segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Três alegres africanos

Na época passada, o FC Porto levava 21 pontos em 30 possíveis, era 3º classificado, estava já a 5 pontos da liderança e tinha 19 golos marcados.

Esta época, depois da vitória no Bessa, o FC Porto chegou aos 28 pontos em 30 possíveis, é líder isolado e Aboubakar, Marega e Brahimi, sozinhos, já marcaram 20 golos só no Campeonato, onde o FC Porto revela a maior produtividade ofensiva desde a longínqua época de 1955/56. 

Tendo em conta que Aboubakar e Marega, por razões distintas, tinham sido dispensados na época passada e Brahimi era suplente há um ano, o contexto atual mostra que qualquer paralelismo com o passado é um atestado de qualidade e de rendimento no presente. Sim, três jogadores que há um ano não contavam já levam mais golos do que toda a equipa na época passada. Mérito do seu próprio esforço e, também, de Sérgio Conceição na sua recuperação. 

Brahimi: há um ano levava apenas um jogo a titular até à 10ª jornada
No Bessa não houve uma grande exibição, mas houve uma grande vitória, com assinatura dos três africanos que simplificaram aquilo que poderia ter sido - aliás, que foi - um triunfo suado e saboroso, como mandam as regras dos dérbis. Seguem-se três jogos consecutivos no Dragão, essenciais vencer por diferentes motivos.







Yacine Brahimi (+) - Pouco se viu dele na primeira parte - e o mesmo pode ser aplicável à grande maioria dos jogadores do FC Porto -, mas após o intervalo despertou com a equipa e a equipa despertou com ele. Serviu Aboubakar de bandeja para o primeiro golo e carimbou a vitória com uma boa finalização, entre uma mão cheia de jogadas em que desequilibrou uma defesa sólida do Boavista, que só rasgou nos últimos 10 minutos. Mas fica uma nota: um jogador com a capacidade de Brahimi em receber a bola do lado esquerdo tem que ter capacidade para atirar cruzado com o pé esquerdo, gesto que poderia render mais golos a Brahimi por época. É algo que lhe falta, mas mais importante: não tem faltado Brahimi ao FC Porto.


Aparecer para resolver (+) - Aboubakar e Marega estiveram muito longe de fazer os melhores jogos pelo FC Porto. Passaram quase todo o jogo longe da bola, falharam vários passes, ganharam poucas situações de 1x1 e foram raros os lances em que conseguiram atacar o espaço. Estiveram perdidos entre o facto de a bola não lhes chegar e de não conseguirem ir buscá-la lá atrás. E no meio de uma exibição em que mostraram pouco, acabaram por... resolver. Primeiro Aboubakar, ao desenhar e concluir a jogada do 1x0, mostrando mais ideias em poucos segundos do que toda a equipa nos primeiros 45 minutos; depois Marega, bem servido por Herrera, a transformar uma bicada na bola num remate perfeito em arco, matando o jogo. Num jogo em que fizeram pouco, os dois avançados fazem dois golos e resolvem o jogo. Pouco talvez não seja a melhor palavra. 

Outros destaques (+) - Exibição particularmente sólida de Ricardo Pereira, muito bem defensivamente, num jogo em que teve muito menos liberdade do que Alex Telles para atacar. Não conseguiu ir nenhuma vez ao último terço, quer para cruzar, quer para tentar o movimento interior, mas tudo o que tinha que fazer no seu meio-campo fez bem. Herrera, entre uma ou duas más decisões (particularmente a falta para cartão e a má finalização antes do 2x0), foi subindo de rendimento ao longo da partida, fez uma assistência e justificou a titularidade. Palavra, também, para o rendimento particularmente bom da equipa no jogo aéreo (apenas uma perda de bola comprometedora, por Felipe) e para a grande quantidade de bola dividas ganhas na raça na segunda parte.







Primeira parte (-) - Pois, os dérbis não se ganham nos primeiros 45 minutos, mas foi muito fraquinha a amostra da equipa no primeiro tempo. O critério da equipa de arbitragem não ajudou a tranquilizar a equipa, mas o FC Porto chegou ao intervalo sem um único remate à baliza (o mais próximo disso foi uma tentativa de Corona) e nenhuma ocasião de golo. Daí a dizer que o Boavista merecia estar a vencer é absolutamente hilariante (fizeram apenas um remate), mas o FC Porto mostrou pouco e regressou aos balneários com a certeza de que, assim, não ganharia o jogo. 

Um pormenor (-) - Sim, um mero pormenor. Mas já toda a gente sabe que nos pontapés de saída o FC Porto bate a bola longa para Marega, do lado direito do ataque, para tentar ganhar de cabeça e devolver para a zona central. Talvez não seja a melhor ideia experimentar isto contra uma equipa com defesas matulões na Champions. Tipo, por exemplo, o Leipzig. É que a bolinha é preciosa e não convém deixá-la à mercê adversário à primeira oportunidade. Saídas alternativas precisam-se. E sim, quando há um Machado meramente dedicado ao pontapé de saída, é sinal que o resto está a correr mais do que bem.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Há o desinteresse e há a incapacidade


Marítimo. Outra vez Marítimo. Famalicão. Feirense. Belenenses. Novamente Feirense. Moreirense. Leixões.

Imaginemos, por breves instantes, que isto era uma sequência de oito jornadas da I Liga. Oito jogos, 24 pontos em disputa. E que desses 24 pontos, o FC Porto ganhava apenas três.

Três pontos em oito jornadas. Coisa para um adeus ao título muito precoce, o último lugar no Campeonato, uma demissão mais do que certa da equipa técnica, atestados de insuficiência ao plantel e uma contestação fortíssima por parte da massa adepta. São três pontos em oito jogos.

Felizmente, isto não aconteceu no Campeonato, mas é o saldo do FC Porto nos seus últimos oito jogos na Taça da Liga. Uma Taça que é literalmente feita para os três grandes passarem às meias-finais e na qual o FC Porto não foi capaz de vencer nenhum jogo desde janeiro de 2015, nem a defrontar várias equipas da Segunda Liga pelo meio. Nem na Liga dos Campeões o FC Porto consegue estar tanto tempo sem ganhar um jogo.

Renovando a apreciação feita na época passada, e que recordamos abaixo, isto já não é desinteresse relativamente à Taça da Liga: é uma extrema incapacidade nesta prova. Recordando e renovando a análise da época passada: 

«Este é o 10º ano [agora 11º] de Taça da Liga. Já foi uma competição desvalorizada pelo FC Porto (na verdade começou a sê-lo devido aos maus resultados), mas nos últimos anos tem sido sempre comentada como sendo um objetivo para o clube (não obviamente uma prioridade, mas uma competição para vencer). E a verdade é esta: o FC Porto nunca ganhou a Taça da Liga porque nunca foi suficientemente competente para o fazer. E era o troféu que mais hipóteses o FC Porto tinha de conquistar esta época, na medida em que a competição é curta e o formato altamente favorável para os grandes clubes.  
Ao longo destes 10 anos, o FC Porto ganhou menos de metade dos jogos que disputou na Taça da Liga. Tem uma média de golos marcados de 1,35/jogo (muito pobre, tendo em conta que joga contra adversários teoricamente inferiores), um golo sofrido por jogo, e nos últimos 7 jogos de Taça da Liga o FC Porto não ganhou nenhum e perdeu 5. Isto poderia ser relativizado se o FC Porto assumisse que a Taça da Liga serviria para colocar em cena as segundas linhas e a equipa B. Mas não, foi assumido que era para ganhar. E o desempenho nesta competição não está à altura dos pergaminhos do FC Porto.»

Já ouvimos Pinto da Costa afirmar que o Benfica podia ganhar todas as Taças da Liga, que o presidente do FC Porto não se importaria com tal. Mas desde então, desde NES a Sérgio Conceição, desde Fernando Gomes a Reinaldo Teles, várias figuras do FC Porto passaram a afirmar que a Taça da Liga, não sendo jamais uma prioridade, era/é uma competição para ganhar. 

Essa mensagem não chega ao plantel, não chega aos jogadores. Sim, na Taça da Liga jogam os menos utilizados. Mas não é desculpa, pois se não conseguem ser sérios, competitivos e competentes numa competição feita para que o FC Porto vá às meias-finais, então como poderemos contar nós com eles para o ataque ao título e para a Champions?

É tempo de uma reflexão e de definir/decidir o que anda o FC Porto a fazer na Taça da Liga. Nenhuma vitória em oito jogos, virtualmente três pontos em 24 possíveis. Inadmissível. O FC Porto não ganha esta prova, mas também não a está utilizar para que se possa dizer «a Taça da Liga foi útil para lançar X jogador». Nada. Nem jogadores ganhos, nem jogos. Tudo nesta competição tem sido um desperdício de tempo.

Não há dúvidas que o FC Porto vai dar uma resposta à altura no Bessa, vai lá buscar os três pontos e vai continuar a boa forma no Campeonato, com a determinação e qualidades já demonstradas. Agora, em relação à Taça da Liga? É tempo de encontrar algo mais para fazer do que somar maus resultados nesta prova. Decidam-se.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Primeiras impressões do Relatório e Contas 2016/17

Após alguns dias de espera, chega então a aguardada análise do Relatório e Contas da época 2016-17, que será publicada em várias partes. Começamos pela análise geral, recordando sempre o orçamento desta época. Pela segunda época consecutiva, a SAD do FC Porto falhou nos objetivos propostos e fechou a época financeira com um elevadíssimo prejuízo. Depois dos 58,4 milhões de prejuízo na época passada, os piores resultados da história das SAD em Portugal, desta feita a administração fechou o exercício com 35,3 milhões de prejuízo.

O orçamento da SAD para esta época apontava para um saldo positivo de 2,7 milhões de euros no final da temporada, linhas que a administração não conseguiu cumprir. Esta época ficou marcada por o FC Porto ter sido, na temporada 2016-17, o único clube punido pela UEFA por não cumprir o fair-play financeiro (a SAD anuncia agora ter cumprido o acordo que foi posteriormente feito), possivelmente o ponto mais baixo de 20 anos de atividade da SAD e um mais um sinal que mostra o quão sábia foi esta frase de Pinto da Costa: «Misturar política com futebol dá sempre mau resultado». E nem um apelido de mítico goleador atenua a coisa.

Começando pelas principais rúbricas, os proveitos operacionais estiveram dentro do previsto, na casa dos 98 milhões de euros. O crescimento em relação à última época deveu-se meramente à qualificação para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, o que permitiu receitas na UEFA de mais de 30 milhões de euros. Os orçamentos da SAD são sempre de risco, mas bastava o play-off com a Roma ter corrido mal e poderia estar aqui um buraco de mais uma ou duas dezenas de milhões de euros. Felizmente, correu bem. Alguns pontos da rúbrica ficaram acima das expetativas, outros abaixo, mas no final os objetivos foram cumpridos no que aos proveitos operacionais diz respeito. 

Os custos operacionais, por sua vez, foram maiores do que o esperado e atingiram os 121 milhões de euros. O principal destaque vai para os custos com pessoal, que chegaram aos 73 milhões de euros. Por outras palavras, se não tivesse sido obtido o apuramento para a fase de grupos da Liga dos Campeões, todas as receitas operacionais do FC Porto talvez não chegavam para pagar os salários. O desequilíbrio continua a ser gritante e a SAD continua assim em défice operacional, embora tenha decrescido de 41,5 milhões para 18,3 milhões de euros.

Os capitais próprios também levaram um golpe em relação ao último ano, ao passarem de 25 milhões de euros para 9,1 milhões de euros negativos. Porém, tendo em conta os interesses minoritários e as respetivas consequências da operação Euroantas, os capitais sociais da Empresa-Mãe chegam quase aos 69 milhões de euros negativos. Negativos. 

O ativo cresceu ligeiramente, atingindo os 378 milhões de euros, mas em contraste temos mais uma subida assinável do passivo, que chegou aos 387 milhões de euros negativos. Em causa está uma subida de mais de 160 milhões de euros de passivo em relação à época do último título conquistado. 

As compras do último exercício serão analisadas de forma mais detalhada num próximo post, mas aqui ficam as compras declaradas pela SAD.


Destaque para a grande curiosidade de um (ou mais, pois não é especificado) jogador ter custado 25 mil euros, mas depois aparecem custos de intermediação/contratação de um milhão de euros. A contratação de Soares foi mais cara do que o inicialmente previsto, de 5,6 milhões de euros pela totalidade do passe, e Galeno custou 1,5 milhões por 75% do passe, tendo sido contratado a um clube controlado pelo empresário António Teixeira. 

Note-se a curiosidade, que deve merecer atenção, de estarem aqui despesas de 50 milhões de euros em jogadores, mas neste momento só um está a ser titular indiscutível na equipa principal, Alex Telles. É também de realçar que a SAD detalha as compras de oito jogadores, mas depois enumera 15 empresários/empresas que receberam comissões de intermediação no momento da compra dos jogadores. 

A venda de André Silva, por sua vez, acaba por gerar uma mais-valia reduzida se tivermos em conta que se tratava de um jogador da formação (os jogadores da formação têm, por norma, mais-valias muito superiores, pois não há amortizações do passe). Neste caso, a mais-valia de André Silva ficou-se por 27,8 milhões de euros. É também de notar que a SAD, além de ter pago 10% a Jorge Mendes pela percentagem que o empresário detinha, ainda foi pagar depois comissão à Gestifute pela transferência. São mais de 10 milhões de euros que se «perdem» no cálculo da mais-valia. A mais-valia de Rúben Neves também acaba por ser quase irrisória, de 12,5 milhões de euros. Estamos basicamente a falar do valor que se pagou pela compra de Boly e Depoitre. Quando os jogadores da formação geram mais-valias mais reduzidas do que os atletas comprados no mercado, algo vai mal. 

O AC Milan e o Wolves também acabaram por conseguir modalidades de pagamento que parecem ser relativamente interessantes. Por exemplo, o clube italiano vai pagar apenas 14 milhões de euros por André Silva no primeiro ano, ficando os restantes 24 milhões para prazo não corrente. O Wolves também só vai pagar 5 milhões de euros por Rúben Neves esta época; quando tiver que pagar as restantes tranches, possivelmente já Rúben Neves terá sido levado por Jorge Mendes para um clube de outras ambições. 

Os empréstimos bancários merecerão também uma análise mais detalhada, mas a SAD continua a antecipar variadas receitas através de contratos de factoring, sobretudo com o já bem conhecido Internationales Bankhaus Bodensee. A dívida corrente da SAD à banca ascende aos 119 milhões de euros, com a dívida total a chegar aos 196 milhões de euros. 

Outra pequena curiosidade. Todos estarão recordados da surpresa que foi o FC Porto ter pago a totalidade do Estádio do Dragão ano e meio antes do previsto, no início de fevereiro de 2017 (ato que a SAD justificou com as elevadas taxas de juro e «contas de garantia associadas»). O R&C revela agora que, no mesmo mês, foi apresentada uma hipoteca do Estádio do Dragão como garantia juntamente do Banco Carregosa (que vai receber um Dragão de Ouro como Parceiro do Ano) na emissão de papel comercial, juntamente com os passes de Danilo, Felipe e verba da transferência de André Silva para o AC Milan. 

Palavra ainda para o contrato de direitos televisivos com a Altice que, como se sabe, só entrará em vigor em 2018. No entanto, a SAD já antecipou uma quantidade bastante significativa, com já mais de 90 milhões de euros entre os 457,5 milhões da totalidade dos contratos. Além do adiantamento que já tinha sido mencionado no anterior R&C, de 56,9 milhões, a SAD recorreu a diversos contratos de factoring para um adiantamento de mais 34 milhões de euros. Era este o contrato que iria «permitir gerir o FC Porto de maneira diferente», disse alguém. Pois. 

Bons desempenhos, até ver, só mesmo dentro das quatro linhas.  

domingo, 22 de outubro de 2017

Entretanto, do outro lado do campo...

Depois de uma semana em que a baliza dominou as conversas portistas (compreensível, pois substituir o melhor guarda-redes da Liga por um guarda-redes que não está sequer entre os três melhores dos quadros do clube deixa toda a gente a coçar a cabeça), do outro lado do campo o FC Porto deu uma demonstração de força e assinou uma das melhores exibições da temporada, com um 6x1 ao Paços de Ferreira que não escandalizaria ninguém se tivesse acabado por ser um resultado mais gordo.


Sempre que o FC Porto somava 25 pontos à 9ª jornada foi campeão (foi assim com Villas-Boas, Jesualdo, Mourinho e Robson), e este já é, a par do FC Porto da primeira época de Vítor Pereira, o ataque mais concretizador dos últimos 60 anos. 

Dois bons indicadores de qualidade para uma equipa que, no que diz respeito ao consumo interno, não poderia estar a fazer melhor. Afinal, na época passada, por esta altura, o FC Porto já estava a cinco pontos do primeiro lugar, enquanto desta feita é líder isolado e incontestável. Sem nunca esquecer que basta uma jornada menos boa para arriscar perder este lugar. 




Ricardo Pereira (+) - Exibição absolutamente monstruosa de Ricardo Pereira, talvez a melhor que já fez pelo FC Porto. Entrou na partida a todo o gás, com um golo, e logo a seguir conseguiu isolar Felipe para o 2x1 com um passe de 40 metros; não satisfeito, serviu Marega para o 4x1 e só não conseguiu o hat-trick de assistências pois Brahimi não conseguiu aproveitar mais um passe de bandeja. Dinamizou todo o corredor, não cometeu erros na defesa (nem uma falta) e permitiu que Corona e Marega se preocupassem meramente com a zona interior, pois o flanco foi todo dele. Desculpem, Maxi e Layún, mas assim não há hipóteses.


Marega (+) - Colocou Aboubakar na zona de finalização com um subtil toque com o peito e partiu para uma boa exibição, coroada com dois golos. Esteve menos participativo no processo ofensivo da equipa (foi o jogador que menos tocou na bola), mas isso favoreceu-o, pois pôde preocupar-se sobretudo com os últimos 30 metros, onde conseguiu fazer a diferença - esteve mais duas vezes perto do golo, mas Mário Felgueiras defendeu. Uma exibição que deixa claro que quanto menos vezes e mais perto da grande área tocar na bola, melhor para Marega e melhor para a equipa. Sete golos no Campeonato já superam as melhores expetativas do seu rendimento, mas o melhor é que já deixa claro que a contagem não ficará por aqui. 

Corona e Brahimi, por dentro (+) - Ricardo Pereira foi o melhor em campo e, do outro lado, Alex Telles também fez uma bela exibição, quase sempre no meio-campo adversário. Isso permitiu a Corona e Brahimi serem mais participativos no jogo interior e, com isso, ajudar o FC Porto a superar os problemas de jogar com uma unidade a menos no meio-campo. Brahimi acertou todos os dribles que tentou (9/9), mas foi sobretudo na objetividade dos seus passes que se destacou. Criou três ocasiões de golo, todas elas em lances em que trocou o drible pelo passe. Bom ver que o FC Porto, desta vez, não dependeu dos movimentos individuais de Brahimi para criar várias jogadas de perigo.

As zonas de ação de Brahimi e Corona
Corona também conseguiu, enfim, uma boa exibição. Um golo, uma assistência, notáveis 93% de acerto no passe (foi o jogo em que perdeu menos bolas esta época) e um total de 13 ações defensivas, entre as quais oito recuperações de bola. O mexicano fez também ele o seu melhor jogo esta época, mas o grande desafio vem a seguir: ver Corona fazer dois bons jogos seguidos pelo FC Porto. Jogando sempre assim, não saía do 11. 

Prontos a finalizar (+) - Notável a forma como o FC Porto conseguiu, com um ou dois toques, colocar por diversas vezes jogadores em zonas de finalização. Isso contribuiu para a equipa fosse capaz de levar as suas jogadas até à grande área e quase nunca fosse necessário adornar os lances na procura de espaço ou apostar na meia distância (20 dos 22 remates aconteceram já dentro da grande área).

Já foi ferido o exemplo do toque de Marega, mas também a assistência de Aboubakar foi um bom exemplo, entre 11 jogadas de bola corrida em que o FC Porto colocou um jogador que só tinha a baliza (e o guarda-redes, que ajudou a manter o resultado em 6x1) pela frente. Destacam-se também as boas exibições de Felipe (dois golos, embora só um para a contagem) e Herrera (encheu o campo e foi o jogador com mais ações com bola).




Queima-roupa (-) - Talvez surpreendido pela pressão do Paços no primeiro quarto de hora, o FC Porto concedeu um golo que não pode acontecer: numa saída de bola. Marcano começa por fazer um passe demasiado tenso e já sob pressão para a zona central, para Aboubakar, que devolveu a bola a saltitar para Herrera; com a bola a pingar, o mexicano acabou por perder o lance e permitiu o contra-ataque do Paços. Marcano ainda cobriu o corredor central, mas Whelton surpreendeu no remate e José Sá escorregou quando se ia fazer à bola, fazendo os seus 1,92m parecerem demasiado curtos naquele lance. Foi um exemplo de algumas perdas de bola em corredor central, a única mancha numa exibição quase irrepreensível.

Segue-se a Taça da Liga, na qual não se recomenda outra coisa que não a utilização de jogadores das camadas jovens (e naturalmente dos menos utilizados do plantel, não esquecendo os regulamentos que obrigam à utilização de uma base substancial de habituais titulares).

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Deixa-me só dar um jeitinho à casa

Já lá vão uns bons meses desde que Francisco Marques começou a divulgar e-mails de conteúdo comprometedor a envolver o Benfica, a arbitragem e os bastidores do futebol português. Até à data, as consequências práticas das divulgações semanais foram zero. Nada mudou, não houve punições, o Benfica segue impune. A única valia, até à data, foi a exposição do modus operandi que fez do Benfica tetracampeão e um eventual condicionamento para as épocas que se seguem.

Desde então, todos os que pretendem esclarecimentos sobre este caso - o FC Porto nunca acusou diretamente o Benfica de corrupção; o que fez foi expor matéria e apelar a sucessivas investigações - aguardam tomadas de posição públicas por parte das instâncias competentes. Passaram-se semanas sem haver uma única busca por parte da Polícia Judiciária. 

No verão, o MP e a PJ terão tentado levar a cabo buscas ao Benfica, mas o Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa não cedeu as procurações. E segundo a revista Sábado, tal foi obra do juiz Jorge Marques Antunes, no seu último dia de serviço na instrução criminal, antes de ser transferido para outro tribunal. Foi o único esboço de uma tentativa de uma busca ao Benfica nos últimos meses.

Até que segunda-feira, no início desta semana, tivemos a confirmação de que as buscas ao Estádio da Luz estavam para breve. Como? Através desta declaração de João Correia, porta-voz da equipa de advogados do Benfica.

É absolutamente essencial que o Ministério Público e a Polícia Judiciária venham aqui a esta casa e verifiquem se aquilo que é divulgado pelo Porto Canal corresponde ou não à realidade.” Frase publicada no site oficial do Benfica há três dias. 


Portanto. Estão há meses, na praça pública, conteúdos que urgem ser alvo de investigação. E por milagre das coincidências, só hoje, três dias após este comunicado do Benfica, é que a PJ se apresenta no Estádio da Luz para começar a fazer buscas no caso dos e-mails!?

Isto faz lembrar aquela dona de casa muito preocupada com a forma como vai receber os convidados, que pede ao marido para empatar um pouco as visitas no hall de entrada enquanto dá um último jeitinho à sala. Então, enfim, tem a certeza que a sala está um brinquinho, pronta para receber as pessoas.

Como é claro, a partir do momento em que o Benfica incentiva a PJ a comparecer no Estádio da Luz, já tem a garantia de que a sala está bem arrumadinha. A PJ não vai encontrar absolutamente nada. Já estão a ver onde isto vai redondar: caso arquivado por falta de provas nas buscas. 

Isto faz lembrar todo o caso dos vouchers, em que também havia matéria para punir o Benfica por práticas ilícitas, em todo o dossier da Liga Aliança

Bruno de Carvalho revelou, no início de outubro de 2015, as ofertas ilegais que o Benfica fazia a equipas de arbitragem de todos os seus jogos. Só um ano depois é que foram feitas buscas no Estádio da Luz. Um ano depois! E qual foi a reação do Benfica a essas buscas? O Benfica emitiu um comunicado a afirmar que foi a própria SAD a convidar a PJ a fazer buscas na Luz. 

Ora, precisamente o mesmo que acontece agora no caso dos e-mails. Não é surpresa que, poucas horas após as buscas da PJ, o Benfica já tenha emitido um comunicado a realçar que foi o próprio clube a apelar à investigação: «Desde o primeiro momento [o Benfica] requereu e disponibilizou-se a fornecer toda a informação necessária a um cabal esclarecimento de toda esta situação». A papel químico. 

Este passo faz parte da lavagem já orquestrada e cujo desfecho já se antevê. A PJ não vai encontrar provas. Os cartilheiros virão a público, de peito cheio, afirmar que não houve provas nenhumas, que o clube colaborou com a investigação, que abriu a sua casa e que ninguém conseguiu encontrar nada. Tudo isto até ao passo final: caso arquivado. 

O FC Porto prometeu, no final de julho, que «o melhor ainda está para vir». É caso para se prepararem para expor «o melhor», porque se depender destas buscas da PJ, o Benfica sairá do caso dos e-mails da mesma forma que saiu dos vouchers: a rir-se e de forma livre e impune. 

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Puxão à terra

Saltemos desde já todos esses exercícios de falência de criatividade que envolvam analogias entre a Red Bull e asas. Muitos concordavam, à partida para este grupo, que se tratava de um lote de equipas extremamente equilibrado, no qual qualquer clube era simultaneamente candidato à qualificação direta e ao último lugar. Mas curiosamente, os jogos têm sido tudo menos equilibrados.

O FC Porto perdeu com o Besiktas porque foi muito inferior; venceu o AS Mónaco porque foi muito superior; e perdeu com o Leipzig pois foi muito inferior. Equilíbrio não tem sido, de todo, algo presente nos jogos do FC Porto na Champions.

Vamos ao elefante na sala, a titularidade de José Sá. José Sá não tem, nunca teve, nunca revelou estofo para a titularidade do FC Porto. E passar de suplente do atual suplente do Sporting à titularidade na Champions, apenas com joguitos de Taça e pouco mais pelo meio, não é coisa que se recomende. É o mesmo que recordar a linhagem que apontava Paulo Ribeiro como sucessor de Baía ou Hugo Ventura como herdeiro de Helton. Ou Mika como futuro guarda-redes da seleção A, só porque fez um bom Mundial de sub-20. Como José Sá fez alguns bons jogos nos sub-21. 

Mas foi por causa de José Sa que o FC Porto perdeu na Alemanha? Não. Perdeu porque o Leipzig foi muito melhor. Porque o Leipzig foi melhor equipa e os seus jogadores, sobretudo do meio-campo para a frente, foram muito superiores aos do FC Porto. A derrota começou num erro de Sá? Sim, como Iker também errou no 2x1 do Besiktas, ou na época passada em Kiev. Mas o maior problema no jogo não esteve nas bolas que foram à baliza, mas em tudo aquilo que o FC Porto não foi capaz de fazer com bola. 




Aboubakar, os golos e pouco mais (+) - Houve algo de admirável na primeira parte: como o FC Porto, jogando tão pouco, ainda assim conseguiu fazer dois golos. Notável, em dois lances de bola parada muito bem trabalhados, nos quais os jogadores posicionam-se bem, ganham na marcação e conseguem trocar a bola sem deixá-la cair, até ao remate final. Aboubakar fez um bom golo e fartou-se de trabalhar, muitas vezes desapoiado e longe das zonas de decisão, tanto que tocou mais vezes na bola no meio-campo defensivo do que nos últimos 30 metros. Iván Marcano (mal no 3x1, mas a redimir-se logo a seguir) e Alex Telles também fizeram jogos razoáveis, numa noite em que quase tudo saiu mal ao FC Porto.




Zero com bola (-) - O futebol tem destas coisas. O FC Porto venceu e brilhou no Mónaco pois soube dar a posse de bola e a iniciativa de jogo ao adversário, mas sem com isso deixar de controlar o jogo. Em Leipzig, provavelmente os planos passavam pela mesma estratégia, mas tudo correu mal: o adversário soube o que fazer com bola, foi agressivo, muito forte entre linhas (Forsberg isola-se para o 2-1 no meio de seis jogadores do FC Porto!), e cedo se percebeu que o facto de o FC Porto não ter bola já não era estratégia: era incapacidade de a ter.

Há algo que ilustra todas estas dificuldades: a quantidade anormal de vezes em que o FC Porto falhou passes no seu próprio meio-campo. Falhou muito mais no seu meio-campo do que no do Leipzig.

Um festival de passes falhados
Outro grande problema foram os cruzamentos: em 19 tentativas, o FC Porto só conseguiu acertar dois, um deles num pontapé de canto e outro já no minuto 90, por Layún. Sem capacidade para ter bola no meio-campo e não sendo capaz de ter profundidade para criar perigo pelas laterais, reuniram-se condições para o FC Porto pouco ou nada conseguir fazer na Alemanha. Não é por acaso que os golos nascem de lances de bola parada: no jogo corrido, o FC Porto teve 90 minutos que roçaram o zero. 

Subrendimento geral (-) - Vamos repeti-lo pela milésima vez: sabemos que o plantel é curto. Mas não encontrar outra alternativa que não ter sucessivamente Marega a cumprir os 90 minutos, mesmo sem dar uma jogada para a caixa, é preocupante e a maior ilustração de falta de alternativas no plantel. Este dado do Goalpoint resume tudo: «Marega é o único jogador da UCL que perde a bola em mais de metade das vezes que a tem». Em 133 ações com bola, perdeu 52,6% das jogadas. Marega acertou 5 passes em todo o jogo. Cinco, três deles no próprio meio-campo. Criou zero jogadas de perigo, falhou os 2 cruzamentos que tentou, falhou o único drible que tentou e falhou seis receções de bola daquelas que se treinam todos os dias nos iniciados. 

No Mónaco foi decisivo, com duas assistências (o que não invalidou que, na maioria das jogadas, foi bola perdida), mas manter no ataque um jogador que em 90 minutos não acerta uma jogada que seja é surreal. Ainda assim, o subrendimento foi praticamente geral.

Brahimi foi dos poucos a ganhar lances de 1x1, mas foi sempre bem marcado pelo Leipzig e não conseguiu criar desequilíbros no último terço. Danilo e Sérgio Oliveira foram engolidos no meio-campo, no qual Herrera não conseguiu ser eficaz na missão de pressionar e dar velocidade ao jogo. Layún deu nas vistas pela quantidade de vezes que perdeu a bola (35, batendo os recordes de Marega), mas em quase todas as suas subidas pelo corredor não encontrava ninguém para tabelar, ninguém para abrir espaço. Layún chegou oito vezes à linha da quina da grande área, mas perante a falta de apoio, não lhe restava solução que não o cruzamento. E do banco, entre Óliver, Corona e Hernâni, não surgiu nada que mudasse o rumo do jogo. Jogou-se muito, muito pouco.

A vitória no Mónaco não abriu as portas do apuramento e a derrota na Alemanha não as fechou. Da mesma forma que o FC Porto perdeu na visita ao Leipzig, pode vencer dentro de 15 dias, no Dragão, e voltar desde logo aos lugares de apuramento para os 1/8. Mas que não vai vencer muitas vezes repetindo exibições destas, é certinho. 

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Sem espinhas

Seriedade, compromisso e empenho num jogo que convidava a algum relaxamento? Check.
Oportunidade para lançar uma equipa alternativa e alguns jovens? Check.
Golos bonitos e bom futebol? Check. 
Prémio Puskas para Hernâni? Não, porque esse já está reservado para Loures. 

Tudo o que se podia pedir neste contexto de Taça de Portugal foi cumprido com distinção, a poucos dias da deslocação à Alemanha, onde o Leipzig tem como mais recente cartão de visita uma vitória em Dortmund. Promete.

Aboubakar (+) - Os regulamentos que condicionaram a composição do 11 para a partida eram não só desconhecidos por grande parte dos adeptos como pela própria imprensa, mas Sérgio Conceição fez questão de os lembrar. Aboubakar teve que jogar, num jogo em que o FC Porto acabaria sempre por vencer, com menor ou menor dificuldade. Aboubakar, em dois minutos, assegurou que a equipa o faria com menor dificuldade, com duas boas finalizações, em particular o golpe de cabeça.

Diogo Dalot (+) - Este jogo não foi um teste à qualidade de Diogo Dalot, pois a verdade é que qualquer adversário do FC Porto B na Segunda Liga tem mais qualidade do que este Lusitano. Mas na sua estreia oficial pela equipa principal foi desinibido, entendeu-se bem com Brahimi do lado esquerdo (embora tenha feito toda a formação do lado direito) e arrancou um cruzamento perfeito para a cabeça de Aboubakar. Está, há muito, a um nível muito acima do da sua geração e o FC Porto pode ter aquilo um lateral para muitas épocas - embora a SAD não tenha historial de manter os talentos da formação no clube. 



O envolvimento da equipa (+) - Muitos destes jogadores estavam a jogar juntos pela primeira vez, mas foi visível a existência de rotinas e jogadas-padrão. Sérgio Conceição sabe que não tem um plantel vasto, mas não há elemento que não esteja totalmente integrado no colectivo da equipa, o que permite surpresas como ver Sérgio Oliveira saltar para a titularidade sem um minuto de jogo. E entre alguns rasgos de criatividade e minutos em que pareciam ausentes do jogo, Otávio e Hernâni acabaram por mostrar serviço e contribuir com dois bons golos. 

Segue-se a Champions. Entretanto a SAD já divulgou o Relatório e Contas da época passada. A análise habitual d'O Tribunal do Dragão será publicada dentro de alguns dias.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Dois pontos perdidos?

O FC Porto queria sair líder de Alvalade: e saiu. O Sporting queria passar para o primeiro lugar: e falhou o seu objetivo. Basta isto para se concluir que o FC Porto saiu do clássico por cima do adversário. Com um sabor agridoce, pois foi a melhor equipa e fez, sobretudo na primeira parte, os melhores 45 minutos que o FC Porto fez em Alvalade desde o ano da última vitória, em 2008. Mas sair do estádio mais difícil para o FC Porto em Portugal invicto, líder da I Liga, com mais soluções no plantel e a jogar bom futebol só pode ser encarado como muito positivo.

Não, Sérgio, não foram dois pontos perdidos (embora se entenda e subscreva a ambição): foi confiança ganha, soluções ganhas, equipa mais forte e coesa, e ao contrário do que aconteceu em 2014-15, época na qual o FC Porto perdeu a liderança logo após a ter recuperado, desta feita a equipa dominou o Sporting e agarrou-se ao primeiro lugar com todo o mérito. Vila do Conde, Braga e Alvalade já lá vão, três deslocações a casa de equipas dos seis primeiros lugares da tabela e com ambições europeias. Perfeito. 




A primeira parte (+) - Não fosse a eficácia e teriam sido 45 minutos perfeitos, nos quais o FC Porto reduziu o Sporting a um único lance de algum perigo, o cabeceamento de William Carvalho (e mesmo no segundo tempo, o lance de maior aflição foi um remate de Bruno Fernandes para as couves). O FC Porto ganhou o meio-campo, teve sempre profundidade, foi capaz de ser criativo (Brahimi e Aboubakar bem a criar, mas faltou pragmatismo e sentido prático na hora de rematar) e obrigou o Sporting a correr muito, muito mais. Taticamente, tudo saiu bem ao FC Porto, que controlou o jogo com e sem bola. Naquele que foi o primeiro clássico de Sérgio Conceição, meteu no bolso Jorge Jesus.

Outra vez, Brahimi (+) - E novidades? Perdeu gás na segunda parte (assim como toda a equipa), mas encheu o campo na primeira parte. Saíram dos seus pés as principais jogadas de perigo, assegurou que Piccini não dormiu bem na última noite e foi quem melhor soube aproveitar o espaço entre linhas. Tem que apostar mais no remate à entrada da grande área, pois quem ganha espaço e se enquadra com a baliza como Brahimi não pode estar sempre à espera que apareça mais um jogador para fintar. À margem desse pormenor, começa este mês como acabou o último: o melhor em campo.


Os três pilares (+) - Casillas só teve que fazer uma defesa em todo o jogo e o Sporting foi reduzido a cinco tentativas de remate. A equipa defendeu bem em bloco, mas há que realçar a importância de Marcano, Felipe e Danilo Pereira. Ganharam todos os lances aéreos nos últimos 25 metros, fizeram apenas 3 faltas e bloquearam 29 tentativas de ataque do Sporting no último terço, entre cortes e alívios. Defensivamente, tudo correu à equipa, também com um papel importante de Herrera e Sérgio Oliveira em manter o meio-campo composto. Casillas tocou na bola metade das vezes de Rui Patrício (22-44), o que diz tudo de uma noite que, num clássico, não costuma ser tão tranquila para os guarda-redes. 




Pormenores (-) - A hesitação que levou ora Brahimi, ora Aboubakar a perderem tempo e espaço para rematar nas melhores condições; a finalização de Marega na cara de Rui Patrício; o lance em que Herrera, tendo Layún solto na direita e Aboubakar a correr para o segundo poste, decide rematar; o lançamento de Alex Telles para uma zona proibida do campo, que forçou o erro de Danilo. Tudo isto são pormenores, mas foram todas jogadas candidatas a decidir um clássico. Não deram prejuízo, mas também não deram o lucro mais desejado. Já se sabe: os clássicos decidem-se nos pormenores, e estes merecem maior acerto nos momentos-chave.

A quebra física (-) - O FC Porto fez 60/65 minutos de elevada intensidade, e isso refletiu-se no rendimento da equipa durante a segunda parte. Era necessário mexer, mas Sérgio Conceição deparava-se com um problema: não havia músculo/pulmão no banco. A decisão era difícil, mas a entrada de Otávio, para a saída de Herrera, fragilizou naturalmente a equipa na dimensão física do meio-campo. Soares e Corona entram também já relativamente tarde, mas era dos pés de Aboubakar e Brahimi, desgastados, que poderia sair o caminho para a vitória em Alvalade. Sérgio Conceição está a fazer milagres, ao reinventar/resgatar jogadores como Marega, Sérgio Oliveira ou o próprio Herrera, mas não pode jogar o que não tem no baralho. 

Líderes à 8ª jornada, pela primeira vez desde 2013, e curiosamente, tal como na época com Paulo Fonseca, logo após um clássico com o Sporting, que permitiu passar a somar 22 pontos em 24 possíveis. Recomenda-se, por isso, que a calma que seja companheira da confiança ao longo da época. Mas quando um treinador sai de casa de um candidato ao título insatisfeito porque jogou muito melhor e manteve o primeiro lugar, isto diz tudo da mentalidade competitiva que habita no balneário do FC Porto. Não é só à Porto: é à Conceição.