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sexta-feira, 14 de outubro de 2016

«Senão, um dia, pode não haver recuperação fácil»

«É evidente que os recursos que estão afetos ao futebol vão sendo cada vez mais curtos para fazer face às exigências do futebol. Tem de haver sensatez e prudência nesse equilíbrio. Senão, um dia, pode não haver recuperação fácil».

Faz este fim-de-semana dois anos que Fernando Gomes, administrador da SAD do FC Porto, disse estas palavras no Porto Canal. Um apelo à contenção de custos e o reconhecimento de que ia ser necessário apertar o cinto.

Afinal, o FC Porto tinha acabado de apresentar um prejuízo de 40,7M€ em 2013-14. Os custos com pessoal eram de 48,8M€. Os custos operacionais foram de 95,17M€. Os proveitos operacionais atingiram os 72,6M€. O défice operacional de 22,5M€. Os salários cobriam 67% dos proveitos operacionais (a UEFA não recomenda mais de 70%). O passivo era de 233M€. O valor investido no plantel foi de 46,5M€. Os encargos sobre transferências foram de 4,8M€. A dívida total em empréstimos era de 139M€.

Há dois anos, Fernando Gomes tinha feito um reconhecimento geral da necessidade de reduzir os custos, não só aplicável ao FC Porto como à generalidade do futebol português. Dois anos depois, através do R&C de 2015-16, podemos concluir que o FC Porto não só não reduziu os seus custos comparativamente a 2014 como foi capaz de aumentar de forma abrupta todas as alíneas.

O prejuízo de 2015-16 foi de 58,4M€. Os custos com pessoal aumentaram 27M€. Os custos operacionais aumentaram 30M€, para 124,4M€. Os proveitos operacionais tiveram um ligeiro aumento para 75,8M€. O défice operacional dobrou para os 48,6M€. A totalidade das receitas operacionais não chega para cobrir 100% dos salários. O passivo está à porta dos 350M€. O investimento total no plantel foi de 78,4M€, dos quais 15,16M€ em encargos. A dívida total de empréstimos chegou aos 178,35M€ (dos quais 10M€ após a operação Euroantas). Uma realidade um bocadinho ao lado daquela a que Fernando Gomes apelava em 2014. 

Já no início do ano, Fernando Gomes falava do acordo do FC Porto com a PT/Altice. «É um grande acordo que permite sobretudo que o FC Porto, enquanto empresa, possa ser gerido de forma menos contingente. Até agora, os encargos operacionais eram sempre superiores aos proveitos operacionais, sem contar com as mais-valias das transações de passes de jogadores. A partir de agora podemos vir a deixar de ter de tomar decisões sob pressão. Permite gerir o clube de outra forma, mais objetiva económica e financeiramente e sem estar tão dependente dos ganhos ocasionais em janeiro e no final da época. É essa a grande vantagem». Ainda não chegámos a 2018, mas o contrato com a PT/Altice já parece uma espécie de oásis no deserto, insuficiente para matar a sede.

E ainda na entrevista ao Porto Canal, Fernando Gomes afirmou: «Este ano, fizemos um aumento de capital que superou o capital social negativo e resolveu os nossos problemas do fair-play financeiro. Não é preciso um grande resultado para, no próximo ano, cumprirmos o fair-play financeiro».

Chegamos a 2016 e o FC Porto falhou o fair-play financeiro. Não podia apresentar um prejuízo de mais de 8,6M€, apresentou de 58,4M€. Em 2014, a SAD apostou na absorção do Estádio para resolver o problema dos capitais próprios. Dois anos depois, revelou-se incapaz de gerar as receitas necessárias para cumprir com o fair-play financeiro.

O fair-play financeiro não era só para cumprir num ano, mas sim ano após ano. Enquanto aguardamos que a UEFA fale sobre o que poderá acontecer ao FC Porto, é bom lembrar que a época 2016-17 vai ser ainda mais difícil do que a época anterior no que toca ao FPF.

Em 2014-15, 19,3 milhões de euros de lucro. Em 2015-16, 58,4 milhões de prejuízo. Logo, à partida para esta época, a SAD já vai ter que apresentar 9,1 milhões de euros de lucro para não violar as regras para o triénio que acaba em 2017. Isto apenas para cumprir o fair-play financeiro, não para tapar todos os buracões da época passada. Resta aguardar para conhecer em que medida as deliberações da UEFA podem ditar novas regras/limites financeiros para o FC Porto cumprir no curto prazo.

Por fim, apetece perguntar: por onde andaram as palavras ditas por Fernando Gomes em 2014 nos últimos dois anos? 

16 comentários:

  1. Chaos AD! :) Já só dá para rir. Só me vem uma coisa à cabeça: o poder tem destas coisas. Destas de não saber admitir erros nem saber sair pela porta grande, tal é a ganância. Está giro e isto é de ciclos. Resta-nos esperar que estar tortura acabe...

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  2. eles sabem que se houver sucessor desportivo, ninguém quer saber das contas. e se houver sucesso desportivo, vendem um ou dois jogadores e as contas deixam de preocupar. foi por isso que se gastou tanto nestes últimos anos. pena que a visão demonstrada para contratar jogadores se tenha mostrado tão fraca.

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  3. Mantendo a opiniao que nessas contas do FPF falta levar em consideração o aumento de capital de 2014, o que sinda torna a situação mais absurda, pois se calhar bastaria vender o herrera e não se incompria o fpf....

    So queria dar os parabéns pela análise, só acho que o enfoque na pessoa do fg também acaba por ser um "alivio" não merecido para o presidente, pois ele é que é o grande responsável e se tivesse um pingo de vergonha na cara já tinha apresentado a demissão.

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    1. Claro que o Presidente Pinto da Costa é o principal responsável pela actual situação do FC Porto, como sempre o foi nos momentos que a situação era bem diferente para melhor; o que acontece é que nesses momentos ele sempre fez questão em reclamar os louros só para ele, nos maus, desaparece e manda os outros dar a cara, e não é por vergonha, mas sim por vaidade pessoal. Como poderia ele ter um pingo vergonha e pedir a demissão se esta situação há muito que se perspectivava, arrastava era anunciada e conhecida (só não oficialmente) ainda antes das últimas eleições. Se alguém tem que ter vergonha há situação a que isto chegou e continuou, são os sócios que continuaram a votar no senhor e todos aqueles que aplaudiram e assobiaram para o lado a adulteração da história da fundação do clube, em última análise a história do FC Porto.

      João Santos

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  4. "9,1 milhões de euros de lucro"

    Isto significa que a SAD tem de fazer uns 120 milhões de euros em vendas. 30 + 30 + 30 + 30!

    4 negócios espectaculares, até porque muitos passes não pertencem à SAD a 100%. Isto é realista? Creio que não.

    Prevejo mais do mesmo esta época, com o passivo total a passar os 400M€, e vários titulares a serem vendidos à pressa.

    E falta saber o que vai fazer a UEFA, pois estamos a falar daquele que é provavelmente o maior prejuízo... em toda a Europa.

    O Nuno neste momento tem uma pressão brutal em cima. Se ficar em 2º ou 3º, depois de se manter todo o plantel, será uma época horrível, e o pior é que vai perder muitos titulares, o que lhe vai dificultar imenso o arranque da época seguinte.

    E além do campeonato ainda tem de recuperar o atraso na Champions, que é vital para valorizar jogadores e reduzir o buraco financeiro.

    Cumprimentos.

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  5. Qando é que "sai" o próximo orçamento? em Novembro ou...?

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  6. Em qualquer empresa normal, os resultados negativos acumulados dos últimos anos, o crescimento absurdo do passivo e da dívida financeira, a ausência de justificações razoáveis para este descalabro, a ausência de estratégia para reverter a situação ou a manutenção de mordomias na administração perante este cenário, levariam a que os donos da instituição que controla a SAD (leia-se neste caso os sócios do FCP), e que muito recentemente fez um aumento de capital significativo para tapar o buraco, mandatassem a sua direcção para que na próxima assembleia geral da SAD apertassem com a comissão executiva, lhe exigissem metas e que apresentassem um plano com medidas concretas para sair deste buraco. Caso isso não acontecesse ou as metas não fossem cumpridas, rua.
    Mas isso seria numa empresa normal. Pinto da Costa, olé, olé!

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  7. Embora desconfiando, é com esta Administração - a não ser que haja uma revolução - que teremos de mudar, por isso não adianta estar a bater constantemente no cego. Mais, eles sabem estar no fio da navalha e também sabem que a alternativa á mudança é a porta da rua, essa é a esperança.
    Quero lembrar aos mais histéricos e aos economistas das derrotas (não, não é o autor...) que em 1982, é certo serem diferentes as circunstâncias, estávamos muitíssimo pior, por isso há que acreditar.
    De salientar a frontalidade brutal na transparência da apresentação. Não sendo um expert na matéria, sou incapaz de afirmar de estar tudo ao pormenor, penso no entanto toda a gente ter percebido a pancada da coisa.
    Por ultimo, outros, que tiveram orgasmos cerebrais e orais com os nossos numeros, mas cujas contas são bem piores e estão escondidas sob os holofotes de vitorias corruptas, mais cedo que tarde, irão bater com os cornos na parede.

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    1. Fio da Navalha, porta da rua... mudança? qual mudança? mas acha que o verdadeiro responsável de tudo isto vai agora mudar alguma coisa! o que ele queria garantir, nesta final de vida, sim, porque o homem não é eterno, já está garantido e foi precisamente este último mandato e tudo que lhe permite concretizar. Os que vierem que se cozam com as linhas que ele lá deixar. O que realmente lhe interessa fica assim garantido e os filhos agradecem, a mulher também e o amigo de sempre e gestor top de méritos reconhecidos também. Não sei se deva rir ou chorar.

      João Santos

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  8. Ainda não os ouvi dizer que iam passar a ganhar menos,aliás com a incompetência que revelam deviam era ser despedidos.

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  9. Caros, já o confessei, os R&C não são bem a minha praia, mas tenho perfeita noção da importancia financeira em qq Estrutura, e também numa Estrutura Desportiva, sem o suporte financeiro, não há projectivo desportivo sustentavel!

    Bom, observando do FC Porto e as perspectivas no curto prazo :

    1 FC Porto acossado pelo fair play financeiro. Tal como aconteceu com o Sporting, o FC Porto só poderá inscrever 21/22 Futebolistas (actualmente pode inscrever 25) na próxima Edição da Champions ou L Europa, será provavelmente essa a punição do FC Porto. Como se contorna esse problema? Supostamente a Formação terá mais presenças no principal plantel do FC Porto na próxima temporada, e Ruben Neves, Tomás, Garcia, Rafa, o Gonçalo, e ainda Chidozie, Omar Govea ou Ismael (estes na proxima temporada podem ser incluidos na lista B), isto é, cerca de 7/8 Futebolistas do FC Porto, podem na próxima temporada ser inscritos na lista B, e contornar a limitação das inscrições nas provas da UEFA!

    2 Nas ultimas 10 temporadas, o FC Porto apenas uma unica vez realizou um encaixe "gordo" na janela de transferencias de Inverno, foi justamente Otamendi em Janeiro de 2014 (gerou 12 M€, para posteriormente ser vendido para o City por 45 M€ ano e meio depois), Ota foi a excepção. É suposto, neste Inverno, Herrera ou Brahimi, ou ambos serem transferidos, justamente para equilibrar as contas.

    3 A "galinha dos ovos de ouro", falo no André Silva, não creio que irá gerar encaixe, o negócio a ser "alinhavado" pelo Mendes, passará pela troca directa André Silva / Oliver + Jota. Se o Oliver tem uma clausula obrigatória de 20 M€, a de Jota é de 22 M€, isto é, o André Silva será "vendido" por 42 M€ para o A Madrid. Aguardemos pelo próximo verão!

    4 Encaixes no verão. Observo os excendentários, e identifico o Indy que é titular no Stoke, o Ricardo que longe de ser excendentário (há Maxi e Layun, e o próprio já declarou que não quer regressar), o Ricardo Pereira hoje é dos melhores laterais da Liga Francesa (mais um recurso desaproveitado, infelizmente), e tem mt mercado, e do mal, o menos, pode garantir um interessante encaixe. Ainda há Josué, D Reyes, o Sérgio Oliveira tem estado discretamente no mercado (provavelmente será em Janeiro emprestado com opção de compra), ou ainda, o A Fernandez, o Angel ou o Bueno. Cerca de 7/8 emprestados, podem perfeitamente gerar um encaixe conjunto bem interessante, justamente para equilibrar este descalabro financeiro!

    5 O próximo plantel, 2017/18, será construido com principios de frugalidade, a contenção orçamental a isso obriga. Perspectivo os regressos do Garcia, do Rafa Soares ou do Gonçalo, da B podem ser promovidos o Tomas, o Omar Govea, o Ismael Diaz, o Graça ou o Chico. No sentido inverso, alguns activos com uma elevada folha salarial serão excluidos. Poderá o FC Porto perder competitividade ? A qualidade que vislumbramos na B na temporada passada, dizem-me que não, desde que esses jovens da B, sejam suportados por meia duzia de Futebolistas de qualidade e experiencia, numa mescla que se pretende equilibrada!

    6 Irão surgir alterações no projecto desportivo do FC Porto, infelizmente apenas por razões conjunturais/financeiras, e a Formação será a solução para tentar debelar o recente descalabro financeiro. Recordo que na década de 90, a Formação foi a base do FC Porto, curiosamente, a década em que o FC Porto venceu mais campeonatos (foram 7), recordo Baía, Secretário, F Couto, Jorge Costa, Rui Jorge, Rui Filipe, Semedo, Jorge Couto, Sérgio Conceição, Domingos ou Folha, está aqui um onze de qualidade, e oriundos todos eles da Formação. Recordo que em 1989 e 1991, Portugal foi Bi Campeão Mundial Sub 21, e então a Formação foi então um novo paradigma. Hoje, as Selecções jovens de Portugal, tem também muita qualidade, nomeadamente o FC Porto. A Formação irá finalmente abastecer o principal plantel do FC Porto, infelizmente não será uma mudança estrutural, mas sim conjuntural!

    PT

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  10. Termino o meu comentário anterior (excesso de caracteres), e entroncando no desaproveitamento dos recursos do FC Porto. Ontem vi atentamente o Nice 3 Lyon 1, Ricardo confirmou que merece ser titular da Selecção A, um Bosingway também veloz, mas com mais qualidade, o Ricardo é mais agressivo a defender. Bom, mas voltei a observar e confirmar a qualidade do Seri, chegou ao FC Porto em Janeiro de 2013 para a Equipa B, e essa Equipa, então orientada pelo Rui Gomes, andava moribunda na II Liga, com a chegada desse jovem Africano, o FC Porto B encetou uma extraordinária recuperação. O Seri, é versátil, pode ser 6/8 ou 10, tem uma assinalavel cultura tactica, invulgar num jogador Africano, e então, eu já o apelidava de "Moutinho negro", pela rotação e rendimento constante. Em Paços confirmou esses predicados, e no Nice confirma que é um enorme Futebolista. Bom, tudo isto, para vos perguntar, o que falhou no processo Seri? Qual seria o custo do Seri, isto quando chegou emprestado em 2013 pelo Mimosas da Costa do Marfim? Transitou para Paços emprestado por quem? O Nice comprou o passe do Seri a que clube?

    Agradecia a vossa resposta a este processo Seri. Obrigado desde já pela vossa resposta!

    PT

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  11. Só uma coisa: o único responsável é sempre o líder não o "contabilista". Aliás, deve ser de mim, mas fico com a impressão que alguns comentarios dos economistas das derrotas são politicos e a ser assim este não é o espaço ideal.

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  12. apresentar queixa crime e chamar a PJ

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  13. o sr Fernando Gomes é uma grande pé frio e não só, quando se promove os amigos em detrimento da competência, esta tudo dito, devia ser um dos primeiro a sofrer as consequencias desta "remodelação". o nosso clube perdeu as qualidades que faziam a diferença para os rivais de lisboa, só falta o estoiro financeiro para a completa benfiquização do fcp.

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  14. Concordo inteiramente. No mais, a Taça de Portugal deverá ser sempre o objetivo principal d a época, a par do campeonato.

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