Pages

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Um municiador e uma seta

Depois de uma importante e difícil vitória frente ao Tondela, com um golo que caiu do céu, e da atípica visita ao Estoril, num jogo em que o FC Porto entra em campo com 4 laterais e vê-se forçado a deixar o resultado em suspenso durante cinco semanas, eis que Sérgio Conceição conta finalmente com duas novas unidades no Olival. 

Waris e Paulinho são contratações que despertam diferentes expetativas. Se o médio brasileiro já não é uma novidade - já interessava em maio, bem antes da chegada de Sérgio Conceição, e já era expectável que a SAD recrutasse pelo menos um jogador ao Portimonense -, o avançado ganês é uma surpresa absoluta e que foge por completo ao tipo de contratações levadas a cabo pelo FC Porto nos últimos anos.

Antes de uma breve apreciação aos dois jogadores, uma retrospetiva sobre as contratações de inverno do FC Porto nos últimos anos:

2017 - Soares
2016 - Suk, Marega, José Sá
2015 - Hernâni
2014 - Quaresma
2013 - Liedson e Izmaylov
2012 - Lucho, Janko e Danilo (já previamente contratado)
2011 - 0
2010 - Rúben Micael e David Addy
2009 - Cissokho e Andrés Madrid
2008 - 0
2007 - Lucas Mareque e Rentería.
2006 - Anderson e Adriano.
2005 - Leandro, Léo Lima, Ibson, Leandro Bonfim, Pitbull.
2004 - Sérgio Conceição, Carlos Alberto e Maciel. 

O padrão é claro: em janeiro, o FC Porto tem por hábito contratar apenas jogadores já totalmente familiarizados com o futebol português. Nos últimos 10 anos, excetuando o caso específico de Danilo (que já tinha sido contratado ao Santos, mas a sua chegada ao Dragão foi adiada para janeiro), apenas dois jogadores não tinham experiência de I Liga - Janko, ponta-de-lança que correspondia a um perfil desejado por Vítor Pereira para o ataque, e David Addy, uma contratação que não teve base desportiva. 

Outro pormenor que se destaca é que o FC Porto não tem sido, de facto, feliz nas suas compras de inverno. Nos últimos 5 anos, apenas Quaresma e Soares conseguiram ter impacto como verdadeiros reforços de inverno. José Sá e Marega estão atualmente a ser titulares, mas em 2015-16 não acrescentaram nada ao plantel. 

Porque um reforço de inverno implica isso mesmo: ser capaz de dispensar o período de adaptação e encaixar logo na equipa. Nesse âmbito, Paulinho é uma boa adição ao plantel. Chega ao FC Porto já adaptado à I Liga e com muita rodagem competitiva, restando saber que lugar Sérgio Conceição terá para ele no plantel.


Os melhores jogos de Paulinho no Portimonense foram feitos no miolo, mas o brasileiro pode jogar descaído para os flancos - e deverá ser precisamente por aí, como alternativa a Corona, que Sérgio Conceição pensará no brasileiro, pelo menos para o 4x4x2. É sabido que Sérgio Conceição não dispensa a dimensão física no meio-campo, por isso Paulinho poderá ter dificuldades em fazer o papel de Herrera, mas pode entrar no 4x3x3. 

Paulinho, na apresentação, disse que espera acrescentar algo ao FC Porto no capítulo do último passe. E é precisamente esse o cartão de visita do brasileiro: a capacidade de meter a bola em zonas de finalização. O atleta de 23 anos é o médio que mais ocasiões de golo cria em todo o Campeonato, com 2,3 passes para finalização por jogo e um total de 44 ocasiões criadas. Em toda a Liga, melhor só Alex Telles, com 56.

No entanto, Alex Telles destaca-se sobretudo nas bolas paradas, daí que crie tantas ocasiões de golo. Excluindo as bolas paradas e pensado apenas nos passes curtos no último terço, Paulinho é jogador da Liga que mais ocasiões de golo já criou: 37, à frente de Bruno Fernandes (29), Alex Telles e Brahimi (28). 

Paulinho é, por isso, um jogador que vai «alimentar» os avançados do FC Porto e ajudar a colocar muitas vezes a bola em zonas de perigo. Mas embora não seja um jogador veloz, Paulinho também acrescenta qualidade individual - é o 2º jogador com mais dribles completos na Liga, com 43, só atrás de Brahimi, que já leva 101. Gelson Martins também tem 43 dribles eficazes, mas já falhou 33 tentativas, enquanto Paulinho falhou apenas 16. 

É este o cartão de visita de Paulinho, restando saber quanto custará a sua eventual inclusão a título definitivo no plantel. Tendo em conta que a SAD do Portimonense é controlada por Teodoro Fonseca, e que o clube de Portimão não iria simplesmente emprestar um jogador-chave ao FC Porto sem garantias de nada, resta saber quanto terá o FC Porto, no futuro, que desembolsar por esta operação - e se será (apenas) efetivamente Paulinho a ser contratado. 

Convém recordar que o Portimonense nunca vendeu um jogador por mais de 1 milhão de euros, logo, ouvir falar em valores de 6 a 10 milhões de euros por jogadores como Paulinho ou Nakajima, que têm 20 jogos de I Liga na carreira num clube que está 4 pontos acima da linha de água... Não combina. Contratar qualidade sim, sobrevalorizar na hora da compra não. 

Paulinho é, assim, uma boa adição ao plantel. Já Waris... é uma incógnita, uma surpresa total, um tipo de contratação que não é habitual ver o FC Porto fazer. Waris estava na II liga francesa e praticamente não joga desde o início de novembro - fez apenas 26 minutos desde então. Não é um jogador com o ritmo competitivo recomendável para encaixar já na equipa. 

Waris começou no futebol sueco e estreou-se em 2012 na Europa. Não se adaptou minimamente ao Spartak Moscovo e também teve uma experiência pouco produtiva no Trabzonspor, da Turquia. Só na Liga francesa deu algum ar da sua graça, com 29 golos em 72 partidas. Pode não parecer muito, mas é, por exemplo, uma média de golos muito superior à que Aboubakar trouxe de França (26 golos em 108 partidas). Logo, o registo passado pode significar muito pouco: Waris pode perfeitamente marcar muito mais pelo FC Porto do que marcava pelo Lorient.


Na pré-época, Waris esteve perto de ir para a Premier League, para o Burnley, mas a transferência gorou-se e isso contribuiu para que a sua permanência no Lorient não fosse pacífica, até porque era o jogador mais bem pago do plantel. E como é claro, um jogador que passa da hipótese de ir para a Inglaterra à Segunda Liga francesa não fica particularmente satisfeito. 

Waris faz todas as posições do ataque, polivalência que não existia no plantel do FC Porto, embora em França tenha jogado quase sempre no eixo central. Não tem a dimensão física de Aboubakar e Marega, mas é um avançado bastante veloz, forte nas diagonais e bom a explorar o espaço nas costas da defesa, caraterísticas que são do agrado de Sérgio Conceição. No entanto, taticamente não é um jogador particularmente evoluído e sempre apresentou algumas dificuldades no 1x1, fazendo sobretudo da velocidade a sua principal arma, não tendo a capacidade de Aboubakar ou Marega para segurar a bola. Enquanto Aboubakar e Marega conseguem ganhar metros no choque com os defesas, Waris procurará fugir dos defesas e atacar o espaço. 

É portanto um avançado com caraterísticas diferentes. Neste momento é essencial perceber se Waris está bem fisicamente e com ritmo competitivo para entrar na equipa, além de ter que se adaptar a uma nova realidade - em França, no Lorient, jogava para o pontinho e em contra-ataque; aqui terá que se encaixar numa equipa dominadora, que nem sempre terá o espaço que Waris procura nas costas da defesa adversária. 

Sérgio Conceição diz que conhece Waris da Liga francesa. Posto isto, só podemos mesmo esperar que Conceição conheça e deseje Waris mais do que Nuno Espírito Santo conhecia ou desejava Depoitre. 

2 comentários:

  1. pra ja o waris sera sempre muito melhor que hernani por exemplo que nao joga nada, paulinho sera melhor que andre2, layun, otavio. Fisicamente sao pequenos mas o ganes e muito forte fisicamente, sao dois jogadores que podem acrescentar bastante a este plantel do porto. Ja nao sei se paulinho e melhor que varela, Luizao deveria integrar a equipa A.

    ResponderEliminar
  2. Waris é uma incógnita, tem um percurso pouco famoso mas à semelhança de outros, espero que seja uma agradável surpresa e se torne uma mais valia.
    Paulinho tem qualidade sem dúvida, precisa mostrar que tem andamento para clube grande.
    Assim de repente, são duas boas notícias, trazem profundidade e esperança no entanto, face às dificuldades financeiras, não seria melhor optar por Mikel, Quintero e Rui Pedro?
    E a questão dos GR? Na minha opinião seria emprestar Fabiano, precisa recuperar a forma física, ganhar confiança e ritmo para assumir a titularidade no próximo ano.
    Cumprimentos

    ResponderEliminar

De e para portistas, O Tribunal do Dragão é um espaço de opinião, defesa, crítica e análise ao FC Porto.