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terça-feira, 31 de março de 2015

No te calles nunca, Lopetegui

O rescaldo que iria ser feito à boa entrevista de Julen Lopetegui ao Porto Canal (em boa hora, pois notem que o treinador bicampeão Vítor Pereira saiu do FC Porto sem dar uma única entrevista - e este tipo de conversas são essenciais para criar a empatia treinador-adepto e explicar várias questões) tem forçosamente que mudar de ângulo de abordagem. Isto depois das inacreditáveis declarações de José Fontelas Gomes, que com as afirmações que presta hoje acaba de mostrar que não tem o mínimo de competência para presidir à APAF.

Lopetegui e as arbitragens, as arbitragens e Lopetegui. Criou-se a ideia que o treinador do FC Porto fala muito sobre os árbitros. E Lopetegui deu na entrevista ao Porto Canal uma categórica resposta a isso mesmo. Lopetegui não ataca arbitragens; limita-se a responder a questões que lhe colocam.

Isto é atacar os árbitros
Reparem: em todas as conferências de imprensa, aparecem jornalistas (a maioria de títulos lisboetas) a perguntar pelas arbitragens. Querem saber se o treinador do FC Porto acha que tem sido prejudicado e se o Benfica tem tido mais sorte com as arbitragens. Ele diz o que qualquer crítico que não um assumido benfiquista concorda: sim, o Benfica tem sido mais feliz nas arbitragens. Prova disso é que é o único clube do campeonato que não perdeu um único ponto com erros de arbitragem.

Ora agora uma perguntinha aos iluminados: porque é que nunca perguntaram a Jorge Jesus se ele acha que o Benfica tem sido mais prejudicado e o FC Porto beneficiado? Nem A Bola, nem sequer o CM fizeram esta pergunta ao treinador do Benfica. Contrariamente, já a fizeram diversas vezes a Lopetegui. E porquê? Porque todos sabem como este campeão tem sido forjado e sabem que o Benfica tem sido beneficiado - com ou sem intenção, a balança tomba para o lado encarnado. Como não querem admitir isso, «puxam» por Lopetegui para lhe meter palavras na boca.

Mas há uma verdade incontornável: Lopetegui nunca disse que um árbitro quis prejudicar o FC Porto, nem disse que quis beneficiar o Benfica. Não fez o que fez João Gabriel, que acusou numa entrevista os árbitros de incompetência e de fazerem do FC Porto campeão (onde estava a APAF quando estas declarações foram feitas?). Ah, veio o Gustavo Sousa dizer que estavam a «analisar as declarações». Punições? Nada. Limitaram-se a «analisá-las». Já sobre Lopetegui, que não fez nenhuma acusação, a APAF diz que tem que ter «pena pesada». Sr. José Fontelas Gomes, nem que bata à porta de todas as farmácias, encontre lá um bocadinho de vergonha.

Lopetegui sempre se apoiou em factos. Muitas vezes até de forma algo falaciosa (o número de expulsões a favorecer o Benfica não interessa, o que interessa é se foram bem ou mal aplicadas), mas a verdade é que nunca deixou o campo dos factos. De resto, falou em «sorte e azar» com as arbitragens. Nunca fez uma declaração a atacar os árbitros por iniciativa própria. Ao contrário, por exemplo, do que Jorge Jesus de forma hilariante fez com Luisão, um jogador bem expulso no último jogo do Benfica, como toda a gente viu. Aquilo que Lopetegui faz, e sempre fez, foi responder a perguntas que lhe colocam. Se lhe colocam estas perguntas, por alguma razão há-de ser.

Lopetegui diz que os árbitros não podem decidir campeonatos. Claro que não podem. Mas o sr. João Gabriel acha que sim, pois acusou os árbitros de fazerem do FC Porto campeão. E reparem que Lopetegui diz que não acredita que os árbitros tenham alguma vez prejudicado o FC Porto ou beneficiado o Benfica com intenção. Nunca disse isso, ao contrário do sr. João Gabriel ou do sr. Rui Gomes da Silva, só para citar as duas personagens que mais gostam de falar no universo encarnado.

Julen Lopetegui tem sido justo, coerente e cordial desde o primeiro dia. Quer mais competência das arbitragens, como querem todos os adeptos do futebol português - todos menos uma boa dose de benfiquistas, que este ano estão satisfeitos. Lopetegui nunca condenou um árbitro publicamente. Nunca disse «este árbitro quis prejudicar-nos». Nunca disse «se o Benfica for campeão será um tributo dos árbitros».

Esta reação da APAF é um novo ataque ao treinador do FC Porto, que tem sido alvo semanalmente. E mais uma vez, é Julen Lopetegui quem vem a público defender o FC Porto, apelar à verdade de uma competição comprometida com a Liga Aliança (a APAF não tem nada a dizer sobre isto? É que dizem que dá para alternar campeonatos numa competição que é arbitrada pelos vossos...) e desejar que todos os agentes do futebol português sejam competentes.

Se Lopetegui trabalha todos os dias para ser um treinador mais competente e fazer do FC Porto uma melhor equipa, tem o direito de o exigir a todos os agentes. Mais: em maio de 2012, Jorge Jesus disse que «se não fossem as arbitragens, o Benfica teria sido campeão». Não se apoiou em números factuais, como Lopetegui o faz. Aliás, mesmo no que toca às expulsões, Lopetegui nunca disse que o Benfica beneficiou de expulsões erradas. Só se limitou a dizer que jogam mais vezes em superioridade numérica do que os outros. É verdade.

O FC Porto tem o direito e o dever de reagir oficialmente a mais um ataque ao seu treinador. Lopetegui tem defendido esta casa desde o primeiro dia. Reparem na diferença entre a entrevista de Lopetegui ao Porto Canal e as duas últimas entrevistas do próprio presidente, que foram quase dedicadas a atacar Fernando Gomes (foi na entrevista de Janeiro, a acusá-lo de matar a liga, foi no editorial da Dragões, volta a ser na entrevista dos 33 anos da sua obra - quantas mais vezes vamos continuar nisto?). 

Lopetegui tem-se fartado de defender o FC Porto. É hora do FC Porto também defender Lopetegui.

segunda-feira, 30 de março de 2015

Tudo aquilo que João Moutinho é

João Moutinho é...
... um jogador apreciado, admirado e adorado por todos os adeptos do FC Porto que já tiveram o prazer de o ver suar a camisola.

João Moutinho é...
... um jogador que só precisou de uma época de FC Porto para fazer o que Sporting e Benfica não fazem há mais de 50 anos: conquistar uma competição europeia.

João Moutinho é...
... um jogador que só precisou de um ano de FC Porto para fazer o que o Sporting não faz desde a abertura da muito aclamada Academia: ser campeão nacional.

João Moutinho é...
... um jogador que em três anos ganhou tantos títulos de campeão nacional como o Sporting nos últimos 34 anos e o Benfica nos últimos 20.

João Moutinho é...
... um jogador que já foi o triplo das vezes aos 1/8 da Liga dos Campeões do que o clube que o formou; e o clube que o formou nunca foi aos 1/8 da Liga dos Campeões sem João Moutinho.

João Moutinho é...
... um jogador que já foi aos 1/8 da Champions o triplo das vezes em relação ao auto-proclamado mestre da táctica.

João Moutinho é...
... um jogador que já foi aos 1/8 da Liga dos Campeões tantas vezes como o Benfica na sua carreira.

João Moutinho é...
... um tricampeão nacional, coisa que o Benfica não o é desde 1977 e que o Sporting só o foi na década de 50.

João Moutinho é...
... o médio português mais caro da história do futebol nacional.

João Moutinho é...
... um Dragão de Ouro que já era reconhecido como jogador à Porto quando ainda jogava no Sporting.

João Moutinho é...
... um jogador com direito a estátua no Museu do FC Porto, onde só há lugar para ilustres profissionais que marcaram a nossa história e fazem parte dela com todo o reconhecimento.

João Moutinho é...
... um jogador que não manteve a preferência clubística da sua infância. Daí que se entenda a mágoa que alguns sentem.

João Moutinho é... portista. Não por herança, mas por convicção, amor, dedicação e gratidão.


sábado, 28 de março de 2015

A incubadora que todos querem

Pausa para as Selecções, buraco para preencher com especulações e antevisões sobre o mercado. Dois nomes lançados, Lucas Lima e Lucas Silva, exactamente pelos mesmos motivos. Não por manifestas pretensões do FC Porto, mas sim pelo desejo de terceiras partes em aproveitar aquilo em que o FC Porto se distingue: desenvolver jogadores.

Casemiro, parte II
Os clubes habituaram-se a comprar qualidade no FC Porto. Mas conforme já aqui foi explicado, com as restrições do fair-play financeiro vai tornar-se cada vez mais difícil, até para os clubes mais poderosos financeiramente, chegar e bater propostas acima dos 30M€ num clube português. Mas o que é que Atlético, Barcelona e Real Madrid descobriram esta época? Que há outra forma que aproveitar o quanto o FC Porto valoriza jogadores: colocando-os cá a rodar.

A evolução com Casemiro é notória. Por isso é normal que o Real Madrid queira fazer o mesmo com Lucas Silva. Daí a ser um jogador cobiçado por Lopetegui (que já pediu Sérgio Oliveira para a posição 6) e que o FC Porto tenha condições para receber e manter, vai uma grande distância. 

Os empréstimos não são problema desde que se obedeça a um plano lógico e coerente. Não é coincidência nenhuma que só Óliver Torres tenha começado cedo a render desde o início da época: era o único que já conhecia Lopetegui. Campaña chegou tarde, Casemiro e Tello demoraram muito até começarem a render a bom nível. Por isso, o FC Porto só pode ter jogadores emprestados assumindo um plano de continuidade do treinador. 

Podem chegar emprestados se forem peças para encaixar na equipa. Se chegam jogadores não para reforçar uma equipa, mas sim para ajudar a formar uma equipa, não funciona. Na segunda época com Lopetegui, o FC Porto já terá uma base definida. E a partir daí não devem chegar peças para fazer um puzzle, mas sim para encaixar e reforçar alguns sectores. 

(Des)vantagens
Já aqui foi desmistificado que os empréstimos são um problema. Problema são os camiões de jogadores que chegam com contratos de 4 anos e que ao fim do primeiro ano já são para despachar. O FC Porto raramente tem mais do que 5/6 jogadores no plantel candidatos às tais vendas milionárias que permitem à SAD continuar a operar num patamar financeiro superior. Antes de pensar em empréstimos para 2015-16, é preciso definir se o FC Porto terá esse punhado de jogadores para valorizar em 2015-16.

Depois, há o problema dos vencimentos. Não, Tello não ganha 240 mil euros por mês, e bastava o Record informar-se minimamente sobre como funciona o Barcelona para não escrever essa asneira. No Barça os contratos são atribuídos em função de cinco escalões. Tello, quando renovou até 2018, não era titular no Barcelona, logo assinou um contrato de Categoria Base, colocando-o a par de jogadores como Bartra, Montoya ou Rafinha quanto aos vencimentos, na casa dos 3M€ brutos por ano. 

Mas o FC Porto está a investir mensalmente em jogadores que não vão dar retorno financeiro. Podem dar desportivamente, mas assim terá que haver outros jogadores, que o FC Porto controle a 100% na SAD, que o possam fazer (este ano, por exemplo, Danilo e Jackson resolveram esse problema; e no próximo?). Além disso, os empréstimos não deixam de ser despesas (Casemiro, por exemplo, vai custar 600 mil euros no segundo semestre e Cristian Tello 1,5M€). O FC Porto vai ter que reduzir drasticamente os custos com pessoal na próxima época, e a SAD sabe disso, logo não há espaço para grandes aventuras. Quem chegar por empréstimo, que seja para encaixar na máquina de Lopetegui. A época de adaptação e reestruturação é/era esta.

Assim, não
Mas não só o Real Madrid sabe que o FC Porto valoriza jogadores como ninguém. Fundos como a Doyen Sports, que ganhou o jackpot com Mangala e viu o FC Porto valorizar Brahimi em flecha, terão todo o interesse em continuar a recorrer a esta barriga de aluguer. Daí a usar o FC Porto como cartão de visita com números absolutamente pornográficos, fica-se pela tentativa. Uma avaliação de 13M€ por um jogador que não é internacional, não tem percurso nas camadas jovens e que tem um ano de primeira liga brasileira não merece mais do que assinalar a boa disposição. Não estamos em tempo de mais excepções.

Com o anunciado fim da partilha de passes, já a partir de Maio, fundos como a Doyen não poderão voltar a ter percentagens de passes. Logo ou passam a operar como instituições financeiras, com financiamento e direito a percentagens de futuras vendas, ou inventam novos Rentistas que mantenham a totalidade dos passes dos jogadores e depois vendam. O FC Porto jamais poderá ser uma barriga de aluguer nesse sentido. Por isso urge perceber onde começa a parceria, como foi com Brahimi, e onde começa a rentistização. Nem por metade poderíamos ou deveríamos aceitar Lucas Lima. Sobretudo porque já não poderá haver o modelo Brahimi (isto é, o FC Porto ficar com uma percentagem do passe e ficar com opção de comprar mais posteriormente). Agora a Doyen e demais fundos vão querer livrar-se de toda a percentagem e vender directamente tudo. Isto o FC Porto não pode aceitar. Se nem com Lucho González, Lisandro López ou Brahimi o fez, não será com Lucas que isso pode acontecer. No dia em que o FC Porto tiver capacidade para comprar 100% do passe a um fundo, então deixa de precisar dos fundos e pode voltar a negociar apenas com clubes.

Vai sendo tempo de deixar de lamentar o problema (o fim da partilha de passes) e começar a pensar em alternativas. Sobretudo quando já nem jogadores do mercado nacional, que custam pouco acima de meio milhão, estão livres de chegar ao FC Porto sem antes alguém meter a mão...

sexta-feira, 27 de março de 2015

Profissão: intermediário de jogadores

És menor de idade? Não tens formação ou qualificação em nenhuma área? Já tens cadastro criminal? Nada temas, rapaz. O dia 1 de Abril de 2015 será um bom dia para ti, pois é o dia em que nada disto te impedirá de passares a ter uma profissão que te dá milhares de euros num curto de espaço de tempo, com pouco ou nenhum trabalho: intermediário de jogadores.

Um presentinho
Vai abrir-se uma nova era: acabaram os agentes de jogadores. A partir de 1 de Abril, a FIFA passa a reconhecer nos estatutos os «intermediários de jogadores». Quer isto dizer que a partir de agora qualquer pessoa pode participar em transferências de jogadores. Não é preciso licença, exame, garantia bancária ou registo criminal. Nada. Basta aparecer no dia em que o contrato do jogador é assinado, depositá-lo na Federação com a assinatura do representante intermediário, e está feito. Não precisamos de voltar a ver o jogador na vida - e nem é preciso tê-lo visto antes.

Em Portugal, oficialmente há cerca de 70 empresários de jogadores. Têm licença, fizeram exames, têm carteiras de jogadores. Mas a FIFA notou que havia um grande problema: grande parte das pessoas que participavam nas transferências de jogadores eram sujeitos «comuns», sem licenças. Segundo a Associação Europeia de Clubes, no espaço de 4 anos só 5,5% de agentes licenciados participaram em transferências em clubes europeus. A uma escala global, cerca de 25 a 30%. Por isso é que se consultarem esta lista, que é a lista oficial dos empresários licenciados na FPF, vão notar que falta aqui muita gente de quem certamente já ouviram falar.

Então a FIFA entendeu que o sistema de licenciamento de empresários não funcionava. Então em vez reformar ou mudar de sistema... acabou com o licenciamento. A partir de 1 de Abril, deixa de haver empresários licenciados. Qualquer pessoa pode participar numa intermediação de uma transferência. A FIFA reconhecia cerca de 6000 empresários licenciados. Agora estes números multiplicam-se incalculavelmente.

Fácil, barato, dá milhões
Porque é que isto é grave? Por mais sanguessugas ou mal-intencionados que alguns empresários possam ser, muitos deles acompanhavam a carreira de jogadores desde pequenos. Os empresários (alguns) são mais do que homens de negócios, são também olheiros, tutores e conselheiros. Muitos deles acompanham miúdos que «tiram» de famílias humildes até chegarem a grandes carreiras. A partir de agora, não é necessário fazer acompanhamento nenhum (já não o era, mas agora este fenómeno tem tudo para se propagar), nem ter carteira de jogadores, nem sequer conhecer o jogador. Basta aparecer, rubricar e receber o cheque. Vai haver cada vez mais gente simplesmente interessada em receber a sua comissão do que em acompanhar o crescimento do jogador.

Esta é a parte (muito) má. Há outra que tem tudo para ser uma (muito) boa notícia para os clubes: os novos limites aplicados às intermediações/comissões. O Regulamento de Intermediários de Jogadores que entra em vigor diz que qualquer pessoa singular ou colectiva (também esta uma nova alteração) só pode receber 3% do valor da transferência numa comissão ou 3% do valor total dos salários brutos que o jogador tenha a receber. E uma notícia ainda melhor: os intermediários não podem receber dinheiro com contratos com menores de idade (vai estar tudo a bombar com Europe no MP3 até chegar ao 18º aniversário. It's the final countdown, turururu).

A percentagem que pode mudar
tudo para melhor
São excelentes notícias, mas infelizmente a FIFA não dá cerejas vermelhinhas sem caroços podres. A FIFA abriu as portas do negócio do futebol a qualquer sujeito, dos mais variados (des)interesses. A boa notícia é que, apesar de qualquer um poder entrar, só tem direito a sair com 3% no bolso. Tendo em conta que as intermediações médias nas Ligas Europeias são de 14,5% (mais conservador do que possa parecer), é uma medida que vai disciplinar os clubes, reduzir os custos forçosamente. Porque aumentar os custos das transferências e os contratos dos jogadores só para a proporção dos 3% subir dava uma trabalheira nada sustentável.

O problema está na ambiguidade dos 3%, pois os regulamentos da FIFA não são esclarecedores e cada Federação terá margem para uma flexibilidade na sua gestão. Por exemplo, na Federação Inglesa já vemos que todos os interessados em ser intermediários vão ter que ter atestados de boa reputação, testes de carácter, documentação completa e vão ter que pagar taxas. Ora e em Portugal? Que esperar da Federação Portuguesa de Futebol, cujo presidente acabou de ser o mais votado para o Comité Executivo da UEFA? Nada. Nem uma palavra. Teve que ir Artur Fernandes, da ANAF, para a RTP para se ouvir alguma coisa.

Há ainda os conflitos de interesse. Aliás, não há. Acumular um cargo com o papel de intermediário que gere um conflito de interesse passa a ser admissível, desde que a terceira parte assim o aceite. Ou seja, os empresários (seja em título ou actividade) podem ter interesses em transferências que envolvam terceiras partes e que os beneficie, a eles ou a outrem, desde que estejam todos de acordo. Luz verde para empresários que colaborem com fundos que têm percentagens de passes de jogadores que representem (aqui o semáforo ainda pode fechar).

Apesar desta ambiguidade nos 3%, para terminar há outra óptima notícia: segundo o regulamento as Federações vão passar a estar obrigadas, anualmente, a publicar o nome de todos os intermediários registados, a que jogadores estiveram associados e as quantias. É um excelente passo para a credibilidade e transparência nas transferências de jogadores à escala mundial. Tão bom que se recomenda uma série de alongamentos. Não vá haver cãibras antes do passo ser dado.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Impressões gerais dos novos estatutos

Noite de Assembleia Geral, destinada à alteração dos estatutos do FC Porto. Que alterações? Através de uma tripinha do jornal O Jogo tivemos acesso à informação dos pontos em «discussão». A divulgação feita pelo FC Porto às Assembleias Gerais continua a ser manifestamente curta. Foi anunciada no site do clube, mas porque não publicitá-la nas redes sociais? E porque não criar uma newsletter que fosse encaminhada para todos os associados? Tão simples, tão útil. Seria interessante que estas alterações pudessem ter sido debatidas antes da Assembleia Geral, à qual a esmagadora maioria dos associados não comparece/não pode comparecer, de forma calma e ponderada, sem a agitação típica que possa causar constrangimentos e que iniba quem lá esteja com as melhores intenções clístenianas. Dictum et factum, mas se até a Platão desagradou.

Uma das novidades é a passagem dos mandatos para quatro anos. Nos anteriores estatutos, estavam previstos 3+1 (triénio normal, mais a possibilidade de exercer um ano complementar se a direcção assim o entender e se não houver novas listas). Uma alteração que não provoca grande diferença, sobretudo pela realidade que o clube viverá no pós-Pinto da Costa.

Pinto da Costa é o único presidente do futebol mundial que não precisa de programa eleitoral. É reeleito sistematicamente pelo seu currículo, pela sua obra. Assume algumas apostas, como é exemplo mais recente o Museu e o Porto Canal, mas os objectivos e modelo do FC Porto já estão tão enraizados (valorizar jogadores, conquistar títulos, subsistir por uma mão para bater com a outra, repetir) que Pinto da Costa nem precisa de programas eleitorais. Ora isso vai mudar.

Se as coisas estão a correr mal, culpa-se o treinador, os jogadores, o árbitro, e por aí fora. Só por último se culpa o presidente (e é preciso muito para chegar aqui). Quando Pinto da Costa sair, vai nascer no FC Porto uma coisa que quase não existiu nos últimos 30 anos: oposição. No pós-Pinto da Costa, se as coisas correrem mal, não há-de faltar quem questione o novo presidente. Por isso, o aumento de três para quatro anos pouco muda, porque o sucessor estará sob máxima pressão a partir do primeiro ano. Ninguém ousa questionar a obra de Pinto da Costa. Quando sair, o FC Porto vai ganhar facções críticas como nunca antes visto.

Outro dos destaques passa a ser a necessidade de maior tempo de filiação para exercer diretos de associado e cargos no FC Porto. Doravante, é preciso ter 12 meses enquanto associado para votar, enquanto até aqui eram necessários apenas 3. Para integrar os órgãos sociais, passam a ser necessários 5 anos, em vez de apenas um. E para ser candidato à presidência do FC Porto, passa a ser necessário 10 anos de filiação ininterrupta, em vez de 5. São medidas, portanto, que não beneficiam nenhum eventual candidato à presidência do FC Porto. No máximo, poderiam é afastar alguém. Passa ainda a ser obrigatório apresentar uma lista com 300 assinaturas, e não 50, para apresentar uma candidatura aos órgãos sociais.

Um assunto que causou celeuma durante a tarde era a possibilidade de grupos organizados (claques) passarem a usufruir de quotas mais baixas em relação aos outros sócios - e com isso a eventualidade dos grupos associados ao mesmo sentido de voto crescerem rapidamente e influenciarem futuras eleições. No artigo 27 dos novos estatutos passa a constar: 


Ou seja, pertencer a grupos organizados faculta a facilidade de ser associado do FC Porto, quando o mais «normal» seria o contrário. Afinal, primeiro somos adeptos do clube, não da claque. Mas que haja a possibilidade de criar uma vantagem, é admissível. Afinal são as claques que viajam quilómetros para o todo o lado, para acompanhar a equipa ao frio e à chuva, e que impedem que o Estádio do Dragão quase pareça um cinema, onde se fica sentado a comer pipoquinhas e no final logo se decide se é para aplaudir ou assobiar. Quem mais grita e puxa pela equipa merece ser reconhecido, resta saber a que valor (a quota é fixada pela AG, mas partindo de proposta da direcção). Para os adeptos que não pertençam a claques, também há hipóteses de serem premiados: os aposentados com 30 anos de filiação podem ficar isentos de quotas. Mas nos anteriores estatutos esta possibilidade existia a partir de 25 anos de associado. De destacar ainda que passam a existir 5 classes de associado, menos 3 do que anteriormente 

Na questão das quotas, há a relevante notícia de defender futuras eleições. Nos estatutos anteriores, era possível um camião de pessoas tornar-se associado do FC Porto e passado 3 meses já poderia votar. Com estas alterações, passa a ser necessário 12 meses. Além disso, nada leva a crer que a quota para membros de grupos organizados seja de 25% do valor habitual. Por isso, a questão de surgirem novos associados com as mesmas intenções de voto é falsa, pois estes novos estatutos combatem essa possibilidade mais do que os anteriores. Na relação tempo de filiação vs. quota especial, a quota não se tornará um atalho nesse sentido. Uma vez mais, não é por estas alterações que algum nome surge lançado - ou para usar a expressão do presidente, «encaminhado».

Por fim a questão dos equipamentos. Eis a alteração dos anteriores para os actuais estatutos.


Nota: o artigo 8 especifica que as «cores tradicionais» são o azul e branco
PS: Texto aberto a reparos/opiniões adicionais, até pela hora tardia em que acaba de ser escrito. Posteriormente o tema poderá ser aprofundado mais amplamente.

PS1: De louvar a decisão de ver o malogrado Sardoeira Pinto dar nome ao auditório do Museu. E terminamos como ele: VIVA O FUTEBOL CLUBE DO PORTO!

quarta-feira, 25 de março de 2015

Cem por cento no rumo certo

Os balanços fazem-se no fim. Mas é sempre possível e pertinente avaliar o caminho já percorrido. A amostra de Julen Lopetegui ainda não é muita (apenas 41 jogos), mas para já o seu trabalho assenta em três méritos: restauração de um balneário despedaçado na época anterior, valorização e evolução de activos e apuramento para os quartos-de-final da Champions. Tudo isto com uma percentagem de vitórias de 70,73%. Que diz esta percentagem? Melhor só técnicos que conquistaram títulos importantes no FC Porto.

Excepção aos treinadores interinos (Artur Baeta, Rui Barros e Alfredo Murça), a Adolphe Cassaigne (nos tempos do futebol distrital, mas vencedor do primeiro Campeonato de Portugal, em 1922) e a Dorival Yustrich (o primeiro brasileiro a treinar o FC Porto e que pôs fim a um jejum de 16 anos sem títulos, logo com uma dobradinha), só quatro treinadores tiveram uma percentagem de vitórias superior à que Lopetegui tem actualmente. Três venceram competições europeias (Artur Jorge, Mourinho e Villas-Boas), o restante fez parte do ciclo do penta (Oliveira).

Treinadores com maior percentagem de vitórias - zerozero.pt
Lopetegui tem uma percentagem de vitórias superior à de Vítor Pereira, Sir Bobby Robson (68,75%), Ivic (67,9%) Jesualdo Ferreira (67,2%), Pedroto (66,56%) ou Co Adriaanse (64,44%). Para a história não fica a percentagem de vitórias, ficam os títulos. Mas depois do annus horribilis que foi a temporada passada, era essencial retomar a rota dos títulos, coisa já alcançada com Julen Lopetegui.

Não tem, opinião, a melhor equipa dos últimos 30 anos. Nem sequer tem a melhor equipa dos últimos 5 anos (Otamendi, Álvaro Pereira, Fernando, Moutinho, James, Hulk, Falcao, heróis de Dublin), mas tem o plantel mais caro. Mas se o que está em causa é a vertente financeira, então Lopetegui já cumpriu a sua parte, ao proporcionar o maior encaixe de sempre na UEFA (ler aqui) e valorizar jogadores que estão na porta de vendas milionárias, essenciais para o FC Porto esta época.

Evolução
Foram delegadas responsabilidades, directa ou indirectamente, a Lopetegui que iam além das típicas funções de treinador de FC Porto. É quase um manager, com a limitação óbvia da SAD ter sempre a última palavra. Mas que Lopetegui luta para ouvir as palavras que quer, que ninguém duvide disso. O prestígio europeu foi restaurado e vamos, orgulhosamente, disputar os 1/4 da Champions, contra a melhor equipa da Europa. A formação voltou a ter um rumo e os mais talentosos voltam a acreditar que podem chegar à equipa principal pelo factor que deveria ser o único a ter em conta: a qualidade. E estamos na luta pelo título de campeão nacional, contra um Benfica que é forte, e quando fraquejou teve aonde ir buscar forças e quem lhas desse.

O último jogo não foi de melhor memória, mas voltámos a ver o FC Porto ser competente e praticar bom futebol. Da lista de treinadores acima apresentada, Lopetegui tem a melhor média de golos sofridos (e já aqui foi referido, o FC Porto tem a melhor defesa da Europa do futebol) e o FC Porto versão 2014-15 tem melhor ataque do que a média com Mourinho, Artur Jorge ou Vítor Pereira. 

A amostra claro que ainda é pequena (estamos a comparar 41 jogos com treinadores que fizeram mais do dobro), mas trata-se de um treinador novo, que desconhecia o futebol português, um plantel renovado e rejuvenescido, o ano que se segue a uma temporada má a todos os níveis e um campeonato ferido de credibilidade - e agora vemos Luís Filipe Vieira, o protagonista da Liga Aliança que continua por esclarecer, a elogiar a credibilidade do futebol português, a propósito da eleição do amigo Fernando Gomes para o Comité Executivo da UEFA. Duas das mais influentes personagens do futebol português, mas ninguém se preocupou em vir a público desmentir ou tentar apurar a veracidade da Liga Aliança, e agora ainda decidem rejubilar com a suposta credibilidade do futebol nacional. Porque será? Talvez do Guaraná.

Como curiosidade. Nos últimos 40 anos, nenhum treinador do Benfica chegou à percentagem de vitórias de Lopetegui. No Sporting, idem. Lopetegui ainda está distante das metas que tem que atingir no FC Porto. Mas o caminho precorrido até agora valeu bem a pena. Bem mais que 70,73%.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Ao sprint ganhamos nós!

O debate do copo meio cheio/meio vazio ainda dura. E vai variando conforme o optimismo/pessimismo de cada adepto. Como foi dito aqui, nenhuma equipa passa de bestial a besta, mas é perfeitamente admissível e normal passar de bons jogos a um mau jogo. O Bayern Munique que o diga, por exemplo. Mas não podemos ser incoerentes.

Época 2012-13
Não podemos aceitar que o empate contra o Nacional foi bom. Não foi. Semana após semana, Lopetegui e os jogadores seguiram sempre o mesmo discurso: «Temos que ganhar os nossos jogos e fazer o nosso trabalho». O nosso trabalho não foi feito. Depois de 7 vitórias consecutivas, sempre sem sofrer golos, é normal sofrer um deslize, sobretudo num estádio onde é sempre difícil jogar. Mas não queiram fazer deste empate algo de bom, porque a missão carpe omnium não foi cumprida. Era difícil fazer o pleno de pontos desde a derrota com o Marítimo, mas a quebra numa série de vitórias nunca pode ser vista como algo de bom.

No máximo, aceita-se que tenha sido um jogo negativo... numa jornada positiva. Sim, o FC Porto saiu da 26ª jornada com menos um ponto de atraso e a depender matematicamente de si próprio. Mas depois há a análise que fazemos do calendário que resta. Havia quem depositasse grandes esperanças no Braga. Eu não, depositava no Rio Ave, treinado por um dos três melhores treinadores portugueses da liga, uma equipa organizada, com qualidade, preparada e que luta como poucas.

Prova disso é que ninguém falou de uma derrota injusta do Benfica. Foi uma vitória justa do Rio Ave. Ora olhando para as 8 jornadas que faltam, exceptuando o clássico, não vejo nenhuma equipa com condições para tirar pontos ao Benfica como o Rio Ave o fez. É possível que percam pontos? Claramente. Mas aí não vamos ter que esperar apenas por um dia bom do adversário, teremos também que esperar por um dia mau do Benfica. São poucas as equipas que têm capacidade de ganhar a um grande depois de perder dois jogadores (e logo os melhores) por lesão na primeira parte. Mas também não fiquem à espera que todos os adversários contem com um penalty e uma expulsão para ganharem ao Benfica. O Rio Ave teve mérito, mas com uma injeção de sorte, que bem fez por merecer.

Época 2010-11
O Benfica vai disputar 5 jogos na Luz, mais um em Belém, um Barcelos e outro em Guimarães. Ao FC Porto, o que resta fazer é não facilitar, a todo o custo, nas 3 jornadas antes de ir à Luz. Três jornadas, 9 pontos, e de preferência tentar melhorar a diferença de golos (todo o cuidado é pouco). Na Luz, logo veremos qual a abordagem que Lopetegui considerará mais adequada. Não vale a pena estarmos a pensar já que temos que ganhar por 3 quando ainda faltam 3 jornadas até lá.

Dito isto. Jorge Jesus disse em Janeiro: «Somos sempre melhores na segunda volta». Ora o Benfica perdeu 5 pontos na primeira volta e na segunda já lá vão 8. Já não está a correr como ele esperava. Numa altura em que ainda levavam 4 pontos de vantagem na liderança, viu-se adeptos a apertar o treinador, a pegarem-se com o capitão de equipa, a tresandarem a pânico. O empate na Choupana minimizou este receio. Por isso é que o empate, por si só, não pode nunca ser visto como algo positivo.

Mas o Benfica não só está a ser pior na segunda volta como tem todos os motivos para tremer: nas pontas finais, ao sprint, o FC Porto é mais forte. Vamos ver os últimos 8 jogos das últimas épocas.

Época 2007-08: três pontos perdidos já com o título garantido
Época 2008-09: dois pontos perdidos já com o título garantido
2009-10: pleno, perfeito. Mas não chegou para recuperar dos estragos no túnel
2010-11: dois pontos perdidos já com o título ganho
2011-12: dois pontos perdidos, sem prejuízo no título à 28ª jornada
2012-13: último deslize na ilha. De resto, final perfeito
2013-14: a pior época. O título já estava perdido
Excepção feita ao annus horribilis 2013-14, o FC Porto esteve sempre fortíssimo nos finais de época. Tirando a última época, em 48 jogos disputados em finais de temporada, o FC Porto só perdeu um... e tinha que ser contra uma equipa madeirense. Mas não houve prejuízo. E nos poucos empates que houve nessa recta final, nenhum tirou o título ao FC Porto. 

Ao sprint, quem manda somos nós. E nos finais de época das temporadas em análise, em 5 jogos contra o Benfica ganhámos todos. Agora o registo do rival.

2007-08: 12 pontos perdidos. Mais que o FC Porto em 6 épocas...
2008-09: 8 pontos perdidos, nova festa antecipada para o FC Porto
2009-10: o melhor fim de época do SLB. Mas perde 3-1 com o FC Porto a jogar com 10
2010-11: conseguiu perder a liga em casa, a cinco jornadas do fim. Mais 12 pontos ao ar
2011-12: foi líder. Acabou a 6 pontos do FC Porto
2012-13: perde cinco pontos, dois deles em casa antes do clássico que Kelvin decidiu
2013-14: já tinha o título ganho. Perde 5 pontos e um clássico
Nas últimas sete épocas, o Benfica só teve um final de temporada tranquilo: 2013-14, aquele em que o FC Porto mais cedo ficou afastado da luta pelo título. De resto, o FC Porto foi sempre mais forte, venceu 5 vezes o Benfica nas pontas finais, recuperou de empates que podiam ser comprometedores e a única derrota que sofreu foi já a feijões. O Benfica não lida bem com a pressão se tiver o FC Porto à perna na fase final da época.

Em modo Tello, no sprint final, somos mais fortes. Somos muito mais fortes. Não temos que fazer história. Basta repeti-la. 

domingo, 22 de março de 2015

Copo meio cheio ou meio vazio

Sempre que a Choupana está metida ao barulho é coisa para suspeitar. Há dois anos, o Benfica deixou lá dois pontos, no mesmo dia em que o FC Porto recebia o Olhanense. O FC Porto tinha a oportunidade de se isolar na liderança, mas não conseguiu ganhar em casa ao Olhanense. Nesse campeonato, o pontapé do Kelvin salvou o título. Mas desde então aquela máxima que diz que «o FC Porto não falha nos momentos decisivos» vai ficando tremida.

Ponto ganho? Dois perdidos
Marítimo, Benfica e Nacional, três jogos que nos custaram 8 pontos, por falta de eficácia, sorte e também competência, e não por factores externos. Já há um ano, é bom lembrar, foi no Estádio da Luz que perdemos a liderança, e nessa mesma época perdemos duas meias-finais contra o rival. Este ano, a Taça também se foi à primeira, contra o Sporting. É importante e urgente ir ao baú do clube descobrir a determinação que nos levava a não falhar nos momentos decisivos.

É tudo uma questão de perspectiva. A partir desta jornada o FC Porto depende matematicamente de si próprio. Quando perdeu com o Marítimo, estava em risco de ficar a 9 pontos. Mas não podemos ficar agarrados a ses anteriores. Esta era a oportunidade para ficar a um ponto da liderança. Era a jornada em que o Benfica tinha mais possibilidades de perder pontos. Depois disto, acaba por ficar mais difícil e vamos ter que pensar não só em 24 pontos como em golos, muito golos, pois não podemos confiar que um 1x0 chegue na Luz. Sabendo perfeitamente que a jogar como hoje nem esse 1x0 vai aparecer.

O Benfica vai ter 2 jogos consecutivos na Luz e 6 dos últimos 8 jogos vão ser disputados em Lisboa. Ficou mais difícil porque estávamos à espera de um deslize do Benfica, mas agora teremos que esperar por 2 ou acreditar numa reviravolta épica como na Taça de 2010-11 (não vale a pena pensar em 2-0 porque na Luz o Benfica nunca fica em branco no campeonato, logo será sempre necessário fazer 3 golos). Mas vencer o clássico por si só já seria difícil, agora tornou-se ainda mais. Um jogo para pensar e preparar depois, porque até lá faltam 3 jornadas e uma eliminatória com o Bayern, na qual o FC Porto não terá hipóteses de deixar uma boa imagem se jogar como hoje na Madeira.

Hoje há desilusão porque Lopetegui e os jogadores fizeram tudo e todos acreditar que era possível ser campeão, mesmo num campeonato sujinho. Mas para a história da 26ª jornada fica uma derrota do Benfica, com penalty e expulsão, e um jogo que o FC Porto não conseguiu ganhar por culpa própria. Fomos combatendo o que não podemos controlar, mas hoje falhámos no que estava ao nosso alcance. A luta não acabou, mas ficou mais difícil. Ficou mais difícil, mas ainda não acabou. Copo meio cheio ou meio vazio, certo é que temos que ganhar 8 finais até ao fim do Campeonato, ou morrer a lutar por cada final. Hoje nem ganhámos, nem lutámos o suficiente.





Sete golos na liga
Tello (+) - Fez mais ataques que Brahimi e Quaresma juntos, mais um bom golo e serviu de bandeja o 2-1 a Aboubakar, mas infelizmente Gottardi estava lá. Notou-se que teve dificuldades para arrancar naquele mau relvado, mas combinou várias vezes com Danilo e teve a objectividade e prontidão que Brahimi e Quaresma nunca tiveram. Não entrou bem na segunda parte, mas quem entrou?

Quaresma (+/-) - Uma vez mais, Quaresma não é capaz de meter uma bola de primeira na grande área, está sempre a fugir para a linha com o defesa em cima em vez de jogar rápido, é lento soltar a bola e não tem velocidade para ser o extremo do FC Porto que rompe no ataque. E uma vez mais, dito isto, volta a ser o mais inconformado, o mais interventivo, por muito que demore a cruzar a verdade é que meteu boas bolas na grande área e agitou o jogo. Está em melhor forma que Brahimi, e já que ainda ninguém percebeu para que foi Hernâni contratado em Janeiro, então que se aproveite ao máximo o bom momento de Quaresma.





Não deu para perceber (-) - Não sei se Casemiro pediu para sair, nem se Quintero tem treinado com grande intensidade no Olival ou se se passou o contrário com Óliver. Lopetegui é homem de convicções fortes e há-de ter tido as suas razões para gerir o jogo como geriu. Mas de facto as alterações feitas nada trouxeram ao jogo. Com a saída de Casemiro perdeu-se a dimensão física no meio-campo. Quintero não jogava há um mês e é o jogador mais lento do plantel, era suposto ser ele o abre-latas tendo Óliver no banco? E por fim, Aboubakar não consegue estar simultaneamente a jogar fora da grande área e a chegar a tempo dos cruzamentos. Faltava presença na grande área, faltava a ajuda de Gonçalo. Mas Lopetegui já tinha feito 2 alterações, e o que se diria se tivesse deixado Quaresma no banco? Quaresma devia ter entrado antes e a última alteração devia servir para meter Gonçalo, para arriscar, ou segurar o resultado após fazer o 2-1. Foi o jogo em que Lopetegui pior mexeu esta época, ou pelo menos aquela cujas alterações menos proveitos deram (nenhum). Não houve plano B e estivemos 90 minutos à espera que algo acontecesse.

Carrossel para lado nenhum
Levar a bola para casa (-) - Lopetegui confiou até ao limite que Brahimi ia sacar qualquer coisa da cartola. Mas hoje Yacine nem uma finta ou um cruzamento conseguiu acertar, quanto mais um momento que pudesse decidir o jogo. Tem uma coisa boa, que é mesmo jogando mal consegue segurar a bola e arrastar marcações. E quando isso acontece tem que aprender a soltar a bola para zonas interiores. Brahimi pode jogar mal, mas tem que aprender a jogar mal.

Pela milésima vez ... (-) - Já estive mais longe de fazer um levantamento do aproveitamento nos pontapés de canto. E arrisco dizer que o FC Porto é a equipa que pior aproveita os cantos no Campeonato. É bola na área de qualquer forma, para o molho, e quem quiser que lá chegue. Não há lances estudados, não há movimentações padrão, não há ninguém que se destaque ou seja referência ao primeiro e segundo postes. Se este é o calcanhar de aquiles de Lopetegui, a equipa técnica tem urgentemente que ser reforçada com alguém ou algo que potencie as bolas paradas, porque não há memória de um FC Porto tão fraco nestes lances. Que marquem cantos curtos ou devolvam a bola à primeira fase de construção, porque de bola directa não há uma que funcione.

Ingratidão para Aboubakar (-) - Aboubakar não esteve bem, não. Mas não é fácil fazer o papel de Jackson (que falta fez...), ao alcance de poucos no futebol mundial. Já evoluiu muito nesse sentido, mas hoje foram visíveis as dificuldades em jogar de costas para a baliza, longe da linha defensiva, e simultaneamente ter que chegar a tempo e às zonas certas na grande área. Tirando um cruzamento de Tello para Aboubakar, não houve mais nenhum lance assim. Precisava de apoio, mas Quaresma não podia ficar no banco e o sacrificado foi Gonçalo. De certeza que Lopetegui não voltará a cometer este erro nas substituições. Alex Sandro, Evandro e Herrera pareciam rebentados fisicamente e isso impediu-os de tomar as decisões mais acertadas. Jogo mal conseguido.

A culpa não é
do treinador
Queres sair? (-) - Quintero é menino para ter ficado chateado no dia do parto da mãe. Não dá para compreender, rapaz. Desde o primeiro que treinou no Olival, dizia quem via: «Tem um potencial fenomenal, mas julga que é craque e não leva os treinos a sério». Nós já te vimos fazer grandes coisas, Quintero, já vimos a bola sair dos pés com olhinhos. Mas hoje foi mais uma demonstração do porquê de não ter mais oportunidades. Lento, sem garra, sem se assumir sem bola, chateado com o mundo. O FC Porto investiu mais 4,5M€ no seu passe esta época, e desde então nada se viu de Quintero. Se não quer jogar no FC Porto, então que o seu futuro vá à mesa no fim da época. Mas se o jogador não tem sido opção, era hoje que Lopetegui esperava uma reação de Quintero? Certo é que não funcionou e foi uma substituição queimada. E uma vez mais vemos muito potencial a ser queimado, com culpas próprias. Está mais perto de ser o novo Iturbe do que o novo James.

Pausa para as Selecções. Não há equipas que passam de bestiais a bestas, mas é possível passar de jogos bons a jogos maus. Hoje foi um mau dia, coincidente com o desperdício da oportunidade que há muito ansiávamos. Não estamos obrigados a ser campeões, mas quem veste a camisola do FC Porto está obrigado a suar sangue por esse objectivo. Não fizemos a segunda parte, então ficamos mais distantes da primeira. Dia 2 há nova visita à Madeira. Nem quero saber da Taça da Liga: quero é que corrijam a miséria que têm sido os jogos do FC Porto na Madeira. Quem os viu na Madeira a festejar... Nós é que já não lá festejamos há um bom bocado. Já é hora, FC Porto.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Como há 28 anos


De que serve andar na Champions se não for para defrontar os melhores? Neste caso, o melhor. O Bayern tem argumentos superiores em toda a linha. Podemos falar de Guardiola, Alaba, Robben, Goetze, Muller... Mas quem são estes comparados ao sacana do Neuer? 

O FC Porto já cumpriu e superou desportiva e financeiramente os seus objectivos na Liga dos Campeões, com a equipa mais jovem e inexperiente dos 1/4. A final de Viena deve servir como inspiração, não como ilusão, pressão ou obrigação. Tudo o que não for o apuramento do Bayern será uma surpresa, talvez a maior de um clube português na Europa desde 2004.

O Bayern perdeu apenas 3 jogos esta época e está a passear na Bundesliga, enquanto o FC Porto continua sob pressão no Campeonato. Perdeu a Supertaça com o Dortmund, logo no início da época. Perdeu em Manchester com o City, depois de chegar aos 85 minutos a vencer. E levou 4-1 do Wolfsburgo, num jogo com características extremamente específicas (regresso da Bundesliga após pausa de inverno, recital de De Bruyne e a enorme onda motivacional do Wolfs pela morte de Junior Malanda). É preciso muito para travar o Bayern de Pep Guardiola, tanto que deu há pouco 7 ao Shakhtar, com quem o FC Porto empatou à rasca duas vezes. Será interessante ver o embate entre duas equipas que mais e melhor tratam a posse de bola na Europa. A equipa que menos abdicar da sua identidade e estilo de jogo habitual sairá em vantagem.

Não temos responsabilidade, apenas ambição. Muita ambição. Mas a nossa Champions já foi ganha. Para pensar além dos 1/4, teria que ser assumido um projecto de continuidade, como em 1987 e 2004, onde ninguém do núcleo duro saiu. O FC Porto está numa época de reestruturação, com qualidade acima da média, mas distante da dimensão do Bayern.

Podemos continuar a dar mil e um elogios aos alemães, mas todos já perceberam a ideia. A primeira mão joga-se no Dragão, e o FC Porto tem legitimidade para lutar por um resultado positivo. Podemos desfrutar de uma grande noite europeia contra a equipa mais forte da actualidade do futebol europeu. A visita a Munique acontece na semana do clássico com o Benfica. Vai haver muito desgaste, resta saber se apenas físico ou também emocional. De recordar que em 1987 perdemos o Campeonato contra o Farense, no dia de um derby lisboeta, três dias antes de sermos campeões europeus em Viena.

Para já, como disse Lopetegui e bem, a nossa Champions chama-se Nacional da Madeira. Nada mais merece a nossa preocupação imediata. A 15 de Abril, todo o resto merecerá a nossa ambição, determinação, paixão e dedicação. Tudo menos responsabilidade e pressão, que essas ficam para o lado da Baviera. Como há 28 anos.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Frederic: vem aí a hora do salto

Foi há 2 anos que Frederic Maciel assinou contrato profissional com o FC Porto. Válido até 2016, pertinente cláusula de rescisão de 20 milhões de euros. Na altura sofreu uma fissura no pé e perdeu o resto da época 2012-13.

Frederic: é para renovar
A época seguinte não começou melhor, desta vez com fratura no pé. Foram poucas as oportunidades no primeiro ano de sénior, até porque para as alas havia Ricardo, Kelvin, Kayembe, Tozé, Ivo... Mas esta época, já livre de lesões, Frederic Maciel começa finalmente a mostrar-se na equipa e a justificar atenção.

É neste momento o melhor marcador da equipa B, com 11 golos. Consistente e regular. Rápido, forte no um para um, joga bem em zonas interiores e finaliza muito bem na grande área, com os dois pés ou de cabeça. Mais prático do que exuberante, Frederic justifica que o FC Porto continue a acreditar no seu potencial. 

A poucos meses de entrar no último ano de contrato, merece a renovação. A forma como recuperou das lesões revelam um carácter forte. Tem vindo a construir o seu percurso nas selecções jovens desde os sub-16 e se não fosse o tempo perdido no primeiro ano de sénior já podia estar no mapa dos sub-21, onde a concorrência também é forte (tudo jogadores já de primeira liga).

Lopetegui tem a palavra, e Frederic já treinou várias vezes com a equipa principal. Mas é importante procurar uma oportunidade de futebol de primeira liga para Frederic na próxima temporada, pois um sénior de terceiro ano não deve jogar na equipa B. Os ciclos não devem ser superiores a 2 anos, pois os jovens precisam de estímulo competitivo superior. 

Não faz sentido Frederic permanecer na segunda liga na próxima época, pois nesse escalão já se destaca e já está acima da média. Tem que jogar num patamar superior, até porque Sérgio Ribeiro e Rúben Macedo estão a terminar o segundo ano de sub-19 e já vão subir - assim o esperemos, e outra coisa não se admite - para a equipa B. Rúben Macedo já vai aparecendo na equipa B, e bem, enquanto o capitão Sérgio Ribeiro, por razões que o rendimento desportivo não consegue explicar, só se vai estrear na B depois de Tony Djim.

Quanto mais cedo os jogadores tiverem o estímulo competitivo de jogarem em escalões superiores, melhor. E deve ser o rendimento a ditar a ordem das promoções, não o estatuto ou outros factores. No caso de Frederic, está na hora de lhe dar futebol de primeira liga. Vai valer a pena.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Circunstância ou consequência

Naturalmente, não se pode avaliar um jogo que não se viu. Mas as estatísticas dão sempre uma ajuda. Pensar numa goleada por 5x0 é pensar numa equipa que massacra outra. O site da UEFA diz que não foi isso que aconteceu no Anderlecht x FC Porto, no adeus à Youth League.

Estatística da UEFA
Não se sabe por obra de que aura belga, mas o Anderlecht, segundo a UEFA, não teve nenhuma boa ocasião de golo... E mesmo assim marcou cinco golos. O FC Porto teve duas boas ocasiões, mas ficou a zero. Em termos de ataques perigosos, segundo a UEFA o FC Porto teve 58, contra 29 do Anderlecht. Seis cantos e 14 remates para o FC Porto, dois e 13 para o Anderlecht. Como é que do meio destes números os belgas conseguiram espremer um 5x0... Só vendo para crer, mesmo que tenha havido 2 golos de penalty e um auto-golo.

Uma goleada destas é acima de tudo circunstância. Mas mais que isso, é também consequência. Podemos pensar nas ausências de Moreto e Rui Pedro. Mas se sentimos tanto a falta de dois jogadores sub-17, então é porque falta algo nesta geração de sub-19 em termos de qualidade. Faltou ainda Leonardo, que (ainda) não pertence aos quadros do clube, e Verdasca.

E mesmo que jogassem, o favorito seria sempre o Anderlecht. Não dá para confundir futebol senior com jovem. Este Anderlecht, na Youth League, goleou Dortmund, eliminou Barcelona, venceu Arsenal e Galatasaray. Neste jogo meteram 14 mil adeptos no estádio, que é provavelmente mais que toda a assistência junta do FC Porto esta temporada. São claros candidatos ao título europeu.

Ruben Macedo
Estamos a falar da formação que lançou Kompany, Januzag e Lukaku, e não é por acaso que se tem elogiado muito o potencial da formação belga nos últimos anos. Mais: os juniores do Anderlecht já têm uma rodagem muito superior aos do FC Porto. Só Gudiño e Rúben Macedo já jogaram tempo relevante na equipa B, enquanto no Anderlecht até jogaram miúdos que já foram utilizados na Liga dos Campeões de seniores. De Medina, Matthys, Bastien, Kawaya, Iseka (the next big thing), tudo jogadores que já jogaram na primeira liga belga e que agora jogaram na Youth League. É uma dimensão à parte.

No último mês houve uma série de resultados muito positivos, nomeadamente a grande entrada na fase final do campeonato de sub-19 (6 pontos de vantagem sobre o Sporting e 7 sobre o Benfica, com vitória por 3x0 no Seixal) e forma como o FC Porto eliminou o Real Madrid. A equipa e potencial são os mesmos. 

Além dos quatro ausentes já referidos, há jogadores que podem e vão jogar num nível superior, como são os casos de Gudiño (ainda não pertence ao FC Porto), Fernando Fonseca, Sérgio Ribeiro e sobretudo Rúben Macedo, o melhor jogador da fornada de 1996. E outros, e claro que aqui entramos no campo da opinião, como Lumor, Fidelis, Sualehe, Chidozie e Djim, que ou mostram o que ninguém vê ou não vão andar muito distantes da senda de Stéphane, Sagna, Musakanya, Enoch, Baldé, Eridson ou Mohamed.

Sábado há jogo para ganhar em Guimarães, rapaziada! 

terça-feira, 17 de março de 2015

Do Machado ao Matias

O FC Porto não se limitou a expressar a sua indignação com Cosme Machado através das intervenções de Pinto da Costa e Lopetegui. O JN traz-nos hoje a notícia de que o FC Porto apresentou uma denúncia e a Comissão de Análise e Recurso deu razão: Cosme Machado fez, oficialmente, a pior arbitragem da época em Braga, em prejuízo do FC Porto.

A CAR dar razão aos clubes é pouco habitual, pois é um organismo que tem que avaliar as decisões na perspectiva dos árbitros. Para se ter noção do quão raro é a CAR penalizar os árbitros (neste caso a avaliação que é feita pelos observadores), o Sporting há um ano fez um protesto contra Manuel Mota. Resultado: a nota de Manuel Mota foi melhorada.

Ora na Taça da Liga, foi este o parecer dado pela CAR:


Um cartão vermelho por mostrar num lance em que não houve sequer cartão. Evandro é mal expulso e deixa o FC Porto a jogar com 9. E Tiago Gomes, o tal ex-jogador do Benfica que teve a infelicidade de sofrer a primeira expulsão da carreira na Liga em pleno Estádio da Luz, também escapou à expulsão.

Cosme Machado
Entretanto, que tem feito Cosme Machado? É nomeado normalmente, sem punições, sem jarra. Um árbitro que tem acumulado protestos de Lisboa ao Minho, e sobretudo pela segunda liga. O Freamunde ainda tenta, mas pelo meio já levou uma machadada. Quem está mais perto? O Covilhã, que na próxima jornada vai ter... Cosme Machado. Bela sopinha.

Regressando à decisão da CAR. Soubemos através do JN que o FC Porto fez a denúncia... na Taça da Liga. Ora nenhum adepto pode aceitar que o FC Porto lute mais junto das instâncias desportivas na Taça da Liga do que no Campeonato. É que na Taça da Liga falamos de um jogo. No Campeonato são jornadas e jornadas. Nenhum portista aceitará que os dirigentes do FC Porto já tenham lutado mais pela continuidade na Taça da Liga do que pela integridade do Campeonato. Por isso só podemos acreditar que a CAR tenha recebido queixas pelo que tem acontecido na Primeira Liga, como por exemplo uma patada na cara na grande área que nem falta dá. Só para citar o caso mais recente.

JN, 17-03-2015
E a CAR, já aqui foi dito, poucas vezes dá razão aos clubes. Por isso quase se arrisca a dizer que concorda com o FC Porto porque este protesto não prejudica terceiros, isto é, não coloca em causa a classificação do Campeonato, e na Taça da Liga o vencedor do grupo seria sempre o FC Porto. Ao longo de toda a época, em termos de Campeonato não se ouviu nada sobre a CAR. Total silêncio. Que seja sinal que não há fugas de informação, como terá havido para o JN, e não que isto signifique o silêncio do FC Porto. Nenhum portista admitiria isto.

Votos para que Cosme Machado não volte a arbitrar. Não no FC Porto, mas no futebol português. 

E agora pelos vistos é necessário rever os regulamentos de disciplina. Escreve o Record que Tiago Rodrigues não pode defrontar o FC Porto devido a castigo. Até onde se sabe, a suspensão surge ao 5º cartão na liga, não ao segundo, que é o número de cartões que Tiago Rodrigues já viu ao serviço do Nacional.

Marco Matias
Mas a propósito deste tema, uma vez mais temos que agradecer a bem disposta e hilariante tentativa de algumas alminhas em argumentar sobre um benefício ao FC Porto com base no número de suspensões. Agora é Marco Matias, jogador formado no Sporting e assumidamente sportinguista, que é suspenso. Ninguém está preocupado em saber se viu bem ou mal o cartão amarelo, o escândalo é que não joga contra o FC Porto. 

Mas se é isso que está em causa e só interessa o número de suspensões, não a sua justiça, então ainda vai ter que haver muito e bom jogador a ser suspenso para não defrontar o FC Porto, pois ainda vamos longe do recorde do Benfica: 17 jogadores suspensos, 6 ex-jogadores que não jogaram sem haver impedimentos físicos e o único clube do futebol português que veta a utilização de jogadores que são pagos por outros clubes (Deyverson e Miguel Rosa - e agora que se faz ao Pelé e ao Dálcio?). Já para não falar que Sérgio Oliveira defrontou o FC Porto, em pleno Dragão, já depois de ter assinado contrato. 

Uma curiosidade pequena: Nuno Almeida foi quem mostrou o cartão a Marco Matias. Quem é Nuno Almeida? Um árbitro do Algarve... que só serve para arbitrar em Lisboa. 9 jogos com o Benfica, todos no Estádio da Luz. Saldo: um empate (o primeiro, em 2005) e 8 vitórias, sete delas consecutivas sem sofrer golos (andamos todos a elogiar o registo defensivo de Lopetegui, mas só agora apanhámos o Benfica/Nuno Almeida). E quanto ao Sporting? 11 jogos consecutivos em Alvalade. Só esta época, ao 12º, é que finalmente arbitrou fora de Lisboa, para acompanhar a dificílima deslocação do Sporting a Espinho. No jogo seguinte, voltou a Alvalade. Como Nuno Almeida gosta tanto de Lisboa e Marco Matias nasceu lá perto, se calhar foi por isso que suspendeu o avançado do Nacional: assim pode ir passar o fim-de-semana à terra natal. 

Ou se calhar achou que o avançado formado no Sporting, ao tentar fazer exactamente o mesmo que Gaitán fez contra o Braga (atirar-se para o chão à procura da falta), merecia ver o cartão. Se calhar, da mesma forma que os benfiquistas se indignam com Marco Matias, os rivais do Rio Ave também vão revoltar-se contra Gaitán.