terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Revolta à Porto


45 minutos do FC Porto que todos querem ver: qualidade, capacidade de reação, determinação, união e a força suficiente não só para dar a volta a um adversário, como a uma escandalosa arbitragem, com um golo mal anulado (mais um a André Silva - quase que já poderia estar a lutar pela Bota de Ouro) e um penalty do tamanho da incompetência de Vasco Santos sobre Maxi Pereira. 

A equipa termina o ano com a quinta vitória consecutiva (falta a Taça da Liga, mas essa competição não deveria servir para mais do que colocar jovens e habituais suplentes em campo), confiante, com o objetivo Champions cumprido, numa das vagas de acesso direto à Champions e na luta pelo título. A Taça de Portugal foi o único objetivo que ficou por terra.  Há ainda muito por fazer e para crescer, mas a equipa está na luta. Como estava no ano do último título. Como estava na época passada. 




Iker Casillas (+) - Muito antes da reação do FC Porto na segunda parte, houve alguém que manteve a equipa de pé na primeira, evitando que ficássemos com o mesmo ar perplexo de quando vimos o Olhanense a ganhar por 2x0 no Dragão em 2010. Uma, duas, três belas defesas de Casillas, sem hipóteses no golo do Chaves. Nem na Champions ou nos clássicos tinha sido solicitado a este nível. Absolutamente decisivo.

Maxi Pereira (+) - Há muito que não cruzava tantas vezes e tão bem: bateu o recorde de eficácia de cruzamentos nesta época, com 41% de acerto (o recorde era de Layún, 35%). Curiosamente até foi Alex Telles a conseguir uma assistência com um cruzamento, mas toda a ação de Maxi Pereira no meio-campo adversário (a fazer lembrar o melhor Danilo nos movimentos interiores e na entrada na grande área) fez dele um dos melhores em campo. 

Danilo Pereira (+) - Personifica tudo o que deve ser não só um jogador à Porto, mas também um capitão: é um líder em campo e uma bússola para todos os momentos. Percebeu que a equipa precisava de si para outras funções na segunda parte e assumiu-as: subiu mais no terreno, progrediu mais com bola e foi lá à frente fazer o golo da vitória num remate de raiva. Na defesa, o habitual: o jogador com mais recuperações e desarmes em campo, além dos sempre assinaláveis 94% de acerto no passe. Um jogador à Porto.


Brahimi (+) - É um jogador que espelha o próprio plantel: nem sempre vai jogar bem, nem sempre vai optar pela melhor solução, mas podem contar com uma coisa - nunca vai desistir de tentar. Este FC Porto não tem a consistência desejada, uns dias joga pior e outros melhor, mas os jogadores nunca desistem de lutar. Brahimi foi assim no prisma individual: antes do golo do empate, era o mais rematador, o principal desequilibrador, o jogador que mais faltas arrancou e o que mais duelos ganhou. Acusou um pouco o cansaço e a enxurrada de faltas que sofreu, mas com ele em campo o FC Porto tem sempre uma via para atacar a baliza.

Reação na segunda parte (+) - O FC Porto, sobretudo através de Maxi Pereira, estava a fazer bons cruzamentos para a grande área; André Silva estava a ganhar bolas de cabeça, mas era curto, sobretudo porque Diogo Jota não estava a ter presença em campo. Há um ponta-de-lança no banco cuja utilidade se resume essencialmente a isso: presença na grande área e jogo aéreo. A decisão era óbvia, NES desta vez optou por ela e o FC Porto não só lançou-se para a reviravolta como Depoitre conseguiu um belo e importante golo. Foi apenas a 2ª vez nos últimos 3 meses que Depoitre jogou no Campeonato e, ao 3º toque na bola, foi decisivo. Oportunidade para tentar aproveitar aquilo que o jogador possa oferecer à equipa, uma vez que o FC Porto não pode vendê-lo para outro clube europeu em janeiro (já jogou por 2 clubes esta época).

Muito antes, o FC Porto já se tinha transfigurado. Mais incisivo no ataque, laterais envolvidos na frente, os próprios centrais a acelerarem no início de construção, Danilo Pereira a libertar-se das funções de pêndulo para passar a ser um todo-o-terreno e Óliver Torres mais interventivo perto da grande área. O FC Porto aumentou a pressão sobre o Chaves, empurrou o adversário para a sua grande área e com isso chegou à reviravolta, com mérito, mas com esforço e naturalidade pela sua supremacia. O problema? Que tenha sido necessário 45 minutos e um golo de desvantagem para o FC Porto abordar o jogo desta forma.

CHUTA! (+/-) - É algo que falta imenso aos médios do FC Porto: capacidade de meia distância. Ontem foi mais um exemplo, com duas ocasiões em que Óliver tem oportunidade de rematar, mas hesita, hesita e perde-se a ocasião. Danilo deu um pontapé nessa tendência e com isso fez o golo da vitória. A rematar é que se faz golo, e os médios têm que perceber que não têm que estar sempre a olhar para Jota ou André Silva: podem olhar diretamente para a baliza. 




A primeira parte (-) - Quando o nosso guarda-redes chega ao intervalo com o triplo das defesas do guarda-redes do Chaves, não é preciso dizer mais nada. O FC Porto foi incapaz de lidar com os perigosos contra-ataques do Chaves e voltou a ser a equipa lenta, sem clarividência e previsível que foi durante grande parte desta época. Diogo Jota e Jesús Corona foram duas unidades que pouco ou nada acrescentaram no ataque, algo que pode levar NES a repensar algumas opções: a consistência na equipa não está em repetir sempre o mesmo 11, mas sim em ter uma base assumida (de 9 ou 10 jogadores) e princípios de jogo enraizados no plantel. A consistência está em trocar 1 ou 2 jogadores e não se sentir diferença, não em repetir sempre o mesmo 11 mesmo quando alguns jogadores estão em baixo de forma. A rever.

Reviravolta e recuo (-) - Vai sendo um hábito: o FC Porto apanha-se a vencer e NES recua. Se é verdade que leu bem o jogo com a entrada de Depoitre (criticável só o facto de só ter assumido essa alteração aos 63 minutos), NES voltou a dar sinais de que não confia na equipa por si própria para continuar a assumir o jogo em terrenos mais adiantados. Pouco após o bom golo de Danilo, sai Óliver, o médio criativo, e entra Rúben Neves, o médio de caraterísticas defensivas que estava no banco. 

«Era preciso equilibrar a equipa», dirão. Mas que desequilíbrio foi esse que existiu? O FC Porto manteve a sua matriz, com a diferença de jogar com a dupla André Silva-Depoitre, em vez de Diogo Jota. E onde estava o perigo do Chaves? No contra-ataque, na transição rápida. Por isso, o que o FC Porto tinha que fazer era continuar a cair no início de construção do Chaves, obrigando o adversário ao pontapé longo não por leitura da movimentação de um colega mas por obrigação. Podem encarar isso como pragmatismo e respeito pelo adversário, mas isto é o Dragão e o adversário era o Chaves. Há que confiar que os jogadores em campo conseguem manter uma vantagem frente ao Chaves sem que seja necessário virem, a partir do banco, sinais de recuo e de defesa do resultado. 

Bom Natal para todos os portistas e que o presente mais desejado chegue em Maio.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Quem tem Brahimi...

A longa série de jogos sem sofrer golos terminou na melhor altura possível: quando não causou prejuízo algum. Foi a quarta vitória consecutiva, a de menor brilho neste ciclo, numa altura em que a equipa tem que aproveitar ao máximo a sequência de jogos que vai ter até ao final de janeiro, pois daí em diante o calendário só se complicará. 

Um pouco de déjà vu no Dragão, ao ver Brahimi meter aquela boca no buraco na agulha, fazendo lembrar um dos golos que marcou ao BATE, há dois anos, numa altura em que muitos portistas pensavam estar a admirar um talento cuja cláusula de rescisão de 50M€ era muito curta. Hoje sabem que não é assim, mas uma vez mais Brahimi mostrou que é o melhor abre-latas do plantel e ajudou, e muito, a simplificar um jogo que ameaçava trazer fantasmas do passado recente. E pensar que este foi apenas o seu 3º jogo a titular no campeonato...

Ficam três pontos e a frase mais acertada de NES desde que treina o FC Porto: «pressão temos nós, porque estamos atrás». Lidar com ela com os melhores jogadores em campo simplifica muita coisa, após um jogo que mostrou por que é que Bruno Esteves, tendo 39 anos de idade e 18 de arbitragem, nunca chegou a internacional e é um dos piores árbitros da primeira categoria. O prejuízo podia ter sido elevado, mas quem tem um Brahimi inspirado arrisca-se a desbloquear o que pode ser difícil. Contra 11 ou 12 é sempre mais complicado.




Brahimi (+) - O FC Porto não esteve bem na primeira parte: praticamente só criou perigo em lances de bola parada. A primeira jogada de perigo de bola corrida - tirando aquele que deveria ter sido o penalty sobre Maxi Pereira - aconteceu já ao minuto 42, claro está, por Brahimi. Logo depois, Brahimi fez o golo, tendo por certo ajudado e muito NES na sua palestra.

Na segunda parte, a primeira jogada de grande perigo é também desenhada por Brahimi: minuto 67, assistência para André Silva, 2x0. André Silva até estava a fazer um jogo globalmente negativo, mas bastou que Brahimi lhe desse uma boa bola para picar o ponto e deixar tudo bem mais confortável. 

Dois lances com Brahimi fizeram com que uma exibição que não foi brilhante e uma arbitragem que não foi competente deixassem de ser hoje os temas dominantes. A CAN vem mesmo na pior altura possível, mas é bom lembrar que será em fevereiro que as coisas vão apertar, logo com uma receção ao Sporting dia 5. Lá, com sorte, já haverá Brahimi. De preferência, um tão inspirado como o dos últimos jogos. 

Danilo Pereira (+) - Está mais atrevido em campo, mas sem nunca deixar a equipa desequilibrada. Combina inteligência tática, sentido posicional e dimensão física como nenhum outro jogador do futebol português - e poucos no futebol europeu. Voltou a ser uma parede à frente da defesa e um apoio importante na retaguarda do ataque. A melhorar, talvez só a capacidade de meia distância, que é algo que tem faltado à generalidade dos médios do FC Porto. 

Outros destaques (+) - Corona tinha uma missão: não adornar em demasia os lances e colocar a bola na grande área. Nisso, foi bem sucedido. Fez vários cruzamentos, criou uma mão cheia de lances de perigo, foi mais objetivo e eficaz no drible e fez um jogo competente. O FC Porto tem tido o azar de nunca ter Brahimi e Corona bem ao mesmo tempo: ora um está melhor, ora está o outro. Quando houver espaço para ambos brilharem em campo, não há jogo que acabe sem golos.

Óliver Torres, foi o maestrinho que meteu tudo a funcionar à sua volta - mesmo, muitas vezes, sem a velocidade desejada por parte da equipa. O habitual. É extremamente desgastante ser Óliver neste FC Porto, pois é sempre ele quem tem que ir apoiar na zona interior, mas dá para tudo: pressionar, tabelar, transportar a bola, guardá-la e garantir que, com ele em campo, há sempre um rumo e uma solução para chegar à baliza adversária. 




2x0 já está bom (-) - O FC Porto teve volume ofensivo, mas objetivamente foram poucos os lances de bola corrida que estiveram perto de dar golo, particularmente na primeira parte. Foi aí que Brahimi fez a diferença. Mas depois do golo de André Silva, vimos o FC Porto voltar a adormecer: menos pressão, deu mais espaço ao Marítimo, deixou de ter tanta bola no meio-campo adversário e, quando a tinha, era para uma transição rápida.

Este adormecer podia ter custado caro - bastava que o golo do Marítimo viesse mais cedo. Não é preciso massacrar, é preciso controlar. E o controlo assenta em duas coisas: espaço e bola. O FC Porto tem tido sempre a equipa equilibrada atrás, mas não pode ser alérgico a guardar a bola, em zonas adiantadas, quando se apanha a vencer.

Uma equipa que tem um, dois, três criativos do meio-campo para a frente, estando perto da grande área, vai acabar por encontrar oportunidades para fazer mais golos. O problema é quando se retiram os 3 jogadores mais criativos para colocar em campo 3 médios: um de circulação (Rúben), um de transição (Héctor), e um sim, criativo (João Carlos). Com Diogo Jota e André Silva (apesar de ter feito o golo da ordem) desinspirados na frente, deixou de haver tantas soluções para chegar ao golo. A equipa recuou, o Marítimo marcou e o apito final não foi ouvido apenas com satisfação, mas também com alívio. 

Venha o Chaves.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Quercus Suber L.

«O Rui Pedro só está no FC Porto em virtude da empresa onde Alexandre Pinto da Costa era sócioJorge Nuno Pinto da Costa, 12-12-2016

Retemos esta frase do presidente do FC Porto na sua entrevista ao JN. Sensivelmente 24 horas depois de um trabalho particularmente interessante da Mediapart ter sido publicado em França. Leituras aqui e aqui.
O valor da cortiça

Descobrimos que Alexandre Pinto da Costa é um herói, o responsável pela presença de Rui Pedro no plantel do FC Porto. O ramo da cortiça é muito valioso em Portugal. Representa cerca de 0,7% das exportações do PIB. Mas desconhecia-se que a cortiça pudesse ter tamanha valia.

«Si le joueur Rui Pedro Silva participe à dix matchs, Alexandre touchera 100 000 euros. Cela peut singulièrement compliquer la tâche de l’entraîneur du club, qui cherche à préserver son poste. Doit-il engraisser la famille du président? Ou sélectionner la meilleure équipe possible?»

Diz portanto a investigação da Mediapart que Alexandre Pinto da Costa receberá 100 mil euros após 10 jogos que Rui Pedro fizer na equipa principal, levantando ainda suspeitas sobre se isso não irá interferir nas opções de Nuno Espírito Santo (algo que é grave). Não admira que Américo Amorim seja o homem mais rico de Portugal. Aparentemente, a cortiça sai mesmo cara.

Apenas uma outra frase, que nos leva para um tema mais abrangente: «Vamos aproveitar cada vez mais os que nascem cá em vez de jogadores da Nigeria, Malásia, MaliJorge Nuno Pinto da Costa, 12-12-2016

Uma mudança de política que já tinha sido associada à entrada de Luís Gonçalves na estrutura. Curioso é que o FC Porto, que tem vários nigerianos ligados ao clube que implicaram investimentos recentes (Chidozie, Ezeh, Moses, Mikel, Musa - que nunca jogou pela B mas é muitas vezes chamado para treinar na A), assuma esta posição 24 horas depois de isto ter sido publicado.

Quando foi divulgado o mapa de intermediários da FPF, O Tribunal do Dragão assinalou a polivalência do empresário Edmund Chu, intermediário de Ezeh e Chidozie. «Curiosidade para a RAMP Management, que esteve envolvida na compra/renovação de Chidozie. Edmund Chu já tinha sido mencionado como intermediário de Chidozie. Confuso, até o próprio identificar-se nas redes sociais como sendo presidente... da RAMP. Ou seja, cobram comissão a empresa e o presidente.»

Agora a referida investigação conta que em 2012 o FC Porto assinou um contrato com a RAMP, que tinha como missão indicar jogadores ao FC Porto de Gana, Congo, África do Sul, Zâmbia e Nigéria. A RAMP fica com uma comissão de 18 mil euros, torna-se parte interessada de uma futura venda do jogador e até 2015 assume 25% do passe do atleta. Um exemplo comprovado já tinha sido o caso de Fidélis, agora no Portimonense, o clube que mais tem recebido/trocado nigerianos com o FC Porto. 

A investigação da Mediapart, feita com documentos através do Football Leaks (que muitos parecem preferir fingir que não existem a desmenti-los), diz que com o fim da partilha de passes com terceiros o FC Porto passou a remunerar melhor os intermediários: 75 mil euros por cada vez que um jogador fizer cinco jogos pela equipa B (por norma só são considerados jogos em que o jogador atue pelo menos 45 minutos) e o direito de ser agente do jogador no futuro.

Isto levanta questões. Lembram-se de Mbola? Integrou a equipa B em 2012, ano em que o suposto acordo com a RAMP foi assinado. É um jogador da Zâmbia, um dos países referidos no acordo de observação.

Mbola era um jogador sem qualidade. Basta recordar a sua estreia na equipa B: 5 minutos em campo e foi expulso. Desde então, tornou-se uma opção fantasmagórica na equipa B. Fez um jogo a titular em novembro, outro em dezembro, outro em março. Chegamos a maio e às duas últimas jornadas do campeonato. Mbola faz os dois jogos a titular e, com isso, chega aos 5 jogos como jogador do FC Porto, precisamente a quantidade referida pela Mediapart. Foi embora no final da época e nunca mais ouviram falar dele. Até onde sabemos, coincidências. Na proveniência do jogador, no número de jogos. Coincidências. Muitas. 

A Mediapart fala detalhadamente sobre Chidozie. Diz que o FC Porto pagou 500 mil euros ao Riverlande Youth Club e 75 mil euros de comissão «em nome próprio» a Edmund Chu. «Um montante superior aos 10% autorizados». Calculam então que cada jogador menor pode permitir um encaixe de 975 mil euros à RAMP. 

Porquê? São acusações gravíssimas que aparecem nesta investigação e que, perante qualquer ato de transparência, princípio ético e legalidade, só têm que ser desmentidas pelo FC Porto. A saber: «Na correspondência a que tivemos acesso, o agente Saif Rubie, descontente com a forma como o FC Porto tratou o jovem ganês Christian Atsu, ameaçou contar aos media a maneira como o clube se comporta de início ao fim, incluindo os acordos com a RAMP e todas as vantagens usufruídas pelo clube com os contratos assinados com jogadores africanos jovens vulneráveis». 

Passando depois a um caso já aqui conhecido, o de Generoso Correia, um negócio muito... generoso. Questionando ainda o envolvimento de D'Onofrio, que no último verão trouxe Depoitre e que segundo estas contas já faturou 10 milhões de euros em comissões com o FC Porto, com o Benfica também envolvido. Dinheiro esse que terá sido escondido em offshores, mas quanto a isso os adeptos do FC Porto só podem estar descansados. Afinal Pinto da Costa deixou claro que o FC Porto não opera em offshores e em paraísos fiscais. 

O presidente anunciou então o fim da aposta em jogadores de países como Nigéria, Malásia e Mali, para passar a privilegiar a aposta em portugueses. Fica por perceber uma questão: qual o balanço desta parceria com a RAMP que se desconhecia? Quem teve a ideia? Que assume os frutos/resultado desta parceria? Quando custou e quanto rendeu ao FC Porto?

Agora, segundo afirma Pinto da Costa, é passado. Mas se o preço da cortiça não baixar, não parece que vá servir de muito. 

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

A mãozinha por trás de um padrão

Estão cumpridos os clássicos da primeira volta. O Benfica ganhou 4 pontos, um deles sacado no Dragão nos descontos, o Sporting conseguiu 3 pontos e o FC Porto teve um empate com sabor a derrota. Destacam-se duas conclusões: o Benfica, sendo inferior nos dois clássicos, teve os melhores resultados; e as decisões consideradas difíceis, polémicas ou duvidosas dos árbitros favoreceram todas o Benfica. 

Seguem seis lances que envolvem situações de bola na mão vs. mão na bola na grande área, todos eles ocorridos nos clássicos desta época. Nenhum deles é absolutamente conclusivo: todos geram dúvidas. E todos eles foram arbitrados em constante prejuízo do FC Porto e benefício do Benfica. 

Primeiro caso, a envolver Gelson Martins no momento anterior ao golo do empate do Sporting frente ao FC Porto. Tiago Martins mandou jogar.


Mesmo jogo, nova situação de braço na bola na grande área, desta vez com Bryan Ruiz. O Sporting virou para 2-1 na sequência do lance e o FC Porto perdeu em Alvalade.


FC Porto-Benfica. Mitroglou joga a bola com o braço na grande área do Benfica. Artur Soares Dias nada assinala. 


Exatamente no mesmo lance, a bola ressalta para o braço de Felipe. Aqui, Soares Dias assinala falta do defesa do FC Porto, que tinha acabado de assistir André Silva para o que seria o 1x0 na primeira parte. 


Mais recentemente, o Benfica-Sporting. Pizzi joga a bola com o braço na grande área, sem oposição de qualquer adversário, e lança o contra-ataque que o Benfica transformou no 1-0.


No mesmo jogo, novo lance a envolver um braço, a bola e a grande área. Sem oposição, Nelson Semedo joga a bola com o braço. Jorge Sousa nada assinalou.


São, todos eles, lances que suscitam dúvidas. Não são unânimes, e neste caso são lances que vão além do clubismo, pois diferentes pessoas de diferentes clubes podem ter diferentes opiniões. O que só mostra que o vídeo-árbitro, neste caso, não vai servir absolutamente para nada, pois só vai adensar polémicas e dúvidas - qualquer benfiquista defende que estes lances são legais, enquanto qualquer sportinguista/portista vai considerar que houve infrações. Imaginem quando um árbitro tomar decisões através das mesmas imagens que qualquer adepto vê...

Mas o que está em causa é isto: em todos estes lances, o FC Porto foi sempre a equipa prejudicada, seja contra Benfica, seja contra o Sporting. Quando chegou a vez do Benfica-Sporting, foi o Sporting a ser o prejudicado. O que se conclui? O FC Porto, em caso de dúvida, foi desfavorecido em todos os lances que envolvem mão, bola e a grande área; o Benfica foi favorecido em todos; e o Sporting foi beneficiado contra o FC Porto e prejudicado contra o Benfica. 

Mas não há-de ser mais do que um punhado de coincidências. Daquelas que valem campeonatos. 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Golos e resultados aparecem, falta o resto

Desde aquele remate de Rui Pedro, as coisas dificilmente poderiam ter corrido melhor. O FC Porto subiu na tabela, aproximou-se da liderança, recuperou uma das vagas de acesso direto à Champions, passou aos 1/8 da Champions, acabou com a malapata de golos marcados e continua sem os sofrer. Quanto a resultados, não se pode pedir mais. Foi uma semana muito proveitosa.

E se há momento para reabilitar o moral, é este, pois o FC Porto não vai encontrar sempre circunstâncias tão simpáticas, com penaltys e/ou expulsões a favor nos três últimos jogos. 50 minutos a jogar contra 10 frente ao Braga, um Leicester já apurado e de suplentes no Dragão, 90 minutos a jogar contra 10 ante o Feirense e com um incomum penalty aos 3 minutos. 

Não vamos ter sempre estas benesses, e há muito para melhorar, mas uma equipa que cumpre um objetivo de época, com a passagem aos 1/8 da Champions, faz 9 golos e recupera terreno no campeonato na mesma semana só pode encarar o futuro imediato com otimismo e confiança. Não haverá melhor momento para isso.




Brahimi (+) - Outra exibição para fazer corar de vergonha a gestão da sua situação até ao início deste mês. Estamos a ver o melhor Brahimi desde a primeira metade de 2014-15: raramente perde a bola em dribles, prefere os atalhos às rotundas, joga com permanente orientação para a baliza e tem golo nos pés. O FC Porto não pode nunca prescindir de um jogador com esta virtuosidade, ainda para mais quando está a revelar grande vontade em recuperar o tempo perdido (foi o 2º jogador com mais recuperações de bola e nunca o vimos pressionar assim). O jogador que não era solução, por ser um problema, agora torna-se um problema, por ser solução. A CAN está aí à porta e vem em má altura.

André Silva (+) - Menos rematador e a cair mais na faixa direita, voltou a ser decisivo. Ganhou e marcou mais um penalty, bisou à ponta-de-lança, ganhou todas as bolas de cabeça que disputou e poucas vezes perdeu a bola (93% de eficácia de passe). Continua a desgastar-se em prol da equipa e a bater-se contra os centrais como gente grande e rija que é. Quatro golos numa semana, embora dois de penaltys, é uma das melhores injeções de confiança que se pode ter. Nele e na equipa. 

Óliver Torres (+) - Aquilo que faz a toda a largura do meio-campo compensa, e muito, aquilo que não faz perto da grande área (tem apenas um golo e nenhuma assistência). Cola a bola ao pé como vemos poucos jogadores fazê-lo e consegue guardá-la de uma maneira invulgar para um jogador da sua envergadura física. A forma como consegue abrir espaços com uma simples rotação sobre a bola é notável. Se, ou quando, conseguir ser mais decisivo perto da grande área, será um dos melhores médios da Europa. Não que necessitemos disso para apreciá-lo já o suficiente.


A defesa (+) - Sim, o Feirense jogou com 10. Sim, ainda atirou duas bolas à ao ferro. Mas 7 jogos consecutivos sem sofrer golos merecem crédito em qualquer parte do mundo. Quem não sofre, não perde. E quem tem, sobretudo, Marcano, Felipe e Danilo Pereira a jogarem desta forma vai continuar a sofrer muito pouco. 




Primeira parte (-) - Como criticar uma exibição em que o FC Porto, ao intervalo, vencia por 2x0? Pela forma como, entre o golo de André Silva e o de Brahimi, o FC Porto se desligou por completo da procura do 2x0. Quando o Feirense, até ao golo de Brahimi, era a equipa com mais lances de perigo em bola corrida, algo ia mal. Equipa lenta, com poucas situações de perigo na grande área adversária, pastosa na saída de bola e sem pressa em aproveitar a expulsão do Feirense para matar cedo o jogo. Um regresso às exibições do passado recente, algo que deixou claro que o Feirense, com 11, podia ter sido uma ameaça bem maior.

A bicada para a frente (-) - É justo começar por referir que o primeiro golo nasce de uma bola longa para as costas da defesa, bem captada por André Silva. O problema é quando o FC Porto usa este tipo de lances não como oportunidade/circunstância, mas como padrão. Até contra 10, a determinada altura o FC Porto não fazia outra coisa que não procurar o espaço em profundidade. Corona, André Silva, Jota: tudo a correr para trás da defesa do Feirense, pois vinha aí um passe de 50 metros. Bola direta da defesa para os avançados. O FC Porto - melhorou na segunda parte - insistiu em preferir um passe de 30 metros a fazer circular a bola por mais gente para chegar à grande área em transição apoiada.

Por vezes funciona, mas o FC Porto tem que ter outras armas, caso contrário uma linha defensiva de maior qualidade anula facilmente este tipo de jogadas. O problema é que o FC Porto tem, neste momento, um buraco no seu meio-campo, pois as linhas estão demasiado distantes: entre o recuo de Danilo e a versatilidade à qual Óliver é obrigado, por vezes falta gente no miolo para oferecer linhas de passe mais curtas. E nem contra 10 unidades, na primeira parte, o FC Porto conseguiu aproveitar para criar tabelas em superioridade numérica ou para fazer a bola circular mais vezes pelo meio. A verdade é que os 3 primeiros golos foram na sequência de bolas paradas e ajudaram a facilitar o que poderia ser muito, muito difícil. No final fica a goleada, os três pontos e a terceira vitória consecutiva. Venha a quarta, mas para isso vai ser preciso um pouco mais.

Entretanto, o FC Porto já conheceu a sua sorte na Champions: Juventus. São mais fortes, têm melhor plantel, maior poderio, e será um enorme desafio para a equipa técnica do FC Porto, que vai ter que se preparar pela primeira vez para uma equipa grande que joga num esquema de três centrais. É uma equipa sem muito a fazer na liga italiana, enquanto o FC Porto corre atrás do prejuízo na liga portuguesa, que está invicta na Champions e que teve uma das melhores defesas da fase de grupos. Teste de elevada dificuldade e oportunidade para mostrar o quão cresceu o FC Porto desde 1984. O que João Pinto, Sousa, Frasco, Gomes e demais não davam para poder entrar em campo nesta eliminatória. Se entrarmos com metade do espírito daquela geração, vingar Basileia não será uma miragem.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Noite de Champions

«Leicester, Club Brugge e Copenhaga. Resumidamente, o FC Porto já passou em grupos mais complicados e já foi eliminado em grupos mais fáceis. O objetivo é ir aos 1/8, algo que já foi assumido. No ano passado o FC Porto parecia ter feito o suficiente, mas 10 pontos não chegaram. Apontemos, pelo menos, aos 11 esta época, embora sempre com a intenção de ganhar todos os jogos. Será certamente um grupo competitivo. O FC Porto nunca ganhou em Inglaterra (15 derrotas em 17 jogos), não ganhou nas três últimas visitas à Dinamarca e na Bélgica perdeu seis jogos em sete. Leicester, Club Brugge e Copenhaga são campeões dos respetivos países e, muito provavelmente, cada uma destas equipas pensa o mesmo que o FC Porto: o grupo podia ser muito mais complicado».
Este foi o comentário d'O Tribunal do Dragão aquando do sorteio dos 1/8 da Champions e podemos falar em objetivo cumprido e expetativas correspondidas. O FC Porto garantiu o apuramento, com os tais 11 pontos, apesar de ter voltado a perder em Inglaterra, não ter ganho na Dinamarca, ter passado por dificuldades na Bélgica (o penalty de André Silva, nos descontos, tudo mudou) e não ter ganho ao Copenhaga no Dragão (a única coisa anormal neste percurso). Foi difícil, mas a equipa cumpriu, deixando para o fim um recital que deixou todos os portistas satisfeitos. No final, são 11 pontos. Tantos quanto os de Benfica e Sporting juntos. 


Champions é Champions: encontrar APOELs, Artmedias e Áustrias de Viena não é garantia de goleadas. É certo que a equipa que ontem visitou o FC Porto nada tem a ver com a que ganhou a Liga Inglesa, mas isso não retira brilho a uma exibição competentíssima, de absoluto controlo do primeiro ao último minuto. Foram cinco, podiam ter sido mais, e nunca ninguém sentiu que o apuramento para os 1/8 estaria em risco. Anormal seria não passar este grupo, um dos mais fáceis que o FC Porto alguma vez encontrou, mas todos os jogos começam 0-0. E nas últimas semanas muitos não saíram daí.

No último jogo da fase de grupos, o FC Porto conseguiu fazer mais golos do que nos 5 anteriores. O Leicester jogou, conforme esperado, com uma equipa de suplentes, mas não levou cinco porque relaxou: simplesmente foi incapaz de parar uma noite em cheio do FC Porto. Foi uma noite em que, mais do que qualquer debilidade do adversário, o que sobressairia sempre seria a qualidade do FC Porto. E isto não tem a ver apenas com eficácia: tem a ver com volume ofensivo, com o não entregar a iniciativa de jogo ao adversário (a grande mudança em relação ao FC Porto de NES ontem), circular a bola, forçar a entrada na grande área e colocar os melhores atacantes a potenciar as suas caraterísticas.

Quanto à Champions os objetivos foram cumpridos (primeiro o playoff, depois os 1/8). A partir daqui, tudo dependerá do sorteio para redefinir expetativas. Quando à Champions, está feito o mínimo e o máximo exigível. Venha o Campeonato.


Postura e plano (+) - Aquele movimento típico do pontapé de saída faz confusão: ponta de saída, bola no Alex Telles, balão para a frente. Podia sugerir mais um jogo de chutão para a frente, mas felizmente não foi isso que aconteceu: o FC Porto controlou o jogo e soube ter bola. Esta equipa reage bem à perda, mas sente dificuldades quando encontra uma equipa que não quer ter bola. Ontem isso não aconteceu pois o FC Porto soube ter bola. Circulou-a a toda a largura do campo, projetou muito os seus laterais (assistências de Alex Telles e Maxi), apostou no jogo interior dos alas (Brahimi e Corona a finalizarem na grande área), conseguiu esmagadores 2/3 da posse de bola, forçou muitas vezes a entrada na grande área (37) e teve uma eficácia de passe muito acima da média, de 88%. Uma exibição completa e irrepreensível, desde o plano à execução.

Dinâmica dos corredores (+) - Um dos riscos neste esquema é o quão o corredor central pode ficar descoberto. Danilo recua, os laterais sobem, e então têm que ser Brahimi e Corona, apoiados pelo recuo de um dos avançados, a preencher essa zona no apoio a Óliver. Ontem não se sentiu esse perigo, pois a equipa esteve sempre equilibrada, e todos os intervenientes tiveram ação direta na goleada do FC Porto. Maxi Pereira, que já tinha sido dos melhores diante do Braga, voltou a fazer todo o corredor, sem que os 32 anos pesassem no momento da recuperação, e Alex Telles cruzou com melhor precisão e também fez uma assistência. A equipa nunca esteve descompensada no momento da perda, e os laterais foram responsáveis por 15 recuperações de bola. 

Brahimi e Corona (+) - Algo que tem falta ao FC Porto é o fator match winner. O momento em que o jogador recebe, encara o defesa, rasga e remata. Corona e Brahimi têm caraterísticas para serem esses jogadores, mas ontem não precisaram de o ser: fizeram um golo de toque único. Sem receção, apenas estar no sítio certo e finalizar ao primeiro toque. E fizeram-lo na grande área depois de cruzamentos dos laterais. Que significa isto? Que o FC Porto soube envolver várias unidades no ataque e povoar a grande área, com jogadas a explorar a profundidade nos corredores e sem o mero chutão para a frente. Não vimos uma grande área deserta por causa dos recuos que André Silva é forçado a fazer. Vimos muita gente na grande área, e com isso os golos surgiram com maior naturalidade. 

Do ponto de vista mais individual, grande jogo de Corona, sobretudo na primeira parte. Uma assistência, um golo, desta vez procurou mais o passe do que a finta. E de resto isto foi algo em comum nos dois extremos do FC Porto: mais passe, menos drible. A eficácia de passe esteve na média da equipa (88%), muito bom para avançados, e Corona fez apenas 3 dribles, metade dos de Brahimi (não perdeu nenhum lance). Ora, acontece que Brahimi e Corona não precisaram de sair tantas vezes no 1x1, pois tinham sempre uma solução de apoio por perto. E com o envolvimento de Maxi e Alex Telles no ataque, puderam estar em zona interior a fazer a diferença, em vez de estarem no flanco à procura de espaço para meter a bola numa grande área deserta. Ah. Brahimi foi ontem pela primeira vez titular na Champions esta época. Que não tenha sido a última, pois isto de colocar os melhores em campo é capaz de ser boa ideia.


André Silva (+) - Dois golos e uma assistência para Diogo Jota, também ele autor de uma boa exibição. Marcou na sequência de um canto, tarefa que tão complicada tem sido nesta temporada, e foi novamente chamado à marcação das grandes penalidades. É certo que André Silva já falhou 3 penaltys este ano, mas continua a ser chamado à responsabilidade e a merecer a confiança. Não tremeu e revelou-se decisivo nesta fase de grupos, ao ter intervenção direta em 66% dos golos que o FC Porto marcou. Para época de estreia na Champions, nada mau, tendo em conta que só Lewandowski, Cavani e Messi marcaram mais. 

Uma palavra para a já aqui muito elogiada defesa do FC Porto, que nos últimos 10 jogos só sofreu um golo. A defesa não tem sido, de todo, um problema, e ontem o ataque revelou as melhores soluções da temporada. Agora, a possibilidade de ganhar pontos em 2 estádios na próxima jornada. Uma vez mais, uma que não podemos desperdiçar.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Terapia a seis toques



Não é nada pessoal, Marafona, mas a tua mãezinha vai ter que viver até aos 120 anos para ter tempo de fazer metade de tudo aquilo de que a acusámos ontem. Foste chato, foste muito chato. Falamos de um FC Porto que passou mais de 8 horas sem marcar um golo, que tentou de todas as maneiras e feitios, falhou um penalty, acertou nos ferros, teve golos anulados por fora de jogo à lupa e que ainda encontrou em ti uma mistela de Zenga, Vítor Baía, Kahn e Buffon. 

Por isso, aquele minuto 95 foi mais do que celebrar um golo contra um Braga que não fez porra nenhuma para pontuar no Dragão. Foi uma descarga de toda a frustração acumulada a cada remate, a cada cruzamento, a cada jogo sem marcar e vencer nas últimas semanas. Foi algo que só fizemos uma vez em 2016 (ganhar 3 pontos ao Benfica na mesma jornada). 

Não muda nada (bastava o jogo acabar aos 94 para a massa adepta manter - ou neste caso aumentar - o descrédito das últimas semanas), mas a carga psicológica de uma malapata ficou por terra. Agora que não haja a ilusão que houve após as vitórias contra a Roma, ou depois dos 3x0 ao Arouca, que levaram NES a chegar ao ponto de dizer que havia «euforia» nos adeptos. Euforia, ontem, sim, mas pelo minuto 95. Não pelos últimos 520. Euforia por aquele momento. Não pelo momento de forma do FC Porto. Coisas diferentes. 

Agora Leicester, equipa que tem sido pouco mais do que banal esta época, que já está apurada na Champions e que deve trazer habituais suplentes ao Dragão. Se der para sofrer menos um bocadinho, a malta agradece. E mãe do guarda-redes do Leicester também.






Luta transcendente (+) - Recordando o que foi escrito depois do empate em Copenhaga: «Na despedida do Dragão na época 2014-15, os Colectivo mostraram uma tarja que falava por si: «Vão de férias? Parecia que já estavam!». Há uma grande diferença entre jogar mal e jogar sem esforço, sem empenho, sem compromisso. Quem representa o FC Porto pode jogar mal - acontece a todos -, mas nunca pode deixar de jogar sem comer a relva e dar tudo em campo. Ora este FC Porto nunca veria aquela tarja. Esta equipa esforça-se, luta, quer ganhar. Mas não joga suficientemente bem.»

São palavras que se repetem. Este FC Porto não desiste. Pode jogar melhor ou pior, mas é uma equipa de jogadores que lutam até ao final. Ontem, com o acréscimo de de facto a equipa ter sido suficientemente produtiva. Foram imensas ocasiões de golo, muitas falhadas de forma lamentável, outras porque Marafona decidiu que era a noite dele. Ontem, sim, podíamos lamentar a eficácia - e não há treinador do mundo que tenha culpa que um jogador falhe um penalty e que se falhem 10 ocasiões de golo na cara do guarda-redes. Foi um jogo transcendente a todos os níveis.

O próprio golo é exemplo disso. Não é uma jogada ensaiada, não nasce de uma ideia de jogo, não nasce de um lance construído. Pontapé de baliza de Marafona, Danilo ganha de cabeça e a bola vai para Jota, que até estava a fazer um jogo pouco positivo. Jota, em três toques, consegue meter a bola para o único jogador que atacou a profundidade: Rui Pedro. A linha defensiva do Braga subiu para o pontapé de baliza, havia finalmente espaço, e o único a reagir à movimentação de Jota (grande passe!) foi o miúdo. Golo, festa, alívio.

Maxi Pereira (+) - O melhor jogo da época. Incrível e constante disponibilidade no corredor direito, do primeiro ao último minuto. Sem nada a fazer na defesa, atacou, cruzou, empurrou a equipa para a frente, fez movimentos interiores, apareceu na zona do ponta-de-lança e lutou por cada bola como se fosse a última. Este foi o Maxi que obrigou os adeptos do FC Porto a apreciá-lo após 8 anos noutras paragens. Que continue assim.

Danilo Pereira (+) - Confessem lá: de certeza que ao vosso lado ouviram qualquer coisa do género, «para quê o Danilo em campo, contra 10, se o Braga já não ataca!?» Por uma razão: equilíbrio e dimensão física no meio-campo. O Braga praticamente não entrou no meio-campo do FC Porto na segunda parte. E não foi por Marcano e Felipe (bom jogo, mais um) estarem imperiais em cima da linha de meio-campo, foi porque Danilo varreu tudo o que lhe apareceu à frente. Ganhou todos os lances pelo ar (inclusive o do 1x0), foi prático na distribuição e não deixou o Braga pensar nunca no contra-ataque. Danilo não ficou em campo para marcar: ficou para dar segurança a quem tinha a missão de marcar. Imprescindível.

Óliver Torres (+) - No momento da sua substituição, estava provavelmente a ser o melhor do FC Porto, ou pelo menos o mais inteligente. Por vezes hesita no momento em que tem que entregar a bola. Isso tem uma justificação: Óliver, por vezes, idealiza jogadas que os seus colegas não seguem. Se não respeitam a movimentação, aguenta e procura outra solução. Criou 3 ocasiões de golo, raramente falhou passes e esteve impecável na pressão: recuperou 10 vezes a bola, quase sempre no meio-campo do SC Braga. O Tribunal do Dragão já tinha comentado que Óliver está a ser pouco influente no ataque (um golo, zero assistências), e precisa de melhorar neste aspeto. Mas na missão de organizar o meio-campo e de colocar a bola nos homens da frente, não há melhor.

Fator Brahimi (+) - Otávio não esteve bem. Não rompeu, não cruzou, não fez diagonais. Saiu lesionado. Na segunda parte, vimos invariavelmente o mesmo: Corona encarava Djavan e perdia a bola. Ou cruzava logo, ou perdia a bola quando tentava ir à linha de fundo. Com Brahimi, as coisas mudam. Brahimi é egoísta, sim. Não tem o melhor remate do mundo, não. Poucas vezes integra a manobra coletiva - que nem sempre é clara - da equipa. Mas com Brahimi, o FC Porto ganha algo que tem faltado: imprevisibilidade e capacidade de rasgo individual.

Quando Brahimi encara o defesa a partir da ponta esquerda, o jogo pára. Há logo um defesa em cima de Brahimi e um segundo para a dobra. Só aqui, são 2 defesas em cima de Brahimi. Aqui já se arrastam marcações. Brahimi consegue avançar com a bola colada ao pé, sabe aguentá-la, tentou algumas vezes o golo e consegue empurrar a equipa para a grande área. São caraterísticas que o FC Porto não pode dispensar. Tirem Pizzi ao Benfica e Gelson ao Sporting: é a mesma coisa que não aproveitarem Brahimi no FC Porto. É retirar o jogador que pode conseguir aquele rasgo de imprevisibilidade que desfaz um 0-0. Ontem não marcou, mas não foi por falta de situações criadas. E sem uma aposta consistente no jogador - sem Otávio, tem que jogar contra o Leicester! -, não esperem que ele possa voltar a ser o jogador deslumbrante que vimos em 2014-15. Aproveita, Nuno, que não sabes se depois de janeiro terás melhor. 

Rui Pedro (+) - Quando um miúdo de 18 anos, na estreia na Liga, marca o golo da vitória aos 95 minutos, não precisa de mais nada para receber um Boné. Neste caso, todo o golo é de um mérito imenso: ainda Jota tem a bola e já Rui Pedro está a atacar as costas da defesa. Ou seja, não foi Jota a obrigar Rui Pedro a correr com o seu excelente passe: Rui Pedro já estava a fazer o movimento. Depois, a finalização é sublime. É extremamente difícil finalizar naquelas circunstâncias. Rui Pedro teve nervos de aços. Soube qual era a melhor forma de bater Marafona, em vez de rematar em desespero. Excelente golo.


Claro que isto levanta questões, desde Depoitre a Areias. Sim, porque conforme foi aqui opinado, é absurdo encostar Rui Pedro na equipa B para meter a jogar um jogador emprestado pelo V. Guimarães que não tem um décimo da sua qualidade e potencial (além de não ser jogador do FC Porto).  Tal como o risco de perder um talento que, conforme comentou BB na Rádio 5, não renovou enquanto «não assinou por quem eles queriam». Rui Pedro não nasceu ontem: mostrou apenas um pouco daquilo que vem prometendo desde que chegou ao FC Porto. Não vale a pena compará-los, mas Pepjin considerava que, entre Gonçalo, André e Rui, Rui Pedro era o melhor. Quanto a isso, não sabemos. Mas que é melhor do que Depoitre ou Areias, não restam dúvidas. Ah, já agora: Leandro Campos. Anotem, que daqui a um par de anos vamos estar a falar dele. A formação do FC porto está a produzis 9s como há muito não o fazia. Aproveitemos.





A rever (-) - O Braga nunca foi uma ameaça no Dragão. Nunca. Mas é verdade que o FC Porto só começou a carregar a partir do momento da expulsão e da entrada de Brahimi. Até então, poucas jogadas de perigo tinham sido criadas. Mas a forma como o FC Porto entrou em campo foi, uma vez mais, passiva e pouco esclarecedora até ao momento da expulsão. André Silva não está bem. Como é de esperar com qualquer jogador jovem, é natural ter um período menos bom durante a época, sobretudo se tem feito quase sempre os 90 minutos e tentando ser a referência numa equipa com pouca apetência para o golo. Era aqui que devia entrar o tal ponta-de-lança mais experiente que o FC Porto nunca chegou a contratar, e que alguém achou que seria Depoitre. Quanto a isto, estavam avisados desde o início da época: André Silva tem qualidade suficiente para ser titular, mas não tem o estofo suficiente, ainda, para ser titular toda a época. 

Corona precisa de aprender a jogar cansado. Invariavelmente, perdia a bola pelo corredor direito, na segunda parte, por não ter pernas para ultrapassar Djavan. Corona complica quando deve jogar simples. Tem que aprender a gerir melhor o esforço e melhorar urgentemente a sua objetividade no 1x1. Jota não esteve bem durante grande parte do jogo, mas acabou por inventar a assistência para o golo. Por fim, que ontem tenham falhado todos os golos que ainda havia para falhar. Usem os alemães do Bielsa, pinos, cones, nem que comecem com a baliza aberta, mas essa finalização tem que ser treinada. Senão, facilmente se encontra um miúdo de 18 anos que mostra como se faz.


sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

O quadro de NES e o quadro de AVB


Este era o quadro de André Villas-Boas. Os portistas não souberam que ele existiu até à altura em que foi, orgulhosamente, exposto no Museu do clube. 

André Villas-Boas podia ter puxado deste quadro a qualquer altura da época. Depois dos 5x0 no Dragão, a festa bem regada e às escuras na Luz, a reviravolta na Taça de Portugal. Podia tê-lo feito quando o FC Porto se apurou para Dublin, quando de lá chegou, ou quando foi ao Jamor bater uma chapa 6. Nunca o fez.

Villas-Boas tinha o seu quadro. E só tinha interesse em mostrá-lo a um determinado grupo de pessoas: os seus jogadores. Eles é que tinham que perceber o seus objetivos. Villas-Boas não estava preocupado se os adeptos ou a imprensa percebiam o que ele idealizada. Preocupava-se com o essencial: os jogadores.

O quadro de Villas-Boas não vem saído de um manual de auto-ajuda, de um livro de teoria de futebol ou de uma palestra de Luís Campos. O quadro de Villas-Boas é algo que podia ter sido escrito por Pedroto. Objetivos traçados de forma simples e objetiva.

Uma frase do rival, neste caso de Coentrão, a provocar; lembrar a revolta das injustiças sofridas por Hulk e Sapunaru; «envergonhar quem nos fode todos os dias». Uma oportunidade histórica, ser campeão na Luz, bater recordes, e um compromisso mais forte do que nunca. Isto, meus senhores, é algo para ser exposto com orgulho, pois espelha o compromisso entre Villas-Boas e os jogadores nunca época dourada.

Depois temos o quadro de Nuno Espírito Santo. Villas-Boas nunca se sentiu inseguro. Nunca precisou de tentar explicar à imprensa o que ele queria. Não, pois a mensagem passava para os jogadores, e era o suficiente. Villas-Boas não se preocupou em debitar teorias, em inventar regras de três C's, em desenhar árvorezinhas. Foi cru. Em suma, vamos foder o Benfica. E fodemos.

Passámos de um quadro que lançava o mote para envergonhar o Benfica para um quadro que envergonha os adeptos do FC Porto. Nuno Espírito Santo ainda não percebeu o lugar que ocupa. Ao contrário de Villas-Boas, que manteve o seu quadro entre os jogadores e o treinador, NES mostra-o orgulhosamente. E parece mais preocupado em explicar teorias à imprensa e aos adeptos do que em meter a sua equipa a jogar futebol.

É verdadeiramente absurdo. NES não devia precisar do selo de aprovação da imprensa ou dos adeptos para aplicar os seus princípios. Um bom treinador, um verdadeiro líder, confia nas suas ideias, não sente necessidade de as explicar. Só precisa de as transmitir aos jogadores, e é o suficiente. Devia assumir que por alguma razão ele é que é o treinador do FC Porto, enquanto que outros são treinadores de bancada. A não ser que admita que chegou ao FC Porto pelas mesmas razões que chegou ao Rio Ave. Outros rosários.

Estas apresentações de NES revelam, acima de tudo, a insegurança do treinador no cargo que ocupa. NES sente-se incompreendido e inseguro. Daí que seja, provavelmente, o único treinador da atualidade que se espalha no ridículo de explicar, publicamente, os princípios táticos que quer implementar na sua equipa.

Benfica, Sporting e demais adversários podem poupar o trabalho de enviar olheiros: NES explica-vos tudo o que precisam de saber. Nuno Espírito Santo está a explicar aos adversários como é que o FC Porto joga, ou como é que pretende que jogue. Em parte nenhuma do planeta encontram um treinador que explica aos adversários como é que ele vai jogar. Ah, esperem, Sá Pinto fez isso uma vez. No Sporting. De Godinho Lopes. Que bem correu. 

NES parece estar mais preocupado em fazer prevalecer a sua imagem de tipo sereno, politicamente correto, afável e que reúna simpatia por parte de imprensa e adversários do que em efetivamente vencer pelo FC Porto. Uma dica: nunca nenhum treinador do FC Porto teve sucesso a ser simpático e politicamente correto. Nem com teorias acima da competência prática. Não serás o primeiro, Nuno.

Sábado, 20h30, Estádio do Dragão. Deixa o quadro no balneário e mete a prática no relvado. Sentes-te inseguro? Ganha ao Braga. A confiança ganha-se com vitórias e resultados, não com teorias ou com quadros. As únicas aulas que tens que dar não é à imprensa, nem aos adeptos, mas sim aos jogadores. Se de facto tiveres algo para lhes ensinar.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

As contas do primeiro trimestre

Quem gosta de acompanhar as contas da SAD vai ter que esperar durante, pelo menos, mais três meses. O FC Porto não divulgou o R&C do primeiro trimestre de 2016-17, aproveitando a nova opção que permite que a SAD não tenha que prestar as informações trimestrais (directiva comunitária 2013/50 da União Europeia).

Contas só em fevereiro
Assim sendo, terminou o mês de novembro e o FC Porto não comunicou à CMVM as contas do primeiro trimestre, que basicamente incluíam todas as movimentações da SAD entre 1 de julho e 30 de setembro, com negócios curiosos como os de Boly ou Depoitre, entre muitos outros. 

Podia tê-lo feito, mas optou por não o fazer, tal como o Benfica. Já o Sporting decidiu apresentar as suas contas trimestrais. Convenhamos que tinha motivos mais sonantes para o fazer, pois tem um lucro de quase 63 milhões no primeiro trimestre. Mas a partir do momento em que uma SAD opta por divulgar as contas trimestrais, terá que o fazer durante os dois anos subsequentes. O FC Porto preferiu não divulgar nada perante o mercado e os seus sócios. 

Desta forma, a SAD do FC Porto terá até ao final de fevereiro para divulgar as contas do primeiro semestre, ou seja, os resultados do exercício até 31 de dezembro. O exercício será fechado antes da abertura do mercado de inverno, mas os resultados serão apresentados já depois do mercado de inverno fechar e da inevitabilidade do FC Porto vender jogadores em janeiro. 

Fica assim explicada a ausência de contas trimestrais da SAD para análise e debate neste espaço. Quem queria boas notícias, também não perdeu nada. 

Outras leituras:

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Tão lógico quanto marcar golos

O FC Porto já disputou 3233 jogos oficiais. Marcou 7165 golos. Ganhou dezenas de títulos, cá dentro e lá fora. Ao longo dos seus 123 anos de existência, foram quase 300 mil minutos de futebol. Nunca esteve tanto tempo sem marcar um golo.

É histórico. Nunca o FC Porto tinha passado 430 minutos sem marcar um golo (ou sem que lhe validassem um). Estamos, à 11ª jornada, a 7 pontos do Benfica, a primeira vez que acontece desde que Pinto da Costa foi eleito presidente. Temos 22 pontos, a pior pontuação desde que a vitória passou a valer três pontos (1995). 19 golos em 11 jornadas, o pior ataque dos últimos 10 anos. E estamos fora do pódio, o que não acontecia desde 1975. Copo meio cheio: este é um FC Porto de recordes. 

O Tribunal do Dragão já tinha destacado o facto do FC Porto não sofrer golos. É bom. Mas para todos os efeitos pontuais, é melhor ganhar um jogo e perder um do que empatar dois; é melhor ganhar dois e perder três do que empatar cinco; e em momento algum podemos considerar que não sofrer golos contra equipas como Setúbal, Chaves, Copenhaga e Belenenses é algum tipo de proeza que mereça criar um constaste positivo.

Sim, não sofrer golos é positivo, mas se não marcamos entramos na lógica residente noutras bandas: não somos campeões, mas jogamos o melhor futebol; não ganhámos, mas fomos quem mais mereceu

Sente-se a contestação cada vez maior a cair sobre Nuno Espírito Santo. As críticas são expectáveis, aconteceria o mesmo a qualquer outro treinador. No FC Porto, ao fim de 2 ou 3 maus resultados, para a generalidade da massa adepta o funeral fica feito. Aconteceu com Paulo Fonseca, com Lopetegui, com Peseiro e muito provavelmente vai acontecer com o próximo que chegar. 

Mas há algo a saudar em relação a Nuno Espírito Santo, em defesa do técnico: tem contrariado algo que vinha sendo uma tendência cada vez maior no FC Porto - o não defraudar as expetativas. Nuno Espírito Santo não desilude, vai ao encontro das expetativas. O seu trabalho no FC Porto tem sido um espelho do desenvolvido no Rio Ave e no Valência: o futebol praticado, as escolhas para a equipa que muitos não conseguem entender, o discurso monocórdico e saído de um manual rasca de auto-ajuda. 

Nuno Espírito Santo não está a fazer nada abaixo do que já tivesse demonstrado. Admita-se, nem é o caso de Paulo Fonseca, que meteu o Paços de Ferreira a jogar à Porto e o Porto a jogar à Paços de Ferreira, mesmo não tendo tido condições de trabalho suficientemente boas para lutar pelo título. Nuno Espírito Santo meteu o Porto a jogar à... Nuno Espírito Santo. Jamais será cobrada uma fatura ao técnico por fazer o mesmo trabalho que fez nos seus outros clubes. Logo, este funeral perde um pouco a sua lógica. Vamos condenar quem está a ser o que sempre foi?

Se o FC Porto passou de Lopetegui para Peseiro e de Peseiro para Nuno Espírito Santo, nem vale a pena entrar por uma conversa de sucessão. Dá medo.

A competição de ontem, como saberão, não é valorizada neste espaço. A Taça da Liga deve ser utilizada única e exclusivamente para dar espaço competitivo a jogadores pouco utilizados e para lançar jovens da equipa B. As escolhas de NES para o jogo de ontem serviram minimamente para esse efeito, ainda que ninguém consiga ignorar que se tratou de um prolongamento de mais 90 minutos sem golos, ainda por cima jogando quase uma hora contra 10.  De qualquer forma, o maior problema não foi o jogo de ontem, mas sim os últimos jogos. 

Por isso, troquemos os Bonés e Machados por algumas considerações. Primeiro, Brahimi. Ontem descobrimos que Brahimi não serviu para jogar no Campeonato, na Liga dos Campeões e na Taça de Portugal. Mas serve para jogar na Taça da Liga.

Isto consegue ser pior do que ter o Taarabt a ganhar 193 mil euros por mês para ir ao Main. Porquê? Porque esse nunca viram fazer nada de jeito no Benfica e não faz falta à equipa principal. Brahimi sim. Viram-lo os adeptos, os adversários, a Champions do futebol. Há dois anos, era o jogador mais aplaudido pelos adeptos. Desaprendeu? Não. Ao longo de novembro, em que o FC Porto esteve em 4 competições, Brahimi ficou no banco no Campeonato, na Champions e na Taça para jogar apenas na prestigiada Taça da Liga. Gestão danosa, nada mais. 

Inácio fez a sua estreia na equipa principal. Ainda que envolvido no negócio Maicon, estamos a falar de um dos cinco laterais-esquerdos mais caros da história do FC Porto. Mas aqui temos um perfeito exemplo da diferença entre um jogador da formação e um jogador que vem de um negócio do Brasil. Não apenas do Brasil: de um negócio do Brasil.

Inácio fez apenas 4, 4 jogos na Segunda Liga e teve logo uma oportunidade na equipa principal. Não se discute o mérito de Inácio, mas sim o tratamento bem diferente que teve Rafa: esteve 3 épocas desportivas a jogar ativamente na equipa B, sem nunca ter tido uma oportunidade de jogar na equipa principal. Inácio chega e tem logo a sua chance. Deve ser tudo uma questão do critério dos treinadores. Sim, sim.

Rui Pedro estreou-se pela equipa principal e foi provavelmente o mais aclamado pelos adeptos. Neste âmbito, uma saudação para Bernardino Barros, que afirmou, preto no branco, durante os seus comentários no Sentimento (para fazer honra ao Edmundo), que Rui Pedro esteve encostado e em risco de sair enquanto não renovou contrato «com quem eles queriam» na SAD. André Silva esteve na mesma situação. É assim que se gerem os nossos talentos. 

Depoitre esteve uma hora em campo. A jogar contra 10, com o jogador a precisar de ganhar confiança e não havendo melhor oportunidade para isso, NES decidiu tirá-lo de campo e lançar o miúdo. Está tudo dito sobre Depoitre. Nuno nem pensou «vamos esperar, a ver se ele marca para ganhar confiança». Por norma, um treinador que quer muito um jogador não desiste dele em circunstâncias tão favoráveis. Talvez isto diga muito do quão queria NES Depoitre. 

João Carlos Teixeira jogou 15 minutos. O suficiente para ir ao encontro do comentário do TdD aquando da sua contratação: «É daqueles jogadores que conseguimos apreciar pelo simples facto de receberem a bola». Porque não joga mais? Não procurem a lógica. Procurar lógica neste FC Porto tornou-se uma coisa tão complicada quanto acertar na baliza adversária.

Sábado regressa o campeonato, com o FC Porto no 4º lugar, a sete pontos da liderança. Ninguém se recusa a deixar de olhar para o primeiro lugar. Mas o problema não é apenas os adversários terem que perder pontos. É o FC Porto ter que ganhá-los. Sem golos, nada feito. E com estes meios, não esperem fins agradáveis. 

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Objetivos e promessas

Há uma grande diferença entre falhar objetivos e falhar promessas. Falhar objetivos acontece todos os anos, desde não conquistar um título a não ganhar um jogo contra um adversário inferior. Pode acontecer pelos mais diversos motivos: adversário superior, uma bola no poste, arbitragem, um dia de manifesto azar...

Acontece. Todas as equipas têm que traçar objetivos, e já sabem que não os vão cumprir todos. Com as promessas, é totalmente diferente. O FC Porto não é um clube de promessas de resultados. O próprio Pinto da Costa o disse, vários vezes, que «nunca prometi títulos». É preciso ter um estofo/confiança enorme para conseguir fazer e cumprir promessas.

Um exemplo? José Mourinho. «Em condições normais vamos ser campeões. Em condições anormais... Também vamos ser campeões!» Muita audácia, mas algo fácil de proferir: ele sabia que era o melhor, que o FC Porto tinha o melhor plantel, que era superior à concorrência e que estava num contexto favorável. Mais difícil foi ter dito, quando chegou ao FC Porto, que em 2002-03 ia ser campeão. Inteligente: tal deu-lhe margem para reduzir a pressão para o que restava de 2001-02 e motivou as tropas para algo mais que uma época que já se encaminhava para um ano sem títulos.

Bem diferentes foram, por exemplos, as promessas de Paulo Fonseca ou Lopetegui. Ao contrário do que aconteceu com Mourinho, foi em momentos difíceis, já sob muita contestação (mas nenhum deles a 7 pontos do Benfica antes de dezembro), que deixaram afirmações que podiam ser vistas como destemidas e determinadas, mas que acabaram por soar a desespero. A confiança cega de que o FC Porto ia ser campeão e a garantia, sem qualquer dúvidas, que o FC Porto ia chegar ao título. Não funcionou e ambos saíram antes do fim da época.

Nuno Espírito Santo, ao mau momento da equipa, respondeu com a promessa de que o FC Porto ia ganhar ao Belenenses. Falhou. Uma coisa é gerir mal uma substituição, ter um mau resultado e estar completamente descolado da política (?) assumida pelo clube em relação à arbitragem. Outra é falhar uma promessa. Nuno podia ter dito que acreditava que os golos iam aparecer, que o objetivo era ganhar, que acreditava na evolução da equipa. Podia ter dito mil e uma coisas. Mas preferiu prometer que o FC Porto ia ganhar ao Belenenses. A equipa falhou, o treinador falhou.

Nuno Espírito Santo já é, à 11ª jornada, o pior treinador da era Pinto da Costa no que à distância em relação a Benfica e Sporting diz respeito. Ninguém tinha expetativas realistas de que o FC Porto fosse favorito/campeão com Nuno Espírito Santo - só se pode desiludir quem primeiro se iludiu -, pois nunca fez/mostrou nada que o recomendasse como resposta para o ciclo de 3 anos sem títulos, mas os resultados estão a ser um pouco piores do que o expetável. Não necessariamente por à 11ª jornada já ter perdido 11 pontos, mas por já estar a 7 de pontos de Benfica e 2 de Sporting, já depois de ter recebido o Benfica no Dragão.

Esta não é uma época para almejar ao título (quem contrata NES e gere a pré-época/plantel da forma que o FC Porto o fez desde julho, não pode pensar em ser campeão - ou então ainda não percebeu  que acabou a era dos campeonatos em piloto-automático), mas era ponto de honra estar na luta até ao fim, tentar pelo menos a entrada direta na Champions e reabilitar o espírito Porto. O que conseguimos, depois do empate em Belém, foi deixar Nuno Espírito Santo numa posição ainda mais fragilizada. Será ele o máximo responsável se o FC Porto terminar mais uma época sem títulos? Não, de todo. Mas só uma pessoa prometeu que o FC Porto ia ganhar ao Belenenses. Se bem que os adeptos portistas já mostraram ter grande tolerância e estômago para promessas falhadas nos últimos anos.




Iván Marcano e a defesa (+) - Não é pela defesa que o FC Porto tem comprometido nas últimas semanas. Muito simples: em 10 jogos, a equipa sofreu 2 golos. Não deve haver muitas equipas com uma média similar. Os adversários não deixam de ter as suas oportunidades (o Belenenses fez mais remates à baliza do que o FC Porto), mas o facto é que o FC Porto tem sofrido pouquíssimos golos. E quando assim é, basta meter uma bola naquele cada vez mais estranho rectângulo ao FC Porto para ganhar o jogo.

Neste excelente momento defensivo, Iván Marcano merece todo o destaque. Porquê? É o denominador comum entre este bom momento na proteção da baliza e a época 2014-15, na qual o FC Porto teve a melhor defesa de toda a Europa. Marcano conseguiu-o com um low profile de quem chega, faz o seu trabalho, cumpre, vai para casa e só voltam a aperceber-se da existência dele em campo. E nem com a braçadeira no braço destoa. Se calhar só é capitão porque não há melhor e só joga porque não há melhor. Certo é que ninguém tem feito melhor do que ele. Nem no FC Porto nem pela Europa fora: 10 jogos, 2 golos sofridos, apenas um cartão amarelo e uma média de apenas uma falta a cada dois jogos. Com Marcanos, se calhar, dirão que não se ganham jogos ou campeonatos. Ou então sim, se alguém lá na frente meter a bola na porra da baliza, pois lá atrás não tem havido problema. 





Piorar (-) - Sai Jota, entra Depoitre. Sai Óliver, entra André André. Sai Otávio, entra Varela. Três alterações, todas elas com algo em comum: o jogador que saiu é superior ao que entrou, e o que entrou não está num momento de forma que lhe permita ser o 12º jogador que vai desbloquear o jogo. O BES tinha o banco mau e o banco bom. NES só tem um banco mau.

O problema tem várias raízes. Aboubakar, Bueno, Gonçalo Paciência e Suk foram dispensados para que chegasse Depoitre, que, pasmem-se, custou mais do que estes 4 juntos e não vale um terço de qualquer um deles. O jogador não tem culpa, pois a qualidade e caraterísticas dele estavam à vista de qualquer um. Quando assim é, as dúvidas não devem recair no jogador, mas sim na vista de quem o observou. Mas é curioso que todos se recordam de ouvir José Mourinho dizer que queria muito McCarthy. Jesualdo confessou que queria Falcao. Vítor Pereira afirmou que era Jackson Martínez quem queria. Já NES parece hesitar muito em afirmar que foi ele quem queria Depoitre. Diz que era um jogador que conhecia, que podia ser útil, que estava referenciado, mas tarda em afirmar com a prontidão de Pinto da Costa de que Depoitre é que era «o» 9 mais desejado. Ele lá saberá porquê.

Falta Brahimi, que já nem conta para ir ao banco. Adrián foi titular em Leicester, há dois meses, e desde então nem foi ao banco. Com isto, o ataque do FC Porto fica resumido a todos os jogadores que entraram no Restelo: Varela, Corona, Jota, Depoitre e André Silva. É manifestamente muito curto. Já chamam por Rui Pedro, um passo natural. Mas continua o fascínio por chamar Musa Yahaya ao treinos da equipa principal, mesmo sem que ele tenha jogado um único minuto na equipa B. Não deve ter nada a ver com o facto de ter vindo do Portimonense, não senhor.

O que fazer com a bola? (-) - O FC Porto de Nuno Espírito Santo é alérgico à bola. O que esta equipa mais quer é que o adversário tenha bola, para tentar recuperá-la ainda no meio-campo adversário, com uma primeira linha de pressão alta, e depois meter logo a transição rápida. Não está a funcionar. Este FC Porto constrói zero em posse, zero em progressão, zero em futebol apoiado. É uma equipa que não assume o jogo, à imagem do que NES mostrou no Rio Ave e no Valência, diga-se. Joga no erro do adversário. Mas as equipas que jogam no erro do adversário têm que ter uma coisa: a capacidade de marcar um golo em meia oportunidade. O FC Porto não o está a fazer, de todo, e já lá vão 340 minutos sem golos. 

André Silva não dá para tudo. Teve intervenção direta em 43,3% dos golos que o FC Porto marcou esta época. Mas não se pode sobrecarregar um jogador jovem que, como qualquer outro, pode ter um mau momento de forma. E está a tê-lo. Daí que fosse essencial, no início da época, contratar uma alternativa a André Silva. Essa alternativa nunca chegou. Ah, era Depoitre? Sim, Depoitre é de facto alternativa a André Silva: ao André Silva da primeira metade da época 2015-16. Aquele que não jogava na equipa A, basicamente. 

O futebol do FC Porto é pobre, previsível, facilmente anulável. Uma equipa que não tem mostrado capacidade para mudar de velocidade no seu jogo. Os extremos não rompem, os avançados têm que apoiar mais do que são apoiados, os médios poucas vezes provocam desequilíbrios na frente, os laterais estão a perder preponderância ofensiva e o FC Porto raramente aproveita bolas paradas. Nada está a ser potenciado do meio-campo para a frente no FC Porto. Os ovos não são os melhores? Talvez não. Mas pedir uma omelete a quem não sabe partir a casca de um ovo é meio caminho andado para passar fome. Mais um ano.

Do próximos 7 jogos, 6 serão disputados no Dragão e um em Santa Maria da Feira. Não dá desculpas para não abrir um ciclo de sete vitórias consecutivas. E neste caso não é preciso promessas: apenas resultados. Perder um destes jogos em casa, diante do público do Dragão, pode ser a sentença que Paulo Fonseca, Lopetegui e José Peseiro conheceram bem recentemente: no FC Porto, qualquer treinador arrisca-se a pagar a fatura dos maus resultados. A sua e a dos outros.