45 minutos do FC Porto que todos querem ver: qualidade, capacidade de reação, determinação, união e a força suficiente não só para dar a volta a um adversário, como a uma escandalosa arbitragem, com um golo mal anulado (mais um a André Silva - quase que já poderia estar a lutar pela Bota de Ouro) e um penalty do tamanho da incompetência de Vasco Santos sobre Maxi Pereira.
A equipa termina o ano com a quinta vitória consecutiva (falta a Taça da Liga, mas essa competição não deveria servir para mais do que colocar jovens e habituais suplentes em campo), confiante, com o objetivo Champions cumprido, numa das vagas de acesso direto à Champions e na luta pelo título. A Taça de Portugal foi o único objetivo que ficou por terra. Há ainda muito por fazer e para crescer, mas a equipa está na luta. Como estava no ano do último título. Como estava na época passada.
Iker Casillas (+) - Muito antes da reação do FC Porto na segunda parte, houve alguém que manteve a equipa de pé na primeira, evitando que ficássemos com o mesmo ar perplexo de quando vimos o Olhanense a ganhar por 2x0 no Dragão em 2010. Uma, duas, três belas defesas de Casillas, sem hipóteses no golo do Chaves. Nem na Champions ou nos clássicos tinha sido solicitado a este nível. Absolutamente decisivo.
Maxi Pereira (+) - Há muito que não cruzava tantas vezes e tão bem: bateu o recorde de eficácia de cruzamentos nesta época, com 41% de acerto (o recorde era de Layún, 35%). Curiosamente até foi Alex Telles a conseguir uma assistência com um cruzamento, mas toda a ação de Maxi Pereira no meio-campo adversário (a fazer lembrar o melhor Danilo nos movimentos interiores e na entrada na grande área) fez dele um dos melhores em campo.
Danilo Pereira (+) - Personifica tudo o que deve ser não só um jogador à Porto, mas também um capitão: é um líder em campo e uma bússola para todos os momentos. Percebeu que a equipa precisava de si para outras funções na segunda parte e assumiu-as: subiu mais no terreno, progrediu mais com bola e foi lá à frente fazer o golo da vitória num remate de raiva. Na defesa, o habitual: o jogador com mais recuperações e desarmes em campo, além dos sempre assinaláveis 94% de acerto no passe. Um jogador à Porto.
Brahimi (+) - É um jogador que espelha o próprio plantel: nem sempre vai jogar bem, nem sempre vai optar pela melhor solução, mas podem contar com uma coisa - nunca vai desistir de tentar. Este FC Porto não tem a consistência desejada, uns dias joga pior e outros melhor, mas os jogadores nunca desistem de lutar. Brahimi foi assim no prisma individual: antes do golo do empate, era o mais rematador, o principal desequilibrador, o jogador que mais faltas arrancou e o que mais duelos ganhou. Acusou um pouco o cansaço e a enxurrada de faltas que sofreu, mas com ele em campo o FC Porto tem sempre uma via para atacar a baliza.
Reação na segunda parte (+) - O FC Porto, sobretudo através de Maxi Pereira, estava a fazer bons cruzamentos para a grande área; André Silva estava a ganhar bolas de cabeça, mas era curto, sobretudo porque Diogo Jota não estava a ter presença em campo. Há um ponta-de-lança no banco cuja utilidade se resume essencialmente a isso: presença na grande área e jogo aéreo. A decisão era óbvia, NES desta vez optou por ela e o FC Porto não só lançou-se para a reviravolta como Depoitre conseguiu um belo e importante golo. Foi apenas a 2ª vez nos últimos 3 meses que Depoitre jogou no Campeonato e, ao 3º toque na bola, foi decisivo. Oportunidade para tentar aproveitar aquilo que o jogador possa oferecer à equipa, uma vez que o FC Porto não pode vendê-lo para outro clube europeu em janeiro (já jogou por 2 clubes esta época).
Muito antes, o FC Porto já se tinha transfigurado. Mais incisivo no ataque, laterais envolvidos na frente, os próprios centrais a acelerarem no início de construção, Danilo Pereira a libertar-se das funções de pêndulo para passar a ser um todo-o-terreno e Óliver Torres mais interventivo perto da grande área. O FC Porto aumentou a pressão sobre o Chaves, empurrou o adversário para a sua grande área e com isso chegou à reviravolta, com mérito, mas com esforço e naturalidade pela sua supremacia. O problema? Que tenha sido necessário 45 minutos e um golo de desvantagem para o FC Porto abordar o jogo desta forma.
CHUTA! (+/-) - É algo que falta imenso aos médios do FC Porto: capacidade de meia distância. Ontem foi mais um exemplo, com duas ocasiões em que Óliver tem oportunidade de rematar, mas hesita, hesita e perde-se a ocasião. Danilo deu um pontapé nessa tendência e com isso fez o golo da vitória. A rematar é que se faz golo, e os médios têm que perceber que não têm que estar sempre a olhar para Jota ou André Silva: podem olhar diretamente para a baliza.
A primeira parte (-) - Quando o nosso guarda-redes chega ao intervalo com o triplo das defesas do guarda-redes do Chaves, não é preciso dizer mais nada. O FC Porto foi incapaz de lidar com os perigosos contra-ataques do Chaves e voltou a ser a equipa lenta, sem clarividência e previsível que foi durante grande parte desta época. Diogo Jota e Jesús Corona foram duas unidades que pouco ou nada acrescentaram no ataque, algo que pode levar NES a repensar algumas opções: a consistência na equipa não está em repetir sempre o mesmo 11, mas sim em ter uma base assumida (de 9 ou 10 jogadores) e princípios de jogo enraizados no plantel. A consistência está em trocar 1 ou 2 jogadores e não se sentir diferença, não em repetir sempre o mesmo 11 mesmo quando alguns jogadores estão em baixo de forma. A rever.
Reviravolta e recuo (-) - Vai sendo um hábito: o FC Porto apanha-se a vencer e NES recua. Se é verdade que leu bem o jogo com a entrada de Depoitre (criticável só o facto de só ter assumido essa alteração aos 63 minutos), NES voltou a dar sinais de que não confia na equipa por si própria para continuar a assumir o jogo em terrenos mais adiantados. Pouco após o bom golo de Danilo, sai Óliver, o médio criativo, e entra Rúben Neves, o médio de caraterísticas defensivas que estava no banco.
«Era preciso equilibrar a equipa», dirão. Mas que desequilíbrio foi esse que existiu? O FC Porto manteve a sua matriz, com a diferença de jogar com a dupla André Silva-Depoitre, em vez de Diogo Jota. E onde estava o perigo do Chaves? No contra-ataque, na transição rápida. Por isso, o que o FC Porto tinha que fazer era continuar a cair no início de construção do Chaves, obrigando o adversário ao pontapé longo não por leitura da movimentação de um colega mas por obrigação. Podem encarar isso como pragmatismo e respeito pelo adversário, mas isto é o Dragão e o adversário era o Chaves. Há que confiar que os jogadores em campo conseguem manter uma vantagem frente ao Chaves sem que seja necessário virem, a partir do banco, sinais de recuo e de defesa do resultado.