terça-feira, 1 de setembro de 2015

Análise ao fecho de mercado: entradas mexicanas

Lopetegui queria que os últimos dias de mercado servissem para fortalecer a equipa. Objetivo cumprido. Não saiu nenhum jogador essencial e, em contrapartida, chegaram mais dois jogadores para preencher lacunas no plantel. Layún e Corona, ambos mexicanos. Um bom desafio para o FC Porto, tendo em conta que tem sido muito discutido o porquê de haver poucos jogadores mexicanos verdadeiramente consagrados na Europa. Basta dizer que entre as equipas de Liga dos Campeões, o melhor mexicano a jogar na Europa talvez seja mesmo o nosso Héctor Herrera, como o defende esta revista mexicana. A título de curiosidade, mais dois textos sobre o tema, aqui e aqui

Adiante. A manobra para o fecho de mercado era, como se sabia, reduzida. E dentro das limitações existentes, quem lidou melhor com elas foi o FC Porto, pois nenhum dos rivais se conseguiu reforçar como desejava no fecho do mercado. Já se sabia que não haveria grandes aventuras perto do soar do gongo, pois não havia margem para investir mais. Basta lembrar que se falou num central (Rudiger) e num médio criativo (Lucas Lima), duas soluções da Doyen Sports, e como não se chegou a nenhum deles acabou por não vir nem central nem médio.

Sugiram então dois nomes que chegam pela mão de Marcelo Simonian, o empresário sul-americano que mais jogadores colocou no FC Porto desde 2005. Grande parte deles flops e jogadores que, se não fossem agenciados por ele, dificilmente poderiam sonhar em jogar num clube desta dimensão. Mas dizem os otimistas que um Otamendi ou um Falcao compensa os Quiñones, os Predigers e os Benítez. Estão no seu direito, mas um Otamendi e um Falcao, fosse quem fosse o seu empresário, teria sempre qualidade para singrar no FC Porto. Já um Prediger ou um Benítez...

Corona, 22 anos
Falemos de Corona. Para já, o que importa saber é se é O extremo. Se foi contratado, tem que ser. Há cerca de dois anos já tinha estado perto de ser reforço, precisamente pelas mãos de Simonian (numa altura em que traz/ajuda a trazer Reyes, Herrera, Victor Garcia, Caballero ou Quinõnes), mas é agora que chega ao FC Porto. 

O negócio é um exemplo de como contornar a partilha de passes proibida pela FIFA. O grupo de empresários de que Simonian fazia parte tinha 70% do passe, o Twente apenas 30%. Antes disso, o Twente já tinha anunciado a Doyen Sports como investidora do clube e o referido fundo tinha ficado com uma percentagem de receita sobre Corona. Na Holanda há quem diga que os 70% estão, agora, nas mãos da Doyen Sports, o que se desconhece como sendo correto. Certo é que o Twente tinha direito a 30% desta transferência... e o FC Porto comprometeu-se a dar-lhe 30% da próxima. O Twente entende-se com Simonian, Simonian entende-se com o FC Porto, Corona é reforço e só o R&C poderá fornecer um pouco mais de informação oficial, como por exemplo quanto é que o FC Porto avançou, para já, na contratação de Corona. Noutros tempos, nomeadamente antes da proibição da partilha de passes, Corona não teria custado já 10,5M€, tal como Imbula não custaria 20M€. Novos tempos. Por Corona, dificilmente sairão mais do que 5M€ dos cofres até o início do exercício 2016-17. Que faça valer esse dinheiro e muito mais até lá. Podemos ter aqui, em Tecatito, uma grande surpresa - ou antes confirmação.

Seguiu-se Miguel Layún. a contratação mais surpreendente e também conseguida através de um contexto de possibilidades (inclusive apresentado junto a Carlos Gonçalves, que nem sequer tem Layún na carteira da Proeleven). O que mais se tem destacado sobre ele é a polivalência. É bom um jogador saber fazer várias posições, mas nunca podemos justificar uma contratação com base na polivalência: temos que idealizar o jogador para uma determinada posição. Neste caso, é para o lado esquerdo da defesa.

Layún, 27 anos
As melhores referências sobre Layún são o seu papel no 3x5x2 do México de Miguel Herrera. Faz bem todo o corredor, dá profundidade ao ataque e cruza bem. Mas terá que aprender a combinar melhor com o extremo no seu corredor (o que é diferente de ter um corredor só para ele) e terá que melhorar defensivamente, pois já não há um terceiro central, mais desviado para o lado esquerdo, para o cobrir (já conviveu com essa realidade a nível de clubes). E é bom que comece a dar-lhe no ginásio, pois para jogar a lateral no FC Porto e na Champions vai precisar de mais força e cabedal, mesmo já tendo 27 anos. 

Chega por empréstimo e vai jogar numa equipa europeia dominadora, e que luta por títulos, pela primeira vez. Antes disso, teve uma passagem falhada pela Atalanta, de Itália, e fez a ligação Granada-Watford através da família Pozzo. Chega emprestado pelo Watford, onde estava a ser titular, o que diz uma de duas coisas: ou o Watford não o considerava imprescindível, ou o Watford não tinha grande margem para se pronunciar sobre o futuro do jogador. Um pouco à imagem do caso Corona-Twente.

Agora, Corona e Layún são dragões e servem o mesmo propósito que os demais colegas: ajudar o FC Porto a regressar aos títulos... e a mostrar por que somos um dos clubes mais populares e apreciados no México. Já outros manifestam sensações como a que é descrita abaixo, e até fazem com que um ex-jogador do clube diga coisas como esta: «Senti que algo de corrupto se passava na Luz», Kikin Fonseca dixit.


E Corona pode fazer a vontade a muita gente: fazer com que na lista de campeões 2015-16 esteja lá Jesus. Bem vindos, Corona e Layún.

PS: A análise ao fecho de mercado, desde empréstimos a rescisões, continuará nos próximos dias. 

8 comentários:

  1. Questão importantíssima, que certamente não será ignorada nos próximos posts: a entrada de Layún para o lado esquerdo significa a saída de Ricardo, do lado direito. Popularidade do Ricardinho entre os adeptos à parte, isto quer dizer que, quando o Maxi estiver indisponível ou quando o treinador rodar a equipa, só sobra para o corredor direito aquele que foi contratado para ser o lateral-esquerdo. E o Layún, não descansa? Vai fazer 50 jogos a titular e jogar os 90 minutos?
    Isto é tudo muito bonito, mas faz pouco sentido termos 1 lateral direito e 3 esquerdos. Só mostra como o plantel é desequilibrado, com excesso de opções em certas posições e escassez noutras.
    Resta-me desejar que o risco compense: Layún tem uma capacidade de finalização excepcional para um lateral, mas não pode subir nem arriscar tanto aqui como o faz na selecção do México. Além disso, tem um vício (diagonais para procurar o pé direito e rematar) que tem de saber contornar neste Porto de Lopetegui, que precisa de laterais que saibam ir à linha. Se se adaptar bem e se for bem trabalhado, dificilmente não dará a profundidade desejada, mas lá está, sendo consistente a defender. Caso contrário volta para lá o Indi e começamos a parecer certos clubes que não atinam com o lateral-esquerdo.

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    1. Secalhar, mas só secalhar, Layún será rendido por um lateral esquerdo e descansa nessa ronda não?

      Secalhar, mas só secalhar, temos miúdos na B, essencialmente Vitor Garcia, que pode fazer jogos da taça de Portugal e Liga, contra equipas de menor dimensão não?

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  2. desta vez na minha opiniao a sad trabalhou bem, livrou se de uma serie de emplastros ou quase, pos algumas promessas a rodar e la arranjou 2 jogadores que podem ajudar alguma coisa. Agora o treinador que os ponha nas posiçoes certas, que de dinamica ao grupo e que forme definitivamente uma equipa. Os mexicanos por norma nao sao muito intensos a jogar mas tem de aprender rapidamente.

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  3. Um dos mais sérios problemas do Reyes foi, precisamente, a sua falta de rotina a uma defesa de 4. Sempre jogou, até chegar ao FCP, como o terceiro central ou o médio defensivo, sempre acostumado a ter de varrer para a ala contando com o apoio de dois colegas. O salto à Europa foi dificilimo precisamente por isso. A maioria dos centrais mexicanos na Europa sofreu muito nos primeiros anos - Moreno, Marquez - e o caso do Layun passa pela mesma linha. Na Atalanta foi manifestamente fraco, no Championship beneficiou-se do jogo vertical do Watford mas continuou a demonstrar carências defensivas. Nos jogos "a doer" da Champions vai ser dificil ver a sua melhor versão!

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  4. Gostava que alguém me pudesse esclarecer o porquê de os jogadores mexicanos raramente renderem no futebol europeu? Têm frequentemente bons resultados nas competições de seleções jovens e quando chegam à Europa não dão o salto qualitativo, no mínimo extranho. O último que jogou e era titular numa equipa que ganhou a Champions foi provavelmete o Rafa Marquéz no Barcelona.

    Cumprimentos

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    1. http://www.futebolmagazine.com/mexico-o-futuro-do-futebol-americano

      Aqui tens um exemplo.
      Liga fechada, empresas donas de clubes na mesma liga que viciam resultados, atraso táctico acente num modelo quase sempre de 3-5-2 que na Europa não tem eco, super-proteção dos jogadores pelas familias que raramente viajam com eles, salários muito altos que não convidam a emigrar, desorganização administrativa que contagia de um certo "pasotismo" jogadores e treinadores, etc...

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  5. Eu para mim a mior pergunta, que ninguém até agora fez é a seguinte. Agora que joga no Porto será que o Corona vai passar a chamar-se "Super Bockito" em vez de de "Tecatito"?

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  6. o vitor garcia participou na pre temporada com a equipa principal? não.

    então porque é que o estão a por com opção para a direita? Claro que não temos 3 laterais esquerdos e 1 direito... ou se calhar 4 laterais esquerdos contando com o indi.

    a época é longa e desgastante... espero não ter que ver o danilo a central por não haver coragem de por o lichnovsky a jogar.

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