentar exponencialmente as receitas? Não. Não sob a batuta da LPFP, não sob a FPFP, não sob a Olivedesportos - e sob ninguém, a não ser que aparecesse algum maluco que vendesse os direitos desde a China à Índia. Obviamente o FC Porto não irá romper com a Olivedesportos enquanto Joaquim Oliveira tiver o seu império de pé. Estamos a falar de um parceiro de longa data do FC Porto e um acionista de 1/10 do capital social da SAD. Aliás, no final de 2013, a participação de Joaquim Oliveira passou a ver feita via Olivedesportos, não pela Sportinveste. E se Joaquim Oliveira não aproveitou a OPA para vender a sua participação, é sinal que a ligação ao FC Porto vai continuar.

E o pós 2018? Impossível prever. Os clubes não podem interferir nos direitos da Supertaça, da Taça de Portugal, da Taça da Liga (enquanto durar) e das provas da UEFA, mas são donos dos seus direitos televisivos do campeonato nacional. Pode o FC Porto usar o Porto Canal como meio de transmissão? Diria que não. Até Bruno de Carvalho, um sportinguista fanático, cego e que acredita mesmo que o Sporting é o maior e melhor clube português, percebeu que não é possível fazer isso no seu clube. No FC Porto também não. O único clube que tinha massa para isso (massa no sentido de procura de mercado) em Portugal, o Benfica, aventurou-se. E será que correu assim tão bem?

Tendo em conta que a Benfica TV foi um projecto que começou do zero, os resultados de 2013-14 são interessantíssimos. Que não se diga o contrário. Mas a verdade é que a Benfica TV não consegue gerar as receitas que a Olivedesportos lhe oferecia, por muito que se diga o contrário.

A Benfica TV gerou 17,1M€ na última época. Se disserem que rende mais do dobro do que o último contrato da Olivedesportos, claro que é um sucesso. Mas a verdade é que a última oferta da Olivedesportos, que valorizava o Benfica quase a uma escala FC Porto+Sporting juntos, era muito superior àquilo que a Benfica TV está a gerar. A Olivedesportos oferecia 22,2M€ por ano. A Benfica teve gerou 17,1M€. Ou seja, a Benfica TV fez menos 5,1M€ do que recebia se tivesse renovado com a Olivedesportos.

É possível aumentarem as receitas? Duvido. A Benfica TV já rompeu a barreira dos 300 mil assinantes (e o Vieira ainda anda à procura dos 300 mil sócios), números que reconheço como bons, mas teve custos na ordem dos 11M€ e contribuiu para um aumento de mais de 25% nos custos com pessoal. Que os custos possam ser reduzidos, é possível, pois a inclusão no perímetro de consolidação da SAD é sempre mais dispendiosa. Mas chegar a uma receita de 22,2M€/ano? Diria que impossível.

Benfica TV: bom negócio,
mas que não engana
Mas esta não era a única aposta da Benfica TV. A Benfica TV não queria gerar apenas receitas próprias, e talvez o próprio Benfica soubesse que não ia chegar aos valores da Olivedesportos. Mas teve outra vitória: o grande murro que deu no império de Joaquim Oliveira. Fragilizando a Olivedesportos, o Benfica fragilizava FC Porto (Joaquim Oliveira tem 10,01% da SAD) e até Sporting (Joaquim Oliveira tem 5,47%). Uma Olivedesportos com menos receitas via Benfica e consequentemente via Sport TV tornava-se uma Olivedesportos menos capaz de ser parceira dos rivais e de manter o futebol português a girar em seu redor.

De certa forma, a Benfica TV previa o fecho de outras duas torneiras: o BES e a PT. Coincidência ou não, com a queda do principal parceiro bancário do Sporting e do FC Porto e do maior patrocinador do futebol português, é a Olivedesportos, com os direitos televisivos, a maior responsável pelas receitas operacionais da SAD, só superada pelos prémios da UEFA. O BES caiu, a PT caiu, o Benfica planeava a queda da Olivedesportos. Feriu-a, mas para já continua de pé. A Olivedesportos precisava mais do Benfica do que o Benfica da Olivedesportos, mas o Benfica não ganha tanto como ganhava com a Olivedesportos.

Que futuro pós 2018? Impossível de prever. Muito pode mudar, não só face à queda da Olivedesportos nos últimos anos como ao próprio papel que a LPFP assumir (o futebol português ou será exportado ou continuará a afundar-se). Mas com uma coisa podemos contar: se é certo que a Olivedesportos não é tão forte sem o Benfica, não é menos verdade que deve passar a valorizar mais do que nunca o FC Porto como seu parceiro negocial.

12 comentários:

  1. É uma análise interessante, mas deixou de fora Luís Duque. Vai-se colocar do lado dos clubes ou SportTv? Ninguém sabe. O que se sabe é que sem a negociação colectiva (ou seja, com os contratos monopolistas actuais) não há a mínima hipótese dos clubes profissionais ficarem mais sustentáveis sem perder competitividade.

    Quanto à Benfica Tv parece-me uma análise correcta, apenas discordo parcialmente no que toca ao crescimento das receitas. "22,2M€/ano? Diria que impossível." Parece-me certo que isso vai acontecer este ano.

    No segundo semestre o canal rendeu 16.764M€. Mantendo este valor no mesmo período e fazendo 16.440M€ no semestre actual chegasse aos 22.2M€ líquidos. As receitas no 1º semestre vão aumentar devido ao canal iniciar a época já com uma base estável de assinantes e transmitir mais um jogo para a Liga.

    Cumprimentos.

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  2. Sou benfiquista mas costumo visitar o blog pelas análises acertivas e sem facciosismo que aqui se fazem.Mais uma vez a lucidez do post é de realçar.Para um benfiquista era importante cortar com a Olivedesportos,mesmo que se perca algum $ com isso e nesse sentido concordei com o que a Direcção fez.Saudações desportivas e boa sorte para mais logo

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  3. 1º ponto prévio - sou benfiquista. 2º ponto prévio - gosto muito de ler o Tribunal do Dragão pelos posts sobre as finanças dos clubes e das SADs. 3º ponto prévio - não venho para aqui discutir se a linha do fora de jogo na BTV foi bem ou mal colocada, isso não me interessa discutir.

    Perante estes pontos prévios, importa introduzir um dado, do conhecimento geral, que é o facto de se o Benfica tivesse celebrado o acordo com a Olivedesportos por 111 M€ o valor a receber pelo Porto subiria de 82,8 M€ para 88,8 M€, ou seja, mais 6 M€ (mais 1,5 M€ por época). Provavelmente o mesmo se passaria com o Sporting que, falava-se, de 70% do valor a receber pelo Benfica (o Porto seriam 80%).

    Por outro lado, um acordo com a Olivedesporto implicaria que as verbas a receber seriam fixas, enquanto que com a BTV as verbas poderão ser crescentes (ou decrescentes) em função da colocação dos jogos em mais paises/operadores. Ou seja, existe maior margem negocial para promover o desporto. É sabido que apenas com o mercado nacional a BTV não seria viável no modelo que apresenta atualmente, mas a internacionalização na marca Benfica (com maior potenciação por via do acordo com a Emirates Airlines) poderá permitir, por um lado, ter mais receitas e, por outro, não permitir o seu crescimento para o Porto e Sporting. Daí que o Benfica não queira a negociação coletiva das receitas/transmissões televisivas. Fez o que a Liga já deveria ter feito. Procurou novos mercados para expandir e aumentar as receitas.

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  4. Caro TdD,

    Há uma pergunta acerca da BTV que ninguém parece saber responder e q o clube em questão esconde muito bem: Qual a percentagem da receita total é que fica nas operadoras?

    Sempre que se fala nas receitas, fala-se (como bem lhes convém) no valor total e é como se ficasse tudo lá, mas repare-se que o € que os consumidores pagam pelo canal é pago às operadoras e só depois é q o € há-de chegar ao clube.

    E tendo em conta que um fornecedor de TV é MUITO mais caro de suportar que um canal, esta percentagem não pode ser muito pequena. Sei, que na SPTV, a divisão é à volta de 65% para o canal e 35% para a operadora. Mesmo q no BTV seja 70/30, esses "17 milhoes" já só seriam 11 ou 12. Mais uns pozinhos e o canal pouco mais rende que a oferta antiga que a Olivedesportos lhe dava :)

    Cumprimentos

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  5. EU não acredito que o "Hype" inicial da BTV se mantenha por muito mais tempo.

    Já se nota dificuldades nos ganhos, aquando da estratégia recente de aumente de 9,90 para 19,90 os custos da assinatura para unidades empresariais (Cafés, Restaurantes, etc...) o que pode começar a provocar algum largar estratégico, neste segemnto da BTV, pois a SPORTV tem Porto e Sporting + Benfica fora, o que é muito mais interessante que a BTV, apesar desta apresentar a Premier League.

    No nosso segmento concreto, penso que estaria mais do que na hora de começarmos a Internacionalizar os jogos do FCP, apesar de não saber se poderiamos fazer isso no nosso plano ou se teria que ser em ganhos partilhados com o Olivedesportos.

    Ainda no outro dia veio a público a loucura na Argélia pelo Brahimi, não estaria na altura de aproveitarmos esse patamar para rentabilizar o negócio futebol do FCP para esse país? E para a Colombia também?

    Penso que temos que ser nós pró-ativos a nível de internacionalizarmos a nossa marca, que perdemos essa oportunidade em 2004 para a Asia, quando ganhamos a CL.

    Também penso que temos que seguir as pisadas de Real Madrid e seus pares e ir fazer pré-temporadas para a Asia e Médio Oriente, nem que isso segnifique começarmos mais cedo e passarmos mais tempo no Olival, mas realmente temos de planificar tudo em termos de Internacionalizar a marca e temos outras coisas a fazer também.

    Por exemplo, o Andebol começar a fazer Pré-Temporadas na Escandinâvia para começarmos a evoluir a nossa marca em paises que previligiam Andebol sob o Futebol.

    Existe muita coisas que se pode fazer, mas temos que ser mesmo Pró-Ativos e não ficar à espera sentadinhos que aluém faça o trabalho por nós e ainda nos pague por cima.

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  6. «não é menos verdade que [a Olivedesportos] deve passar a valorizar, mais do que nunca, o FC Porto como seu parceiro negocial»

    é favor não esquecer o spórtém, pois que é o único que «representa Portugal; os outros representam províncias ou bairros».
    estou a ser irónico, claro :D

    abr@ço
    Miguel | Tomo II

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  7. http://www.reflexaoportista.pt/2014/11/um-desconhecido-arbitro-de-baliza.html

    Merece leitura digo eu e Klicar em "elefante branco".

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  8. Fazes alguns apontamentos sérios, mas se tivesses pesquisado mais e como reconheceste a BTV começou do zerou ou seja vai em crescendo (pode ou nao ter atingido o maximo), assim sendo não começa directamente a todo o vapor e só para que saibas no segundo trimeste a BTV gerou lucros superiores à metade da receita prevista pela olivedesport por isso para já (e digo para já porque o futuro ninguem sabe) é um negocio melhor do que o proposto pela olivedesportos, assim como, contrariamento ao porto o benfica ainda recebe dinheiro pela publicidade na BTV bem como da publicidade estática no estadio que não esta contabilizada na BTV, por isto para já é um muito melhor negicio para além do aspecto politico da BTV.
    Rafael

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  9. Boa análise, obrigado!
    No entanto, creio que a mesma peca por defeito, não?
    Para ser mais exata deveria comparar os 22,2M de custo de oportunidade, não com os 17, 7 de receita, mas sim com os 17,7-11,1 de gross profit.
    (Isto peca ligeiramente por excesso, ao ignorar que o Benfica provavelmente teria na mesma o seu canal e se não tivesse lá as transmissões e que por isso nem todos os custos desapareceriam, mas já é mais secundário)

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  10. Boas,

    isto é tudo muito bonito, as análises e tal, as perspectivas de crescimento, o bicho papão, etc, etc.
    A bola que comece a não entrar, ou melhor, que os motas, paixões, capelas e muitos mais não levem as armas e as meias enfiadas na cabeça para o campo, vão ver para onde vai a bostatv (trato-a assim porque às coisas que já foram ditas naquele canal em relação ao meu clube e respectivo presidente não me merece qualquer respeito).

    Saudações Portistas
    Carlos Torres

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    Respostas
    1. Que comentário infantil isso das arbitragens entre os 3 grandes é giro e tal mas é para encher chouriços uns sao beneficiados umas vezes outros outras usar isso como argumento é nao gostar de futebol das de analisar o homem do apito, para isso vai para arbitro

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    2. Caro anónimo, que comentário cobarde (já que nem o assinas).
      A arbitragem faz parte do jogo e pode influenciar o mesmo, por isso faz todo o sentido ser analisada neste contexto. Dizeres que falar das arbitragens é não gostar de futebol isso é que é infantil e ridículo.
      Agora vou eu presumir, também: ou andas satisfeito com as arbitragens ou és anjinho.
      Já agora não me conheces de lado nenhum mas mandaste-me para árbitro, eu retribuo:
      Vai para o céu se fores anjinho, se andas satisfeito com os homens do apito vai para aquele sitio que tu sabes...

      Saudações Portistas
      Carlos Torres

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De e para portistas, O Tribunal do Dragão é um espaço de opinião, defesa, crítica e análise ao FC Porto.