Começando pelo fim: foi o pior jogo da era Lopetegui. E esse jogo coloca tudo a perder naquela que vinha sendo a maior valia na era Lopetegui: a Liga dos Campeões. FC Porto praticamente fora da Champions, sem ilusões, o que é um grande rombo no planeamento da época. Mas vamos por partes.
Após quase um ano, chega a primeira derrota no Dragão, depois da equipa ter alcançado 20 vitórias consecutivas e sempre a jogar melhor do que o adversário. O FC Porto de Lopetegui tinha marcado sempre na Liga dos Campeões, em 15 jogos consecutivos. Foi a primeira derrota desde 2013 no Dragão para a Champions. Ao fim de tanto tempo temos que aceitar uma derrota, que é normal acontecer no futebol, sobretudo na Liga dos Campeões. Mas não podemos aceitar as circunstâncias em que a derrota aconteceu.
O Dynamo não é uma equipa fraca, longe disso, é sempre um adversário que impõe jogos equilibrados ao FC Porto. Tem maior poderio financeiro, maior força salarial, e até podem alegar que tiveram a felicidade de ter um penalty e de ter aproveitado um duplo-erro de dois dos nossos melhores jogadores (Brahimi e Casillas) para fazer o 2x0 e matar o jogo. Nada disso serve de desculpa, pois independentemente disso o FC Porto não fez nada para ganhar o jogo. Nada.
Foram 90 minutos francamente maus. Pior, depois de uma primeira parte já fraca, a equipa não melhorou. Os jogadores pareciam mortos, sem reação, sem interesse, sem empenho. Um pouco o reflexo do banco, com Lopetegui completamente impotente para mudar o rumo dos acontecimentos e a levar um banho tático de Rebrov, treinador a fazer por merecer ser seguido com atenção.
Não é fácil estar há mais de um ano a ser sempre melhor do que os adversários e não ter, por vezes, uma quebra. Mas foi uma quebra que aconteceu quando até um empate bastava. E depois de sofrer o 1x0, só se poderia esperar que o FC Porto respondesse a matar, pois estava à distância de um golo para alcançar o segundo maior objetivo da época. E nunca esteve sequer perto de o fazer.
Perder na Madeira, empatar em Kiev ou empatar com o Braga não foram momentos decisivos, pois eram etapas de longos percursos. Já se criou o chavão de que «Lopetegui falha nos momentos decisivos», mas esta época ainda não tínhamos tido desses momentos. Até ontem. Lopetegui e os jogadores falharam, redondamente, num momento decisivo, sobretudo porque é-lhes cobrada a fatura de um elevado despesismo da SAD. E sem os 1/8 da Champions, podem contar muito bem com saídas a meio da época (que nem com os 1/8 garantidos estavam livres de acontecer, de todo), o que significa um rombo no maior objetivo, que era lutar pelo título de campeão.
Resta o jogo em Londres. O apuramento é possível, claro. Mas vamos ser francos e realistas. Se perdermos em Londres, salvo circunstâncias muito específicas, a culpa não será de Lopetegui e dos jogadores. Será normal, pois o normal para o FC Porto é perder em Inglaterra. Gostamos de desafiar as dificuldades, o impossível e a história, mas isso não significa que não as reconheçamos.
Não criem teorias sobre uma crise do Chelsea, pois um Chelsea que está mal na Premier League significa que vai apostar a dobrar na Liga dos Campeões. Mourinho sabe-o bem. O FC Porto nunca ganhou em Inglaterra, nunca. Perdeu 88% dos jogos que lá disputou. Só conseguiu dois empates, ambos em Old Trafford, um em 2004 e outro em 2009, golpes de teatro de Costinha e Mariano aos 89 minutos. Basta ver o que foram 4 dos últimos 5 jogos do FC Porto em Inglaterra: 4-1 com o Liverpool, 4-0 e 5-0 com o Arsenal e 4-0 com o Manchester City.
O normal, para o FC Porto, é perder em Inglaterra. Não significa que não tenhamos que combater essa normalidade, mas não deixa de ser o desfecho tradicional no clube. Perder em Londres não será culpa de Lopetegui e dos jogadores. Mas ter perdido com o Dínamo foi.
André André (+) - E nada mais há a destacar. André André nem esteve particularmente bem no passe (68%), mas entrou contra a lateralização da equipa. Pressionou, arrancou 4 faltas, fez dois remates que encontraram os ferros da baliza, arranca um lance merecedor de penalty e tentou empurrar a equipa para a frente. É irónico: por vezes criticavam Lopetegui por jogar com 4 médios e não com dois extremos, mas ontem que jogou com 3 médios e dois extremos os efeitos foram totalmente contrários. Afinal, a diferença não está entre ter 4 ou 3 médios. Está entre ter ou não ter André André em campo.
Zerada (-) - O FC Porto fez 569 passes. O Dínamo 348. O FC Porto fez apenas 3 remates à baliza, em 9 tentativas. O Dynamo fez 6, em 17. O FC Porto, exceção a duas iniciativas de André André, não criou ocasiões de golo. O Dynamo sim. Consequência de uma circulação lenta e excessiva, com o FC Porto eternamente à espera de encontrar espaço, e sem perceber que tem que ser a própria equipa a criar esse espaço. Sem um jogador capaz de ser 3º médio em campo, Brahimi e Tello inexistentes no espaço interior e os laterais a chegarem pouco à linha, o FC Porto não existiu. Ninguém se entendeu no meio-campo porque não havia criatividade para jogar entre linhas. Zero.
Derrocada (-) - Lopetegui tinha que mudar algo ao intervalo, porque nada da primeira parte tinha funcionado. Tinha que reagir, e reagiu. Mas reagiu desfazendo a defesa, o meio-campo e nada mudando na construção da equipa. Lopetegui não quis impôr a força do FC Porto. Quis tentar travar Derlis e Yarmolenko quando estava a perder por 1x0. Maxi não estava a saber lidar com Derlis, verdade, mas não era jogador para ser substituído, a não ser por problemas físicos (que não os tinha). Yarmolenko também estava a libertar-se bem de Layún, o que fez Lopetegui meter Layún à direita, Indi à esquerda, recuar Danilo e redefinir o meio-campo (sem com isso nada mudar). A equipa não melhorou absolutamente nada. A única coisa de positiva que se viu foi André André. O que só condena ainda mais a opção inicial de Lopetegui, que teve medo do Dynamo quando já estava a perder por 1x0.
Subrendimento geral (-) - Um treinador não pode ser culpado por erros individuais, como foi o momento do 2x0 do Dynamo ou até o penalty de Imbula, mas tem que assumir responsabilidades perante o rendimento coletivo da equipa. Que, diga-se, foi caótico. Casillas extremamente mal batido. Maxi Pereira, por mais falta que pudesse fazer na segunda parte, esteve em dificuldades perante os extremos do Dynamo, o mesmo que Layún, a expor as suas fragilidades defensivas. Danilo, como central, é para esquecer. Imbula está naquela versão que lhe valeu a distinção de flop de 2014 para o L'Équipe, e é bom que acorde, pois quem lhe prometeu uma transferência depois de passar pelo FC Porto de certeza que não imaginava que andasse a jogar assim (muito menos como 3º médio). Rúben Neves, jogando mais adiantado, não conseguiu dar largura ou profundidade. Tello nunca encontrou espaços, Brahimi não conseguiu um único lance desconcertante (e ainda há quem esfregue as mãos para janeiro...), Aboubakar desta vez não serviu nem foi servido e Corona e Osvaldo só marcaram presença na ficha de jogo. Uf...
Os jogadores têm responsabilidade perante tamanha falta de atitude, oh se têm, pois quem não se empenha na Champions, num jogo de apuramento para os 1/8, não se empenha em mais lado nenhum. Mas uma equipa que não funciona em nada, durante 90 minutos, é uma equipa que não está preparada. Assim não há protagonista que resista.
Ganhar a Tondela, União e Paços e depois lutar contra a história para fazer história em Londres, sabendo que 9 de dezembro não será o dia em que saímos da Liga dos Campeões. Já 24 de novembro...