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sexta-feira, 31 de julho de 2015

Trânsito das Bermudas

Qualquer pessoa pode ganhar dinheiro no futebol, sobretudo após a FIFA ter liberalizado o mercado de intermediários. E a limitação das intermediações a 3% do valor das transferências entre clubes iria trazer uma nova realidade a quem, não pertencendo necessariamente ao futebol, ganha dinheiro através do futebol há muitos anos: mais free agents e mais Rentistas. Ou mais Sud Américas.

Tradição, não novidade
Não é uma prática inaugurada por Osvaldo, nem há um par de anos, nem nesta década. É uma prática recorrente no futebol português, envolvendo não só todos os grandes clubes como aqueles que passaram da primeira liga à extinção em pouco tempo: os jogadores passam, o dinheiro não fica lá e o clube não tem como resistir.

Um exemplo para lançar o tema, o Salgueiros e... Deco. Deco já estava na mão de Jorge Mendes quando o FC Porto o comprou, por cerca de 400 mil contos na altura, apenas por metade do passe. Já estava plantada a realidade de empresários/fundos chegarem, muitas vezes, primeiro do que os clubes aos jogadores. E às vezes chegam ao mesmo tempo, por mútuo interesse, e faz-se a ponte.

Mais tarde, já após Sevilha, o FC Porto acaba por comprar mais 40% por um total de 3,5 milhões, 700 mil contos na moeda antiga. Sempre ao ritmo de Jorge Mendes, empresário que já deu muito dinheiro ao FC Porto (à imagem do que faz com o Benfica), mas que também já ganhou muito, mas mesmo muito às custas do clube. Deco foi só um exemplo, mas até poderíamos recordar Anderson, que foi vendido à Gestifute uma semana antes de o FC Porto o ter contratado.

A diferença é que sabemos com o que podemos contar com Jorge Mendes. Negócios exorbitantes e essenciais para as contas da SAD, como Falcao, James, Moutinho e Mangala, passaram pelas suas mãos, embora a preço pago e bem pago. O problema são outras pontes sem rosto.

Alex Sandro, Hulk e Walter são exemplos de jogadores que são inscritos em clubes fantasma, alvos de investimentos inflacionados no momento da contratação e aos quais o FC Porto se submeteu para conseguir os jogadores. Mas todos eles tinham algo em comum: eram jovens, não estavam livres de vínculos, havia perspetivas de evolução e futura transferência (ninguém preveria, no momento da contratação, aquilo em que Walter se tornou). Com Osvaldo, é simplesmente mama descarada.
Meios desnecessários
para um fim

Osvaldo está sem clube desde o início do mês. Assina pelo Sud América para depois assinar pelo FC Porto. E o que seria uma transferência em free agent torna-se uma transação entre dois clubes, com tudo o que isso implica: comissões que seriam evitáveis. Poderiam dizer, «se o FC Porto quer o jogador tem que aceitar estas condições». Provavelmente não tem. Osvaldo tem idadezinha para decidir o seu futuro. É difícil de imaginar um jogador com tantos problemas de hierarquização no seu passado como um refém da vontade de um grupo de empresários ou dirigentes. Osvaldo quer o FC Porto e o FC Porto quer Osvaldo? Sim. Então é mesmo necessário ir ao Uruguai para chegar a esse desfecho?

São coisas dos meandros do futebol, que não se tornam novidade com Osvaldo, mas podem e dever implicar questões. Dois casos muito célebres foram também Caballero e Kayembé. O primeiro iria custar apenas direitos de formação, dizia o advogado, mas acabou por custar 1,53M€, pagos à MHD, S.A. Já Kayembé estava livre, sem contrato profissional com o Standard, e um ano depois custa 2,65M€ por 85%, pagos à Danubio Finanzierungsleistungen und Marketing GMBH. A Danubio e a MHD não são mais do que uma variação de Rentistas: basta um escritório numa esquina qualquer e um registo comercial. Vida boa.

Como agora os fundos/empresários não podem ter direitos económicos de jogadores, os Rentistas e os Sud Américas vão multiplicar-se. E as transferências a custo zero, que de zero nada têm, também. Osvaldo é o primeiro exemplo. Se marcar 30 golos e o FC Porto for campeão, ninguém se lembrará dos meios, nem questionará o quanto custará. Mas impõe-se sempre a reflexão: até para contratar no mercado nacional a Doyen interferiu - e sem a Doyen não haveria nenhum investimento alto neste defeso -, e até para contratar um jogador livre tivemos que ir fazer ponte ao Uruguai. Que autonomia resta?

A Osvaldo resta desejar juízo e boa sorte. Há muita gente a esperar grandes coisas de ti. Ah, e o FC Porto também.

PS: Quantos dos brasileiros (e já são sete, com mais dois provenientes do Rentistas Sud America Portimonense) que chegaram ao FC Porto B continuarão no clube em 2016-17? Será interessante descobrir.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

No country for enfants terribles

O perfil estava traçado: ponta-de-lança experiente, internacional, alto e forte fisicamente, tecnicamente competente, capaz de dar garantias a curto prazo enquanto os mais jovens e altamente promissores pontas-de-lança dos quadros do FC Porto evoluem. Entre os nomes que estiveram na mesa, só Mitrovic se desviava deste perfil, por ser excessivamente caro e não melhor do que Aboubakar para o curto prazo. A escolha do FC Porto recai então em Pablo Osvaldo.

O risco compensará?
Para ter uma solução para a posição 9, o FC Porto corre um grande risco. Em termos de qualidade, Osvaldo tem-la. É o típico 9 que, num contexto de futebol português e jogando numa equipa grande, garante golos. É muito forte, ótimo de cabeça, lutador, bom finalizador, pressionante, embora seja mais homem de área do que de apoio. Tecnicamente razoável. Neste momento, terá que melhorar a sua condição física para ser opção, pois está parado desde maio. Aboubakar vai começar a época como titular, Osvaldo terá que esperar. Mas a maior incógnita não é essa.

Vida de excessos fora dos relvados, agressões a colegas, problemas com treinadores e dirigentes, vasto currículo de episódios disciplinares... E podíamos ficar aqui a noite toda. Tudo um currículo rico em episódios que não se podem enquadrar no FC Porto. Nem um, quanto mais múltiplos.

Osvaldo tem 29 anos. Passou por sete clubes desde 2009, está livre há um mês e nenhum clube, nem mesmo os italianos (que gostam sempre de apostar em jogadores nacionais experientes) lhe quis pegar. Surge então o FC Porto, que lhe dá talvez a última oportunidade de atinar, ser importante num clube de Champions, fazer uma época generosa em termos de golos e quiçá poder sonhar com o Euro 2016.

É uma transferência a custo zero (haverá encargos, como é lógico, mas processa-se em regime free agent), um contrato de duração mais curta do que habitual (e o ideal é que, num caso de risco como este, o FC Porto se defenda mais com cláusulas de rendimento do que garantias salariais). O risco, por aqui, já se diminui. Mas a grande incógnita aqui não é financeira, é desportiva. A saída de Quaresma deveu-se, em grande parte, à necessidade de assegurar um bom balneário, de não manter um jogador com ego grande de mais para caber no banco. Como será com Osvaldo? Osvaldo não será o tipo de jogador que encontra conforto no banco, mas terá que se sentar lá muitas vezes. Terá percebido isso nos últimos anos de carreira?

Desportivamente, Osvaldo acrescenta valia ao plantel do FC Porto, embora tenha praticamente que começar a pré-época em agosto e vá precisar de um par de meses para estar em condições de competir. Tudo o resto, mais do que uma incógnita, é um risco. O FC Porto corre um grande risco para encontrar uma solução. Há muito a ganhar, pois Osvaldo tem o perfil de ponta-de-lança que garante golos jogando numa equipa grande num campeonato pequeno. E também há a perder. Tanto para Osvaldo como para o FC Porto.

A boa notícia, para Osvaldo, é que tem aqui a oportunidade de começar do zero. Pode fazer uma boa carreira ao serviço do FC Porto, voltar a ser um goleador, a ganhar títulos, a recuperar o seu espaço na seleção italiana. Mas para isso só pode pensar em ser futebolista, em respeitar as hierarquias, em concentrar-se meramente em ajudar o FC Porto a cumprir os seus objetivos. O FC Porto pode ser apenas mais um clube onde fez merda ou um clube onde foi importante e feliz. A escolha depende, sobretudo, de Osvaldo.

Assim que a transferência for oficializada, que comece a dar razão a Pinto da Costa, Antero Henrique e Lopetegui. Com golos e profissionalismo tudo se resolve. 

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Habemus presidente

A entrevista de Pinto da Costa a O Jogo foi o prólogo da vitória de Pedro Proença nas eleições da Liga. E podemos começar por aqui: é uma ótima solução. Tem o perfil ideal, ironicamente até mesmo por ter sido árbitro - vai ter muitos, muitos conflitos e discórdias para mediar e vai colher ódios de diversas facções.

A Liga não está no centro de poder de decisão no futebol português, mas é a entidade que representa os clubes. Logo, era essencial ter na sua liderança alguém íntegro, competente, que não chega onde chega por subserviência, que percebe de futebol e gestão.

Pedro Proença foi uma pessoa que sempre fez por merecer respeito no panorama do futebol português. Pela ignorância de milhares de pessoas, muitas vezes foi dado como principal culpado pela derrota do Benfica contra o FC Porto no clássico do «golo do Maicon». É preciso imensa burrice ou má fé para culpar Pedro Proença por isso, tendo em conta que o erro, que existiu, foi do auxiliar Ricardo Santos. Mas o facto de Pedro Proença ter chamado a si próprio a responsabilidade mostra desde logo que tem o perfil ideal na Liga: não tem medo de responsabilizar-se por erros que não comete, notando que se a sua equipa erra, ele erra. Assim se forma um bom líder.

Ser adepto do Benfica não importa. De lembrar que o próprio presidente Pinto da Costa foi presidente da Liga. Fernando Gomes é portista e, apesar de ter sido um bom dirigente do FC Porto, tem sido um mau presidente da FPF para o futebol português - mas há quem tenha mais razões de queixa do que outros. A competência não tem clube. 

Pedro Proença tem o perfil ideal para presidir à Liga. Resta apresentar trabalho que sustente a escolha. Em termos de propostas, há as novas tecnologias de arbitragem a implementar, naming para a segunda liga, regulamentar as apostas online, aumentar as receitas e fomentar a sustentabilidade dos clubes - os dois últimos serão os maiores desafios do programa. Outro aspeto a merecer total atenção é ver que passamos de um ex-presidente anti-Olivedesportos (Mário Figueiredo) para um que tinha o apoio de Joaquim Oliveira. Para já fica a nota. Boa sorte, meu querido.

Passando à entrevista de Pinto da Costa, eis os destaques.

Um lateral de 30M€
Alex Sandro. Excelente notícia a garantia de que vai renovar. Dos três grandes, o FC Porto é o que perdeu mais titulares: Danilo, Casemiro, Óliver e Jackson, e ainda podemos incluir Quaresma e Fabiano. Temos a aposta da continuidade no treinador, mas há muito no futebol e nos métodos de Lopetegui que tem que ser melhorado e, em alguns aspetos, mudado. Basta lembrar o que se passou na última vez que o FC Porto jogou sem os dois laterais dos últimos anos: goleada em Munique.

Um misto de audácia, coragem e risco confirmar que recusou 30 milhões por Alex Sandro. Porque isso vai elevar a expetativa face à mais do que provável transferência no próximo verão. Alex Sandro deixou de ser o lateral dos quase 10M€: passou a ser o lateral dos 30M€. Só me lembro de dois laterais esquerdos vendidos dentro desse valor, Coentrão e Luke Shaw. É realista pensar em Alex Sandro com valor de mercado de 30M€ daqui a um ano? Se a sua continuidade ajudar o FC Porto a atingir os seus objetivos, uma eventual descida no preço valerá a pena; mas para o FC Porto atingir os seus objetivos, muito provavelmente necessitaremos de um Alex Sandro tão bom ou melhor do que no último ano. Um paradoxo com o qual nos devemos preocupar mais tarde. Até lá, metam lá Rafa a rodar numa equipa de primeira liga, ok?

Políticos. Ver políticos no futebol cheira a esturro a Pinto da Costa. Escolha de palavras algo discutível, tendo em conta que escolheu Fernando Gomes para pegar na pasta das finanças da SAD. Não é que o responsável financeiro tenha que ser um génio da tática - Angelino Ferreira não o era -, e uma estrutura pressupõe que diferentes competências se complementem. Mas que era evitável, era, ainda que a intenção tenha sido arrumar com Luís Duque.

Descartado em 2011-12
Rafa. Faz todo o sentido descartar a sua contratação. Não tanto pelo absurdo que era pedir 10M€ por metade do seu passe, mas sim por se tratar de um jogador que, quando estava no Feirense, recebeu vários pareceres positivos do departamento de scouting e o FC Porto, mesmo no ano de criação da equipa B, descartou a sua contratação. Nem iria ser uma contratação para o 11 ou que iria melhorar fracamente o plantel no curto prazo. Neste momento, só faz sentido ir ao mercado para contratar soluções mais experientes e/ou melhores para o curto prazo do que as que já se encontram no plantel. Vale também para o ponta-de-lança, claro.

Camisolas. «Não somos vendedores de camisolas». Ok, não somos. Mas quando temos um jogador com o mediatismo de Casillas, faz todo o sentido pensar em sê-lo. O próprio FC Porto ganhou grande apreço em mercados como México ou Colômbia. O FC Porto só tem a ganhar em pensar em expandir o seu mercado de vendas e merchandising. De notar que não se falou do patrocínio. Porquê? Provavelmente porque Pinto da Costa não quis falar disso. À atenção de Helton, a propósito do seu silêncio ruidoso para com Lopetegui.

Casillas. Pinto da Costa diz que Casillas ganha tanto como Fabiano e Andrés Fernández juntos. Então, desportivamente de facto foi bom emprestar os dois guarda-redes para arranjar espaço para Casillas. Resta saber se Granada e Fenerbahçe vão pagar os seus salários na totalidade. De qualquer forma, o aspeto mais relevante aqui é questionar como é que Fabiano e Andrés tinham salários tão altos, fazendo fé que Casillas custará 2,5 milhões limpos esta época. Fabiano tinha meio ano de titularidade quando renovou até 2019 - meia época depois foi dispensado. E Andrés foi contratado por um valor baixo, nunca jogou no campeonato, um ano após chegar foi emprestado e ainda assim também tinha, aparentemente, um salário alto. Assim se explica uma folha salarial de 70M€.

Para terminar, o aspeto mais curioso. O FC Porto precisa de um médio criativo? Sim. Danilo Pereira é um médio criativo? Não. Imbula é um médio criativo? Não. Então por que é que as contratações de Danilo e Imbula fizeram, segundo Pinto da Costa, com que Lucas Lima deixasse de ser essencial? Well played. 

PS: Gonçalo Paciência renova e segue para a Académica. Era essencial jogar com regularidade esta época. Um jogador que esteja no 3º ano de sénior tem obrigatoriamente que estar numa primeira liga, caso contrário torna-se difícil evoluir no sentido de jogar no FC Porto. É melhor do que Rabiola, é melhor do Rafael Lopes. É também menos experiente, mas é para isso que vai para a Académica: acumular experiência, golos e prosseguir a sua evolução. Esperemos que o futebol de José Viterbo seja algo mais do que jogar para o pontinho e na raça e que ajude Gonçalo a evoluir. Ficamos à tua espera. 

domingo, 26 de julho de 2015

Não há imodium que pare isto

A diarreia continua. E vai continuar pelo menos até 2016, ano em que termina o mandato de Vítor Pereira. Até lá, continuaremos a ter um presidente do CA que passa mais tempo no Seixal do que a prezar pela transparência e competência no futebol português.

Imune a ataques
O sorteio dos árbitros não era bom para a classe de arbitragem, mas era essencial para o futebol português. Sobretudo porque era a única forma de retirar a Vítor Pereira a capacidade de gerir nomeações que só agradam à minoria, que não têm lógica, coerência ou princípio de critério para todos os clubes. Só um clube sai beneficiado disto acima de todos os outros: o Benfica. Precisamente o clube que mais fez força contra o sorteio. 

O poder da liga, infelizmente além de ser redutor (tem apenas 20 delegados de um universo de 88 - e houve 17 que se calhar também tiveram problemas intestinais, por isso faltaram à votação), tem o sentido de voto comprometido. Na AG da Liga, houve 28 votos a favor e 16 contra. Tudo isto porque a maioria dos clubes já não consegue ignorar o que se passa no CA. Apenas um clube descansa com tudo isto, pois se a coisa no mercado não está a correr da melhor forma há que manter o cavalo de tróia que se chama nomeações: vai soltando um grego (leia-se, árbitro) de cada vez, conforme a vontade de Vítor Pereira.

Na época passada, o FC Porto assobiou para o lado. A reação à AG da Liga, para já, resume-se a um «cartão amarelo alaranjado da maioria dos clubes a Vítor Pereira» no Dragões Diário. E pronto, é isto. 2014-15 já mostrou que Lopetegui e um grande plantel pode não chegar para o título se o manto estiver bem estendido. O FC Porto vai perder pontos ao longo da época, como é natural. Depois façam-se as contas de quantos pontos o FC Porto perdeu por culpa própria e de quantos o rival ganhou por mérito de outrem. E no final culpa-se Lopetegui e uns quantos jogadores, certamente.

Chega de passividade. Não se ganham campeonatos em piloto automático, não se ganham campeonatos seja quem for o treinador. A última época foi a fatura do que se começou a desenhar há quatro anos. Nas eleições de 2011, o FC Porto não ficou com nenhum dos 20 delegados da Liga à AG da FPF (seria apenas um voto, mas marcaria posição). Nem sequer marcou presença na reunião que decidiu, na altura, a lista, nem votou. Porque chegou-se a um ponto de crença de que o FC Porto ganharia de qualquer forma, sob qualquer circunstância. Enquanto o FC Porto ficou à margem deste processo, eram eleitos, entre delegados e suplentes, ilustres como...

1. Pragal Colaço, advogado de Jacinto Paixão no processo Apito Dourado e colaborador da Benfica TV.

2. Mário Figueiredo, não outro que não o próprio ex-presidente da liga.

3. Carlos Deus Pereira, não outro que não o ex-jogador do Benfica e antigo escudeiro de Mário Figueiredo na presidência da Liga.

4. Herve Santos, ex-membro do Conselho Fiscal da Liga, cuja lista tinha no ex-dirigente do Benfica Adriano Afonso o presidente da Mesa da AG. Lista essa que tinha o Benfica como representante da primeira liga, ao contrário de FC Porto e clubes como Sporting, Braga ou Guimarães.

5. Horário Bastos, eleito pela Oliveirense mas benfiquista assumido no seu perfil no Facebook.

6. João Martins, que fez parte do departamento jurídico do Vitória SC que tentou afastar o FC Porto da Champions em 2008.

7. Bernardo Vasconcelos, secretário da ANJE, que teve no candidato à presidência do Benfica Bruno Carvalho um dos vices e é liderada por João Koehler.

8. Ricardo Lopes, que também não se coíbe de mostrar a preferência pelo Benfica nas redes sociais.

9. Lércio Pinto, rendido aos slogans «34» e «ninguém para o Benfica» nas redes sociais.

10. Manuel Barbosa, que aparenta não estar muito satisfeito com as saídas de Jorge Jesus e Maxi Pereira, mais uma vez com base num perfil social e em comentários pouco elegantes.

De notar que pela liga são eleitos apenas 20 delegados. Isto é um cheirinho de quem tem a palavra no futebol português. Vítor Pereira controla as nomeações a bel-prazer, promove e despromove árbitros sem critério. E tudo que o FC Porto tem para responder a isto é um cartão amarelo alaranjado?

Sócio não, já adepto...
Uma ideia: lembram-se de ver Jacinto Paixão na Benfica TV? Que tal convidar Marco Ferreira para falar no Porto Canal? Está há semanas a escrever textos gravíssimos no Facebook. Tirando a RTP Informação, que fez o serviço público que lhe competia após a despromoção, Marco Ferreira não falou a nenhum órgão de comunicação social. É ele que não quer dar entrevistas ou não querem que o entrevistado seja ouvido?

Fun fact, Marco Ferreira cresceu como simpatizante do... Benfica. Quando lhe perguntaram, numa entrevista antes de um Sporting-Benfica, se era adepto do Benfica, ele disse que não era... sócio. Ou seja, não disse que não era adepto, disse que não era sócio. De qualquer forma, era um dos bons árbitros do futebol português. Errava, como todos erram, mas sem insistente parcialidade.

Marco Ferreira em 2014
Além disso, era uma pessoa com genuína paixão pela arbitragem. Marco Ferreira tinha uma carreira como bancário que lhe daria segurança e dinheiro até ao fim dos seus dias. Mas deixou a carreira de bancário para se dedicar à arbitragem. Por paixão, dizia ele. E é possível acreditar que sim. O resultado foi uma CA que lhe cuspiu na cara.

E o problema não são só as nomeações de árbitros. São também as dos observadores, como tão bem critica Marco Ferreira. Em 2013, Vítor Pereira recusou passar a tornar públicas as notas dos observadores. Agora queixa-se que é necessária transparência. Curioso, então por que escondeu as notas dos observadores? E os critérios para nomear os observadores, podemos conhecê-los? Não são avaliados, não têm classificação. Os observadores surgem a convite de Vítor Pereira, que se perdesse o controlo das nomeações, perderia tudo. E um determinado clube também.

Deixem, pelo menos, falar Marco Ferreira, porque já deu para ver que não há imodium suficiente no mundo que pare isto.

PS: Pedro Proença é uma boa solução para a Liga. Infelizmente, parece ser uma pessoa demasiado íntegra, coerente e competente para ser bem aceite no futebol português. Por cá, merece apreço suficiente para ser a melhor solução associada à Liga em muitos anos. 

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Notas de pré-época

Bom teste de pré-época. Bom na medida em que expõe, desde logo, muitos erros a corrigir. E o tempo de errar e fazer experiências é este. Em 2014-15 Lopetegui dedicou-se quase sempre ao 4-3-3 na pré-época e depois sentiu-se a falta de um esquema alternativo mais rotinado. Hoje já começou a experimentar nesse sentido, mesmo sem grande sucesso.

Borussia 2x1 FC Porto
O Borussia está numa fase da pré-época muito mais adiantada, fez uma excelente Bundesliga, jogou em casa (o FC Porto só ganhou 3 de 15 jogos na Alemanha), o fator físico é muito decisivo nesta fase e o próprio FC Porto tem rotinas físicas, táticas e técnicas a melhorar. Vai levar o seu tempo, como é natural. Mas há desde já notas a reter.

Se Lopetegui quer jogar com quatro médios, então que jogue com quatro médios. Óliver é um jogador não só inteligentíssimo como ágil e tecnicista, que lhe permitia estar entre o papel de quarto médio e terceiro avançado. Evandro não. A ideia de colocar Evandro nesse papel não parece promissora. Se Lopetegui quer jogar com quatro médios, então que jogue com quatro médios, não com algo que não é bem extremo, não é bem médio, e que nem sequer potencia o melhor que o jogador nessa posição tem.

Por outro lado, há a rever a falta de criativos. Quintero foi dado como dispensável e para emprestar a um clube europeu estrangeiro, Óliver saiu e entre os reforços não há propriamente nenhum médio criativo. Criativo na medida em que seja capaz de desequilibrar sozinho, de tirar um ou dois adversários da frente, e não apenas de fazer o último passe e de prolongar a circulação. O mais próximo disso seria Bueno, mas sente-se que ainda falta algo ali no miolo. Algo a preencher.

O FC Porto teve uma falta de criatividade evidente na zona central. Não havia capacidade para um jogador arriscar, criar espaço, ser mais vertical. Se não houver essa capacidade, a equipa perde-se num futebol Defouriano, de constantes trocas de bola para trás e para o lado, à espera que algo apareça. Tello era o único com velocidade para rasgar na primeira parte, mas o Borussia jogou com a linha defensiva recuada e esteve sempre à espera do erro do adversário. Dois erros, dois golos (Casillas tem que melhorar na rapidez a reagir às bolas rasteiras). 

De positivo, sobretudo, Aboubakar. Sempre a pressionar, sempre a dar apoio aos médios, a recuar para dar linha de passe e segurar a bola, e ele próprio a tentar desequilibrar e arriscar. Muito bem. Pode é haver o problema que havia com Jackson: Lopetegui pede tanto ao 9 que recue e dê apoio ao meio-campo que, depois, ou a equipa desacelera ou impõe velocidade e arrisca-se depois a não ter ninguém na grande área. Há que gerir bem o esforço do 9 e do médio mais adiantado.

Outra boa notícia é, sem surpresa, Varela. Joga como um miúdo de 20 anos que luta pela oportunidade de uma vida e que tem algo a provar. Não inventa. Recebe, define, executa. Drible fácil, cruzamento prático. Não tenho dúvidas de que estará em quase todos os jogos com Lopetegui. E se estiver sempre com esta atitude e objetividade, melhor.

Lopetegui procurou mais criatividade na segunda parte, mas aí faltava capacidade física. Brahimi não estava bem, e para poder jogar em profundidade é essencial que os jogadores estejam já numa boa condição. Assim é natural que se tenha priveligiado mais a circulação e o futebol apoiado. Mas não há que enganar, assim teremos dificuldades contra os autocarros da primeira liga. Que tal um 4x4x2 que não pensa em quatro médios, mas sim em quatro avançados?

Marcano também esteve a um nível bastante bom, sobretudo físico. Já Maicon vai para 7ª época a querer complicar o que deve facilitar e a insistir em charutadas que são repetidas demasiadas vezes para não serem, também elas, um pedido do treinador. Não faz sentido expor tanto um central ao início de construção tendo bons médios na saída de bola. Simplifica, Maicon. Já José Ángel tem que perder o vício de se enrolar e andar à volta da bola. Ou passa ou progride. O seu ponto fraco é a cobertura. Por isso, quanto mais tempo mantiver a bola, sobretudo na zona recuada, pior. Se Alex Sandro sair haverá um novo lateral, mas quem fica no plantel tem sempre que dar garantias como alternativa.

Tempo de corrigir os erros. Quantos mais houver nesta fase, melhor. Pré-épocas cor-de-rosa podem disfarçar muita coisa. Assim, como diz Lopetegui, sabemos o que precisamos. E não basta ter soluções no plantel: é preciso soluções dentro de campo. Segunda-feira será melhor. Daqui a três semanas terá que ser bom.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Braçadeira, estatuto ou prémio

Lopetegui, que é o tipo de treinador que prefere decidir quem é o capitão (ao invés de deixar o balneário votar), recomendou que Alex Sandro fosse incluído no grupo de capitães. Isto leva a uma única questão: é uma sugestão por o perfil de Alex Sandro ser adequado ou é um trunfo nas negociações para renovar?

O JOGO 23-07-2015
Não é segredo para ninguém que o FC Porto tem pouca mobília no plantel. Helton, o jogador com mais anos de casa, vai ser suplente durante quase toda a época. Maicon esteve perto de sair, mas acabou por ficar e já com estatuto reforçado (como foi prova o facto de ter sido o porta-voz na apresentação dos equipamentos, em detrimento de por exemplo Helton). Varela tem anos de casa, já foi sub-capitão, mas após ter estado uma época fora percebe-se que não seja considerado. Se Rolando não estivesse encostado, nem haveria discussão.

Tirando os nomes referidos, o elemento mais antigo do plantel é Alex Sandro. Tendo em conta a antiguidade, acaba por ser um passo natural. Mas será que o perfil de Alex Sandro encaixa no que deve ser o capitão do FC Porto? Talvez não. A questão que resta é, quem mais há?

Alex Sandro é um jogador discreto. Nunca deu entrevistas a jornais portugueses (apenas uma à Revista Dragões), gosta de estar sossegado no seu canto e dentro de campo poucas vezes o veem a gritar com os colegas ou a dar instruções. Além disso, é um jogador que pediu para sair este verão. Pinto da Costa recusou abordagens bem interessantes, o que quer dizer que está plenamente convicto da sua continuidade (ou que algum clube torna-lo-lá pelo menos no segundo lateral mais caro da história do FC Porto).

É que desta vez nem há tempo para uma saída de emergência como foi a de Álvaro Pereira, que foi vendido ao Inter por metade do que poderia ter saído um ano antes para o Chelsea, pois na altura o uruguaio tinha contrato por quatro anos. Alex Sandro só tem um. E não parece a melhor das apostas dar a braçadeira a um jogador com a promessa de sair um ano depois. Foi esse o caso de Jackson Martínez, mas o perfil do jogador era completamente diferente. 

A braçadeira não devia ser recebida com base nos anos de casa, mas sim no perfil. Por exemplo, André André, quando estava emprestado pelo Varzim, foi promovido a capitão na primeira semana de treinos dos sub-19. E Lucho González foi o primeiro estrangeiro a ser capitão na primeira época no FC Porto. Quando o perfil está lá e há bom balneário, um líder surge naturalmente.

Não é a primeira vez que Lopetegui usa a braçadeira com uma segunda intenção. Há um ano quis que Quaresma, desde o primeiro dia, se sentisse valorizado, acarinhado e importante no grupo. Correu mal, pois ao primeiro jogo em que foi para o banco agiu como um capitão não pode agir. Ficou sem a braçadeira. Alex Sandro terá um dado a seu favor se ficar, que é o da titularidade quase indiscutível. Helton não vai ser titular, Maicon não terá o lugar garantido no 11 (mesmo que inicie a época assim), Alex Sandro sim. Pode, por isso, entrar em campo muitas vezes como capitão. Oxalá Lopetegui não se engane quanto ao seu perfil e que haja balneário capaz de seguir um jogador que até há bem pouco tempo queria sair e que, se ficar, provavelmente sairá em 2015-16. Terá também de haver um crescimento de Alex Sandro no sentido de ganhar voz de comando dentro e fora de campo.

PS: Se o deixarem cá estar quietinho, em breve a braçadeira de capitão poderia deixar de merecer dúvidas quanto à sua atribuição.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Três reflexões presidenciais

A propósito da entrevista do presidente ao El País, alguns comentários em relação a alguns trechos que merecem atenção. 

«P. Lopetegui provenía de la escuela del tiqui-taca, nada que ver con el tradicional del Oporto, de fortaleza atrás.
R. Hay veces que no necesito un entrenador como Lopetegui. Cuando tengo en el equipo a Hulk, Falcao y James, me es indiferente el entrenador. Con ellos es difícil no ganar. Pero entramos en un periodo en que no teníamos esos jugadores ni la capacidad económica para sustituirlos, y el trabajo es diferente.»

Pontos a reter da entrevista
O FC Porto teve, em 2010-11, o melhor plantel dos últimos anos (opinião, pois isto é sempre subjetivo). Mas quando tínhamos Falcao, James Rodríguez ainda não era um titular habitual. Tínhamos, então, Hulk e James, ou Falcao e Hulk. De qualquer forma, de lamentar que se continue a desvalorizar o papel que um treinador tem no FC Porto. Acreditar que íamos ser (e fomos) campeões só por ter Hulk, Falcao e James é tratar um treinador como um apêndice, um dos erros cometidos em 2013-14. Villas-Boas teve mérito e Vítor Pereira também. Muito. Dois grandes treinadores que passaram pelo FC Porto e que deram muito ao clube, mesmo tendo sido apostas de risco pelas quais o presidente deu a cara. Que a aposta em Lopetegui seja o fim dessa ideia mirabolante de que no FC Porto quem ganha é a estrutura. Ganha a estrutura se tiver um bom treinador. Não foi nada bonito desvalorizar de tal forma Vítor Pereira e Villas-Boas.

Por outro lado, Pinto da Costa revela por que Paulo Fonseca não teve nenhum dos jogadores que pediu para 2013-14: havia dificuldades económicas. O prejuízo recorde no final dessa época vai ao encontro dessa afirmação. Mas se no exercício de 2013-14 se gastam 4,1M€ só em Caballero e Kayembé, isto indica que por vezes o problema não é ter pouco dinheiro, mas sim gastar mal o pouco que se tem.

«P. El Oporto se caracteriza por comprar futbolistas baratos y venderlos caros.
R. (...) Caros son los que se compran baratos y luego no juegan. Yo vendí, decían que caro, a James por 45 millones al Mónaco. Y un año después lo compraba el Madrid por 70.»

Quase que vai direto ao parágrafo anterior. Caros são os que são contratados para não jogar. Pinto da Costa tem toda a razão. Não vale a pena estar agora a pensar em Quintero, Reyes ou Ghilas, tudo contratações para o tal período de transição em que faltou dinheiro. Caro é Sami, que vai começar a dança na Turquia à Djalma, e quem continua com contrato com o FC Porto sem ter perspetivas de entrar na equipa principal.

Percebe-se a afirmação de Pinto da Costa, sobretudo após a aposta em Imbula. Mas para manter Imbulas, não pode, ou não deve, haver Samis. Nada que o presidente do FC Porto já não saiba.

«P. El Oporto lleva dos años sin ganar nada, algo inédito en su mandato. ¿Cómo califica el trabajo de Lopetegui?
R. El primer año estuvo bien, pero el próximo va a ser mejor. No ganó nada, pero estoy satisfecho. En la Liga, un estudio de los arbitrajes demostró que al Benfica fue favorecido con siete puntos. Y en la Champions nos eliminó el Bayern en cuartos.»

Não há portista que não concorde que os dirigentes do FC Porto assistiram com demasiado silêncio (para não dizer indiferença) à forma como o Benfica se fez (ou foi feito) bicampeão. Mas esta é nova: Pinto da Costa fala de um estudo, que se desconhecia, que diz que o Benfica foi favorecido em sete pontos. E fala de um estudo «na Liga». 

Que estudo é esse? Quem o fez? Onde o podemos consultar? Por que é que só agora, em plena pré-época 2015-16, se realça os dados desse estudo? É certo que é incompleto, pois o Benfica, por si só, conquistou bem mais do que sete pontos às custas de erros de arbitragem. Dizer que o Benfica foi favorecido em sete pontos quase demonstra um desconhecimento face ao que foi o campeonato, pois só à 24ª jornada já tinha havido intervenção de erros de arbitragem em 14 pontos, segundo a análise de ex-árbitros internacionais. Todos gostaríamos de ver esse estudo de que Pinto da Costa fala, que é pertinente agora, mas que durante a época ninguém se lembrou de trazer à praça pública.

Que esta entrevista seja, também, uma forma de detetar erros que não serão cometidos em 2015-16. O treinador, Lopetegui, já não é desvalorizado, bem pelo contrário. Em termos de investimento, Pinto da Costa traz a máxima «caro é quem não joga» para sustentar a aposta no investimento em Imbula (o rosto desta aposta, por ter sido, até ver, o único oficializado), mesmo indo contra muitas das contratações do FC Porto nos últimos anos, como Caballero, Kayembé ou Sami, só para citar três nomes já referidos. Para já, em termos de equipa A, não houve nenhuma contratação impertinente, embora com diferentes graus de risco financeiro e desportivo. Já é um primeiro passo, mas a equipa B e os sub-19 até têm sido uma porta de entrada de maiores males do que o plantel principal.

Por fim, as arbitragens. Pinto da Costa expõe a forma como o Benfica chegou ao bicampeonato, mesmo sem o maior dos rigores, o que já é um importante passo. A liga portuguesa terá maior mediatismo em 2015-16. Vítor Pereira e companhia continuarão a alastrar o cancerismo que se abateu sobre o futebol português, mas as atenções estarão mais viradas para cá do que nunca. Esperemos apenas que o FC Porto, nomeadamente os seus dirigentes, não assistam com a mesma passividade da última época.

Todos queremos que Pinto da Costa, no último ano do 13º mandato, consiga mais um titulo de campeão ao serviço do FC Porto e quiçá algo mais (o plantel está a ser desenhado para bem mais do que lutar pelo título em Portugal). E como o presidente pôde constatar em 2014-15, ter um grande plantel e máxima confiança na equipa técnica não chega. 

domingo, 19 de julho de 2015

Lidar com precedentes

Discute-se a ausência de um central, a definição do meio-campo e a chegada do ponta-de-lança que falta. Uma questão não menos importante, pelo contrário, tem passado um pouco ao lado: o caso Alex Sandro. À data de hoje, está a pouco mais de cinco meses de poder assinar por outro clube a custo zero.

Renovação: a que custo?
Os responsáveis do FC Porto sabem que Alex Sandro sente que é tempo de abraçar outro desafio. Danilo, o seu companheiro de sempre, já saiu. O FC Porto passou a ter apenas quatro brasileiros no plantel - menos, nos últimos anos, só na primeira época completa de Mourinho. Já passou 4 anos no FC Porto e ouviu, da boca do diretor-geral, que joga num clube onde os jogadores têm ciclos de três épocas para sair. Tem convites tentadores, mais para o jogador do que para o clube, como é natural para um jogador que está quase em final de contrato. Que fazer?

Quando um jogador em fim de contrato hesita em renovar, tende-se a condenar o jogador e realçar que a SAD fez o seu papel. «Já ofereceram a renovação e o jogador não quis. Querem que faça o quê, que lhe aponte uma arma à rótula!?» Pois, mas esta não pode justificar tudo. Sendo Alex Sandro um jogador em quem a SAD investiu quase 10M€ e que é hoje reconhecidamente um dos laterais esquerdos de maior potencial, a SAD não pode nunca perder o controlo da situação do jogador. É responsável por um alto investimento num ativo caro, valioso e que continuará a ter alta cotação desportiva e/ou financeira. 

Não se podem admitir mais Cebolladas, sobretudo neste fase financeira, de exigível rigor devido ao fair-play financeiro e à própria sustentabilidade da SAD. Assuma-se: ou renova ou sai por um valor aceitável/possível. Alex Sandro tinha um contrato de 5 anos e houve muito tempo para tratar e antecipar esta situação.

Há possibilidades de recuperar o investimento, seja negociando o passe, seja estudando-o como possível moeda de troca (coisa que o FC Porto raramente faz, pois por norma a SAD não precisa de jogadores, mas sim de dinheiro, logo seria necessário uma grande conjugação de oportunidades para isso acontecer). Certo é que a SAD não se pode deixar ultrapassar por esta situação. O problema não está apenas na manutenção de Alex Sandro. Estará também na necessidade de voltar a atacar o mercado. 

A renovação não é uma impossibilidade, pois Pinto da Costa é perito em convencer jogadores que estão decididos a sair com a promessa clássica de permanecerem mais uma época, com melhor salário, e então esperar por melhores possibilidades de mercado. A questão é: o que é preciso para convencer Alex Sandro a ficar?

Sempre que o FC Porto tem que convencer um jogador a ficar, já estamos a ir por um mau caminho. Os jogadores têm que desejar representar o FC Porto, e não o contrário. Não há nada que uma boa proposta de renovação (veja-se os casos de Fernando ou Jackson Martínez) não resolva. E os jogadores, depois disso, não se acomodam, pelo contrário, ficam mais incentivados do que nunca, ao perceberem o esforço que o FC Porto está a fazer por eles. Pelo menos os bons profissionais.
Precedente aberto

No final, tudo se pode resumir à proposta de renovação. Mas oferecer uma proposta não chega. É preciso que todas as partes sintam que estão a fazer o possível. E tudo se resume a esta questão: não terá Alex Sandro, agora, legitimidade em pretender ganhar tanto ou mais do que Maxi Pereira no FC Porto?

Alex Sandro só precisou de 2 anos no FC Porto para ser bicampeão, coisa de que Maxi precisou 7 anos para fazer. Alex Sandro tem os melhores anos de carreira pela frente. Maxi Pereira não. Alex Sandro tem o potencial para dar um grande encaixe financeiro à SAD a curto/médio prazo. Maxi Pereira não. Alex Sandro é cobiçado por alguns dos melhores clubes estrangeiros. Maxi Pereira nunca o foi. Por fim, Alex Sandro empenhou-se, mesmo muitas vezes em modo molengão, durante 4 anos em combater a trincheira da qual Maxi Pereira fazia parte.

Maxi Pereira trocou o Benfica pelo FC Porto. Alex Sandro não faria o contrário. Por tudo isto, Alex Sandro tem toda a legitimidade em querer ganhar tanto ou mais do que Maxi Pereira. É um precedente que foi aberto, e agora cabe à SAD lidar com ele. Alex Sandro não pode dar prejuízo. Seja financeiro, seja desportivo. A contratação de Maxi Pereira não era apenas um risco pelo que custa, mas sim por aquilo que podem passar a custar os seus colegas. Precedente aberto, tempo de lidar com ele. 

sábado, 18 de julho de 2015

Negócios do berço e nova rodada de excedentários

Em janeiro, Hernâni no FC Porto e Sami, Ivo e Otávio em Guimarães. Em julho, André André no FC Porto e Tozé, Otávio e Licá em Guimarães. As relações do Berço à Invicta são boas e recomendam-se desde a entrada de Júlio Mendes. Altura de fazer a questão: quem ganhou mais com estes últimos negócios? Na sua proximidade com o Sp. Braga, muito superficialmente referenciada aqui, o FC Porto nunca ganhou nada. Como será em Guimarães?

Ainda sobre a questão dos empréstimos de janeiro, de Sami, Otávio e Ivo. Sabia-se perfeitamente que iam ser um fiasco. Otávio e Ivo, jogadores sem experiência de primeira liga, dificilmente iam ter grandes oportunidades de entrar na equipa titular num espaço de pouco mais de 4 meses. Otávio ainda teve algum espaço no 11 e vai voltar a ter uma oportunidade. Já Ivo Rodrigues desperdiçou meia época e agora regressou à estaca zero: equipa B. Não é um drama, pois vai para o 2º ano de sénior, mas é preciso tentar encontrar o quanto antes uma oportunidade de primeira liga.

Demasiado caro
para esperar
Otávio foi uma aposta da SAD, como foi Sami, mas com grande diferença. Otávio foi caro (2,5M€ por 33% do passe - entretanto reduzido a 32,5%), muito caro para ficar na equipa B. Logo é importante dar-lhe já futebol de primeira liga. Neste caso, sabemos que Otávio tem potencial, tem talento, houve sentido desportivo em apostar nele (embora a avaliação tenha sido claramente inflacionada). Temos que saber que tipo de futebol Armando Evangelista vai praticar em Guimarães (é tão bom ou melhor a trabalhar com jovens do que Rui Vitória, o que é um upgrade), pois a jogar para o pontinho é difícil que os jogadores evoluam no sentido de darem o salto para o FC Porto. Otávio tem que mostrar serviço em 2015-16.

Sami ainda não teve colocação. Uma sugestão: quem teve a ideia de o trazer para o FC Porto agora que arranje uma saída. Não se admite um novo empréstimo, pois é um jogador que nunca vai jogar no FC Porto e que só andará a arrastar-se, numa espécie de Djalma 2.0. Não está - nunca esteve - em causa o caráter, o profissionalismo e até a qualidade do jogador (tem-la - não o suficiente para o FC Porto, mas tem-la), mas sim o saber-se, desde o primeiro dia da sua contratação, que nada o justificava desportivamente.

Oportunidade
 completa
Entretanto chegou Hernâni, que vai fazer a primeira época completa, com pré-época incluída. Chegou a ser dado como dispensável e «emprestável» ao Guimarães. O FC Porto demorou três dias a desmenti-lo, o que indica que de facto o seu futuro esteve em dúvida, mas acaba por ficar no plantel. E tinha que ser assim, logicamente. Pagar 2,9M€ por 75% de um jogador para depois dipensá-lo 5 meses depois seria absurdo e a prova de que a contratação de Hernâni foi demasiado reativa a fogo de vista.

Sobre o jogador, o de sempre: pela velocidade e capacidade de jogar em transição rápida, destaca-se. De resto, está ainda muito longe de poder singrar no FC Porto, pois nunca praticou um futebol de posse, circulação, contra equipas que jogam em bloco baixo. Era difícil entrar logo na equipa em janeiro, mas agora terá uma oportunidade completa. Ficarei agradavelmente surpreendido se de facto se afirmar esta época.

Falta encontrar
espaço
Depois chegou André André. Esta reportagem do MaisFutebol sobre ele é deliciosa, pois mostra bem o caráter do jogador. Quando um jogo lhe correr mal, no dia seguinte não vai passear no shopping, nem tirar selfies, nem vai dormir de noite. Vai ficar tão mal disposto quanto os adeptos. É excelente ter no plantel jogadores com este caráter. André André só terá um grande problema/desafio pela frente: não é melhor do que nenhum dos médios que já estavam no plantel. E dispensar Evandro por isto seria absurdo. Há uma grande diferença em relação a Sérgio Oliveira: o Sérgio só dura bem 60/65 minutos por jogo. A partir daí, revela o desgaste e começa a tomar más decisões, quer no passe, quer no posicionamento e denota-se a falta de intensidade. Já André André tem pulmão de sobra e é muito resistente, disponível para todos os momentos do jogo. É um fator a seu favor e oxalá isso lhe garanta, pelo menos, lugar no plantel, pois mesmo não sendo titular habitual terá utilidade, sobretudo se vamos fazer cerca de 50 jogos na próxima época. Que aproveite da melhor forma a pré-época, sem Herrera e sem ainda o meio-campo estar fechado.

André André tinha uma cláusula de 1,5M€. Não se sabe quanto o FC Porto pagou por ele, mas ao ceder novamente Otávio, emprestar Licá e transferir Tozé a título definitivo é de esperar que André André já esteja «pago». 

Crescer longe
de casa
Sobre Tozé. Mesmo durante as suas duas épocas no FC Porto B, houve sempre alguma discórdia sobre o seu potencial. Não revejo, ainda, em Tozé caraterísticas para integrar o plantel principal do FC Porto. Tem boa qualidade de passe, não inventa, mas tem que aprender a ser um pouco mais que um chuta-chuta (chuta bem, mas é preciso mais). Será bom para ele sair de casa para crescer. Foram 10 anos de ligação ao clube (começou nos infantis, com André Gomes, Gonçalo Paciência e Fábio Martins), 3 como sénior, e é tempo de Tozé apostar no seu caminho. O FC Porto faz bem em assegurar uma palavra sobre o seu futuro.  

E por fim Licá. Um disparate, este empréstimo. Dependendo do futebol apresentado pelo Guimarães, Licá será um bom reforço para eles, pois encaixa bem numa equipa de transição rápida, que joga contra blocos mais subidos. Não esquecer que chegou a ser considerado um dos melhores jogadores da primeira liga em 2012-13, pois Licá encaixa bem nesse modelo. O problema é que no fim da época só terá mais um ano de contrato com o FC Porto. Vai haver possibilidade de recuperar o investimento? O FC Porto, ou os representantes de Licá, não conseguem encontrar uma solução de transferência a título definitivo em tão vasto mercado? «Então e se o empréstimo de Licá for a moeda de troca por André André?» Oxalá o R&C assim o indique, mas ter Tozé e Otávio já era uma contrapartida mais do que generosa, sobretudo porque o Guimarães dificilmente pagará sequer um terço do salário de Otávio. 

Ainda a propósito de algumas saídas já confirmadas:

http://www.fussballzz.de/img/jogadores/17/163617_pri_diego_reyes.jpg
Boa colocação,
se jogar
Diego Reyes na Real Sociedad: oxalá o FC Porto tenha tido fortes razões para crer que será titular. Se sim, é uma boa solução para jogador. 

Andrés Fernández emprestado ao Granada: não faria sentido continuar cá para ser suplente. Boa aposta, tornando-se apenas pouco compreensível por que Lopetegui pediu Andrés para depois quase nunca o usar. 

Kléber vendido ao Bejing Guoan: resta aguardar o R&C para conhecer, de facto, o valor da venda, esperando-se que tenha coberto o investimento que o FC Porto fez nele há quatro anos. Era jogador com mercado para ser vendido por 5M€.

Josué foi novamente emprestado ao Bursaspor. No final da época terá apenas um ano de contrato com o FC Porto. Não foi uma contratação cara (500 mil euros), o que alivia um pouco a pressão da colocação, mas se o Carlos Gonçalves aguentou Pereirinha 3 anos na Lázio podia e devia apresentar melhores alternativas. 

Por fim, Campaña, que não era jogador do FC Porto. Não havia opção de compra e nunca chegou sequer a haver debate sobre a sua continuidade. Não foi muito aproveitado no plantel, e se havia intenção em apostar em jovens para o meio-campo é preferível Sérgio Oliveira e Rúben Neves (deixem-lo estar quietinho, cá, a crescer). E pelo alegado preço que custaria José Campaña chegou Danilo Pereira. Assim é que deve ser.

A resolver/esclarecer o mais rapidamente possível: Opare, Rolando, Djalma, Bolat, Quiñones, Sami, Kayembé, Quaresma e Quintero (bem como as passagens circunstanciais pela pré-época, como David Bruno ou Tiago Rodrigues, e o caso Adrián). Só a resolução destes casos permite ao FC Porto pagar três ou quatro salários que, à partida, parceriam inimagináveis. Repetir ou ultrapassar uma folha salarial de 70M€ seria fazer o pino na corda bamba. 

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Dá cá uma ajuda, Sherlock

«Segundo informações recolhidas pelo zerozero.pt, o médio vai sair do AS Monaco a custo zero, uma vez que os monegascos ainda devem 25 milhões de euros aos dragões pela primeira transação.»

Ok, não devemos ter a quarta temporada de Sherlock antes de 2017, mas dava um jeitaço ter a ajuda do detetive. A missão é esta: tentar descobrir onde é que o Mónaco deve 25 milhões de euros ao FC Porto.

O zerozero, se quiser, pode acompanhar os seguintes passos: ir à CMVM, abrir o Relatório e Contas do primeiro semestre da última época, e ver a rubrica clientes (isto é, quanto dinheiro cada clube devia ao FC Porto no final de 2014).


Pois... não. Nem um cêntimo, Sherlock. De recordar que James e Moutinho saíram, em Maio de 2013, por um valor global de 70 milhões de euros, que geraram mais valia de 25,7 e 15 milhões de euros (de notar que só 15M€, não incluídos na mais-valia, foram deduzidos pela amortização do valor contabilístico do passe), um dos melhores negócios da história da SAD do FC Porto.

Vamos então abrir o primeiro R&C desde que Moutinho e James saíram, precisamente as contas anuais de 2012-13.

Ora então James e Moutinho foram vendidos em Maio. Em Junho, o Mónaco já só tinha a pagar 3,5 milhões dos 70 milhões que movimentaram a transferência. E pagou essa tranche mínima logo de seguida, como se pode constatar pelo R&C que se seguiu.

Elementar, meu caro zerozero. O FC Porto recebeu tudo o que tinha a receber de João Moutinho. Logo, um possível regresso ao FC Porto não é porque o Mónaco deve dinheiro à SAD, mas sim porque o jogador quer regressar a casa, demonstrando ainda o seu portismo ao admitir abdicar de grande parte do salário. O resto é um jogo de paciência que só deve mesmo merecer prognósticos no final, como disse João Pinto e citou Villas-Boas. Impossível era ver Casillas no FC Porto. Mas se Roy Sullivan levou com sete raios, podemos sonhar que um raio caia duas vezes no mesmo sítio.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Lutar por nós sem (ainda) ser um de nós

Maxi Pereira já é jogador do FC Porto. E agora, que fazer? Rasgar o cartão de sócio, fazer boicote aos jogos e passar a assobiar quem veste a nossa camisola? Claro que não. A opinião já foi aprofundada aqui. Agora, Maxi Pereira é mais um a lutar a nosso lado pelo regresso aos títulos. Não é, ainda, dos nossos. Mas vai lutar por nós, que para já é o que basta e se exige. 

Oportunidade
Se estiver em campo com a mesma postura com que representou o Benfica (o tal espírito de sacrífico de que gostamos), tudo estará bem. Dificilmente gozará da mesma impunidade, mas os nossos camisola 2 estão habituados a isso. 

Agora, cabe aos adeptos darem a Maxi Pereira a oportunidade que devem dar a todos os jogadores: a oportunidade de conquistarem os adeptos pelo seu empenho e trabalho dentro de campo. Não temos que subscrever a contratação, mas devemos compreendê-la. Contrato de 3 anos, o que defende um pouquinho melhor o clube, e pouco mais há a acrescentar. De destacar a importância de Pinto da Costa ter dado a cara pela contratação e explicado tudo, embora o negócio tenha sido conduzido por Antero Henrique, como o próprio confirmou.

Não deixa de ser curioso constatar a vulnerabilidade de um Benfica bicampeão. Na sua melhor fase em três décadas, não conseguiu evitar perder o treinador para um rival e um jogador nuclear para outro. Acaba por ser uma consequência da sua frágil situação financeira, mas também que mostra que os seus profissionais nem num Benfica bicampeão sentiram confiança e segurança para continuar. Não deixará de ser uma corrida a 3, mas fica a interessante nota. Ah, e o Sporting só irá buscar quem o FC Porto não quiser, como este mercado já o comprovou. Logo, na hora de escolher, o FC Porto, mesmo não ganhando nada há dois anos, ainda é o mais desejado. Não podemos ignorar o fator financeiro, mas o estatuto também tem dólar.

Não precisamos que Maxi Pereira faça juras de amor ao FC Porto, que comece a renegar publicamente o Benfica e que desate a apregoar portismo. Não, basta que se defenda esta camisola até ao limite, até à última gota de suor, com profissionalismo, e perceber o risco que o FC Porto assumiu ao contratá-lo, não só financeiro como até mesmo na relação adepto-clube. Desportivamente, há muito a ganhar e para ganhar. E o trabalho para alcançar esse objetivo já começou.

Época de afirmação como 9 futuro
Os resultados não merecem grande importância nesta altura, mas é sempre bom abrir a pré-época a ganhar e a fazer golos. Neste caso, com André Silva a marcar pontos. Teve uma época prejudicada em 2014-15 pelo impasse na renovação (que não foi culpa do jogador) e pelo 4x3x3 da B que só dava lugar a Gonçalo Paciência a 9, além de continuarmos sem ter um treinador com mínimo perfil para orientar os bês (isto sim, preocupante, tendo em conta que da B podem sair talentos que valham mais do que meia dúzia de patrocínios - quando houver novidades neste aspeto, serão tema, certamente).

Gonçalo Paciência, já se sabe, vai sair por empréstimo. Percebe-se e aceita-se a decisão, pois vai para o 3º ano de sénior e praticamente ainda não teve futebol de primeira liga. Só se torna incompreensível a decisão de o ter mantido no plantel na segunda metade de 2014-15, tendo em conta que agora sairá para um clube que não terá as rotinas do FC Porto, de futebol de posse que usa o 9 como um apoio e não como uma referência para o pontapé para a frente. Que Gonçalo renove e volte, é o que se deseja e exige. Até lá, André Silva e Leonardo Ruiz (que assinou um novo contrato de empréstimo, decisão lamentável - a cláusula de compra era de exercer logo, pois assim a futura compra arrisca-se a uma inflação e a mais concorrência), com Rui Pedro aos poucos, são os nomes que merecem toda a atenção e dedicação na B. André Silva já está uns degraus acima, o que ainda assim não lhe dá lugar no plantel, mas certamente Lopetegui terá minutos para ele ao longo da época, quando as circunstâncias se conjugarem para tal. 

Falando ainda da formação. David Bruno volta a fazer uma pré-época, novamente por circunstância de carência na posição, mas já vai para o 5º ano de senior sem nunca ter jogado na primeira liga. Tem forçosamente que fazê-lo este ano, para bem da carreira do jogador, que é o miúdo com mais anos de FC Porto na formação. Uma palavra para Chico Ramos, que segundo O Jogo pode ser o novo Rúben Neves e vai ficar no plantel. Provavelmente não será assim, pois o meio-campo ainda vai ter que emagrecer e ainda nem acabou de engordar, mas de destacar que fez um bom primeiro ano de senior na equipa B e é titular no FC Porto e nas seleções desde os iniciados. Tem futuro, mesmo que não seja imediato.

Para terminar, uma palavra a dois jogadores que deixam o FC Porto rumo ao novo brinquedo de Pini Zahavi. Frédéric sai a título definitivo, ficando o FC Porto com parte do passe (tecnicamente de futura venda), e é pena que não tenha renovado e sido meramente emprestado. Não voltou ao Sporting porque não quis e é um nome ao qual não convém perder o rasto. E Pavlovski sai após um segundo ano de empréstimo. Sempre que esteve em campo, vimos qualidade. Por que é que não passou mais tempo em campo, é um mistério. O futuro esclarecerá se foi mal aproveitado, o que parece ter sido. Melhor sorte aos dois miúdos.

domingo, 12 de julho de 2015

Excedentários e uma palavrinha à D. Carmen

Na ausência da análise aos jogadores que estiveram emprestados em 2014-15, passemos a analisar a lista de dispensas do FC Porto e a situação de cada jogador que já pertenceu ao plantel principal, tem contrato com o clube e foi dispensado. Ainda haverá mais dispensas durante a pré-época, que a seu tempo serão também comentadas. Para já, um olhar sobre quem nem sequer começou a treinar.

Opare - Vender. Se nem havendo ainda lateral-direito no grupo de trabalho serve para iniciar os treinos de pré-época, há que transferir Opare a título definitivo. Foi uma solução interessante no mercado (polivalência a baixo custo), mas se não conta, não conta. Uma contratação de pouco risco e que podemos, então, riscar.

Josué - Não conta para Lopetegui e fez uma boa época na Turquia. No final da próxima época só terá um ano de contrato, portanto há que tratar da saída a título definitivo. Podia ser um membro importante no plantel, mas para isso também há que ter paciência para conviver com o banco, coisa para a qual Josué nunca esteve muito virado. Foi das poucas coisas positivas na época 2013-14, mas se ao fim de tantos anos de ligação ao FC Porto ainda não é desta, nunca será. 

Rolando - O desejo resume-se a isto: que se faça com Rolando o que se fez com Varela. Caso contrário, vender e assumir a péssima gestão que se vem fazendo desde há 3 anos para cá com este jogador. Prolongar empréstimos pode ser útil a muita gente, mas não ao FC Porto.

Ghilas - Era muito fácil criticar Paulo Fonseca por só lhe dar os minutos finais dos jogos. Mas também era preciso perceber como Ghilas trabalhava nos treinos. Neste caso, não o suficiente para se afirmar no FC Porto. Já foi emprestado ao Levante, o que lhe vai permitir continuar na liga espanhola. Golos, valorização e possibilidade de recuperar o investimento que se fez nele, é o que se deseja.

Kléber - A reabilitação no Estoril foi razoável, mas não o suficiente para contar para Lopetegui. Tem sido um nome muito rodado em mesas de negociações, de Braga ao Anderlecht, da Turquia à China, onde poderá acabar. É perfeitamente possível recuperar os 3,5M€ investidos em 70% do passe numa venda definitiva. É o mínimo que se pode exigir, lamentado-se que a força mental de Kléber não acompanhe o muito potencial técnico e físico.

Licá - Vender. Não tem as qualidades necessárias para ser útil ao FC Porto. Jogador que só encaixa numa lógica de contra-ataque e não tem perfil para jogar numa equipa de posse, dominadora. Tem contrato por mais dois anos, logo que se esqueça essa ideia de voltar a emprestar. Custou 1,6M€ por 60% do passe. É melhor assumir o prejuízo, o erro de casting e não voltar a adiar a questão com um empréstimo que não o levará a lado algum. Poderíamos exaltar o grande profissional e portista que é Licá (porque é que jogava mais que Iturbe ou Kelvin? Talvez porque trabalhava o dobro nos treinos), mas quando começamos a avaliar um jogador por estes dois pontos é sinal que não há muito a nível técnico que possa ser destacado.

Sami - Colocando as coisas desta forma, já que o tema está na ordem do dia: no dia em que fosse realizada uma auditoria às contas da SAD, a contratação de Sami seria uma das coisas que teriam que ser explicadas. Sabia-se desde o primeiro dia que não faria parte do plantel, e mesmo assim foi contratado com um contrato de 4 épocas. Não briquem: voltar a emprestá-lo seria um absurdo ato de péssima gestão, salvo numa operação em que servisse como moeda de troca.

Djalma - Um ano depois repete-se a questão: estão à espera de quê? Tem mais um ano de contrato. E tem que sair. E de preferência que Sami não seja o seu sucessor nesta dança de empréstimos sem fim nem lógica.

Bolat - Pode-se repetir (como noutros casos) a análise que se fez no mercado de inverno: No 1º trimestre de 2013-14, o FC Porto contratou 3 jogadores: Ghilas, Quintero e Bolat. Aparece o custo de Ghilas (3,8M), o de Quintero (5M) e aparecem depois 1,89M de encargos, que não são discriminados. Esse encargo é Bolat? Não é esclarecido. Se Kayembe veio de Liège sem contrato e depois acaba por custar 2,65M€, o custo zero de Bolat também pode levantar muitas questões. Tem contrato até 2018. Passou a primeira época praticamente a treinar, foi rodar para o Kayserispor e agora emprestaram-lo para ser suplente de Muslera no Galatasaray (quem no seu perfeito juízo achava que ia ser titular?). Tem contrato por mais 3 anos e tudo leva a crer que foi contratado para ser mercadoria. Não necessariamente rentável para o FC Porto. Pelo contrário, até ver, só prejuízo. Uma venda ou a inclusão na equipa A, nada mais se admite. 

Quiñones - Mais de 2M€ investidos num lateral para depois andar a jogar com o Mangala a lateral-esquerdo. Jogou com regularidade no Penafiel, muitas vezes a médio-ala, mas sem evoluir no sentido de ser solução esta época, embora ainda seja jovem (23 anos). Tem contrato até 2016 e ao fim de 3 épocas de um contrato de 4 anos ainda não convenceu ninguém no FC Porto. Não faz sentido renovar e prolongar uma incógnita quando temos problemas muito maiores a resolver na posição de lateral-esquerdo. Se é para investir numa renovação, a de Alex Sandro urge muito mais e a de Rafa dá muito mais garantias futuras. Vender e manter direitos sobre uma futura venda, seria o ideal.

Kayembe - Tem que dar craque, tem. E a confiança era tanta no extremo Kayembe que fizeram dele lateral, agora nem para iniciar a pré-época serviu e já tentaram despachá-lo para a Bélgica. Tem contrato por mais 4 épocas, logo ainda pode e deve ser emprestado a um clube de primeira liga onde possa jogar com regularidade.

Abdoulaye - Já saiu, emprestado ao Fenerbahçe, a um ano do fim de contrato com o FC Porto. O clube não confirmou que tenha renovado, mas é um exemplo gritante da diferença que um empresário e a respetiva proximidade (profissional, pessoal ou familiar) com os dirigentes de um clube pode fazer na carreira de um jogador. É o 5º empréstimo consecutivo. Tomara por exemplo a Ricardo Ferreira, que jogou com Abdoulaye na formação e sempre demonstrou ter o triplo do potencial (já para não falar que é portista ferrenho e há-de ser uma das revelações do Braga), ter tido um décimo das oportunidades. E quem diz Ricardo diz André Pinto ou Lima Pereira, por exemplo. Para não se falar apenas no passado, que se deseje que no futuro Verdasca ou Diogo Queirós tenham um terço da paciência que Abdoulaye teve. Não é pedir muito.

Quaresma - Sendo um jogador com história no clube, é normal que se procure tratar desta situação com alguma harmoniosidade. Mas não vale a pena enganar ninguém: Quaresma foi dispensado pelo FC Porto e informado que não precisava sequer de se apresentar no Olival. Ele disse que estava de férias até dia 10 de julho, o que não era novidade nenhuma. Estava de férias mas também estava dispensado de iniciar a pré-época. Se depois da versão mais altruísta que mostrou em 2014-15 não chegou para ficar no FC Porto, nada chegaria. Lopetegui quer explorar outras soluções e a própria SAD não fará força para que Quaresma continue. O jogador tinha condições para ser um elemento muito útil no plantel, resta saber se teria disposição para passar mais tempo no banco do que dentro de campo (podemos colocar a mesma reflexão a Helton, enquanto há tempo). Foi uma questão muito debatida ao longo da época: Quaresma ama o FC Porto ou o que ele foi/é no FC Porto? Já pouco importa. Agora resta tentar encontrar a proposta que agrade simultaneamente à SAD e ao jogador, o que será muito difícil de reunir.

Insulto ao FC Porto, ao Real Madrid e a todos os clubes portugueses

Para quem não sabe, a mãe de Iker Casillas é conhecia por dizer disparate atrás de disparate, tanto que o filho até a afastou dos seus negócios. É o exemplo de quem quer viver às custas do dinheiro do filhoMas a parte mais ofensiva da entrevista não é a sua falta de inteligência ao falar num FC Porto de segunda B: é dizer que Iker devia ir para o Barcelona. Isso é cuspir nos 25 anos de história de Casillas no Real Madrid e nos milhões de adeptos madridistas que o aclamavam. 

Assim se vê o caráter desta gente, que não disfarça a azia por o melhor guarda-redes espanhol ter escolhido jogar num clube português. Já agora, senhora Carmen: o Real Madrid já precisou de muitos portugueses para ganhar títulos; já o contrário nunca aconteceu. Pior, foi um insulto ao futebol português. Se a D. Carmen diz que o FC Porto é de II B, então imaginem quão baixa consideração ela deve ter por Benfica e Sporting, os outros 2 clubes que formam os ditos 3 grandes.

Casillas podia ter escolhido qualquer clube, escolheu o FC Porto. Agora é tempo de trabalhar e integrar-se da melhor forma no plantel, pois o palmarés não ganha jogos nem dá títulos. E não é pelo guarda-redes que o FC Porto costuma ganhar troféus, mas sim por um coletivo forte, unido e de qualidade, no qual esperemos que Iker tenha um papel importante. Baía não é o primeiro nome que lembramos do penta, de Sevilha, Gelsenkirchen ou Tóquio, mas esteve lá sempre. Que com Iker Casillas seja o mesmo. O nome nas costas da camisola pode dar muito em termos de expetativas, marketing ou mediatismo. Mas só o símbolo à frente conquistará títulos.