Soou a pré-época. Não só por Maicon ter marcado um golo de livre, mas por o FC Porto ter-se apresentado em campo, durante grande parte do jogo, sem entrosamento, sem saber muito bem qual é o seu modelo e como jogar, com Lopetegui a testar novas soluções e jogadores que não pareciam aguentar 30 minutos de intensidade. No meio disto tudo, saíram três pontos, mais um jogo sem sofrer golos no Dragão e o regresso às vitórias.
Da teoria à prática |
Se Cissokho foi contratado com vista à dispensa de José Ángel e para ser alternativa a Alex Sandro, não faria sentido nenhum Ángel entrar como titular. A ideia da titularidade de Martins Indi no lado esquerdo podia ser interessante: forma de aproveitar um ativo caro que está tapado pela boa dupla Maicon-Marcano e tentar disfarçar as grandes dificuldades que Indi tem no jogo aéreo.
Por outro lado, o FC Porto de Lopetegui sempre dependeu da projeção ofensiva dos laterais. Com Indi, isso perdeu-se. Mas Lopetegui terá pensado que tendo três criativos nas costas de Aboubakar, além de dois «todo-o-terreno» a guardar o meio-campo, talvez se conseguisse ultrapassar essa necessidade de profundidade no lado esquerdo. Infelizmente não foi assim, mas foi corrigido.
Da mesma forma que Lopetegui, não tendo alternativa a Lucas Lima (ou será à Doyen?), decidiu testar Brahimi na zona central, até porque está em vias de ter mais um extremo (Corona). Não foi por Brahimi que isso correu mal: foi pelo pior jogo em muito tempo de Varela e Tello, pela desarticulação absoluta entre as linhas do meio-campo e do ataque, pela falta de rotinas neste esquema. O meio-campo nunca entendeu muito bem o seu papel e os extremos não deram uma para a caixa. Assim era difícil o 4x2x3x1 singrar. Lopetegui, felizmente, reagiu a tempo.
Resta saber se foram 40 minutos a mostrar que este 4x2x3x1 precisa de ser MUITO melhor trabalhado ou que simplesmente não serve. Dentro de duas semanas já não será tempo para experiências.
Maxi Pereira (+) - Há dois meses escrevia: «Curiosamente, as maiores preocupações que se leem nem é do investimento: é do simples facto de Maxi Pereira vestir a camisola do FC Porto. Porque é um «caceteiro», basicamente. Não sejamos hipócritas: se Maxi Pereira estivesse no FC Porto há uns anos, diriam todos que é um jogador à Porto. Porque tem raça, garra, dá tudo em campo, tudo aquilo que caracteriza um jogador à Porto. Mas como é natural, se um jogador tem essas caraterísticas mas está num rival, é normal que não gostemos dele.» Maxi Pereira só precisou de três jogos para que muitos se esquecessem do que ele defendeu durante oito anos. Com atitude, disponibilidade e rendimento assim, não há como não gostar. Certinho a defender, aguerrido a atacar, mesmo num jogo em que o FC Porto não parecia ter flancos a funcionar.
Brahimi (+) - Ele já disse que prefere jogar em zonas mais interiores. Mas para Brahimi ter a tal liberdade para ser 10, é preciso um entendimento e rotinas que o FC Porto não revelou de todo ontem. Ainda assim, foi da sua capacidade de desequilibrar que o FC Porto chegou ao 1x0 bem cedo. Tendo em conta que o outro golo foi de livre direto, só mesmo aquele lance de inspiração de Brahimi permitiu ao FC Porto marcar um golo de bola corrida. E já na Madeira foi ele a descobrir o caminho para o único golo...
Corrigir os erros (+) - Lopetegui poderia ter ficado à espera que o 4x2x3x1 funcionasse, mas não foi teimoso. Não hesitou em mudar tudo ainda na primeira parte. O esquema falhou, sobretudo por falta de preparação, e não havia por que arriscar a perder a vantagem frente ao Estoril. O treinador tem quota-parte por a mudança não ter funcionado e é bom que a tenha assumido, não limitando tudo ao subrendimento de alguns jogadores. André André e Herrera entraram muito bem. Nota para a boa exibição da dupla Marcano-Maicon, mais uma, e para a segurança de Casillas. E Aboubakar: um remate à baliza, um golo. Se lhe dessem mais situações de finalização, marcaria mais.
Má resposta ao mercado (-) - Neste caso, Varela e Tello não fizeram um dos piores jogos em muito tempo por culpa do esquema tático, mas sim por diversas falhas técnicas em quase todas as suas abordagens aos lances. Varela começou por se envolver no lance do 1x0, mas depois esteve completamente ao lado do jogo: desatento, mal posicionado, incapaz de fazer um bom centro, uma boa abertura ou de aparecer em zona de finalização. Já Tello pareceu tecnicamente raso e incapaz de ultrapassar uma única vez Mano ou Anderson Luis, insistindo em atirar-se contra o defesa e deixar a bola nas pernas do adversário. Se queriam dar um «alerta» à iminente contratação de Corona na luta pela titularidade, correu muito mal.
Sem saber o que fazer (-) - Jogar em duplo pivô não é fácil e requer tempo. Sobretudo porque os dois jogadores que atuam nessa posição têm que se conhecer muito bem e complementar-se mutuamente. Não foi isso que aconteceu com Danilo e Imbula. Houve um constante afastamento entre linhas e desentendimento entre quem subia e quem ficava. Danilo Pereira aparentou estar algo nervoso e o FC Porto parecia estar a tentar descobrir como iria começar a construir. Por outro lado, Imbula tem revelado muitas dificuldades em jogar em toque curto, de primeira, «embrulha-se» demasiado à bola e parece sentir que é obrigatório que cada ação sua tenha que ser um transporte de bola. É natural, trata-se de um jovem de 22 anos, ainda com muito para aprender e evoluir, e também consequência de se contratar um jogador pelo preço que pode vir a valer, não pelo que vale no momento.