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sábado, 31 de janeiro de 2015

Cartão de visita

Nas várias análises já aqui partilhadas sobre o projecto Visão 611, os pontos positivos resumiram-se essencialmente a duas coisas: logística (a ponte escola-clube foi facilitada e a formação deixou de ser meramente futebolística) e especialização técnica com recurso à escola holandesa. A propósito deste segundo ponto, o jornal O Jogo publicou sábado um interessante trabalho, que tem como base a filosofia do holandês Pepijn Lijnders.

Podia, sei lá, ter sido publicado em 2007, ano da sua criação. Ou em 2008. Ou em 2011, quando o projecto Visão 611 foi encerrado e careceu de um balanço. Mas só agora, em 2015, é que se lembraram de partilhar isto, quatro anos após o projecto Visão 611 ter sido enterrado e já depois de Pepijn sair do FC Porto.

O timing é interessante e não é inocente. Surge numa altura em que Rúben Neves e Gonçalo Paciência dão que falar, Sérgio Oliveira é o primeiro reforço para a próxima época e há outra mão cheia de miúdos que só precisam de uma oportunidade. Lembraram-se que o FC Porto tinha, e tem, uma formação que projecta grande potencial. E então surge a vinculação da afirmação de Gonçalo Paciência a um trabalho desenvolvido há anos a nível da formação. Uma boa maneira de atribuir louros aos bastidores, mas são o resultado ou a excepção?

Apesar da criação do DCAPI, uma secção no FC Porto que visava trabalhar a técnica individual dos miúdos, isto nunca foi tema de domínio público nos últimos 8 anos. O Projecto Jogador de Elite foi uma filosofia apresentado pelo Pepijn. Um teórico da bola. Mas um teórico que apesar de abusar do lirismo sabe passar da teoria à prática (e já agora, o único que apresentou um balanço do projecto, numa tese escrita pelo próprio que podem ler aqui).

Pepijn tinha duas coisas essenciais para um treinador a nível da formação: 1) os jogadores gostavam dele; 2) os jogadores tinham razões para gostar dele. Era competente e minucioso no que fazia. Apaixonado pelo treino e pelo desenvolvimento dos jogadores. Não pensava em mais nada. E foi também uma lufada de ar fresco para um primeiro fracasso. Começou por ser contratado um holandês, Chris Kronshorst, recomendado por Co Adriaanse, que quis aplicar o método Coerver. As ideias estavam lá, faltava o resto.

Os jovens da formação respondem melhor a um treinador que parece um irmão mais velho porreiro do que um avô. Pepijn tinha 24 anos quando chegou ao FC Porto, precisamente para substituir Kronshorst. E seguiu a mesma linha metódica, a de Coerver. Mas a recepção foi muito superior por parte dos miúdos, porque mais importante do que os ensinamentos é a abordagem com que queremos transmitir esses mesmos ensinamentos. Isto é precisamente algo que Pepijn diria.

Rúben Neves
O trabalho publicado é giro e tranquiliza quem quer ver reconhecimento da formação, nem que entre pela janela, mas não responde à questão mais importante de todas: e agora que Pepijn está no Liverpool, quem trabalha a técnica individual dos jogadores no FC Porto? Quem faz o trabalho que era feito por Pepijn? Teria sido interessante responder a isso. Porque sem essa resposta, não me parece que isto seja um trabalho sobre a formação do FC Porto, mas sim sobre o currículo e os métodos de Pepijn. Um treinador competente que não precisava de cartão de visita. Este trabalho não é sobre o trabalho do FC Porto com os jogadores, é sobre o trabalho de Pepijn com os jogadores. A metodologia seguida pode ser a mesma, mas regressamos ao início: mais importante do que os ensinamentos é a abordagem com que queremos transmitir esses mesmos ensinamentos.

Pepijn já é passado, mas a formação do FC Porto é o futuro. E com isto chegamos à frase mais importante: «Os portistas não imaginam os talentos que estão para chegar». E lá confessa que recomendou Rúben Neves, o seu jogador favorito, ao Liverpool. Por isso, não é de admirar que Rúben Neves já faça correr tinta em Inglaterra, que André Silva tenha recebido sondagens de Inglaterra e que o FC Porto tenha sido convidado a participar na Internacional Cup... em Inglaterra, onde pode mostrar in loco os talentos da sua formação.

A formação do FC Porto vai dar muitos frutos. Oxalá não sejamos dos últimos a descobrir isso. É tempo de colheitas.





PS: Pepjin elogiou o trabalho de outros dois treinadores a nível da formação do FC Porto: Vítor Pereira e Capucho. Não se lembrou de mais ninguém ou não havia mais ninguém para lembrar?

PS2: Tendo em conta que Gonçalo Paciência já não deve sair, a convocatória de Lopetegui diz uma única coisa que no fundo todos sabiam: Gonçalo não era a alternativa a Jackson. Era a alternativa a Aboubakar. Tendo em conta que se trata do treinador que mostrou ao país aquilo que o Liverpool soube antes de muitos portistas sobre Rúben Neves (craque), merece crédito e compreensão pela forma como entende ser melhor gerir Gonçalo Paciência.

PS3: Fernando treinou mais do que uma vez com Rúben Neves o ano passado (sim, porque Paulo Fonseca chamou-o a alguns treinos, tal como Vítor Pereira chamou Gonçalo Paciência quando tinha 16 anos - mas é preciso coragem, estofo e acima de tudo condições para ir mais além), mas diz que não o conhecia. Ou estava muito esquecido quando deu a entrevista à RTP, ou isto diz muito da confraternização e união que havia no balneário há um ano. Nada acontece por acaso. 

15 comentários:

  1. Desconhecia completamente o trabalho do Pepjin no clube, mas nota-se a paixão com que encara todo o processo de formação de jogador e o quão minucioso é com o seu trabalho.

    De realçar que o próprio indirectamente até responde à pergunta levantada pelo TdD:
    'Futuro
    O projeto abrangido até aqui é para ser concluído este ano, por isso é importante que a visão e a missão sejam seguidos no futuro. Essa visão e essa missão estão também escritas no plano que eu fiz para a categoria de base. Ele eventualmente tornou-se cinco DVDs que contêm a minha visão e missão da utilização de jogos em espaço reduzido, com todo o conteúdo realizado pelos jogadores. Esse deve ser o guia a seguir para todos os treinadores para as próximas temporadas. Sempre foi meu objetivo deixar um legado permanente de meu treinamento, bem como um registo inspirador do talento no dia a dia.'

    Portanto, supostamente alguém agarrou e seguiu com a pasta segundo as premissas anteriores, digo eu.

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    1. Essa questão é comentada nesta parte: «A metodologia seguida pode ser a mesma, mas regressamos ao início: mais importante do que os ensinamentos é a abordagem com que queremos transmitir esses mesmos ensinamentos.»

      Tanto Kronshorst como Pepjin seguem o método de Coerver. No entanto os jogadores não gostaram do primeiro e adoraram o segundo. A mesma filosofia, diferentes treinadores, diferentes estímulos nos jogadores.

      Se a reportagem achou por bem falar sobre as raízes do PJE, com o Pepjin, então era da mais elementar importância saber quem recebe a passagem de testemunho. Talvez só daqui a 8 anos.

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  2. Não tive oportunidade de ler a reportagem, mas quem está agora a fazer esse trabalho não é o Pablo Sanz, recomendado por Lopetegui? Continuação de um excelente trabalho.

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    1. O Pablo é coordenador do futebol jovem (até aos juvenis), tal como o Luís Castro era o coordenador da formação na altura em que o Pepijn estava no DCAPI. Funções e trabalhos diferentes.

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    2. Ah certo, obrigado pelo esclarecimento.

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    3. Então quem tem o trabalho do Pepjin agora?

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    4. Nesse caso quem é agora o responsável pelo DCAPI (se é que há alguém)?

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  3. Quanto ao substituto penso ter lido ha pouco tempo que tinha vindo um treinador que trabalhou com lopetegui para a formação. Conseguem confirmar ou desmentir?

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  4. Por mais dedicados e competentes que sejam os técnicos se o Departamento Juvenil se não tivermos uma Captação e Prospecção de grande eficácia na descoberta de talento,nada feito.

    Tem de haver talento para ser trabalhado .

    E alguém teve esse Mérito ( que parece ninguém quer dar) quando se vê a quantidade e qualidade do talento:

    Gonçalo; Ivo; Tozé; Mikel; Sérgio Oliveira; Fred; André Silva; Tomás; Francisco Ramos; Rafa; Garcia; Rui Pedro; Moreto; Verdasca; Fernando; Rui Moreira; Elvis; Macedo; Leonardo; Bruno Costa; Mata;Clever; etc.

    Gonçalo;Ivo;Tozé; Mikel;

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  5. «Os portistas não imaginam os talentos que estão para chegar»


    Esperemos que sim. O nosso modelo actual é cada vez menos sustentável, e a necessidade de venda é tal que os jogadores não ficam cá mais de 3 anos. A urgência que é valorizar para cumprir orçamentos e apostar no "the next best thing" é tal que acabamos por ficar sem tempo para fazer o que tão bem fazíamos no início do modelo: manter esses jogadores até os melhores anos das suas carreiras (26, 27). E infelizmente, penso que se começarmos a lançar jovens nossos aos 20, vamos vê-los sair também aos 22/23 devido a essa mesma urgência.

    O mercado brasileiro e argentino já são possibilidades muito limitadas. O mexicano, que sempre foi caro, há de inflacionar também à medida que ficarmos conhecidos por lá. Há que aproveitar o que cá temos em vez de andar de mercado em mercado até não existirem mais e sermos obrigados a construir uma formação à pressa. Esses mercados que preencham as lacunas da nossa formação.

    Não tenho opinião formada nem conhecimento sobre o trabalho de VP na formação. Esteve nos júniores durante 1 ano, não foi?


    AA

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    1. O Vítor Pereira foi adjunto do Zé Guilherme nos juvenis, depois treinou os iniciados, saiu para o Espinho, voltou para os iniciados, saiu para o Santa Clara, depois regressa com o Villas-Boas. Mas os elogios do Pepijn não foram a propósito do trabalho que ele fez na formação, mas sim já enquanto treinador da equipa principal.

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  6. http://www.maisfutebol.iol.pt/fc-porto/benfica/lopetegui-olhamos-para-cima-bem-outros-nem-a-europa-olham

    Um mister que cada vez mais me convence. A por ellos, mister! Ou, como se diz no Norte, "até os comemos, c...".
    Força Porto!

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  7. Atenção Tribunal que me parece que está a dar mais créditos ao Lopetegui do que aqueles que ele realmente tem. Como comentei no post seguinte, se o Clasie tivesse vindo para o Porto, se calhar o Lopetegui desconhecia tanto como nós o valor do Rúben. Alguém aconselhou o Rúben ao treinador, e não foi ninguém em Liverpool. Embora, eu acredite que o Lopetegui tenha sido contratado para levar a cabo um projecto e que esse projecto passa por contratar um treinador formador que trabalhe e lance jovens. Acredito e quero acreditar que o Lopetegui para o ano já não há-de entregar uma lista de compras do estrangeiro tão extensa depois do conhecimento dos jogadores do nosso campeonato e jogadores da casa reforçado. Acho que quando ele chegou ao Porto tinha pouco conhecimento sobre jogadores a actuar em Portugal e por isso trouxe para cá tanto jogador com ele. Acho que hoje ele já sabe do real valor que tem para moldar na B e nos juniores. Quanto ao treinador Holandês, acredito que alguém tenha aprendido com ele e acredito que muitos Tugas que se vão formando e aparecendo podem aprender com os seus métodos e fazer tanto ou melhor que ele.

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  8. Ah, e quanto ao Fernando, esse o ano passado já não estava cá. Se o tivessem vendido no início da época não se tinha notado diferença nenhuma.

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