quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A aliança que afinal tinha três vértices

Poupo-me às considerações sobre Luís Duque. Quem é eleito com 46 votos a favor, 5 brancos e 2 nulos (daqueles espécimes iluminados que são do contra, que estão já de faca afiada para todo o mandato, mas que não conseguem apresentar uma única alternativa), merece o mínimo crédito.

Boa ou má, é uma
escolha dos clubes.
A história da renúncia ao salário é irrelevante. Para quem não sabe, o presidente da liga só passou a ser remunerado a partir da chegada de... Fernando Gomes. Hermínio Loureiro foi presidente da liga não remunerado, mas ia picando o ponto em São Bento - onde Duque também já teve a oportunidade de almoçar, e bem. Logo a história do ter uma missão e não um emprego é para inglês ver, pois a missão tem todos os custos certamente cobertos.

A entrada de Luís Duque não é uma notícia tão boa quanto a saída de Mário Figueiredo. Mas a liga são os clubes, e os clubes votaram em massa nesta solução. Mas não é disso que se fala, mas sim de uma suposta aliança entre Benfica e FC Porto.

Fala-se em tréguas, em aliança, em consenso. Posso resumir tudo isso a isto: fala-se de parvoíces. É alguma novidade que FC Porto e Benfica estejam de acordo quanto ao candidato a apoiar na liga?

Vamos recuar até 2012. Quem apoiou o Benfica? António Laranjo. Quem apoiou o FC Porto? António Laranjo. Porque é que na altura não se falou em aliança, nem em tréguas, nem em nada que se pareça? Talvez porque na altura o Sporting apoiou... António Laranjo. Sim, os 3 grandes apoiaram o mesmo candidato. E esse candidato foi batido por Mário Figueiredo, que iludiu os clubes pequenos com o alargamento e a promessa de maiores receitas (isto vindo do tipo que durante a sua gestão apresentava um défice de exploração de 9 milhões de euros - pausa para rir).

Portanto, que FC Porto e Benfica estejam de acordo quanto à liga não é novidade. Mas certamente que é conveniente passar a ideia que sim, pois ao visionário que se auto-excluiu interessa pôr-se à margem da aliança que o próprio clube formou em 2012. Para alguém que glorifica e invoca tanto o passado, Bruno de Carvalho parece ser bastante selectivo nessas memórias.

Que Pinto da Costa e Antero Henrique tenham precavido da melhor forma os interesses do FC Porto na liga (no que resta dela - e o que resta também não durará muito) é tudo o que se deseja.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Tello deve rescindir imediatamente, como é claro*

A notícia surgiu no Mais Futebol e até já tem honras de capa em imprensa generalista: Cristian Tello decidiu tatuar um leão no braço. Rapidamente surgiram muitas críticas, devido à insensibilidade de ter tatuado um leão e ter publicado a imagem nas redes sociais. Como não podia deixar de ser, venho aliar-me às críticas a Tello, que tem uma atitude absolutamente inqualificável.


Tello deve rescindir imediatamente! Não com o FC Porto, mas com o Barcelona! O Barcelona deve imediatamente avançar para a rescisão unilateral, após Tello, com esta tatuagem, ter cuspido na rivalidade quase centenária entre Barça e... Bilbao!

Tello, tu ainda não eras nascido. Podes não entender muito bem o que significa a rivalidade entre o Barcelona e os leões de Bilbao. Mas esta é uma provocação que não pode passar em claro. Uma tatuagem em alusão ao Bilbao!? Que irresponsabilidade é essa!?

Tello, não sabes as dificuldades que o Barcelona viveu entre as décadas de 20 e 40? O Bilbao limpava tudo no futebol espanhol. Chegou a espetar 12-1 em San Mamés e 6-0 na Catalunha. Sabes quantas décadas de trabalho o Barcelona teve que ter até superar os leões de Bilbao?

Uma grande desilusão, essa atitude, Tello. Só é pena que as guilhotinas já estejam démodé. La Masia deu-te tudo, e é assim que retribuis? 

*Sublinhe-se a ironia. Se houve burrice suficiente para associar a tatuagem de Tello ao Sporting, não vá também haver burrice para pensar que o conteúdo deste post é sério. O leão enquanto signo do Zodíaco, que por acaso é o do Tello, até é bem mais conhecido além fronteiras, mas ninguém se lembrou de ver a data de aniversário - ou não convém.

É continuar o bom trabalho e ignorar os faits divers que só procuram a desunião, Tello. Se no último jogo deste duas assistências e há quem diga que jogaste mal, mal posso esperar para ver o que farás quando jogares bem.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O impacto do fim da ligação à PT

Já foi confirmado, pela voz de Fernando Gomes, que o FC Porto e a Portugal Telecom não vão renovar o contrato que termina no fim da época. Tem-se insistido muito na ideia de que o futebol português vai sofrer com o fim do financiamento por parte do Novo Banco e da PT. Será mesmo assim tão impactante?

O BES, mais do que patrocinador, era um financiador. Aliás, continua a ser um financiador, agora como Novo Banco. Como qualquer entidade bancária, está susceptível a conceder ou limitar créditos dependendo das garantias e da capacidade de cumprimento que os clientes tiverem para oferecer.

Justifica-se o alarme?
A SAD mantinha, no fecho de 2013-14, 38,025M€ de dívidas para com o Novo Banco, além de uma CCC de 10M€, que tem como garantia a restante tranche do pagamento de Hulk. A maior parte, o empréstimo de 30M€ que tem os passes de Jackson e Danilo como garantia, foi renegociada numa época em que a SAD registou o maior prejuízo da sua história. Se houve capacidade de renegociação dessa dívida numa época de 40M€ de prejuízos, é porque a banca reconhece na gestão da SAD capacidade de liquidar a dívida - é impensável abater 30M€ de passivo de uma assentada, logo até 2016 até poderá haver nova renegociação, dependendo de melhorias da saúde financeira da SAD.

Logo, a questão do BES/Novo Banco como patrocinador é desvirtualizada do contexto. No caso da PT, aí sim, podemos falar de um patrocinador

A rubrica «Publicidade e Sponsorização» rendeu, em 2013-14, 13,594M€. Pouco mais de 500 mil euros do que na época anterior. Ora, esses 13,594M€ não chegam a representar nem sequer 10% das despesas operacionais que o FC Porto vai ter em 2014-15.

Esta rubrica deve-se essencialmente a três patrocinadores: Portugal Telecom, Nike e Unicer. A Nike, como já se sabe, foi substituída pela Warrior. O contrato com a Nike tinha um valor fixo anual que rondava os 3,7M€, o da Warrior não será particularmente superior. No caso da Unicer, com quem há contrato por mais 2 épocas, os valores fixos anuais também se situam entre os 3 e os 4M€.

Quanto à PT, o valor fixo anual é de 3,65M€. Somando estes 3 patrocinadores, já fica bem perto dos 13,594M€ encaixados em 2013-14. O resto surge através do pagamento de variáveis, que dependem do rendimento desportivo, como ir à Liga dos Campeões ou ser campeão nacional.

Como não é possível calcular as variáveis ao certo, a partir do valor fixo do patrocínio da PT resulta uma percentagem de 26,85% do total da «Publicidade e Sponsorização». E a partir daqui calculamos o impacto do patrocínio da PT no orçamento para 2014-15: 3,19%

Os patrocínios são importantes não só do ponto de vista financeiro como estratégico. Mas esses 3,19%, ou 3,65M€, não são motivo para alarme se tivermos em conta o peso que têm para o orçamento em 2014-15.

Embora as despesas operacionais não incluam as transações de passes, esses 3,65M€ são, por exemplo, o custo tentar evitar um Prediguer ou um Tomás Costa. Ou de evitar fazer um contrato de quatro ou cinco épocas para jogadores destinados a saltar de empréstimo em empréstimo (foram gastos em salários para os jogadores emprestados 3,5M€ na última época). Ou de ter um profissional a receber, entre salário líquido e impostos, 200 mil euros por mês para andar às voltas no Olival.

O fim da ligação à PT é perfeitamente contornável. Quem prepara um orçamento na casa dos 100 milhões de euros não pode estar refém de um impacto de 3,19% nas contas. Basta seguir um dos quatro pilares da gestão de Pinto da Costa: o rigor.

domingo, 26 de outubro de 2014

É o Arouca que é fraquito, é isso?

Vitória em toda a linha
Como vê, caro Lopetegui, isto aqui é ser preso por ter cão e preso por não ter. Decidiu fazer apenas uma alteração, Maicon por Marcano. Ou seja, a questão da rotatividade foi posta de parte. Mas havia quem quisesse que metesse também o Rúben Neves a titular. E o Óliver. E o Quaresma (como pedíamos aqui). E alguns o Evandro. Cinco ou seis alterações, vá. Isto vindo das mesmas bocas que reprovam a rotatividade, diz tudo.

Tudo disto para dizer o óbvio: os 11s vão ser discutíveis até ao final da época. Não há-de falhar um. Vai haver sempre alguém que prefere Óliver a Quintero, Quaresma a Tello, Evandro a Herrera ou Marcano a Maicon, e vice-versa. Bom que assim seja: é a prova de que no plantel há profundidade e qualidade. E se há mais alternativas, mais há por onde embirrar. 

Lopetegui escolheu bem os peões e montou bem o xadrez. Vimos este Arouca causar vida difícil a Benfica e Sporting, desta vez nem tanto. É sabido que as equipas de Pedro Emanuel jogam assim: fora jogam para o ponto e para o resultado, com um Boeing 777, e em casa expõe-se mais. Foi assim que a sua Académica nos ganhou 3-0 em 2011-12, por exemplo. Essa sua exposição, e dois minutos de eficácia e inspiração, colocaram o jogo a nosso favor.

Foi uma exibição agradável, que mostra o potencial desta equipa. Que pretendam focar as fragilidades do Arouca, coisa que não foi feito por exemplo em goleadas em Setúbal ou em Barcelos, percebo. Mas de uma coisa não duvido: quando a máquina de Lopetegui estiver afinada, a maioria dos adversários vai parecer tão frágil quanto este Arouca. A regra dos dois Ts levará a isso: tempo e trabalho.





O capitão (+) - Que exibição completa! Dois golos que revelam todo o oportunismo do Cha Cha Cha, mas mais do que isso Jackson foi sempre uma extensão para o meio-campo. Baixou, aguentou, rodou, pressionou, e o seu jogo de costas para a baliza foi uma maravilha de se ver. São já 12 golos esta época e muitos mais virão.

Um goleador completo
Jus à camisola 10 (+) - Uma vitória de Lopetegui. Com Paulo Fonseca ou Luís Castro, Quintero nunca fez dois jogos seguidos. Hoje foi para o terceiro e novamente está ligado a golos do FC Porto. Teve alguma felicidade no 1x0, mas sempre que a bola lhe vai parar aos pés (mais do que isso, sempre que Quintero vai ao encontro dela - uma diferença importante) abrem-se mil oportunidades. Consegue desequilibrar não só no último terço mas também quando baixa para o início de construção. Esse pé esquerdo abençoado nunca esteve tão bem.

Laterais de Seleção (+) - Danilo e Alex Sandro, Alex Sandro e Danilo. Como merecem estar na Seleção Brasileira. Raramente deixaram os corredores descobertos, foram sempre incansáveis no apoio ao ataque e estão mais precisos nos cruzamentos e fortes (sobretudo Danilo) no movimento interior. Danilo está a crescer com naturalidade, e surge agora como 3º capitão, enquanto Alex Sandro aparece bem espicaçado por Ángel. 

De Fabiano a Tello (+) - Se o FC Porto saiu sem sofrer golos de Arouca foi graças a Fabiano, que limpou uma ou duas asneiras. O golo de Casemiro é um pormenor, pois o seu problema está naquilo que pede a posição 6 e naquilo que são as suas características. Hoje houve menor pressão na saída de bola, o que permitiu a Casemiro soltar-se mais e ter mais espaço para construir. Bom para ganhar confiança, essencialmente. Herrera continua a ser incansável, o pulmão de meio-campo. Porque é que joga sempre? Porque mais ninguém aguenta correr 11 quilómetros de 3 em 3 dias, e Herrera é forte no transporte - se o terceiro elemento do meio-campo é um 10, é essencial ter um box-to-box. Bom que Lopetegui não deixe cair Herrera... e que Herrera não caia de rendimento.

Sentiu-se alegria e
harmonia na equipa
Tello já é o maior assistente da equipa: 5 passes para golo. É o tipo de jogador tão previsível que se torna imprevisível. Tem alguns problemas na definição (e notou-se, num lance na primeira parte, que precisa de um golo no plano pessoal), mas quando apanha espaço para ir à linha de fundo já ninguém o apanha. Bate bem os pontapés de canto e voltou a assistir Jackson. Lopetegui deu-lhe continuidade e Tello respondeu. E claro, Brahimi. Mais uma assistência, mais uns pedaços de rim perdidos pelo relvado.

Lopetegui e o banco (+) - Boa gestão de Lopetegui. Os primeiros 20 minutos prometiam equilíbrio, mas soube adaptar-se às circunstâncias do jogo, do relvado e do momento da equipa. Pormenor importantíssimo: deixar Fabiano bater logo na frente. Isso retirou pressão ao guarda-redes e aos centrais. E acima de tudo, encontrou uma fórmula de potenciar as individualidades (o transporte de Herrera, o aparecimento de Quintero entre-linhas, a velocidade de Tello no espaço....). Por fim, Quaresma e Aboubakar. Quaresma deu mais uma assistência e a oportunidade no 11 há-de aparecer, mas acima de tudo transformou-se num joker importante. Para Aboubakar, é sempre importante marcar em pouco tempo, até porque com Jackson a jogar assim vai ser difícil ter espaço. Mas quem faz muito em pouco tempo tem carimbo de sucessor...

Adeptos (+) - Cobrar 25 euros, 5% de um salário mínimo, para ver um jogo em Arouca é insultuoso. Por isso, ver as centenas de portistas que acompanharam e apoiaram hoje a equipa, do primeiro ao último minuto, é gratificante. Ninguém merecia mais este 5-0.





Problema central (-) - Gosto de Maicon, mas percebo que tenha ido para o banco. Que Marcano e Indi sejam ambos canhotos não é problema (se dois destros podem jogar juntos, onde está o problema em jogarem dois canhotos?). É tudo uma questão de rotinas, mas de facto faltou entendimento entre ambos. Uma falha de Marcano salva por Fabiano, e muitas vezes não se entendiam sobre quem marcava Roberto e sobre quem ficava para a dobra. A posição mais frágil para a rotatividade não é o meio-campo, são os centrais, porque os centrais têm que se completar mutuamente. Por isso, apesar de gostar de Maicon no 11, seria importante que Lopetegui conferisse estabilidade a este sector. 

O trabalho desta semana está feito, tempo de recuperar forças e pensar em vencer o Nacional. O Nacional que no ano passado empatou no Dragão e ganhou na Choupana. Sejamos bons contribuintes: vamos apresentar-lhes a factura.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

A rotatividade também passa pelo factor psicológico

Falemos de rotatividade. Como já aqui foi defendido, não repetir 11s titulares é uma faca de dois gumes: por um lado, todos os jogadores sabem que as suas oportunidades vão chegar, então há satisfação por terem um papel activo no plantel; por outro, se sabem que eventualmente hão-de ir parar ao banco, independentemente de A estar ou não melhor do que B, então o índice competitivo baixa. Lopetegui conhecerá este risco melhor que ninguém. E com isto chegamos a Quaresma.

Quaresma: o momento
é este
Se há jogo para Quaresma ser titular é este, em Arouca. Ao serviço da Selecção, entrou com um golo frente à França, de penalty, e com uma assistência decisiva contra a Dinamarca. No último jogo no Dragão, entrou com o golo decisivo frente ao Bilbao. Além disso, é neste momento o jogador que mais consegue «puxar» pela massa adepta - nos jogos fora não há problema, pois ao contrário do que acontece muitas vezes no Dragão o apoio da massa associativa é sempre forte e incansável nos jogos como visitantes.

Tem que haver um ponto de equilíbrio. Lopetegui não vai encontrar Quaresma num momento melhor do que este. São 3 jogos consecutivos a sair do banco e a render. Do ponto de vista anímico está no topo. Na vertente técnico-táctica, também. A época vai ser longa, e como Lopetegui disse e bem, todos os jogadores vão ser importantes. Mas não vai encontrar um Quaresma melhor que este.

Lopetegui tem que jogar com o momento psicológico dos jogadores. Tem que fazer com Quaresma (tentou fazê-lo em Alvalade, mas o jogador não correspondeu) o que fez com... Quintero. Quintero entrou e decidiu contra o Braga. Que fez Lopetegui? Mesmo com a paragem nas selecções, lançou Quintero no 11 contra o Sporting. E respondeu com uma assistência. E continuou no 11 contra o Bilbao. E respondeu com outra assistência. Sabem quantas vezes seguidas Quintero tinha sido titular em 2013-14? Nenhuma.

Quintero é um jogador com extremas dificuldades em aguentar 90 minutos - não conseguiu contra o Sporting e contra o Bilbao aos 60 já estava roto. Mas Lopetegui percebeu que aquele era o momento para espremer Quintero. O mesmo se passa agora com Quaresma. Não é uma questão de lugares cativos. É uma questão de entender qual o momento para tirar o melhor de cada jogador.

A convocatória, apesar de não ter o regular Evandro e o promissor Ricardo (que ainda não teve espaço para dar continuidade ao bom trabalho nos Sub-21), deixa já uma nota importante: Lopetegui encontrou o seu núcleo duro de 18 jogadores. A partir daqui, claro que os 11s titulares nunca vão ser consensuais.

Há a oportunidade de Rúben Neves entrar no 11 e está a porta aberta para Quaresma. Para o lugar de quem? Tello está a crescer e precisa de continuidade no 11. Brahimi é o principal desequilibrador no ataque, sobretudo num jogo em que o Arouca vai fechar-se muito para defender - não vai haver tanto espaço para a velocidade de Tello, mas será importante ter um jogador como Brahimi, capaz de fintar em cabines telefónicas. Quem sai para entrar Quaresma? Quintero? E Brahimi passa para o meio? E com Brahimi no meio, não perderá o FC Porto consistência no meio-campo? E Óliver, que está fresquinho depois da Champions?

Muitas questões. O momento para lançar Quaresma no 11 é este. Mas em momento algum será fácil fazer um 11.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Como a SAD tenciona gastar 114,2 milhões em 14-15

É o maior orçamento da história do FC Porto. A SAD convocou os accionistas para votarem, a 13 de Novembro, num orçamento que prevê gastos operacionais de 114,2 milhões de euros - quantia que exclui as transações com passes de jogadores.

O problema (desafio, se preferir), como era defendido desde o início, não estava no investimento em contratações para 2014-15. Houve operações avultadas, mas em termos de tesouraria sem grandes implicações imediatas. O grande problema seriam os custos com pessoal e os fornecimentos e serviços externos. Os números propostos são os maiores da história da SAD e confirmam isso mesmo.

Para se ter uma ideia, a SAD pretende gastar, em 2014-15, 157,269% do dinheiro obtido em 2013-14 nas receitas operacionais. Um valor verdadeiramente astronómico e insustentável num contexto de futebol português, sobretudo tendo em que conta que o FC Porto não consegue sobreviver com as suas receitas operacionais e vai transitar (será proposto na AG) para 2014-15 um prejuízo líquido superior a 38 milhões de euros. Gastar mais do que 150% do que se ganha (embora isto não inclua as transações de passes) fala por si sobre o risco orçamental para a próxima temporada.

Comecemos pelas receitas operacionais. Em 2013-14, o FC Porto recebeu 72,613 milhões, sensivelmente menos 6 milhões do que em 2012-13. Já em 2014-15, a SAD prevê receber 89,222 milhões, repartidos pelos seguintes pontos:



Este aumento de cerca de 17M€ deve-se essencialmente à Champions. A SAD vai receber em 2014-15 dois prémios de participação acumulados e prevê já o apuramento para os oitavos-de-final. Em 2013-14 a Champions só rendeu 9,55M€, em 2014-15 a previsão é de 28,23M€.

Entre as principais rúbricas: As vendas? Baixam. A bilheteira? Sobe cerca de 700 mil euros. Direitos televisivos? Praticamente o mesmo. Publicidade? Desce (e em 2014-15 ainda entra a PT...). Corporate Hospitaly (Porto Comercial/Euroantas)? Mantém-se. O FC Porto basicamente não consegue evoluir em termos de receitas operacionais, pois a Champions é a única subida assinalável - e é uma falsa subida, pois inclui a receita a dobrar. Felizmente, o apuramento para os oitavos está bem encaminhado... Mas ir aos oitavos vale quase tanto como um ano de patrocínio da PT.

Tendo em conta o prejuízo líquido de 38 milhões que transita de 2013-14 e o défice operacional que a SAD apresenta já a abrir o orçamento de 25 milhões de euros, poderíamos falar da necessidade de fazer qualquer coisa como 63 milhões de euros em vendas no próximo exercício. E não se tratam de valores brutos, pois é preciso pagar impostos (as transferências incluem IVA), comissões, prémios de fidelidade e para efeitos contabilísticos abater o valor previsto enquanto activo antes de calcular a mais-valia (quem não sabe a diferença entre encaixe líquido e mais-valia depois surpreende-se). Jackson, Alex Sandro e Danilo? Certamente que a SAD já terá em vista uma solução. Apresentando um orçamento deste risco, não se admitiria de outra forma.

E agora os custos operacionais. Em 2013-14, excluindo as transferências, o FC Porto pagou o seguinte:

A época 2013-14 custou 95,175 milhões de euros. Os custos com pessoal foram de 48,885 milhões de euros. A redução deve-se exclusivamente ao facto do FC Porto não ter sido campeão, então os jogadores não receberam o prémio correspondente a tal (todos os clubes celebram um contrato colectivo, com os capitães de equipa, para prever o pagamento de prémios em caso de títulos - no FC Porto, é cerca de 200 mil euros por jogador).

Esta é a maior fatia da despesa do FC Porto. A outra são os fornecimentos e serviços externos, de 42 milhões de euros. Os custos são discriminados da seguinte forma...


Agora vamos a 2014-15. A SAD prevê que sejam estas as despesas operacionais...


Sim, o FC Porto vai gastar em salários 71 milhões de euros. Um aumento de cerca de 22 milhões de euros face a 2014-15, e o preço de ter construído um plantel vasto em soluções (ninguém disse que seria barato). Agora que estamos em finais de Outubro, claro que é fácil enumerar que as contratações de A ou B foram desnecessárias, ou que C e D seriam mais adequadas. Mas no planeamento da pré-época, foi construído um bom plantel, com profundidade e qualidade, e com soluções de sobra para Lopetegui (que também ainda há-de potenciar contratações que foram feitas).

Ou seja, o FC Porto vai gastar em salários em 2014-15 basicamente tanto quanto as suas receitas operacionais em 2013-14. Mas este não é o dado mais preocupante. O dado mais preocupante é que o FC Porto vai violar a recomendação da UEFA na relação salários vs. receitas operacionais.

Como o dr. Fernando Gomes explicou, e bem, a UEFA recomenda, dentro das normas de fair-play financeiro (diferença entre regras e recomendações, sendo que as recomendações destinam-se a um melhor cumprimento das regras), que os custos com pessoal não excedam os 70% das receitas operacionais.

Em 2012-13, o FC Porto apresentou 69%, quase o limite. Em 2013-14, baixou para 67%. Mas em 2014-15 vai aumentar para 79,5%. Haverá capacidade/plano para baixar bruscamente a folha salarial já em 2015-16? Dificilmente. A tendência da massa salarial no FC Porto tem sido para aumentar, e o clube não consegue gerar receitas que suportem esse aumento.

O que é que suporta isso? As transferências, as mais-valias. Mas os jogadores contratados são cada vez mais caros (a qualidade paga-se). E os salários cada vez mais altos. E as percentagens de passes são cada vez mais reduzidas. O modelo entra numa fase em que se combate a si próprio: o FC Porto tem que gerar e valorizar activos, mas adquirir e rentabilizar esses activos torna-se cada vez mais caro. Para 2014-15, temos aquilo que todos, todos os adeptos pediam: um grande plantel. Mesmo assim, ainda há quem não esteja satisfeito. O orçamento para 2014-15 revela o preço de ter esse grande plantel. Um grande desafio desportivo e financeiro, diria que o mais importante da história da SAD. 

Para completar a questão da subida da massa salarial em 22 milhões de euros. De 2013 para 2014...

1) Foram criados 7 postos de trabalho no Museu;
2) O FC Porto passou a ter mais 6 contratos profissionais com atletas, 58 no total (a subida na massa salarial desde 2012 deve-se em grande parte à equipa B, onde muitos jogadores ganham salários ao nível da equipa A - tema para depois).
3) Os órgãos sociais passaram a ser compostos por oito elementos, um novo.
4) Continua a haver 33 vendedores nas lojas e 31 técnicos desportivos.
5) E o maior aumento: os cargos administrativos passaram de 120 para 159.


É este o orçamento para 2014-15, que se perpectiva que seja aprovado por larga maioria na AG. Como este não podem declarar inconstitucional, resta aos portistas comentarem de sua justiça.

PS: Em 2013-14, houve um défice operacional de 22,5M€. Não se ouviu um pio. Agora, em 2014-15, há um défice operacional de 25M€ previsto, então já se fala em all-in mesmo que o orçamento exclua todas as transacções com passes de jogadores. Portanto, são 2,5M€ que separam uma época onde ninguém se lembrou de questionar o orçamento de outra em que surge o alarido por all-in? Bom saber. 

Mangala e o BES: a arte de saber e poder negociar... com a barriga à mistura

Quando foi anunciada a transferência de Mangala para o City, um dos melhores negócios da história do futebol português, fomos bombardeados com uma informação que já era conhecida há meio ano, mas que só foi lançada no momento da transferência: de «Mangala era do BES» a «Mangala serviu para o FC Porto pagar ao BES», não houve sítio onde isto não fosse notícia.

Na altura, O Tribunal do Dragão reagiu com grande alegria: quem dizia que o dinheiro de Mangala tinha sido direccionado para pagar ao BES fazia do negócio algo ainda melhor do que já era. Como? Porque nunca uma transferência de 30 milhões de euros foi paga a pronto, enquanto o empréstimo indicava que o pagamento ao BES tinha que ser feito em tranche única. Mas sabe-se lá porquê, fartaram-se de «anunciar» que o FC Porto tinha recebido todo esse dinheiro a pronto e que já tinha ido todo direitinho para o BES.

BES não tocou
no dinheiro de Mangala
O R&C traz uma novidade (ou talvez não) para todos: o FC Porto ainda não pagou nem um cêntimo da tranche acordada com o BES para o empréstimo de 30 milhões de euros. Incumprimento? Não. Renegociação? Sim.

O colapso do BES  foi tratado como o fim da torneira para o futebol português. Acabou-se o crédito, diziam por todo o lado. O rival Benfica foi obrigado a vender alguns activos para cumprir com as suas obrigações, por exemplo. Mas afinal, parece que a torneira não se fechou por completo. A torneira mantém-se semi-aberta para clubes que, mesmo num contexto absoluto de crise, continuam a merecer a confiança de parceiros bancários - não excluindo que o Novo Banco nasceu oficialmente depois da renegociação.

O próprio responsável pela pasta financeira, Fernando Gomes, avisou que vai ser necessário encontrar alternativas bancárias e também à PT (cujo patrocínio rendia um valor mínimo de 3,65M€ anuais, ou seja, o preço de 1 ou 2 jogadores jovens). É verdade, os tempos mudam. Mas mesmo em circunstâncias adversas, numa época com 40,7 milhões de euros de prejuízo, houve capacidade para renegociar o maior empréstimo bancário da SAD.

O empréstimo de 30M€ foi renegociado a 30 de Junho de 2014, data limite para o pagamento. O modelo de pagamento acordado foi o seguinte:

1) Tranche de 3 milhões de euros em Setembro de 2014.
2) Tranche de 2 milhões de euros em Outubro de 2014.
3) Tranche de 25 milhões de euros em Setembro de 2015.

Mangala já saiu, então Jackson Martínez mantém-se como a garantia para o empréstimo... e entra Danilo no negócio, também como garantia. Que a saída de Jackson em 2015 já era uma forte possibilidade, era sabido. Agora ainda mais, mas Jackson tem contrato até 2017, enquanto Danilo tem contrato apenas até 2016. Caso venda Danilo ou Jackson antes do termo de maturidade do empréstimo, a SAD terá que reverter o dinheiro para o pagamento imediato das tranches, após excluídas as comissões.

Relatório e Contas Consolidado da SAD, época 2013-14

Esta operação com o BES pode ser vista de duas formas. A vertente positiva e a vertente negativa. Prefiro mencionar ambas, para que gregos e troianos possam jantar juntos.

Negativo (-): É um empurrar de problemas com a barriga, como foi a Euroantas. Fernando Gomes já anunciou que o empréstimo obrigacionista de 30 milhões, com maturidade em Maio de 2015, vai ser renegociado num prazo de 4 a 5 anos. Uma prática normal, mas «empurrar» dívida, numa altura em que é preciso reduzir os custos operacionais ou aumentar as receitas (e há que encontrar alternativas bancárias e patrocínios - o capital estrangeiro é o futuro e a solução), é sempre adiar os problemas para o futuro. E quem adia os problemas deve estar preparado para os resolver no futuro, não para deixar heranças para quem vier a seguir.

Positivo (+): É um empurrar com a barriga, mas o FC Porto tem a única SAD ainda com margem para empurrar com a barriga. A única que mesmo apresentando o seu maior prejuízo de sempre (estamos a falar de um resultado negativo só superado pelo Sporting de Godinho Lopes), encontra margem junto de parceiros bancários para renegociar dívida. E se uma banca à beira do colapso admite tamanha renegociação com o FC Porto, é porque a SAD ainda terá crédito para tal. Que este é o limite, parece que sim.

Há a versão negativa, há a positiva. Certamente que vai convidar a duas interpretações. Pessoalmente, digo que doravante há que evitar empurrar com a barriga. É que o cinto que segura as calças vai forçosamente ter que sofrer uns furos, mesmo que a SAD ainda mantenha a melhor silhueta do futebol português - que não é o mesmo que dizer que está com um peso saudável. Uma análise a prosseguir com um post por dia.

PS: Ivo Rodrigues, tens nos pézinhos o futebol que leva portistas ao estádio e és o grande extremo que a formação não tinha há 10 anos. Mas por favor, não voltes a repetir esta brincadeira. O Jackson explica-te porquê.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Kayembe tem que dar craque. Tem mesmo.

O Tribunal do Dragão irá analisar, ao longo dos próximos dias, todo o Relatório e Contas Consolidado da SAD referente a 2013-14. Já foram colocadas várias perguntas nos comentários, mas não esperem que sejam dadas aqui respostas que não se encontrem dentro do próprio R&C. Todas as análises aqui feitas são com base nos números oficiais. E os primeiro grande destaque do R&C de 2013-14 é... Joris Kayembe.

Há um ano foi dito na imprensa que o menino belga vinha a custo zero, após deixar o Standard, e que tinha assinado por 5 épocas. O R&C revela que isso não é verdade. Kayembe foi caro. E bem caro. 

Kayembe a preço de
uma época de segunda liga
O FC Porto pagou em Junho 2,615 milhões de euros por 85% do passe de Kayembe à Danubio Finanzierungsleistungen und Marketing GMBH (tentem pronunciar isto sem se engasgarem). Kayembe estava emprestado ao FC Porto, ao que tudo indica. O FC Porto decidiu em Junho comprar 85% do passe, com encargos de 61.587€, e aí sim Kayembe assinou por 5 épocas.

O pagamento é faseado. A 30 de Junho, o FC Porto ainda «devia» 2,065M€. É normal, aquisições a pronto são raras. Mas o investimento claro que levanta questões. O dinheiro das vitórias na Champions contra BATE e Bilbao e o empate contra o Shakhtar (3 jogos dão 2,5M€) ainda não chegam para pagar Kayembe, se quiserem fazer contas de merceeiro. 

Gosto de Kayembé, que já mostrou que tem talento. Há um ano fez alguns jogos promissores na equipa B e todos concordavam: era uma aposta ganha. Afinal, estávamos a falar de um menino que chegava ao FC Porto a custo zero. Mas isso mudou. Kayembé já não é o menino do custo zero. É um senior de segundo ano que custou 2,615M€. Mais do que Ricardo Pereira, por exemplo.

Mas a grande questão que se levanta nem é o investimento. Kayembe só jogou como extremo em 2013-14. Logo, deduz-se que o FC Porto quis pagar 2,615 milhões por 85% do extremo Kayembe... que tem jogado maioritariamente como lateral.

2,615 milhões é mais do que um orçamento anual para uma equipa da segunda liga. É também o custo da aquisição de Kayembe, que dificilmente terá oportunidades na equipa A apesar de ter feito a pré-época com Lopetegui (que quando precisa de um lateral nos treinos da equipa A por norma chama Rafa - no último episódio foi isso que aconteceu, enquanto Kayembe ficou na B).

Kayembe já não pode ser apenas um jogador na equipa B. Foi caro. Tem que ser uma aposta com vista ao futuro. Foi contratado em Junho. Pedido de Lopetegui ou intervenção da SAD, pouco interessa. Foi um activo caro, caro demais que ficar limitado a uma equipa B. Kayembe vai ter que evoluir no sentido de ter oportunidades na equipa A. Só o custo de Kayembe pagava uma época inteira do Feirense ou do Freamunde. Diria mais: em Janeiro devia ser emprestado para jogar já na primeira liga.

Como extremo ou como lateral, foi caro. 2,615 milhões de euros em Junho, numa fase de transição de responsáveis pela pasta financeira e quando se apelava à contenção de custos. Por isso, só posso concluir uma coisa: o FC Porto acredita mesmo muito no potencial de Kayembe. E as minhas expectativas também saíram reforçadas. Tens que ser craque, miúdo. Não estamos em condições de pagar 2,615 milhões por apenas mais um extremo. Ou um lateral.

A felicidade entre a bipolaridade. E umas coisinhas sobre Lopetegui e Pinto da Costa

O homem do Presidente
Sofrida e saborosa, a vitória de hoje. Não sei que contas fizeram por aí, mas não estavam 4 mil bascos no Dragão. Eu juro que ouvi aí pelo menos uns 20 mil. Quando o FC Porto estava na fase mais difícil do jogo, no início da segunda parte, os bascos quase deram cabo da equipa. Como sabem, quando uma equipa está nervosa, a errar passes e a ser muito pressionada, o pior que pode acontecer é ser fortemente assobiada. E foi isso que aconteceu. Casemiro falhava um passe, assobios. Maicon falhava um corte, assobios. Herrera perdia uma bola, assobios. A equipa estava desorientada, precisava de apoio, mas das bancadas, tirando as claques, só se ouviam assobios. Curiosamente, muitos desses 20 mil bascos gritaram que se fartou no golo do Quaresma.

Adiante. Lopetegui, como já se percebeu, já está condenado. Quando a equipa ganhar, como hoje, ainda dá para assobiar para o lado (já que gostam tanto de assobios). Quando empatar ou perder, ui, vem aí a derrocada e os pedidos de demissão. É a «cultura de exigência». Exigência essa que pelos vistos defende que Pinto da Costa já não pode liderar o clube. É isso?

Sim, porque questionar Lopetegui é questionar Pinto da Costa. Depois da pior época em 30 anos, Lopetegui foi a solução de Pinto da Costa para reerguer o FC Porto. O FC Porto que Pinto da Costa ergueu, não sozinho, mas na condição de principal alicerce. Pinto da Costa disse: «Lopetegui é a solução para restaurar o Porto que todos conhecemos». Mas há cada vez mais adeptos a discordarem. Eu, pasmem-se, acredito no presidente. Lopetegui é a resposta de Pinto da Costa à pior época desde os anos 70. Por isso tem que haver razões muito fortes para o presidente acreditar nele.

E há: a primeira parte de hoje foi uma delas. Depois, os 20 mil bascos quase nos entalavam. Claro que houve muitos erros e contra uma equipa mais forte o FC Porto podia ter saído derrotado. Mas eu não vi uma equipa perdida na segunda parte. Vi uma equipa que se evitar aqueles pequenos disparates na segunda parte, as bolas perdidas no seu meio-campo, pode então tornar-se o FC Porto que todos queremos. Vencedor, dominador, mandão, apaixonante.

Percebo o receio dos adeptos: têm medo de um novo Paulo Fonseca, seja lá o que isso significar para cada um. Só para avivar a memória: Paulo Fonseca pediu duas vezes para sair e o presidente não quis. O FC Porto chegou ao cúmulo de ser treinado por um treinador que não queira estar no FC Porto. Que fez Pinto da Costa? Aguentou-o. Defendeu-o contra tudo e contra todos. Pinto da Costa aguentou um treinador que não queria estar no FC Porto. Por isso, só quem for muito ingénuo pode achar que Pinto da Costa irá sequer ponderar despedir Lopetegui. Jamais. Nem que tivesse perdido hoje. Nem que falhe o apuramento para os oitavos, que não vai falhar. 

Por isso, um conselho a todos os portistas e a alguns bascos: conformem-se. Preparam-se, porque ou estarão ao lado de Lopetegui e Pinto da Costa, ou vão estar a desperdiçar tempo precioso em que poderiam estar a apoiar a equipa. Pinto da Costa defendeu até ao limite um treinador que não queria estar no FC Porto. Então imaginem no que estará disposto a fazer pela sua solução à pior época em 30 anos. 

Pinto da Costa estará com Lopetegui até ao fim. E eu estarei ao lado do presidente nesta decisão. Contra tudo e contra tolos.





Herrera: à Porto
Primeira parte (+) - Vimos um Porto aguerrido, determinado, pressionante, a querer jogar futebol de ataque. Danilo está numa forma avassaladora. Bruno Martins Indi, além das suas qualidades, mostra espírito Porto. Tello desta vez foi o grande extremo que o FC Porto precisa. Quintero é verdadeiramente uma solução para jogar no espaço entre-linhas (infelizmente saiu por problemas físicos, como se viu no jogador a fazer gelo no banco, mas tudo serve para assobiar Lopetegui). Vimos hoje o Jackson mais completo de sempre: ultrapassou jogadores em velocidade, aguentou porrada até dizer chega, foi elástico a aguentar a pressão. Faltou o golo, claro. Sobre Herrera. Há quem critique o FC Porto por não ter meio-campo e condene Herrera por isso. Pelo contrário: Herrera anda é quem consegue disfarçar a falta de consistência no meio-campo do FC Porto. Corre e pressiona que se farta, luta até à exaustão, ocupa espaços vazios, e quando marca golos ainda tem que ouvir piadinhas como «olhem, enganou-se». O que caracteriza os jogadores à Porto não é o espírito lutador e guerreiro? Herrera hoje mostrou-o de sobra.

O grito da revolta
O momento de Quaresma (+) - Quaresma tem neste momento um crédito imenso entre os adeptos. Se Casemiro, Herrera ou Maicon perderem uma bola, são assobiados. Mas se é Quaresma a perdê-la, recebe apoio para continuar. Que bom seria que todos recebessem esse apoio ao longo dos 90 minutos. Brahimi estava a pedir a bola, mas não adiantava: todo o estádio sabia que aquele momento era de Quaresma. Dali, tinha que haver remate. Ele é assim, sempre foi, sempre será. E hoje deu-nos um grande momento de festa, mesmo com uma ajuda do guarda-redes. Lopetegui, já se sabe, vai ouvir o piorio se não o colocar no 11 em Arouca. Eu cá fico tranquilo pelo que ouvi Quaresma dizer no fim de jogo: «Vou tentar aproveitar todas as oportunidades». Se for sempre como hoje, certamente que terá muitas mais.





O mesmo (-) - Chega a ser desesperante, claro. Herrera mede mal o passe, mas Casemiro também foi lento a reagir. Talvez tenha que perder algum peso, pois o 6 do FC Porto tem que ter uma velocidade de reacção muito superior. Há pelo menos 4 erros graves do FC Porto na saída de bola na segunda parte e claro que é preocupante, pois uma equipa mais forte na transição rápida podia ter vencido hoje. Erros a corrigir, tanto por parte de Lopetegui como dos jogadores. Acredito que este capítulo será melhorado, até porque vamos recordar que Lopetegui foi o treinador com o melhor arranque de sempre no que toca à imbatibilidade na baliza. Logo, não estamos perante uma incapacidade da defesa (que inclui o meio-campo), mas sim de um momento. E os maus momentos podem ser ultrapassados. Isto também é para vocês, Maicon e Casemiro.

PS: As contas da SAD serão analisadas com calma ao longo dos próprios dias, sempre com base nos números oficiais. Não esperem que sejam dadas aqui respostas que o R&C não inclua.

sábado, 18 de outubro de 2014

Quem tem que pagar a factura não são os jogadores, nem Lopetegui. É o Athletic Bilbao

O que mais custa não é a derrota. É a derrota ser totalmente merecida. O Sporting foi melhor do que o FC Porto. Ninguém resiste a um auto-golo, novas asneiras defensivas, mais um penalty falhado... Mas o Sporting foi melhor, mesmo recorrendo quase sempre à mesma fórmula: pressão alta e transição rápida, Nani no desequilíbrio e William na organização. Simples, mas funcionou. 

Jackson, um dos poucos
inconformados
Clássico é clássico. O que sentem os portistas neste momento estariam os sportinguistas a sentir (ainda pior, face aos resultados na Champions e no Campeonato) se o resultado fosse o inverso. Um penalty, um mau corte, uma grande defesa, basta um pormenor para mudar não só a história de um jogo como a condição anímica de jogadores e adeptos. À primeira derrota da era Lopetegui, já se viu alguns lenços brancos no Dragão. Primeira derrota. Num projecto de 3 anos.

Mas o problema não foi a derrota, mas a passividade com que a equipa viu essa derrota acontecer. Não há portista que se identifique com a forma como a equipa jogou hoje. Dos jogadores a Lopetegui. Ganhou não a equipa que é melhor, mas a equipa que foi melhor. Ganhou a equipa que mais quis ganhar.

E agora? Factura para Lopetegui ou para os jogadores? Para nenhum. A factura tem que ser o Athletic Bilbao a pagar, já na terça-feira. O FC Porto, sobretudo um FC Porto em construção, com mudanças em SAD, plantel e equipa técnica, pode tropeçar e cair. E os jogos mais prováveis para isso acontecer até são os clássicos, apesar de nos últimos anos o FC Porto ter habituado os adeptos a ser melhor. Mas todos podem cair. O que queremos ver é como a equipa se vai levantar.

Tolerância zero. Contra o Bilbao, os jogadores têm que entrar em campo com a vontade, garra e determinação que nunca tiveram hoje. Têm que entender que o FC Porto é um fim e não um meio. Nenhuma equipa ganha sem profissionais dedicados. E nenhuma equipa ganha quando a convicção, ou a teimosia, ou o ego são grandes a ponto de tapar os problemas. É preciso mais, de todos. O FC Porto que todos conhecemos até podia perder hoje por 3x1 com o Sporting. Mas o Bilbao já devia estar a pensar a esta hora: «Foda-se, vai sobrar para nós».





Réstias de luta (+) - É difícil ver algo de positivo na exibição de hoje. Jackson Martínez falhou o penalty (já tinha avisado na Ucrânia que aquela paradinha ia dar problemas, e assim foi; não pode bater mais penaltys!), mas foi incansável na luta e na procura de espaços, mais uma vez prejudicado por ter que fazer o que o meio-campo não consegue; Danilo voltou a fazer piscinas de área a área, mas muitas vezes decidiu mal (quem não decidiu?). Herrera cometeu muitos erros, verdade, sobretudo na má segunda parte, mas correu até à exaustão e fartou-se de pressionar - já estamos na fase em que as coisas mais básicas, como correr e pressionar, em vez de serem requisitos mínimos já são elogios. Isto diz tudo sobre a exibição.

Resposta de Quintero (+) - Um remate perigoso e uma grande assistência na primeira parte. Pouco mais até ao intervalo. Na segunda parte viu-se mais Quintero, a tentar assumir o jogo, mas o melhor momento veio já perto do fim.  No momento em que sai para receber assistência, em lágrimas e frustrado, vimos pela primeira vez em Quintero um pouco do que é ser Porto. E depois ainda reentra em campo para terminar a partida. Pena é que tenha sido pedido este esforço a um jogador que esteve na selecção e fez milhares de quilómetros, quando por exemplo Evandro ficou duas semanas a treinar no Olival e nem ao banco foi... 






Rodar entre erros (-) - Eu aceito a rotatividade. Mas essa rotatividade deve ser feita sempre assente nos mesmos princípios de jogo, e naqueles que funcionem. Lopetegui pode alternar entre Rúben ou Casemiro, entre Quintero ou Óliver, etc. Mas Rúben Neves não pode ser 6 hoje e 8 amanhã; e Óliver não pode ser médio-centro hoje e ficar entalado na ala amanhã. O 4-4-2 de hoje foi um convite para o Sporting engolir o meio-campo do FC Porto, com William, Adrien e João Mário a serem demais para Casemiro e Herrera. Já se criticou Lopetegui por sobrevalorizar Boavista ou Shakhtar, mas desta vez pareceu subvalorizar o Sporting. Ainda na questão da rotação, é sempre uma faca de dois gumes; por um lado, os jogadores jogam todos e ficam contentes; por outro, se já sabem que há rotação pré-definida, então baixam o ritmo competitivo e não se empenham como deve ser, porque já sabem que o colega, mesmo que treine mais, há-de ir para o banco e há-de chegar a sua oportunidade. Hoje viu-se demasiada passividade entre muitos jogadores.

Equipa falha nas tarefas
mais básicas
O que fazer à bola? (-) - O 6 do FC Porto deveria ser o primeiro construtor de jogo. O homem que recebe e olha de frente para o meio-campo antes de organizar (como William Carvalho fez tão bem). Mas no FC Porto não é isso que acontece. O 6 recebe e devolve ao defesa. E os defesas trocam entre si. E vice-versa. E depois a equipa acaba ou por recorrer ao pontapé longo, ou perde a bola perante a pressão adversária. Lopetegui não tem culpa pelos erros individuais, mas a dinâmica e princípio de jogo da equipa é responsabilidade sua. O FC Porto está muito, muito mau nesta fase, que é só a raiz e a base de toda e qualquer equipa. O segundo golo do Sporting, após um mau alívio de Maicon (pior jogo da época) e do erro de Casemiro, é consequência de uma equipa que não sabe o que fazer à bola à saída do seu meio-campo. Mister, aqui não há desculpas.

Nomes sem proveito (-) - Casemiro esteve três semanas parado por lesão. Mas se havia José Campaña, um nome muito requerido por Lopetegui no fecho de mercado (embora a terceira opção), então Casemiro tinha que estar a 100%. Foi mau, rapaz. Muito pau, pouca inteligência a abordar os lances, jogador sem características para ser o 6 do FC Porto nesta fase. Ádrian López tentou partir várias vezes no 1x1, mas sempre sem sucesso. Teve uma ocasião de golo, mas viu-se muito pouco do espanhol. Sobra Tello, que fez um ou dois cruzamentos e nada mais; corre muito, joga/jogou muito pouco. Casemiro, Ádrian e Tello: Três jogadores que eram apontados como grandes trunfos do FC Porto para esta época e que ao fim de 3 meses em nada justificam a titularidade. Perante estes 3 jogadores em sub-rendimento, continuará o FC Porto a ter o super-plantel de que a crítica falava?

Um dos objectivos da época 2014-15 está perdido. Mas como já disse, a sentença não é dada hoje. Lopetegui e os jogadores têm o direito de responder e redimirem-se já na terça-feira, na Liga dos Campeões, e não há desculpas para perder pontos no Campeonato até defrontar o Benfica. Quero defender Lopetegui e os jogadores até ao fim, mas quero ver o treinador cumprir aquilo que prometeu. Não títulos, mas «encontrar soluções para todos os problemas». Há muitos por resolver, Mister. Hoje nasceram mais uns quantos.


sexta-feira, 17 de outubro de 2014

As renovações de Fabiano e Ruben Neves

Dois nomes que dificilmente contavam para o totobola no início da pré-época: Fabiano porque era conhecida a vontade de Lopetegui de ter um novo guarda-redes, Ruben Neves porque tinha acabado a época nos juvenis. Agora dois exemplos de que o trabalho e o profissionalismo pode não só valer um lugar entre os titulares como também novos contratos.

Renovação acertada
Começando por Ruben Neves. A cláusula de 40 milhões de euros é perfeita. Os clubes quase nunca batem cláusulas de rescisão, porque para isso acontecer tem que ser uma das partes (clube ou jogador) a invocar a rescisão unilateral. No FC Porto, nos últimos 14 anos isso só aconteceu com André Villas-Boas. Logo, Ruben Neves está mais do que protegido.

Entretanto já se lê a questão: porque é que renovou apenas até 2017? Simples, porque não podia renovar por mais. A FIFA não permite que menores de 18 anos assinem contratos de duração superior a 3 épocas desportivas: «Players under the age of 18 may not sign a professional contract for a term longer than three years. Any clause referring to a longer period shall not be recognised».

Na renovação com Rúben Neves o importante não era a duração, mas sim um salário mais condizente com o estatuto do jogador e uma cláusula de rescisão mais adequada. Um casamento perfeito, de fácil resolução. Quando já puder tirar a carta de condução, já pode assinar um contrato de longa duração com o FC Porto.

Confiança reforçada
Quanto a Fabiano, o contrato até 2019 é uma clara aposta por parte da SAD e de Lopetegui. O contrato de Helton acaba em 2015 e não será naturalmente renovado, o que significa que Fabiano está de pedra e cal no plantel do FC Porto. Andrés Fernández foi contratado como solução directa para o 11, mas Fabiano soube defender o posto que era seu. A cláusula de rescisão de 30 milhões de euros é altíssima face ao estatuto/posição do jogador, algo que deixa todas as partes tranquilas.

E agora Danilo, Alex Sandro... e Kelvin

Partindo do princípio que Abdoulaye e Izmaylov, emprestados, só renovarão se for para evitar uma saída a custo zero (têm contratos até 2016), e que Quaresma terá quase 33 anos quando terminar o seu actual contrato, o FC Porto tem mais três casos para resolver nos próximos meses: Danilo, Alex Sandro e Kelvin.

Kelvin já deveria ter sido emprestado em Agosto e oxalá assim o seja em Janeiro. Desde o minuto 92, deitou 18 meses da carreira ao lixo. Não evoluiu porque não teve espaço para isso. Na equipa B não há estímulo competitivo. Pode ter minutos de jogo, mas não terá evolução. Foi um jogador caro para o FC Porto (três milhões de euros) e já deu ao clube um momento que vale esse dinheiro... Mas o minuto 92 devia ser apenas um momento da sua carreira no FC Porto, não toda a carreira no FC Porto. Empréstimo em Janeiro e, mediante o serviço que mostrar no novo clube, a renovação de contrato seria o cenário ideal.

Renovar até Junho ou sair
Danilo e Alex Sandro são duas trutas na SAD. Danilo custou 13 milhões, Alex Sandro 9,6 e a SAD tem ambos a 100%. Na entrevista de Fernando Gomes ao Porto Canal, já ouvimos o responsável pela pasta financeira do clube a admitir - no clássico «não posso prometer nada» - que a Euroantas, ou engenharia financeira similar, pode ser novamente uma botija de oxigénio para as contas a médio prazo, devido ao fair-play financeiro. Para evitar tal operação, uma vez que o FC Porto não vai reduzir os custos operacionais e dificilmente aumentar significativamente as receitas em 2014-15 (só com uma boa Champions), a SAD poderá não resistir às saídas de Danilo, Alex ou ambos (mediante o que acontecer com Jackson Martínez).

Os casos de Danilo e Alex Sandro são fáceis de compreender: ou a saída fica já alinhava antecipadamente e não haverá renovação até Junho (e desta vez não há efeitos Mendes), ou serão para manter e a renovação de contrato terá que ser tratada até lá, de modo a evitar uma inaceitável saída a custo zero. De recordar que Ricardo renovou até 2019 (Opare ainda não se mostrou) e há José Ángel para o lado esquerdo - há quem diga que também há Kayembé, mas curiosamente para o treino de ontem Lopetegui preferiu chamar Rafa.

Há sucessores na forja. Resta saber se haverá compradores capazes de pelo menos dobrar o investimento em Danilo e Alex Sandro... ou se o FC Porto terá capacidade para manter um ou dois destes jogadores. Decisão para ser executada mais tarde, mas que tem que ser planeada atempadamente. Certamente já o estará.

PS: Dos casos de jogadores que estão entre a renovação e a saída excluem-se os sub-19 e a equipa B.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Duas boas notícias para Lopetegui e o que separa André Silva de Caballero

Acompanhei a qualificação da Selecção de Sub-21 para o Europeu, e apesar do resultado excessivamente à holandesa (sofrer 4 golos, mesmo ganhando, é motivo para reflexão), vi com satisfação o apuramento. Mas não foi a única boa notícia do dia: Lopetegui esteve em Paços de Ferreira a ver a partida.

De manhã deu treino no Olival, onde a equipa prepara o clássico da Taça de Portugal, e à tarde foi ver os Sub-21... ou prosseguir essa preparação para sábado? Ruben Neves e Ricardo deram hoje duas excelentes respostas para combater o vírus FIFA, ainda que mesmo com a ausência de vários internacionais haja alternativas de sobra no Olival. Lopetegui tem um dilema para resolver: valorizar os jogadores que ficaram a trabalhar nas duas últimas semanas, ou recorrer a jogadores que entram directamente no 11 só com um treino? A rotatividade é uma faca de dois gumes, mas Lopetegui tem sabido usá-la. 

Ricardo, um exemplo
Mas se Casemiro não estiver a 100%, o mais natural e ideal será que Ruben Neves entre no 11 da Taça. Hoje mostrou uma nova vertente: o jogo aéreo em bolas paradas ofensivas. No FC Porto, muitas vezes é ele a bater os cantos, mas desta vez foi lá cima marcar de cabeça. 17 anos e um jogador cada vez mais completo. Há que elogiar ainda a elegância com que respondeu ao interesse da Juventus: «Tenho contrato com o meu Porto». O «meu» faz toda a diferença. És dos nossos, Ruben.

Sobre Ricardo, repetem-se os elogios que já tinham sido feitos aqui. Mas desta vez foi como extremo que Ricardo mostrou serviço, com 2 excelentes golos, além de ter feito 80 minutos quase sempre de grande intensidade. tendo atirado para o banco Ricardo Horta e Carlos Mané. Para o jogador, seria importante que se clarificasse a sua posição dentro do clube, pois é complicado para um jovem evoluir quando é um tapa-buracos. Mas para o FC Porto, é um luxo ter um jovem português competente para jogar a lateral e que no ataque sabe sabe fazer golos, sempre com dedicação e empenho em todos os momentos.
Destaque ainda para Tozé. Fui defensor do seu empréstimo ao Estoril, pois nenhum jogador deve ficar 3 anos consecutivos na equipa B e no FC Porto de Lopetegui não ia ter espaço, por maior que fosse a rotação. Infelizmente, no Estoril está a acontecer o que se temia: o clube prefere valorizar os seus próprios activos em vez de lançar Tozé como um indiscutível. É forte nas bolas paradas, tem um chuto potente e é óptimo nos passes de ruptura... mas não chega. Tozé necessita de evoluir e oxalá continue empenhado. Mais um destaque para Sérgio Oliveira, de quem o FC Porto mantém parte do passe, que está a crescer muito no Paços de Ferreira e é patrão do meio campo da Selecção de Sub-21. Depois de Josué, oxalá que haja nova segunda vida na Mata Real.

E depois disto chegamos à posição 9. Gonçalo Paciência, que se tudo correr bem será o 9 titular no Europeu, está lesionado. Quando se lesionou, Rui Jorge chamou André Silva, a nossa promessa de 18 anos da formação. Mas para o playoff André Silva já não foi chamado, pois não joga no FC Porto B desde Agosto. 

Diariamente aparecem leitores a perguntar o que se passa com André Silva - perguntas tão repetitivas, de quem mais nada procura, que cheguei a um ponto de rejeitar todos os «comentários». O jornal A Bola já adiantou que o motivo para não jogar trata-se de uma recusa do jogador em renovar contrato, que acaba no fim da época, por isso em Janeiro pode assinar por outro clube a custo zero
Um talento pelo qual
importa lutar

O alerta já tinha sido dado aqui, há 3 meses, e o caso não conheceu desenvolvimentos desde então. Aliás, segundo o que veio a público, sabe-se: o FC Porto fez a sua parte, ofereceu a renovação, e o jogador é que recusou. Vistas assim as coisas, é fácil condenar o jogador e declará-lo persona non grata. Mas estas histórias têm sempre duas versões.

Sabe-se que o FC Porto ofereceu a proposta de renovação. Então a questão que sobra é simples: será que ofereceu tanto a André Silva como a Quiñones, Abdoulaye ou Caballero (com o devido respeito aos 3 profissionais)? André Silva não tem direito a ser burguês, pois revelou-se no FC Porto nos últimos 3 anos. Mas será que está a ter exigências altas ou será que está simplesmente a pedir que o FC Porto o trate como um dos maiores goleadores do Europeu de Sub-19?

A posição que defendo é simples: André Silva tem o direito de exigir ganhar tanto como Caballero. E o FC Porto tem o dever de lutar tanto por André Silva como lutou por Caballero. É injusto para Caballero que o dê como exemplo, pois é mais um jogador que tem o sonho de se afirmar no FC Porto e que aos 16 anos já fazia golos na Libertadores, mas importa recordar o contexto da sua contratação.

«(...) Mauro Caballero, que em Maio dizia à RR que tinha confiança e esperança em Lopetegui para chegar à equipa A. É sabido que Gonçalo Paciência é o único ponta-de-lança para começar a pré-temporada. Onda está Caballero? Tal como Bolat, nem na lista apresentada pelo FC Porto se encontra, e no Olival nem sinal dele. Só para refrescar a memória. Estamos a falar de um jogador que envolveu um litígio e a FIFA; um jogador que fez capas de jornais a ser apresentado como alternativa imediata a Jackson; e que mal chegou relegou logo André Silva e Gonçalo Paciência, os dois mais promissores avançados portugueses, para segundo plano. 

Mais um refresco: em Janeiro de 2013, o advogado Gerardo Acosta garantia que o FC Porto ia pagar 365 mil euros, apenas por direitos de formação. Chegou o Relatório e Contas e o que se viu foi 1,53 milhões de euros pagos à MHD, S.A. »

Se o FC Porto ofereceu tanto a André Silva como a Caballero, fez a sua parte e bem (André Silva é a única promessa da formação em fim de contrato, por isso o trabalho do clube deve ser elogiado nos restantes casos). Se não o fez, então há algo a aprender: ou se acabam os Caballeros, ou tem que estar preparado para que os melhores jogadores da sua formação exijam ganhar tanto como os jovens estrangeiros que chegam ao clube.

Com 18 anos, pode ir
ao Europeu de Sub-21
André Silva foi naturalmente observado durante o Europeu e agora o jornal A Bola fala do interesse de um clube inglês. O jogador não tem empresário e não se pode comprometer com ninguém antes de 1 de Janeiro (e se se comprometer fica sem jogar até Junho, e com isso já não vai ao Europeu de certeza), portanto há tempo para um volte-face de entendimento entre clube e jogador - neste momento mais um desejo do que possibilidade. Estamos a falar de um dos mais promissores avançados Sub-20 do futebol europeu. Nosso. Português. Portista. Barato.

Não interessa se vai ser um Bock, um goleador da formação que nunca chegou à primeira liga, ou um Fernando Gomes, o maior goleador da história do clube. O que importa é o que o jogador é hoje e o potencial que apresenta. Importa também ouvir Lopetegui: que planos teria ele a médio-prazo para o jogador?

André Silva é um jogador pelo qual o FC Porto deve lutar, tanto quanto luta por um jovem valor sul-americano. E André Silva tem o direito de exigir que seja valorizado na mesma medida que qualquer jovem avançado sul-americano que o FC Porto vá buscar. Desta vez não é uma conquista que está em causa, FC Porto. É algo que já é nosso. E por vezes, o melhor território que podemos conquistar é que aquele que nos pertence.

Como Ruben Neves, oxalá que André Silva ainda possa afirmar que está «orgulhoso por renovar com o meu Porto».

PS: Muita gente preocupada com o interesse (nada mais que isso) do Sporting no jogador. É natural, saber que um dos mais promissores avançados europeus está em vias de ficar livre, aliada à possibilidade de dar uma facada no rival, é sempre apetecível. O FC Porto também não deixou de estar atento a Bruma, por exemplo. Mas cá vai um desafio: porque é que um dos melhores jogadores dos juniores do rival do último ano está quase em fim de contrato, encostado e não joga na equipa B? Ups.