A notícia da renovação do contrato de Chidozie até 2020 deu, desde logo, uma novidade: o facto de Chidozie já ser efetivamente jogador dos quadros do FC Porto, e não emprestado por outro clube. Uma renovação que se saúda, embora desconhecendo os moldes da mesma e a repartição do passe do atleta na SAD.
Chido até 2020 |
Chidozie fez uma época algo banal no seu primeiro ano nos sub-19, onde não revelou nenhum potencial por aí além a jogar a médio-defensivo, mas após ter sido adaptado a central as coisas começaram a mudar. Fez algumas boas exibições na equipa B, ganhou a confiança de José Peseiro e foi lançado às feras na equipa A - é certo que só jogou por não haver mais ninguém, mas Peseiro teria sempre outras possíveis soluções em vista, como adaptações. Ainda assim não deixou de confiar em Chidozie.
Chidozie cometeu os erros próprios da sua idade e inexperiência, mas mostrou que tem caraterísticas interessantes para ser um bom central. O contrato até 2020 vai permitir-lhe, se necessário, ter uma época de rodagem noutro clube e dá tempo e condições para trabalhar o seu potencial. Sem dúvida um jogador a merecer um pequeno investimento. Quanto? Boa questão.
Chidozie vem do El-Kanemi, um clube pouco conhecido. Segundo o Transfermarkt, este clube nunca fez dinheiro com transferências - o seu negócio mais mediático foi a venda de Samson Siasia ao Lokeren, isto em 1987. Num clube que nunca fez grandes negócios, vender agora Chidozie por 1 ou 2M€ seria um autêntico jackpot. Pelo que só podemos admitir que o FC Porto conseguiu Chidozie por uma autêntica pechincha.
Haverá sempre a questão sobre se Chidozie foi contratado diretamente ao El-Kanemi ou se o seu passe foi adquirido já junto de um grupo de investidores/empresários, mas isto será certamente esclarecido a seu tempo pela SAD, tal como a eventualidade de Chidozie ter sido descoberto pelo mesmo grupo de scouting que trouxe Mikel ou Atsu.
É fundamental, para o futuro do FC Porto, que a SAD fique com 100% do passe dos jovens que recruta. Estamos a falar de jogadores muito jovens, que são contratados por quantias baixas. Não há necessidade absolutamente nenhuma de avançar para alienações de passes quanto estamos a falar de transferências tão baixas.
Um terço de talento |
Tomemos o exemplo de Chidera Ezeh, outro nigeriano do FC Porto, que está no clube desde 2013 mas teve que esperar pelo 18º aniversário para começar a surgir nos Sub-19, com contrato profissional assinado. Foi uma das revelações do Mundial de Sub-17 e chegou ao FC Porto proveniente do River Lane, da Nigéria.
Em relação a esta operação, o FC Porto informou apenas ter uma dívida de 375 mil euros ao River Lane, que foi paga na época 2014-15. É fácil prever que este pagamento deveu-se a Chidera, mas não é claro que a totalidade do seu passe tenha custado 375 mil euros, pois a SAD pode ter pago algum valor no momento da contratação.
Mas neste momento a SAD já só tem 35% de Chidera Ezeh, pois cedeu 65% à For Gool, entidade ligada a Teodoro Fonseca. Desconhece-se que valor rendeu essa alienação. Mas recuperar 30% do passe custa 600 mil euros (opção até ao fim de 2016-17). Há uma opção de comprar mais 25% enquanto Chidera for jogador do FC Porto, mas essa já custa 1M€. Ou os 100% de Chidera custaram bem mais do que os 375 mil euros que estavam na rúbrica fornecedores, ou o passe do jogador já saiu altamente desvalorizado nesta alienação (feita muito antes de Chidera poder jogar nos Sub-19), com a opção de recuperar 55% a custar 1,6M€.
Outro exemplo é Mikel, que está ligado ao FC Porto desde 2009, mas só pôde começar a jogar dois anos depois. Um miúdo que sempre se destacou pela sua capacidade de trabalho - rezam as crónicas que ninguém se aplicava mais do que ele nos treinos, motivo pelo qual todos os treinadores desde Jesualdo o chamavam para treinar na equipa A, mesmo que nunca o convocassem.
Mikel, a revelação |
Mas Mikel, entrando no campo da opinião, nunca revelou qualidades para ser jogador da equipa A. Curiosamente, passou pelo menos processo que Chidozie: após tantas exibições sofríveis a médio-defensivo, Luís Castro meteu-o o central. Melhorou, embora no FC Porto B seja bem mais fácil jogar a central do que a médio-defensivo (a diferença entre só ter que destruir e ter que construir). Mas Mikel nunca mostrou grande evolução, embora tenha tido o azar de partir a perna logo no primeiro treino com Lopetegui (para quem gosta de alimentar mitos, Rúben Neves estava nesse treino, ou seja, Lopetegui não chamou Rúben Neves só porque Mikel se lesionou).
Mikel foi emprestado ao Club Brugge e tem sido... «uma revelação». Quem o disse foi o jornal A Bola, a 3 de fevereiro: «Grande revelação do campeonato belga», escreveram. O problema é que vamos ver os números de Mikel no Club Brugge e chegamos a uma simples conclusão: ainda só fez 2 jogos pelo clube, ambos em janeiro e contra duas das equipas mais fracas do campeonato. Estamos habituados a que o jornal A Bola considere que um jogador seja uma «grande revelação» ao fim de 2 jogos, mas foi a primeira vez que vimos A Bola fazer isso com um jogador do FC Porto. Simpatia galática.
Mikel tem contrato até 2017 e pouco ou nada recomenda a sua renovação - até porque Mikel já chegou a renovar contrato duas vezes na mesma época desportiva, mas não tem mostrado grande evolução. Não fará sentido renovar mais uma vez para o emprestar em 2016-17. Vai fazer 23 anos, não é caso perdido, mas está desde 2009 a treinar perto da equipa A, fez duas épocas na equipa B (três com a da lesão), já renovou várias vezes contrato e vai para o 5º ano de sénior. Se os jovens da formação do FC Porto (isto é, os que começam nas escolinhas, nos iniciados ou nos juvenis) tiverem um terço da paciência e oportunidades que Mikel teve, de certeza que não se desperdiçará um único talento da formação do FC Porto.
Em 2012, a SAD alienou 10% do passe de Mikel, ao SIF, por 101,875 mil euros (a mesma operação que Edu Silva, do Penafiel). Neste momento a SAD terá 55% do seu passe, pois no início de 2014 foram cedidos mais 10% à SIF. Entretanto a Sans Souci ficou com 25% da receita líquida de uma futura venda, à luz de um protocolo, e o clube «Megapp» ficou com 10%. O caso de mais um jovem nigeriano contratado em tenra idade com o seu passe alienado.
A não repetir |
Mas em relação a Chidozie, o maior termo de comparação (não em relação à qualidade), não sendo da mesma nacionalidade, será Abdoulaye. O FC Porto também foi buscá-lo a África em tenra idade e está desde 2008 ligado ao FC Porto. Ou seja, quase uma década, e poucos lhe reconhecem capacidade para vir a ser um central de equipa grande (já tem 25 anos e não aproveitou os empréstimos ao Rayo e ao Fenerbahçe para mostrar qualidade).
Não se sabe quando expira o contrato de Abdoulaye - tinha contrato até 2016, mas por norma o FC Porto não deixa jogadores emprestados ficarem em fim de contrato, pelo que não se sabe se Abdoulaye renovou antes de sair. Se não renovou, também não valerá a pena fazê-lo agora, de todo. Por outro lado, dizia Abdoulaye, em 2012, que o seu empresário lhe tinha comunicado que havia o interesse de Benfica, Liverpool e Dortmund na sua contratação. Assim sendo, não haverá problema em recuperar o investimento no seu passe.
Embora tenha sido contratado enquanto júnior do Senegal, 60% do passe de Abdoulaye eram propriedade da Unifoot, de José Caldeira, segundo o R&C da SAD de 2010-11. Mas no R&C de 2012/13, o FC Porto informou que comprou 60% à Pearl Design, com um custo total de 1,1M€. Estávamos a falar de um júnior oriundo do Senegal. Votos de que seja uma situação bem diferente da de um júnior oriundo da Nigéria.
Pergunta(s): Que futuro para Abdoulaye, Chidozie, Mikel e Ezeh no FC Porto?