Nas várias análises já aqui partilhadas sobre o projecto Visão 611, os pontos positivos resumiram-se essencialmente a duas coisas: logística (a ponte escola-clube foi facilitada e a formação deixou de ser meramente futebolística) e especialização técnica com recurso à escola holandesa. A propósito deste segundo ponto, o jornal O Jogo publicou sábado um interessante trabalho, que tem como base a filosofia do holandês Pepijn Lijnders.
O timing é interessante e não é inocente. Surge numa altura em que Rúben Neves e Gonçalo Paciência dão que falar, Sérgio Oliveira é o primeiro reforço para a próxima época e há outra mão cheia de miúdos que só precisam de uma oportunidade. Lembraram-se que o FC Porto tinha, e tem, uma formação que projecta grande potencial. E então surge a vinculação da afirmação de Gonçalo Paciência a um trabalho desenvolvido há anos a nível da formação. Uma boa maneira de atribuir louros aos bastidores, mas são o resultado ou a excepção?
Apesar da criação do DCAPI, uma secção no FC Porto que visava trabalhar a técnica individual dos miúdos, isto nunca foi tema de domínio público nos últimos 8 anos. O Projecto Jogador de Elite foi uma filosofia apresentado pelo Pepijn. Um teórico da bola. Mas um teórico que apesar de abusar do lirismo sabe passar da teoria à prática (e já agora, o único que apresentou um balanço do projecto, numa tese escrita pelo próprio que podem ler aqui).
Pepijn tinha duas coisas essenciais para um treinador a nível da formação: 1) os jogadores gostavam dele; 2) os jogadores tinham razões para gostar dele. Era competente e minucioso no que fazia. Apaixonado pelo treino e pelo desenvolvimento dos jogadores. Não pensava em mais nada. E foi também uma lufada de ar fresco para um primeiro fracasso. Começou por ser contratado um holandês, Chris Kronshorst, recomendado por Co Adriaanse, que quis aplicar o método Coerver. As ideias estavam lá, faltava o resto.
Os jovens da formação respondem melhor a um treinador que parece um irmão mais velho porreiro do que um avô. Pepijn tinha 24 anos quando chegou ao FC Porto, precisamente para substituir Kronshorst. E seguiu a mesma linha metódica, a de Coerver. Mas a recepção foi muito superior por parte dos miúdos, porque mais importante do que os ensinamentos é a abordagem com que queremos transmitir esses mesmos ensinamentos. Isto é precisamente algo que Pepijn diria.
Rúben Neves |
Pepijn já é passado, mas a formação do FC Porto é o futuro. E com isto chegamos à frase mais importante: «Os portistas não imaginam os talentos que estão para chegar». E lá confessa que recomendou Rúben Neves, o seu jogador favorito, ao Liverpool. Por isso, não é de admirar que Rúben Neves já faça correr tinta em Inglaterra, que André Silva tenha recebido sondagens de Inglaterra e que o FC Porto tenha sido convidado a participar na Internacional Cup... em Inglaterra, onde pode mostrar in loco os talentos da sua formação.
A formação do FC Porto vai dar muitos frutos. Oxalá não sejamos dos últimos a descobrir isso. É tempo de colheitas.
PS: Pepjin elogiou o trabalho de outros dois treinadores a nível da formação do FC Porto: Vítor Pereira e Capucho. Não se lembrou de mais ninguém ou não havia mais ninguém para lembrar?
PS2: Tendo em conta que Gonçalo Paciência já não deve sair, a convocatória de Lopetegui diz uma única coisa que no fundo todos sabiam: Gonçalo não era a alternativa a Jackson. Era a alternativa a Aboubakar. Tendo em conta que se trata do treinador que mostrou ao país aquilo que o Liverpool soube antes de muitos portistas sobre Rúben Neves (craque), merece crédito e compreensão pela forma como entende ser melhor gerir Gonçalo Paciência.
PS3: Fernando treinou mais do que uma vez com Rúben Neves o ano passado (sim, porque Paulo Fonseca chamou-o a alguns treinos, tal como Vítor Pereira chamou Gonçalo Paciência quando tinha 16 anos - mas é preciso coragem, estofo e acima de tudo condições para ir mais além), mas diz que não o conhecia. Ou estava muito esquecido quando deu a entrevista à RTP, ou isto diz muito da confraternização e união que havia no balneário há um ano. Nada acontece por acaso.
PS3: Fernando treinou mais do que uma vez com Rúben Neves o ano passado (sim, porque Paulo Fonseca chamou-o a alguns treinos, tal como Vítor Pereira chamou Gonçalo Paciência quando tinha 16 anos - mas é preciso coragem, estofo e acima de tudo condições para ir mais além), mas diz que não o conhecia. Ou estava muito esquecido quando deu a entrevista à RTP, ou isto diz muito da confraternização e união que havia no balneário há um ano. Nada acontece por acaso.