A época 2014-15, em termos contabilísticos e financeiros, acaba amanhã, dia 30. Neste momento tudo se resume a isto: ou a venda de Jackson Martínez é fechada até à meia-noite de terça-feira e o orçamento será cumprido e superado em termos de expetativas de lucro, ou a SAD vai apresentar prejuízo anual dois anos consecutivos pela primeira vez desde o pós-Gelsenkirchen.
Já todos perceberam que algo de errado se passa. Nélio Lucas e Galliani brindam à contratação de Jackson no avião, o presidente anuncia que Jackson escolheu o Milan, depois aparece o Atlético e Pompeo dá-o por garantido em Madrid, tal como o próprio jogador. Temos tudo para uma novela mexicana. Ou colombiana.
Querem? Paguem. |
Ponto prévio: Jackson Martínez é/foi capitão do FC Porto, três vezes Dragão de Ouro (o recordista) e passou três épocas a levar a equipa às costas, com máximo profissionalismo e capacidade de sacrifício dentro de campo (que é o que importa, não é as palavras bonitinhas fora dele). Provavelmente nunca tivemos um jogador tão bom em 3 épocas tão atribuladas. Logo, não queriam começar a vender o filme de que a culpa é do jogador.
Foi de facto o FC Porto quem trouxe Jackson para a ribalta europeia. Trouxe, não descobriu, porque na altura já era um nome muito falado para a Premier League, e talvez só não tenha assinado antes pelo Liverpool pois era difícil atribuir licença de trabalho na altura. Mas para a história fica que foi o FC Porto quem abriu as portas da Europa a Jackson Martínez. Depois, surge a célebre promessa de Pinto da Costa. Como Deco, Quaresma ou Falcao a tiveram. Como até o próprio Varela teve e depois foi encostado. «Ficas mais um ano e depois sais».
Mas claro, para isso acontecer, há que haver um comprador disposto a pagar o que o FC Porto quer. Por vezes corre mal, como foi exemplo Varela e até Quaresma, que em 2008 passou de 39,999.999M€ para 18,6M€, com o perdido Pelé à mistura. Para Jackson não há esse problema, pois é um jogador com mercado e que tem características quase únicas no futebol europeu. Se calhar há melhores pontas-de-lança. Mas como Jackson não há mais nenhum. E vender um ponta-de-lança que vai fazer 29 anos acima dos 30M€ é simplesmente brilhante.
E todos se aperceberam disso desde o início. A matilha começou cedo a cercar o osso, a começar pela controversa troca de agentes, de Manso para Pompeo, com uma bifurcação na SAD pelo meio, sendo que um dos desvios nem integra o mapa de órgãos sociais - e nunca há-de integrar. Qual foi o interesse em Pompeo passar a representar Jackson? Absolutamente nenhum. Um empresário sem rede, sem contactos para grandes transferências. O FC Porto atribuiu-lhe, na renovação de Jackson, 5% de uma futura transferência. E para quê, se na hora de vender para o Milan teve que ser pelo tipo do costume (Jorge Mendes)? Que fez Pompeo para o FC Porto lhe atribuir um potencial valor de 1,75M€? Jorge Mendes sim, justifica grandes comissões, pois tem sido um ganha pão para FC Porto e Benfica. Agora Pompeo?
Na verdade, Pompeo (na condição de procurador para Jackson) acabou por apresentar a proposta do Atlético de Madrid, que decidiu agir numa operação-relâmpago quando tudo se conjugava para Jackson rumar a Milão. E Pompeo vem agora ameaçar dar nomes aos bois. Só há um pequenino problema para este empresário: ele disse que o Atlético ia pagar a cláusula de rescisão. Logo, tudo isto quer dizer, tal como se temia aqui, que o Atlético não se disponibilizou, até à data de ontem, a pagar cláusula nenhuma.
Se o Atlético quisesse de facto pagar a cláusula, Pompeo não tinha que andar a pedir reunião nenhuma. Era muito fácil, bastava Jackson notificar a SAD - até podia ser por fax, como Villas-Boas fez - com vista à rescisão e o Atlético fazer o depósito dos 35M€ à ordem. Como parecia ser mais lógico, o Atlético até pode estar disposto a pagar os 35M€, mas nunca a pronto.
Assim, a SAD só vende se quiser. E tal como Jackson Martínez não estava obrigado a ir para Milão, o FC Porto também não está obrigado a vendê-lo ao Atlético. A solução? Tudo sentado à mesa, a pensar nos superiores interesses do FC Porto, e não em decidir quem faz ponte para onde. Tal como em campo não ganham os jogadores, mas sim o clube, fora dele quem deve ganhar é sempre o FC Porto.
Se as restrições da FIFA forem de facto aplicadas, no máximo será atribuída uma comissão de 1,05M€, além dos 1,75M€ a que à partida Pompeo terá direito. Se o Atlético quisesse de facto pagar a cláusula, não se começaria a discutir Moya - não vale a pensar falar em Óliver pois já era ponto de interesse antigo, que dependerá sempre da pré-época que fizer com Simeone. Assim sendo, que façam valer as suas boas relações, que se sentem à mesa e que se concretize o melhor para o FC Porto, que é o dinheirinho ser contabilizado até à meia-noite de dia 30.