A rúbrica fornecedores do R&C de 2014-15 permite perceber qual a situação do FC Porto no que toca a dívidas a outros clubes e, em muitos casos, a empresários/empresas. Ao longo da época 2015-16, está previsto que o FC Porto pague pelo menos 36,855M€ por jogadores que já estão nos quadros do clube (isto sem contar com as contratações efetuadas no primeiro trimestre, como Imbula ou Corona, que serão contabilizadas depois).
Em contrapartida, está prevista a entrada de um valor até 60M€ (sem contar com Alex Sandro) de outros clubes por jogadores já transferidos, além dos cerca de 50M€ (já a contar com Alex Sandro) de mais-valias que vão ter que ser geradas. Importa sempre ter estes valores em conta antes de começar já a idealizar se vamos comprar A, B e C por X, Y e Z milhões de euros para a próxima época. Vamos então analisar o que há a pagar ao longo deste ano.
Além dos referidos 36,855M€, há 6M€ em dívida que só vão ser liquidados em 2016-17: 500 mil euros ao Chiva Corazón, pela contratação de Gudiño, e 5,5M€ ao Granada, por Brahimi. Neste último, houve uma renegociação dos termos do pagamento, pois o R&C do primeiro semestre de 2014-15 indicava uma dívida corrente de 2,5M€ e uma não corrente de 3,5M€. Nos novos termos, o FC Porto só vai pagar 500 mil euros por Brahimi em 2015-16. De notar que, em contrapartida, o FC Porto tem à espera 5M€ da Doyen Sports (precisamente o mesmo valor pelo qual alienou 80% do passe de Brahimi) para entrar. Operação interligada. Brahimi quase ainda não movimentou dinheiro desde que foi contratado, um pouco à imagem do que se espera ver com Imbula até à próxima época.
Em relação a Raúl Gudiño, está previsto o pagamento de 1,5M€ esta época. Ou seja, o seu custo, salvo algum valor que tenha sido pago antes de 30 de junho de 2015, é de 2M€, o que já faz dele o guarda-redes mais caro da história do clube.
Passemos então a rever a situação de cada clube na lista de fornecedores e os valores que têm a receber do FC Porto ao longo do próximo ano.
Atlético de Madrid: 11M€ pela contratação de Adrián. Estavam já em dívida corrente em dezembro, logo ou terá lugar a renegociação ou o FC Porto poderá ter que liquidar ou abater este valor até dezembro. Tendo em conta o factor Mendes, a tentativa de reabilitação no Villarreal e a particularidade na sua contratação por parte do FC Porto (único jogador contratado em 2014 que não envolveu nem comissão nem prémio de assinatura, o que é uma raridade), não é descartada a hipótese de renegociação.
Feyenoord: 3,72M€ por Martins Indi. Uma redução de apenas 20 mil euros face ao valor que estava em dívida em dezembro.
Danubio Finanzierungsleistungen und Marketing GMBH: 2,676M€ por Kayembe. Esta é a misteriosa e nada transparente empresa que foi envolvida na contratação de Kayembe, que supostamente teria deixado o Standard em final de contrato. Provavelmente um dos aspetos mais graves e negativos deste R&C. O FC Porto tinha comunicado a contratação de 85% do passe por 2,615M€. Desse valor, o FC Porto terá liquidado 550 mil euros no imediato. Ou seja, em junho de 2014 a dívida era de 2,065M€. Em dezembro aumentou para 2,25M€. E agora, em junho de 2015, a dívida aumentou para 2,676M€ - é ainda maior do que o custo inicial de Kayembe. A dívida por Kayembe não só não foi abatida como aumentou 23% num ano. Haverá explicação porquê? Houve cláusulas que fizeram o preço aumentar ou o FC Porto está em incumprimento? Seja qual for o caso, é absurdo: um jogador que o FC Porto não utiliza está a ficar mais caro; caso haja incumprimento, é extremamente grave e só revela o disparate que foi contratar Kayembe naqueles moldes, naquela altura, àquele preço. O tipo de negócio que levantaria muitas questões numa auditoria. O seu custo, que não é culpa do jogador, já vai em 3,165M€. E vai parar por aqui?
Coimbra Esporte Clube: 2,5M€ por Otávio. O CEC é o clube do BMG, destinado a ponte como transação para outros clubes. É utilizado para inscrever e posteriormente passar jogadores para vários clubes do Brasileirão, entre eles o Internacional, onde jogou Otávio. Desde que Otávio, que estará entre a dúzia de jogadores mais bem pagos dos quadros do FC Porto, assinou não foi abatido um único cêntimo desta dívida, que permanece na sua íntegra em valor corrente. O FC Porto comprou 33% do passe e cedeu 0,5%, sem ter comunicado a quem.
Vitória de Guimarães: 2,3M€ por Hernâni e André André. Não se sabe quanto custou, de facto, André André, pois o seu custo não foi discriminado e foi incluído nos 4,492M€ pagos a outros clubes por jogadores que não são especificados.
Onsoccer International, S.A.: 2M€ pela venda de Fernando para o Manchester City, como parte pelo acordo de renovação de contrato.
Defino Pescara: 2,25M€ por 25% do passe de Quintero, depois de já terem sido abatidos mais 2,25M€ por outros 25% do passe no primeiro semestre. O FC Porto ficou com 100% do passe por 9,5M€.
Santos FC: 1,718.5M€ pela venda de Danilo ao Real Madrid, pelos 10% a que o clube tinha direito.
Pencilhill: 1,618.233 pela transferência de Iturbe para Itália, a outra daquelas empresas criadas com o único propósito de movimentar dinheiro em transferências de jogadores. No espaço de 6 meses, o FC Porto abateu mais de 3M€ de dívida a esta sociedade.
Universidade do Chile: 924 mil euros por Lichnovsky. Cerca de metade do custo inicial já foi abatido, mas a SAD já só ficou com 55% do passe, desconhecendo-se a quem ou por quanto cedeu a percentagem alienada.
Gol Football Luxembourg: 800 mil euros... e não se sabe porquê. Em junho de 2014, o FC Porto devia 2M€ a esta sociedade, que se sabe ter sido envolvida nos negócios de James (implicado no valor inicial) ou Reyes. Em dezembro, o FC Porto já só devia 300 mil euros. Agora, a junho de 2015, a dívida já tinha aumentado para 800 mil euros, sem que o R&C explique porquê. Dos nomes dos jogadores mencionados pela SAD, em relação ao último semestre só entram Djim e Hernâni. Por que aumentou a dívida em meio milhão de euros, não é revelado.
Estoril - SAD: 705 mil euros pela contratação de Evandro, não descartando a hipótese de uma pequena parte ainda estar relacionada com Licá.
Gestifute: 600,15 mil euros para Jorge Mendes, não sendo especificado em relação a que negócio (possivelmente Mangala).
Promotora del Club Pachuca SA de CV: 150 mil euros por Héctor Herrera. A SAD abateu 1,85M€ no último semestre. Haveria possibilidade do FC Porto resgatar os restantes 20% do passe de Herrera, mas aparentemente a SAD ainda não mostrou interesse em fazê-lo. E neste momento, face à não utilização do jogador e a poucas perspetivas de uma grande transferência, não se justificaria.
Estas são as entidades a quem o FC Porto terá algo a pagar nos próximos meses. Serão acrescentados os restantes nomes quando o R&C do primeiro semestre sair (é pouco provável que a SAD revele os restantes números no primeiro relatório trimestral). Entretanto, a SAD liquidou a totalidade das dívidas que mantinha com sete entidades no R&C de 2013-14. A saber:
Moreirense: 1,675M€ pagos por Ghilas;
MHD, S.A.: 1,098M€ pagos por Caballero;
River Lane Youyh Club: 375 mil euros pagos por Chidera Ezeh;
MS Entertainmnet Law-Melanie Schärrer: 586 mil euros pagos a outra daquelas empresas, desconhecendo-se de que jogadores se tratará, de Djim ou outro qualquer.
Soccer Invest Fund: 550 mil euros pagos ao fundo que tinha direitos de Mikel, Edu e Djalma, depois de também ter estado ligado a nomes como Ukra, Castro, Moutinho ou Fucile.
DNN Lda: 500 mil euros pagos por Quaresma.
Cluj: 380 mil euros pagos por Álvaro Pereira.
Uma nota em jeito de balanço: dos referidos 36,855M€, mais de 20M€ estão relacionados com jogadores que o FC Porto tem emprestados a outros clubes. Além disso, desta quantia mais de 5M€ devem-se a jogadores já transferidos. E de todas estas contratações, só Brahimi (que só terá um impacto de 500 mil euros) e Martins Indi estão a ser titulares, e Indi só entrou para o 11 devido à lesão de Maicon. Ou seja, uma série de contratações caras que não estão a ter proveito na equipa principal - e grande parte nunca vai ter. Regressaremos então a este tópico quando as operações do primeiro trimestre forem divulgadas pela SAD.
Relatório e Contas da SAD, 2014-15, rúbrica Fornecedores |
PS: «Vieira responde a Bruno de Carvalho», lemos pela imprensa desportiva. Não, não respondeu. Continua sem responder, continua sem desmentir. A história do «descer ao mesmo nível» é a desculpa mais primária e fácil da história da humanidade para situações como esta. Luís Filipe Vieira não responde porque não tem como responder. E como João Gabriel ou Domingos Soares Oliveira não conseguiram ainda escrever-lhe uma desculpa decente, o silêncio de Luís Filipe Vieira denuncia que o Benfica não tem capacidade para desmentir uma única acusação. Tentaram a bomba de fumo que foi o processo a JJ, mas correu mal. O Benfica não desmente porque não o pode fazer. Caberia à justiça e às instâncias do futebol português fazer o resto. E já agora, ao FC Porto.