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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Publicidade, Sponsorização e Warrior: um ponto de situação

Como ponto de partida de uma questão de um leitor d'O Tribunal do Dragão, um olhar às receitas com publicidade e sponsors e à transição da Nike para a Warrior. Os números oficiais nunca foram referidos publicamente, até porque estes contratos são sempre definidos por objectivos e patamares (ser campeão vale mais do que ser 3º classificado, por exemplo). Logo não é possível conferir ao certo se a Warrior já está a render mais ou menos do que a Nike, mas era sabido que o crescimento, a existir, não seria muito significativo.

Na época passada a Publicidade e Sponsorização tiveram um peso de 19% nas receitas da SAD, 13,594M€ (essencialmente através dos 3 sponsors principais, PT, Nike e Unicer). Um crescimento de pouco mais de 400 mil euros face a 2012-13, época melhor em tudo em termos desportivos. A juntar a isto há o merchandising, com um peso de 5% e 3,72M€.

Ou seja, em 2013-14 a Publicidade, Sponsorização e Merchandising tiveram um peso de 24% nas receitas operacionais da SAD. Em 2014-15 está previsto que a Publicidade e demais tenha um peso de apenas 14,4%. (no orçamento resumem tudo a esta rubrica). Em ano de estreia da Warrior, a SAD vai receber menos em publicidade e patrocínios.

Relatório e Contas da SAD do primeiro trimestre de 2014-15

Isso já se reflecte no R&C do 1º trimestre. Nos primeiros 3 meses da época, a SAD recebeu 3,087M€, quase meio milhão a menos do que em 2013-14. Há um ponto positivo: o Merchandising cresceu 180 mil euros, para 1,618M€, e segundo o R&C isso deve-se à parceria com a Warrior. As camisolas cor-de-rosa são responsáveis em grande parte por esse aumento.

Warrior sem
grande impacto
Foi uma aposta aqui elogiada enquanto se desmistificava aquela história de que o Benfica é um clube muito mais poderoso em termos de patrocínios e sponsors. É um daqueles mitos que se repetem e alimentam até ao dia em que alguém se lembra de o questionar. FC Porto e Benfica têm tido registos equilibrados quanto às receitas com publicidades, patrocínios e merchandising. Há trimestres em que ganha mais o FC Porto, outros o Benfica. 

No 1º trimestre, o FC Porto, no conjunto da rubricas, ganhou 4,705 milhões de euros. O Benfica ganhou 85 mil euros a mais. São estes 85 mil euros que ditam um fosso de grandeza? (Bastava o Benfica não ter o naming no Seixal para receber menos). Fosso de grandeza, a existir, não é entre FC Porto e Benfica, é em relação ao Sporting, que nos primeiros 3 meses ganhou apenas 1,536M€ em publicidade e patrocínios. Uma diferença natural face àquilo que é a dimensão dos 3 clubes.

O FC Porto, num contexto de futebol português, está no topo daquilo que os patrocinadores nacionais podem oferecer. É irrealista imaginar mais do que 5 milhões de euros entre merchandising, publicidade e patrocínios em 3 meses. A alternativa seria apostar num Naming de estádio a uma escala internacional, uma opção que devemos considerar seriamente a curto prazo (o Estádio Jorge Nuno Pinto da Costa não vai existir pela vontade do próprio presidente). 
Unicer. A resistente
também já lá vai

Recuando à questão da diminuição das receitas publicitárias. Como é sabido a PT vai deixar de ser patrocinadora e já aqui avaliámos o impacto do fim dessa ligação. Quase que já podemos encarar a PT como uma ex-patrocinadora, na medida em que o dinheiro a receber em 2014-15 vai para o Internationales Bankhaus Bodensee AG, um banco alemão, para liquidar as prestações de um crédito de 2,244M€. Já agora, referir que o dinheiro a receber pela fase de grupo da Champions também vai todo para aqui: 8 milhões de euros por um crédito que venceu em Outubro.

Em termos de patrocínios, já se foi a Nike, acaba-se a PT e sobra a Unicer, com quem renovámos até 2016. Mas o dinheiro da Unicer também já serve como colateral para dois créditos com o BIC, de 3 milhões de euros, que vencem em Fevereiro de 2016.

Conclusão: o problema não é o FC Porto estar a receber menos em patrocínios. O problema é que todos os patrocínios a receber já têm destino para pagar à banca ou liquidar créditos.

13 comentários:

  1. @ tribunal do dragão

    começo por referir que é de todo impossível para mim discordar do que foi escrito ali em cima.

    apenas reforço a idéia com a minha firme convicção de que estas são duas rubricas em que demonstramos que ainda temos muito para fazer.
    por exemplo, não compreendo como um clube como o Liverpool recebe quase dez vezes mais do que nós da Warrior - no sentido em que já não vence um título há mais tempo do que nós.

    acho que deveríamos internacionalizar mais a marca 'Futebol Clube do Porto', dando seguimento ao que iniciámos na Colômbia. não podemos ficar pelo Ocasional, pelo esporádico. tem que haver continuidade.
    outro exemplo é o autêntico roubo no preço das camisolas oficiais, o qual não está ajustado à nossa realidade, de todo. tirassem pelo menos trinta euros ao valor comercial e acredito que venderíamos ainda mais.

    por último, estou em crer que na próxima época 'azerbeijan land of fire' constará nas camisolas, para lá de uma 'sonangol' qualquer.

    abr@ço
    Miguel | Tomo II

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    1. O problema é que o que está em causa não é a grandeza desportiva ou o sucesso do clube, mas sim o mercado em que está inserido. O mercado de direitos televisivos em Inglaterra vale 3,7 mil milhões por ano. Em Portugal vale 60 milhões por época... Só por aqui já temos uma ideia do porquê da Warrior valorizar muito mais um clube que não é campeão há 20 e tal anos.

      Em relação às camisolas, de acordo.

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  2. Resumindo e concluindo....a coisa não está muito bonita no que respeita ao que vamos receber de prémios e publicidade...nem lhe vamos cheirar.
    em relação ao comentário do tomo ll concordo em absoluto no tema das camisolas. É a mesma ideia que tenho para os bilhetes de jogos. Mas eu só nao tenho uma camisola por ela ser muito cara e em junho ja haver outra.


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  3. Ou seja, em 2013-14 a Publicidade, Sponsorização e Merchandising tiveram um peso de 24% nas receitas operacionais da SAD. Em 2014-15 está previsto que a Publicidade e demais tenha um peso de apenas 14,4%. (no orçamento resumem tudo a esta rubrica). Quer isto dizer que em ano de estreia da Warrior, a SAD vai receber menos em publicidade e patrocínios....

    Não faz sentido falar nessas percentagens, só mesmo para tentar enganar ou confundir alguém... a receita que interessa é a absoluta, essas % estão muito condicionadas pelas receitas da champions extraordinárias este ano...

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    1. O que indica que a SAD vai receber menos em patrocínios não é as percentagens (que como é óbvio têm o factor Champions a desequilibrar, todos percebem isso), é a proposta de orçamento para 2014-15, que aponta para 12,876M€.

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  4. @TdD

    Mais um excelente texto, como já vem sendo hábito, tocando nos pontos essenciais e sem rodeios.

    Com a saída da PT/MEO, sempre serão aqueles senhores do Azerbeijão ("Land of Fire") a avançar como main sponsor?

    Os lá de baixo aparentemente terão tudo acertado com a Emirates. Será que a Qatar Airways - que curiosamente começa a operar em Portugal em 2015 - não poderá vir a ser o nosso sponsor à imagem do que acontece em Espanha com os 2 principais clubes? Espero que a SAD esteja atenta.

    Cumprimentos,
    TV

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    1. Fiquei com a ideia que o Mammadov queria comprar capital social, não fazer um patrocínio. Se os irmãos Oliveira não querem vender e o FC Porto assumiu a maioria do capital social ainda há bem pouco tempo, não vejo como isso seja possível.

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  5. O problema não é só o tamanho do mercado, mas também a profunda incompetência dos dirigentes (da Liga e por arrasto dos clubes que permitem que a situação se arraste).

    O que impede os grandes de todas as épocas irem a um PALOP (nem que fosse com as B)? Já nem falo em acções de promoção na Ásia ou América. Ou, em alternativa, porque não se faz uma final no estrangeiro (TdL ou Sup.)?

    Sei que a rivalidade é intensa, mas é assim díficil perceber que saem todos a ganhar com isso?

    Cumprimentos.

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    1. Quanto a isso totalmente de acordo. Um torneio de pré-época a envolver os 3 grandes nos PALOP valia quase tanto como um contrato de patrocínio da PT.

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    2. 1)
      « Ou, em alternativa, porque não se faz uma final no estrangeiro (TdL ou Sup.)»

      isso já aconteceu, em 1994/1995, em Paris, a 20-06-1995: finalíssima da Supertaça Cândido de Oliveira de 1994.
      foi - lá está e infelizmente - caso único e sem repetição, apesar do sucesso que teve.

      2)
      «Um torneio de pré-época a envolver os 3 grandes nos PALOP»

      ui! mas que grande revolução no futebol tuga teria que acontecer! :D

      abr@ço
      Miguel | Tomo II

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  6. Esta semana foram conhecidos valores (embora por parte de Fc Porto e Sporting os valores não sejam auditados) da dívida dos três grandes a banca. Está o Tribunal do Dragão a preparar uma análise a esses números?!

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  7. Perante os resultados financeiros, ano após ano, é inexplicável as remunerações da Administração!

    Esta situação deveria ser regulamentada pelos sócios!

    Estamos a pagar a dirigentes como autênticas estrelas de futebol, o que é 'pornografico'. Temos de ter a noção de que o clube é dos socios. Façam uma análise comparativa para ver onde estamos a nivel europeu, e depois facam o paralelismo para a realidade portuguesa!

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