O FC Porto terminou esta época da mesma forma que terminou 2014-15: sob um grande clima de suspeita face à qualidade dos seus centrais. Normal, tendo em conta que os 30 golos sofridos foram a 3ª pior marca de sempre num campeonato a 34 jornadas.
Ironicamente, os centrais foram praticamente os mesmos de 2014-15, exceção feita à entrada de Chidozie a meio da época. E na época passada, mesmo entre muitas críticas, Maicon, Marcano e Indi acabaram por integrar a defesa menos batida da Europa.
Não era fácil. O FC Porto perdeu, no espaço de 6 meses, dois centrais de classe mundial (Otamendi, o melhor em muitos anos, e Mangala) e o melhor amigo de qualquer defesa, Fernando. Teve que se habituar a jogar com um novo guarda-redes, Fabiano, também ele tantas vezes contestado. E ainda assim, marcar ao FC Porto foi sempre difícil para qualquer clube.
Mas este ano tudo mudou. O FC Porto contratou um novo
guarda-redes, trocou os
laterais e optou por não reforçar o centro da defesa. O resto é o que se sabe.
Apesar da troca de treinadores, e de José Peseiro ser um treinador que sempre preparou mal as suas equipas defensivamente, grande parte dos golos sofridos pelo FC Porto não se deviam a exposição na transição defensiva, mas sim por erros individuais dos centrais. Foram muitos, demasiados.
Embora o FC Porto não tenha tido um jogador a garantir golos como Jonas ou Slimani, a equipa deste ano fez mais golos do que o FC Porto de Co Adriaanse ou do que no bicampeonato de José Mourinho. Ofensivamente, não há desculpas para uma equipa que não marca ao Tondela ou ao Paços de Ferreira. Mas foi o mau desempenho defensivo que esteve na base da derrocada que foi esta época.
É naturalmente um setor a precisar de ser reforçado e há dois nomes na minha da frente, ambos oriundos do mercado sul-americano, Felipe e Gustavo Gómez. Mas como sempre, antes de pensar em que vem, há que decidir quem deve ou não ficar.
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Contrato até 2018 |
Maicon - Capitão, iniciou a sua sétima época no FC Porto, começou em boa forma e a marcar golos importantes, até que chegou o momento que todos se recordam. Maicon foi riscado do plantel e emprestado ao São Paulo, depois de ter renovado contrato por mais um ano, até 2018. Pinto da Costa já disse que no FC Porto não há «pena de morte» e anunciou que Maicon vai regressar. Não sabemos ainda quais são os planos efetivos para Maicon, pois ou o regresso é mesmo possível, ou pode ser um sinal dado ao mercado de que o jogador não estará em saldos.
O Tribunal do Dragão concorda com a reintegração do jogador no plantel, se houver predisposição de todas as parte para assumir e ultrapassar o erro que foi cometido por Maicon, jogador que ao longo de 6 anos sempre foi um bom profissional e que não raras vezes se
sacrificou em campo pelo FC Porto. Tirando as
charutadas às quais insiste em chamar passes longos e a mania de complicar o que deve ser simplificado, Maicon é um elemento de valia desportiva. Ser ou não titular sempre dependeu da qualidade dos seus parceiros de setor (Bruno Alves, Rolando, Otamendi ou Mangala eram superiores), mas é um elemento de qualidade para se ter no plantel.
Superou as expetativas no São Paulo, sendo um dos centrais do Brasileirão em melhor forma nos últimos meses. Vai fazer 28 anos, e não deixa de ser curioso que o melhor Maicon, no São Paulo, não deva muito - se é que deve algo - ao melhor Felipe do Corinthians. A diferença estará sempre na consistência exibicional, algo que faltou várias vezes a Maicon no FC Porto.
É um caso em que qualquer decisão poderá ser compreendida. Ou a saída, mediante uma boa proposta, ou a permanência no plantel. É bom lembrar que, até à sua saída, era o central com mais duelos e bolas de cabeça ganhas no FC Porto. Além disso, entre todos os centrais da liga, era o central com melhor média de desarmes no 1x1 e o segundo melhor no jogo aéreo, só atrás de André Pinto, do Braga. Certo é que, com ou sem Maicon, o setor defensivo necessitará de ser reforçado. E o regresso de Maicon não será esse reforço, ainda que ajude à profundidade no plantel.
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Contrato até 2018 |
Martins Indi - Quando o FC Porto comprou Martins Indi em 2014, num investimento de 7,7M€, muitos imaginariam que, passados dois anos, já seria o patrão da defesa do FC Porto, seguindo o exemplo da evolução de Mangala. Infelizmente, não foi o caso, e Indi não conseguiu evoluir como seria de desejar nestes dois anos.
O problema de Indi está, acima de tudo, no jogo aéreo. Ganha poucas bolas de cabeça (na liga ganhou em média apenas 40% dos duelos aéreos) e não controla bem o espaço na grande área. Coisas que escapavam ao olho nu no Mundial 2014, ao serviço da Holanda. Indi jogava num esquema de três centrais, pelo lado esquerdo. Acontece que neste esquema o central que joga por fora é menos exposto ao jogo aéreo, o que fez com que as debilidades de Indi no jogo aéreo não se notassem tanto.
Jogar a defesa-esquerdo seria então solução? Não numa equipa como o FC Porto. Os laterais do FC Porto têm que jogar em profundidade, precisam de velocidade, saber cruzar, ter capacidade para ir à linha e ser fortes no movimento interior. Tudo caraterísticas que Indi nunca revelou. A grande valia de Martins Indi está no início de construção, na forma como faz o primeiro passe, mas isso não chega ser central de equipa grande.
Tem 24 anos, mais 2 anos de contrato, e está longe de ser um caso perdido. Pode e tem condições para evoluir. O FC Porto já acabou de pagar o seu passe ao Feyenoord, pelo que Nuno terá que decidir se Martins Indi tem capacidade para se assumir como titular no FC Porto. Certo é que não poderá acabar a época 2016/17, a um ano do final de contrato, ainda com dúvidas sobre se terá o estofo necessário para se afirmar no clube. Aliás, não é recomendável que um ativo de 7,7M€ fique a um ano do final de contrato, portanto a sua situação terá que ser resolvida a curto prazo.
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Contrato até 2018 |
Iván Marcano - Com a saída de Maicon, passou a ser o melhor central do plantel, com a maior percentagem de interseções, desarmes, duelos e duelos aéreos ganhos. É o central low-profile que nunca vai ser o líder de uma defesa, mas que é sempre um elemento útil para se ter no plantel. É o tipo de jogador que não vão ver a dar entrevistas, a violar a hora de recolher e a falhar nos deveres de profissional.
Infelizmente, acabou a época a errar no Jamor, num jogo de circunstâncias difíceis e em que mais 2 erros defensivos provocaram a perda de uma Taça. Era apenas a segunda vez que estava a jogar com Helton e Chidozie (nenhuma equipa que se preze vai a uma final da Taça com uma dupla de centrais + guarda-redes sem rotinas), mas não terá sido por isso que entregou o golo a Josué.
Custou 2,65M€ por 100% do passe e vai fazer 29 anos. Com a chegada de dois novos centrais, é possível que Marcano, o central que não mostra os dentes, seja dado como negociável pelo FC Porto. Desportivamente é um elemento de valia. Não pode ser o patrão de uma defesa, mas pode ser sempre um bom parceiro de setor (e metam na cabeça que dois centrais canhotos podem jogar juntos, pela mesma razão que dois centrais destros o podem fazer). Uma vez mais, que a palavra de Nuno seja ouvida na composição da sua defesa.
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Contrato até 2020 |
Chidozie - Sub-19, equipa B e equipa A na mesma época. Foi um carrossel de emoções para Chidozie, lançado às feras na Luz. O Tribunal do Dragão foi da opinião de que Diogo Verdasca, tendo o mesmo número de oportunidades que Chidozie, faria igual ou melhor. Opinião que se mantém, mas José Peseiro escolheu confiar em Chidozie, que acusou toda a sua inexperiência ao longo destas semanas.
A grande exibição de Casillas contra o Benfica disfarçou muita coisa. Chidozie comete os erros próprios da idade e da sua inexperiência. Bruno Alves, Jorge Costa ou Ricardo Carvalho não jogavam no FC Porto aos 19 anos por um motivo. O mesmo que penalizou Chidozie: inexperiência e falta de devida preparação. Repara-se que Chidozie nem sequer teve um parceiro consistente ao lado, o que não ajudou. Não houve jogo em que Chidozie não cometesse erros graves de posicionamento. Mais culpa das circunstâncias do que propriamente do jogador, que fez o que podia, sem a preparação devida.
E agora? Chidozie já fez meia época integrado na equipa A, por isso regressar à equipa B poderia ser encarado como um retrocesso. Empréstimo? É preciso cuidado, pois se Chidozie começar já a ser emprestado corre o risco de deixar de contar como jogador formado no FC Porto (tem época e meia feita). Apesar de a sua aposta, desportivamente e na prática, não ter dado os resultados desejados, continua a ser um jovem com muitas potencialidades e caraterísticas interessantes para o médio prazo. Há que apostar na sua evolução.
Por princípio, o 4º central de um plantel deve ser mais jovem, por isso Chidozie pode enquadrar-se nesse perfil. Treinar sempre com a equipa A, ir jogando ocasionalmente na equipa B. Mas Chidozie não tem 2 anos de FC Porto completos, por isso não pode ser inscrito na lista B da UEFA - e o FC Porto não pode voltar a cometer o erro de não ter 4º central para a Champions/Liga Europa (Verdasca, por exemplo, é elegível). Uma vez mais, tudo dependerá dos planos que o treinador possa ter a médio prazo para Chidozie.
Pergunta(s): Que futuro para Maicon, Chidozie, Indi e Marcano? Que centrais seriam mais-valias como reforços?