Ficámos recentemente a saber, através do presidente Pinto da Costa, que o Benfica ganhar um campeonato à conta das arbitragens, não só pelas decisões dentro de campo como pelas ofertas que violam os regulamentos fora dele, é algo que não diz respeito ao FC Porto - mesmo que seja o FC Porto o lesado nesta história.
Assim sendo, é caso para perguntar. O que se passou no Bonfim, já diz respeito ao FC Porto? Passámos de uma situação em que o FC Porto podia terminar o clássico na liderança da Liga para uma situação em que o Benfica pode sair do Dragão com 8 pontos de avanço. O Benfica nunca, nunca teve 5 pontos de avanço sobre o FC Porto à 9ª jornada. É a primeira vez, e com uma quantidade anormal de lesões no plantel.
Podemos resumir tudo isto ao penalty não assinalado? Não. Mas é um facto que o FC Porto foi lesado nesse jogo por essa decisão. O problema é que o FC Porto já entrou naquele ciclo vicioso anteriormente aqui comentado: sempre que houver 2 ou 3 vitórias consecutivas, vai haver muita confiança, vão chover elogios ao treinador, dizer que afinal o plantel tem valor suficiente e que os críticos têm é que estar calados; ao primeiro deslize, volta a cair tudo em cima do treinador, porque não presta, porque não é Porto, porque é uma vergonha o jogador A, B e C jogarem nesta equipa. Já não vamos sair deste ciclo vicioso. Vai estar tudo, tudo dependente dos resultados. Mesmo que não consigam compreender que a diferença entre um bom e um mau resultado pode ser um ressalto, uma defesa, uma bola no ferro, um penalty - a exibição é exatamente a mesma!
O FC Porto tinha 27 vitórias consecutivas sobre o V. Setúbal e ganhou todos os jogos no Bonfim desde 1998. Até sábado. Tudo por causa do penalty? Não, certamente não. O problema não é apenas o que aconteceu ao minuto 84, mas também o que aconteceu até ao minuto 84. A equipa construiu as suas oportunidades, podia perfeitamente ter ganho o jogo. Não foi aquele jogo estéril onde o FC Porto não dava ares de ser capaz de ganhar a um V. Setúbal que só pretendia defender. Mas foi novamente um jogo em que o FC Porto demonstrou pouquíssima clarividência, e poucos sinais da mesma a partir do banco.
Fomos prejudicados? Sim. Tivemos ocasiões para ganhar? Sim. Jogámos ao nível exigido nesta fase? Não. O FC Porto tem alguma coisa a ver com a obra de João Pinheiro em Setúbal? Não sabemos. Que o diga o presidente Pinto da Costa, ou então alguém do FC Porto que faça algo mais do que aquilo que qualquer adepto pode fazer: sacar um frame, ir ao paint, fazer uma bolinha e meter no Facebook. É essa a resposta do FC Porto? Fazer aquilo que qualquer adepto pode fazer? Terminemos, que isso também não deve ser da nossa conta.
Danilo Pereira (+) - É incansável em campo e os elogios à sua postura também. Ganhou metros no terreno e deixou claramente a impressão que poderia ir mais além, mas tinha instruções para não subir em demasia, pois era o único a segurar o meio-campo. E com a saída de Herrera (era o jogador com mais cortes, recuperações de bola e desarmes em campo até ao momento da sua substituição, mas lá está, estava a fazer um excelente trabalho defensivo, mas a colaborar pouco no ataque - por outro lado, quem tem Óliver, Jota, André Silva e Otávio à frente, devia reunir criatividade e versatilidade suficiente para fazer estragos), Danilo ficou ainda mais desapoiado. Cumpriu novamente e vem sendo o melhor jogador do FC Porto nas últimas semanas.
Felipe (+) - Sabemos que algo correu mal quando destacamos um central contra uma equipa defensiva como o V. Setúbal. Com Marcano desta vez numa noite má (cometeu imensos erros na saída de bola), Felipe limpou tudo à entrada da grande área, foi forte no jogo aéreo e ainda foi ao ataque tentar o golo. Exibição segura, limpa e bem conseguida. Os elogios à sua exibição acabam por ser uma crítica à equipa: o V. Setúbal pouco fez no ataque, mas ainda assim os dois jogadores que mais se destacaram foram de caraterísticas defensivas. Nota ainda para Layún, novamente o principal municiador do ataque e o jogador que mais lances de perigo criou.
Desacerto (-) - O FC Porto rematou, rematou muito. Mas rematou quase sempre mal. Em mais de 20 remates do FC Porto, só 3 foram à baliza. Nesses 3 Bruno Varela brilhou, mas nem sequer podemos dizer que o guarda-redes do V. Setúbal fez uma super exibição, pois a verdade é que a esmagadora maioria dos remates do FC Porto saíam todos por cima ou ao lado. Em toda a segunda parte, pior ainda: Bruno Varela só fez uma defesa. Uma. Em 45 minutos em que o FC Porto jogou no meio-campo do adversário. Pouquíssimo.
Pinheirinho (-) - Façamos contas. O FC Porto entrou, ao longo da partida, 55 vezes na grande área do V. Setúbal. 55! Fez mais de 30 cruzamentos. André Silva e Diogo Jota não estavam a conseguir ganhar bolas de cabeça. Então, para que serve um ponta-de-lança de 1,91m, que só por acaso é o 2º ponta-de-lança mais caro da história do FC Porto? Pois é. Pinto da Costa chutou de pronto a responsabilidade da contratação de Depoitre para Nuno, mas alguém já percebeu que deu asneira. E essa conclusão é tirada da pior forma possível: não pelo que Depoitre faz em campo, mas por nem sequer lhe darem a hipótese de entrar num jogo em que as suas caraterísticas fariam sentido. Nos últimos 7 jogos, Depoitre só teve direito a jogar 25 minutos contra o Gafanha. Foi para isso que o sr. D'Onofrio andou em viagens-relâmpago, de rastos, a suar e a fazer a Madre Teresa de Calcutá corar de inveja?
A euforia (-) - Muitos leitores perguntaram por que é que O Tribunal do Dragão não fez comentários sobre o célebre quadro de Nuno Espírito Santo. Simples, pois aquilo foi um fait-divers, uma mão cheia de nada, uma teoria oca para entreter, um exercício de banalidade. De que falava Nuno Espírito Santo? De compromisso, de cooperação, de comunicação, de união, de determinação, de atitude. Ora, estas 6 caraterísticas não descrevem um jogador à Porto: o que descrevem é toda e qualquer equipa de futebol que se preze! Conhecem uma equipa de sucesso que não tenha tido compromisso? Onde não tenha havido união? Onde não tenha havido atitude? Não há compromisso sem determinação e atitude; não há união sem cooperação. Isto é uma teoria para um livro do Luís Campos, não para discurso direto de um treinador do FC Porto! Se Nuno tivesse feito aquela apresentação depois de uma derrota, os mesmos que lhe acharam graça provavelmente ridicularizariam a sua apresentação. Quando precisamos de quadros para explicar teorias, quando o maior problema é a prática... Mas há quem tenha visto nisto uma «aula». Aula? Se querem aulas, o melhor seria mesmo técnico-táticas.
A segunda parte vai de encontro a algo já aqui muitas vezes comentado: os portistas, sendo os adeptos mais exigentes do mundo, também se tornaram uma massa que se empolga com muito pouco. Aquele tal ciclo vicioso. Precisamos de ser otimistas, precisamos de estar motivados, mas a forma como se passaram a valorizar vitórias que outrora seriam vistas como normais ou banais é preocupante. Nuno falou em «euforia dos adeptos». Euforia? Euforia? Não, a sério, euforia!? O FC Porto ganhou categoricamente na Choupana, ao Nacional, por 4x0. Bom jogo. Ganhou contra o Gafanha, como seria de esperar em qualquer dia que ganhasse. Ganhou em Brugge com um penalty em cima do final, caso contrário já teria os oitavos da Champions hipotecados. E ganhou em casa ao Arouca, algo que também deveria ser encarado como normal. Nuno descobriu euforia nos adeptos depois destes resultados? Ou o treinador lê mal as coisas, ou foram de facto os adeptos do FC Porto que se habituaram a muito pouco.