O Tribunal do Dragão inicia hoje uma série de publicações sobre um tema que consegue ser sempre tema de discussão e ao mesmo tempo tabu: os fundos de transferências e as terceiras partes nos negócios. Quanto dinheiro o FC Porto já perdeu com isto? Era mesmo necessário recorrer a fundos? Quem está por trás dos fundos de transferências? São algumas das questões a que tentaremos responder a partir de hoje. E começamos por 2003, ano em que o FC Porto começou a surpreender o futebol moderno, com a conquista da Taça UEFA e a tornar célebre a máquina que transformava tostões em milhões.
FC Porto só tinha 50% de Deco em 2003 |
O primeiro caso é Deco e apresenta desde logo uma particularidade que é muito frequente: a antecipação dos empresários. Em muitos casos, antes dos jogadores serem contratados por um clube, são primeiro adquiridos por empresários, que compram o seu passe e já sabem que, mais tarde, o clube vai comprar a sua parcela por três ou quatro vezes mais. De Fernando a Lucho González, de Lisandro López a Hulk, só no FC Porto os exemplos são diversos. E serão um tema para outro dia.
Muitos adeptos desconhecem este dado, mas quando o FC Porto ganhou a Taça UEFA tinha apenas 50% de Deco. Onde estava o restante passe? Nas mãos de Jorge Mendes (Gestifute, se preferir). E foi aqui que se iniciou uma nova modalidade no FC Porto, o de alienar e adquirir percentagens de passes a empresários, que se multiplicavam por fundos de investimento e agências de representação de jogadores.
Ricardo Carvalho rendeu 3,75M a um fundo |
Depois de ter ganho a Taça UEFA, em julho o FC Porto comprou 20% de Deco a Jorge Mendes por 2,25 milhões de euros e cedeu ainda 5% de Paulo Ferreira e 5% de Ricardo Carvalho. No mês seguinte, comprou mais 15% por 1,25 milhões de euros e cedeu 10% de McCarthy, que tinha acabado de custar 7,856 milhões de euros. O FC Porto detinha, assim, 83,33%, pois ainda cedeu 1,67% do passe à First Portuguese Football Players Fund - o foco desta primeira parte.
Criado em 2004 e extinto em 2008, foi o primeiro caso em Portugal de uma série de investidores «anónimos» que se apercebeu que o futebol podia ser uma mina de ouro a explorar sem transparência e sem escrúpulos. Muitos deles com ligações directas ou indirectas a dirigentes de Boavista, Sporting e FC Porto, os 3 clubes que negociaram com o First Portuguese Football Players Fund. Poderíamos escrever sobre o Sporting, que perdeu mais de 15 milhões de euros nesta modalidade (Cristiano Ronaldo, por exemplo, deu mais de 5 milhões ao FPFPF, que comprou 35% pela irrisória quantia de 627 mil euros antes de ele ser vendido ao Man. United), mas vamos focar-nos no que interessa: o FC Porto.
Criado em 2004 e extinto em 2008, foi o primeiro caso em Portugal de uma série de investidores «anónimos» que se apercebeu que o futebol podia ser uma mina de ouro a explorar sem transparência e sem escrúpulos. Muitos deles com ligações directas ou indirectas a dirigentes de Boavista, Sporting e FC Porto, os 3 clubes que negociaram com o First Portuguese Football Players Fund. Poderíamos escrever sobre o Sporting, que perdeu mais de 15 milhões de euros nesta modalidade (Cristiano Ronaldo, por exemplo, deu mais de 5 milhões ao FPFPF, que comprou 35% pela irrisória quantia de 627 mil euros antes de ele ser vendido ao Man. United), mas vamos focar-nos no que interessa: o FC Porto.
No início de 2004, o FC Porto alienou os passes de 11 jogadores de uma só vez, por 6,165 milhões de euros. A saber: Paulo Machado (16,67%), Ivanildo (16,67%), Vieirinha (16,67%), Ricardo Costa (13,33%), Hugo Almeida (16,67%), Deco (1,67%), Pedro Mendes (16,7%), Paulo Ferreira (10%), Ricardo Carvalho (12,5%), Bruno Moraes (10%) e Benni McCarthy (13,33%). Nunca foi relevada a quantia correspondente a cada percentagem. Mas enquanto o FPFPF garantiu que a percentagem mais baixa era de 1,67% e a mais alta de 16,67%, o FC Porto, no comunicado à CMVM, disse que a mais baixa era 2,5% e a mais alta 25%... Uma diferença nunca justificada.
Em setembro do mesmo ano, mesmo após o FC Porto ter ganho a Liga dos Campeões e registado as maiores receitas da história do clube, nova alienação de passes. Desta vez, foram 2,5 milhões por 9% de Quaresma, 8,5% de Diego, 2,5% de Carlos Alberto, 10% de Pepe e 8% de Seitaridis. Em 2004-05, segundo a Deloitte, o FC Porto teve receitas de 110 milhões de euros (lucro de 25 milhões), mais do que Benfica (49,7) e Sporting (34,2) juntos. Havia necessidade de alienar aqueles passes? Não, de todo. Foi uma operação destinada a servir as necessidades ou os interesses do FC Porto? Não. Uma opinião, claro, mas como é regra neste blogue suportada pelos números.
Paulo Ferreira deu 2M a um fundo |
Recuemos mais atrás, ao verão de 2004, quando o FC Porto vendeu Deco, Paulo Ferreira e Ricardo Carvalho. Foi noticiado e declarado que a operação rendeu 71 milhões de euros, dos quais 6 milhões correspondentes ao passe de Quaresma. Mas a verdade é que o proveito líquido destas três operações situou-se apenas nos 46 milhões de euros.
O FPFPF recebeu 2 milhões por Paulo Ferreira, 350 mil euros por Deco e 3,75 milhões de euros por Ricardo Carvalho, fora a parte de Jorge Mendes. Só com estes três nomes já cobriram o «investimento» nos 11 jogadores do FC Porto.
No início de 2008, o FC Porto fechou a ligação ao fundo e teve que readquirir as restantes percentagens que a FPFPF detinha, tendo pago 1,6 milhões de euros por Ricardo Quaresma (9%), Paulo Machado (16,7%), Ivanildo (16,7%) e Vieirinha (16,7%).
Neste primeiro balanço à ligação do FC Porto aos fundos de transferências, concluímos que o FC Porto encaixou 8,665 milhões de euros ao alienar parte dos passes de 16 dos seus futebolistas em 2004. Uma verba que, face aos bons resultados financeiros em 2002-03 e 2003-04, pelas conquistas na UEFA e pelas maiores receitas em transferências da história do futebol português, não era necessária para a subsistência e custos correntes da SAD.
Já o FPFPF, depois de ter investido os 8,665 milhões de euros, encaixou... 14,51 milhões de euros. Conclui-se assim que o primeiro fundo a que o FC Porto teve ligação deu um prejuízo de 5,845 milhões de euros à SAD. Tudo isto no tempo em que a política despesista era bem mais contida. A justificação para que a ligação ao FPFPF fosse encerrada, aliás, foi pelo FC Porto entender que a «partilha de risco» não se justificava. Ah, como os tempos mudam...