Antes do Paços x Benfica, o FC Porto estava a um ponto da liderança. Quando acabou o jogo em Paços, passámos a estar a dois. Nada de positivo estava garantido com o empate do Benfica em Paços de Ferreira - pelo contrário, tinham aumentado a vantagem. A euforia precoce paga-se muitas vezes caro. Ou fazíamos o nosso trabalho diante do V. Setúbal, ou nem valia a pena pensar no resultado do Benfica. Não fizemos o nosso trabalho e, assim, fica tudo igual.
Antes desta jornada, o FC Porto sabia que tinha que ir ganhar à Luz para subir à liderança a sete jornadas do final do campeonato. Depois do empate frente ao V. Setúbal, mantém-se tudo igual: temos que ir ganhar à Luz.
Até à época 2016-17, o FC Porto levava 27 vitórias consecutivas sobre o Vitória de Setúbal. 27. Esta época não ganhou nenhum dos dois jogos. E não é um acaso: este é o mesmo V. Setúbal, com o mesmo anti-jogo e o mesmo Bruno Varela, que ganhou ao Benfica no Bonfim e que foi empatar à Luz. Um jogo é acidente, dois talvez, quatro já formam um padrão: este V. Setúbal é uma equipa talhada para tirar pontos aos candidatos ao título.
Os adeptos deram tudo à equipa esta semana, desde o apoio no aeroporto até à enchente no Estádio do Dragão. A oportunidade foi desperdiçada e assim se vê o que pode acontecer no espaço de 24 horas, tamanha que foi a inversão de motivação e disposição entre portistas e benfiquistas. Agora, o FC Porto vai ter 90 minutos para tentar mudar o campeonato. Uma oportunidade que pode ser a última e no jogo mais difícil da época, que pode muito bem acabar por ser o rosto da mesma.
Alex Telles (+) - Subiu, subiu, subiu, cruzou, cruzou, cruzou, lutou, lutou, lutou. Se é certo que tentou invariavelmente o mesmo movimento, não pareceu haver indicações para tentar o contrário. Meteu 18 vezes a bola na grande área, não cometeu erros defensivamente, recuperou oito vezes a posse de bola e foi o jogador mais solicitado em todo o jogo (108 toques na bola, um recorde esta época). Não foi por ele que o FC Porto fez apenas um golo em 180 minutos frente ao V. Setúbal.
Óliver (+/-) - Após uma série de jogos em que o regresso a um esquema com três médios revelou o melhor Óliver da época, o FC Porto regressou ao 4x2x4 e ao limbo que deixa Óliver engolido no meio-campo. Foi demasiadas vezes forçado a recuar para pegar no jogo, faltaram-lhe soluções para a saída curta e, com isso, o FC Porto voltou à insistência em jogar com bola direta. Foi vítima de um esquema que não o favoreceu nem a ele, nem a equipa. Ainda assim, foi dos seus pés que saiu o cruzamento para o golo de Corona e, enquanto resistiu fisicamente, era o único a ter cabeçinha para não se deixar levar pela ansiedade causada pelo empate.
Iván Marcano (+) - Ninguém gosta de perder no FC Porto, mas Marcano é, provavelmente, o jogador que pior lida com maus resultados neste plantel. É visível a sua expressão de frustração/raiva sempre que a equipa sofre um golo, sempre que uma bola não entra, sempre que a equipa de arbitragem não toma uma decisão justa ou que agrade. Isso, é à Porto. Marcano é o rosto da revolta desta equipa, não só face às circunstâncias que não podemos controlar, como ao que podemos fazer. Quanto ao jogo, Marcano teve um total de 28 ações defensivas em todo o jogo, tendo sido o jogador que recuperou mais vezes a posse de bola (11). E isso quer dizer uma coisa: os médios, desta vez, não foram tão eficazes no momento de recuperação, nem os avançados na pressão à saída do V. Setúbal. Valeu Marcano.
Porquê mudar? (+/-) - Dizer que este empate se deve à mudança de esquema tático de NES é injusto e não faz sentido. Se o FC Porto estivesse em 4x3x3, as bolas de Marcano e André Silva tinham entrado em vez de ir ao poste? João Pinheiro teria assinalado as grandes penalidades sobre André Silva? Felipe não teria escorregado no momento do golo do V. Setúbal? Não, não foi por isso que o FC Porto não ganhou.
Hoje não fez nem jogou menos do que em muitas outras vitórias esta época. A questão é: porquê mudar agora? O FC Porto tinha encontrado um momento de estabilidade, não só tática como emocional, no regresso a um esquema com três médios. As coisas funcionavam. NES poderá ter antecipado um V. Setúbal muito defensivo no Dragão, mas jogar com mais avançados não significa atacar mais nem melhor.
Se na primeira parte o FC Porto esteve bem, na segunda Bruno Varela, contas feitas, só teve que fazer duas defesas. Apenas duas, num jogo em casa e que valia a subida ao primeiro lugar. O FC Porto não deixou de ter as suas ocasiões: rematou 23 vezes, criou 17 situações de finalização e foi 58 vezes à grande área adversária. Está dentro da média das últimas jornadas em casa. A questão é: porquê mudar agora, quando tudo estava a funcionar? Porquê agora?
Soares à esquerda (-) - O FC Porto tem um problema típico: só podem jogar 11. Mas a tentativa de fazer coexistir Óliver, Corona, Brahimi, André Silva e Soares na mesma equipa tem levado Soares a ser exposto a um trabalho ingrato nos últimos jogos, que não só prejudica o jogador como não beneficia a equipa. Soares tem feito a diferença na grande área, mas hoje esteve constantemente refém do flanco esquerdo, onde invariavelmente ou perdia a bola, ou falhava o passe, não tendo conseguido completar um único drible. Não é culpa do jogador, pois não está a jogar num lugar que favoreça as suas caraterísticas. Nem o FC Porto está a ser favorecido com esta insistência. Soares tem que estar na grande área pronto para receber, não recuado para ajudar a bola a chegar à grande área.
Pânico (-) - Aconteceu o que não podia ter acontecido: o FC Porto perdeu a calma, perdeu a paciência, deixou-se vencer pela ansiedade de ver os minutos passarem e o 1x1 resistir. Isso levou a que, na segunda parte, a equipa tenha jogado muito menos do que na primeira. Menos objetividade, menos critério, e uma ideia clara que o FC Porto não estava preparado para reagir à adversidade de ver o tempo passar.
O exemplo da utilização de Diogo Jota é sugestivo. Jota entrou para o lugar de Corona, para jogar na zona interior do lado direito, dar velocidade e objetividade ao ataque. Mas passados 14 minutos, foi mandado jogar a lateral-direito. E de repente, Depoitre, que não era opção desde 3 de janeiro, é lançado em desespero para tentar apanhar uma bola na grande área. Foram momentos em que o FC Porto perdeu a calma, perdeu a objetividade, perdeu a identidade e deixou-se levar pelo desespero de meter a bola na grande área e esperar que alguém lá chegasse.