Três pontos, 1,5 milhões de euros, 18ª vitória consecutiva no Dragão e liderança do Grupo na Champions, à frente do favorito Chelsea, com boas perspetivas de apuramento para os oitavos-de-final. Tudo isto com uma vitória daquelas que enchem os adeptos de orgulho e contentamento, mesmo aqueles que ao conhecer o 11 inicial já acusavam Lopetegui de estar a «inventar» e que ao próximo mau resultado já se vão esquecer da noite de ontem e vão voltar a cair em cima do treinador e dos ódios de estimação do clube. Porque o problema, aos olhos desses adeptos, na verdade não é o treinador, nem os jogadores. É não ganhar.
André de pé quente |
Uma palavra para Lopetegui. Sim, ele gosta de inventar. É um risco. Mas também tem uma coisa boa: não tem medo de inventar. Lopetegui não se preocupa com o que possam dizer das suas opções, antes e depois do jogo. Ele traça as suas opções mediante aquilo que acha que é o melhor para a equipa, que deixa o FC Porto mais perto de vencer. Não se preocupa com mais nada. Quem olhasse para o 11 diria que foi um FC Porto montado para defender e jogar para o pontinho. Nada mais errado.
Mesmo desta vez tendo menos pose de bola (43%), o FC Porto criou mais situações de perigo do que o Chelsea, e mesmo depois de fazer o 2x1 continuou em cima do adversário e só por alguma falta de felicidade não chegou ao 3x1. Provavelmente, outro treinador recuaria logo e meteria a equipa à defesa. Lopetegui não. Seguiu o plano que estava traçado desde o início do jogo. Insistiu nele e o Chelsea não teve como dar a volta.
Depois das derrotas marcantes contra Sporting (na Taça) e Benfica (no último clássico de 2014), o FC Porto não mais perdeu pontos em casa. 19 jogos, 19 vitórias. Em todos os jogos, Lopetegui apresentou perante os adeptos do FC Porto uma equipa autoritária, dominadora, que foi sempre mais forte do que os adversários e que nunca deixou de jogar para ganhar. Dirão, e bem, que também é preciso ganhar fora de casa. Nada mais verdadeiro. Fora de casa, o FC Porto de Lopetegui, em 29 jogos, ganhou 15 e empatou 11. O que faz acreditar que fora de casa as coisas correrão melhor? Vitórias como a de ontem.
Rúben Neves (+) - Qual é a cláusula de rescisão, mesmo? Se são os 40M€, já são demasiado curtos. Podemos invocar a crise e a contenção do fair-play financeiro, mas depois de termos visto no verão Sterling valer 62M€, Martial 50M€, Benteke 46M€ ou Firmino 41M€, quanto valerá este protótipo perfeito de Pirlo!? É simplesmente impossível que no verão não apareçam propostas dessa ordem por Rúben Neves. Está mais forte fisicamente, continua a fluir o jogo como poucos, já se liberta mais em progressão e tenta mais o remate, mas ainda assim continua exímio no passe e na distribuição de jogo. É provavelmente o melhor jogador da atualidade de 18 anos.
Obrigado a Lopetegui, por ter tido a coragem de fazer o que ninguém no departamento de formação do FC Porto idealizou antes: meter Rúben Neves num patamar acima. Dito isto, e sabendo o quão difícil será manter Rúben Neves para lá de 2016, há que tentar. Nas 30 maiores vendas da história do FC Porto, Anderson foi o mais novo a sair (19 anos), de resto foram James Rodríguez e Cissokho, ambos com 21 anos. Rúben Neves, até aos 21 anos, pode e dever ficar no FC Porto. Quanto mais tempo ficar, mais qualidade acrescentará à equipa e mais perto estaremos dos títulos. E quanto mais tempo ficar, mais valorizado ficará. Há que fazer todos os esforços para manter Rúben Neves durante muito tempo. Quem joga como gente grande também deve ser valorizado, do ponto de vista financeiro, como gente grande. Mas o portismo não tem preço, e Rúben Neves é um símbolo disso mesmo.
Aboubakar (+) - Dá gosto ver a elasticidade nos seus pés no domínio, controlo e progressão. É um poço de força e empenho, inteligentíssimo a vir buscar o jogo atrás e a dar linhas de apoio, e tão depressa parece um bom rapaz que não se quer chatear com ninguém como a seguir pega na bola e começa a comer metros e a deixar adversários para trás de forma destemida. Não marcou, mas ontem, em plena Champions e contra uma boa dupla de centrais, mostrou que é o ponta-de-lança de grande categoria que temiam que o FC Porto não tivesse para 2015-16. Antes de o FC Porto pensar em comprar quem quer que seja para 2016-17, os 30% do passe que a SAD tem de Aboubakar têm que engordar.
Brahimi (+) - O melhor jogo da época. Com André André do lado direito e um meio-campo sem um criativo para zonas adiantadas, toda a criatividade e capacidade de sair no drible teriam que advir dos seus pés. Mais, com Martins Indi no lado esquerdo da defesa, Brahimi ia estar muitas vezes desapoiado e teria que assumir sozinho os lances. Fê-lo na perfeição. Ivanovic parecia um perdido atrás dele. Guardou sempre bem a bola, descoordenou a defesa do Chelsea a partir do seu flanco, e foi mais objetivo do que nunca, não perdendo tempo com voltas de 360º que acabam e começam - logicamente - no mesmo sítio. Que seja para manter, pois massacrar Ivanovic não devia ser mais fácil do que fazê-lo contra o lateral do Moreirense.
Miolo (+) - Com o meio-campo que Lopetegui montou, sabia-se que o FC Porto não teria tanta facilidade em criar lances de perigo. André André é um apoio para jogar no lado direito, não um jogador para fazer sozinho a diferença no meio-campo adversário; jogar com Indi em vez de Layún retira a profundidade no flanco; sobrava Brahimi (e Aboubakar) para desequilibrar. Na primeira parte essas dificuldades estiveram claras (aqui um pouco de Machado), mas a verdade é que os jogadores souberam complementar-se, progredir em linhas e passes curtos, e evidenciar no coletivo o que faltaria em individualidades. Para isso muito contribuíram Danilo e Imbula. O primeiro funcionou muito bem como referência à frente da defesa, embora por vezes ainda se atrapalhe com Rúben Neves no que toca ao posicionamento; Imbula fez o melhor jogo pelo FC Porto: teve a melhor eficácia de passe do meio-campo (91%), transportou jogo e foi essencial ao dar força e músculo ao meio-campo.
Reação de Lopetegui (+) - Sendo Evandro o único médio no banco, a entrada para o lugar de Rúben Neves foi lógica. Depois houve dedo de Lopetegui: a entrada de Layún, em detrimento de Tello ou Corona, foi uma boa solução, na medida em que é o que melhor defende, mas sem retirar profundidade e agressividade ao ataque; depois entra Osvaldo, desviando Aboubakar para a ala. Com isso garantiu-se um 9 fresquinho, para pressionar os defesas e ajudar a defender no jogo aéreo; e Aboubakar, na ala, serviu perfeitamente para guardar a bola e manter uma referência na saída para o ataque. Provavelmente todos estariam a criticar estas opções se o Chelsea chegasse ao empate nos descontos, mas é assim mesmo o futebol. Bem jogado.
Um golo de canto! (+) - Desde o calcanhar de Jackson à Académica que não se via esta coisa tão simples e tão difícil: cruzamento, desvio de primeira e golo. Muito mérito para Maicon no golo, na antecipação e no golpe de cabeça, e fica desde já aqui o destaque para o bom trabalho de todo o quarteto defensivo, que se bateu contra alguns dos melhores avançados do mundo - embora Maicon, em dois lances, tenha estado à espera que Diego Costa lhe caísse em cima para reagir. Casillas também brilhou com duas defesas, de resto tirando o remate de Diego Costa à trave o Chelsea nada mais fez. Ingrato que o braçinho de Marcano quase pudesse ter borrado a pintura no final. Levanta-se apenas uma preocupação: com Martins Indi na esquerda (solução bem interessante), ficamos sem centrais de equipa A no banco para a Champions.
Falha de comunicação (-) - Foi bom ver Casillas assumir o erro no livre do Chelsea. Mas aquele lance nem nos distritais pode acontecer: se Casillas não está a ver a bola, tem que corrigir a barreira. O árbitro espera. Que grite, que chame um jogador, mas não se pode deixar bater o livre naquelas condições. Além disso, a bola entra pelo lado que o guarda-redes tem que cobrir. Um erro a não repetir. Houve certamente outros aspetos que necessitam de correção, mas isto é a Champions e do outro lado estavam o Chelsea e Mourinho. Teria que haver erros, mas nenhum deles afastou o FC Porto da vitória. É isso que fica deste jogo.
Domingo, em dia de legislativas, vamos à 19ª no Dragão.