segunda-feira, 20 de março de 2017

E nada mudou

Antes do Paços x Benfica, o FC Porto estava a um ponto da liderança. Quando acabou o jogo em Paços, passámos a estar a dois. Nada de positivo estava garantido com o empate do Benfica em Paços de Ferreira - pelo contrário, tinham aumentado a vantagem. A euforia precoce paga-se muitas vezes caro. Ou fazíamos o nosso trabalho diante do V. Setúbal, ou nem valia a pena pensar no resultado do Benfica. Não fizemos o nosso trabalho e, assim, fica tudo igual.


Antes desta jornada, o FC Porto sabia que tinha que ir ganhar à Luz para subir à liderança a sete jornadas do final do campeonato. Depois do empate frente ao V. Setúbal, mantém-se tudo igual: temos que ir ganhar à Luz. 

Até à época 2016-17, o FC Porto levava 27 vitórias consecutivas sobre o Vitória de Setúbal. 27. Esta época não ganhou nenhum dos dois jogos. E não é um acaso: este é o mesmo V. Setúbal, com o mesmo anti-jogo e o mesmo Bruno Varela, que ganhou ao Benfica no Bonfim e que foi empatar à Luz. Um jogo é acidente, dois talvez, quatro já formam um padrão: este V. Setúbal é uma equipa talhada para tirar pontos aos candidatos ao título. 

Os adeptos deram tudo à equipa esta semana, desde o apoio no aeroporto até à enchente no Estádio do Dragão. A oportunidade foi desperdiçada e assim se vê o que pode acontecer no espaço de 24 horas, tamanha que foi a inversão de motivação e disposição entre portistas e benfiquistas. Agora, o FC Porto vai ter 90 minutos para tentar mudar o campeonato. Uma oportunidade que pode ser a última e no jogo mais difícil da época, que pode muito bem acabar por ser o rosto da mesma. 




Alex Telles (+) - Subiu, subiu, subiu, cruzou, cruzou, cruzou, lutou, lutou, lutou. Se é certo que tentou invariavelmente o mesmo movimento, não pareceu haver indicações para tentar o contrário. Meteu 18 vezes a bola na grande área, não cometeu erros defensivamente, recuperou oito vezes a posse de bola e foi o jogador mais solicitado em todo o jogo (108 toques na bola, um recorde esta época). Não foi por ele que o FC Porto fez apenas um golo em 180 minutos frente ao V. Setúbal.

Óliver (+/-) - Após uma série de jogos em que o regresso a um esquema com três médios revelou o melhor Óliver da época, o FC Porto regressou ao 4x2x4 e ao limbo que deixa Óliver engolido no meio-campo. Foi demasiadas vezes forçado a recuar para pegar no jogo, faltaram-lhe soluções para a saída curta e, com isso, o FC Porto voltou à insistência em jogar com bola direta. Foi vítima de um esquema que não o favoreceu nem a ele, nem a equipa. Ainda assim, foi dos seus pés que saiu o cruzamento para o golo de Corona e, enquanto resistiu fisicamente, era o único a ter cabeçinha para não se deixar levar pela ansiedade causada pelo empate. 

Iván Marcano (+) - Ninguém gosta de perder no FC Porto, mas Marcano é, provavelmente, o jogador que pior lida com maus resultados neste plantel. É visível a sua expressão de frustração/raiva sempre que a equipa sofre um golo, sempre que uma bola não entra, sempre que a equipa de arbitragem não toma uma decisão justa ou que agrade. Isso, é à Porto. Marcano é o rosto da revolta desta equipa, não só face às circunstâncias que não podemos controlar, como ao que podemos fazer. Quanto ao jogo, Marcano teve um total de 28 ações defensivas em todo o jogo, tendo sido o jogador que recuperou mais vezes a posse de bola (11). E isso quer dizer uma coisa: os médios, desta vez, não foram tão eficazes no momento de recuperação, nem os avançados na pressão à saída do V. Setúbal. Valeu Marcano.




Porquê mudar? (+/-) - Dizer que este empate se deve à mudança de esquema tático de NES é injusto e não faz sentido. Se o FC Porto estivesse em 4x3x3, as bolas de Marcano e André Silva tinham entrado em vez de ir ao poste? João Pinheiro teria assinalado as grandes penalidades sobre André Silva? Felipe não teria escorregado no momento do golo do V. Setúbal? Não, não foi por isso que o FC Porto não ganhou.

Hoje não fez nem jogou menos do que em muitas outras vitórias esta época. A questão é: porquê mudar agora? O FC Porto tinha encontrado um momento de estabilidade, não só tática como emocional, no regresso a um esquema com três médios. As coisas funcionavam. NES poderá ter antecipado um V. Setúbal muito defensivo no Dragão, mas jogar com mais avançados não significa atacar mais nem melhor. 

Se na primeira parte o FC Porto esteve bem, na segunda Bruno Varela, contas feitas, só teve que fazer duas defesas. Apenas duas, num jogo em casa e que valia a subida ao primeiro lugar. O FC Porto não deixou de ter as suas ocasiões: rematou 23 vezes, criou 17 situações de finalização e foi 58 vezes à grande área adversária. Está dentro da média das últimas jornadas em casa. A questão é: porquê mudar agora, quando tudo estava a funcionar? Porquê agora?

Soares à esquerda (-) - O FC Porto tem um problema típico: só podem jogar 11. Mas a tentativa de fazer coexistir Óliver, Corona, Brahimi, André Silva e Soares na mesma equipa tem levado Soares a ser exposto a um trabalho ingrato nos últimos jogos, que não só prejudica o jogador como não beneficia a equipa. Soares tem feito a diferença na grande área, mas hoje esteve constantemente refém do flanco esquerdo, onde invariavelmente ou perdia a bola, ou falhava o passe, não tendo conseguido completar um único drible. Não é culpa do jogador, pois não está a jogar num lugar que favoreça as suas caraterísticas. Nem o FC Porto está a ser favorecido com esta insistência. Soares tem que estar na grande área pronto para receber, não recuado para ajudar a bola a chegar à grande área.

Pânico (-) - Aconteceu o que não podia ter acontecido: o FC Porto perdeu a calma, perdeu a paciência, deixou-se vencer pela ansiedade de ver os minutos passarem e o 1x1 resistir. Isso levou a que, na segunda parte, a equipa tenha jogado muito menos do que na primeira. Menos objetividade, menos critério, e uma ideia clara que o FC Porto não estava preparado para reagir à adversidade de ver o tempo passar.

O exemplo da utilização de Diogo Jota é sugestivo. Jota entrou para o lugar de Corona, para jogar na zona interior do lado direito, dar velocidade e objetividade ao ataque. Mas passados 14 minutos, foi mandado jogar a lateral-direito. E de repente, Depoitre, que não era opção desde 3 de janeiro, é lançado em desespero para tentar apanhar uma bola na grande área. Foram momentos em que o FC Porto perdeu a calma, perdeu a objetividade, perdeu a identidade e deixou-se levar pelo desespero de meter a bola na grande área e esperar que alguém lá chegasse. 

Uma jornada que não mudou o que estava previsto há uma semana atrás: é preciso tentar ir ganhar à Luz. Se deixou ou não marcas na equipa, o clássico será uma boa oportunidade para responder a isso.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Vamos à décima!

Há dias em que o futebol tem lógica, e ontem foi mais um deles. No atual contexto competitivo entre as duas equipas, a Juventus provavelmente venceria oito ou nove de 10 eliminatórias contra o FC Porto. E para vencerem esta muito contribuíram as duas expulsões, que deixaram o FC Porto em inferioridade numérica em quase duas horas durante a eliminatória. Se já era difícil, assim...

É irónico que tenha sido também muito graças a isso que o FC Porto chegou à Liga dos Campeões - se duas expulsões é mau, imaginem três, como aconteceu com a Roma. Foi algo que foi sendo sempre esquecido ao longo desta época, inclusive quando muitos evocavam Roma como um exemplo de que o FC Porto poderia ser feliz em Turim. Se de facto tivessem acontecido as mesmas circunstâncias - duas expulsões para a Juventus, tipo Dani Alves e Dybala -, sim, talvez tivesse sido possível. 

Há que ser realista. Para quem não se recorda, a última vez que o FC Porto venceu num estádio de um antigo campeão europeu ou candidato à conquista da Champions foi em 2003, em Marselha. E qual foi a última vez que o FC Porto ganhou num estádio de um adversário do calibre da Juventus, da nata do futebol europeu? Provavelmente só em 1996, nos 3-2 de Milão. 

É por isso que o objetivo possível e assumido é sempre chegar aos oitavos-de-final - na fase de grupos temos mais jogos em casa, uma ou duas equipas teoricamente mais acessíveis, e isso permite ao FC Porto manter-se competitivo na Europa do futebol. Quando as equipas portuguesas são confrontadas com o patamar superior, neste momento, não há hipóteses. Muito menos numa época que muitos assumem como sendo de reconstrução para o FC Porto.

No final, o FC Porto sai da Champions com os objetivos cumpridos e de cabeça levantada. É bom lembrar que bastava a Roma não ter sofrido todas as expulsões e talvez nem teria sido possível chegar à Champions - nunca se saberá, pois são circunstâncias do jogo, às quais os adversários são sempre alheios. Mas que não podem ser esquecidas no balanço final. 

No que toca ao futebol praticado, não foi uma boa Champions. A única vitória verdadeiramente categória aconteceu contra os suplentes de um já apurado Leicester, os 5-0 no Dragão. De resto, o FC Porto teve dificuldades em impor o seu futebol, sobretudo porque na primeira metade da época a equipa não estava ao nível que vem demonstrando e consolidando nas últimas semanas. Provavelmente, hoje faríamos melhores jogos contra Brugge ou Copenhaga.

Nos jogos fora houve sempre dificuldades, inclusive em Roma antes de Layún ter feito o 2x0. Derrota em Leicester, vitória em Brugge com um penalty no último minuto, empate em Copenhaga. Mesmo em casa, empate ante o Copenhaga e vitória sofrida frente ao Brugge, já depois de um empate contra a Roma na primeira mão do play-off, desperdiçando uma hora a jogar contra 10. A exceção foram mesmo os 5-0 ao Leicester, que foi ao Dragão longe da máxima força. 

Se houve época em que o FC Porto praticou bom futebol na Europa, 2016-17 não foi uma delas, e não é a luta possível que foi dada em Turim que muda isso. Se o FC Porto quer ter mais aspirações na Europa, terá que assumir uma mudança de política desportiva.

Parabéns à Juventus, sempre melhor na eliminatória e sem nunca perder o controlo da mesma. E parabéns aos adeptos que puxaram sempre pelo moral da equipa, quer durante, quer depois do jogo. Perdemos, mas sem nunca dar nada por perdido. 

É difícil compreender como pode alguém ter aversão à receção que foi feita no aeroporto. Ninguém está ali a festejar a derrota em Turim ou o adeus à Champions: estão sim a puxar pela equipa para as 9 finais que faltam disputar esta época. O que se ouve é «Eu quero o Porto campeão». Não é sorrisos pelo aconteceu em Itália, é puxar pela equipa já a pensar no V. Setúbal. 

810 minutos e 27 pontos é o que separa o FC Porto do regresso aos títulos ou da garantia de que ninguém volta a festejar nada antes de 2018. Não há tempo para curar mágoas ou desilusões: é preciso vencer o V. Setúbal.



segunda-feira, 13 de março de 2017

Vamos à décima

Sem espinhas. Nona jornada consecutiva a vencer, sem sofrer golos nas últimas cinco, e a confirmação/continuação do melhor momento da época, com o tónico perfeito para as últimas nove jornadas do campeonato. Faltam 27 pontos em disputa, e o FC Porto acaba de somar 27 em 27 possíveis, acrescentando eficácia ofensiva a uma equipa há já muito sólida defensivamente.


O Arouca não é nenhum exemplo de poderio (vem de 5 derrotas seguidas), mas estamos numa fase em que o mais pequeno deslize pode custar as esperanças na luta pelo campeonato até ao fim. A pressão é enorme, mas o grupo de trabalho tem sabido lidar com ela. 

No final da época, aconteça o que acontecer, ninguém poderá afirmar que faltou Porto a este grupo de jogadores. Ser Porto não é ganhar sempre, mas é lutar sempre para ganhar. Este grupo não tem lutado por outra coisa.




Brahimi (+) - O melhor FC Porto desta época teve sempre o melhor Brahimi. Regressou à dimensão que parece bem maior do que o campeonato português, com o altruísmo que tantas vezes lhe faltou. Prova disso é que não rematou nenhuma vez em Arouca (e devia!), mas criou seis situações de golo e fez da defesa do Arouca faca quente em manteiga, sobretudo na primeira parte. Está longe dos números da primeira época quer em golos, quer em assistências, mas carrega, mais do que nunca, as esperanças do FC Porto no seu virtuosismo.


Meio-campo (+) - O FC Porto continua a ganhar metros no terreno: é capaz de circular a bola mais à frente, o que não só empurra o adversário para trás como não obriga os avançados a jogarem tão longe da grande área. Danilo foi o pêndulo habitual, essencial na dimensão física do jogo e certinho na saída de bola, além de ter inaugurado o marcador. Óliver voltou a ridicularizar os momentos em que acharam que a sua presença no banco podia combinar com um melhor FC Porto: 92% de acerto no passe, excelente no controlo do ritmo de jogo e a fazer parecer tão simples jogar com a cabecinha levantada, como foi exemplo o passe para o 2x0. Sobre André André, já aqui foi muitas vezes descrito como sendo um jogador que dificilmente ultrapassará o campo da utilidade no FC Porto. É verdade. Mas que nos últimos jogos tem sido útil, tem, sem dever muito ao que foi o melhor rendimento de Herrera esta época. 

A presença de Soares (+) - Nove golos em seis jornadas, que renderam seis vitórias? Perfeito. É inegável que Soares não é um prodígio técnico - é sempre o jogador com mais perdas de bola em campo e raramente ganha um lance de 1x1. Mas tem revelado um talento não menos importante e muitas vezes difícil de encontrar: a capacidade de estar no sítio certo para finalizar. Ou Soares vai ter com a bola, ou a bola vai ter com Soares. Muito bem não só na presença na grande área como na sua capacidade para atacar o espaço. Falhou algumas boas ocasiões, mas lá está: estava sempre bem colocado para a criar. O futuro dirá se o seu momento é uma espécie de Pena v2.0; o presente diz que é um reforço que está a ser absolutamente determinante nas aspirações do FC Porto. Mérito a quem viu nele uma solução para o mercado de inverno, porque, para esse efeito, acertou em cheio.

Solidez defensiva (+) - Casillas voltou a ser um mero espectador, sem ter feito qualquer defesa durante o jogo. O Arouca raramente existiu em termos ofensivos e o FC Porto esteve sempre perfeitamente equilibrado, com Maxi e Marcano particularmente em destaque na defesa. Quando a equipa não dá abébidas na defesa e produz ocasiões em abundância no ataque, as vitórias apareceram com naturalidade. 

Amanhã, Turim. Não sabemos o que vai acontecer contra a Juventus, mas sabemos o que tem que acontecer no domingo: vencer o V. Setúbal. Independentemente do resultado em Turim, há que chegar a esse jogo com confiança, cabeça levantada e novamente determinados na luta pelo título.

quarta-feira, 8 de março de 2017

Lanterna e poste de iluminação

Sim, isto aconteceu. «Quem não salta é lapião». É isto que está escrito na base de um dos castigos aplicados ao FC Porto no jogo frente ao Nacional, devido a cânticos de parte dos adeptos. 


«Quem não salta é lapião». Uma expressão muito curiosa no relatório à responsabilidade de António Soares e Álvaro Maia, os delegados escolhidos para o FC Porto x Nacional. Afinal de contas, o que significa «lapião»? Que palavra é essa tão grave que justifica uma menção no relatório?

Abrimos o dicionário... e nada. A palavra «lapião» não existe. No entanto, o FC Porto foi multado por parte dos seus adeptos, aparentemente, ter gritado que «e quem não salta é lapião».

Isto já é motivo suficiente para o FC Porto se recusar a aceitar este castigo, pois o Conselho de Disciplina nem sequer é competente o suficiente para citar uma palavra corretamente num relatório. Mas vá, admita-se que o que estava em causa era a expressão «e quem não salta é lampião».

Mas nesse caso, o que significa ao certo «lampião»?


Algo está aqui a faltar nos dicionários Porto Editora. Vejamos. «Quem não salta é uma lanterna», é ofensivo? «Quem não salta é um poste de iluminação pública», é pejorativo? Onde está exatamente a ofensa em «lampião»? Cabe a quem escreveu o relatório e quem atribuiu um castigo ao FC Porto com base nele o esclarecer.

Sim, nas trocas de bocas entre adeptos, os benfiquistas são tratados muitas vezes por lampiões, e os portistas por tripeiros. Nesse caso, se «lampião» é uma palavra que motiva um castigo, onde está o castigo aplicado ao Benfica quando os adeptos, em pleno jogo, decidiram cantar «tripeiro, cabrão»?


Relativamente à segunda expressão que é invocada, o «filhos da puta SLB». Por mais absurdo que seja os adeptos do FC Porto estarem a pensar no Benfica quando a sua equipa está a golear o Nacional (o tempo é sempre mais bem aplicado em apoio à equipa do que em ofensa ao adversário - sobretudo ao adversário que nem sequer está em campo), onde esteve a coerência do Conselho de Disciplina durante o último Benfica x FC Porto?


Antes de cada pontapé de baliza, os adeptos do Benfica gritaram «filho da puta» dirigido a Iker Casillas, guarda-redes do FC Porto. Houve menção disso no relatório de jogo? Houve castigo com base na mesma ofensa? Ou o tratamento é diferente entre os adeptos do FC Porto e do Benfica?

Antes de pagar qualquer tipo de multa, o FC Porto só tem que invocar estas questões e precedentes. E a Porto Editora tem que atualizar o seu dicionário. 

PS: Uma vez mais, o FC Porto volta a receber multas por culpa dos petardos nas bancadas. Ou a(s) claque(s) assume(m), de vez, o fim desta brincadeira que no final da época custa dezenas de milhares de euros ao clube, ou então talvez seja boa ideia o FC Porto começar a apresentar essas faturas aos responsáveis pelo lançamento de petardos. Não digam que não é possível organizar uma coreografia ou falanges de apoio expressivas e pujantes o suficiente sem petardos. Se não é, nesse caso, o FC Porto já sabe a quem tem que apresentar as próximas faturas pelo lançamento de material pirotécnico. 

segunda-feira, 6 de março de 2017

Sete a zero

Não é todos os dias que se vence por 7-0 no Campeonato - e prova disso é que o FC Porto não o fazia desde 1999. Mas não só: ter o melhor ataque, a melhor defesa e depender de si próprio na luta pelo título a 10 jornadas do final é excelente, sobretudo para quem se recorda do aperto que se sentia aos 90 minutos do jogo frente ao SC Braga, onde o FC Porto parecia incapaz de marcar um golo que fosse.

Contra o Nacional, foi um festim. Ressaltos, bola a bater nos defesas, no guarda-redes e a entrar de qualquer maneira. Desde esse jogo frente ao SC Braga, o FC Porto fez 37 pontos em 39 possíveis. Só falhou mesmo na visita ao Paços de Ferreira (0x0). E é curioso precisamente lembrar o que foi o caudal ofensivo da equipa nesse jogo.

Em Paços de Ferreira, o FC Porto rematou 23 vezes, criou 14 ocasiões, ganhou 14 cantos e foi 59 vezes à grande área adversária. Contra o Nacional, rematou 25 vezes, criou 18 ocasiões, ganhou 4 cantos e foi 39 vezes à grande área. A diferença? Não só a eficácia, mas também maior ambição e objetividade na procura da baliza adversária.

O minuto 66 foi o mais marcante de todo o jogo: o momento em que NES, já com o resultado feito, retira Danilo, lança Diogo Jota e dá um sinal claro à equipa de ir para cima do adversário e marcar mais golos. Bem diferente do FC Porto que se resguardava à vantagem mínima, mesmo em casa, mesmo contra 10. Não é bater em mortos: é ter ambição, é querer mais golos, é querer jogar melhor, é querer favorecer o espetáculo quando o resultado já está feito. 

É deixar-nos a querer mais do mesmo já na sexta-feira, em Arouca.




Óliver Torres (+) - Um perfeito exemplo do que acontece quando Óliver tem a possibilidade de passar mais tempo no meio-campo adversário do que nos primeiros 40 metros. 90% de acerto no passe, três ocasiões de golo criadas, um golo, 16 ações defensivas e uma incrível capacidade de jogar em toda a largura do terreno. Jogou e fez jogar, e fez dois jogos completos seguidos pela primeira vez desde outubro. No que resta desta luta, será essencial que faça muitos mais.

Na grande área (+) - O que têm em comum os golos de André Silva e Soares? Estão ambos na grande área enquanto um deles está a marcar. Apesar de André Silva ter jogado muitas vezes pela faixa direita, a dinâmica da equipa permitiu que os dois pontas-de-lança, no momento do último passe ou do cruzamento, estivessem ambos posicionados na grande área para finalizar. Quando assim é, a bola acaba por entrar, e prova disso foi o festival de ressaltos e desvios que acabou sempre com a bola na baliza. Além disso, apesar do FC Porto ter criado diversas situações de finalização, tendo sempre colocado muita gente na grande área, a equipa raramente foi apanhada em contrapé. O Nacional fez apenas um remate, que mal aqueceu as mãos de Casillas. Impecável.

Brahimi (+) - É verdade que foi o jogador com mais perdas de bola, mas isso também está relacionado com a insistência em forçar o 1x1 - ou até o 1x2. E ainda bem que o fez, pois foi responsável por metade dos dribles eficazes da equipa (10), foi constante sinónimo de perigo no lado esquerdo, arrastou marcações, abriu espaços, contribuiu com um golo e aparenta estar mais forte fisicamente, pela forma como consegue segurar a bola e ser agressivo na pressão. Se esta não é a melhor versão de Brahimi que o FC Porto já teve, anda lá perto. E se é certo que fez muita falta na primeira metade da época, pode fazer a diferença no que resta da temporada.



sexta-feira, 3 de março de 2017

O relatório e contas do primeiro semestre 2016/17

Depois da ausência de contas no primeiro trimestre, a SAD, seguindo a data limite imposta pela CMVM, deu a conhecer os primeiros detalhes do desenrolar da época financeira 2016-17. O R&C do primeiro semestre compreende todas as operações da SAD efetuadas entre 1 de julho e 31 de dezembro de 2016 (exclui portanto o fim do pagamento do Estádio do Dragão e todas as operações do mercado de inverno). Passemos então à análise, tendo sempre presente aquilo que é previsto no orçamento desta época

A SAD chegou ao final dos seis primeiros meses da época com 29,58M€ de prejuízo. Está orçamentado um resultado positivo de 2,7M€ no final da temporada. O prejuízo é explicado por a SAD ainda não ter gerado qualquer mais-valia com transferências de jogadores no período em análise. 

É de recordar que a SAD, no orçamento, definiu a necessidade de «Proveitos com transações de passes de jogadores» no valor de 115,781 milhões de euros (para fazer face a custos de 47,2M€). Tendo em conta que a alínea das alienações de passes ficou em branco no primeiro trimestre, isso já deixa claro sobre o que será necessário até ao final de junho. Mas quem afirmou sem rodeios que recusou uma proposta de 30M€ por Héctor Herrera não há-de ter problema nenhum em fazer essas vendas antes do final de junho. Pois não?

Os proveitos operacionais atingiram os 58,76M€ nos primeiros seis meses. Todas as rubricas estão relativamente dentro do previsto - na Liga dos Campeões o FC Porto já atingiu os seus objetivos, e mesmo que seja afastado pela Juventus vai atingir os previstos 30M€ em receitas da UEFA. Há a assinalar que a SAD conseguiu, até ao momento, 42,9% das receitas de publicidade previstas, por isso a receita terá que aumentar significativamente no que resta da temporada.

Proveitos do primeiro semestre 2016-17
Em relação aos custos, destaque para o facto de o plantel desta época ser mais caro do que o da temporada passada, pelo menos nos primeiros 6 meses da temporada. Os custos com pessoal foram de 38,90M€ até ao final de dezembro, sensivelmente mais 2M€ do que na época passada. Os custos aumentaram nas seis alíneas especificadas no ponto 19, desde os órgãos sociais aos seguros. 

Este valor não vai propriamente ao encontro do que estava previsto no orçamento, que eram custos com pessoal de 69,51M€. Se os custos dobrassem no segundo semestre, isso resultaria em gastos de 77,8M€, muito acima do que estava orçamentado. Com os ajustes no mercado de inverno, veremos se esta rubrica será cumprida. Quanto aos restantes custos operacionais, tudo dentro da expetativa e do que estava orçamentado.

Custos operacionais do primeiro semestre 2016-17
Nos resultados operacionais sem transferências de jogadores, o prejuízo é de 4,96M€, bem inferior aos 19,64M€ do primeiro semestre de 2015-16. A diferença está essencialmente nas receitas da UEFA. 

Chegamos então ao capital próprio e a um dos focos mais negativos deste R&C: todos os efeitos gerados pela operação Euroantas, de incorporação do Estádio do Dragão na SAD, já se esfumaram. A SAD voltou a apresentar capitais próprios negativos, de 3,449M€. Há dois anos, depois da operação Euroantas, os capitais próprios eram de 56,6M€. E no final da temporada 2014-15, chegaram aos 83,1M€, um valor excelente. Neste momento, a SAD, com capitais próprios negativos, volta a pairar numa situação de falência técnica, o que infelizmente mostra que a operação Euroantas não foi mais do que aquilo que se temia na altura - um empurrar de problemas com a barriga. Uma situação que terá que ser retificada não só até ao final de junho, como nos exercícios seguintes. 

O ativo mantém-se praticamente inalterado face há um ano, no valor de 374M€. A principal alteração está nos ativos correntes, agora situados em 97,7M€. E chegamos a outro problema: à subida abrupta do passivo, que está a chegar a números preocupantes. 

O passivo estava, no final de dezembro, fixado em 377,5M€. No final da época 2012-13, a última em que o FC Porto foi campeão nacional, o passivo era de 220 milhões de euros. Ou seja, o passivo aumentou 71% desde a última conquista de um campeonato. Em 2010, por exemplo, o passivo era de apenas 160M€. Estamos a falar de um aumento de mais do dobro desde que se iniciou a dourada época de 2010-11, em que o FC Porto começou a gerar vendas milionárias como nunca, de Hulk a Falcao, de Mangala a James, etc. Resultado? Mais do dobro do passivo. 

O passivo, dirão alguns, não se paga, gere-se. Sim, até ao dia. O presidente Pinto da Costa afirmou, em 2013, que «quem vier a seguir basta não estragar». Desde essa afirmação o passivo da SAD aumentou mais de 150 milhões de euros. E desde esse ano, nem um título para amostra. 

Quanto às aquisições, o FC Porto gastou 47,47M€, com comissões de 4,2M€, em seis jogadores: Óliver, Alex Telles, Boly, Depoitre, Otávio e Govea. 

Óliver começa por ser uma surpresa. Primeiro, por os 20M€ corresponderem a apenas 85% do passe. Segundo, por a SAD já ter incluído a compra de Óliver nas contas do primeiro semestre, indicando que o seu passe foi comprado em setembro. Um tanto confuso, tendo em conta que só anunciaram a sua compra a 9 de fevereiro. Boly e Alex Telles custaram 6,5M€ cada por 100% do passe, enquanto Depoitre custou 6M€ por 90%, valores já esperados. 

O caso de Otávio também é uma surpresa, com a SAD a ter comprado mais 20% do seu passe por 2,257M€. A SAD já tinha a opção de comprar mais 20% à GE Assessoria Esportiva e 15% do pai de Otávio. A soma destes 35%, no acordo oficial, custariam mais 5M€ ao FC Porto. Para já, a SAD passa a ter 52,5% de Otávio. Destaque também para a compra de Govea, por 2M€ ao América, pela totalidade do passe. Uma compra que obriga a que Govea seja pelo menos incluído nos trabalhos de pré-temporada da equipa principal para 2017-18. Govea tem revelado valor acima da média na equipa B, apesar da má época que está a ser feita pela equipa na Segunda Liga. 

Uma vez mais, a SAD declara mais do que uma entidade por jogador (pelo menos entre os que são declarados neste R&C) na hora do pagamento de serviços de intermediação. Voltaremos a eles numa análise futura, mas assinale-se já a curiosidade de a Energy Soccer receber 244 mil euros de comissão pelo empréstimo de Aboubakar ao Besiktas. Uma vez mais, a Energy Soccer aparece como intermediária de um jogador que não representa. 

A SAD tem a receber pouco mais de 40M€ de outros clubes por venda de jogadores, dos quais apenas 8M€ do São Paulo (sem surpresa) não são uma verba corrente. É possível ver dívidas de 190 mil euros do Villarreal (por Adrián), 250 mil do Trabzonspor (por Suk) e 600 mil do Espanyol (por Reyes), mas mantém-se a curiosidade em torno da Doyen: mantém-se uma dívida de 2,788M€, pela alienação do passe de Brahimi. Por norma, a alienação de passes permite assegurar receitas para o curto prazo; neste caso, alienou-se o passe de Brahimi à Doyen para nada, pois a SAD não tinha tocado neste 2,788M€ até ao final de dezembro (importa no entanto lembrar que a dívida ao Granada, ex-clube de Brahimi, também se mantém nos 3,332M€ - o que não será de todo uma coincidência). 

Por outro lado, a SAD tem ainda a pagar mais de 75M€ a outros clubes/entidades por jogadores já presentes no plantel, dos quais 52M€ no prazo de um ano. É possível desde já constatar que a SAD terá a pagar 5M€ ao Atlético de Madrid até dezembro de 2017. Tendo em conta que, tecnicamente, o contrato de Óliver com a SAD só seria efetivado a partir de 1 de janeiro de 2018... Confuso. A situação dos restantes Fornecedores será merecedora de uma análise mais detalhada futuramente. 

Em relação à situação bancária, a SAD abriu cinco novos contratos de factoring entre outubro e dezembro, que superam os 35 milhões de euros e apenas um será liquidado ainda na corrente época - 6M€ ao já bem conhecido Bankhaus Bodensee. E o reembolso será, precisamente, a verba a receber da UEFA pela eliminatória contra a Juventus, uma prática já muito recorrente na gestão da SAD, de tentar antecipar o máximo de receitas possível - e com isso nunca tirar o máximo de proveito das mesmas, na medida em que há sempre juros a pagar. 

Mas além do Bankhaus, a SAD fechou um empréstimo de 6M€ com o Novo Banco e um de 18,578M€ com o Ectonian AG, este último com termo em 2019. E é aqui que entram as maiores preocupações. Em ambos os casos, a liquidação está prevista com o dinheiro dos direitos televisivos: a PPTV no caso do Novo Banco, dentro de seis meses, e o maior contrato de factoring já através da Altice, com o dinheiro de «épocas futuras», diz a SAD. 

E no que toca ao adiantamento de receitas, o maior destaque neste R&C é este:


O contrato com a Altice, pelos direitos televisivos e de exploração, só tem início a 1 de julho de 2018. Mas a SAD já dá conta de um adiantamento bastante significativo. Estamos a falar do recurso a 12,5% do valor total do contrato com a Altice um ano e meio antes do mesmo entrar em vigor. 

Fernando Gomes chegou a afirmar que o contrato com a Altice/PT ia permitir «gerir o FC Porto de maneira diferente». Pois. Diferente é a palavra, mas não para melhor.