Nada como esperar para ver. Era o joelho que estava pior que o do Mantorras, era o jogador que fez novas exigências (mesmo já tendo assinado o pré-acordo antes de viajar para o Porto), sabe-se lá que mais terá nascido da criatividade dos que argumentam com base no «pelos vistos». Ainda estou para descobrir que «vistos» são esses.
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Aboubakar à Fabiano |
Aboubakar é dragão até 2018, a troco de 3 milhões por 30% do passe. Uma estratégia adequeada e que salvaguarda todos os interesses da SAD. O FC Porto já não fazia um negócio assim desde Luís Fabiano, há 10 anos, quando comprou 25% por 1,87 milhões e 75% ficaram na GSI. Com Aboubakar, o FC Porto periodicamente também poderá comprar mais percentagem do passe (esperemos que não fuga muito à referência de 10 milhões), à medida que o jogador for rendendo e dando provas de que pode ser o sucessor de Jackson. Embora a percentagem do passe seja menor, o FC Porto já tinha usado esta estratégia com Licá, Herrera ou Quintero há um ano.
O FC Porto não está a investir sem paralelo, está a investir com disciplina. Está a formar (já formou!) um grande plantel, sabendo trabalhar com todas as condicionantes. É por isso que há três jogadores por empréstimo, contratações com recurso a alienações antecipadas, quatro contratações a custo zero. E é tão verdade que o FC Porto pagou 11 milhões de euros por Adrián (o investimento que mais comichão faz a muita gente, mas que será melhor compreendido quando sair o R&C do primeiro trimestre) como o Benfica recebeu 8,6 milhões pelo Roberto.
No caso de Aboubakar, é melhor investir com alguma inflação num jogador que já sabemos que é bom (os 13,4 milhões por 40% de Hulk foram pornográficos, mas valiam cada cêntimo) do que investir 10 milhões de euros, num momento de aperto financeiro, num suplente. Se Jackson vai ficar, não faria sentido Aboubakar ser desde já mais caro do que ele para passar grande parte de um ano no banco.
Missão cumprida: temos um grande plantel, com dois excelentes jogadores por posição, e com um líder competente não só no plano técnico-táctico como na gestão do clube. Aboubakar é forte fisicamente, ágil, tecnicista, finaliza bem com os dois pés, mas tem que ser trabalhado para jogar mais vezes de costas para a baliza, uma vez que no Lorient tinha luz verde para virar e rematar. Até o consegue fazer de forma mais espontânea do que Jackson, mas há trabalhinho pela frente, Buba!
E agora sobra um pequeno problema: a Champions
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Não há mais espaço na Champions |
Na lista de 17 jogadores formados fora do país, para entrar Aboubakar outro terá que sair. As opções são: Fabiano, Andrés, Danilo, Alex Sandro, José Ángel, Maicon, Indi, Reyes, Casemiro, Herrera, Óliver, Evandro, Brahimi, Quintero, Tello, Adrián e Jackson. E lembremos que nesta lista não estão Helton, Opare, Marcano e Carlos Eduardo. Se entrar mais um médio, possibilidade ainda não descartada, outro terá que sair. E face à polivalência nos defesas disponíveis, alguém terá que ser sacrificado neste sector, que ainda pode fazer correr tinta.
Quanto aos jogadores formados no país, para a lista A, só há quatro no FC Porto: Ricardo Nunes, Ricardo Pereira, Quaresma e Sami. Caso algum destes seja dispensado, não poderá ser inscrito ninguém no lugar deles. Entre os formados no clube, o FC Porto só inscreveu David Bruno, o único disponível.
Na lista B estão: Kadu, Andorinha, Caio, Rafa, Verdasca, Tomás Mota, Rui Silva, Mikel, Francisco Ramos, Graças, Tomás, Rui Moreira, Belinha, Clever, Leandro Silva, Macedo, Kelvin, Gonçalo, André Silva, Fréderic, Mata, Sérgio Ribeiro, Ivo, Bruno Costa e Rúben Neves.
Mas vamos regressar ao tema inicial, o investimento do FC Porto para 2014-15. Já aqui tínhamos analisado, há um mês, o
pânico desprovido de coerência: colunistas, comentadores e adeptos rivais estão em pânico com o investimento do FC Porto, que dizem ser um «
all in». Facilmente desmitificámos isso, pois há um ano o Benfica apresentou o maior orçamento da história do futebol português e pagou
49,3 milhões em reforços. E este ano, será que o FC Porto terá o maior investimento? Pois... não.
Benfica é quem mais investe para esta época
O SL Benfica é o clube que, neste momento, mais gastou em reforços para 2014-15. E se já lemos e ouvimos comentadores defenderem que «o FC Porto, pelo que está a gastar, está obrigado a ser campeão», então aguardamos a mesma coerência: se o Benfica é quem gasta mais, então está obrigado a ser bicampeão. Vamos às contas de merceeiro.
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Indi, um dos reforços |
O FC Porto contratou Adrián (11M), Indi (7,7), Brahimi (1,5 com alienação), Tello (2M por empréstimo), Andrés (1,6), Casemiro (emp.), Óliver (emp.), Evandro (1), Marcano (2), Ángel, Opare, Sami e Ricardo Nunes (custo zero) e agora Aboubakar (3). Contas feitas, e ignorando as tranches de pagamento que vão além de 2015, são 29,3 milhões de euros. Curiosamente, apenas mais um milhão do que o investimento do FC Porto na época passada (a diferença entre investir muito e investir bem, pois o plantel deste ano é incomparável ao da última época).
Já o rival Benfica, investiu, até ao momento, em Samaris (10M), Talisca (4), Benito (3), César (3), Bebé (3), Derley (2,5), Dawidowicz (2), Djavan (1,5) e Eliseu (1,5), excluindo aqui as contratações a custo zero e as que terão despesas por litígio. Contas feitas, são 30,5 milhões de euros em reforços, sabendo-se ainda que o Benfica procura mais um avançado.
Claro que sobra a questão: e os salários? Pois bem, a não ser que alguém conheça o contrato de cada reforço, é impossível debater esta questão com rigor. Mas que Aboubakar, Brahimi ou Indi ganhem mais do que Luisão, Gaitán ou Salvio tenho dúvidas. De qualquer forma, guiando-nos pelos últimos números oficiais, o Benfica gastou uma média mensal de 4,735 milhões de euros em 2013-14, enquanto o FC Porto gastou 4,376 milhões.
Portanto, aguardamos um mínimo de rigor e critério com as expectativas para esta época. Afinal, o clube que mais investe é o Benfica e é o clube que está sob maior pressão para ser campeão, seguindo a lógica dos que profetizam a desgraça caso o FC Porto não chegue ao título.