sábado, 29 de novembro de 2014

O essencial do primeiro Relatório e Contas da época

O Tribunal do Dragão apresenta os principais dados do R&C do primeiro trimestre da época 2014-15, que contempla os meses de Julho, Agosto e Setembro, com análises e reflexões nos diversos tópicos. 

- Resultados. Mesmo com a receita extraordinária da Champions, sem transação de passes o FC Porto tem um prejuízo operacional de 1,9M€ nos primeiros 3 meses. Com a transação de passes, o resultado líquido é de 13,469M€. A necessidade de gerar mais-valias já é sabida e vão ser necessários à partida mais 40 milhões até 30 de Junho.

Fernando Gomes
- Passivo vs Activo. O passivo total subiu 35,687M€ para 269,15M€, ainda que o passivo remunerado tenha baixado 14,952M€. Em contrapartida o activo disparou 49,161M€ para 249,557M€, basicamente graças às contratações para esta época. Assim os capitais próprios negativos reduziram para 19,59M€, o que é sempre importante, mas a SAD continua em situação de falência técnica (a operação Euroantas só entra no 1º semestre). Sobre a Euroantas, ler aqui e aqui.

Preocupante e nada de novo (o Braga tem a única SAD que não está em falência técnica, que tem um activo que cubra o passivo), mas com a operação Euroantas no segundo trimestre os capitais próprios já serão os maiores do futebol português (12,5M€), não esquecendo que tal só foi possível recorrendo ao Estádio - quem quiser a perspectiva positiva, o Sporting já usou todo o estádio e está afundado em falência técnica há anos e para os próximos (são mais de 100 milhões), e o Benfica vai continuar nessa situação, embora em menor grau (resta saber como ou se Gaitán, Enzo, Salvio e etc. resolvem a situação que tende a agravar a curto e médio prazo). Nada que nos interesse, mas há sempre quem goste de um ponto de referência. Como ponto negativo e já habitual, o grande défice entre o passivo e o activo correntes, que é de 95,133M€. Tal implica dependência da banca e de créditos para fazer face às despesas mensais e muita ginástica na tesouraria da SAD, uma situação que se repete ano após ano.

- Proveitos operacionais. Crescem de 17,5M€ para 26,65M€ graças à Liga dos Campeões, essencialmente. No primeiro trimestre já entraram 11,6M€ da Champions. As receitas de bilheteira subiram (mais jogos em casa), houve uma receita extraordinária no jogo do Deco e num concerto, de resto nada significativo. Como gerar mais receitas operacionais é o desafio.

- Custos operacionais. Um total de 28,56M€ nos primeiros 3 meses da época, sem contar com transferências. O custo do plantel já se reflecte: de 10,9M€ para 15,5M€, essencialmente a única rubrica com grande aumento, apesar dos FSE terem aumentado 1,3M€ (uma rubrica que tem sido consideravelmente e cada vez mais dispendiosa - mais informação aqui).

- Comissões. Mudou o responsável pela pasta financeira, mudou também a forma de prestar a informação. Neste caso, não prestar a informação. O FC Porto pagou 6M€ em comissões a empresários este trimestre. De recordar que só estão apresentadas 7 contratações no R&C, além de um bolo de «outros jogadores» de 1,175M€ (Andrés?). Ora para 7 contratações vemos... pagamentos a 15 empresas/empresários em comissões ou serviços de intermediação. Isto de tratar de uma transferência é extremamente trabalhoso, tanto que até é necessário dividir a tarefa por uma média de dois empresários para cada jogador. A maioria das empresas não tem informação significativa na internet, logo não há muito por onde explorar. De realçar aqui que o FC Porto não só deu 5% de Jackson Martínez a Henrique Pompeo como ainda lhe pagou um serviço de intermediação (de quanto? Não se sabe), isto ignorando a hipótese de ele estar associado a outro jogador do plantel (o que seria ainda mais preocupante).

Otávio: 32,5%
- Contratações. Marcano custou 2,65M€ por 100% do passe, valor dentro do noticiado. Evandro foi mais caro do que o inicialmente noticiado: 2,35M€ por 100%, havendo ainda o empréstimo do Tozé e a partilha de direitos económicos com o Estoril. Quanto a Otávio. A avaliação está relativamente dentro do noticiado (7,5M€, um milhão a mais do que o que saiu na imprensa), mas neste caso o preço foi 2,5M€ por 33% do passe, comprados a um clube à Rentistas, fundado há poucos anos (curiosamente em... Minais Gerais, terra do Banco que deu nome ao Museu), e não ao Internacional. 12% já terão ficado noutras mãos. É também sabido que Otávio foi uma aposta da SAD, não de Lopetegui, apesar de ser um miúdo de talento. Resta saber quando o veremos, e com isto é mais um jogador caro que praticamente só vai jogar na B. Apostas que só se justificam se forem integradas no plantel principal a médio prazo.

- Faseamento de pagamento. Outra das informações que não é disponibilizada. Havia expectativa sobretudo para conhecer quanto já custou efectivamente Ádrian até ao momento (relacionados aqui e aqui), mas a SAD não detalha nenhuma informação sobre isso. Dos 42,9M€ investidos na contratação de reforços, há um efeito de atualização de 2,2M€, a propósito de uma parcela que vence de 5 jogadores: Indi, Ádrian, Brahimi, Evandro e Otávio. 

- Mangala e Defour. Confirmado que geraram uma mais-valia de 25,48M€. Negócios positivos, sobretudo o de Mangala. Teria sido interessante ver a intermediação, mas mais uma vez essa informação agora deixou de aparecer.

45% de «Lich» vendidos
- Empréstimos dão prejuízo. Nos primeiros 3 meses da época, os jogadores emprestados pelo FC Porto custaram 831 mil euros, e em contrapartida renderam 230 mil euros. Ou seja, o FC Porto mantém jogadores emprestados que só dão prejuízo e muito provavelmente dificilmente voltarão a vestir a camisola do FC Porto. Olhando para esta tabela do sempre atento Reflexão Portista, quantos teriam/terão lugar no plantel? No final da época é importante varrer a casa. Se agora temos equipa B, não faz sentido continuar a ter um plantel de emprestados pela Europa fora.

- Percentagens alienadas. O FC Porto pagou 1,837M€ por Lichnovsky, mas já só tem 55%. O FC Porto começa por informar que comprou 33% de Otávio, mas na listagem dos activos depois só aparece 32,5%. De Andrés Fernández temos 90% do passe (não há informação sobre os outros 10%, mas o Osasuna vendeu tudo o que tinha). Entre os jogadores que a SAD considera activos valiosos na perspectiva do mercado, não há nenhum em final de contrato e há 5 com vínculos que terminam em 2016: Danilo, Alex Sandro, Quiñones, Kléber e Kelvin. Kayembé, Brahimi, Ádrian e Otávio são os jogadores com os maiores contratos (até 2019).

- Excedentários. O FC Porto ainda tem 50% de Prediger, 70% de Soares e 25% de Souza. São os únicos 3 ex-jogadores dos quais o FC Porto ainda tem uma percentagem declarada.

A qualidade paga-se...
e bem paga
- Clientes. O Atlético de Madrid deve 344 mil euros ao FC Porto. O Man. City deve 11,3M€ por Fernando e Mangala. O Fluminense deve 2,125M€ por Walter. O Lyon ainda está a pagar Cissokho e Lisandro (deve 750 mil euros). O Kasimpasa deve 1,05 por Castro. E há outros clubes não discriminados que devem 1,59. Além disso, o Anderlecht deve 1,5 por Defour + 3 não correntes. Por fim, a Doyen deve ao FC Porto 2,5M€ + 2,5M€ não correntes (em causa o dinheiro de Brahimi, que deverá ser usado para efeitos de liquidez a curto prazo). O Chelsea, o Zenit e o Valência já acabaram de pagar Atsu, Hulk e Otamendi. Tirando Defour e a Doyen, o dinheiro em falta vai entrar todo no decorrer do exercício.

- Recuperar Brahimi. Como foi dito na altura, a história de que era possível recuperar os 80% de Brahimi por 8M€ estava muito mal contada. O FC Porto pode recuperar até 55% até 2017, enquanto a Doyen pode vender os seus 80% até essa data. Por quanto? Não se sabe. É o que falta às operações com os fundos, transparência. Se não é possível saber quem, pelo menos que se saiba quanto. Disse que Brahimi iria ser como Hulk: vai tornar o caro barato na altura de recuperar o passe. Mas se de facto a Doyen pediu 20M€ ao Sporting por Brahimi, é bom preparar o estômago para quanto pode custar recuperar o passe deste mago da bola, que é bom lembrar, só chegou ao FC Porto por via da Doyen. E uma qualidade destas paga-se... E bem.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

As expectativas já cumpridas e o que virá a seguir

Desportivamente, o FC Porto está no caminho certo da Champions. Primeiro passou o play-off, agora garantiu a vitória na fase de grupos, uma das melhores de sempre. Como é norma, se as coisas correm bem desportivamente, financeiramente a máquina funciona. Neste caso, está muito bem encaminhada para isso.

O FC Porto está a cumprir e ultrapassar as expectativas orçamentais para 2014-15. Para esta época a SAD orçamentou 28,229M€ em receitas da UEFA. Isso previa o apuramento para os oitavos-de-final, mas a possibilidade de chegar aos 16 pontos não estava prevista.

Em 2014-15 o FC Porto já ganhou 18,7M€ e pode ganhar mais um milhão contra o Shakhtar. De recordar que em 2013-14 não entrou o dinheiro pelo acesso à fase de grupos da Champions, por causa do play-off, e a SAD apontou para um buraco de 10M€. Acabou por haver uma mais-valia: o FC Porto recebeu um extra de 2,1M€ que não é habitual, por causa do play-off.

Mas isso já estava previsto nas contas, tal como está previsto que o FC Porto se apure directamente para a fase de grupos da Champions de 2015-16, ou seja que fique entre o 2 primeiros lugares do campeonato (mais concretamente o 1º, tendo em conta que os custos com pessoal já devem prever o pagamento das variáveis aos jogadores por títulos, de outra forma não se justificaria um aumento de mais de 40% nesta rúbrica).

Por isso, somando os 18,7M€ aos 8,6M€ já esperados para a próxima época, Lopetegui e os jogadores conseguem o que estava orçamentado pela SAD. Podem até superar, se vencer o Shakhtar. Mas há outra receita que deve ser tida em conta: o market pool.

Sabem aquela história de que é bom para Portugal ter os 3 grandes na Liga dos Campeões? Do ponto de vista de market pool, não é verdade. O ideal é que o FC Porto esteja lá sozinho. Isto porque o market pool, receitas televisivas e publicidade estática, é dividido por todas as equipas do mesmo país que disputem a Champions.

Em 2013-14 o FC Porto ganhou nesta rubrica 3,618M€, cerca de 350m mais do que o Benfica, tendo em conta que o campeão nacional tem direito a uma percentagem ligeiramente superior. Este ano como o Sporting está na Champions, o market pool é dividido por 3. Mas há uma boa notícia: a partir dos oitavos o valor de market pool sobe bastante, Para o FC Porto, nesta rubrica o ideal era que o Sporting não fosse aos oitavos da Champions, pois assim consegue uma maior fatia de market pool.

Independentemente disso, está a desenhar-se tudo para o FC Porto atingir os 30M€ de receitas da UEFA para ser contabilizadas em 2014-15, não esquecendo que para isso é preciso a qualificação directa para 2015-16. Se será possível chegar aos quartos, em Fevereiro veremos. Para já é preciso apostar tudo e o máximo no Campeonato, sobretudo porque o rival Benfica já não está na Europa, por isso vai poder dedicar quase toda a atenção no Campeonato, independentemente dos efeitos que a sua eliminação na Europa possa ter no mercado de Inverno. A eliminação do Benfica na Europa só ajuda o FC Porto no ponto de vista financeiro, não no desportivo. E no FC Porto o sucesso desportivo e financeiro estão ligados por cordão umbilical.

De recordar abaixo o que foi a proposta de orçamento para 2014-15. Com o apuramento para os oitavos-de-final garantido, está tudo a seguir conforme o alinhavado (tirando o 3º lugar no Campeonato, mas dependemos de nós para terminar Dezembro na liderança), por isso fica a faltar... o mais importante, que são as mais-valias com transferências: é preciso 66,5M€.


Para 2014-15 vão entrar Defour e Mangala, que vão gerar cerca de 25M€ de mais-valias. Não confundam valor de transferência com mais-valias. A mais-valia só é contabilizada depois de a) excluir o valor contabilístico do passe (o valor do jogador é calculado através do preço total da transferência, repartido pelo número de anos de contrato) b) prémios de fidelidade c) terceiras partes detentoras de direitos económicos d) comissões e intermediações, sem esquecer que paga-se IVA pelas transferências.

Por isso o FC Porto vai ter que fazer pelo menos 40M€ de mais-valias em 2014-15, segundo o orçamento. Mas é possível que até não o faça, com a transição de resultados para 2015-16, até porque para tal seria preciso vender pelo menos 2 titulares até 30 de Junho, e normalmente os tubarões não atacam o mercado tão cedo (veja-se como o FC Porto teve que vender Quaresma, Hulk e outros à pressão). São contas para fazer mais tarde, precisamente porque quanto mais lucrativos formos através da vertente desportiva em 2014-15, mais condições reunimos para reduzir a necessidade de venda de jogadores.

Isto para realçar que na UEFA as expectativas orçamentais podem ser superadas mesmo sem contar com o apuramento para os 1/4. Se o FC Porto passar os oitavos, pode ser a diferença entre vender 2 titulares, ou vender apenas 1 titular e alguns jogadores de segunda linha que saiam valorizados. Ou até pode não alterar os planos de venda, pois é normalmente isso que acontece - no início de cada época a SAD planeia quem vai transferir -, mas pode reforçar as condições de investimento.

Ir ou não ir aos quartos da Champions pode ser a diferença entre conseguir ou não conseguir manter ou contratar um titular para o 11, sabendo-se que o risco é o modelo de gestão de Pinto da Costa há 30 anos. Ou seja, o que cair numa mão, vai ser batido com a outra. O sucesso desportivo gera condições para ser bem sucedido desportivamente, um ciclo que se repete e que não pode falhar.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Héctor, you're simply the best!

Nunca um momento de guilty pleasure foi tão apropriado. Acaba o jogo e os bielorrussos resolvem meter The Best a tocar no estádio. Herrera, ainda não eras nascido quando esta virou disco de vinil pela voz da Tina, mas ia jurar que foi escrita para ti, a pensar neste jogo. You're simply the best, better than all the rest. Herrera foi mais do que the best, foi the beast!

Neste caso não há nada de novo a elogiar, apenas a repetição de elogios feitos em posts anteriores. Herrera é jogador à Porto. Dos pés à cabeça. Aquele jogador com o qual podemos contar com uma coisa: vai lutar e correr até cair para o lado, vai sempre meter o pé quando tiver que ir ao choque, e vai sempre arranjar força para mais um sprint quando o colega do lado não puder. «Mas isso não chega», claro que não. 

Também é preciso qualidade. E hoje que se viu? Qualidade de sobra. Tinha-lhe pedido para arriscar mais no remate de meia distância e hoje finalmente decidiu fazê-lo, para um grande golo. E para quem se queixa que o Herrera não acerta um passe, perguntem ao Jackson e ao Tello o que acham e deitem uma olhada no quadro ao lado.


Tinha dito que Lopetegui devia aproveitar estes 2 jogos de Champions para rodar a equipa. Não o fez, mas entendo. Após 15 dias sem competir, decidiu meter algo próximo do 11 base, para tentar enraizar novamente as rotinas de jogo e recuperar o ritmo. Afinal foram 2 semanas sem trabalhar com muitos titulares e ainda há muito por aperfeiçoar. Não era um jogo fácil, como se viu na primeira parte. Contra o Shakhtar sim, não há desculpa para não rodar à vontade. É que 4 dias depois há jogo com o Benfica para decidir, esperemos, a liderança.

Oitavos garantidos ao 4º jogo, primeiro lugar ao 5º, mais um milhão de euros e a segunda melhor época na fase de grupos igualada, com possibilidade de repetir a melhor época de sempre se ganharmos ao Shakhtar. O primeiro lugar pode não dar garantias de nada, sobretudo se pensarmos que o Barça é 2º no seu grupo. Mas na Champions o percurso tem sido irrepreensível e atingiu as expectativas desportivas e financeiras (o orçamento previa o apuramento para os 1/8 e esse objectivo já está garantido).





A primeira parte (-) - Vamos por partes. Aquele relvado era medonho. Jogar sob graus negativos é sempre difícil, sobretudo numa equipa que joga um futebol pensado, organizado e que não se limita a correr à maluca. E o BATE soube usar bem o autocarro. Ora tirando o frio, isto é o que o FC Porto vai encontrar em grande parte dos jogos da primeira liga: um mau relvado e um adversário à defesa. O que se viu? Muito pouco. Não me recordo de uma boa ocasião de golo na primeira parte. E é bom lembrar que o que nos permitiu fazer o 1-0 não foi o plano de jogo, porque o golo é uma recuperação de bola e um remate espontâneo. Até lá já ia quase uma hora de jogo sem saber como dar ao volta ao BATE, e tirando Herrera e Casemiro era difícil de encontrar algum de positivo no FC Porto.





Herrera, claro (+) - Não há muito a acrescentar ao que foi dito acima. Há quem diga que é parecido com a Rosa Mota. É verdade, corre que se farta, do minuto 1 ao 90. Outros dizem que parece o Dobby. Também é verdade, aparece e desaparece em todo o lado e hoje mostrou que também sabe fazer magia. E outros ainda dizem que parece aquele mexicano do Mundial 2014. Também têm razão. Eu cá digo que é o mesmo tipo que contratámos em 2013, com as mesmas virtudes e defeitos. E não há defeitos que façam com que deixe de apreciar e enaltecer as suas virtudes.

Cas6miro (+) - Com 6, assim. É verdade que o BATE não é um teste para nenhuma defesa, mas Casemiro fez o que se lhe pedia quase na perfeição. Errou poucos passes, deu sempre linha de passe, cobriu sempre as subidas dos laterais ou do Herrera, nunca perdeu o sentido posicional e o FC Porto quase não deixou que o BATE aproveitasse o espaço na rectaguarda (também mérito para Indi-Marcano, apesar de algumas falhas na 1ª parte). A Selecção fez-lhe bem.

Outros destaques (+) - Óliver. O menino também veste o fato de macaco. Por incrível que pareça, correu ainda mais do que o Herrera. A UEFA devia pagar uma indemnização por obrigar aqueles pés de ouro a terem que pisar um relvado tão mau. Esteve em todo o lado, só pecou por não ter arriscado no remate (precisamos de mais meia distância para arrombar autocarros) nem aparecido em zonas de finalização (quando Jackson baixa a área fica deserta). Jackson. Uma oportunidade, um golo, muito trabalho e muita luta, como sempre. Tello. Finalmente o primeiro golo. Ia dizer que naquela situação tem que passar a bola ao colega, mas como implicar com alguém que marca o seu primeiro golo?





Temos uma nova duplaMarcano é o substituto do Maicon? Não. A dupla Marcano-Indi é que é a substituta da dupla Maicon-Indi. Isto porque Maicon joga sempre pela direita, mas Marcano foi jogar para a esquerda e Indi pela direita. Quer isto dizer que não está em causa uma rotação de um jogador, mas sim a definição de uma nova dupla de centrais. Além disso Maicon estava à bica e precisava de ver hoje um cartão para limpar a folha. Fará sentido jogar contra o Shakhtar colocando em risco a sua utilização nos oitavos? Não. Tudo leva a crer que Lopetegui vai passar a apostar na dupla Indi-Marcano. Maicon perdeu espaço, Reyes pode rodar em Janeiro e o mercado está à porta... A meu ver sem necessidade, diga-se já.

domingo, 23 de novembro de 2014

Só ele sabe porque não fica em casa

Ele está em todo o lado. Dá conferências em Londres onde promete inovadoras experiências interactivas para os adeptos que já se praticam no Estádio do Dragão, vai aos Emirados falar de futebol de praia, passa pela África do Sul e pelos EUA e é recebido como um Messias na UEFA, a avaliar por este pequeno texto do jornal Record. Seja qual for o final de época, o Sporting já deve ser campeão em milhas acumuladas.

Fim dos fundos: eles riem-se
Mas isto a propósito do visionário Bruno de Carvalho que deixou a FIFA e a UEFA a seus pés com as suas propostas anti-fundos. Só se lamenta que Bruno de Carvalho não tenha sido tão visionário aquando das eleições para a LPFP (bastava escolher um candidato e ter o apoio de três clubes para concorrer contra Luís Duque). Se há tanta visão para o futuro do futebol português, porque não nem uma sugestão? É a chamada gestão à José Régio. Bruno de Carvalho não sabe para onde vai, mas sabe que não vai por aí (e por aí entenda-se o sentido de voto de FC Porto e Benfica).

Mas não deixa de ter pensamento estratégico. O caso mais interessante foi a entrevista com os directores dos 3 jornais desportivos. Chamou-os para uma entrevista que rapidamente se tornou num ataque, onde utilizou um inteligente jogo de palavras para iludir os desatentos. Cumpriu os seus objectivos: atacou os 3 directores e os sportinguistas rejubilaram, espumaram-se, celebraram. Rejubilaram tanto que esqueceram-se por um momento do 8º lugar na liga. Bruno de Carvalho sabe chamar as atenções para si próprio e fazer com que se esqueçam do importante. Acreditem, não é fácil fazer isto. Tem mérito.

Mas quando o tema são os fundos, já não se trata de desviar as atenções. Trata-se mesmo de ignorância face ao que aí vem. Continuam a tratar Bruno de Carvalho como o valente cavaleiro da cruzada contra os fundos, que vai acabar com os fundos na UEFA e na FIFA. Percebe-se este empenho de Bruno de Carvalho: enquanto Benfica e FC Porto mantiverem parceiros estratégicos, o Sporting não cheira. Mas a Bruno de Carvalho interessa corrigir rapidamente o erro que fez no Sporting: fazer com que mais nenhum fundo queira negociar com o clube.

Porque é isso que está em causa. Não é só o Sporting a romper com os fundos. São os fundos que já não querem negociar com o Sporting. A maneira como rasgam o contrato com a Doyen Sports, tratando tal como um empréstimo sem taxa de juro que ia triplicar ou quadruplicar o lucro da instituição, mostra que não tem uma SAD pronta a honrar os compromissos que assina. Nenhum parceiro quer negociar com um clube assim.

Por isso é tão conveniente a história de que os fundos vão acabar. Mas é tão conveniente como mal contada. A FIFA não vai proibir os fundos de investimento, vai proibir a partilha de passes com fundos de investimento. Os fundos vão continuar a existir, como sempre. Na prática o que acontece é que os fundos vão passar a operar como se fossem uma instituição bancária: avançam com o financiamento da contratação e depois são reembolsados, ou com taxa de juro previamente definida, ou a troco de uma percentagem de uma futura transferência. Já ouviram a aquela história de que os fundos são proibidos em Inglaterra? Ouviram mal. O que não é permitido é o third-party ownership. Os fundos existiam, exitem e continuarão a existir, em todos os campeonatos.

Portanto a história do herói Bruno de Carvalho, que anda a batalhar na FIFA e na UEFA, é para inglês ver. Vai acabar a partilha de passes por terceiros. Mas os fundos vão continuar a operar como instituições bancárias. E vão continuar a financiar transferências para clubes onde saibam que a) os jogadores vão ser valorizados; b) os clubes vão cumprir os compromissos assumidos.

O Sporting, além de rasgar contratos quando lhe apetece, não valoriza os jogadores para um patamar que Benfica e FC Porto alcançam. Em toda a sua história o Sporting só vendeu um jogador acima dos 15 milhões, foi há 7 anos e até lhes foi emprestado de graça. E para fazer a segunda maior venda da sua história em 2010 o Sporting teve que vender o seu capitão ao FC Porto. Que interesse podem os fundos ter num clube assim?

A dependência dos fundos não é saudável para ninguém. Mas que são importantes para conseguir jogadores como Mangala, James ou Brahimi, são. O que se pedia era a transparência do processo. Coisas tão simples como a) conhecer os accionistas ligados aos fundos; b) revelar logo no momento da alienação quanto custa recuperar o passe; c) definir uma taxa máxima de valorização dos activos. Três coisas tão simples que acabavam com o problema. Mas sabem porque é que estas 3 coisinhas nunca foram opção? Porque nem a FIFA nem a UEFA têm interesse.

A FIFA e a UEFA querem que os fundos continuem a existir, porque é um negócios paralelo que envolve centenas de milhões. Vai proibir o third-party ownership, mas os fundos vão continuar a operar. Não muda nada. Bater palminhas por se fechar uma janela quando a porta continua aberta? A única porta que se fechou foi para o Sporting, e foi dos fundos.





- A saudade de ver o nosso FC Porto jogar é tanta que para ter tema tive que o centrar em Bruno de Carvalho. Isto porque não posso aceitar a sugestão de um estimado amigo portista, que sugeriu que falasse sobre os elogios a Pinto da Costa em Angola. Ver o FC Porto, na presença do seu presidente, ser reconhecido lá fora é sempre importante. Mas para quem tanto se queixa de imprensa tendenciosa e do regime, dedicar uma única palavra ao Jornal de Angola seria de uma hipocrisia e falta de coerência considerável. Pobre do FC Porto no dia em que necessitar de um panfleto estatal para massajar o ego. Fica a nota por Pinto da Costa mais uma vez exportar a imagem do FC Porto no estrangeiro, com expectativas de ver se terá importado algo.

- Não li a entrevista de Lopetegui à UEFA. Mas o jornal Record diz algo como «seremos campeões ou lutaremos até ao fim» e esta frase deixou alguns portistas incomodados, por Lopetegui admitir a possibilidade de não ser campeão. Claramente um motivo para indignação, ora vejamos o que disse Guardiola em meados de 2011-12: «Ser campeón? Solo queda luchar hasta el final». Ou então o que diz Mourinho depois de passar para a frente da liga inglesa em 2013-14: «Não somos candidatos ao título, o City é que tem obrigação de ser campeão». Seguindo a coerência, Guardiola e Mourinho não têm capacidade para treinar o FC Porto, porque são treinadores que admitem não ser campeões. Ah, esperem, são mind-games para aliviar a pressão sobre a equipa? Ah, tudo bem! Que pena que Lopetegui não tenha feito o mesmo na sua entrevista à UEFA... [Irony alert]. 

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

As redes que não precisam de mais peixe

Desde 2005-06, quase se pode afirmar que o FC Porto só teve 2 guarda-redes titulares: Helton e Fabiano. Helton foi o sucessor de Baía e só deixou a baliza por culpa da sua grave lesão. Tirando Helton e o agora titular Fabiano, só jogava quem entrava no esquema de rotação nas taças.
O digno sucessor de Helton

Mesmo só havendo 2 guarda-redes titulares nos últimos 8 anos, a verdade é que o FC Porto contratou desde então 10 guarda-redes. Além dessas 10 contratações que incluem o agora titular Fabiano, o FC Porto teve Paulo Ribeiro, Hugo Ventura, Tiago Maia e Kadu a rodarem como 3º guarda-redes do plantel.

Não se pode ignorar que a baliza é uma posição que requer rotação no mercado. Ninguém se conforma eternamente com o estatuto de número 2. Se não jogam, procuram sair e rodar noutro lado. O melhor exemplo disso é Beto. Estava tapado por Helton, foi para Braga, depois para Sevilha e hoje é titular num dos melhores campeonatos do mundo e não deve nada além de alguns centímetros ao titular da Selecção.

É também uma posição onde os jogadores atingem a maturidade mais tarde e onde podem levar anos e anos até evoluírem para um patamar que justifique o FC Porto. Mas nada disto que se acaba de referir justifica uma coisa: ter mais recursos do que aqueles de que se necessita e se pode usar.

Este foi o quadro de contratações de guarda-redes dos últimos anos:

2007-08 - Nuno Espírito Santo
2008-09 - Nenhum
2009-10 - Beto
2010-11 - Pawel K.
2011-12 - Bracalli
2012-13 - Fabiano, Stefanovic 
2013-14 - Bolat e Matos
2014-15 - Andrés e Ricardo

Só em 2008-09 o FC Porto não contratou nenhum novo guarda-redes. De resto tem sempre sido contratado um ou mais guarda-redes por época, muitas vezes por intermediários repetentes. Dos últimos 10 contratados, só Fabiano foi titular e só Beto mostrou capacidade para ser o número 1 (quanto a Andrés ainda é cedo para tirar conclusões). Mas passamos a avaliar a pertinência de cada contratação.

Nuno, eterno suplente
Nuno Espírito Santo - Na primeira passagem foi a sombra de Baía, na segunda a de Helton. Teve uma segunda vida no FC Porto pela mão de Jorge Mendes, ou não tivesse sido ele o primeiro jogador a ser representado pelo empresário (conheceram-se numa discoteca em Caminha, com 30 anos, ainda Jorge Mendes não tinha mais do que um pequeno clube de vídeo e um acordo publicitário no Lanheses). Um dos guarda-redes mais caros da história do clube, que mesmo sem ter sido titular e comprometendo muitas vezes (o melhor momento foi o jogo do hat-trick de Jankausas em Braga) conseguiu tornar-se acarinhado pelos adeptos.

Beto - Um bom suplente de Helton, que como mostrou mais tarde podia perfeitamente ser o número 1. Guarda-redes de Teixeira da Silva, saiu do Leixões abaixo da cláusula de rescisão (750 mil€) e depois saiu para o Braga a custo zero. O FC Porto ficou com 50% do passe e depois recebeu cerca de 500 mil€ (não confirmados) pela transferência para o Sevilha.

Pawel Kieszek - Guarda-redes de Gaspar Freire, não fez um único jogo no Braga no campeonato antes de vir para o FC Porto (onde ia ser o suplente de Helton e de Beto). Contratação que não obedeceu a qualquer lógica desportiva. Enterrou na Taça da Liga, fez dois jogos na Taça, 10 minutos no campeonato e foi emprestado ao Roda. Depois saiu. Assinou um contrato de quatro anos, num péssimo negócio que nada justificava.

Bracalli - Guarda-redes de António Araújo, falou-se num contrato de 3 anos, não confirmado. A sua contratação empurrou Beto para o Cluj no último dia do mercado. Mostrou alguma qualidade no Nacional, era um guarda-redes experiente. Fez alguns jogos nas taças e um ano depois foi encostado, dando lugar a outro guarda-redes. Rezam as crónicas que tinha uma relação difícil com Will Coort e também saiu pela porta pequena.

Fabiano - Único guarda-redes contratado desde Helton que conseguiu ser titular. Guarda-redes de Gaspar Freire, terá custado 1,2M€, valor não confirmado. Teve que esperar pela lesão de Helton. Uma infelicidade na base de outra felicidade. 

Nome sem história
Stefanovic - Guarda-redes de António Araújo, uma contratação surreal. Chegou no Verão que fez 24 anos e nas equipas B só há espaço para 3 jogadores maiores de 23. Queimou-se assim uma vaga na equipa, algo absolutamente desnecessário, violando-se logo a lógica da equipa B ser para lançar os jovens jogadores - neste caso foi-se ao mercado, não se sabe por que valores, contratar um jogar de idade superior aos regulamentos. Nem o Arouca o quis e nem no Chaves joga. Contrato de 3 anos.

Bolat - Pouco a acrescentar ao que já tinha sido analisado aqui. Teve direito a um contrato de 5 épocas. Na primeira época mal jogou enquanto cá esteve. Na segunda foi emprestado para ser suplente de Muslera ao Galatasaray. Ou seja, o FC Porto preocupou-se em arranjar um clube que lhe pagasse o salário em vez de encontrar um clube onde pudesse jogar regularmente. Lógica desportiva nem vê-la na estrada de ligação a Liége, que recentemente trouxe os irmãos Djim e um interessante extremo (ou lateral?) que tinha acabado o contrato com o Standard, mas que afinal custou 2,615M€. O sucesso com Mangala não pude justificar tudo.

Matos - É caso para dizer, Stefanovic, estás perdoado. Um guarda-redes de 34 anos que não jogava no Leixões foi contratado para ser suplente da equipa B. Como é claro não houve interesse desportivo nesta contratação. Mas há quem diga: é importante para o Kadu e para os mais jovens terem um jogador mais experiente a treinar com eles. Essa desculpa quase que faz sentido, mas acontece que existe uma coisa chamada treinador de guarda-redes que dedica 100% do seu tempo e atenção aos guarda-redes.

Não há espaço para Ricardo
Ricardo - Podia ter sido importante nas inscrições para a Champions, mas afinal foi irrelevante, porque o FC Porto inscreveu os 2 GR estrangeiros. Disse-o no dia em que foi contratado: é um razoável guarda-redes, mas que tinha muito boa imprensa na Académica, pois há sempre simpatia para portugueses que jogam em clubes de menor dimensão e pegar nestes casos de jogadores portugueses dava sempre jeito para embirrar com o Paulo Bento. Contrato de 4 anos, sem qualquer pespectiva de futuro no FC Porto. Em princípio vai ser emprestado à Académica em Janeiro. Tem 32 anos e está em fileira para se juntar ao clube dos que chegam, vêem e vão-se embora sem jogar. Tendo em conta que Lopetegui já estava contratado e já se sabia que queria um novo guarda-redes (Navas opção 1, Andrés opção 2), a contratação de Ricardo queimou tempo, dinheiro e o próprio jogador, que até agora a única coisa que pôde fazer foi desfilar com o equipamento. Merecia mais, até porque (não) está a jogar no clube do coração.

Andrés Fernandez - Cedo para fazer juízos de valor, embora tenha dito na pré-época: a contratar um guarda-redes, que fosse para ser titular. Fabiano surpreendeu Lopetegui e para já é o número 1, tendo já renovado contrato. Vai ser difícil para Andrés ganhar o lugar mas há uma contratação para justificar.

Este foi o balanço dos últimos 10 guarda-redes contratados. Neste momento o FC Porto tem 11 guarda-redes no clube com contrato profissional, 2 deles emprestados. Tudo isto para dizer desde já: não é necessário contratar nenhum guarda-redes em 2015-16. E quando digo que não é necessário, não significa que não possa haver uma saída e que seja necessário colmatar uma vaga. Mas se ninguém sair, que não se contrate A para empurrar B. Estamos bem servidos de guarda-redes.

O futuro passa por aqui
Helton à partida vai reformar-se no fim do ano. Ficam Fabiano e Andrés a lutar pela titularidade, duas excelentes opções. Ricardo, temo, vai rodar, rodar e rodar. Não faz sentido continuar cá para ser 3º guarda-redes. Stefanovic vai sair no fim da época e sobra o caso de Bolat para resolver. Na equipa A. não é preciso mais nenhum guarda-redes.

E na B? Kadu tem tido sucessivas oportunidades, mas apesar de ser um miúdo trabalhador e portista continua sem mostrar capacidade para a equipa A (uma opinião que não é consensual). Caio já merecia ter tido uma oportunidade. De qualquer forma, defendo que seria interessante tirar Kadu da zona de conforto e tentar emprestá-lo na próxima época, ainda que não imagine que algum clube lhe dê a titularidade na primeira liga. 

Além de Kadu e Caio, há Raul Gudino, que ainda é sub-19. Mexicano, está emprestado e há cláusula de compra. Já mostrou algumas qualidades e o Chivas diz que o FC Porto vai comprá-lo no fim da época. Por quanto? Não se sabe. Mas que a sua contratação obedeça a uma lógica desportiva e não à contratação da praxe para a baliza. Se não for para ser um dos 2 GR da equipa B, não vale a pena contratá-lo.

Mas para 2015-16 o FC Porto já tem 2 guarda-redes com grande potencial para a equipa B: Andorinha e Filipe Ferreira. Andorinha é o guarda-redes mais promissor do FC Porto. Junior de segundo ano, nada justifica que não seja um dos 2 GR da equipa B da próxima época. Depois há Filipe Ferreira, que esta época está tapado por Gudino e Andorinha, caso contrário podia estar a mostrar o seu potencial.

Tirando Helton e Stefanovic, que vão terminar contratado, e Gudino, que está emprestado, para 2015-16 há Ricardo, Fabiano, Andres, Bolat, Kadu, Andorinha, Caio e Filipe Ferreira para dividir entre equipa A e B. O ideal seria ter 2 GR na equipa A e 3 na B, sendo que o 3º guarda-redes da equipa A seria o 1º da B. Há pelo menos 8 guarda-redes garantidos para a próxima época, por isso nada justifica contratar mais. Nada. Estamos bem servidos. 





- Com a confirmação das renovações de Ivo e André Silva, não resta nenhuma promessa em fim de contrato. Notícia a registar com agrado, resta encontrar espaço competitivo para eles. Na equipa A a curto prazo será difícil (defendo que na Taça da Liga devemos usar os jovens), por isso resta tentar desenvolvê-los tanto quanto possível na equipa B e depois pensar num empréstimo ou numa subida à equipa A. Tudo isto para dizer que a lógica dos guarda-redes se deve aplicar às outras posições na equipa A e B: é tempo de espremermos os recursos que temos, não de pensar já em ir buscar mais. A situação financeira da SAD não recomenda mais do que ataques cirúrgicos ao mercado, pelo contrário, recomenda e bem que se aproveite todos os recursos que já temos à disposição. E Ivo e André Silva são 2 dos mais promissores desses recursos.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

O impacto mensal da banca

A bola só vai voltar a rolar a 25 de Novembro. Até lá vai-se desfrutando tanto quanto possível dos nossos internacionais, com Brahimi, Aboubakar e Quaresma, sobretudo estes três, novamente em destaque nas Seleções. Como não chega para matar o bichinho, aproveite-se o hiato para recuperar o R&C de 2013-14 e observar qual tem sido o impacto nas contas da SAD em relação às suas obrigações com a banca.

Já se fez um ponto de situação de quais seriam as obrigações até ao final de 2016. Uma situação que já registou alterações, com a renegociação do maior empréstimo com o BES, que passa a envolver Danilo, já abordado aqui E desde então surgiu a confirmação do fim do financiamento da PT e de que o Novo Banco não vai fechar a torneira, mas vai passar a ser mais rigoroso quanto ao número de furos nos copos em que despeja água.

12,7M€ para a banca em
2013-14
Qual é a SAD com a maior dívida financeira? Benfica. E a SAD com a menor dívida financeira? FC Porto. Qual a SAD que mais pagou em juros/comissões/serviços bancários em 2013-14? Benfica. E a SAD que menos pagou? Sporting.

Dito isto, os números de 2013-14. O Benfica, que tem o maior orçamento do futebol português (gastou mais 13,9M€ que o FC Porto na última época, ultrapassando os 109M€), teve custos financeiros de 23,7M€, quase 2M€/mês. O FC Porto teve custos de 12,7M€, ou seja, pouco mais de 1M€/mês. Já o Sporting, num patamar inferior, teve custos de 6,5M€, pouco mais de 500 mil euros/mês.

Quanto ao endividamento bruto, e seguindo as contas consolidadas que envolvem as várias empresas dos respectivos grupos, o Benfica deve em empréstimos 318M€. Mais do dobro do FC Porto, perto de 150M€. Quanto ao Sporting, cuja dimensão financeira e desportiva da SAD não é comparável à de Benfica e FC Porto (só mesmo no endividamento), mas inclui-se para avaliar o ramalhete dos 3 grandes, a dívida financeira supera os 180M€

O FC Porto tem a dívida menor (não confundir a relação activo/passivo, não é isso que está em análise), mas o mais importante não é só o valor, mas sim a capacidade de liquidação. Em Portugal, os clubes/SAD não são auto-suficientes sem mais valias. Nem o Sporting, com o cinto apertado, conseguiu ser auto-suficiente em 2013-14. Portanto os 3 grandes vão continuar a ter que vender jogadores anualmente - Benfica e FC Porto mais, Sporting menos (o Sporting só vendeu um jogador em toda a sua história acima dos 13M€, e para fazer a segunda maior venda teve que transferir o seu capitão para o FC Porto, por isso não constitui surpresa - não é só política de contenção, é incapacidade de chegar a outro patamar).

Independentemente da questão das mais-valias, importa avaliar qual tem sido a capacidade do FC Porto na relação pagamento à banca vs. receitas operacionais. E chega-se à conclusão que o FC Porto tem a SAD que melhor consegue cumprir as suas obrigações com a banca na relação com os rendimentos operacionais. Em 2013-14, 17,49% dos rendimentos de FC Porto foram destinados ao pagamento de juros/comissões/serviços bancários. Quanto ao Sporting, foi de 18,41%. O Benfica está mais acima, com 22,57%.

Isto demonstra que o FC Porto tem a SAD com maior capacidade para cumprir as suas obrigações bancárias, e recorda-se aqui a operação Mangala-Danilo-BES. Mas estar melhor do que os outros não significa necessariamente estar bem. O FC Porto deve ter sempre como ponto de referência não o estar melhor do que Benfica e Sporting, mas sim melhorar a sua própria situação.

Isto para recuar até 2010-11, época em que o FC Porto ganhou a Liga Europa. Na altura, os custos com a banca foram de 7,4M€, para receitas operacionais de 89,815M€, isto é, 8,23%. Ou seja, no espaço de 3 anos o impacto nas contas da SAD na relação custos com banca vs. receitas operacionais aumentou 9,26%.

Mais recentemente, em 2012, os custos eram de 11,04M€, face a proveitos de 72,184M€. Um peso de 15,29% nas receitas operacionais. Esta percentagem tem vindo a subir nos últimos anos e, seguindo o que foi anunciado na apresentação do R&C, o FC Porto terá que procurar parceiros alternativos. Pois a renegociação de dívida alivia os problemas a curto prazo, mas a factura chega mais tarde e reforçada.

Para 2014-15, o FC Porto prevê proveitos operacionais de 89,22M€, que incluem uma receita extraordinária na Champions e que assim chegam quase aos números de 2010-11. Mas desta vez o impacto da banca não será 8,23%. Será no mínimo o dobro. E se não há capacidade para aumentar as receitas operacionais, o que provoca uma maior necessidade de recurso à banca, então há que reduzir e disciplinar os custos.

Nada que a SAD já não saiba, mas cuja importância vale sempre a pena reforçar.

sábado, 15 de novembro de 2014

O tratamento a dar à Taça da Liga

A Taça da Liga é uma taça que falta ao FC Porto? É. Mas também nunca ganhámos a Taça das Taças. Alguma vez algum portista sentiu que o palmarés tem um vazio por nunca ter ganho a extinta Taça das Taças? Por muito a final de 84 tenha custado, porque estava em causa o primeiro título europeu, tenho a certeza que nenhum adepto sente essa mágoa. Quem viu a final contra a Juventus pode ter lamentado ter perdido esse jogo, mas certamente não lamenta nunca ter ganho a Taça das Taças. A mágoa, se existe, é por um jogo, não pela competição.

Tudo isto para recuperar um debate antigo: que tratamento deve o FC Porto dar à Taça da Liga? Não tenho a menor dúvida: fazer aquilo que raramente pode fazer noutras competições e que já não poderá fazer este ano na Taça de Portugal: rapaziada lá para dentro. Sub-19 e equipa B, além dos jogadores que não jogam tão regularmente na equipa A.

Taça da Liga: que futuro?
«É uma taça e conta como as outras.» Meia verdade, meia mentira. É certo que estamos numa disputa interessante com o Benfica, 74-73 em títulos. Mas pergunto o que preferem: ganhar esta contagem com Taça da Liga + Taça de Portugal, ou perder esta contagem e ser campeão nacional? Claro que todos preferem o título de campeão.

Ser campeão é sempre o objectivo número 1. É o que confere o estatuto de clube mais forte do campeonato português e que dá entrada na Liga dos Campeões, decisiva para as ambições desportivas e financeiras. Depois há sempre o segundo objectivo, histórico, que é a Taça de Portugal. Fazer a dobradinha é sempre algo bonito de se ver.

O terceiro título mais importante em Portugal é a Supertaça. Porque para chegar à Supertaça, é necessário conseguir um dos dois objectivos mais importantes: ser campeão ou ir ao Jamor. Não é, como os que têm menos Supertaças que o Helton podem fazer crer, «um título onde se ganha um jogo e isso já vale um troféu». Totalmente falso. Porque para se poder disputar esse jogo, primeiro é preciso triunfar ao longo de uma época inteira, para ser campeão ou ganhar a Taça de Portugal. Não é para todos. O FC Porto tem mais Supertaças que todos os outros clubes juntos porque nos últimos 35 anos foi sempre mais forte do que todos os outros clubes juntos. Todos tiveram as mesmas hipóteses de chegar à Supertaça, mas o FC Porto foi melhor ao longo de 3 décadas.

E com isto chegamos à Taça da Liga. Não é preciso cair no extremo do que já disse o presidente, que depois de uma derrota do Benfica disse algo como «desta já nos livrámos» e «Taças da Liga podem ganhá-las todas». Nem 8, nem 80. É simplesmente uma competição onde devíamos assumir que é destinada para lançar jovens jogadores, dos sub-19 à equipa B. Deveríamos fazer por convicção aquilo que o Sporting vai fazer (?) por birra.

A Taça da Liga tem os dias contados, não se enganem. Não tem patrocínios, não tem interesse das estações televisivas, e uma LPFP precária não tem condições para manter uma prova que dá prejuízo (há prémios da época passada por pagar). Para o FC Porto, ganhar a Taça da Liga, tirando as receitas com bilheteiras, só dava para pagar 4 meses de salário bruto do Jackson Martínez. Financeiramente, o estímulo é zero. Desportivamente, não dá prestígio a ninguém. 

Que motivação os jogadores podem tirar da Taça da Liga quando ouvem o presidente dizer que é um troféu que não interessa? Os próprios jogadores da equipa A não querem saber da Taça da Liga. Não lhes dá prestígio, não alimenta as suas hipóteses de serem titulares e no máximo só ficam desgastados para os jogos do campeonato ou da Europa.

Para um Danilo, um Herrera ou um Jackson, a Taça da Liga não vale de nada. Mas para um jovem da formação ou da equipa B, que sabe que dificilmente terá oportunidades na equipa A, a Taça da Liga já pode valer muito. Por percebem que é aí, nessa competição, que podem jogar pela equipa A, sentir o ambiente do Dragão, jogar directamente às ordens do treinador principal e criar empatia com os adeptos. A Taça da Liga devia ser destinada a quem pode tirar verdadeiramente algum proveito dela.

Desconhecendo o que Lopetegui vai fazer, defendo que devemos utilizar apenas jovens na Taça da Liga, além dos jogadores que são exigidos nos regulamentos. A Taça da Liga não vai durar para sempre. E os sub-19 e jogadores da equipa B dificilmente vão ter oportunidades de jogar na equipa A. Junte-se o útil ao agradável.

Claro que num clássico com Benfica ou Sporting o estímulo competitivo aumenta e há que encontrar um equilíbrio. Mas suponhamos que o FC Porto decide jogar na Taça da Liga sem nenhum dos 11 jogadores mais utilizados por Lopetegui...


E como é claro, há muitos outros jogadores que podem caber aqui, desde a equipa A aos sub-19. É obrigatório convocar 5 jogadores da última ficha de jogo da equipa A, por isso o FC Porto vai ter sempre garantida a utilização de 5 jogadores do plantel principal. De resto, deixem jogar os miúdos. De certeza que muitas equipas portuguesas, algumas que até já fizeram melhores campanhas na Taça da Liga do que o FC Porto, dariam tudo para ter um plantel com a qualidade e solução apresentadas acima.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Ainda sobre Tozé. E a renovação de Ivo Rodrigues.

Não esperava que o golo de Tozé ao FC Porto fosse debatido a uma escala tão grande. Deu para tudo, desde insultos bárbaros ao jogador a lamentações por não fazer parte do plantel principal. Tanto um como outro, exageros. 

O Tribunal do Dragão reagiu da seguinte forma à sua exibição:

O profissionalismo não
obedece ao clubismo
«Nem vale a pena comentar as lamentações dos que já clamam que Tozé tinha lugar no FC Porto. Nem merece comentários. Tozé não tem lugar no FC Porto. Não ia jogar no FC Porto. Ia jogar tanto como Ricardo ou Kelvin. O empréstimo era a melhor solução para dar minutos ao jogador, disso não há a menor dúvida. O que se elogia aqui é a postura do jogador e o seu profissionalismo. O tempo do Manaca já lá vai (será?), mas o que se diria sobre o jogador se falhasse o penalty? Fez com facilidade aquilo que se tornou difícil no FC Porto e ainda se desculpou. Não tens que pedir desculpa, apenas continuar a fazer aquilo de que gostas, que é jogar futebol. O FC Porto não tinha possibilidades de te garantir minutos esta época, quiçá no futuro as coisas mudem. Quem sempre tratou o FC Porto com honra e respeito, como Tozé, merece sempre ser feliz».

Sinceramente, não percebo que crítica possa haver a Tozé. Tem contrato com o FC Porto? Tem. Tem contrato com o Estoril? Também. O seu passe está repartido pelos 2 clubes? Está. Quem paga o seu salário? Os dois clubes, a meias (o Estoril é um dos clubes que mais bem paga aos jogadores em Portugal, depois da entrada da Traffic na SAD).

O que é um bom profissional? O bom profissional é aquele que dá tudo para a sua equipa ganhar. Não é aquele que sente fortes dores de barriga na véspera do jogo contra o clube-mãe. Não é quem assume uma manipulação de resultados antes de um jogo, como retratou e bem o sempre atento Reflexão Portista no caso de Eusébio contra o Benfica (para mim, a palavra do jogador vale mais do que os recortes das crónicas d'A Bola ou do Record). Não é quem solta o Manaca que há em si. Não é quem saca um momento à Jorge Ribeiro ou Makukula na marcação de um penalty. O bom profissional é aquele que até pode estar 80 minutos sem fazer quase nada de significativo, como foi o caso da exibição de Tozé, mas que depois lá arranja espaço para um sprint como se não houvesse amanhã. E é penalty, um lance clássico no futebol. Quantas vezes já não vimos penaltys assim? O jogador chega primeiro, toca a bola para o lado, apanha os braços do guarda-redes. Penalty, quase sempre assim.

Quando Tozé entrou em campo, estava a ostentar o símbolo do Estoril. Não estava a jogar com nenhum contrato com o FC Porto chapado na testa, mas sim com o símbolo do Estoril. Tozé fez o que tinha que fazer: dar tudo para a sua equipa ganhar. Tozé fez exactamente o que eu quero que Tello faça contra o Barcelona, o Óliver contra o Atlético e o Casemiro contra o Real Madrid

9 épocas de FC Porto,
nenhuma polémica
Se o Tello for artista em sacar um penalty ao Claudio Bravo, vão pedir de imediato que rescinda com o FC Porto? Se o Casemiro varrer o Ronaldo, vão querer que seja expulso? E se o Óliver for rato o suficiente para tentar sacar um cartão a um adversário, também vão dizer que não pode jogar mais no FC Porto? E se algum deles sair a passo quando o FC Porto estiver a defender uma vantagem, também vão lá puxá-los para que eles saiam do campo mais depressa?

O problema é estarem a confundir o ser profissional com o ser portista. Há adeptos que não queriam que o Tozé fosse profissional, queriam que fosse portista. Queriam que não se tivesse feito ao lance, que não tivesse marcado o penalty, ou que tivesse mandado um bico para fora. Mas os bons profissionais começam no seu carácter, não na sua cor clubística. Tozé deu uma prova de profissionalismo, ponto. Fez o que tinha que fazer: defendeu o clube que estava a representar.

Confesso que não sou o maior apreciador do futebol de Tozé. É um atleta empenhado, esforçado, que tem um chuto forte e boa qualidade de passe, mas até hoje ainda não vi estofo para jogar na equipa principal do FC Porto. Por isso é que o empréstimo ao Estoril foi ideal. Vai poder jogar na primeira liga com regularidade, enquanto aqui ia estar a aquecer o banco e a jogar nos batatais da segunda liga. 

Mas que foi o melhor jogador da equipa B nas duas últimas épocas, foi, sem margem para dúvida. Que merecia ter tido mais oportunidades além de dois jogos de ai Jesus contra o Olhanense, merecia. Se talvez jogaria com mais coração (ler entrevista ao Mais Futebol) do que alguns elementos que fazem parte do plantel actual, talvez. E quem tem sido um profissional exemplar desde 2005, sempre elogiado pelos treinadores da formação e sem nunca ter tido problemas disciplinares, é facto. 

Durante 9 épocas, colegas, treinadores e até o presidente do FC Porto só tiveram elogios e palavras de apreço para o Tozé. Não há-de ser por causa de um jogo em que fez o seu papel de profissional que isso vai mudar, Tozé. Pelo menos nunca aqui neste espaço. Quem quiser que propague o contrário, mas não percam mais tempo aqui. Críticas sim, insultos nunca. É uma regra fácil de seguir, não?

Melhor sorte para Tozé e que a garra com que sacou o penalty seja a mesma quando defrontar o Benfica.

Ivo Rodrigues. Aposta da estrutura ou do treinador?

Futuro como 9 ou extremo?
O jornal OJOGO diz que Ivo Rodrigues já renovou até 2019, com cláusula de rescisão de 30M€. Uma boa notícia e algo incomum. É raro os jogadores da formação renovarem duas vezes no espaço de um ano. Mikel foi um exemplo em 2013-14. Ruben Neves também acabou por sê-lo, mas em circunstâncias bem diferentes. Agora é a vez de Ivo Rodrigues.

De Itália houve notícias de um suposto interesse do Hellas Verona. Muito curioso: o Hellas anda a observar jogos da formação do FC Porto? Ou será que alguém percebeu o valor da mercadoria e tentou exportá-la?

É o mais talentoso extremo da formação do FC Porto da última década. OJOGO diz que a estrutura confia muito no seu potencial. Curiosamente refere-se aos «responsáveis portistas», que confiam muito no seu potencial, e não refere uma única vez o nome de Lopetegui na notícia. Confiando que o jornal que dá a notícia em primeira mão saberá os devidos detalhes, então a decisão de dar uma segunda renovação a Ivo Rodrigues parte da «aposta» da estrutura, não necessariamente de um sinal de que vá ser aposta a curto prazo de Lopetegui.

E há a questão: A estrutura renovou com o extremo Ivo ou com o ponta-de-lança Ivo? Luís Castro vê mesmo em Ivo Rodrigues um ponta-de-lança ou foi solução de transição até Gonçalo recuperar de lesão e André Silva ter acordo para renovar (o jornal OJOGO também revela, de forma deliciosamente subtil, o que desbloqueou o impasse para a renovação)?

Volto a dizer: no que toca a avançados centro, o futuro do FC Porto está em André Silva e Gonçalo Paciência. No que diz respeito à posição 9, na formação não há dois nomes mais adequados do que estes para já. Logo insisto que Ivo Rodrigues deva regressar à ala. Jogar na posição 9 até pode ajudar a que seja um jogador mais completo, e prova disso é que fez alguns golos nessa posição. Mas quem tem as características de Ivo tem é que ser trabalhado no flanco de um 4-3-3.

Se houver espaço para que Lopetegui lhe dê uma oportunidade em breve, quiçá na Taça da Liga, óptimo. Mas quando ainda há Ádrian, Kelvin e Ricardo para tentar potenciar, pelo menos até Janeiro será difícil imaginar que possa ser aposta. Pelo menos, e felizmente, o futuro contratual já está assegurado. O primeiro passo está dado... a dobrar.

O pior jogador da história do FC Porto na relação custo/rendimento

Gosto de dizer que os treinadores de bancada estão em vias de extinção. Agora há uma nova classe: os dirigentes de bancada. Hoje em dia, o comum adepto já não se satisfaz apenas em comentar as questões técnico-tácticas. Os adeptos gostam de discutir as finanças das SAD, os preços dos jogadores, os investimentos, a gestão da administração, etc. Nada fica ao acaso. 

A cara feia que todos
queremos ver no Dragão
E por isso, aos olhos de muitos adeptos o problema de Ádrian López não está na apatia com que tem jogado. Está no investimento. O problema em Ádrian não é a falta de agressividade, o facto de não conseguir mandar um bico para a baliza ou de olhar para a bola com a mesma estranheza com que eu olhava para o quadro durante as aulas de física («que é esta merda?»). O problema de Ádrian é que custou 11 milhões de euros.

Danilo, Alex Sandro e Herrera já passaram por isso. Ser refém do preço que custou é complicado para qualquer jogador. Chega-se a ignorar o princípio mais básico: os jogadores não têm culpa dos preços que lhes colocaram. Mas claro que têm o dever de tentar corresponder ao máximo a esse investimento. Ádrian ainda não o fez, mas a facilidade com que já se considera Ádrian o maior flop da história do FC Porto é assustadora.

Pergunta: quem é o pior jogador da história do FC Porto na relação investimento/rendimento? Como Ádrian é o nome mais recente e a segunda contratação mais cara da história do clube (não confundam contratação com investimento num jogador já contratado; a maior parte do investimento feito em Hulk foi feito quando ele já estava contratado, logo não é a contratação mais cara da história do FC Porto, mas sim o investimento mais caro), é normal que já o associem a isso. E sem grande razão de ser, diga-se.

Um nome: Quintana. Chegou na era em que o FC Porto se fartou de contratar em quantidade e raramente em qualidade. Diziam que era o novo Paredes. Na verdade uma parede, no sentido literal da palavra, era capaz de ser dado mais jeito. Um jogador tão mau que foi dispensado na pré-época do Moreirense. Na altura, esse jogador custou mais de 500 mil contos, cerca de 3M€ na moeda actual.

Quintana, um investimento
não menos grave
Em 2001, o FC Porto apresentava receitas de 32M€. Foi a partir daqui, quando o FC Porto começou a fazer vendas milionárias, que a SAD começou a subir a fasquia dos investimentos. A venda de Jorge Andrade (por 11,6M€), por exemplo, na altura significou 24% das receitas totais do clube, incluindo as transações de passes.

Então que se façam agora as contas. O que é mais caro? Comprar Quintana por 3M€ quando há receitas de 32M€ ou comprar Ádrian por 11M€ numa época em que se enquadra um orçamento de 114M€ e em que os proveitos com transferências incluídas vão chegar aos 140M€?

Ádrian nunca poderá ser considerado o pior jogador do FC Porto na relação custo/rendimento. Porque antes dele houve Quintana e outros exemplos. Pena foi contratado com uma avaliação superior a 7M€, embora a SAD só tenha comprado 25% do passe. Ibarra custou na altura 8,85M€, valor bruto que incluía o contrato do jogador. Mas pagar este valor por um lateral-direito quando as receitas eram menos de metade das actuais, torna Danilo numa pechincha. O início do século XXI tem diversos casos de investimento extremamente mal calculados e francamente maus na SAD, curiosamente logo nos primeiros anos em que foi constituída. Ádrian não é nenhum mal isolado.

A bem da verdade, que têm Quintana, Pena, Ibarra ou Ádrian em comum? Não é a questão de ser ou não flop. É serem jogadores cujo investimento é feito acima daquela que é a realidade financeira do FC Porto. Um décimo das receitas investido num único profissional, sobretudo quanto este não rende, é um risco em Portugal. Mas o risco é o modelo de gestão de Pinto da Costa há 30 anos. Não queiram é fazer parecer que Ádrian é um pecado no meio de tudo isto. Não é. O investimento de Ádrian equipara-se ao que foi feito há mais de 10 anos em Ibarra ou Quintana. Ádrian não é nenhum caso isolado. A política da SAD é exactamente a mesma desde há vários anos, desde Ádrian a Quintana. Ádrian, na relação custo/rendimento/receitas da SAD, precisa de flopar muito para chegar a Quintana.

Tudo isto para tentar aliviar o fardo do jogador. Eu próprio já assumi o desencanto com as suas exibições até aqui. Mas o jogador é vítima do seu próprio contexto no plantel. Não é bem 9. Não é bem extremo. E no 4-3-3 de Lopetegui, que estava a dar resultados, tem pelo menos 2 jogadores melhores do que ele para cada uma dessas posições. O próprio jogador estava iludido que saíndo do Atlético, campeão espanhol e vice europeu, para jogar na Liga ZON Sagres faria com que fosse ele e mais 10. As coisas não correram como ele pretendia. Mas será o primeiro a ter este problema?

Mariano, um bom exemplo
Ádrian tem 437 minutos de jogo, um golo e uma assistência. Lisandro López, nos 434 primeiros minutos no FC Porto, também só fez 1 golo. Outro exemplo, Mariano González. Quem não se lembra do trapalhão que nem correr conseguia? Tropeçava sozinho, quanto mais quando tinha a bola nos pés. A verdade é que Mariano demorou 847 minutos até ter um bom momento no FC Porto. A assistência que Lucho lhe deu no minuto 90 contra o Paços de Ferreira foi melhor que ir ao psicólogo.

Não se pode dizer que Mariano fosse um predestinado. Mas acabou por ser dos jogadores mais acarinhados pelos adeptos. Fez o primeiro golo do tetra. Marcou no último minuto em Old Trafford. Resolveu uma meia-final. Deu um torcicolo ao Rui Patrício. Foi capitão de equipa. E a verdade é que até aquele golo ao Paços de Ferreira era um dos maiores barretes da história do FC Porto (não se pode ignorar o que ganha hoje um jogador comparado com há 12 anos).

Para quem não se recorda, o FC Porto tem 4 avançados que custaram mais de 16M€ emprestados a outros clubes, Walter, Kléber, Caballero e Ghilas. E isto é apenas o custo, porque a avaliação nestes 4 jogadores foi superior a 23M€. O FC Porto tem 18 jogadores com contrato profissional emprestados, a suportar a maioria dos seus salários, e desses talvez só 2 ou 3 tenham hipóteses de voltar a representar o FC Porto. Ádrian tem que carregar sozinho o fardo dos 11M€ quando há casos tão ou mais pesados?

Ádrian López tem que render mais. E vai render mais. Mas o jogador tem que ser avaliado pelo ponto de vista estritamente desportivo. Porque se o foco da crítica for os 11M€, então não deve ser Ádrian a ser criticado. Pelo menos não sozinho. Deve ser Quintana, Ibarra, Pena. Ou os 4 avançados de 16M€ que estão emprestados. Por outras palavras, deixa de haver críticas a um jogador e passa a haver críticas à gestão da SAD. E como assobiar a SAD durante os jogos não deixa a equipa mais perto de ganhar, é tempo de tentar puxar por Ádrian, como também o fizemos por Mariano e Lisandro. E valeu bem a pena, não valeu?