Pages

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Kelvin, do minuto 92 à saída. Uma reflexão

«Podia ser um espaço dedicado ao golo do Ademir, ao calcanhar do Madjer, ao aceno fatal do Deco em Gelsenkirchen ou ao voo do Falcao em Dublin. A história do FC Porto é rica em momentos que são eternizados com um único pontapé ou cabeceamento, mas há um que mereceu uma distinção acima de todas as outras: o golo de Kelvin, no célebre minuto 92.

O espaço K não representa apenas um momento na história do FC Porto. Representa toda a história de Kelvin no FC Porto. O menino brasileiro virou um campeonato ao contrário com um pontapé. Decisivo, sim, sobretudo por ter sido na penúltima jornada. Mas num campeonato, um ponto na primeira jornada pode ser tão decisivo como um na última para as contas finais. Em 2006-07, o FC Porto foi campeão com um ponto de vantagem. E se Bruno Moraes não tivesse derrubado o Benfica à cabeçada no último minuto?

O momento foi de Kelvin. Mas e se Liedson não tivesse feito a tabela? E se Varela, antes, não tivesse soltado para o lado esquerdo? E se João Moutinho não tivesse recuperado a bola num lançamento de linha lateral para o Benfica? Mais do que um golo de Kelvin, foi um golo do FC Porto. Mais um na sua história.

Depois de ter sido o herói em 2012-13, Kelvin ficou no plantel quase para ser peça de museu. Que sentido faria inaugurar o espaço K com um jogador emprestado ao Guimarães? Foi por isso que Kelvin ficou no plantel. E com isso queimou-se um ano em que Kelvin podia evoluir como necessita. Não foram apenas os adeptos e o jogador a ficar agarrados às memórias do minuto 92: os próprios dirigentes do FC Porto agarraram-se a isso.

A memória é eterna. Kelvin não, por isso está de saída do FC Porto, por não entrar nos planos de Lopetegui.»

Foi escrito em Junho, mas pode perfeitamente ser repetido, palavra por palavra, agora que Kelvin foi emprestado ao Palmeiras. Sai com ano e meio de atraso. Paulo Fonseca não contava com ele, Lopetegui não conta com ele. Não são adeptos do FC Porto, são treinadores e profissionais, logo não sentem qualquer tipo de nostalgia 92 ao olhar para Kelvin.

Que tem talento todos sabemos. Que isso não chega, também. Podia ter tido mais oportunidades, especialmente em 2013-14, mas os adeptos não têm acesso aos dados todos para compreender a sua situação. Como por exemplo os treinos ao longo da semana, onde muito pode acontecer. Ou muito pouco.

O golo de Kelvin ao Benfica foi o melhor que podia ter acontecido ao FC Porto e o pior que podia ter acontecido ao jogador. Em 2013-14 ficou para ser peça de museu. Esta época ficou mesmo sabendo-se desde o início que Lopetegui não contava com ele. A sua situação não foi bem gerida pelos responsáveis do FC Porto, que tinham a obrigação de procurar uma solução para fazer evoluir um jogador que custou pouco mais de 3 milhões de euros por 90% do passe (entretanto já reduzido a 75%).

Ninguém ou poucos se preocuparam com o que Kelvin ainda podia fazer no futuro. A carreira dele, aos olhos de muitos, estava feita. Fez o golo que valeu o tri. O minuto 92 vale 3 milhões de euros? Vale pois. E a partir daí o Kelvin passou a ser sempre o menino do minuto 92. Aos olhos de adeptos e dirigentes. A história estava contada e poucos se preocuparam em preencher a próxima página.

O Palmeiras é um clube que não é órfão de instabilidade e crises directivas, contratou um camião de jogadores para a próxima época e, o pior de tudo, tem um treinador de 64 anos que nunca treinou na Europa. Oswaldo de Oliveira não tem nada para ensinar a Kelvin no que ao futebol moderno diz respeito. Na vertente técnica, Kelvin é acima da média. Fisicamente, tacticamente e psicologicamente tem muito para aprender e desenvolver, e infelizmente muito dificilmente será no Palmeiras que isso vai mudar.

Atento às palavras de Lopetegui, que diz que «consideramos que foi uma boa opção». Então, se Lopetegui entendeu que emprestar Kelvin ao Palmeiras foi a melhor opção, mais preocupado fico. Kelvin precisava, e precisa, de princípios europeus. A não ser que o próprio Lopetegui não acredite que evolua no sentido de se tornar num jogador importante no FC Porto. Uma importância para além do minuto 92, vá.

Há mais um pormenor importante: o contrato. O empréstimo ao Palmeiras é até ao final de 2015 e o contrato de Kelvin acaba 6 meses depois, por isso como é natural regressa ao Brasil com contrato renovado, à imagem do que se passou com Walter. E depois? V de Volta ou aproveitar a eventual valorização no mercado brasileiro? O coração que bateu 92 vezes num segundo pede a primeira; a experiência diz que o segundo caminho está traçado.

Boa sorte, Kelvin.

PS: Quantos jogadores emprestados a clubes brasileiros regressaram ao FC Porto para ser primeira opção? Não é retórica, é mesmo uma questão.

9 comentários:

  1. Totalmente de acordo. É um diamante semi-lapidado. Com um lado de grande talento e maturidade que é o lado técnico e o outro em bruto, por evoluir, que é o lado táctico. À imagem de muitos jogadores (sobretudo brasileiros) que já passaram pelo FC Porto, brilhar no campeonato brasileiro não chega, é fundamental o aspecto táctico, e o Kelvin não o tem. É fraco a defender e a ocupar os espaços, falta-lhe também um pouco de ginásio para ganhar um pouco mais de massa muscular.

    Infelizmente nao vai ganhar nada no Palmeiras, pelo contrário, acho que vai perder muitas das coisas que aprendeu no FC Porto, vai voltar a um futebol lento e muito técnico que de táctica tem muito pouco, vai voltar aos hábitos antigos e será mais um ano a andar para trás na carreira e a idade a aumentar... Pergunto-me se não haveria na Europa nenhum clube interessado em contar com o Kelvin, nem que fosse no campeonato romeno...

    Parece-me um desperdício de talento "queimar" assim este jogador, é uma pena...


    Pedro Dionísio

    ResponderEliminar
  2. Boa noite; tal como qualquer portista vibrei no minuto 92 mas sejamos claros e sinceros será que o kelvin merecia a aposta?todos sabemos que os jogadores brasileiros só querem farra e muito raramente é que surgem pepes ; danilos ; fernandos ; heltons ; Hulks ; e muito menos Decos. Aproveito para agradecer ao miúdo pelo lindo golo e desejar-lhe boa sorte na carreira.Mas espero que o nosso Porto aposte em miúdos que mereçam e sintam a camisola como o miudo Ivo;o G.paciência ; o A. Silva etc.
    E como já disse o Mourinho " em condições normais somos os melhores e em condições anormais somos os melhores na mesma".Somos porto.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. lembro-me destas palavras do Mourinho...e digo mais, em condições normais seremos campeões e em condições anormais também seremos campeões. saudações de Moçambique

      Eliminar
  3. Em relação à questão final, penso que a resposta é 0 (zero).

    ResponderEliminar
  4. Penso que o minuto 92 é algo que ficará na nossa memória (e dos benfiquistas) por um conjunto vasto de razões que transcendem o jogador A ou B.

    Foi contra o Benfica. Tirou o título ao Benfica, título esse que os seus adeptos festejavam há MESES com a sua bem reconhecida arrogância. Não houve um único portista que tenha ficado quieto com aquele momento de "justiça divina".

    Aliás, posso partilhar aqui algo muito pessoal: estava internado no hospital (com um cachecol do Porto por cima da TV para gozo dos enfermeiros encarnadados) e saltei literalmente da cama naquele minuto 92. Fiquei todo a tremer, dormi mal nessa noite, no dia seguinte ainda estava meio coiso, mas porra, somos Porto e somos campeões!!!

    Por isso não me choca que o minuto 92 tenha espaço no museu, quanto mais não seja, é uma bicada nos nossos maiores rivais de sempre e do conjunto de adeptos mais arrogantes que o mundo já conhecera.

    Se Kelvin, o jogador K, merecia esse destaque todo... não sei. Por um lado, nunca fez dois bons jogos seguidos. Por outro e em abono da verdade, é preciso dizer que o Kelvin não foi precioso para esse título apenas no minuto 92. Umas semanas antes, contra o Braga, estava 1-1, o menino entrou, marcou dois golos de rajada e garantimos uma vitória fundamental graças a ele. Sem a vitória ao Braga havia minuto 92? Havia título?

    Não me esqueço desse jogo contra o Braga, nunca me vou esquecer do minuto 92 e o Kelvin estará sempre algures na minha memória. Resta saber se me vou lembrar de mais momentos de ouro dele, ou se vai desaparecer no Brasil como desapareceu o nosso grande Carlos Alberto. É pena...

    ResponderEliminar
  5. O Kelvin tem características parra o futebol brasileiro....

    ResponderEliminar
  6. Renovaram o Kelvin antes de ser emprestado.

    ResponderEliminar

De e para portistas, O Tribunal do Dragão é um espaço de opinião, defesa, crítica e análise ao FC Porto.