terça-feira, 30 de agosto de 2016

Uma nova escola

Já é por demais conhecida a história de Alexandre Gomes, filho de José Fontelas Gomes, presidente do Conselho de Arbitragem, e que foi este ano contratado pelo Sporting. Vamos admitir a extrema coincidência de uma pessoa com forte influência na arbitragem ter um filho a jogar nos juvenis do Sporting. O miúdo é por certo o último a ter culpa de coisa alguma.

Mas o problema é quando se começa a formar um ligeiro padrão. No final de maio, Luciano Gonçalves chega à presidência da APAF. E depois do clássico entre Sporting e FC Porto, teve a sua primeira grande intervenção pública nessa condição. Disse isto.

«Não faz sentido, semana após semana, este tipo de críticas à arbitragem. Na nossa opinião, o Tiago Martins fez uma grande arbitragem no seu primeiro clássico». 

A bem da verdade, não foi a primeira vez que se pronunciou sobre a arbitragem. Depois das críticas do Benfica à arbitragem de Manuel Oliveira, veio a público dizer isto: «Criticar o árbitro, dizer que ele errou faz parte, é o mundo do futebol. Agora daí a levantar este ambiente de crispação junto dos árbitros e dos dirigentes da arbitragem é completamente errado. O ambiente criado pelo presidente do Benfica é desnecessário». Ena, um líder da APAF a mandar o presidente do Benfica ter cuidado com o que diz? Bravo! Como pode alguém criticar o presidente do Benfica? Hmmm...

Entretanto, José Fontelas Gomes saiu da APAF para o Conselho de Arbitragem. Luciano Gonçalves fazia parte da sua lista e foi então apoiado por Fontelas Gomes, por ser visto como uma solução de «continuidade». Elogie-se a sua intenção de tornar públicos os relatórios dos árbitros. Por certo, todos temos curiosidade em ver o que disse Tiago Martins no seu relatório de jogo. 

Mas a sintonia com José Fontelas Gomes vai muito além da arbitragem. Pois, Fontelas Gomes não é o único a ter um filho a jogar no Sporting. 



Não precisamos de mais do que fazer o exercício de imaginar o que se diria se Fontelas Gomes e Luciano Gonçalves tivessem os seus filhos a jogar no FC Porto. Quantos e quantos conflitos de ética tentariam descobrir? Neste caso, silêncio absoluto. 

Luciano Gonçalves fez carreira de árbitro, embora nunca ao mais alto nível. Mas teve também outras profissões. Por exemplo, no passado recente, era distribuidor independente da Herbalife, uma empresa de suplementos nutricionais. Não há problema nenhum em sê-lo, logicamente. 

Mas uma vez mais, é de uma extrema e inocente coincidência ver um dos parceiros da Herbalife, promovido pelo próprio Luciano Gonçalves...


Não sabemos o que levava aquele batido do Slimani, mas deve ser rico em nutrientes que fortalecem as articulações do cotovelo. Há mais, desde apresentações a televisão de boa qualidade (tudo publicações de Luciano Gonçalves nas redes sociais tornadas públicas). 


E no final, um bom manjar sabe sempre bem. 


Mau seria Luciano Gonçalves não aproveitar a visibilidade do terceiro maior clube português para promover a marca com a qual trabalhava. Fez ele muito bem. Mas é interessante imaginar como seria chegar ao Olival e ver os jogadores do FC Porto a brindar com herbalife, com filhos de pessoas influentes da arbitragem em Portugal nos escalões de formação, o Sporting a queixar-se da arbitragem e depois fazermos todas as ligações aqui descritas.

A terminar, uma questão: alô, FC Porto? Está aí alguém?

Mais do que um clássico

Achar que Nuno Espírito Santo é um treinador mais ou menos adequado para o FC Porto é um tema distante de recolher unanimidade (e que à imagem de qualquer antecessor seu, a sua disparidade crescente estará sempre ligada aos maus resultados, tenha ou não culpa deles). Mas todos podem concordar com uma coisa: Nuno Espírito Santo não era, de todo, o treinador ideal para este jogo. Ricardo Costa seria mais adequado. Ou, se estiver muito ocupado, Obradovic.

Há obviamente que saber diferenciar as coisas. O FC Porto pode e deve sempre protestar quando se sente lesado pelas arbitragens. Deve é saber onde acaba a culpa dos árbitros e onde começa a responsabilidade do próprio clube, desde os jogadores ao treinador, passando obviamente pela direção. 

Os adeptos portistas não podem viver na bipolaridade de criticar tudo quando perdem e de desculpar e esquecer tudo quando ganham. Quase parecia um sacrilégio, nos últimos dias, afirmar que as expulsões na Roma tiveram uma forte influência no play-off da Champions. Pois com certeza que tiveram! Três jogadores expulsos numa eliminatória da UEFA é histórico. Foi só por causa das expulsões que o FC Porto foi à Champions? Com certeza que não. Mas tiveram grande influência? Claro que sim! Experimentem jogar com 9 e depois comparem. 

A equipa que ganhou à Roma tinha sido a mesma que não ganhou contra 10 no Dragão, que esteve a perder em Vila do Conde e que ganhou à rasca ao Estoril. E é a mesma que esteve a dominar em Alvalade, até ao golo do empate, e que levou um autêntico banho de bola na segunda. Breaking news: há muitos números entre o 8 e o 80. 

Quando o FC Porto ganha, quem tem espírito crítico não pode nunca deixar de identificar onde estão lacunas, onde se pode melhorar, o que foi feito de mal. Se o próprio treinador faz isso, por que não hão-de os treinadores de bancada de o fazer? Da mesma forma que, quando o FC Porto perde, há certamente alguns aspetos positivos, e coisas a partir das quais o FC Porto pode crescer. Os adeptos viverem nesse limbo entre a euforia e a depressão faz lembrar os tempos clássicos de Sporting e Benfica nos anos 90 e primeira década do século XXI. Haja um maior equilíbrio. 

Vamos começar por aí. É normal o FC Porto ter maus resultados em Alvalade. Sim, é normal. Já lá vão 8 anos desde que o FC Porto não ganha em Alvalade. É o estádio mais difícil em Portugal para o FC Porto. Não se podem tirar ilações definitivas por os jogadores e Nuno Espírito Santo não terem conseguido ganhar hoje. Villas-Boas não conseguiu, Vítor Pereira não conseguiu, Lopetegui não conseguiu. É um estádio difícil para nós. Não é este resultado que vai sentenciar coisa alguma.

Logo, o que está em causa não é o resultado, ou a exibição. É perceber quantas das coisas negativas que vemos neste jogo são repetições das últimas semanas ou meses. E perceber se estamos à procura de prolongar o estado de graça de início de época, ou se temos mesmo demonstrações cabais de que há um FC Porto a crescer e pronto a assumir-se na luta pelo título. 

Durante 15 minutos, vimos um FC Porto destemido, capaz de enervar o Sporting e ganhar vantagem. Vimos erros de arbitragem estarem relacionados com a reação do Sporting. Vimos um FC Porto demasiado anjinho a partir daí. E vimos um FC Porto que pouco ou nada fez (não em termos de atitude e empenho, mas de futebol jogado) para tentar ganhar o jogo na segunda parte. Tudo merece ser analisado e tido em conta. Ontem não estava tudo bem, hoje não está tudo mal. Mas em finais de Agosto, renovam-se (ou reafirmam-se) as expetativas de início de época: assim será muito difícil lutar pelo título, e os próximos três dias podem dizer muito sobre isso. 

É óbvio que a arbitragem de Tiago Martins teve um critério díspar, em prejuízo do FC Porto. Nem sequer é a questão dos golos a estar em causa. No primeiro, não há mão de Gelson. No segundo, segundo o que diz o FC Porto no seu próprio site oficial, «a bola embate no braço de Bryan Ruiz». Ora se a bola embate no braço, não há falta. Falta há se for o braço a embater na bola. Em causa está sim o momento da falta (ou falta dela) que precede o primeiro golo, agressões não punidas, as cotoveladas de Coates ou Slimani, fora-de-jogo mal tirado e um árbitro que cedeu à pressão das bancadas.

Mas toda esta situação já era prevista. A ascensão de Tiago Martins na arbitragem já tinha sido tema aqui, entre muitos outros temas aos quais o FC Porto sempre pareceu alheio e que agora dão os seus frutos. Até o bandeirinha! Mas lá está, o problema do FC Porto são os blogues que dividem, são os blogues que andam a expor estas situações há imenso tempo. Não fossem esses e o FC Porto ontem teria ganho e Tiago Martins até seria capaz de fazer uma arbitragem limpa.

A entrada em campo (+) - O golo acabou por ser um justo prémio para a audácia e pressão do FC Porto. Que bem entrou a equipa na partida. Pressionou o Sporting logo no seu início de construção, obrigou-os a errar na saída de bola, conseguiu profundidade no meio-campo adversário e criou desde cedo situações de perigo. Estava tudo a correr mal ao Sporting: Jesus queria preencher o meio-campo, mas o FC Porto tinha ganho o setor logo no início. É claro que o FC Porto não ia conseguir aguentar sempre este ritmo. Faltava saber se haveria capacidade de, no momento do Sporting assumir o jogo (porque esse momento ia chegar), o FC Porto seria capaz de o controlar. Não foi. Tudo pode ter começado no apito de Tiago Martins, mas há muitas responsabilidades a serem assumidas pelo FC Porto. 

A entrada de Óliver (-) - Não, não é uma crítica ao jogador. É concluir que tudo, tudo aquilo que o FC Porto fez durante a pré-época e até hoje, para pouco ou nada serviu. Reparem, Óliver chega ao FC Porto apenas na sexta-feira. Faz o primeiro treino, e dois dias depois já é chamado a jogar um clássico de elevada exigência, onde o FC Porto estava a perder? Óliver não só não conhece as ideias de Nuno Espírito Santo como Nuno não tinha um jogador com as caraterísticas de Óliver. Óliver chega e passa à frente de todos os jogadores que estiveram a fazer a pré-época, ainda por cima para jogar na ala! É melhor? Com certeza que sim. Mas não está rotinado, não está adaptado à equipa e nem sequer fez uma pré-época decente (Óliver não jogava há um mês). Não raras vezes víamos Óliver a desentender-se com Herrera, com Otávio, com os laterais, não percebendo que movimentações os colegas iam fazer. Não é culpa dele. Foi lançado às feras. Chega, faz dois treinos e salta logo para um clássico. Isso não diz coisas particularmente boas das convicções que NES tem da sua pré-época; isso ou sente tão pouca confiança nas soluções que tinha que decidiu lançar já Óliver. De qualquer forma, preocupante.

O banco (-) - Qualquer equipa decente, que se preze e que lute por títulos, tem um defesa no banco. Não estamos a pedir muito: estamos a pedir um defesa no banco! Que diz isto? Que o FC Porto só tem 2 centrais que contem para Nuno Espírito Santo. Chidozie e Diego Reyes não parecem ser opção. Repare-se que NES prefere não os ter no banco e ficar sem defesas suplentes. Isso diz muito da falta de confiança neles. Ah e tal, o Danilo pode baixar para central se acontecer alguma coisa. Ai é? Pior ainda! Assim, se há uma lesão na defesa, o FC Porto já não tem que mexer apenas num setor, tem que mexer em dois! Então, que dizer da situação dos centrais suplentes, sobretudo de Reyes? Ou o culpado é NES, por não tirar proveito das unidades que tem; ou o treinador não tem culpa nenhuma, pois as alternativas são simplesmente más, a ponto de preferir nem ter defesas no banco. Nem é preciso falar de Lima Pereira, Aloísio, Jorge Costa ou Fernando Couto. Em 2011 tínhamos Otamendi, Mangala, Maicon e Rolando. Hoje temos Felipe e Marcano. Nenhuma equipa é campeã com apenas 2 centrais que contem para o totobola.

A ausência de Brahimi (-) - Slimani já está vendido? Pouco importa. Vai a jogo, marca, distribui porrada, ajuda a sua equipa a vencer e vai à vidinha dele. Ainda é jogador do Sporting? Então toca a tirar proveito do ativo do clube. E então que faz o FC Porto? Tem Brahimi encostado desde o início da época, à espera que o levem. Não há justificação para isto. O FC Porto não tem melhor do que Brahimi e nem sequer está a usar o jogador. Na segunda parte, o FC Porto não faz um remate para Rui Patrício defender. Nem um! Tirando um rasgo de Otávio, não houve ali nada que fizesse o FC Porto sentir que ia haver um desequilíbrio que podia dar golo. Será que com Brahimi seria mais fácil? Nunca saberemos. Mas o FC Porto não tinha melhor e acabou o jogo a ter que confiar que Adrián e Depoitre, saídos do banco, iam ser abre-latas. Confrangedor. A gestão do caso de Brahimi é amadorismo, ponto. Ah e tal, mas o FC Porto precisa de vender, e se o Brahimi se lesionar já não há transferência! Vejam bem o drama que foi para o Sporting usar Slimani. Aparentemente, estavam mais preocupados em ganhar o jogo ao FC Porto do que em temer que Slimani se lesionasse. Vejam lá que preferiram que a sua equipa tivesse todas as condições possíveis para ganhar um jogo do que deixar uma transferência em risco por causa de uma lesão. Estes tipos sportinguistas são mesmo esquisitos. Usar todas as suas armas para ganhar um clássico? Coisa tão estranha para estes lados.

A entrada de Depoitre (-) - Quanto tempo esperou Nuno por Depoitre? Foi através desta questão que O Tribunal do Dragão analisou a contratação do ponta-de-lança. E ontem refletiu-se a falta de preparação para jogar com um avançado destas caraterísticas. Depoitre e André Silva não sabiam onde se posicionar. A partir do momento em que o FC Porto muda para 4x4x2, ninguém percebeu muito bem qual espaço ocupar, que movimentos fazer. Há um lance que ilustra tudo: Layún cruza e André Silva e Depoitre vão os dois à mesma bola. Nenhum deles percebeu muito bem qual deveria ser a sua função num 4x4x2, que deixou Herrera e Danilo sozinhos para um meio-campo que estava a ser controlado pelo Sporting. Um esquema que claramente não foi devidamente preparado.

Falta de reação (-) - O FC Porto teve uma excelente entrada em campo. O Sporting estava a ser completamente entalado. Então Jorge Jesus responde: passa Bruno César para o meio e o FC Porto nunca mais volta a tomar conta do jogo. Que fez Nuno Espírito Santo para reagir? Objetivamente, nada. A entrada de Óliver Torres já foi descrita, a de Depoitre também e a aposta em Adrián era o pouco mais que se podia fazer. Taticamente, Nuno Espírito Santo entrou a ganhar, mas desde os 15 minutos nunca mais houve uma resposta da equipa. Um Óliver inadaptado e um Depoitre sem ensaio para este 4x4x2 foram as respostas vindas do banco. Lá está: culpa do treinador, que não soube reagir, ou as armas que tinha à disposição é que não eram boas o suficiente para reagir?

Outras notas (-) - Façam uma coisa: peguem nos alemães do Bielsa, espalhem uns 50 pelos Olival e obriguem os avançados do FC Porto a driblá-los sempre que apanharem um pela frente. Podemos começar por aqui. Brahimi podia enervar com as suas rotundas, mas passava pelos adversários, ou arrastava a bola para outro lado (e com ela, arrastava também o adversário). Perto do final do jogo, há dois lances em que Adrián não sabe muito bem como deve passar pelo defesa. E era uma situação em que, passando o defesa, ou ficava com via aberta para o remate ou para o último passe. Este é também um aspeto de jogo no qual André Silva tem que melhorar: a capacidade de 1x1. Muitas vezes, goste-se ou não de o ouvir (na verdade, ninguém gosta), o FC Porto está a jogar como equipa pequena. 

A segunda linha está sempre demasiado recuada. Depois dos 20 minutos, sempre que o FC Porto recuperava a bola, estava em zonas demasiado recuadas. E a pressa de meter uma transição rápida não funcionava. Só nos minutos iniciais, e uma vez na segunda parte, é que o FC Porto conseguiu meter bolas em profundidade para André Silva. E está a ser um reportório demasiado fraco ofensivamente: o FC Porto está a depender de bolas em profundidade para o seu avançado, coisa que não víamos há anos no Dragão. André Silva não tem culpa de ser mal servido, mas dessa forma terá que melhorar muito no 1x1, pois a equipa está a depender dele. Não devia. 

O último aspeto negativo: a ausência de agressividade em vários momentos do jogo. O meio-campo do FC Porto nunca se conseguiu impor fisicamente. Danilo não chega para tudo, mas ser agressivo não é ser apenas um matulão e meter o corpo. O Sporting jogou sempre nos limites da agressividade, sabendo que o árbitro deixava. O FC Porto não foi tão agressivo. Tanto que o Sporting fez praticamente o mesmo número de faltas, mas conseguiu levar o dobro dos cartões do FC Porto. O FC Porto foi anjinho. Um outro exemplo: Depoitre estava à espera para entrar. E demorou um tempo considerável a fazê-lo. Porquê? Porque o banco do Sporting montou uma feira e o quarto árbitro teve que estar na zona a acalmar e a averiguar a situação. Enquanto isso, Depoitre esperava para entrar. Foi preciso ir Rui Barros chamar João Pinheiro, árbitro esse que também já tinha sido aqui destacado. Estas pequenas coisas também contam.

A análise ao jogo é publicada mais de 24 horas depois de o clássico ter terminado. Bem, conclusão. Rui Gomes da Silva, numa mera e também asquerosa demonstração clubística, foi mais rápido a ter uma resposta do presidente Pinto da Costa do que a arbitragem de Tiago Martins em Alvalade. Perder um clássico, à 3ª jornada, em casa de um rival, não tira ninguém da luta pelo título. Mas houve bem mais do que um clássico. E se ouvir Pinto da Costa falar só depois das vitórias pode ser um bom sinal - é sinal de que há vitórias -, não ouvi-lo depois de uma derrota diz que pode haver algo diferente: deixar de ser o presidente das vitórias para passar a ser o presidente das... vitórias. Igual, só a expressão. A diferença entre manifestar-se para ganhar, ou ganhar para manifestar-se. Os portistas estão habituados a mais, o FC Porto precisa de mais. Não esperem pela próxima rasteira para isso acontecer.


sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Jota: só peca por tardio

Um pequeno salto até Setembro de 2014. O Paços de Ferreira vem jogar ao Olival, no campeonato de juniores. Um rapaz chamado Diogo Jota decide fazer isto.


Um mês depois, com 17 anos, já começava a jogar na equipa principal do Paços. Marcou logo na estreia. Um talento inato, que passou sempre despercebido aos olhos não só dos principais clubes nacionais mas também da FPF (nunca tinha sido chamado às Seleções jovens).

Chega então o mês de Dezembro, e com ele a quadra natalícia, em que somos todos tomados por um espírito de generosidade. Começa então o ataque a Jota, mas não por parte dos 3 grandes do futebol português, nem por parte de qualquer outro clube. Foram sim empresários a começar a comprar o seu passe.

O primeiro foi Teixeira da Silva, o empresário que ficou com direito a 10% da mais-valia numa futura venda de André Silva. A 5 de Dezembro de 2014, comprou 20% do passe de Diogo Jota por menos de 38 mil euros (IVA incluído).


Mas a 31 de Dezembro, já em vésperas de réveillon, Jorge Mendes volta a fazer a sua magia, ao comprar 40% passe de Diogo Jota por... 35 mil euros.


São 60% do passe de Jota vendidos por 65 mil euros (sem IVA incluído). Depois chega o Atlético, uma vez mais com a mão de Jorge Mendes, e paga isto pelo jogador.


Agora, Diogo Jota vai jogar no FC Porto, por empréstimo. Tal como já disse O Jogo, a opção de compra é de 22M€, com a coincidência imensa de ser o mesmo que o Benfica pagou por Raúl Jiménez, ou o mesmo que custaria Vietto quando foi hipótese. Um número mágico para o Atlético, aparentemente. Sendo um empréstimo, e tendo o Atlético que salvaguardar-se a todos os níveis, é também natural que o Atlético exija uma cláusula de compensação se o jogador não for utilizado com frequência. 

Diogo Jota é um jogador de enorme potencial. Fez uma grande época em Paços de Ferreira - possivelmente até mais proveitosa do que a de Rafa em Braga, embora em realidades distintas. 12 golos e 8 assistências na sua primeira época de sénior, e logo já na Primeira Liga, são números de excelência para um jovem português da sua idade. Curiosamente, de todos os jogadores que estiveram no jogo de juniores acima referido, só Diogo Jota já se afirmou numa Primeira Liga. Sobretudo porque não houve medo de apostar no seu talento. Os resultados estão à vista.

Sobre Jota, as únicas dúvidas que podem haver em relação à pertinência da sua contratação é se terá já o estofo competitivo para jogar e fazer a diferença no FC Porto a curto prazo. Jogadores por empréstimo, por norma, têm que ser jogadores para os quais o FC Porto tem planos de curto prazo. Jota tem 19 anos, vai fazer apenas a segunda época de sénior e a primeira num clube que luta por títulos. O FC Porto dificilmente pode, à data de hoje, fazer planos para o jogador para lá de 2017. Por isso, tem que ser um jogador para acrescentar algo no imediato. Não pode ser uma aposta de futuro, pois não sabemos se terá futuro no FC Porto para lá de 2017. 

O FC Porto precisa de extremos e é a possibilidade de ter uma solução barata e de qualidade. Jota começou por jogar a médio-ofensivo, mas no Paços subiu no terreno. É avançado, mas funciona muito bem jogando a partir de um flanco. Não é extremo de procurar a linha, mas sim de jogar sempre com maior proximidade de zonas interiores e da baliza. Caraterísticas que por certo agradam a Nuno Espírito Santo, que quer os extremos em zona interior.

Diogo Jota diz que se inspira em Griezmann na forma de jogar. É rápido, hábil, finaliza bem e é muito objetivo quando vai para cima do defesa. O talento está todo lá, resta saber como se adaptará aos comportamentos coletivos da equipa, sobretudo na transição defensiva e na pressão ao adversário. As suas caraterísticas são uma boa adição ao plantel, falta saber se já estará no ponto de maturação desejado. Se fosse uma contratação do FC Porto ao Paços de Ferreira, seria excelente. Assim, vindo por empréstimo do Atlético, a sua evolução vai ter que acelerar contra o tempo, pois não faz sentido trazer um jogador por empréstimo se for para andar só a jogar nas Taças e pouco mais.

Podemos ir ao elefante na sala, nomeadamente alguns comentários antigos de Diogo Jota nas redes sociais. Esta é primeira geração de jovens futebolistas que crescem com acesso permanente a redes sociais. E não há rapaz que abdique de mandar as suas postas clubísticas. Diogo Jota era um miúdo do Gondomar, nem sequer estava no Paços. Provavelmente nem imaginaria que, dentro de 3 anos, ia chegar até aqui. Fez o que qualquer rapaz da sua idade pode fazer: escrever parvoíces na internet.

É benfiquista? Não interessa. Ou pelo menos não interessou quando o Paços anunciou que tinha tudo feito com o Benfica para a transferência, mas Diogo Jota recusou. O portismo é um bem precioso, mas há um ainda maior. Chama-se profissionalismo. Todos os grandes portistas que já tivemos no clube eram grandes profissionais. Mas nem todos os grandes profissionais eram portistas. É possível ser-se profissional sem se ser portista, mas não é possível ser-se portista sem se ser profissional. A função do futebolista que chega não é ser portista, é fazer os portistas felizes. Diogo Jota tem é que ser profissional, lutar pela camisola que veste e fazer mais coisas destas: 


PS: Leicester, Club Brugge e Copenhaga. Resumidamente, o FC Porto já passou em grupos mais complicados e já foi eliminado em grupos mais fáceis. O objetivo é ir aos 1/8, algo que já foi assumido. No ano passado o FC Porto parecia ter feito o suficiente, mas 10 pontos não chegaram. Apontemos, pelo menos, aos 11 esta época, embora sempre com a intenção de ganhar todos os jogos. Será certamente um grupo competitivo. O FC Porto nunca ganhou em Inglaterra (15 derrotas em 17 jogos), não ganhou nas três últimas visitas à Dinamarca e na Bélgica perdeu seis jogos em sete. Leicester, Club Brugge e Copenhaga são campeões dos respetivos países e, muito provavelmente, cada uma destas equipas pensa o mesmo que o FC Porto: «O grupo podia ser muito mais complicado». Pois podia. E também podia aparecer um grupo mais fácil. Tipo com APOEL, Artmedia e Áustria Viena. Canja.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Levantar o moral, parte II

As notícias sobre a valorização das ações das SAD são sempre um fenómeno interessante. Sobretudo porque raramente são notícia, exceção para a imprensa da especialidade, como seria de esperar. São interessantes porque tornam-se notícia com uma pinça particularmente seletiva, daquelas que, conforme demonstrado no exemplo de ontem, podem servir para uma bela injeção de moral.

O último grande exemplo aconteceu aquando da ida de Jorge Jesus para o Sporting, o próximo adversário. Propagou-se por toda a imprensa a informação de que as ações da SAD do Sporting tinham subido quase 10%. Era o efeito Jorge Jesus, escrevia-se. Claro que todos se esqueceram de mencionar que no segundo semestre de 2014-15 as ações estiveram sempre mais elevadas do que no pico de valorização aquando da contratação de Jorge Jesus. Pormenores.





E agora, podemos esperar tratamento igual para o FC Porto? Não há efeito Jorge Jesus, mas há efeito Liga dos Campeões. Se com Jorge Jesus as ações subiram «quase 10%», no seguimento do apuramento para a Champions as ações da SAD do FC Porto subiram 14,47%. 


Há outra grande diferença. Este é o segundo valor mais elevado das ações da SAD nos últimos 365 dias, só ultrapassado pelo dia 7/6/2016 (dia em que saíram muitas notícias a dar conta de uma iminente saída de Brahimi). Logo, se as ações da Sporting SAD são notícia pela contratação de Jorge Jesus, mesmo tendo estado anteriormente. durante 6 meses, sempre mais elevadas, onde está a coerência que torna as ações do FC Porto notícia?

Isto com mais uma grande diferença. As ações do Sporting subiram «quase 10%» quando fez um contrato de 15M€ de salários para um treinador. Já as do FC Porto subiram 14,47% ao arrecadar um prémio de 14M€ pelo acesso à Champions. Outra vez, pormenores.

É um dia feliz para o FC Porto, que confirmou a contratação de Óliver Torres. Tendo em conta que a SAD não explicou os contornos da transferência (como é claro, nunca o FC Porto manteria um jogador emprestado por meia época, logo o empréstimo de ano e meio vai ao encontro do calendário financeiro, não do desportivo), e visto que ainda não está fechado tudo o que há para fechar com o Atlético, o negócio não pode para já ser comentado além da adição desportiva. E essa não poderia ser melhor.

Reforço até 2017 [...]
Óliver Torres é um excelente reforço, que acrescenta qualidade à equipa, ao plantel e a todos os jogadores que estiverem em campo com ele. Chega já numa fase adiantada do início de época, por isso é natural que precise de algum tempo para ganhar ritmo competitivo e entrar na equipa. Óliver é, simultâneamente, um reforço para o meio-campo que também oferece novas soluções para a ala. Mas é preciso mais. Brahimi e Aboubakar (podem considerar Depoitre, mas o FC Porto precisa de um 3º avançado) ainda não têm substitutos, até porque ainda não saíram. Podemos pensar num central, mas para isso é preciso pensar na dupla titular (só faz sentido a chegada de um defesa se for melhor do que Marcano e/ou Felipe, e já idealizando com qual deles vai jogar). E entre todos os jogadores que procuram o seu espaço no plantel, clarifique-se de vez o papel de Bueno, sendo que com a entrada de Óliver um dos médios fica com espaço ainda mais reduzido e possivelmente terá que sair (Sérgio Oliveira seria a opção mais natural). É que num instante já lá vão todas as vagas para inscrever jogadores na Champions - e um jogador que não entra nas contas para a Champions dificilmente terá um papel relevante a nível interno.

Óliver já cá está, os portistas estão contentes, mas domingo é dia de colocar os pézinhos no chão. Não há estádio mais complicado para o FC Porto em Portugal do que Alvalade. O Sporting agiganta-se sempre que defronta o FC Porto. Jogam como se fosse o jogo da vida deles, motivados por uma espécie de «podem ganhar mais campeonatos em 3 anos do que nós em 30, mas este jogo não ganham!». E tem sido assim. O FC Porto não ganha em Alvalade há 11 jogos, 8 anos, e nem quando o Sporting andava a pairar na cova, nos tempos de Godinho Lopes, lá conseguiu vencer. Nem quando tínhamos o melhor plantel pós-Gelsenkirchen, em 2010-11. A história pode sempre ser desafiada, e o FC Porto provou isso em Roma, mas sempre com o reconhecimento de que nada é garantido. Muito menos em Alvalade. O FC Porto não pode ser o clube que vai da euforia à depressão de um jogo para o outro. E vice-versa.

PS: Ironia do destino. Depois d'O Tribunal do Dragão ter escrito que Maxi Pereira estava há 12 anos sempre a jogar ao mais alto nível, sem parar e sem ter uma lesão grave, e que por isso dificilmente iria fazer 40 jogos esta época, De Rossi fez questão de mudar isso. Uma entrada assassina atirou Maxi para o estaleiro durante dois meses. O presidente da Roma diz que o árbitro foi nojento, então seria boa ideia mandar-lhe uma imagem da perna de Maxi e a conta da cirurgia, para ele ver o que é de facto «nojento». Layún ganha com naturalidade o lugar no lado direito (a não ser que Nuno se lembre de recuperar o projeto-Varela da pré-época), e o FC Porto fica sem alternativas diretas para as laterais durante dois meses. É aqui que deveria entrar a utilidade de ter uma equipa B, pois ir ao mercado buscar um lateral para ser alternativa durante 2 meses, tendo uma equipa B campeã da Segunda Liga e uma equipa bicampeã de sub-19, seria não estar a aproveitar as muitas soluções que o FC Porto oferece internamente. Ironicamente, qualquer um dos que estão emprestados (Rafa, Víctor Garcia e Ricardo) dariam as garantias necessárias. As melhoras, Maxi. 

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Para levantar o moral


É uma daquelas coincidências que podem soar a mania da perseguição. Mas que maravilham. O Benfica é o único clube português entre os 50 mais valiosos do Mundo, escreve hoje o Record, citando a tabela da Brand Finance.

Até aqui tudo bem. A Brand Finance usa os seus critérios, a KPMG (que coloca FC Porto e Benfica no top30) usa outros, a Deloitte usa outros. Mas o mais curioso é olhar para o dia em que a Brand Finance publicou a sua tabela da época 2015-16: 6 de junho de 2016.

Portanto, dois meses e meio depois, o Record lembra-se de publicar uma notícia que coloca o Benfica como único clube português entre os 50 mais ricos do Mundo, omitindo por completo que estão a citar um estudo já consideravelmente antigo. É de facto uma coincidência inocente que se tenham lembrado deste estudo logo no rescaldo do empate frente ao V. Setúbal, na Luz, e do apuramento do FC Porto para a Liga dos Campeões. Não vá o moral precisar de um empurrãozinho. 

Por estes dias, anda tudo incomodado com as afirmações de Rui Gomes da Silva, que queria que o FC Porto perdesse em Roma. Nada mais natural. Não é apenas uma questão clubística, mas financeira. Se o FC Porto não fosse à Liga dos Campeões, o Benfica ia receber mais de market-pool. E bem precisa.

O Record bem pode tentar dar um puxãozinho ao moral, mas Rui Gomes da Silva conhece bem a realidade financeira do Benfica, e sabe o quão importante é (à imagem do FC Porto - primeiro a nossa casa, depois a dos outros) tentar acumular o máximo de receitas possível na UEFA. 

Afinal, o Benfica voltou a ser a SAD que mais gasta em Portugal, com gastos totais (que incluem amortizações) de 131,6M€ só nos primeiros nove meses de 2015-16. E ainda que as receitas operacionais do Benfica sejam mais altas, a dependência de mais-valias no Benfica cresceu a pique. Sobretudo desde que Luís Filipe Vieira prometeu que deixaria de ser necessário continuar a vender jogadores.

É uma realidade que contrasta. O FC Porto precisa de vender jogadores porque não faz nenhuma venda relevante desde Alex Sandro; já o Benfica continua a ter que vender apesar de já ter transferido Renato e Gaitán. As notícias de que o Benfica quer (precisa) chegar aos 100 milhões de euros em vendas antes do final do mês deveriam fazer Luís Filipe Vieira sentir-se ofendido. Afinal, ele prometeu que a partir de 2014 não seria necessário vender mais jogadores. Mas o facto de ter uma dívida de corrente de 200 milhões de euros à banca não deve ter nada a ver com isso. O que importa é o ativo, a cassete mais clássica neste campo. Mas ainda está para nascer o jogador ou o fornecedor que tenham sido pagos com ativos. 

O Manuel, não pode ser?
Tudo isto numa semana em que João Ferreira ouviu, ironicamente, uma espécie de não pode ser, ao ouvir críticas pela nomeação de Manuel Oliveira para o Benfica - V. Setúbal. Nas escutas do processo Apito Dourado, em 2004, Luís Filipe Vieira insurgiu-se perante Valentim Loureiro, ao criticar a retirada de Paulo Paraty para arbitrar as meias-finais da Taça (que dariam direito a uma final contra o FC Porto). Rejeitou quatro árbitros até ouvir o nome de João Ferreira. Esse «pode ser», porque os outros «não dão garantias». 

Ironicamente, inverteram-se os papéis. Manuel Oliveira não deu garantias ao Benfica, na 2ª jornada, e João Pode Ser Ferreira ouviu das boas de Luís Filipe Vieira. Para quem não se recorda, Manuel Oliveira estava na linha da frente para ser promovido a internacional em 2014-15, mas foi ultrapassado por Tiago Martins (que vai arbitrar o Sporting x FC Porto) e Fábio Veríssimo, os tais que tinham dois jogos de primeira liga. Podem iniciar a contagem: já passaram [x] dias desde que Manuel Oliveira arbitrou no Estádio da Luz. Voltar a fazê-lo antes de o atirarem para a segunda categoria parece um desafio à altura. Resta saber o que será mais provável: Manuel Oliveira chegar à idade do seu (quase) homónimo da sétima arte ou voltar a arbitrar o Benfica na Luz. 

Mas ei, nem tudo é mau. Dentro de quatro dias começa o Euro2016 e dentro de duas semanas teremos o São João. Como? Esses eventos já passaram? Chatice. Pensava que estávamos a 6 de junho. Fomos traídos pela lógica cronológica do Record. Lá se foi o moral.

Prova dos 9 ultrapassada

É o som de «Arrivederci Roma» que começamos com um facto... Bem, tirem as conclusões por vocês próprios: a Roma teve mais jogadores expulsos neste play-off contra o FC Porto do que o Benfica no seu ciclo de tricampeão. Sim, mais jogadores expulsos em 180 minutos (para ser mais exato, em 140 minutos) do que em 3 campeonatos inteiros. 

Posto isto, o FC Porto conseguiu uma das mais marcantes vitórias do passado recente. A Roma era favorita em toda a linha, e depois do resultado no Dragão ainda o era mais. Não seria pelo resultado de hoje que o FC Porto perderia o acesso à Liga dos Campeões. Não ganhar em Itália é normal. Perder com Aroucas e Tondelas é que não o é. Por isso, é uma vitória histórica, por o FC Porto ter desafiado o favoritismo da Roma, o desnivelamento financeiro (que curiosamente só existe ao nível do valor já investido em contratações, pois segundo a Gazzetta dello Sport a Roma paga salários inferiores aos do FC Porto - 55,5M€ em 2015-16), a própria história e de ter contornado debilidades a nível de construção do plantel com uma vitória que não faz ninguém ir do 8 ao 80, inclusive escrita numa noite atípica (não é todos os dias que se joga contra 9 jogadores, e a euforia pós-jogo não pode cegar um factor que teve, de facto, alguma influência na partida), mas que reacende aquela chama de crença que carateriza o portismo. 

Foi um objetivo alcançado, foi uma noite feliz, foi uma boa injeção de motivação para Alvalade. Foi um jogo que tão cedo não veremos repetido, mas que nos deixa plenamente satisfeitos e motivados, embora sem embandeirar em arco. Os portistas muitas vezes conseguem ser, simultaneamente, os adeptos mais exigentes do mundo e também aqueles que de menos vitórias necessitam para reacender a motivação. Não podemos ser o clube que está no limbo entre a euforia e a depressão. Esta equipa foi a mesma que empatou na primeira mão, que esteve a perder em Vila do Conde e que só marcou perto do fim ao Estoril. Tem qualidades, tem defeitos. As qualidades são para serem enaltecidas, elogiadas e potenciadas. Mas não servem para esconder os defeitos, que devem sempre ser identificados e trabalhados. Agora, Alvalade. 





Iker Casillas (+) - Casillas não fez o melhor jogo da sua carreira no Olímpico de Roma. E todos ainda se recordam daquela fífia no jogo da primeira mão. Mas para a história fica isto: nenhum jogador da Roma conseguiu marcar a Casillas em 180 minutos de Champions. Que mais se pode pedir a um guarda-redes? É certo que o mérito é sempre repartido pela defesa e pelo processo defensivo da equipa, mas Iker fez uma série de defesas importantes na eliminatória e revelou-se um elemento decisivo. Um FC Porto que não sofre golos é um FC Porto que estará sempre mais perto de vencer. É Casillas o destacado, mas em representação pela valia de o FC Porto não ter deixado nenhum romano marcar. 

Centrais (+) - O melhor e mais consistente Felipe (hoje chamar-lhe-ia Felipão, mas o Scolari ainda pensa que o estou a elogiar) até ao momento formou uma dupla de betão com Marcano, que está a ter um início de época de elevado nível. Limitar Dzeko a um único remate é obra. Fortes pelo ar, confiantes e limpos no desarme, sem deixarem espaço nas costas da defesa e sem tremerem perante um adversário com bons atacantes e que precisava de marcar. E sim, o FC Porto deve continuar a ver com bons olhos a chegada de um central. Estes são os mesmos centrais que tremeram na primeira mão, e não podem esperar que uma equipa em inferioridade numérica ataque tanto e de forma tão contínua como uma equipa que joga com 11. Felipe e Marcano fizeram um bom jogo, mas usar este único jogo como conclusão de que o FC Porto não necessita de mais um central é um tiro que pode fazer ricochete durante a época, nomeadamente nos clássicos e na Champions. A ter em atenção já no domingo.


Os mexicanos (+) - «E agora, como é que eu mantenho este gajo no banco?» Se não é nisto que Nuno está a pensar, devia ser. Layún, uma vez mais, foi absolutamente decisivo. Entrou a frio para o lugar de Maxi e mostrou toda a sua capacidade durante 45 minutos, mesmo no flanco oposto. Esteve impecável defensivamente (a ideia pré-concebida de que Layún defende mal está tão enraizada que nem notam as melhorias que tem tido neste aspeto), com uma disponibilidade física útil e impressionante, obrigando sempre o FC Porto a acelerar o jogo pelo seu corredor. Herrera viu que Layún estava com a corda toda, e soube desmarcá-lo na perfeição para o 2x0. Um jogo equilibrado de Herrera, bom no passe e que também esteve na jogada para o 3x0, num golpe individual de Corona (Manolas ainda anda à procura dele). É este o Corona que faz falta ao FC Porto: mais objetivo, a progredir com a bola colada ao pé e sem caixinhas pelo meio. Foi o jogador que mais jogadas de perigo criou e o golo foi um justo prémio, além de estar mais maduro a defender. Se fosse homem de apostas, diria que vai fazer mais do que Rafa em 2016-17. Depende de Corona mostrar que é capaz. Os mexicanos foram bons e recomendam-se, numa noite em que é difícil escolher quem não mereça destaque positivo, desde Danilo a André André. Para já ficam estes. Há espaço para mais no domingo, por isso quem quiser que se chegue à frente.

Pressão (+) - Cada vez mais, o FC Porto está a apostar num 4x2x3x1. Uma das formas de condenar esta tática às críticas é chamar-lhe «duplo pivô». Mas não é por aí que merece ser destacada, mas sim pela forma como o FC Porto meteu os 4 homens mais adiantados na pressão ao início de construção da Roma. Não só inibiu como enervou a equipa adversária. Só André Silva é verdadeiramente forte fisicamente, mas Otávio, Corona e André André/Herrera são capazes de uma pressão aguerrida, como se de carraças se tratassem. Não se encolher perante a Roma foi essencial. É certo que o FC Porto acabou por não criar muitas ocasiões de golo na primeira parte, mas a forma como impediu que a Roma fizesse o que fez nos 30 minutos iniciais no Dragão equilibrou tudo. Ah, e finalmente um livre bem estudado: Danilo, Marcano e Felipe, os mais altos e fortes no jogo aéreo, a atacarem a meia direita da grande área, onde Otávio meteu a bola. Simples e eficiente. 





Tremer sem razão (-) - A partir do momento em que o FC Porto está a vencer e a jogar contra 9, é óbvio que as exigências e perspetivas da eliminatória mudam. E aqueles 15 minutos, entre a segunda expulsão e o 2x0, deixaram o FC Porto num nervosismo imenso e inexplicável. A equipa parecia dividida entre o medo de sofrer estando a jogar contra 9 e a pressa de fazer o 2x0. Jogando contra 9, basta trocar a bola tranquilamente, que as linhas e o espaço abrem-se sozinhos (o lance do 3x0 foi um excelente exemplo). Aliado a isto, a saída de Otávio, para a entrada de Sérgio Oliveira, foi um Ai Jesus. Sérgio Oliveira entra e acumula uma série de más decisões (perde a bola, vê cartão e permite um ataque pelo seu lado em 40 segundos), impróprias para quem não quer ser considerado o elo mais fraco do meio-campo do FC Porto. O golo de Layún tranquilizou toda a gente, e a partir daí o FC Porto estabilizou por completo, mas com a possível chegada do #30 alguém terá de saltar. E aquele camisola 3 que vimos ontem entrar em campo em Roma bem precisa de um abanão, senão é um forte candidato.

Estamos na Liga dos Campeões. Parabéns aos jogadores, ao treinador e aos adeptos que apoiaram a equipa ao longo da eliminatória, sobretudo aos que se fizeram ouvir em Roma. Mereceram!

domingo, 21 de agosto de 2016

André Silva resolve, mas não disfarça tudo

Soube bem. Uma daquelas vitórias em que a qualidade pode só aparecer as espaços, mas que não deixou dúvidas quanto ao empenho e luta da equipa. Desde 2004, o FC Porto ganhou sempre o primeiro jogo da época em casa no campeonato. A última equipa a impedir isso foi o... Estoril, com um 2x2 no Dragão, resultado que envergonhou toda a gente, inclusive um banco de suplentes que tinha Quaresma, Raúl Meireles, Derlei e McCarthy. Comparando com o banco de ontem, certamente dará que pensar. Já lá vamos.

O FC Porto nem sempre jogou bem, mas teve o caudal ofensivo suficiente para justificar a vitória. Cruzou, rematou, pressionou, poucas vezes deixou o Estoril contra-atacar e coube a André Silva mostrar que o FC Porto, mesmo em dias não tão bons, pode contar com ele. Mas depender sempre dele, não. Para bem do FC Porto e do próprio André Silva. Segue-se o dificílimo jogo em Roma e a não muito menos complicada visita ao Sporting. Na antecâmara a esses desafios, a vitória contra o Estoril deixou claro que vamos ter um FC Porto lutador e combativo, mas com opções manifestamente curtas para esperar - ou poder exigir - vitórias que não se vêem desde 1996 (no caso de Itália) ou desde 2008 (no caso de Alvalade). A história existe para ser contrariada, mas sem condições bem podem rezar a todos os Espíritos e Santos. 





Miguel Layún (+) - É impressionante a capacidade de Layún, o lateral, conseguir criar mais situações de golo do que Corona, Varela e Adrián juntos. Tentou 4 vezes o remate, mas destacou-se novamente sobretudo nas assistências, ao fazer 8 passes/cruzamentos para zonas de finalização. Com ele, o FC Porto tem sempre um dínamo constante na asa esquerda, que nunca deixa que a equipa adormeça. Porque perdeu prontamente a titularidade para Alex Telles, só Nuno Espírito Santo o poderá explicar. A intenção de meter os laterais a procurar mais a linha e menos o espaço interior pode ajudar a justificar. Então que faz a Layún? Com 20 metros de corredor pela frente, puxa para dentro, cruza a partir de zona interior e mete a bola redondinha para André Silva fazer o resto. Que se lixe a profundidade, que se lixe a linha. Layún cruza de onde quer e para onde quer. E assim o FC Porto ganhou o jogo.

André Silva (+) - Há quem diga que teve uma noite má. Bom, o que foi a noite má de André Silva? Foi o único capaz de meter uma bola no fundo da baliza do Estoril, marcou pelo 5º jogo oficial consecutivo e garantiu 3 pontos para o FC Porto. Se fez isto numa noite má, mal podemos esperar para ver o que fará em noites boas. Dito isto, é claro que André Silva tem que melhorar a receção (sobretudo orientada - veja e revela vídeos de Jackson quando estava no FC Porto) e decidir melhor no 1x1, mas lá está: é um ponta-de-lança que está sempre, sempre presente. Movimenta-se sempre bem e está sempre à procura da bola, sem que com isso o FC Porto deixe de sentir que tem uma referência na grande área. Se é certo que Layún cruzou a bola redondinha, André Silva foi inteligente a antecipar-se e a atacar o espaço. Um belo golo.


Rúben Neves (+) - Durante anos, houve uma teoria que dizia que o FC Porto perdia muito quando usava Fernando nos jogos em casa. Há quem diga o mesmo de Danilo Pereira, como se o médio mais recuado ainda fosse, aos tempos de hoje, o trinco que só tem que dar sarrafada, cortar a bola e jogar simples para o colega mais próximo. Basta comparar quantos golos o FC Porto sofria no Dragão com Fernando e quantos passou a sofrer desde que Fernando saiu. Não é certamente a única razão, mas o FC Porto esteve 6 anos sem perder no Dragão, sempre com Fernando como o 6 predileto.

Não é portanto por Danilo Pereira não ser pertinente nos jogos em casa que foi para o banco. Está, isso sim, a acusar o facto de ter tido um período de férias mais reduzido e de ter apanhado a pré-época num ritmo avançado. Para quem não se recorda, Danilo apresentou-se no Olival e dois dias depois Nuno meteu-o logo a titular em Guimarães. Danilo Pereira ainda não está no ponto fisicamente, e Rúben Neves dá todas as garantias para, nos jogos em casa, jogar sem problema na posição 6. E de certeza que não foi por ter chorado, pois pobre do treinador que dá a titularidade a um jogador só porque este jogou.

Rúben Neves jogou porque é uma garantia de qualidade. Não tem a dimensão física, nem o jogo aéreo de Danilo, mas todo o jogo do FC Porto começou e passou pelos seus pés (fez mais de 90 passes). A diferença, que favorece Rúben Neves, é a amplitude que o FC Porto ganha com ele em campo. A bola circula mais, os passes longos saem melhor (embora não tenha deixado de falhar alguns - melhorou muito na segunda parte), e dispensa que a bola passe por 4 jogadores para ir de um flanco ao outro. A abertura para Layún foi soberba. Ele e Danilo não são incompatíveis em campo. Mas estando um ou outro, nunca será por aí que o FC Porto terá menos argumentos para vencer. Pelo contrário. Se falta criatividade, não é por quem está na posição mais recuada do meio-campo, mas sim por quem está à frente.

Ataque constante (+) - Contra a Roma, o FC Porto teve muitas dificuldades em entrar na grande área. Contra o Estoril, mudança completa: dos 17 remates que a equipa fez na primeira parte, 15 foram feitos dentro da grande área. Assim, com tanta capacidade de meter bolas na grande área (algo que tem muito a ver com a utilização de Layún), pode entender-se a preferência por um jogador com o perfil (expressão-chave) de Depoitre. Com tantas bolas a cair na grande área, haverá sempre uma ou duas a serem aproveitadas. O FC Porto fez 39 cruzamentos e beneficiou de 17 pontapés de canto. São muitas bolas a cair na grande área, e André Silva não pode estar em todo o lado. No entanto, há também que criar alguma versatilidade. Por exemplo, a determinada altura Nuno só pedia a Corona para meter a bola na área. Corona esteve sempre a fazê-lo, mas dos seus 14 cruzamentos só 3 foram parar a zonas de remate dos colegas. Ainda assim, com tanto caudal ofensivo, será uma raridade para o FC Porto não fazer golos no Dragão.





Pobreza alternativa (-) - Assim que começou a segunda parte, o FC Porto já não tinha mais opções de ataque no banco. É inqualificável que o FC Porto chegue a este jogo tendo apenas Adrián López como opção de ataque no banco. Tudo isto começa na forma como estão condicionas as opções de Nuno Espírito Santo. Sim, acham mesmo que NES não usa Brahimi ou Aboubakar simplesmente porque não quer? É certo que tem que haver alguma concertação entre o treinador e a SAD. Se o treinador sabe que a SAD precisa de vender Aboubakar ou Brahimi, tudo bem. Mas se assim é, há que dar alternativas ao treinador!

Por exemplo, Vítor Pereira sabia que ia perder Falcao e Hulk. Mas pôde usá-los no início de época. Neste caso, Nuno não utiliza Brahimi e Aboubakar e nem sequer tem alternativas. Crítica, talvez, só por ter preterido Gonçalo Paciência, que não conta para NES desde o início da pré-época. E ontem, sem um único ponta-de-lança como alternativa a André Silva, teria certamente dado muito mais jeito do que Sérgio Oliveira, também ele regressado dos Jogos Olímpicos. Aqui, a responsabilidade é de Nuno. Uma coisa é não ter alternativas em número, outra é tê-las mas achar que a qualidade não chega. Mas se assim é, normalmente aproveita-se o que se tem. 

Há também a questionar os casos de Alberto Bueno e João Carlos Teixeira. João Carlos era o maior criativo dos 3 médios que o FC Porto tinha no banco. Então fica João Carlos no banco para entrarem André André e Sérgio Oliveira, ao mesmo tempo em que o FC Porto fica sem o seu médio mais criativo (Otávio)? Não fosse o golo de André Silva e NES já estaria a receber o seu primeiro enxoval de críticas pelas suas opções táticas. Mas na verdade, o golo não passou pelos médios - foi de Layún para André Silva. As mexidas no meio-campo deixaram muito a desejar. João Carlos Teixeira tem tudo para ser um jogador útil, sobretudo não havendo mais opções criativas disponíveis. Assim, como entender o seu papel, sobretudo diante do possível e agradável regresso de Óliver? E o que dizer de Alberto Bueno? Aqui, são opções do treinador, então NES só pode responder por elas. Mas na ausência de alternativas a Aboubakar e Brahimi, a responsabilidade é da SAD. 

O único avançado ontem disponível como alternativa era um jogador que, há um mês, estava dispensado na equipa B. Se o FC Porto quer lutar pelo título e ir à Champions, não pode apresentar uma pobreza tão grandes a nível de alternativas. Em quantidade e qualidade. 

Silvestre (-) - Nunca houve treinador do FC Porto que não gostasse de Varela. Foi assim com Jesualdo, Villas-Boas, Vítor Pereira, Paulo Fonseca. Até Lopetegui o queria muito no arranque para 2014-15. Em 2015-16, percebeu que já não era o extremo que idealizava. E Nuno, com os 45 minutos de ontem, arrisca muito bem concluir o mesmo. Admita-se, não fez sentido nenhum Varela fazer uma pré-época (maioritariamente) a lateral para ontem jogar a extremo. Mas Varela já não é aquele extremo de rasgo, capaz de galgar metros com bola, evitar um ou dois defesas e criar lances de perigo. Varela é cada vez mais um extremo de apoio, por a velocidade já não ser a de outros tempos. Mas jogando em apoio, Varela tem que fazer várias coisas: segurar bem a bola, solicitar o lateral pelas suas costas, ter critérios nos cruzamentos para a grande área e saber procurar os médios no espaço interior. Ontem não fez nada disso. Assim não. Se é certo que poucos extremos trintões são titulares no FC Porto, nenhum a jogar assim mereceria sequer um lugar na ficha de jogo. Pede-se mais ao melhor marcador português da história do Estádio do Dragão.

Duas notas finais. O Tuttosport diz que Rúben Neves foi oferecido por Jorge Mendes à Juventus. Ora os empresários não podem oferecer jogadores sem terem uma procuração atribuída pelos clubes, portanto: a) ou o Tuttosport mentiu; b) ou Jorge Mendes ofereceu ilicitamente o jogador; c) ou o FC Porto permitiu de facto a Jorge Mendes que este oferecesse Rúben Neves à Juventus. Pim-pam-pum.

André Silva renovou até 2021, com cláusula de rescisão de 60 milhões de euros. Felizmente, esta renovação de contrato foi bem mais fácil de fechar do que a renovação de 2014, que quase afastou André Silva do FC Porto. Saúde-se esta excelente notícia, antes de André Silva se estrear na seleção nacional. O FC Porto comunicou a informação básica, não falando sobre a eventual envolvência de Jorge Mendes na renovação de contrato, ou se eventualmente o agente ficou com uma parte (digamos 10%) do seu passe. Seria, sem dúvida, preocupante quanto ao rumo a seguir na aposta na formação. É que a Promosport já tinha 10% de André Silva. Juntando a isto eventuais 10% de Jorge Mendes (que, diga-se, é a percentagem base de Mendes nas vendas a outros clubes), seriam já 20% nas mãos de empresários num atleta que só há bem pouco tempo começou a ganhar o seu espaço no FC Porto. E tendo uma cláusula de rescisão de 60 milhões de euros, estaríamos já a falar de potenciais 12M€ destinados a empresários. Deve ter sido mesmo difícil convencer André Silva a renovar contrato com o clube do seu coração. Que nunca ninguém ganhe nada com uma transferência de André Silva, pois seria sinal de que continuaria muitos e longos anos no FC Porto. É o que todos os adeptos do Futebol Clube do Porto desejam.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Rafa e o resto

A opinião d'O Tribunal do Dragão foi dada a conhecer ainda antes do futuro de Rafa ficar definido, e mantém-se - as avaliações, depois de conhecido o futuro de um jogador, podem ser sempre influenciáveis. Portanto, foi feita antecipadamente. E de todas as más notícias que o FC Porto possa ter nesta pré-época, não contratar Rafa, num potencial negócio de 20 milhões de euros, é provavelmente a última delas.

Problema seria não haver alternativa
O problema não é a não chegada de Rafa. É ter esperado, esperado, esperado por Rafa e, uma vez mais, o FC Porto ficar a arder. Aconteceu com Bernard, aconteceu com Lucas Lima, aconteceu com Rafa. António Salvador estava exigente? Partia-se para o plano B. Rafa não estava convencido em assinar pelo FC Porto? Partia-se para o plano B. Custava sequer metade de 20M€? Nem valia a pena sentarem-se à mesa, partia-se para o plano B.

A questão é: há plano B? Faz esta semana um mês que Nuno Espírito Santo, após a derrota contra o PSV, disse que todos os reforços estavam «identificados». Um mês depois, só chegou Depoitre, e nem sequer chegou a tempo do playoff, o objetivo para acelerar a sua contratação (se já estava identificado e demorou tanto tempo a ser contratado, pior ainda).

Não há Rafa, há mais jogadores. Certamente mais baratos. Mas torna-se muito difícil explicar aos adeptos que o FC Porto não está numa posição favorável financeiramente quando se contrata Felipe, Alex Telles e Depoitre por cerca de 20 milhões de euros. Voltamos à questão: o FC Porto queria um jogador com as caraterísticas do Rafa... ou queria o Rafa? Por outras palavras, às vezes pagar 5M€ pelo Manel sai «mais barato» (expressão traiçoeira) do que pagar 3M€ pelo Zé. Como assim? Tudo pode depender da modalidade de pagamento, do custo imediato, da envolvência de determinado empresário. Coisas que não combinam com total autonomia.

Torna-se impossível afirmar que não há dinheiro para cometer loucuras quando Layún, Depoitre, Felipe e Alex Telles foram todos comprados tendo como preço base os 6M€. Agora, se o FC Porto tinha dinheiro para o Rafa, nenhum adepto vai aceitar que não haja dinheiro para uma alternativa. 

Portanto, a notícia de que Rafa vai para o Benfica não é incomodativa. Rafa não valia, à data de hoje, o que custava. Importa não esquecer que a SAD tinha que fazer mais-valias superiores a 70M€ em 2015-16, e não fez. Importa não esquecer que a SAD previa entrar na Champions diretamente em 2016-17, e não entrou. Importa não esquecer que Indi, Aboubakar e Brahimi foram afastados do plantel com vista a vendas, e ainda não foram transferidos. Importa não esquecer que a SAD do FC Porto não é auto-sustentável, por isso continuarão a ser necessárias vendas em 2016-17. Importa não esquecer que vai transitar um prejuízo que pode muito bem ultrapassar os 40M€ para 2016-17. 

Importa não esquecer que vence, em setembro, um empréstimo de 17M€ que tem como garantias Herrera ou Brahimi. Importa não esquecer que o FC Porto terá, ao longo do próximo ano, 79M€ de dívida à banca para pagar/renegociar. Importa não esquecer que o FC Porto tinha previstas despesas de 36M€ com jogadores que já estavam no clube para 2015-16. Importa não esquecer que o FC Porto não acaba hoje, e que não podemos hipotecar o futuro por um presente que nem sequer é garantido

Portanto, não fico preocupado por Rafa não ter vindo para o FC Porto. Fico, isso sim, preocupado por a 19 de agosto ainda não haver «o» extremo que o mercado deveria trazer. Se o FC Porto não passar em Roma, será muito por culpa da escassez de opções disponíveis para estes jogos. Repare-se que a expressão não é escassez de contratações, mas de opções. Ter Brahimi, Aboubakar ou até Depoitre ou Gonçalo Paciência disponíveis para esse jogo já daria qualquer coisa mais.

Mas para alguns portistas, isto já não foi apenas falhar a contratação de Rafa. Isto foi perder uma batalha com o Benfica. Embora entendendo o lamento, mas afinal o que queríamos? Rafa era encarado como um reforço para o plantel ou como um braço de ferro para mostrar que o Benfica ainda não vence as batalhas todas? Sinceramente, não faz sentido encarar isto como nenhum tipo de derrota perante o Benfica. O FC Porto queria Rafa antes do Benfica. Queria-o para reforçar o plantel, não era para dizer que desviou um jogador do Benfica. Logo, ter ido para o Benfica é igual a ter ido para o Sporting, para o Zenit ou para o Agrário, onde Vítor do Poste estaria sempre atento ao limite do fora-de-jogo. 

Mas sim, há um padrão que preocupa com naturalidade os adeptos. Todos se lembram de casos que vão desde Lisandro a Falcao, Alex Sandro a Mangala, Danilo a Álvaro Pereira. Jogadores que o Benfica queria e que o FC Porto desviou - pagando mais, logicamente. Sobretudo de 2013 para cá, o FC Porto não mais desviou jogadores do Benfica (Maxi Pereira pode ser considerada a exceção). Começou a prestar mais atenção, coincidência ou não, aos alvos do Sporting (Danilo Pereira foi o único desvio realmente bem sucedido, ainda que nunca tenha estado efetivamente com um pé no Sporting). E desde 2013, o Benfica é tricampeão e o FC Porto nada vence.

Antero Henrique chegou a dizer que o FC Porto não roubava jogadores, mas sim que era «mais rápido» a agir. E era verdade. Cristian Rodríguez assinou em 5 minutos, Álvaro Pereira assinou em 4. E agora, o que é feito dessa rapidez do FC Porto? Quanto tempo terá demorado Rafa a assinar pelo Benfica? Onde está aquela sagacidade que até levava Pinto da Costa a dar gozo ao Benfica, agradecendo o trabalho dos olheiros do rival? Já agora. Se não há Rafa, onde estão as equipas sombra/virtuais do FC Porto, que permitiam identificar rapidamente uma solução no mercado? Onde está a rapidez do FC Porto na resposta às necessidades da equipa? Curiosamente, a última grande venda do FC Porto, Alex Sandro, foi dado como exemplo, numa entrevista de Antero de 2013, da eficácia das equipas sombra. 

Alguns adeptos reclamam que o FC Porto deveria ter-se pronunciado publicamente sobre o caso Rafa. Não concordo. Primeiro, porque admitir publicamente o interesse no jogador pode correr mal, como foi exemplo Raúl Jiménez em 2014. Depois, porque admitir o interesse no jogador iria criar (ainda mais) expetativas nos adeptos. O FC Porto deve sempre que possível tratar as transferências em sigilo e apresentar os jogadores quando já estão assegurados. Neste caso, não podia falar sobre Rafa, pois não sabia se ia conseguir o jogador (se havia tantos adeptos que viam em Rafa a encarnação de D. Sebastião, a desilusão podia ser maior); por outro, não podia desmenti-lo, porque estava de facto interessado. Neste caso, nada a apontar ao clube. Só esperemos que não tomem ninguém por ignorante e que agora finjam que nunca quiseram o jogador. Estamos em 2016. O FC Porto não tem que desmentir o Rafa, nem lamentar que ele não tenha vindo. Tem simplesmente que ir procurar uma alternativa igualmente boa. Ou melhor. 

O desfecho do costume
Mas agora falemos, uma vez mais, de um homem que definitivamente nunca poderá ser presidente do FC Porto: António Salvador. Porquê? Porque com ele o FC Porto nunca ganha nada. Nada, zero. Desde que António Salvador é presidente do SC Braga, o FC Porto nunca sacou um bom jogador de Braga. Nem um! É que já nem o sentido de voto nos órgãos de decisão do futebol português é comum. 

Desde que António Salvador é presidente do SC Braga, o FC Porto já lhes jogadores como Paulo Santos, Cândido Costa, Maciel, César Peixoto, Jorginho, Alan, Luís Aguiar, Renteria, Diogo Valente, Adriano, Ukra, Hélder Barbosa, Miguel Lopes, Beto, Emídio Rafael, Sami ou Josué. A maioria não tinha lugar no FC Porto, mas eram jogadores mais do que úteis para o SC Braga, já para não falar de antigos jogadores da formação do FC Porto, como André Pinto ou Ricardo Ferreira.

E durante estes 13 anos, o que foi buscar o FC Porto a Braga? Andrés Madrid, Kieszek e Orlando Sá. Que proveitoso tem sido tudo isto. Enquanto o FC Porto nunca consegue nada das relações com o SC Braga, Luís Filipe Vieira leva sempre a melhor junto de António Salvador. Enquanto presidente do SC Braga, certamente que faz bem o seu trabalho: vende os jogadores pelas melhores propostas e farta-se de sacar jogadores à pala no FC Porto, enquanto mantém relações privilegiadas com o Benfica e tem Jorge Mendes a ajudar a fazer a papinha. Voltar a emprestar jogadores ao SC Braga seria perto de inaceitável. Por outro lado, isso não implica que agora se vá buscar tudo o que mexe a Guimarães, ok?

Perder Rafa não é um problema. Aceitar um negócio de 20M€ por Rafa, isso sim, seria um problema. E não ter uma alternativa a Rafa, para ontem, seria o maior problema de todos. Contra o Estoril, a mesma receita do Rio Ave: é para vencer e moralizar, mas não para iludir. E se a SAD não reagir, as ilusões não chegam ao final do mês.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Em Roma sê Porto

Já era difícil, agora tornou-se ainda mais. Não foi um problema de falta de empenho, de todo. Antes de falta de eficácia, cabeça e bastante clarividência em alguns momentos do jogo. O caudal ofensivo esteve lá, mas houve demasiada precipitação, tanto que em mais de 60 minutos a jogar contra 10 o FC Porto só marcou de penalty. E numa segunda parte que até foi bem conseguida, além do penalty (não esquecendo outro que ficou por marcar), o FC Porto só fez mais um remate na direção da baliza adversária. A parra foi vasta, a uva nem tanto e ainda não se percebe muito bem o que pretende Nuno Espírito Santo semear e colher, sabendo que os terrenos que tem à disposição não são os mais férteis. Os ventos de Roma ameaçam levar tudo. Pensemos nisso depois de vencer o Estoril.





Movimentações de André Silva
André Silva (+) - André contra o mundo. Se é certo que não foi particularmente incisivo no remate (apenas 2 em 8 à baliza), André Silva garante uma coisa que, por exemplo, Aboubakar não conseguia fazer: presença permanente. O FC Porto sente sempre que André Silva está ali. Sente sempre que há uma referência para segurar a bola, para vir buscar jogo, para atacar o espaço na grande área. É um ponta-de-lança completo, desinibido. Estreou-se na Europa com um golo, aos 20 anos. Fernando Gomes tinha 22. Não errou um único passe (15/15), arrancou 5 faltas e correu todo o meio-campo adversário, nunca tendo deixado de marcar presença na grande área, ligeiramente descaído para a direita. Vejam o heat map. Será muito difícil ir à Champions, mas se o FC Porto tiver hipóteses de ir as mesmas passarão muito por André Silva.

Movimentações de Otávio
Otávio (+) - Outro menino em estreia em noites de Champions. Também contribuiu para muito desacerto nos remates (1/6, capítulo a melhorar), mas foi sempre a gota de criatividade e capacidade individual no FC Porto. Foi o mais solicitado durante toda a partida (tocou 80 vezes na bola), meteu 5 bolas em zona de finalização e foi dos poucos a ter capacidade para, num rasgo, abrir a defesa da Roma. Está a acrescentar - e a disfarçar - muitas coisas neste arranque de época, e é cada vez mais claro que faz a diferença em zonas interiores. Quando, ou se, chegar um extremo ao plantel, desviá-lo para ser o homem mais adiantado do meio-campo será um passo natural.




Não foi discreto, foi péssimo (-) - Nuno analisou que o FC Porto teve «20 minutos discretos». Não foram discretos. Na verdade deram bem nas vistas, de tão maus que foram. O FC Porto iniciou a partida como uma equipa incapaz de assumir o jogo, de construir uma jogada, de fazer circular a bola. A pressa de meter a bola na frente era tanta que o chutão para André Silva chegava a ser irrisório. O FC Porto quer ser uma equipa de transição rápida, mas isto não é transição rápida, isto é dar a bola ao adversário e não perceber que tem que ter calma para construir, calma para perceber que para jogar em transição rápida é preciso ter espaço; e por vezes é preciso criar esse espaço antes de isso acontecer. Este trio de meio-campo - melhor, a organização deste trio - dificilmente durará muitos jogos (Herrera não pode jogar tão atrás, André não pode jogar tão à frente), ainda que o FC Porto tenha esboçado um 4x4x2. O FC Porto chega aos 35 minutos com 30% de posse de bola. Nunca vimos uma equipa vir ao Dragão ter tanta posse de bola aos 35 minutos. Dirão que isso, por si só, não ganha jogos. Mas a verdade é que a Roma massacrou durante todo esse período e, não fosse a expulsão de Vermaelen, as coisas poderiam ter ficado ainda mais feias. 

Chuta, cruza, chuta, cruza (-) - O FC Porto teve oportunidades para ganhar o jogo. Atacou muito (67 vezes), mas muitas vezes sem nexo. Os remates de fora da grande área (13) quase nunca levaram perigo. O FC Porto teve sempre dificuldades em entrar ou aproximar-se da grande área em progressão. Na segunda parte, a equipa descobriu espaço nos corredores, mas os jogadores poucas vezes conseguiam ir à linha, optando por cruzar ainda com alguma distância. O FC Porto fez 30 cruzamentos na partida, 22 dos quais na segunda parte, mas há limites para André Silva; e o FC Porto perdeu muito com a saída de Adrián López, cujas movimentações estavam a beneficiar André Silva (e o espanhol teve ações importantes no ataque). O mais irónico é que, a determinada altura, o FC Porto está sempre a meter bolas na grande área e faltava lá mais alguém para ganhar nas alturas, para bater os centrais. Depoitre, Aboubakar e Gonçalo Paciência, por diferentes razões, não deram um contributo que podia ter sido útil. 

A tradição (-) - 13 minutos de competições europeias 2016-17 e o FC Porto já tem um lance para o Watts da Eurosport. Casillas tremeu (depois salvou várias vezes o FC Porto), Alex Telles salvou, mas os fantasmas da época anterior continuam: o FC Porto treme pela mais pequena coisa na defesa. O autogolo de Felipe é um infortuito, mas em 2 jogos são já 2 golos sofridos em pontapés de canto. Na transição defensiva, o FC Porto está demasiadas vezes exposto e desequilibrado, sendo lento a recuperar. Na Roma, a maioria dos jogadores do seu 11 seriam titulares no FC Porto, o que diz muito da sua qualidade, mas uma vez mais o FC Porto sofre mais por erros próprios do que por imposição do adversário. Marcano vai sendo o melhor elemento da defesa. Isso se calhar diz muito.

O banco (-) - Nuno Espírito Santo não tem culpa da escassez de opções no banco. É inaceitável que um jogador valioso como Brahimi, o principal desequilibrador do FC Porto, não conte para o playoff da Champions. Para os mais esquecidos, foi muito graças ao argelino que o FC Porto passou o playoff de 2014-15. Para que raio foi Brahimi apresentado, então? Para não desvalorizar o ativo da Doyen? Para quê, se depois não conta para jogos importantes? Outrora o FC Porto vendia jogadores depois de eles darem o seu importante contributo à equipa; agora não só os jogadores não saem como não dão o seu contributo. No meio de tudo isto, Nuno fica com opções curtas para ir à Champions. A jogar contra 10, com a Roma completamente encostada às cordas, o FC Porto não teve opções para dar companhia a André Silva; e então que faz o FC Porto quando tem hipóteses de matar a eliminatória? Tira o jogador mais criativo da equipa (Otávio) e mete Evandro. Isto não é um FC Porto que explorou todas as suas opções para ganhar. Também porque, na verdade, não havia muito por onde escolher. Uma eliminatória começa a perder-se assim. E a culpa não foi de Nuno, nem de Felipe, nem de Herrera, nem de Depoitre. 

Duas notas. Rúben Neves não é o primeiro, nem o último jogador que está para entrar, mas depois o treinador muda de ideias. Não sabemos o que se passou durante a semana. Não sabemos se Rúben treinou sempre com os titulares, ia jogar de início e depois, em cima da hora, Nuno mudou de ideias; não sabemos o que lhe disse Nuno ao intervalo; nem sabemos o que levou Nuno a mudar de ideias. O treinador diz que num minuto as coisas mudam, e só ele saberá o que é, aos seus olhos, mudou naquele momento. Mas Rúben Neves, naquele momento, não foi o Rúben profissional; foi o Rúben adepto. Queria ver o FC Porto ganhar, queria ajudar, e deixou-se levar pela emoção. Está a viver uma nova realidade, pois saiu um treinador que favorecia as suas caraterísticas (Lopetegui) e tem tentado, nos últimos meses, encaixar em dinâmicas diferentes. Mas Rúben tem que ser mais rijo. A sua oportunidade vai chegar novamente. Rúben Neves não está aqui de passagem. É presente e futuro do FC Porto. Teve uma quebra, assumiu-o e vai fortalecer-se. À Porto.

A titularidade de Adrián López, que curiosamente foi relevada antecipadamente na TSF, por João Ricardo Pateiro, que também já tinha confirmado Nuno Espírito Santo como treinador do FC Porto atempadamente. Qual é o primeiro dado a retirar desta titularidade? É que Adrián tem que ser titular frente ao Estoril. Nenhum adepto do FC Porto admitirá que isto tenha sido uma titularidade à Cristian Rodríguez vs Barcelona na Supertaça Europeia, com a intenção de valorizar o jogador para uma venda. Por isso, a opção de Nuno visa recuperar o jogador, recuperar o ativo. E assim é, agora há que mantê-la.

Não valerá de nada Adrián ter jogado de início frente à Roma para agora voltar para o banco. Se é para recuperar o jogador, vamos recuperá-lo, mantendo uma aposta fixa. Por exemplo, teria sido demasiado fácil atirar André Silva para o banco depois das suas dificuldades iniciais até chegar ao primeiro golo pelo FC Porto. Mas José Peseiro, com a sorte de não haver uma alternativa a garantir mais, manteve a aposta em André Silva e os resultados estão à vista. Adrián teve ações interessantes frente à Roma, não foi de todo a tábua rasa que chegámos a ver em 2014-15, e é um ativo caro no plantel. Por isso, se é para recuperar o jogador, que se tenha a certeza que o FC Porto fez tudo o que era possível. Passar da titularidade para o banco ou para a bancada seria um sinal de que a titularidade de Adrián visava a sua valorização no mercado, e não a sua reintegração no FC Porto. Ninguém admitiria isso. Por isso, vamos Adrián, de início contra o Estoril. 

E esta é para calar os críticos, que dizem que o FC Porto não dá oportunidades aos jogadores da equipa B. Adrián López, há um mês, estava na equipa B e agora foi titular no play-off da Champions. Tomem lá!