Começando por um curto agradecimento a Senegal e Tunísia, equipas que venceram a Argélia na CAN. Em boa hora nos mandaram Brahimi mais cedo para cá. É um agradecimento egoísta, mas sem Brahimi provavelmente o FC Porto teria saído da Amoreira com perspetivas menos animadoras no Campeonato.
Voltando a reconhecer: em termos de resultados, o FC Porto de Nuno Espírito Santo está acima das expetativas. 44 pontos em 19 jornadas, não sendo nada de extraordinário (o líder tinha mais pontos em qualquer uma das últimas sete épocas...), é uma marca assinalável face àquilo que foi a preparação da pré-época e que nos mantém com condições na luta pelo título, além do objetivo Champions ter sido cumprido.
Mas os resultados, como se sabe, têm o poder de disfarçar limitações que, mais tarde ou mais cedo, se revelam. Não, o problema do FC Porto não foi ter entrado em campo com 4 médios e sem extremos. Percebeu-se a intenção de NES: projetar Maxi e Alex Telles para nunca perder a profundidade pelos flancos e recuar Danilo para assegurar sempre uma linha defensiva de pelo menos 3 elementos. Se funcionasse, isso resolveria o problema de se jogar com 4 médios e sem extremos.
O FC Porto ganhou em Gelsenkirchen sem extremos e com 4 médios. Isso não é o problema. O problema é a dinâmica e as unidades em campo. Alex Telles (um pouco melhor) e Maxi Pereira recebiam quase sempre a bola quando ainda tinham 30 metros pela frente, ou seja, o problema da profundidade mantinha-se, pois o FC Porto tinha o campo encurtado pelos flancos; no meio-campo, o FC Porto não tinha nenhum médio que faça habitualmente a diferença num lance individual ou perto da grande área; o Estoril queria o que o FC Porto fez: uma equipa que se fechasse a si própria e que nunca alargasse o jogo.
Uma vez mais, foi uma bola parada a desbloquear tudo e a livrar-nos de um grande problema. Mas calma, que há copo meio-cheio: «Grande NES! Mudou o jogo com as suas substituições! Percebeu que o FC Porto precisava de meter extremos em campo para ganhar o jogo, então meteu e o FC Porto ganhou! Foi com o dedo do mister!». Não é brincadeira: há-de haver quem pense assim. Mas o problema é mesmo esse: é só se ter apercebido do que era preciso para ganhar o jogo já depois de ter dado 45 minutos de avanço ao adversário, quando isso já era algo para ter percebido antes de entrar em campo.
André Silva (+) - A namorada de André Silva começa a ter motivos para se queixar do FC Porto: o rapaz não deve ter vontade para nada quando chega a casa, tamanho o desgaste a que se expõe jogo após jogo. São já 17 golos na sua época de estreia numa equipa principal (tem intervenção direta em 40,5% dos golos do FC Porto na Liga), mas o que mais surpreende é as piscinas e toda a pancada que leva jogo após jogo.
André Silva não tem a maior capacidade de decisão no 1x1, mas é obrigado a isso: vai receber nos lançamentos, vai atrás, ganha no ar, mete o corpo perante os centrais e no meio de tudo isto ainda tem que encontrar frieza e frescura para ser o matador na grande área. Ganhou o penalty com grande ratice e assistiu Corona para o 2x0. Que mais querem? Um conselho: aproveitem e desfrutem agora, porque por este andar vai deixar saudades no fim da época.
Brahimi entrou e agitou de pronto o ataque do FC Porto. Com Brahimi em campo, há sempre uma via para atacar. Brahimi arrasta sempre 2 jogadores com ele, sabe guardar a bola perto da grande área e obriga a defesa adversária a recuar. Corona entrou muitíssimo bem: não só fez um excelente golo, em que mostrou o que muito lhe tem faltado (critério na decisão), como deu largura ao FC Porto e obrigou a defesa do Estoril a abrir. Mas é verdade que Corona não se pode queixar de falta de oportunidades, e com Otávio de regresso vai ter que se mostrar mais vezes a este nível.
Este ano, o FC Porto aparenta ter um balneário fantástico, um grupo unido. E o que ainda dá esperanças na luta pelo título é isso: o grupo unido e o talento individual dos jogadores. Corona e Brahimi serão por isso essenciais na segunda volta.
Outros destaques (+) - Não fez três assistências, mas no jogo jogado Alex Telles esteve bem melhor do que na última partida: conseguiu, dentro dos possíveis, manter profundidade pelo flanco, forçou várias vezes a subida, fez os poucos bons cruzamentos da equipa e foi o jogador mais solicitado em toda a partida, o que mostra bem a necessidade do FC Porto procurar gente nos flancos, mesmo quando Alex Telles ainda estava à saída do meio-campo.
Herrera foi o melhor dos médios em campo. Apesar de ter saído aos 65 minutos, foi quem mais acerto teve no passe (86,7%, bem acima de André André, com 74,3%, e Óliver, ontem muito mal, com irreconhecíveis 69,2%), fez o único passe de situação flagrante de golo, recuperou 13 vezes a posse de bola e ainda fez 5 cruzamentos (mais que toda a equipa junta, exceção a Alex Telles), num jogo em que teve dificuldades pela ausência de Maxi (não fez um único cruzamento) pelo corredor. Nota ainda para mais um bom jogo de Marcano e a entrada desinibida de Rui Pedro - fez um golo (estando ou não em fora de jogo, foi uma excelente finalização naquele momento), esteve perto de outro e ajudou a baralhar a defesa do Estoril.
Mais do mesmo (-) - Uma primeira parte à imagem das demais. O FC Porto chega ao intervalo sem um único remate à baliza do Estoril e com um notório défice de criatividade no meio-campo. O FC Porto pode jogar com 4 médios, mas não pode jogar com estes 4 médios. Faltará sempre criatividade e rasgo individual nesta equipa. André Silva e Diogo Jota, apesar de serem razoáveis no 1x1, não são os jogadores ideais para sair de cabines telefónicas e abrirem espaço com bola. Óliver baixa muitas vezes para pegar no jogo, André André atingiu há muito os seus limites no que pode oferecer ao FC Porto (no vídeo que se tornou viral, o sprint de Danilo não é a única coisa impressionante - a forma como André André é batido por todos em velocidade e quase desiste do lance não condiz com a sua descrição de jogador à Porto) e Herrera destacou-se mais nas missões defensivas do que no último terço.
É curioso. Nuno Espírito Santo decidiu, agora, experimentar jogar com 4 médios. Então o que fez o FC Porto no mercado de inverno? Mandou 2 médios embora (Sérgio Oliveira e Evandro) e não contratou nenhum. Onde fica o médio mais criativo? No banco (João Carlos). E o que melhor circula a bola? Na bancada, no meio dos Super Dragões (Rúben Neves). Não é preciso ser-se um génio tático para perceber que algo não bate certo nesta gestão de recursos.
Nuno percebeu o seu erro e lançou Brahimi ainda na primeira parte. E aqui é que as coisas surpreendem ainda mais: saiu Jota, que de facto não estava bem, e Brahimi entra... para jogar em zona central! Brahimi colocou-se em zona central, e os seus primeiros 3 minutos em campo foram preocupantes, tamanho o número de vezes que olhava para o banco a tentar perceber as instruções do treinador. Nuno pretendia que a profundidade de Alex Telles permitisse que Brahimi se colocasse em zonas mais interiores, mas chegarmos ao final de janeiro, com este tipo de dinâmicas por definir, é muito preocupante.
Os aliados do Estoril (-) - O que faz uma equipa inferior que quer segurar a vantagem ou o empate? Queima tempo. Um jogador atira-se para o chão, o ritmo de jogo baixa e os jogadores respiram mais tranquilamente. Mas ontem os jogadores do Estoril quase não precisaram de o fazer, pois tiveram a ajuda de meia dúzia de energúmenos que estavam misturados na zona dos adeptos do FC Porto, e que decidiram atirar material pirotécnico para a grande área do Estoril.
Não há palavras para descrever a burrice desses cidadãos - não vamos usar o termos adeptos -, que prejudicaram o FC Porto nesse momento. Ao lançarem o referido material, permitiram que o jogo fosse interrompido numa altura em que o FC Porto estava a apertar o adversário. Isso deu tempo ao Estoril e ia custando muito caro ao FC Porto.
O que acontece logo após o jogo ter sido reatado? O Estoril ataca e Marcano acaba por conseguir um corte salvador, evitando o que podia ter sido o 1x0. O FC Porto passou 10 minutos de menor fulgor, acusando a quebra de ritmo, e só voltou a criar perigo quando Brahimi desmarcou André Silva, que ganhou o penalty e fez o resto. Parabéns aos referidos cidadãos, que se revelaram muito úteis para o Estoril e quase prejudicaram diretamente o FC Porto.
Não estamos na Palestina: é bom que se acabe com esta palhaçada de petardos. É bom recordar que o FC Porto associou-se aos Super Dragões na comemoração do seu 30º aniversário. Nessa mesma semana, o FC Porto foi multado em 20,5 mil euros frente ao Braga. Porquê? Por causa dos muitos petardos que foram rebentado durante a partida. Em semana de aniversário, celebrado nas instalações do clube, tomem lá uma multinha de 20,5 mil euros. As claques não precisam de lições de clubismo, pois são elas que viajam com a equipa para todo o lado e não compram pipocas à entrada do estádio, mas o FC Porto também não precisa destas estranhas demonstrações explosivas de afeto, que só prejudicam o clube durante os momentos mais importantes: os 90 minutos em que estão em campo.
E por falar em 90 minutos: à partida, vai ser esta a duração do clássico contra o Sporting. Se der para evitar dar-lhes 45 minutos de avanço, a malta é capaz de agradecer. O próprio treinador o afirmou no final da partida: «Os jogos têm 90 minutos». Então porquê esta insistência de deitar tanto desse tempo fora?