Pages

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Um desajeitado com jeito para o golo

O FC Porto vai terminar 2017 na liderança da I Liga, com o melhor ataque, a melhor defesa, o apuramento para os 1/8 da Champions no bolso e a dois passos do Jamor. Não interessa como começa - ou como vai a meio -, mas sim como acaba, já o diz o treinador. Mas não poderia estar a correr melhor. 


A equipa sofreu uma nova transformação nas últimas semanas e encontrou o equilíbrio entre controlar o jogo com bola enquanto produz volume ofensivo suficiente para marcar um, dois, três golos. E fá-lo com apenas dois médios declarados, algo que parecia impossível de se atingir no início da época, enquanto reabilita jogadores/ativos que vão desde Reyes a Herrera, de Marega a Aboubakar. Um prova de superação de Sérgio Conceição e dos seus jogadores.




Marega (+) - O título desta crónica descreve o maliano: um desajeitado com jeito para o golo. Porque é isso que Marega está a garantir: golos. Não chega para uma dimensão europeia, mas tem sobrado e feito a diferença em contexto nacional. Dois golos de pé esquerdo - até aqui só tinha feito um dessa forma - que dispensaram técnica, colocação e a tentativa de defesa do guarda-redes. Em 14 jornadas, Marega soma intervenção direta em 15 golos, 12 dos quais da sua própria autoria, desta vez com o mérito de saber ler na perfeição a desmarcação de Brahimi - algo que demonstra, inclusive, a melhoria de Marega na leitura de jogo, pois no início da época estava sempre a cair em fora-de-jogo e agora é raro fazê-lo. Continuam a faltar-lhe muitas coisas, coisas que Marega talvez nunca terá, mas não lhe falta o mais importante: golos. Marega e golos na mesma frase. Estranho, mas já não é uma surpresa.


Alex Telles (+) - Chegou às 10 assistências nesta temporada, novamente de bola parada, mas voltou sobretudo a destacar-se na forma como ataca o corredor e municia a grande área. Só falhou um passe em meio-campo adversário, fez 7 passes para finalização, meteu 17 bolas na grande área e permitiu que Brahimi se dedicasse sobretudo à zona interior, pois o corredor era todo do brasileiro. Alex, brasileiro e lateral-esquerdo tem sido um perfil bem satisfatório no FC Porto. 

Brahimi, por dentro (+) - Visão perfeita do espaço e da desmarcação de Marega para os dois golos do avançado, com dois passes a rasgar a defesa do Marítimo. E é também um exemplo de que, para meter os avançados nas costas da defesa, não é preciso meter Marcano ou Felipe a fazerem passes de 50 metros. Brahimi progrediu, leu o espaço e fez o passe com força e colocação suficientes para enquadrar Marega com a baliza. Duas belas assistências e um exemplo de que os atalhos para a baliza não precisam de ser bicadas para o ataque. 

Outros destaques (+) - Estreia de Reyes a marcar com a camisola do FC Porto e a dar boas indicações nas primeiras aparições ao lado de Marcano. Sérgio Conceição aguentou Felipe no 11 tanto quanto possível, mas o brasileiro estava a cometer demasiados erros e as suas exibições já «pediam» banco. Faltava saber se Reyes estava preparado, mas para já não tem destoado. Aposta inteligente de Conceição - quando chegarmos a fevereiro, talvez Reyes não vá jogar contra o Liverpool por Felipe estar castigado, mas sim pelo mexicano já ser o dono do lugar. Por muito questionável que seja ter uma dupla de centrais em final de contrato e a poder assinar por qualquer outro clube dentro de duas semanas. Palavra para Marcano, que ganhou 10 dos 11 lances pelo ar que disputou. 

Ricardo Pereira voltou a dar boas indicações à frente de Maxi Pereira e Héctor Herrera encheu novamente o campo, tendo melhorado particularmente na forma como controla o ritmo do meio-campo - teve um total de 116 ações com bola. E como tem sido hábito, mais um jogo quase irrepreensível de Danilo, impecável no jogo aéreo e na cobertura do meio-campo, ainda que tenha falhado algumas saídas de bola.




Apostar mais pelo meio (-) - O FC Porto criou 15 ocasiões de golo durante a partida. Doze delas surgiram a partir dos flancos. Três em zona interior - e dessas três, duas deram golo. Além dos dois passes de Brahimi para os golos de Marega, só Marcano fez um passe em zona interior para uma zona de finalização. Tendo em conta o quão perigosas foram as poucas incursões do FC Porto pelo meio, a exibição só peca por não ter sido mais bem aproveitada neste capítulo.

Agora resta esperar que o Pai Natal seja generoso com Sérgio Conceição. Isso ou tentar esticar os milagres até maio. Convém não arriscar.

4 comentários:

  1. com mais 2 medios intensos, rapidos, fortes, razoavelmente tecnicos e talvez um def central tambem a serio e ficamos com uma equipa muitissimo forte.

    ResponderEliminar
  2. Caro Tribunal do Dragão. O blog é seu e fará nele e dele o que muito bem entender. Mas só um pequeno à parte:
    Um aspeto fundamental para o máximo rendimento de qualquer atleta, musico, cientista ou outro profissional é acima de tudo a imagem que ele tem de si próprio. A auto-estima é potenciada pelo ego do próprio, mas acima de tudo pelos treinadores, adeptos, amigos e simpatizantes, quando reconhecem e enaltecem as grandes qualidades do atleta e passam ao de leve pelos pequenos defeitos do mesmo. É básico e elementar, Fomentar a auto-estima enaltecendo o que de bom ele tem e não bater sempre na mesma tecla do "desajeitado" do "tosco" que agora já tá melhor mas não teria hipótese de jogar nos grandes da Europa e, por aí fora.
    Para mim Marega sempre foi fantastico. Já era o motor da equipa no Guimarães e não foi por acaso. Muita alegria, empenho, entreajuda, velocidade, autilância e, ao contrário do que dizem muitos "entendidos" não é tosco coisa nehhuma, só se for a avaliar pelo aspeto ou planta física. Por vezes faz coisas desajeitadas mas isso deve-se ao excesso de aplicação e empenho que lhe tiram por vezes alguma acuidade técnica.
    Não nos admiremos que algum clube inglês pague por ele valores na ordem das três dezenas de milhões. Digo eu.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Uma perspetiva com que estou de acordo.

      A beleza do futebol, como em tudo na vida, é que há sempre várias maneiras (honestas) de alcaçar os objetivos a que nos propomos - individual ou coletivamente.

      A pergunta que faço ao TdD é, relativamente à Champions League:
      - pelos orçamentos das equipas participantes
      - pelas "estrelas" que jogam em cada equipa
      - pelo historial de muitas das equipas
      se com esta visão (com que analiza a prestação de Marega) alguma vez poria a hipótese de o Porto ser alguma vez vencedor da Champions Leaque.

      Cumpts
      João Silva

      Eliminar
    2. Caro Roque,

      Obrigado pela análise tão certeira. Já há várias semanas que digo o mesmo. Considero que a utilização (ou abuso) do termo "desajeitado" para descrever Marega por parte do Tribunal do Dragão resulte do facto de falhar muitos passes. Contudo, e como fez notar (e muito bem), Marega está longe de ser um "calhau com dois olhos". Sabe ter a bola no pé, sabe driblar, corre muito e bem com ela nos pés, além de saber fazer aquilo que mais interessa na sua posição: marcar golos.

      Já havia dado provas no Vitória de Guimarães. E, neste jogo, demonstrou que consegue ser inteligente, tanto no posicionamento, como na própria movimentação, como, ainda, no controlo do espaço com o corpo (veja-se o segundo golo, em que usa o corpo para ganhar vantagem, encarando, de seguida, a baliza).

      Por isso, mais uma vez, enalteço a sua análise. Obviamente que não esperava que Marega fosse titular indiscutível no FCPorto quando chegou, mas nunca o considerei um Depoitre.

      Eliminar

De e para portistas, O Tribunal do Dragão é um espaço de opinião, defesa, crítica e análise ao FC Porto.