Faz amanhã, 12 de outubro, três anos. Fernando Gomes, responsável financeiro da SAD do FC Porto, assumiu, mediante a apresentação de custos com pessoal de 75,8 milhões de euros, que era altura de «conter e tomar um novo rumo». A folha salarial atingiu custos incomportáveis para qualquer clube português e, sobretudo, para um clube que viria a ser visado pelo incumprimento do fair-play financeiro da UEFA. Por isso, foi altura de traçar um plano:
Jornal O Jogo, 12-10-2016 |
Fernando Gomes traçou e assumiu o plano e os objetivos. A folha salarial do FC Porto tinha ultrapassado os 75 milhões de euros. Era, por isso, intenção da SAD fazer com que ela fosse reduzida em 20 milhões de euros, passando o FC Porto a ter assim custos com pessoal na ordem dos 55 milhões de euros. «Três anos», foi o prazo traçado por Fernando Gomes e pela SAD. Cumpridos esses três anos, eis os resultados.
Relatório e Contas da FC Porto, SAD, 2018-19 |
A conclusão é óbvia. Não só a SAD não conseguiu reduzir a folha salarial em 20 milhões de euros como quase a conseguia aumentar nesse valor. Ao invés dos estimados 55 milhões de euros, o FC Porto fechou a época 2018-19 com custos com pessoal de 91,64 milhões de euros, os mais altos da história da SAD.
Fernando Gomes, aqui citado pelo JN, tem uma justificação: «Deveu-se, sobretudo, a três situações. As rescisões de contrato com os
jogadores Bueno e o Bazoer, ao ajustamento dos contratos pela conquista
do campeonato da época passada e os prémios extraordinários face à
passagem da fase de grupos da Liga dos Campeões».
Portanto, rescindir o contrato de dois jogadores, um deles que até estava apenas emprestado, passar a fase de grupos da Liga dos Campeões (e a chegada aos quartos-de-final, certamente também considerada) e a revisão dos contratos pela conquista do Campeonato justificam este abismal aumento? Nada que surpreenda, tenho em conta que já tinha sido esta a linha de orientação de Fernando Gomes na apresentação das contas da época passada: ««Tínhamos previsto reduzir os Custos com Pessoal e eles subiram por
uma questão muito simples: como fomos campeões nacionais, tivemos de
pagar prémios ao plantel e à equipa técnica. Isso representou um encargo
adicional de 6 milhões de euros, mas ainda bem que o tivemos».
Apresentar as contas da SAD portista aparenta ser uma das tarefas mais fáceis no universo financeiro. Não se cumprem metas ou objetivos? Ou se culpa o insucesso desportivo (a não-qualificação para a Champions terá o devido impacto na apresentação do orçamento 2019-20), ou culpa-se o sucesso desportivo («pagámos mais do que o previsto porque tivemos que pagar prémios»). Não esquecer que o FC Porto, à partida, prepara cada época a pensar em ser campeão nacional e em passar a fase de grupos da Liga dos Campeões. Chegar ao final da temporada e alegar a surpresa de ter que ter pago prémios por rendimento desportivo, quando este já estaria orçamentado, é um tanto ambíguo.
Aguardamos a publicação do Relatório e Contas completo da época 2018-19 para a devida e mais profunda análise. Ficam, para já, os principais tópicos dos Proveitos e Despesas Operacionais.
No orçamento de 2018-19, a SAD estimava custos de 135 milhões de euros (sem incluir despesas com transações de passes). Os custos atingiram os 150 milhões de euros, essencialmente pelo aumento nas despesas com pessoal e por mais uma subida nos FSE.
Em relação aos Proveitos Operacionais, estamos perante os maiores da história da SAD, muito graças ao rendimento de Sérgio Conceição e dos jogadores na Liga dos Campeões 2018-19. O FC Porto estimava proveitos de 156 milhões de euros, mas os resultados atingiram os 176 milhões. Só as receitas na UEFA significaram um encaixe de 80 milhões de euros, mas o R&C apresenta uma alínea que não estava prevista no Orçamento: «Outras Prestações de Serviços», que acrescentaram 8,5 milhões de euros às contas.
Conforme esperado depois da boa campanha da Champions e das excelentes vendas de Felipe e Éder Militão, o FC Porto terminou a época financeira 2018-19 com lucro, que ascendeu a 9,47 milhões de euros (há um ano, a SAD estimava 1,5 milhões de lucro).
O passivo e o ativo sofreram ambos reduções. O ativo total líquido caiu em 52,75 milhões de euros, um pouco menos do que o passivo (-56 milhões), «que se situa agora nos 408,1 milhões, essencialmente devido à diminuição do valor global dos empréstimos», especifica a SAD. Este saldo significa capitais próprios negativos de 34,8 milhões de euros, o que mantém a SAD numa situação de falência técnica. A análise ao R&C será aprofundada quando o resultado completo for disponibilizado na CMVM.