Lopetegui começou a sua análise com uma verdade incontornável: «Só houve uma equipa aqui que quis ganhar, e fomos nós». Mas essa verdade tem duas adendas: 1) não era o Benfica quem precisava de ganhar; 2) o FC Porto não fez o suficiente para ganhar.
O que falhou na Luz? |
Nenhum campeonato se perde por empatar em casa do rival. Mas neste caso, gorou-se a nossa última possibilidade de passarmos para a frente do campeonato. O Benfica está muito perto de fazer pela primeira vez aquilo que o FC Porto fez 12 vezes nas últimas 3 décadas: ganhar pelo menos dois campeonatos seguidos. Algum dia teria que ser. São 30 anos de hegemonia, mais do que possam conhecer por parte de qualquer outro clube. Uma hegemonia que não terminou, simplesmente deparou-se com um rival fortalecido nos últimos anos e com um annus horribilis do FC Porto, seguido de um quase ano zero que ninguém quis assumir.
Esta será, possivelmente, a primeira época desde 88-89, na altura com Quinito/Artur Jorge, em que o FC Porto não vai ganhar nenhum troféu. Fez uma óptima campanha na Liga dos Campeões, e em termos de campeonato superou largamente a média de golos, pontos e de imbatibilidade nos últimos 20 anos. Suficiente para considerar uma boa época? Para a história, não. Suficiente para considerar a aposta na era Lopetegui um fracasso? Também não.
Uma equipa que faz uma Champions como o FC Porto merece todo o crédito. Falar em jogos fáceis, num contexto de Liga dos Campeões, é absurdo. O favoritismo não garante nada. Se garantisse, não tínhamos perdido contra Zagrebs, APOELs e Artemedias em épocas em que fomos campeões nacionais. Em termos de campeonato, que era o grande objectivo da temporada, temos à 29ª jornada mais pontos, golos e melhor defesa do que a maioria das temporadas das últimas duas décadas. A diferença? O Benfica tem mais pontos. E independentemente de o FC Porto ter, por manifesta culpa própria, feito apenas 1 ponto contra o Benfica, ninguém vai esquecer como é que o galo se aguentou no poleiro. Ou pelo menos não deviam.
É cedo para um balanço absoluto. Mas há a reter algo: Pinto da Costa vai ser, muito provavelmente, reeleito para o 14º mandato, dentro de um ano. Basta querer. E neste momento, a ser reeleito não é pelo que foi feito no 13º mandato (em termos de títulos, para já o saldo é uma Supertaça, além do pior prejuízo da história da SAD), mas sim pelo seu passado no FC Porto. E se a resposta de Pinto da Costa à ameaça de uma quebra no seu legado se chama Lopetegui, então pelo menos por cá merece o apoio.
Lopetegui é o treinador em quem Pinto da Costa e o FC Porto mais investiram, e sendo um treinador que não ganhou ainda nada já está referenciado por Real Madrid e Milan. Não é à toa. É um treinador que lidera um projecto a três anos. O saldo, para já, foi de uma boa Liga dos Campeões, um campeonato com líder forjado e no qual Lopetegui e os jogadores não podem ser os máximos responsáveis (na primeira volta houve muita gente a nanar), e aposta e reestruturação nas camadas jovens, passo a passo. Os títulos podem não chegar este ano, mas é um passo seguro para que retomemos esse caminho em 2015-16. Para já, há 4 jogos para ganhar. O resto aprofundaremos e debateremos depois, sabendo que não podemos confiar em Pinto da Costa sem confiar em Lopetegui. Não há que trocar de treinador: há que ver e perceber que erros foram cometidos esta época e corrigi-los.
Já agora: Pedroto foi, até hoje, o único treinador da era Pinto da Costa que esteve uma época inteira (sem trocas de treinador) sem ganhar títulos. Não é por isso que deixou de ser uma referência. Ah, e um pormenor: nunca ganhou ao Benfica na Luz.
Casemiro (+) - Enorme jogo, dos melhores que fez pelo FC Porto. Ótimo no desarme, na saída de bola, na pressão sobre o portador e na dimensão física. Meio braço a torcer: hoje faz jus a todos os elogios que recebia no início da época e às imensas vassalagens da Marca e do AS; meio braço, porque de facto no início da época Casemiro não jogava metade do que joga hoje. Neste momento é o 6 que fez o FC Porto superar a ausência de Fernando.
Alex Sandro (+) - Com o FC Porto a acusar uma preocupante falta de profundidade, foi ele quem mais tentou combater esse problema. Foi quem mais vezes foi à linha cruzar, raramente deixou o flanco descoberto, deu apoio ao ataque e está cada vez mais forte nos movimentos interiores, embora falhe ainda muitas vezes na hora de soltar a bola. Fez mais que qualquer extremo do FC Porto em campo.
A falha de Lopetegui (+/-) - A estratégia de Lopetegui não foi muito diferente da utilizada em Lille. Jorge Jesus, sendo um bom treinador no futebol português, é limitado quando a sua equipa tem que assumir uma gestão de posse e um futebol mais pautado. Lopetegui tentou ganhar o meio-campo, e isso foi bem pensado. O FC Porto esteve forte no corredor central, mas houve um grande problema: os corredores. Com Brahimi a mostrar desde Dezembro porque é que andava no Granada (os pés são os mesmos, mas passa-se algo naquela cabeça), o FC Porto esteve sempre manco nos corredores, raramente forçou o um para um contra o frágil e amarelado Eliseu e preocupou-se tanto em ganhar o meio-campo que, com isso, deixou de ter tantas condições para ganhar o jogo. Estratégia a afinar. Tello fez falta, sobretudo porque o Benfica apostou tudo na armadilha do fora-de-jogo (7 vezes).
Apanha, Jackson! (-) - Numa equipa com 4 médios, todos eles com boa capacidade de passe, seria de esperar mais critério no último passe. Mas nada disso aconteceu. Tirando um passe de Herrera na segunda parte, o FC Porto nunca entregou uma bola em condições a Jackson. A equipa, sem profundidade nos corredores, não conseguiu abrir o bloco do Benfica. E acabou por recorrer a um filme já visto: hesitação na saída de bola até ao momento em que alguém, muitas vezes Maicon, dá o bico à espera que Jackson apanhe. Exigimos demasiado a Jackson neste jogo, dando-lhe tão pouco.
Sem estofo (-) - O FC Porto não acreditou que ia sair da Luz líder. Simplesmente não acreditou. Faltava o lance do click. Todos falam do 3x1 com Villas-Boas, mas a verdade é que se o Fernando não tem varrido o Jara antes do golo do Moutinho provavelmente o FC Porto não teria virado a eliminatória. Faltou o tal lance que desse motivação ao FC Porto. Só tivemos um lance a que pudéssemos chamar oportunidade de golo, o chuto do Jackson na primeira parte. Fizemos muito pouco. O Benfica de JJ iria sempre ser resultadista, que é algo que aprendeu a ser contra o FC Porto. Também será hora de nos readaptarmos face à postura do Benfica: uma dose mais acentuada de pragmatismo e um pouco menos de respeito pelo adversário.
PS: Nos próximos dias os posts poderão não ser tão frequentes, por motivos de indisponibilidade (daí o atraso nesta análise), mas as crónicas de jogo e as grandes questões em torno do FC Porto nunca deixarão de ser aqui debatidas. A seu tempo, leve o tempo que levar.