quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Tão lógico quanto marcar golos

O FC Porto já disputou 3233 jogos oficiais. Marcou 7165 golos. Ganhou dezenas de títulos, cá dentro e lá fora. Ao longo dos seus 123 anos de existência, foram quase 300 mil minutos de futebol. Nunca esteve tanto tempo sem marcar um golo.

É histórico. Nunca o FC Porto tinha passado 430 minutos sem marcar um golo (ou sem que lhe validassem um). Estamos, à 11ª jornada, a 7 pontos do Benfica, a primeira vez que acontece desde que Pinto da Costa foi eleito presidente. Temos 22 pontos, a pior pontuação desde que a vitória passou a valer três pontos (1995). 19 golos em 11 jornadas, o pior ataque dos últimos 10 anos. E estamos fora do pódio, o que não acontecia desde 1975. Copo meio cheio: este é um FC Porto de recordes. 

O Tribunal do Dragão já tinha destacado o facto do FC Porto não sofrer golos. É bom. Mas para todos os efeitos pontuais, é melhor ganhar um jogo e perder um do que empatar dois; é melhor ganhar dois e perder três do que empatar cinco; e em momento algum podemos considerar que não sofrer golos contra equipas como Setúbal, Chaves, Copenhaga e Belenenses é algum tipo de proeza que mereça criar um constaste positivo.

Sim, não sofrer golos é positivo, mas se não marcamos entramos na lógica residente noutras bandas: não somos campeões, mas jogamos o melhor futebol; não ganhámos, mas fomos quem mais mereceu

Sente-se a contestação cada vez maior a cair sobre Nuno Espírito Santo. As críticas são expectáveis, aconteceria o mesmo a qualquer outro treinador. No FC Porto, ao fim de 2 ou 3 maus resultados, para a generalidade da massa adepta o funeral fica feito. Aconteceu com Paulo Fonseca, com Lopetegui, com Peseiro e muito provavelmente vai acontecer com o próximo que chegar. 

Mas há algo a saudar em relação a Nuno Espírito Santo, em defesa do técnico: tem contrariado algo que vinha sendo uma tendência cada vez maior no FC Porto - o não defraudar as expetativas. Nuno Espírito Santo não desilude, vai ao encontro das expetativas. O seu trabalho no FC Porto tem sido um espelho do desenvolvido no Rio Ave e no Valência: o futebol praticado, as escolhas para a equipa que muitos não conseguem entender, o discurso monocórdico e saído de um manual rasca de auto-ajuda. 

Nuno Espírito Santo não está a fazer nada abaixo do que já tivesse demonstrado. Admita-se, nem é o caso de Paulo Fonseca, que meteu o Paços de Ferreira a jogar à Porto e o Porto a jogar à Paços de Ferreira, mesmo não tendo tido condições de trabalho suficientemente boas para lutar pelo título. Nuno Espírito Santo meteu o Porto a jogar à... Nuno Espírito Santo. Jamais será cobrada uma fatura ao técnico por fazer o mesmo trabalho que fez nos seus outros clubes. Logo, este funeral perde um pouco a sua lógica. Vamos condenar quem está a ser o que sempre foi?

Se o FC Porto passou de Lopetegui para Peseiro e de Peseiro para Nuno Espírito Santo, nem vale a pena entrar por uma conversa de sucessão. Dá medo.

A competição de ontem, como saberão, não é valorizada neste espaço. A Taça da Liga deve ser utilizada única e exclusivamente para dar espaço competitivo a jogadores pouco utilizados e para lançar jovens da equipa B. As escolhas de NES para o jogo de ontem serviram minimamente para esse efeito, ainda que ninguém consiga ignorar que se tratou de um prolongamento de mais 90 minutos sem golos, ainda por cima jogando quase uma hora contra 10.  De qualquer forma, o maior problema não foi o jogo de ontem, mas sim os últimos jogos. 

Por isso, troquemos os Bonés e Machados por algumas considerações. Primeiro, Brahimi. Ontem descobrimos que Brahimi não serviu para jogar no Campeonato, na Liga dos Campeões e na Taça de Portugal. Mas serve para jogar na Taça da Liga.

Isto consegue ser pior do que ter o Taarabt a ganhar 193 mil euros por mês para ir ao Main. Porquê? Porque esse nunca viram fazer nada de jeito no Benfica e não faz falta à equipa principal. Brahimi sim. Viram-lo os adeptos, os adversários, a Champions do futebol. Há dois anos, era o jogador mais aplaudido pelos adeptos. Desaprendeu? Não. Ao longo de novembro, em que o FC Porto esteve em 4 competições, Brahimi ficou no banco no Campeonato, na Champions e na Taça para jogar apenas na prestigiada Taça da Liga. Gestão danosa, nada mais. 

Inácio fez a sua estreia na equipa principal. Ainda que envolvido no negócio Maicon, estamos a falar de um dos cinco laterais-esquerdos mais caros da história do FC Porto. Mas aqui temos um perfeito exemplo da diferença entre um jogador da formação e um jogador que vem de um negócio do Brasil. Não apenas do Brasil: de um negócio do Brasil.

Inácio fez apenas 4, 4 jogos na Segunda Liga e teve logo uma oportunidade na equipa principal. Não se discute o mérito de Inácio, mas sim o tratamento bem diferente que teve Rafa: esteve 3 épocas desportivas a jogar ativamente na equipa B, sem nunca ter tido uma oportunidade de jogar na equipa principal. Inácio chega e tem logo a sua chance. Deve ser tudo uma questão do critério dos treinadores. Sim, sim.

Rui Pedro estreou-se pela equipa principal e foi provavelmente o mais aclamado pelos adeptos. Neste âmbito, uma saudação para Bernardino Barros, que afirmou, preto no branco, durante os seus comentários no Sentimento (para fazer honra ao Edmundo), que Rui Pedro esteve encostado e em risco de sair enquanto não renovou contrato «com quem eles queriam» na SAD. André Silva esteve na mesma situação. É assim que se gerem os nossos talentos. 

Depoitre esteve uma hora em campo. A jogar contra 10, com o jogador a precisar de ganhar confiança e não havendo melhor oportunidade para isso, NES decidiu tirá-lo de campo e lançar o miúdo. Está tudo dito sobre Depoitre. Nuno nem pensou «vamos esperar, a ver se ele marca para ganhar confiança». Por norma, um treinador que quer muito um jogador não desiste dele em circunstâncias tão favoráveis. Talvez isto diga muito do quão queria NES Depoitre. 

João Carlos Teixeira jogou 15 minutos. O suficiente para ir ao encontro do comentário do TdD aquando da sua contratação: «É daqueles jogadores que conseguimos apreciar pelo simples facto de receberem a bola». Porque não joga mais? Não procurem a lógica. Procurar lógica neste FC Porto tornou-se uma coisa tão complicada quanto acertar na baliza adversária.

Sábado regressa o campeonato, com o FC Porto no 4º lugar, a sete pontos da liderança. Ninguém se recusa a deixar de olhar para o primeiro lugar. Mas o problema não é apenas os adversários terem que perder pontos. É o FC Porto ter que ganhá-los. Sem golos, nada feito. E com estes meios, não esperem fins agradáveis. 

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Objetivos e promessas

Há uma grande diferença entre falhar objetivos e falhar promessas. Falhar objetivos acontece todos os anos, desde não conquistar um título a não ganhar um jogo contra um adversário inferior. Pode acontecer pelos mais diversos motivos: adversário superior, uma bola no poste, arbitragem, um dia de manifesto azar...

Acontece. Todas as equipas têm que traçar objetivos, e já sabem que não os vão cumprir todos. Com as promessas, é totalmente diferente. O FC Porto não é um clube de promessas de resultados. O próprio Pinto da Costa o disse, vários vezes, que «nunca prometi títulos». É preciso ter um estofo/confiança enorme para conseguir fazer e cumprir promessas.

Um exemplo? José Mourinho. «Em condições normais vamos ser campeões. Em condições anormais... Também vamos ser campeões!» Muita audácia, mas algo fácil de proferir: ele sabia que era o melhor, que o FC Porto tinha o melhor plantel, que era superior à concorrência e que estava num contexto favorável. Mais difícil foi ter dito, quando chegou ao FC Porto, que em 2002-03 ia ser campeão. Inteligente: tal deu-lhe margem para reduzir a pressão para o que restava de 2001-02 e motivou as tropas para algo mais que uma época que já se encaminhava para um ano sem títulos.

Bem diferentes foram, por exemplos, as promessas de Paulo Fonseca ou Lopetegui. Ao contrário do que aconteceu com Mourinho, foi em momentos difíceis, já sob muita contestação (mas nenhum deles a 7 pontos do Benfica antes de dezembro), que deixaram afirmações que podiam ser vistas como destemidas e determinadas, mas que acabaram por soar a desespero. A confiança cega de que o FC Porto ia ser campeão e a garantia, sem qualquer dúvidas, que o FC Porto ia chegar ao título. Não funcionou e ambos saíram antes do fim da época.

Nuno Espírito Santo, ao mau momento da equipa, respondeu com a promessa de que o FC Porto ia ganhar ao Belenenses. Falhou. Uma coisa é gerir mal uma substituição, ter um mau resultado e estar completamente descolado da política (?) assumida pelo clube em relação à arbitragem. Outra é falhar uma promessa. Nuno podia ter dito que acreditava que os golos iam aparecer, que o objetivo era ganhar, que acreditava na evolução da equipa. Podia ter dito mil e uma coisas. Mas preferiu prometer que o FC Porto ia ganhar ao Belenenses. A equipa falhou, o treinador falhou.

Nuno Espírito Santo já é, à 11ª jornada, o pior treinador da era Pinto da Costa no que à distância em relação a Benfica e Sporting diz respeito. Ninguém tinha expetativas realistas de que o FC Porto fosse favorito/campeão com Nuno Espírito Santo - só se pode desiludir quem primeiro se iludiu -, pois nunca fez/mostrou nada que o recomendasse como resposta para o ciclo de 3 anos sem títulos, mas os resultados estão a ser um pouco piores do que o expetável. Não necessariamente por à 11ª jornada já ter perdido 11 pontos, mas por já estar a 7 de pontos de Benfica e 2 de Sporting, já depois de ter recebido o Benfica no Dragão.

Esta não é uma época para almejar ao título (quem contrata NES e gere a pré-época/plantel da forma que o FC Porto o fez desde julho, não pode pensar em ser campeão - ou então ainda não percebeu  que acabou a era dos campeonatos em piloto-automático), mas era ponto de honra estar na luta até ao fim, tentar pelo menos a entrada direta na Champions e reabilitar o espírito Porto. O que conseguimos, depois do empate em Belém, foi deixar Nuno Espírito Santo numa posição ainda mais fragilizada. Será ele o máximo responsável se o FC Porto terminar mais uma época sem títulos? Não, de todo. Mas só uma pessoa prometeu que o FC Porto ia ganhar ao Belenenses. Se bem que os adeptos portistas já mostraram ter grande tolerância e estômago para promessas falhadas nos últimos anos.




Iván Marcano e a defesa (+) - Não é pela defesa que o FC Porto tem comprometido nas últimas semanas. Muito simples: em 10 jogos, a equipa sofreu 2 golos. Não deve haver muitas equipas com uma média similar. Os adversários não deixam de ter as suas oportunidades (o Belenenses fez mais remates à baliza do que o FC Porto), mas o facto é que o FC Porto tem sofrido pouquíssimos golos. E quando assim é, basta meter uma bola naquele cada vez mais estranho rectângulo ao FC Porto para ganhar o jogo.

Neste excelente momento defensivo, Iván Marcano merece todo o destaque. Porquê? É o denominador comum entre este bom momento na proteção da baliza e a época 2014-15, na qual o FC Porto teve a melhor defesa de toda a Europa. Marcano conseguiu-o com um low profile de quem chega, faz o seu trabalho, cumpre, vai para casa e só voltam a aperceber-se da existência dele em campo. E nem com a braçadeira no braço destoa. Se calhar só é capitão porque não há melhor e só joga porque não há melhor. Certo é que ninguém tem feito melhor do que ele. Nem no FC Porto nem pela Europa fora: 10 jogos, 2 golos sofridos, apenas um cartão amarelo e uma média de apenas uma falta a cada dois jogos. Com Marcanos, se calhar, dirão que não se ganham jogos ou campeonatos. Ou então sim, se alguém lá na frente meter a bola na porra da baliza, pois lá atrás não tem havido problema. 





Piorar (-) - Sai Jota, entra Depoitre. Sai Óliver, entra André André. Sai Otávio, entra Varela. Três alterações, todas elas com algo em comum: o jogador que saiu é superior ao que entrou, e o que entrou não está num momento de forma que lhe permita ser o 12º jogador que vai desbloquear o jogo. O BES tinha o banco mau e o banco bom. NES só tem um banco mau.

O problema tem várias raízes. Aboubakar, Bueno, Gonçalo Paciência e Suk foram dispensados para que chegasse Depoitre, que, pasmem-se, custou mais do que estes 4 juntos e não vale um terço de qualquer um deles. O jogador não tem culpa, pois a qualidade e caraterísticas dele estavam à vista de qualquer um. Quando assim é, as dúvidas não devem recair no jogador, mas sim na vista de quem o observou. Mas é curioso que todos se recordam de ouvir José Mourinho dizer que queria muito McCarthy. Jesualdo confessou que queria Falcao. Vítor Pereira afirmou que era Jackson Martínez quem queria. Já NES parece hesitar muito em afirmar que foi ele quem queria Depoitre. Diz que era um jogador que conhecia, que podia ser útil, que estava referenciado, mas tarda em afirmar com a prontidão de Pinto da Costa de que Depoitre é que era «o» 9 mais desejado. Ele lá saberá porquê.

Falta Brahimi, que já nem conta para ir ao banco. Adrián foi titular em Leicester, há dois meses, e desde então nem foi ao banco. Com isto, o ataque do FC Porto fica resumido a todos os jogadores que entraram no Restelo: Varela, Corona, Jota, Depoitre e André Silva. É manifestamente muito curto. Já chamam por Rui Pedro, um passo natural. Mas continua o fascínio por chamar Musa Yahaya ao treinos da equipa principal, mesmo sem que ele tenha jogado um único minuto na equipa B. Não deve ter nada a ver com o facto de ter vindo do Portimonense, não senhor.

O que fazer com a bola? (-) - O FC Porto de Nuno Espírito Santo é alérgico à bola. O que esta equipa mais quer é que o adversário tenha bola, para tentar recuperá-la ainda no meio-campo adversário, com uma primeira linha de pressão alta, e depois meter logo a transição rápida. Não está a funcionar. Este FC Porto constrói zero em posse, zero em progressão, zero em futebol apoiado. É uma equipa que não assume o jogo, à imagem do que NES mostrou no Rio Ave e no Valência, diga-se. Joga no erro do adversário. Mas as equipas que jogam no erro do adversário têm que ter uma coisa: a capacidade de marcar um golo em meia oportunidade. O FC Porto não o está a fazer, de todo, e já lá vão 340 minutos sem golos. 

André Silva não dá para tudo. Teve intervenção direta em 43,3% dos golos que o FC Porto marcou esta época. Mas não se pode sobrecarregar um jogador jovem que, como qualquer outro, pode ter um mau momento de forma. E está a tê-lo. Daí que fosse essencial, no início da época, contratar uma alternativa a André Silva. Essa alternativa nunca chegou. Ah, era Depoitre? Sim, Depoitre é de facto alternativa a André Silva: ao André Silva da primeira metade da época 2015-16. Aquele que não jogava na equipa A, basicamente. 

O futebol do FC Porto é pobre, previsível, facilmente anulável. Uma equipa que não tem mostrado capacidade para mudar de velocidade no seu jogo. Os extremos não rompem, os avançados têm que apoiar mais do que são apoiados, os médios poucas vezes provocam desequilíbrios na frente, os laterais estão a perder preponderância ofensiva e o FC Porto raramente aproveita bolas paradas. Nada está a ser potenciado do meio-campo para a frente no FC Porto. Os ovos não são os melhores? Talvez não. Mas pedir uma omelete a quem não sabe partir a casca de um ovo é meio caminho andado para passar fome. Mais um ano.

Do próximos 7 jogos, 6 serão disputados no Dragão e um em Santa Maria da Feira. Não dá desculpas para não abrir um ciclo de sete vitórias consecutivas. E neste caso não é preciso promessas: apenas resultados. Perder um destes jogos em casa, diante do público do Dragão, pode ser a sentença que Paulo Fonseca, Lopetegui e José Peseiro conheceram bem recentemente: no FC Porto, qualquer treinador arrisca-se a pagar a fatura dos maus resultados. A sua e a dos outros.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Saia uma fatura para Leicester

Na despedida do Dragão na época 2014-15, os Colectivo mostraram uma tarja que falava por si: «Vão de férias? Parecia que já estavam!». Há uma grande diferença entre jogar mal e jogar sem esforço, sem empenho, sem compromisso. Quem representa o FC Porto pode jogar mal - acontece a todos -, mas nunca pode deixar de jogar sem comer a relva e dar tudo em campo. Ora este FC Porto nunca veria aquela tarja. Esta equipa esforça-se, luta, quer ganhar. Mas não joga suficientemente bem. 

Não há nada a apontar ao compromisso dos jogadores com a tentativa de vencer. Uma defesa de patinhos feitos que dá segurança. Um meio-campo de pesos-leves que se esfola a pressionar e a correr. Avançados jovens que se desgastam a si próprios e ao adversário ao máximo. Estes jogadores empenham-se, quiseram ganhar em Copenhaga, quiseram garantir já o apuramento.


Por isso, quando vemos que os jogadores se empenham, lutam, transpiram espírito coletivo, e que ainda assim a equipa não consegue ganhar e/ou jogar suficientemente bem, então há algo que está a faltar. Quiçá alguém dentro das quatro linhas, ou alguém fora delas. 

O apuramento para os 1/8 continua perfeitamente ao alcance do FC Porto, desde que meta na cabeça que o Leicester é uma equipa inferior e não é nenhum bicho papão. Alguém se lembra de temer um supremo Boavista em 2001-02? Não, porque sabiam que aquele título tinha sido episódico, coisa de uma vez na vida. Mas há que ter em atenção que esforço, luta e empenho não estão a chegar.






Felipe e Marcano (+) - Quando as vitórias não apareceram, há coisas boas que ficam ofuscadas. Esta não pode ser uma delas: estamos com uma senhora dupla de centrais. Para os mais esquecidos, nos últimos 570 minutos (6 jogos), o FC Porto só sofreu um golo, e todos se recordarão de qual - e como - foi. E nos últimos 9 jogos, o FC Porto sofreu apenas mais um golo, em Brugge. Os centrais têm que ser destacados por esta eficácia defensiva.

Marcano e Felipe não são uma das melhores duplas de centrais da história do FC Porto, e provavelmente nunca serão mencionados para um top 10. Mas são eficazes. Não inventam, jogam simples, mostram sintonia, controlam muito bem a profundidade, poucas vezes perdem lances pelo ar e têm sido impecáveis na marcação. Também cometem erros (Felipe falhou ontem 16 passes, uma quantidade anormal de falhas na saída de bola), mas naquilo que é a sua função principal - defender e não sofrer golos -, era difícil pedir mais. Claramente que o facto de a equipa não sofrer golos tem que ser destacado por todos os protagonistas da defesa, desde Casillas até Danilo, mas Felipe e Marcano merecem este destaque. 

Outros destaques (+) - Não foi capaz de manter a consistência, mas objetivamente foi dos mais perigosos e trabalhadores em campo. Otávio criou, sozinho, mais situações de finalização do que todos os colegas e voltou a estar em evidência nas ações defensivas, ao recuperar 5 bolas e fazer 6 desarmes. Além disso, para um jogador da sua baixa estatura, ganhar 3 lances de cabeça é sempre assinalável.

Óliver não esteve tão bem no passe, mas não se cansa de procurar soluções à sua volta, procurando manter sempre a equipa a rodar e a circular a bola. Procura sempre dar largura à equipa e impor critério na distribuição de bola, embora não esteja a ser influente no último terço (um golo e nenhuma assistência em 14 jogos).


Por fim, Corona em bom nível na segunda parte: procurou o desequilíbrio, fez dois pares de bons cruzamentos, procurou movimentos de ruptura e só lhe faltou ter capacidade de remate (apenas uma tentativa). Tem que ter mais golo. 






Uma parte de avanço (-) - Chega o intervalo e o FC Porto não fez um único remate à baliza. Nem um. Isto diz tudo sobre a qualidade da exibição na primeira parte. Antes do jogo em Belém, talvez fosse boa ideia Nuno Espírito Santo dizer duas coisas aos jogadores: antes do jogo, o que disse antes do jogo com o Benfica; ao intervalo, o que disse antes desta segunda parte em Copenhaga. A equipa revelou caras diferentes, melhorou na segunda parte, mas quem faz 45 minutos deploráveis como estes não pode dizer que entrou em campo com o objetivo de marcar cedo e sufocar o Copenhaga. Ou então não passou do plano à prática. 

Zero no ataque (-) - A improdutividade do FC Porto no ataque começa fora de campo. Nos últimos 5 jogos, apenas 2 golos. Mau, muito mau. Para começar, o principal criativo do FC Porto (não na perspetiva da equipa, mas do lance individual), Brahimi, não conta. Depois, Depoitre, um disparate de contratação (na medida em que pouco joga - pior do que vermos um jogador caro a jogar mal, é nem sequer vê-lo jogar) quando o FC Porto necessitava, aos olhos de todos, de uma alternativa/complemento a André Silva, não conta para um jogo onde o FC Porto conseguiu fazer 28 cruzamentos. E atenção, pois as contas trimestrais vão ser apresentadas antes do final do mês e então poderá ser possível confirmar se o 2º ponta-de-lança mais caro da história do FC Porto só serve para jogar uns minutos contra Gafanha e Chaves. 

Brahimi, que devia ser um match-winner, nem ao banco vai. E Depoitre, que tinha que ser o ponta-de-lança que resolveria os jogos quando faltasse André Silva, não saiu do banco em 9 dos últimos 11 jogos. Quem decide que Brahimi não joga neste FC Porto e que Depoitre era o ponta-de-lança ideal para ser contratado esta época deve ter muito em que pensar. 

Dentro de campo, por maior que fosse o esforço de André Silva e Diogo Jota, faltou novamente o killer instinct . Faltou presença na grande área, numa noite de muita desinspiração. André Silva foi o mais rematador (5 vezes), mas sempre sem eficácia. Diogo Jota terá feito a sua pior exibição no FC Porto: perdeu 11 lances e foram poucas as vezes em que criou perigo. Carregar tudo sobre os ombros de uma dupla de avançados sub-21, sobretudo num nível de exigência de Champions, é demasiado. Um abre-latas e um ponta-de-lança mais forte fisicamente poderiam ter dado outros argumentos para resolver o jogo na segunda parte. Pois...

Nota negativa para a exibição de Maxi Pereira, longe da melhor forma depois da lesão. Se em boas condições já seria difícil justificar a titularidade em detrimento de Layún (que, apesar de ser mais forte à esquerda, mostrou qualidade também à direita), assim muito menos. 

Ah. E desta vez, não ficou a sensação de que ficámos a perder alguma coisa por culpa do árbitro. Não senhor, nem foi por causa da qualidade do Copenhaga, que na segunda parte não fez um único remate à baliza. Não ganhámos por culpa própria. O Leicester vai ao Dragão relaxado, já com o primeiro lugar garantido, quiçá até com suplentes (defronta o City 3 dias depois), enquanto o FC Porto precisa de vencer para se apurar (livrem-se de meter um ouvido que seja em Brugge). Não há desculpas. Fazer 2 pontos em 6 contra o Copenhaga já foi mau o suficiente. Têm mais uma oportunidade. E será a última.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Chaves e Champions

A culpa não foi do Layún, nem do Depoitre, nem do André Silva. O FC Porto podia ter falhado os 5 penaltys: a explicação para uma derrota em Chaves nunca pode passar pelo desempate por grandes penalidades. Nunca. O FC Porto poderia e deveria ter garantido o apuramento muito antes. 

O FC Porto só tinha perdido uma vez na sua história em Chaves, e já lá iam quase 30 anos. Os flavienses conseguiram construir uma boa equipa, desde o Euromilhões até às ideias de um Jorge Simão promissor, mas em condições normais o FC Porto teria que ter vencido tranquilamente aquele jogo. Mas lá está: não houve condições normais.

Depois de ter mostrado o seu melhor futebol da época contra o Benfica, o FC Porto regressou ao nível habitual demonstrado desde o início da época. Uma equipa que não explora, de todo, todas as suas capacidades; limitada na procura da baliza adversária; que não recebe sinais esclarecedores a partir do banco; que demonstra falta de ambição na procura da vitória. Tudo isto não impediu que o FC Porto tivesse oportunidades para marcar e vencer o jogo. Depois, João Capela decidiu brilhar.

Nuno Espírito Santo diz que foi um penalty. O Dragões Diário e o Facebook do clube dizem que foram três. O Tribunal d'O Jogo diz que foram dois. Não é conclusivo, mas há um facto: em todos os lances de dúvida, João Capela arbitrou sempre em desfavor do FC Porto (com exceção de um penalty por marcar para o Chaves). São demasiados erros.

Há adeptos que defendem que o FC Porto tem que ganhar apesar dos erros de arbitragem, dizendo que isso faz parte do ADN do clube: vencer contra os erros de arbitragem. Entendendo o porquê dessa afirmação, não: não é normal errar tantas vezes, e sempre em desfavor do FC Porto. Foram contabilizados 12 penaltys desde o início da época. Provavelmente nem todos os lances são referentes a grande penalidade, mas lá está: em caso de dúvida, foi sempre, sempre contra o FC Porto

Recordando a época 2014-15. O Benfica não jogava bem, mas enquanto a equipa tremia, não havia um erro de arbitragem a deitá-la abaixo. Neste caso, o FC Porto também não joga bem. Mas contrariamente ao que sucedeu ao Benfica, o FC Porto não tem aquele erro de arbitragem a puxá-lo para cima nos momentos difíceis. Nenhum clube o deve ter, diga-se. Mas os critérios deveriam ser iguais para todos, e não têm sido.

Foi bom ver a reação do FC Porto à derrota em Chaves. Pinto da Costa decidiu falar (algo que se tornou uma raridade após maus resultados), e bem, mas foi de lamentar a falta de sintonia entre Nuno Espírito Santo e a comunicação do FC Porto. O treinador queixa-se de um penalty, para depois o FC Porto reclamar que são três? Se não há sintonia dentro do próprio clube nas críticas à arbitragem, nada feito. 


As críticas têm sido relativamente vorazes, mas é preciso que os seus destinatários tenham consequências. Repare-se que o Conselho de Arbitragem nem ousou abrir a boca. Ao contrário do que já fez em situações anteriores, nem sequer se deu ao trabalho de tentar defender publicamente João Capela. Por isso, das duas uma: ou ignora por completo a posição do FC Porto - que, diga-se, nunca pareceu muito incomodado quando o Benfica era beneficiado pela arbitragem, algo que indiretamente prejudicava o FC Porto -, ou quem cala consente

Tendo em conta que já é dia de Champions e que uma crónica ao jogo de Chaves já viria fora de horas, apenas algumas considerações sobre o afastamento da Taça de Portugal. Foi o adeus à competição que o FC Porto, teoricamente, mais hipóteses teria de ganhar esta época, pois era a maios curta - ainda que também seja aquela que permite menor margem de erro, mas também é a que reúne adversários mais acessíveis. Foi-se um dos objetivos.

Disseram os protagonistas, no final do jogo, que o FC Porto foi a única equipa a querer assumir o jogo e a querer resolver a questão antes dos penaltys. Meus caros, mas seria de esperar o quê? Que fosse o Chaves a mandar no jogo? Não brinquem. Em qualquer campo em Portugal, com duas ou três exceções, o FC Porto vai ser sempre a equipa a querer mandar no jogo, a querer dominar, a querer marcar. Isso não é uma valia: é uma obrigação.

Criticar Nuno Espírito Santo é algo que vai soando a repetição, pois infelizmente quase sempre que mexe na equipa durante os jogos a tendência é para piorar, mas a gestão da partida não foi bem conseguida. Aos 78 minutos, sai Otávio, o único criativo do meio-campo, e entra Depoitre, que nos últimos 2 meses só tinha jogado uma vez e que arrisca ser um dos maiores flops da história do FC Porto, sem que ninguém possa ficar surpreendido. A batata quente foi bem cedo chutada para as mãos de Nuno, mas há uma grande diferença entre não conhecer Campaña e contratá-lo meramente por empréstimo, sem comichões, e contratar Depoitre, um avançado limitadíssimo que se tornou, sem que o seu percurso ou valia desportiva o justificasse, um dos mais caros da história do FC Porto. De qualquer forma, O Tribunal do Dragão manifestou, aquando da sua contratação, o otimismo de que Depoitre talvez conseguisse fazer mais golos do que Tiago Caeiro. Para já está ela por ela: 1 golo para cada um. Confiança, vai conseguir!

Para o prolongamento, Nuno fez dupla alteração. Entrou Evandro, que não jogava há 3 meses e só tinha feito 6 minutos em Roma. E entrou Layún, para o meio-campo. Três medidas tomadas por Nuno que fogem a qualquer tipo de padrão que fosse sendo trabalhado desde o início da época. Soa a desespero. E muitas vezes, Nuno transpira insegurança a partir do banco. Olha para o banco, olha para os suplentes que estão a aquecer, conversa com o adjunto, passa as mãos na cabeça, olha para o banco e repete o ciclo. Nuno já mostrou saber preparar jogos, como o fez muito bem contra o Benfica; mas na hora de mexer no jogo e de reagir, tem sido limitadíssimo e, pior ainda, prejudica a equipa. 

Por fim, o FC Porto descobriu, mais de 2 anos depois, que Brahimi é muito mau profissional. Deve ser terrível enquanto elemento de balneário, treina muito mal e o FC Porto, por estar num excelente momento de forma, até se dá ao luxo de o levar a Chaves, só para o ter 30 minutos a aquecer e mandá-lo para o duche. Para Copenhaga é que já nem valeu a pena gastar dinheiro no bilhete de avião. Mas brincamos? Brahimi, o mais virtuoso jogador do FC Porto, não conta? Algo de muito mau devo ter feito Brahimi, só pode. Há quem diga que seria curioso cruzar uma espécie de Mendes vs. Doyen desde o início da época. Certo é que quem perde é o FC Porto. Tirem Gelson ao Sporting e Pizzi ao Benfica, e vejam o resultado. 

Agora, se Nuno não usa Brahimi porque não pode, estão a prejudicar as suas condições de trabalho. Se Nuno não usa porque não quer, está a prejudicar o seu próprio trabalho e o rendimento do plantel. Se Brahimi fez algo de errado, à partida então nem deveria ser convocado ou colocado a aquecer. As razões desconhecem-se, mas só perde o FC Porto.


Hoje, em Copenhaga, o apuramento para os 1/8 da Champions pode ficar resolvido. Na UEFA, o FC Porto poucas queixas tem tido da arbitragem. Por isso, mostrem que em Chaves o que mais pesou na balança não foi o treinador, o plantel ou a exibição, mas sim a arbitragem. Falhar na Dinamarca seria dar razão a quem acha que as arbitragens são uma desculpa para uma equipa sem estofo. Não desperdicem esta oportunidade. 

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Dez coisas sobre Miguel Layún


- Desde que assinou pelo FC Porto, em Agosto de 2015, Miguel Layún tornou-se o defesa/lateral do futebol mundial com mais passes/cruzamentos/assistências para golo. 19 em 2015-16, 4 esta época.

- Nos últimos 11 anos, só um jogador do FC Porto fabricou mais golos do que Layún na mesma época desportiva (Hulk, com 26 assistências em 2010-11). Em comum, o facto de ambos bateram bolas paradas, o que é sempre um benefício nestes casos.

- Com a camisola do FC Porto, Layún tem intervenção direta num golo a cada 133 minutos.

- Sempre que Layún jogou, o FC Porto sofreu uma média de 1,23 golos por jogo. Sempre que Layún ficou no banco, a média disparou para 1,75.

- Layún cria uma média de 1,9 situações de golo por jogo. Praticamente o mesmo que Marcelo e Jordi Alba (os laterais-esquerdos de Real Madrid e Barcelona) juntos (2,0).

- A compra de Layún ao Watford custou 3M€ pagos ainda na época 2015-16. A restante tranche de 3M€ será paga até 31 de Julho de 2017.

- Sempre que Layún marcou, o FC Porto ganhou (8 jogos, 8 vitórias).

- Desde a sua estreia no FC Porto, Layún teve intervenção direta em 30% dos golos marcados pelo FC Porto na Liga.  É o jogador mais influente da equipa neste aspecto.

- Layún tem uma eficácia de cruzamento de 18%, sendo o jogador do FC Porto com melhor aproveitamento nesta estatística.

- Pogba. Payet. Bale. Pjanic. Kroos. David Silva. Cristiano Ronaldo. Mahrez. De Bruyne. Dybala. Willian. E a lista pode continuar: desde 2015, Layún fez mais assistências e fabricou mais situações de golo/jogo do que qualquer um destes jogadores.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

O jogo além de Herrera

Minuto 87: Héctor Herrera entra em campo.

Minuto 88: O FC Porto ganha um lançamento de linha lateral... e bate a bola diretamente para Ederson. O FC Porto entrega a bola ao Benfica ao minuto 88.

Minuto 89: Cruzamento do lado direito do Benfica. O FC Porto tem 6 jogadores metidos na sua grande área, para 3 do Benfica. A equipa deixa de pressionar e recua todas as suas linhas.

Minuto 89: Falta ganha por André Silva. O FC Porto perde a bola menos de 10 segundos depois e permite um ataque rápido do Benfica.

Minuto 90: Rúben Neves, no seu meio-campo, atira a bola para a frente, tentando apanhar Layún nas costas da defesa. A bola saiu pela linha lateral. Posse novamente para o Benfica.

Minuto 90: Alex Telles ganha no corpo-a-corpo e a bola vai sair pela linha de fundo, o que daria pontapé de baliza e mais alguns segundos a Casillas. Mas Layún evitou que a bola saísse, foi prontamente pressionado e foi forçado a pontapear para a frente, entregando a bola ao Benfica.

Minuto 90'+1: Rúben Neves desmarca Herrera pela direita. Herrera podia ir para a bandeirola de canto, aguentar lá a posse e ganhar tempo. Mas preferiu ir diretamente para a zona central, onde já tinha 3 jogadores do Benfica a fechar-lhe o corredor. O lance acabou por quase dar a Rúben Neves a possibilidade do 2x0. Foi a última aproximação à grande área para tentar matar o jogo.


90'+2: Eliseu mostra agilidade pela primeira vez na partida e desvia-se do corte de Herrera.

90'+2: Herrera e Maxi, que estavam junto à bandeirola de canto, viram as costas e correm para a grande área. Ninguém se apercebeu que André Horta estava ali completamente sozinho, pronto para receber a bola. O FC Porto tem neste momento os 11 jogadores enfiados na sua grande área. A pressa de povoar a grande área foi tanta que ninguém pensou que o Benfica tinha pelo menos 2 jogadores livres para ir receber o canto curto.

90'+2: Herrera é o único a sair na pressão e tenta evitar o passe para Pizzi. André Horta puxa para dentro e cruza.


90'+2: Lisandro, entre Danilo e Rúben Neves, faz o golo.

Estes foram os minutos finais do clássico entre FC Porto e Benfica. E resumem uma coisa: falta de maturidade. Uma equipa que não foi capaz de aguentar a bola 10 segundos na reta final. Uma equipa que entregou voluntariamente a bola ao Benfica. Que não foi pragmática, não soube jogar com o relógio. Uma equipa que acusou toda a sua inexperiência para os minutos finais. Faltou uma coisa importantíssima: liderança. No banco e dentro de campo. 

É sempre difícil de perceber o que se passa em campo: se por instrução dos treinadores, se por decisão própria dos jogadores. Exemplos disso são o lançamento de linha lateral, que resulta numa bola bombeada para Ederson, e a bola que Herrera tem aos 90'+1. Foi Nuno Espírito Santo que não deu instruções para segurar a bola? Ou foram os jogadores que tiveram pressa em meter a bola na grande área do Benfica?

Provavelmente nunca saberemos. O que sabemos é que os minutos finais revelaram muito mais do que um corte mal calculado de Herrera: revelaram uma equipa que demonstrou imaturidade num momento crucial. Não sabemos se faltaram instruções devidas a partir do banco, ou apenas liderança em campo. O que sabemos foi que o FC Porto não teve a clarividência necessária para segurar a bola nos minutos finais de um clássico, frente a um Benfica que esteve muito longe de ser uma equipa ameaçadora. Não esquecendo que tinham vários titulares de fora, enquanto o FC Porto tinha todos os jogadores disponíveis. Sim, ninguém ficou impressionado com este Benfica. Mas se tirarem uma mão cheia de titulares ao FC Porto, as coisas também são capazes de não correr da melhor forma.

Este tipo de acontecimentos não é inédito. Para quem não se recorda, o golo de Kelvin começou num lançamento de linha lateral para o Benfica, que João Moutinho intercetou. São coisas que acontecem. Pequenas falhas que têm depois grande impacto. Mas em suma, nunca em lado algum viram algum clube perder um campeonato porque um jogador chutou uma bola para canto.

De todos os erros que podem ser cometidos no futebol (agressão, penalty no último minuto, auto-golo, falta à entrada da grande área...), Herrera cometeu talvez o mais banal de todos eles: calculou mal um corte. Aquele lance, aquela pressa de querer pontapear a bola contra Eliseu com toda a força para ganhar o lançamento, mostrou um jogador que teve mais coração/garra do que cabeça/calma. E aquele momento recomendava isso mesmo: calma.

Não sabemos que instruções Nuno deu a Herrera. O que sabemos é que vários jogadores do FC Porto não tomaram as melhores decisões nos últimos minutos do clássico. Mas é verdade que um jogador com a experiência de Herrera devia ter noção de que, naquele momento, era necessário outro tipo de abordagem. A não ser que lhe tenham dado indicação contrária.

Todos se estão a centrar no mau corte de Herrera, mas esquecem algo: a facilidade com que as equipas estão a conseguir marcar ao FC Porto em lances de bola parada. Foi assim com o Rio Ave, com o Sporting, com o Boavista e agora com o Benfica. Nuno Espírito Santo tem uma forma própria de trabalhar as bolas paradas: coloca três jogadores em marcação H-H e o resto em defesa à zona. Algo a rever: são muitas vezes os adversários que estavam na marcação à zona que conseguem o cabeceamento. Por exemplo, no momento do cruzamento de André Horta, Danilo não está a marcar ninguém. Está sozinho. André Silva e Alex Telles estão na zona de Lisandro. Depois, André e Alex ficam para trás, enquanto Lisandro faz o movimento de aproximação, já com a frente ganha a Rúben Neves. Quando Danilo aborda o lance, já com Felipe também solto, já tem a bola nas suas costas. Coisas como o corte de Herrera acontecem uma vez em 50 jogos. Já as bolas paradas são situações que têm que ser trabalhadas durante todos os jogos.


Em relação a Herrera, importa lembrar que é capitão do FC Porto. E não é capitão pelo seu espírito de liderança, por ser carismático ou por ser o melhor jogador da equipa. Nem é capitão como condição de uma renovação de contrato. É capitão porque é um jogador respeitado por todo o balneário. E não tem culpa que não haja um João Pinto ou um Jorge Costa no plantel. Faz bom balneário, é empenhado. Não, não beija o símbolo, não mete fotos bonitas com hashtags na internet. Empenha-se, respeita e faz-se respeitar. 

Herrera sempre teve caraterísticas que não eram as mais adequadas para o meio-campo do FC Porto nos últimos anos. Por exemplo, seria um jogador talhado para as mãos de Jesualdo Ferreira. Com Paulo Fonseca, Luís Castro, Lopetegui, Peseiro ou Nuno Espírito Santo, viveu alguns períodos difíceis. Com Lopetegui fez a melhor época, com José Peseiro foi o melhor jogador da segunda volta de 2015-16. Nas últimas semanas, está a atravessar um momento menos positivo.

Suficiente para merecer o repúdio de que tem sido alvo por muitos adeptos? Não! Herrera não agrediu ninguém. Não ofendeu um colega. Não desrespeitou o símbolo do FC Porto. Não desistiu de um sprint. O que fez Herrera? Quis entrar com tudo num lance onde tinha que ter calma. É este o pecado que justifica toda essa revolta que por aí vai? Se assim for, pobre do jogador do FC Porto que for expulso, ou que falhar um penalty, ou que fizer uma falta que dê um golo ao adversário. Vão fazer Fernando II de Aragão e Isabel de Castela parecerem meninos. 

Herrera foi decisivo na excelente Champions 2014-15, com 4 golos. E já este ano, para quem não se recorda, fez duas assistências no play-off. Com a camisola do FC Porto já fez 20 golos e 22 assistências. Esteve em momento cruciais para o FC Porto nos últimos anos, sempre com respeito e profissionalismo com a camisola que veste.

Nunca fez birra para sair, coisa que tantos outros heróis dos adeptos fizeram. E uma questão: Herrera tem culpa que tivessem rejeitado uma proposta de 30M€ por ele? Não. Aliás, há dúvidas que algum adepto, por mais que goste de Herrera, tivesse rejeitado uma proposta de tal valor por ele. Moutinho, Deco, Lucho, Maniche, Fernando, Meireles (e aquele auto-golo na Choupana?) e Guarín (que também sentiu na pele o que é ser mal-amado) saíram por bem menos e conseguiram mais do que Herrera ao serviço do FC Porto. 

Aqui, mantendo a postura que sempre teve, Herrera não merecerá outra coisa que não o mesmo respeito com o qual trata o FC Porto. Ou seja, máximo respeito. No último clássico na Luz, marcou ao Benfica e foi o melhor em campo. No último jogo, falhou Eliseu, um jogador no qual devia ser mais fácil acertar do que na baliza. O que se vê é adeptos a confundir o erro do futebolista com o homem. E fazem ataque pessoais ao homem. Vergonhoso! Se o pior que tivermos para dizer de Herrera da sua passagem pelo FC Porto foi que chutou uma bola para canto, ninguém vai perder o sono. Mas que há quem precise de acordar, há.

Ânimo, Héctor!

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Grandes e pequeno

Na época passada, o Benfica perdeu os 2 clássicos com o FC Porto, tendo ainda perdido por 3x0 em casa com o Sporting. Acabou por ser campeão. Isto diz desde logo que não é pelo resultado de ontem que o FC Porto reduz ou aumenta as suas hipóteses na luta pelo título. Na verdade, até as aumenta como nunca no que toca a termos exibicionais: vimos um FC Porto vulgarizar o Benfica durante grande parte do jogo, numa das poucas vezes esta época em que mostrou fibra de campeão.

Infelizmente, o minuto 92 dá para os dois lados. Um detalhe decidiu o jogo, e transformou uma exibição que estava a encher de orgulho todos os portistas na típica enxurrada de críticas que não existiriam se Herrera não tivesse cometido aquele erro, ou se não tivessem metido Herrera em campo, ou se tivessem vendido Herrera. Um único erro é pretexto para encontrar mil e um responsáveis, ainda que a exibição tenha sido exatamente a mesma. A exibição, sim, merece nota positiva. O resultado, infelizmente, não.

O FC Porto já perdeu 9 pontos em 10 jornadas. Na época passada, em 34 jogos, o Benfica perdeu apenas 14 e o Sporting 16. A equipa já perdeu muitos pontos, uns de mãos beijada e outros por erros de arbitragem, e as contas - que é o que conta sempre para a história - começam a ficar complicadas. 

É sabido, desde o início, que esta não é uma época em que o FC Porto se tenha preparado convenientemente para o título, desde a forma como foi gerida a pré-época à escolha dos marujos para este leme. Mas o que mais custa é que a equipa mostrou ontem capacidade, muita capacidade, e fez quase até ao final os adeptos acreditarem que aquele jogo podia ser um ponto de viragem.

No final, fica (quase) tudo na mesma. Dentro de campo sinais muito positivos até determinada altura, nas contas tudo igual. Na verdade, infelizmente não fica tudo na mesma: o FC Porto deixa de depender de si próprio na luta pelo título. Seria difícil sob qualquer circunstância, ontem complicou-se um pouco mais, ironicamente no dia em que o FC Porto mais força e argumentos mostrou para se chegar à frente. É futebol... e mais umas coisas.




Óliver Torres (+) - Podem falar de Nuno Espírito Santo, de Herrera ou de Artur Soares Dias. Mas o momento-chave foi este: o FC Porto morreu quando Óliver Torres saiu de campo. Pensemos naquilo que foram os primeiros 5 minutos do FC Porto em campo: primeira posse de bola, Maxi manda um balão para a frente; segunda posse, mais um biqueiro para a frente; terceira bola, balão de Felipe para André Silva; quarta bola, cruzamento de Alex Telles a meio do meio-campo; quinta bola, mais um balão de Felipe para a frente. Estes foram os minutos iniciais do FC Porto e foram assustadores, pois davam a ideia de que o FC Porto ia jogar à imagem do que vinha sendo hábito para NES. Mas tudo mudou, graças a Óliver.

O FC Porto começa a crescer quando deixa de mandar o chutão para a frente e Óliver começa a baixar mais para ir buscar a bola. Foi aí que o FC Porto cresceu: médio a vir buscar a bola e a iniciar a transição rápida e apoiada com a bolinha no chão. Óliver fez um jogo simplesmente sensacional, tendo mantido toda a equipa a funcionar à sua volta. Colou a bola ao pé, distribuiu-a, arrastou os jogadores do Benfica, progrediu, meteu o FC Porto a jogar na órbita da grande área. Aos 67 minutos, saiu de campo. O FC Porto não voltou a ser o mesmo.


À Porto (+) - Ser Porto não é ganhar sempre, mas tem que ser lutar sempre para ganhar. Ontem, os jogadores deixaram claro que deram tudo, tudo para ganhar. Lutaram por cada bola, pressionaram o adversário, meteram o pé, fizeram cara feia nos sprints, jogaram com objetividade durante a maior parte do jogo e contagiaram os adeptos com a sua garra e crer. Excelente atitude, a todos os níveis. Ontem, não mereciam aquele soco no estômago. Nada a apontar na entrega e dedicação da equipa. 

Outros destaques (+) - Mais um bom jogo de Alex Telles. Ganhou quase todos os lances pelo seu corredor, apoiou o ataque, acelerou o jogo a partir do seu flanco e ainda roubou 6 bolas. Está num bom momento. Danilo Pereira, mais do mesmo: foi o principal recuperador de bolas e foi sempre a garantia de equilíbrio num meio-campo de alta rotação. Diogo Jota fez um golo e a sua versatilidade em campo foi sempre uma arma útil ao FC Porto (ora caía no flanco, ora desequilibrava em zona interior). Seria interessante descobrir por onde andam os indignados pela contratação de este suposto benfiquista. Corona decidiu várias vezes mal e mostrou muita hesitação, mas agitou o jogo, fez diagonais perigosas e com ele em campo o FC Porto tinha sempre uma via para criar perigo. Palavra também para mais um jogo limpo e autoritário de Marcano, a disponibilidade de André Silva e o empenho de Otávio no meio-campo. Mereciam muito mais. 





Machadada final (-) - Uma pequena retrospetiva de jogos contra o Benfica. Em 2003, Mourinho tirou Alenichev e meteu Tiago. Ninguém o acusou de ser medroso. Na Supertaça de 2004, Víctor Fernández tirou Quaresma e meteu Bosingwa. Ninguém o acusou de ser defensivo. Em 2011, na Luz, Villas-Boas trocou Falcao por Maicon. Ninguém o acusou de ter medo.

O que têm estes 3 jogos em comum? O FC Porto ganhou ao Benfica. Por isso, ninguém ousou criticar a opção defensiva tomada pelo treinador. Aconteceria exatamente o mesmo se o jogo ontem tivesse terminado aos 91 minutos. Se aquele golo de Lisandro não tem acontecido, todos estariam satisfeitos com NES, a fundamentar teorias de crescimento da equipa e a elogiar a sua estratégia. Como o FC Porto não venceu, voltou tudo a cair em cima do treinador, naquele tal ciclo vicioso.

A diferença? Nos três jogos referidos, estamos a falar de uma alteração de Fernández, outra de Mourinho e outra de Villas-Boas. Neste caso, as três alterações de NES deram sinais ao FC Porto para recuar. Foram três alterações defensivas. Nuno Espírito nem sequer ousou refrescar o ataque. Não, todos os sinais dados para dentro de campo foram para recuar. Por isso, o problema não foi tirar Jota para meter Herrera. O problema foi que aquela já era a terceira alteração de cariz defensivo. A melhor maneira de defender um 1x0 é esticar o jogo, refrescar o ataque, manter quem segure a bola na frente. Nuno preferiu recuar. 

Nuno Espírito Santo foi o que tem sido desde que chegou ao FC Porto: um treinador com mentalidade demasiado pequena. Um treinador que foi o que não podia ser: pequeno. E esta é a crítica que sumariza tudo: quando Rui Vitória começou a mexer na equipa, o Benfica melhorou. Quando Nuno começou a mexer na equipa, o FC Porto piorou. Provavelmente, muitos não teriam ou subscreveriam estas críticas se o FC Porto tivesse ganho. Mas é por isso que O Tribunal do Dragão opinou negativamente muitas vezes em relação ao pensamento e estratégia de NES mesmo após bons resultados. Porque quando se perde pontos é muito fácil apontar o dedo e criticar; difícil é conseguir ter sentido crítico durante as vitórias, de modo a alertar para coisas que podem acontecer no futuro se a equipa não mudar. Ontem foi uma delas. Se o FC Porto cumprir alguns dos seus objetivos, não será «graças a». Será «apesar de». 

Nem Brahimi nem Depoitre para segurar a bola na frente. Não, Nuno quis recuar. Sentiu medo de um Benfica que tinha sido quase inofensivo até então. Em sua defesa, era lógico que, após a entrada de André Horta, o FC Porto tinha que reforçar o meio-campo. E fê-lo bem, com Rúben Neves. Mas e depois? Que sinais foram dados à equipa? O FC Porto deixou de pressionar a saída de bola do Benfica e, com isso, deixou o adversário crescer. É claro que nenhuma equipa joga 90 minutos de alta rotação, mas faltou capacidade ao FC Porto para gerir o jogo com e sem bola e manter o Benfica no seu meio-campo. E isso começa no trabalho do seu treinador.

Agora, Herrera. Cometeu um erro, um erro que custou caro. Ingrato para um jogador que é capitão do FC Porto e que sempre teve uma conduta profissional irrepreensível. Errou. No último jogo frente ao Benfica, fez um golo e foi o melhor em campo, tendo sido decisivo na vitória na Luz. Ontem conheceu o outro lado da moeda.

Todos sabem que Herrera, no FC Porto, não é peixe na água. Mas já teve grandes jogos, já teve grandes momentos de forma, já revelou utilidade em vários momentos nos últimos 3 anos. Mas talvez seja possível concordar com uma coisa: provavelmente, nenhum leitor d'O Tribunal do Dragão recusaria uma proposta de 30M€ por Herrera. Se calhar nem de 20M€. Portanto, quem considerou que rejeitar 30M€ e manter Herrera era a melhor estratégia é que deveria opinar sobre isto. Ninguém imaginaria que o jogador cometesse aquele erro, mas aconteceu. Não foi um auto-golo, não foi um penalty, não foi uma expulsão. Foi um corte mal calculado, como tantos acontecem em todos os jogos. Este veio na pior altura e para o pior jogador possível (se tivesse sido Rúben Neves, Óliver ou André Silva, ninguém lhes dirigiria um décimo das críticas). 

Paragem para as seleções, depois do jogo mais amargo da época. Porquê tanta amargura? Porque vimos que o FC Porto era capaz. E uma equipa que vulgariza de tal forma o tricampeão durante (quase) 90 minutos não pode baixar as armas por causa de um erro.  

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Domingo não podemos ser pequenos

Quem segue a máxima «o importante é ganhar» teve um festim. O FC Porto não podia falhar contra o Club Brugge - e não falhou. Pleno de 6 pontos na dupla jornada, subida a um lugar de acesso aos 1/8 da Champions e possibilidade de, à 5ª jornada, garantir matematicamente a qualificação. Bem bom. Só falta reconhecer que, com este futebol, não vamos iniciar a próxima semana a menos de cinco pontos do Benfica e temos que nos questionar o que é que vamos exatamente tentar fazer nos 1/8 da Liga dos Campeões.

Ganhámos, ótimo. Vimos a equipa conseguir o objetivo dos 3 pontos. E também vimos um FC Porto a defender o 1x0 em casa contra o Brugge. Fechadinho, recuado, dando a bola ao adversário. Equipa sem ambição, sem personalidade, sem vontade de fazer o adversário tremer ou de matar o jogo. Um FC Porto que insiste a jogar como equipa pequena, uma vez mais por decisão própria e não por supremacia do adversário. 

É preocupante a incapacidade do FC Porto em que se assumir com bola, de ter mais ambição em procurar o 2x0 do que em defender o 1x1, em não deixar o adversário sequer sonhar com uma bola bombeada que possa valer o empate. «Mas as equipas do Nuno Espírito Santo jogaram sempre assim». Sim, é verdade. Mas é de esperar, quiçá com alguma ingenuidade, que em novembro já haja algum tipo de mudança nesse sentido, até porque de outra forma a época não acabará bem. E se calhar nem a semana.

Ficam os 3 pontos, o objetivo primordial, e um apuramento essencial completamente ao alcance do FC Porto. Basta uma (difícil) vitória na Dinamarca para o FC Porto cumprir um objetivo de época, financeiro e desportivo. Mas não será com estes meios que se celebrarão fins. 




Danilo Pereira (+) - Por este andar, os «Bonés» correm o risco de ser substituídos pelos «Danilos» ou pelos «Pereiras», tamanha a insistência que tem tido para aparecer neste espaço. Para começar, é o jogador do FC Porto com melhor eficácia de passe na Champions: 93%. É o 2º jogador que mais faltas arranca (atrás de Otávio) e joga com uma segurança e limpeza incríveis: faz apenas em média uma falta por jogo. Danilo dá tudo ao meio-campo do FC Porto: referência no início de construção, dimensão física, capacidade de acelerar o jogo, progressão com bola (embora tenha que se limitar, por razões de equilíbrio, nesse aspeto) e uma cada vez mais insistente tentativa de meia-distância. Poucas vezes falha um drible (à atenção dos avançados) e revela-se um exemplo em todos os aspetos. Uma pergunta: alguém se lembra de Fernando?


André Silva (+) - O golo foi fortuito, mas a movimentação antes do cabeceamento revelou bem o seu faro para o golo na grande área. Uma vez mais, André Silva foi vítima da trabalheira que é ser avançado do FC Porto: corre, corre, corre. Seja para a baliza, seja para dar apoio atrás, seja para descair nos corredores, seja para pressionar os defesas. André Silva é neste momento o avançado que mais corre na Liga dos Campeões. A bem da verdade, há 3 com mais quilómetros: Griezmann, Cafú e Marcelinho, mas tratam-se de 3 avançados que jogam em equipas de declarado esquema de contra-ataque, com o avançado a jogar muitas vezes em profundidade. André Silva também é solicitado em profundidade muitas vezes, mas movimenta-se de forma muito mais ampla. Já agora: André Silva atingiu um pico de velocidade de 30km/h. Segundo um estudo da FIFA de 2015, só 10 jogadores corriam acima desta velocidade em 2015. Que não corra para muito longe daqui em 2017, é o desejo que fica. E em 2018. E em 2019. Já perceberam a ideia?

Outros destaques (+) - Belo jogo da dupla Marcano e Felipe. O Club Brugge conseguiu entrar 30 vezes na grande área do FC Porto, fruto do deixa jogar que tem sido uma imagem de marca nesta equipa. Felizmente, os centrais poucas vezes foram batidos. Para a segurança defensiva também muito contribuiu Casillas e a exibição competente de Maxi Pereira e Alex Telles (melhor no ataque). Foi o primeiro jogo de Champions em que o FC Porto não sofreu golos. Muito graças à ação defensiva da equipa e aos seus intervenientes.




Pequenos (-) - Este FC Porto treme porque quer. Este FC Porto teme os adversários porque quer. Este FC Porto confunde o gerir o jogo sem bola com o entregar toda a iniciativa de jogo ao adversário e, com isso, sujeitar-se a deixar fugir uma vitória num erro. Parece haver uma espécie de trauma generalizado recente do FC Porto em relação à posse de bola. Mas o futebol obedece a este simples princípio: só marca golos quem tem bola, e que não tem bola arrisca-se a sofrer. Se o FC Porto deixa o Club Brugge ter bola à vontade, está a expor-se a um risco enorme.

O Club Brugge saiu do Dragão com mais posse de bola, mais passes completos, melhor eficácia de passe, apenas menos 2 remates à baliza e apenas menos 4 cruzamentos. Porque o FC Porto quis, porque o FC Porto deixou. Esta insistência de querer fazer do FC Porto uma equipa pequena, que não conhece outro modelo que não o chuto em profundidade, deveria preocupar toda a gente, começando pelo seu treinador. Mas não, o FC Porto parece querer fazer disso uma imagem de marca. Compreender-se-ia num Camp Nou ou num Santiago Bernabéu. Mas em casa? Contra o Club Brugge? O argumento que mais clamavam para a contratação de NES era o «ser Porto». O FC Porto já jogou melhor, já jogou pior, mas nunca jogou com mentalidade tão pequenina. Isto não é ser Porto.

Para esquecer, Héctor (-) - Podemos dizer que meter Herrera a jogar pela ala direita, querendo que ele faça o que Corona e Brahimi aparentemente não podem fazer de início, não é a maneira de aproveitar as caraterísticas de Herrera. Mas já o vimos fazer bons jogos ali, boas coisas. Ontem, terá sido o seu pior jogo em muitos meses. Não ganhou uma bola dividida, esteve perdulário no passe e só se destacou em algumas bolas que recuperou no seu meio-campo. Querer transformar um transportador de jogo num pensador também tem tudo para correr mal, mas ontem não foi um bom dia para Herrera. Um dia a não repetir no clássico. Noite também longe de ser produtiva para Óliver, Otávio e Jota, com a garantia de que contra o Benfica será necessário muito, muito, muito mais.


A fechar, vamos recordar as palavras do último treinador do FC Porto campeão: Vítor Pereira: «O Benfica paga caro a alteração de ADN frente ao FC Porto». Ele sabia do que falava. Por isso, Nuno Espírito Santo, não queiras alterar o ADN do FC Porto no domingo. O FC Porto não é uma equipa pequena, o FC Porto não pode jogar como uma equipa pequena. Não temos que temer o Club Brugge nem o Benfica: temos que fazê-los temer o FC Porto. Não estamos a pedir/exigir nada mais que não seja não ter medo, não pensar pequeno, não deixar o Benfica sentir que pode fazer o que quer no Dragão. Não pode. O FC Porto não é uma equipa pequena. O FC Porto não pode ser uma equipa pequena. O FC Porto não é uma equipa pequena. O FC Porto não pode ser uma equipa pequena. Há que meter isto na cabeça. Nem que seja preciso escrever mil vezes num quadro.