domingo, 29 de maio de 2016

Moncho López, o treinador à Porto

Nas discussões sobre o sucessor de José Peseiro, vemos muitos adeptos pensarem em nomes, em vez de pensarem em perfis - e depois sim, enquadrar nomes no perfil definido. Posto isto, o melhor treinador possível para o FC Porto seria este: um Moncho López do futebol.

Não é pelo título: é por todo o percurso percorrido até chegar a este inesperado título. Quando o FC Porto optou por fazer reset na modalidade, Moncho López já levava três anos de clube, tendo ido sempre à final do campeonato nacional e vencido o título em 2011. 

Com apenas dois anos de clube, já levava seis troféus e dizia isto: «He interiorizado lo que es ser del Oporto». E nada o demoveu dessa dedicação. Que outro treinador estrangeiro, em Portugal, decide meter a tocar antes dos jogos a Pronúncia do Norte ou o Porto Sentido, como Moncho fazia antes dos jogos com o Benfica? «São estimulantes para nós. A última, acompanhada pelo vídeo com imagens da cidade do Porto, ajuda-me muito a concentrar e a relaxar.» Mais do que entender o clube, Moncho López entende a cidade, a região, a mística. Entende o que é a rivalidade com Lisboa, clube, cidade e treinador. Moncho sabe o que sente cada portista. 

No ano em que o FC Porto (lamentavelmente) suspendeu a equipa sénior, anunciando que ia reduzir drasticamente o orçamento para a modalidade, Moncho López tinha uma proposta mais vantajosa financeiramente do estrangeiro. Mas deixou claro que pretendia ficar no FC Porto. Renovou por três anos e acreditou no projeto Dragon Force. «É uma responsabilidade maior e uma motivação extra», dizia. 

OJOGO, 20-08-2012
JN, 20-08-2012
Onde muitos veriam reunidas circunstâncias para fazer as malas e ir embora, Moncho López viu a oportunidade para fazer história: recomeçar das cinzas e relançar a equipa profissional do FC Porto, rumo ao regresso à Primeira Divisão. Fez ainda melhor, com o título conquistado no ano do regresso. 

Uma palavra para a atmosfera do Dragão Caixa. Quem sente que a mística e a paixão pelo FC Porto estão em vias de extinção só precisa de ver um jogo no pavilhão. Há questões que se levantam com os bilhetes, mas os adeptos do FC Porto têm tido a capacidade de transformar sempre o Dragão Caixa num mini-inferno para quem o visita. Aqui nunca são apenas 5, 6 ou 7 jogadores: são (quase) sempre mais de dois mil, todos a puxar para o mesmo lado. Transportar essa atmosfera para uns metros ali ao lado seria um dos melhores reforços da próxima época.

A concluir, é claro que não há romantismos: não podemos dizer que este título se deve totalmente às bases do Dragon Force. Afinal, do projeto inicial, restam apenas dois jogadores, Pedro Bastos e João Galina. Nenhum clube ganha títulos com jogadores da formação, por isso é impossível imaginar este título sem a contribuição de nomes que vão desde Troy DeVries a Tinsley. Outros foram recrutados ainda na Proliga, como Miguel Queirós, e embora não tenham começado no projeto de 2012 foram parte integrante destes últimos 4 anos. 

Mas quando temos um treinador que entende o clube, os adeptos, a mística e a cidade, qualquer processo de integração se torna facilitado. E nunca descurando o mais importante de tudo: a competência. A avaliação por um treinador deve começar por aí, pelas suas valias técnico-táticas. Com Moncho López, temos tudo. Tem contrato por mais 4 anos, mas só se pode desejar que continue por muitos, muitos mais.

PS: Não podemos esquecer o quão importante foi Carlos Lisboa enquanto combustível para o FC Porto. Recordemos as sábias e eternas palavras de Moncho López. «Estive presente em fases finais de Campeonatos da Europa, em Jogos Olímpicos, competições internacionais de clubes, ganhei muitas finais, também perdi muitas, mas sempre vi o treinador campeão a levar a mão ao peito, ao coração, mostrar carinho aos seus adeptos, porque é aí que se sente o clube. Levar os dedos àquela parte... cada um sente o clube onde quer.»


PS2: No dia da apresentação de Moncho López, a 19 de maio de 2009, o presidente do FC Porto disse isto ao treinador. «Espero que este seja o primeiro de muitos contratos. Pode estar seguro que está num clube que lhe dará todas as condições e dirigentes do melhor que há em Portugal. Este é um projecto novo que procura um novo rumo». Não podemos desejar nada mais do que ouvir Pinto da Costa dizer, na próxima semana, exatamente as mesmas palavras ao futuro treinador da equipa principal de futebol do FC Porto. 

sábado, 28 de maio de 2016

Análise 2015-16: os laterais

No dia em que analisamos os laterais, o FC Porto deu a conhecer que «chegou a acordo com o Watford» para a contratação de Layún. Chegar a acordo pressupõe que o Watford esteve envolvido nas negociações, o que indicia que a cláusula de compra não foi batida - o que não significa que Layún não tenha custado 6M€, mas quiçá com um faseamento de pagamento diferente do que estaria previsto na opção de compra. Aliás, desconhecem-se publicamente todos os pormenores (quanto custa, duração de contrato, etc.)

Compra. Reforço?
Layún é uma boa compra do FC Porto, resta saber se será uma contratação para a próxima época. A possibilidade de renegociar o jogador até ao final de junho não é descartável, tendo em conta que Layún fez uma grande época e despertou a atenção de outros clubes e mercados.

Face à necessidade de apresentar resultados com passes de jogadores de 72,59M€ até 30 de junho, ou a SAD já estudou uma forma de fazer as mais-valias necessárias até ao fim do mês (na medida em que apresentar um prejuízo superior a 8,6M€ poderia trazer consequências no fair-play financeiro), ou este investimento em Layún já é feito a contar com uma futura venda. Até porque esta compra de Layún é o oposto da política da SAD nos últimos anos. Aliás, o acordo original com o Watford previa que o FC Porto tinha que pagar 3M€ até 15 dias depois de informar que iria comprar o jogador; se vendesse o jogador nas próximas duas semanas, poderia até pagar Layún com o dinheiro da venda a um terceiro clube. 

Desportivamente, Layún foi uma mais-valia para o FC Porto. Basta dizer que se não tivesse sido contratado no fecho do mercado, os laterais para esta época teriam sido José Ángel e Cissokho (tendo em conta que Rafa não estava integrado na equipa A). Esteve em 26 dos golos marcados pelo FC Porto esta época. Além disso, sempre personificou em campo aquilo a que os adeptos gostam de chamar um jogador à Porto.

É melhor a atacar do que a defender, certamente. Mas num contexto de campeonato português, os nossos laterais passam mais tempo a atacar do que a defender. Não era por causa de Layún que a equipa estava constantemente exposta contra Aroucas, Tondelas e afins. Cometeu alguns erros, como outros cometeram, mas Layún foi sempre mais vezes parte da solução do que do problema.

Neste momento é uma boa compra, pois se a SAD quiser já o vende com lucro e necessita de gerar mais-valias no próximo mês. Mas desportivamente, seria recomendável manter Layún no plantel, por ter tudo aquilo que o FC Porto necessita: qualidade, profissionalismo e dedicação. Se se concretizar a possibilidade de fazer o que o Hellas Verona fez com Iturbe, é necessário identificar outra solução de qualidade. E aí Rafa diz olá.

Contrato até 2018
Do outro lado, Maxi Pereira. Fez uma época bem razoável, embora nas últimas semanas tenha acusado claramente o desgaste (estamos a falar de um jogador de quase 32 anos que nunca sofreu uma lesão grave, e que é sempre titularíssimo por onde passa), com a sua condição física a deixar a desejar (não raras vezes víamos jogadores ganharem-lhe metros em pouco espaço). 

É também ele um jogador caro (podem dizer que não veio para o FC Porto pelo dinheiro, mas também não foi por lhe oferecem menos do que ganhava no Benfica), já sem grandes perspetivas de uma boa venda (só mesmo no Oriente ou nas Arábias), mas que foi influente na equipa. Maxi Pereira fez 13 assistências - em lances de bola corrida, fez mais assistências do que Layún, e foi sempre uma peça importante pela profundidade que dava ao corredor. Defensivamente, cometeu algumas falhas. 

Tem mais dois anos de contrato, por isso a continuidade no plantel parece um passo natural. Há uma boa alternativa na equipa B, chamada Víctor García, que já devia ter sido integrado num plano de rotação com Maxi esta época. Ricardo Pereira tem mais um ano de contrato com o Nice, por isso não entra nestas contas. 

Sobra José Ángel, um dos «patinhos feios» de que os adeptos nunca prescindem. Comete demasiados lapsos defensivamente, o que é uma pena, tendo em conta que é excelente a cruzar. A sua contratação, em 2014, foi boa e teve toda a lógica desportiva: era um lateral com escola, titular em bons campeonatos e boas equipas, jovem e que chegou ao FC Porto sem encargos imediatos (a Roma repartiu o passe com a SAD, que depois cedeu 5% à ARB Sport Asesores, de Alfredo Nora).

José Ángel, jogador que entretanto desapareceu do catálogo de jogadores que a Doyen Sports exibe no seu site, esteve sempre na sombra ora de Alex Sandro, ora de Miguel Layún. Quando era chamado, ora fazia um jogo consistente, ora estava diretamente ligado a um mau resultado no jogo seguinte. Não temos garantias de que Layún vá ficar no plantel, mas perante a promoção de Rafa é natural que José Ángel procure outra solução para o seu futuro. Tem contrato por mais dois anos e dificilmente partirá para uma 3ª época sendo suplente do FC Porto. Não dá garantias para o presente e o futuro não passa por ele. 

Não vale a pena falar de Cissokho, pois não?

Contrato até 2018
À partida, o FC Porto perdia qualidade nos laterais para esta época. Há uma diferença entre ter dois laterais de seleção brasileira vendidos ao Real Madrid e à Juventus, por mais de 55M€, e entre contratar um lateral que após 8 anos de Benfica só teve convite de um rival (Maxi) e outro que na época passada estava na segunda liga inglesa (Layún). Mas não foi, de todo, por Layún e Maxi que o FC Porto fez uma má época.

A primeira função de um lateral, logicamente, é defender bem. Mas os números no ataque são o que mais surpreende: Layún (26) e Maxi Pereira (14) tiveram intervenção direta em 40 golos do FC Porto. Danilo e Alex Sandro, há um ano, tiveram intervenção em 18. Ou seja, com Maxi e Layún, os laterais do FC Porto participaram em mais do dobro dos golos; mas na época passada o FC Porto teve a melhor defesa da Europa, enquanto este ano qualquer equipa, por maior ou menor vocação ofensiva que tivesse, conseguia marcar ao FC Porto com facilidade. Maxi e Layún tiveram as suas culpas no cartório defensivo, mas foram mais vezes solução do que problema.

Pergunta(s): Maxi e Layún devem manter o lugar para 2016-17? Quem deverão ser as alternativas nos corredores?

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Análise 2015-16: os guarda-redes

Podemos regressar ao início da época e a uma frase d'O Tribunal do Dragão que na altura gerou alguma discórdia: a de que «desportivamente, Iker Casillas não faria uma grande diferença no FC Porto».

Esta afirmação resultou em muita confusão em alguns leitores. «Então Casillas não é melhor do que Fabiano!?» Sim, claro que é. «Então como é que desportivamente não vai fazer diferença!?» Simples, entendendo o que é o papel de um guarda-redes do FC Porto no campeonato português.

Casillas, 35 anos
Voltemos por um momento a 2014-15. No espaço de 6 meses, o FC Porto perdeu primeiro Helton, por lesão, e depois Otamendi, Fernando e Mangala. E mesmo com o contestado Fabiano nas balizas, conseguiu sofrer apenas 13 golos, sendo a melhor defesa de toda a Europa.

Este ano, já sem o contestado Fabiano mas com o ícone Casillas na baliza, o FC Porto sofreu 30 golos. Mais do dobro da época passada (tema debatido aqui), e a terceira pior defesa da história do clube numa liga a 34 jornadas. Quando O Tribunal do Dragão opinou que, desportivamente, Casillas ou Fabiano na baliza não fariam muita diferença, foi precisamente a pensar nisto: porque o modelo de jogo e os defesas do FC Porto têm tanta ou mais influência do que o guarda-redes.

O FC Porto já teve grandes guarda-redes, já ganhou muitos títulos. Mas houve algum título que tivéssemos ganho sobretudo graças a um guarda-redes?

Há quem diga que o FC Porto sofria poucos golos devido a uma posse de bola estéril de Lopetegui. Os mitos nunca resistem aos números: com José Peseiro (e com o agravamento de o mercado de janeiro ter deixado o plantel pior do que estava) a equipa piorou objetivamente em tudo. Não marca mais golos, sofre mais do dobro, remata menos, permite que os adversários rematem mais, cria menos ocasiões de golo e falha mais passes. Ora a tal posse de bola estéril, além de permitir que o FC Porto atacasse e marcasse mais, dava uma segurança defensiva que o FC Porto nunca teve com José Peseiro. Aliás, em dezembro Casillas até era o guarda-redes menos batido das ligas europeias. No mês seguinte começou a derrocada, com a troca de treinadores e o enfraquecimento do plantel, e a partir daí foi sempre a descer.

Que culpas se podem enquadrar aqui em Casillas? Poucas. Porque fez o que por norma os guarda-redes do FC Porto fazem no campeonato: ajuda a ganhar alguns jogos e comete erros que custam alguns pontos. Foi brilhante contra o Benfica e o Tondela, mas errou em Guimarães ou na Champions.

Desportivamente, Casillas pouco mudou porque há poucas coisas que um guarda-redes do FC Porto possa mudar. Para um guarda-redes, há uma diferença entre uma equipa com um meio-campo sólido e outra exposta a qualquer transição rápida; há uma diferença entre ter Otamendi e Mangala à frente e ter jogadores mais inexperientes e/ou limitados.

O impacto de Casillas seria sempre mais mediático e comercial do que desportivo. É claramente um bom guarda-redes, grandíssimo profissional (a maior surpresa para todos os que trabalham com ele), mas nunca iria ser por ele que o FC Porto ganharia o campeonato. Nem por Helton, nem por Baía, nem por Mlynarczyk, nem por Zé Beto, nem por Américo.

Iker Casillas é um guarda-redes como todos os outros, com qualidades e defeitos, e que ao longo de toda a carreira sempre fez sobressair as suas qualidades. Mas é, de facto, um guarda-redes muitíssimo caro para aquilo que rende desportivamente. E é por isso que, quando o R&C da época for publicado, é importante perceber se Casillas é um guarda-redes que de facto se paga a si próprio.

Ao que tudo indica vai continuar no FC Porto. Casillas e o clube já admitiram avançar para o ano de opção no contrato, até 2018, mas isso ainda não foi oficializado. Até porque o Real Madrid só comparticipa o salário de Casillas até 2017 (se Casillas fizer a época 2017-18 no FC Porto, o salário será na íntegra pago pela SAD), logo o salário teria que ser drasticamente reduzido para ficar no FC Porto.

Em Casillas vs. Emirates, vimos que a contratação de Casillas estava a ser muito benéfica financeiramente, mas é importante calcular os números finais no R&C. Até porque um clube que tem um guarda-redes com salário anual bruto de cerca de 5M€ não pode abdicar de um investimento num bom treinador, nem pode andar com a equipa coxa durante toda a época. A manta tem que dar para cobrir ombros e pés. E quando avaliamos um jogador como Marega em mais de 4M€, então a manta devia dar para cobrir Dragão, Aliados e a Ponte do Freixo. 

A primeira época de Casillas no FC Porto não deixa saudades, devido à ausência de títulos. Oxalá as coisas mudem no próximo ano, de preferência sem sofrer outra vez 30 golos. Nunca esquecendo que é o guarda-redes quem fica com os golos sofridos, mas nem Lev Yashin ou Vítor Baía conseguiriam sobreviver a tanta asneira na defesa esta época. O Casillas da Luz é um guarda-redes que ajuda a ganhar campeonatos, mas o FC Porto nunca ganhará campeonatos se precisar que o guarda-redes faça tantas defesas como as que fez nesse jogo.

A melhor forma de proteger a baliza não é ter um guarda-redes que defende tudo: é fazer com que o guarda-redes tenha que defender o menos possível.

Helton, 38 anos
E agora Helton, o capitão. Todos sabem que Helton, embora seja um jogador acarinhado e carismático, não tem um feitio fácil, pois detesta ser suplente (quem não detesta?). Esteve irrepreensível na Taça de Portugal... até à final, onde sofreu os primeiros 2 golos, não ficando bem na fotografia. Aos 38 anos, Helton dificilmente tirará o lugar a Casillas em 2016-17 - nenhum clube tem Casillas se não for para jogar. Tem mais um ano de contrato, por isso coloca-se a questão: uma última época como (mais que provável) suplente ou o adeus antecipado?

Helton tem um lugar cativo na história do FC Porto. Foram 18 títulos neste clube. Tudo dependerá do entendimento entre as partes. Quando ou se Helton quiser, seria certamente uma mais-valia integrá-lo nos quadros técnicos do clube. Mas se ainda entender que está em condições para jogar ao mais alto nível, está no seu direito.

José Sá, 23 anos
José Sá, conforme esperado, não chegou a jogar na equipa A, tendo sido apenas utilizado na equipa B. Tem que ser emprestado para, pela primeira vez na sua carreira, fazer uma época completa como titular de primeira liga.

José Sá já vai para o seu 5º ano de sénior e ainda não fez uma época completa e regular numa primeira liga. No FC Porto, a não ser que lhe seja garantido o lugar de 2º guarda-redes (com titularidade nas Taças e esporadicamente na B), não faz sentido continuar. Foi uma contratação, não um reforço

Raúl Gudiño teve a sua primeira experiência na primeira liga, pouco positiva. Deu dois ou três frangos que o marcaram no União da Madeira. Ainda assim, este foi apenas o seu primeiro ano de sénior, e a margem de evolução continua toda cá.

Gudiño, 20 anos
Ter um bom treinador de guarda-redes é essencial (Bruno Freitas, o treinador do União, teve como expoente máximo da sua carreira profissional a titularidade no Ribeira Brava). Já não vai contar como jogador formado no FC Porto, devido a este empréstimo, pelo que agora deve continuar a procurar-se um enquadramento de primeira liga (o Chaves já o pediu).

Na temática dos guarda-redes, deseja-se ainda que a nova equipa técnica inclua um treinador de guarda-redes de provas dadas, habituado a trabalhar com diversos guarda-redes, desde jovens, que precisam de evoluir, a mais experientes, que precisam de manter a forma física. Nada pode ser descurado.

Os guarda-redes ligados ao clube, mas que não iniciaram a época no FC Porto, serão analisados no post destinado aos emprestados.

Pergunta(s): Quem deve ser o número um e o 2º guarda-redes para 2016-17?

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Taça, André, Visão e Diogos

Perdi a conta a quantas vezes vi o Portugal x França de 1984. E por muito que já conheça cada detalhe do jogo de cor, sempre que Rui Jordão vira para 2x1 acredito que Portugal vai ganhar aquele jogo. Sei que Jean-François Domergue vai empatar o jogo e que Platini vai virar para 3x2 aos 119 minutos. Mas continuo a acreditar que Portugal vai ganhar aquele jogo, mesmo sabendo que não vai. Não por ingenuidade, mas por inconformismo perante uma eterna injustiça.

Muito André para pouco Porto
No Jamor, vimos algo parecido, no último minuto do prolongamento. Mas por mais que veja e reveja o lance, espero sempre algo diferente: ou que André Silva remate logo de pé esquerdo; ou que as pernas do André Pinto não apareceram; ou que Marafona escorregue; ou que o remate em arco saia para o segundo poste. Infelizmente, a bola acaba sempre nas mãos de Marafona. Injustiça para todos os portistas, sobretudo para o próprio André Silva, expoente máximo do que é ser Porto na final da Taça.

A época já terminou, mas há alguns aspetos a ter em consideração. A começar pela afirmação de André Silva, um jogador que há dois anos já podia preparar-se para assinar por outro clube. Não o fez porque não quis. Porque é portista, porque é um rapaz bem formado, porque honra e respeita a camisola.

André Silva resistiu a tudo até ter a sua oportunidade. Viu, por exemplo, o FC Porto contratar Suk e Marega em janeiro - e que jeito deram eles na final da Taça de Portugal. Violar o princípio mais básico de qualquer contratação - a vir, que seja melhor do que os que cá estão - foi tudo aquilo que o FC Porto conseguiu fazer no mercado de inverno.

Agora já todos têm grandes expetativas sobre André Silva - só surpreende quem não o acompanhada desde o seu percurso de formação. Na próxima época, é natural que já se comece a pensar num novo contrato - o atual é válido até 2019 e com uma cláusula de rescisão de 25M€. Felizes dias para António Teixeira da Silva, o intermediário da sua renovação. Intermediário, não empresário. A Promosport, no seu site oficial, diz que representa 3 jogadores do FC Porto (Verdasca, Fernando Fonseca e Rodrigo Soares). Não fala em André Silva.

Record, 10.09.2015
Mas no acordo de renovação de André Silva, assinado em novembro de 2014, Teixeira da Silva ficou com 10% do seu passe; e além desses 10%, foi atribuída uma mais-valia de 10% numa futura venda. Como estamos a falar de um produto da formação do FC Porto, a mais-valia a ser gerada seria sempre altíssima, pelo valor que se poupa em amortizações e mecanismos de solidariedade. Neste caso, tendo André Silva uma cláusula de 25M€, estamos potencialmente a falar da cedência de um valor até 5M€ a um intermediário pela renovação de contrato de um dos maiores talentos do FC Porto (e há ainda previsto o pagamento de 100 mil euros pela realização de 10 jogos - mínimo 45 minutos - por época). Na altura era sénior de primeiro ano e estava encostado, devido ao impasse na renovação. Assim que renovou, não mais deixou de jogar. Dá para parar de alienar os passes de jogadores da formação nas suas renovações de contrato, ainda antes de os miúdos começarem a jogar na equipa A?

Ainda sobre a final da Taça, e depois do Projeto Visão 611 ter voltado à ribalta, vemos a crueldade poética de o SC Braga ter ganho a final com dois centrais que deixaram o FC Porto quando o Visão 611 estava em vigor. Ricardo Ferreira, que em 2011 ia passar a sénior após ser campeão de sub-19, um portista dos nossos, não chegou a acordo para renovar - como André Silva poderia não ter chegado... - e foi para o Milan. Fez uma grande época no Braga e vai dar com naturalidade um salto na carreira, pois é central de equipa grande. E portista. Fica questão: quantos esforços foram movidos pelo FC Porto para renovar com Ricardo Ferreira?

O outro foi André Pinto, que era sub-19 de primeiro ano quando o V611 foi criado. Foi emprestado a 4 clubes diferentes até deixar, de vez, o FC Porto. O SC Braga, uma vez mais, aproveitou uma das muitas réstias do FC Porto. E enquanto o SC Braga ganhou a Taça com 2 centrais que deixaram o FC Porto durante o período do V611, o FC Porto perdeu a Taça por erros cometidos pelos seus defesas. No Museu temos o Espaço K. Mas o K já não parece ser de Kelvin, parece ser de Karma. 

Com isto, tomem lá dois nomes para o futuro: Diogo Leite e Diogo Queirós. Nos últimos anos, o FC Porto não tem aproveitado centrais tão bons como antigamente. Reparem que a palavra-chave é «aproveitado», não é «produzido». Afinal, o FC Porto até produziu centrais que são bons o suficiente para ganharem uma Taça de Portugal - e veremos quanto dinheiro vai valer já Ricardo Ferreira, mas é bem provável que valha mais do que Indi, Marcano e Maicon numa transferência. 

Futuro com D
Leite e Queirós acabam de conquistar o Europeu de sub-17. Diogo Queirós já está um passo à frente dos centrais da sua idade - é juvenil e já é titularíssimo nos juniores. Além de ser forte fisicamente, é o típico central que joga sempre de cabeçinha levantada. Diogo Leite, embora ainda não jogue pelos sub-19, teve o seu princípio de afirmação neste Europeu: se o viram perder uma ou duas bolas de cabeça neste Europeu, já foi muito. Muito rápido na antecipação. Temos aqui dois centrais para trabalhar para o futuro.

Do lado direito, já não há surpresas para Diogo Dalot. Foi chamado aos treinos por Lopetegui quando ainda era juvenil, e na altura o ex-treinador do FC Porto confidenciou que esse menino não enganava (a mesma reação de Paulo Fonseca quando chamou Rúben Neves pela primeira vez a um treino, quando tinha 16 anos). É o protótipo de lateral-direito moderno. Rápido, forte, com grande disponibilidade para subir pelo corredor e com golo. João Pinto não consegue olhar para ele sem sorrir.

Esta é mesmo a geração dos Diogos (Diogo Verdasca já poderia ter dado jeito esta época na equipa A, sobretudo face a todas as oportunidades que Chidozie teve). Na baliza, Diogo Costa. Juvenil de segundo ano, titular nos sub-19. Claro que há sempre exceções, mas os melhores guarda-redes, os de topo europeu, são aqueles que começam a jogar muito jovens em equipas principais - não aqueles que ao fim de 4 ou 5 anos de sénior ainda não conseguiram agarrar a titularidade numa equipa de primeira liga (por vezes não por falta de valor, mas de oportunidade). Diogo Costa está um degrau acima e precisa de ter um bom acompanhamento para os próximos anos. Uma palavra ainda para João Lameira, segundo ano de sub-17, com menos espaço no Euro, mas também é campeão europeu. 

Decisão da SAD
De volta à Taça, sem surpresa, a postura de Josué já foi criticada, numa reedição daquilo que foi dito sobre Tozé há 2 anos. E sem razão nenhuma para isso. Josué estava com a camisola do SC Braga, não era com a camisola do FC Porto. E estava com a camisola do SC Braga porque a SAD assim o decidiu, quando emprestou Josué a um clube que só sabe explorar positivamente o FC Porto, enquanto no Dragão nunca tivemos nada de bom oriundo de Braga. 

A culpa não é de Josué: é de quem decidiu emprestá-lo ao SC Braga. No FC Porto, formamos profissionais para darem tudo pela camisola que vestem. Josué estava com a camisola do SC Braga. Se o FC Porto fosse jogar contra o Watford, queriam que Layún deixasse de meter o pé, por estar a jogar contra o clube-mãe? Claro que não, nunca o perdoariam. Josué ganhou a Taça porque deixaram. Os insultos a Josué foram a única coisa lamentável de adeptos que apoiaram exemplarmente a equipa no Jamor. E depois de Pinto da Costa ter dito que Josué ia regressar a casa, veremos se é mesmo isso que vai acontecer...

O FC Porto estará pelo menos mais um ano sem ganhar títulos, e desperdiçou a hipótese de disputar uma Supertaça com o Benfica no início da próxima época. Não houve apenas injustiça, houve também consequência: em janeiro, em vez de reforçarem a defesa, foram buscar Suk e Marega, que nem jogaram no Jamor; se não fosse André Silva, a equipa talvez nem tivesse feito um golo; em sentido inverso, foi por erros defensivos que o FC Porto sofreu os dois golos que deram a Taça ao SC Braga.

Os 120 minutos da Taça de Portugal foram de uma tamanha injustiça; mas o desfecho da Taça de Portugal é uma consequência natural da gestão da época.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Rui Vitória não seria campeão no FC Porto

No futebol português, os treinadores são bestiais quando ganham e bestas quando perdem. Rui Vitória é apenas mais um exemplo. Em fins de outubro já se discutia a sua saída, que poderia muito bem ter sido carimbada à 11ª jornada, em caso de derrota em Braga. Perdeu 7 jogos na primeira parte da época, dos quais 4 clássicos, e à 8ª jornada levou 3x0 em casa do Sporting e já estava a 7 pontos da liderança. Isto depois de uma pré-época sem ganhar um único jogo. Acabou campeão.

No FC Porto, Rui Vitória não seria campeão. E o que está em causa nem é a valia técnico-tática do treinador, nem o aparo dado por Vítor Pereira e pelo sistema encarnado, mas sim algo mais.

Quando o Benfica estava a perder 3x0 com o Sporting na Luz, ficando já a 7 pontos da liderança e no 6º lugar, vemos uma grande onda de apoio ao treinador e à equipa no minuto 70. 

Ser protegido nas derrotas
Já quando o FC Porto estava a vencer a Académica por 3x0, subindo pela primeira vez à liderança isolada do campeonato nos últimos dois anos... Os adeptos decidem brindar o treinador com uma grande assobiadela, por ter preferido lançar um jogador em vez de outro. Os mesmos adeptos que assobiam ao primeiro passe falhado. Os mesmos que assobiaram Brahimi antes de este marcar o penalty no último jogo no Dragão, por preferirem que tivesse sido André Silva a marcar.

O Estádio do Dragão deixou de ser um estádio temido pelos adversários. Deixou de sê-lo porque os adeptos da casa pressionam mais o FC Porto do que os adversários. Vejam-se as intervenções de treinadores como Jorge Simão e Filipe Gouveia quando foram ao Dragão: explicaram que a intenção das suas equipas era aguentar até os adeptos do FC Porto começarem a assobiar e a pressionar os seus jogadores. E dizem isto sem rodeios, sem hesitação. 

Rui Vitória não seria campeão no FC Porto porque, em outubro, já teria mil e um pedidos de demissão. Não chegaria a terminar a época, tamanha que seria a pressão sobre ele. 

Quem não se lembra da primeira derrota de Paulo Fonseca no campeonato? Depois de perder em Coimbra, tinha 200 adeptos à espera no Dragão, com tochas e insultos. Estava a 2 pontos da liderança. Imaginem como seria se já tivesse perdido 7 jogos e estivesse no 6º lugar do campeonato (não desvalorizando o fator Liga dos Campeões e os empates, que numa perspetiva de um candidato ao título são quase tão negativos como derrotas).

Paulo Fonseca, apesar de tudo, ainda aguentou mais do que Vítor Pereira, que em setembro de 2011, depois de uma derrota com o Zenit, já era altamente contestado e insultado. E num passado mais recente temos Lopetegui, que à primeira derrota foi eliminado da Taça pelo Sporting; Rui Vitória também foi eliminado da Taça pelo Sporting, mas o tratamento foi bem diferente. Antes de Lopetegui perder o seu primeiro clássico já Rui Vitória tinha perdido 4.

Os treinadores do Benfica, ao contrário dos do FC Porto, não são sob eterno escrutínio e crítica por parte da imprensa. Os do Sporting também são mais protegidos, embora sem comparação com o Benfica. Quem treina o FC Porto, à primeira derrota, fica marcado. O problema é que grande parte da massa adepta, ao invés de combater esse fenómeno, contribui para ele.

O sentido crítico tem que estar sempre presente. Mas uma coisa é fazê-lo no final dos jogos, de forma sustentada e legítima. Outra é pressionar a própria equipa ao longo dos 90 minutos, começando bem cedo a assobiar os jogadores. O FC Porto pode ter jogadores mais ou menos talentosos, mas de certeza que nenhum deles quis deixar de singrar no FC Porto. A diferença entre o razoável jogador e o bom jogador está, muitas vezes, na força anímica que lhe é transmitida. Até Rui Vitória Carlos Carvalhal percebeu isso

Na última época, vimos o treinador do Benfica aplaudido na hora da derrota e o do FC Porto assobiado na hora da vitória. Em novembro, foi notícia que um grupo de adeptos do Benfica forçou a entrada no Seixal para dar um aperto aos jogadores. Coincidência ou não, depois desse aperto o Benfica ganhou 22 de 24 jornadas, e a única que perdeu foi graças à grande exibição de Casillas na Luz.

Quando falamos em aperto, não é intimidação, nem insulto. Esses só merecem repúdio. Por aperto entenda-se deixar uma mensagem clara aos jogadores, de que exigimos esforço máximo da parte deles, e que os adeptos só estarão com eles se sentirem esse esforço. Por outro lado, se um plantel sabe que os adeptos e até membros do próprio clube estão contra determinado treinador, esse treinador perde força sobre o plantel. 

Rui Vitória esteve sempre protegido. Uma questão: quantas vezes ouviram Rui Costa falar publicamente durante esta época? Bastou uma: em novembro, para dizer que em Rui Vitória não se tocava. Quem, no FC Porto, poderá fazer esse papel, de declarar confiança num treinador na hora da derrota? É que falar na hora da vitória é fácil e pouco necessário. 

Mobilizar os adeptos: uma necessidade já para a próxima época
Há outra questão que deveria merecer mais preocupação por parte do FC Porto: a capacidade de mobilizar os seus adeptos. O Sporting, 3º força do futebol português, conseguiu levar mais 120 mil adeptos ao seu estádio do que o FC Porto, tendo uma média de ocupação de 78,07%, contra os 64,48% do FC Porto.

Poderão dizer que isso deve-se ao facto de o Sporting ter lutado pelo título até ao fim, enquanto o FC Porto ficou fora da luta mais cedo. Nada mais errado. Na grandiosa época de 2010-11, em que o FC Porto varreu tudo, tivemos uma média de 35 379 adeptos/jogo. Na época, seguinte, baixou para 33 574. E na última época do tri, a média baixou ainda mais, para 28 205. Como se explica que o FC Porto, em qualquer uma das épocas em que foi campeão, tenha menos adeptos do que o Sporting (39 mil por jogo esta época), que não ganhou nada além de uma Supertaça?

Até 2013, o FC Porto teve sempre, sempre mais adeptos do que o Sporting. Desde o golo de Kelvin, a tendência inverteu-se, e agora o Sporting leva mais gente ao seu estádio, com a maior taxa de ocupação do nosso futebol (78.07%). Isso explica-se pelo pouco empenho do FC Porto em mobilizar a sua massa adepta. Não vemos incentivos suficientes à criação de novos sócios, mais promoções na venda de bilhetes, mais iniciativas de proximidade clube-adeptos. 

Por que não propor-se ao desafio de, a partir da próxima época, o FC Porto tentar atingir a média de assistências de 40 mil adeptos? De certeza que mais promoções na venda de bilhetes não vão empobrecer a SAD, na medida em que as receitas de bilheteira não representam uma grande fatia nas receitas operacionais. Se fosse um fator decisivo, então bem que se podia tentar acabar com a venda ilegal de bilhetes em redor do Dragão, esse sim um fator que lesa o clube financeiramente. A capacidade de mobilizar os adeptos é, também, um espelho da gestão do clube; e se há cada vez menos adeptos portistas nos estádios, nenhum administrador da SAD pode estar satisfeito ou sequer rever positivamente o seu trabalho neste campo. 

Pressionar o rival, não o FCP
Por outro lado, os adeptos do FC Porto devem propor-se ao desafio de voltarem a fazer do Estádio do Dragão um estádio temido. Porque a identidade de um estádio não está no seu treinador, nem nos jogadores: está nos adeptos!

Quando pensam no estádio do Dortmund, a primeira coisa em que pensam não é no Reus nem no Aubameyang: é nas coreografias dos adeptos, na muralha amarela. Quando pensamos em Anfield Road, não pensamos em outra coisa senão naquele You'll Never Walk Alone. Quem pensa no Estádio do Dragão, tem que pensar que, além de ter que defrontar o FC Porto, ainda tem que levar com a pressão de milhares de adeptos que vão puxar pela sua equipa até ao final e tentar perturbar o adversário ao máximo.

Fica o desafio. O FC Porto tem que voltar a ser um clube temido, e isso começa pela postura que os adeptos vão ter perante o treinador e os jogadores ao longo dos 90 minutos de cada jogo, nunca esquecendo que tem que haver retribuição do outro lado. 

Não será no Dragão, mas nos próximos 2 jogos oficiais o FC Porto pode ganhar 2 troféus. Não há melhores circunstâncias para (re)começar. Voltemos a ser um clube uno, temido e cujos adeptos lutam ao lado da equipa até ao minuto 90, ou até ao minuto 92. Um clube de raça e orgulho. Um clube onde qualquer Rui Vitória conseguisse ser campeão.

terça-feira, 17 de maio de 2016

Uma questão para a France Football e um prémio

Portanto, Pinto da Costa quer Vítor Pereira (perante a eventual indisponibilidade de Jorge Jesus), Antero Henrique quer Marco Silva... e Alexandre Pinto da Costa quer Paulo Sousa. Foi isto que a France Football escreveu. Uma notícia que merece particular curiosidade por ter sido escrita por Nicolas Vilas Boas, um jornalista luso-descendente que tem alguma proximidade com o FC Porto.

E disto, aquilo que mais curiosidade desperta não é saber quem vai ser o treinador do FC Porto para 2016-17. É saber por que raio Alexandre Pinto da Costa teria opinião nesta matéria.


De um lado temos o presidente do FC Porto, que tem sempre a palavra na escolha do treinador. Do outro temos o recentemente promovido a membro do Conselho de Administração e diretor-geral da SAD. E por fim temos um empresário que, de acordo com o próprio Pinto da Costa, é um «agente independente», que exerce a sua função de empresário livremente e sem qualquer ligação ao FC Porto. 

Então, temos que perguntar à France Football: por que haveria de interessar a opinião de Alexandre Pinto da Costa sobre o futuro treinador do FC Porto? Vão perguntar aos restantes 200 e tal empresários do futebol português quem é que eles gostariam de ver no FC Porto? Seria um exercício de rigor. Se a opinião de Alexandre Pinto da Costa é importante, também deveriam perguntar a todos os outros empresários que estão registados na FPF. Uma questão de coerência. 

Neste momento, discutir sobre quem será o futuro treinador do FC Porto não é mais do que especulação. Há dois anos, passou-se o mês de abril a debater a sucessão de Luís Castro, enquanto Lopetegui já andava no Dragão a ver os jogos e a tirar notas. 

Que se repita a história, até porque por esta altura a SAD já tem que saber se José Peseiro fica ou não. Pinto da Costa disse, e bem, que nenhum treinador pode estar dependente de uma final de uma Taça de Portugal, pela imprevisibilidade que 90 minutos podem ter. É verdade. Mas isso serve para o bem e para o mal. Jesualdo Ferreira acabou 2009-10 a ganhar 10 jornadas consecutivas e conquistou a Taça de Portugal, mas a decisão já estava tomada. Que volte a ser o caso com José Peseiro. 

Entretanto, algo que merece a nossa curiosidade. Nuno Vicente está longe de ser um dos melhores árbitros assistentes em Portugal. Na verdade, tem sido dos piores. Depois de ter sido 23º classificado em 2013-14, na última época foi o 38º classificado. 
Nuno Vicente

Mas Nuno Vicente tem sido injustiçado e tem uma visão periférica. Por exemplo, no Benfica B-Freamunde, em que o Benfica B desceria de divisão se não ganhasse, conseguiu ver o que mais ninguém viu: quando o marcador estava 0x0, disse a Bruno Paixão que a falta que ele tinha assinalado fora da grande área era, afinal, penalty. E reparem que ele nem sequer era árbitro auxiliar: era quarto árbitro. O bandeirinha não sugeriu a Bruno Paixão que mudasse a sua decisão, mas o 4º árbitro, que nem sequer acompanhava a jogada, decidiu fazê-lo. Brilhante. 

Hoje recebe o prémio merecido: foi nomeado para a final da Taça da Liga... como árbitro assistente. E adivinhem quem será o 4º árbitro: António Godinho, precisamente um dos assistentes no Benfica B-Freamunde. Mas o árbitro, desta vez, não é Bruno Paixão... mas sim o wonderboy Fábio Veríssimo, um dos internacionais promovidos por Vítor Pereira contra as diretrizes da FIFA.

Vítor Pereira merece deixar o Conselho de Arbitragem em ombros. Há quem diga que merece um lugar no Museu Cosme Damião. Discordemos: merece é que abram o Museu Vítor Pereira, e que metam lá os troféus conquistados pelo Benfica durante o seu mandato no CA. 

domingo, 15 de maio de 2016

Aperitivo intragável, almoço satisfatório

Uma manhã que nos fez recuar até 2001. O FC Porto já não ia chegar chegar ao título, pois o Boavista já era campeão, e dentro de uma semana havia final da Taça de Portugal, mas houve um gostinho especial naquela vitória por 4x0. Deco fez um hat-trick nesse jogo, na altura ainda na primeira parte, e deixou água na boca dos adeptos para o futuro. Aqueles quase 50 mil adeptos nas Antas sabiam que estava ali um jogador especial, que iria dar muitas alegrias ao FC Porto.

Ontem, também com um 4x0 ao Boavista em fim de época, vimos o mesmo: a estreia a marcar de André Silva. Resistiu, insistiu, felizmente teve uma aposta firme na equipa A e marcou aquele que se espera ser o primeiro de muitos golos. Ele merecia, e quem acredita nele também. 

No futuro não nos lembraremos desta vitória sobre o Boavista, mas oxalá que recordemos sempre este primeiro golo de André Silva. Que seja o dia em que começou a história de um grande goleador do FC Porto. 


Miguel Layún (+) - De regresso aos grandes jogos. Disponibilidade física e tática para tudo, fez um belo golo, aproveitando a sua capacidade de aparecer em zonas interiores, e ainda criou quatro situações de golo. Defensivamente, esteve quase sempre bem - é certo que Layún não é um lateral que defenda muuuuiito bem, mas quantos jogos é que o FC Porto deixou de ganhar por falhas defensivas de Layún? Em época de estreia num grande clube, esteve diretamente envolvido em 26 dos 88 golos que o FC Porto marcou. Ou seja, teve intervenção direta em 29,5% dos golos do FC Porto esta época. De certeza que já ajudou a resolver muitos mais jogos do que aqueles que complicou. José Mourinho disse um dia que com 11 Azpilicuetas ganhava a Liga dos Campeões. Com 11 Layúns, o FC Porto seria campeão. Mesmo que fosse a ganhar 5-4 em todos os jogos.

Iván Marcano (+) - Regressou a grande nível na semana anterior e voltou a fazer uma grande exibição. Na melhor altura possível, pois necessitaremos de um grande Marcano no Jamor. No total, Marcano teve 16 ações defensivas e foi o principal responsável pelo facto do Boavista não ter marcado. Está também a deixar clara a sua posição na luta pela continuidade no FC Porto. 

Entrada de Brahimi (+) - De uma primeira parte sofrível a uma segunda parte de qualidade, muito graças a Brahimi. Dinamizou por completo o ataque do FC Porto, desequilibrando a defesa do Boavista, marcando e assistindo. Foi o elemento mais perigoso da equipa desde a sua entrada em campo. É caso para dizer: que falta nos fez ter mais vezes este Brahimi. 

André Silva (+) - Continua a destacar-se, acima de tudo, pela capacidade de trabalho e pela forma como desgasta os centrais, sem nunca perder o sentido coletivo - assistiu Layún para o 2x0. E aqui, diga-se, José Peseiro fez bem em não designar André Silva para o bater. Por um motivo simples: André Silva merecia um golo dele, um momento dele, e não uma grande penalidade oferecida por favor. Além de não ser propriamente um exímio marcador de penaltys, André Silva estava a acusar alguma ansiedade para fazer o seu primeiro golo. Se falhasse o penalty, os efeitos negativos seriam maiores do que se os positivos se o marcasse. Felizmente, quase por justiça divina, marcou logo de seguida, num gesto onde revelou sangue frio e inteligência na movimentação. O FC Porto tem uma formação pronta a dar frutos, mas não basta dar 2 ou 3 jogos. André Silva é um exemplo disso. José Peseiro esteve bem no seu caso, ao não desistir do jogador. Oxalá continue a retribuir no Jamor.

Destaque ainda para mais um jogo sólido de Danilo Pereira e Maxi Pereira e para a entrada de Rúben Neves - com ele no meio-campo, a eficácia de passe subiu 4%, ao mesmo tempo em que a fluidez na troca de bola aumentou, e o FC Porto teve mais 8% de posse de bola. 







A primeira parte (-) - Foi sofrível ver a incapacidade do FC Porto em criar lances de perigo. Na primeira parte, apenas um remate na direção da baliza do Boavista, que felizmente deu golo. Corona e Varela passaram quase por completo ao lado do jogo, sem nunca criar grandes lances de perigo, e André André está longe do nível que apresentou na primeira metade da época. Contra o SC Braga, 45 minutos desta envergadura podem custar uma Taça. 

E agora? Agora o FC Porto, nos próximos dois jogos oficiais, pode ganhar dois troféus. Não há muitas equipas que disponham desta conjuntura. Há que aproveitá-la.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Plano B

Uma equipa B, com média de idades sub-20, ganhar a longa e extremamente competitiva segunda liga, onde a experiência tem um grande grau de importância, é um feito histórico. Mas não é um acidente. 


Não podemos falar de um Leicester, de um David contra Golias. O FC Porto B tem um dos maiores orçamentos da segunda liga, senão o maior. Os seus jogadores têm excelentes condições de treino e logísticas, a todos os níveis. Teoricamente, o FC Porto B deveria ser sempre candidato a lutar pelo topo da segunda liga. 

Por exemplo, o Freamunde, equipa que luta pela subida de divisão, disse que o seu orçamento para esta época é de 750 mil euros. Se tivermos em conta que só 50% do passe de Víctor García, o lateral direito da equipa B, custou 1,8M€, já temos uma ideia de quão afortunado é o investimento do FC Porto na sua equipa secundária quando comparado com os demais clubes.

A equipa B significou, a partir de 2012, a oportunidade de passar a apostar a médio prazo em mais jogadores da formação, o que talvez permitisse uma redução da folha salarial. Não foi ainda, de todo, o caso. Nas quatro épocas anteriores à criação da equipa B, a média salarial anual foi de 46,59M€. Nas quatro épocas seguintes à criação da equipa B, e contando com a projeção orçamental para 2015-16, a média aumentou para 60,44M€. Estes quase 15M€ de aumento por ano não se devem, certamente, inteiramente à equipa B, mas mostram que ter a equipa secundária não inverteu o despesismo na equipa A (tendo também em consideração que ter uma equipa B, com mais 25 jogadores com contrato profissional, implica um aumento óbvio de custos; mas não de quase 15M€, sobretudo tendo em conta que desde 2012 só o golo de Kelvin rimou com campeão; e continuar a ter 30 emprestados não ajuda).

Agora é tempo de pensar em colher os frutos deste trabalho. Uns vão fazer a pré-época na equipa A, outros serão dispensados, outros emprestados e outros continuarão na equipa B. A verdadeira valia da equipa B não estará em ganhar a segunda liga, mas sim em lançar jogadores que ajudem a equipa A a voltar aos títulos. Vamos ao quem é quem (contando apenas os jogadores que terminam a época na equipa B, pois os emprestados terão o seu próprio post).
Sem espaço

Começando pelos guarda-redes e pelo talismã Andorinha, que foi campeão em todos os escalões pelo FC Porto. Jogou pouco, por culpa de José Sá e Gudiño, mas foi apenas o seu primeiro ano como sénior e deve prosseguir a sua evolução na equipa B. Contrariamente, Caio tem que sair. Vai para o seu 4º ano de sénior e foi sempre guarda-redes suplente na equipa B, onde fez apenas 4 jogos em 3 anos. 

José Sá (tecnicamente jogador da equipa A, mas como só jogou pela B é aqui avaliado) acabou por tornar-se com naturalidade o titular da equipa B, onde não pode ficar para a próxima época. Vai para o 5º de sénior sem nunca ter sido o titular na primeira liga (chegou a alternar o lugar com Salin no Marítimo, mas sem a consistência desejada). Ficar na equipa A para ser suplente ou terceiro guarda-redes não ajudará à sua evolução, por isso o empréstimo é o mais adequado; a resolução dos casos de Helton, Casillas (que diz que fica até 2018) e dos guarda-redes seniores emprestados ajudará a perceber um pouco o enquadramento que possa ter para a próxima época.

Na defesa, Víctor García está pronto para o salto. Três épocas como titular da equipa B é mais do que suficiente. Cumpriu sempre que foi chamado à equipa A e certamente que terá a oportunidade de jogar numa primeira liga na próxima época. Se será no FC Porto, talvez só a pré-época o possa esclarecer. É um valor seguro para o futuro.

Ronan vai sair pela mesma porta por onde entrou, sendo daquelas contratações que ninguém chega a perceber. Rodrigo Soares, que até foi dar uma perninha ao lado esquerdo da defesa após a saída de Rafa, tem jogado com regularidade nas últimas semanas, mas dificilmente será o suficiente para justificar a sua continuidade no FC Porto, até porque já tem 23 anos e pouco ou nada mostrou na carreira até ao momento.

O futuro atrás
Diogo Verdasca deu mais um passo na sua evolução, que pode muito bem terminar com a afirmação de central da equipa A. Após a saída de Maurício e a promoção de Chidozie agarrou o lugar na equipa B (não é descabido imaginar que Verdasca fizesse tanto ou melhor do que Chidozie nas oportunidades que este último teve, mas foi uma escolha de Peseiro). Para o segundo ano de sénior, deve continuar na equipa B.

Palmer-Brown está emprestado pelo Kansas City, e desconhecem-se os termos que poderiam permitir ao FC Porto comprar o jogador. Mostrou muitas coisas interessantes, embora só tenha chegado em fevereiro, e a sua continuidade por pelo menos mais um ano pode muito bem ser ponderada. Aliás, o Kansas City anunciou que o jogador seria emprestado até ao fim de 2016. Como não faz sentido ter um emprestado que pode sair a meio da época, o FC Porto terá que rever a sua situação no fim da época. A América do Norte é um mercado pouco explorado pelo FC Porto e o Kansas City é um clube que costuma vender barato, por isso a sua continuidade deve ser avaliada.

Vamos ao meio-campo. Pité, também muitas vezes utilizado a defesa-esquerdo por Luís Castro (uma invenção melhor do que Kayembé, mas continua a parecer ser no meio-campo que Pité mais pode ter a dar), teve uma lesão que praticamente o fez terminar a época em janeiro. Mas até então, já mostrava alguns problemas de consistência exibicional, o que fez com que nunca conseguisse fazer 3 jogos seguidos a titular. O 2º ano de equipa B não foi o desejado, apesar de ter tido números muitíssimo interessantes (faz um golo/assistência a cada 82 minutos). É um jogador para continuar a merecer a atenção do FC Porto, pelo menos mais um ano.

Nassim Zitouni, emprestado pelo Vitória de Guimarães e que chegou em janeiro, pouco ou nada mostrou. Foi, tal como Cláudio Ribeiro (o FC Porto aparenta ter extremos mais talentosos nos seus quadros), um jogador que chegou através da MNM Sports (a empresa de Fernando Meira e Pedro Mendes). Ambos dificilmente caberão nos planos do FC Porto. 

Rui Moreira, recuperado da grave lesão sofrida no último ano, teve uma boa série de exibições entre fevereiro e abril. Será natural que continue na equipa B. Sérgio Ribeiro teve um papel secundário no seu primeiro ano de sénior, sendo quase sempre o suplente que entrava para os últimos minutos. Há quem defenda que o seu posicionamento em campo deve ser reconsiderado, recuando no corredor. Ficar na equipa B pelo menos mais um ano seria o ideal.

Haykeul Chikhaoui chegou a meio da época e não se conseguiu adaptar à equipa a tempo de ter um papel importante em 2015-16. É provável que avance para o segundo ano de equipa B, por ter mostrado potencial considerável nos escalões jovens em França. Já Fede Varela foi opção secundária ao longo de toda a época, e pouco mostrou nas oportunidades que teve. Já Enrick Santos ainda nem sequer jogou na segunda liga, e vai sair pela mesma porta por onde entrou. 

Tomás Podstawski, uma das promessas da formação do FC Porto, está pronto para o salto, pois já não está a evoluir na equipa B. Não pode continuar na equipa B, já fez 3 épocas (sendo que na primeira ainda era sub-19), e aos 21 anos está pronto para jogar num patamar superior (melhor a 6 do que a central). E pode ser dito o mesmo sobre Francisco Ramos, com a ressalva de que em 2013-14 jogou apenas nos sub-19. Grande evolução no último ano, e é natural que tenha um lugar na pré-época (veremos em que medida os Jogos Olímpicos podem condicionar o seu caso). 

Um mini Moutinho
O passe de Omar Govea já foi comprado. O FC Porto costuma pagar caro por jogadores mexicanos, e desconhece-se se terá sido uma vez mais o caso, mas Govea justifica a continuidade no FC Porto. Tem tudo para singrar no futebol europeu: posiciona-se bem, boa qualidade de passe, visão de jogo, sabe sair a jogar e é incansável ao longo dos 90 minutos. Faz lembrar um pouco Moutinho.

João Graça ganhou lugar na pré-época, após uma temporada em cheio na equipa B. Depois do papel secundário que teve em 2014-15, foi um dos melhores e mais consistentes jogadores da temporada. É daqueles que não engana, de grande elegância técnica, que joga e faz jogar. Tem que melhorar a sua capacidade física, sem dúvida, mas está a dar garantias de futuro. Veremos como corre a pré-época, mas Graça já teria lugar em muitas equipas da primeira liga.

E agora o ataque, começando pelo nome que mais deu que falar: Ismael Díaz. Está emprestado e surgiram notícias de que o seu passe custaria 3M€ (lá meteram o Benfica ao barulho, sempre bom para inflacionar preços). Ora, o FC Porto não pode pagar 3M€ por Ismael. 

O preço da evolução
Expliquemos. O potencial de Ismael justificaria um investimento de 3M€? Sim. Mas o problema é este: Ismael atingiu este potencial por todo o trabalho que a equipa técnica do FC Porto desenvolveu com o jogador no último ano. O FC Porto tem que pagar um valor alto pelo próprio trabalho que fez no desenvolvimento do jogador? Questionável.

Em toda a sua história, segundo o Transfermarkt o Tauro só fez uma venda revelante: Luís Henríquez, para o Lech Poznan, por 70 mil euros. O FC Porto vai pagar 40 vezes mais por um jovem de 18 anos, que há um ano era um perfeito desconhecido (aliás, muitos já o tinham visto no Mundial de Sub-17 e no Sudamericano de sub-20)? Não faz sentido. Contratar um jogador no Panamá deveria, deve, ser barato. A não ser que o Tauro seja um negociador implacável, que pulveriza o recorde de maior venda da história do Panamá. Queremos ficar com Ismael Díaz, claramente. E neste momento, entre pagar 3M€ e ficar sem Ismael, provavelmente a maioria prefere pagar os 3M€. Mas se o FC Porto começar a pagar por jogadores que o próprio clube desenvolve, então a equipa B sairá (ainda mais) cara.

Leonardo Ruiz também está emprestado, e o seu contrato acaba esta época. Alguns golos, mas esteve na sombra de André Silva e revelou algumas dificuldades na dimensão física da segunda liga. Precisa de evoluir mais. A sua continuidade poderia justificar-se por um valor dificilmente superior a 1M€, o que já seria bastante generoso. De preferência pela totalidade do passe. Se for para ser o número 9 prioritário, então que se avance (Rui Pedro vai fazer o segundo ano de sub-19 ou começar já na equipa B?)

Gleison é outro caso de um emprestado que o FC Porto deve ponderar em contratar. Só há dúvidas quanto ao preço. Gleison pertence ao Portimonense, cuja maioria da SAD pertence a Teodoro Fonseca. Quanto custará comprar Gleison? Nas últimas semanas, baixou imenso de forma, e a segunda metade da época é incomparável ao que fez nos primeiros meses. É um produto totalmente inacabado, de capacidade técnica requintada mas com as limitações próprias dos extremos brasileiros. Se não for caro e não for para ser tratado como Kelvin - o FC Porto desistiu da sua evolução enquanto jogador desde o minuto 92 -, recomenda-se a sua continuidade. 

A crescer
Por fim, Rúben Macedo, também em primeiro ano de sénior e com potencial que recomenda a sua continuidade na equipa B. É, juntamente com Andorinha, Verdasca e Rui Moreira, o sobrevivente da equipa de lançamento do Visão 611. Há a destacar, isso sim, a relação entre o Projeto de Jogador de Elite e esta fornada de talentos que está a sair da equipa B. Rafa e João Graça são bons exemplos. Sobretudo após a crítica de Rui Moreira, tem havido uma tentativa de colar o Visão 611 a este título, quase sempre através do jornal O Jogo. Se isso assim é, então podemos deduzir que 6 jogadores da formação estarão na equipa A em 2016-17? É que o Visão 611 prometia isso todas as épocas. 

Falta elogiar a equipa técnica, começando por João Brandão. Já tinha passado pelas camadas jovens no FC Porto, chegou para adjunto e está para Luís Castro como Vítor Pereira esteve para Villas-Boas: o sucesso de um deveu-se muito aos métodos de treino do outro.

Quanto a Luís Castro, após 10 anos no comando da formação do FC Porto, e sem grandes proveitos que justificassem aposta e continuidade, atinge agora o resultado de maior sucesso. Enquanto treinador da equipa B, teve aquilo que os técnicos da equipa A raramente têm: estabilidade. Teve mais derrotas do que vitórias em 2014-15 (com apenas 17 vitórias em 46 jogos e uma diferença de golos de +2), mas poucos foram críticos para com o seu trabalho. Sobretudo porque a muitos pouco interessava a equipa B até ao último fim-de-semana. O seu trabalho na equipa B nunca pareceu estar particularmente articulado com os treinadores da equipa A. Sobretudo por ser difícil fazê-lo quando o treinador da equipa A, ao fim de 2 maus resultados, já tem a cabeça a prémio. Já Luís Castro, mesmo após uma época de maus resultados, mau futebol e escassa evolução de jogadores, nunca teve o seu lugar em perigo.

Não é fácil treinar uma equipa B e ser campeã com ela, logo tem que haver mérito. A equipa técnica perdeu jogadores em janeiro, teve muitas caras novas e sistematicamente há jogadores a irem às seleções ou à equipa A. Não se ganham títulos sem competência. Que Luís Castro teve e tem condições que mais ninguém teve, sem dúvida que sim. Tem as melhores condições de treino, o plantel (ou um dos) mais caro da segunda liga, e passou quase imune à crítica pelos maus resultados até esta época. E desta vez não insistiu num esquema com dois (por vezes até três) médios de caraterísticas defensivas, o que foi meio caminho andado para meter o FC Porto a fazer golos com grande regularidade (defensivamente a equipa foi sempre insegura, tanto que o FC Porto B tem uma das piores defesas da parte superior da tabela, também porque houve muitas alterações no setor defensivo). 

Luís Castro tem contrato por mais um ano e fala-se no interesse de equipas da primeira liga. Se de facto existir, o FC Porto não deve colocar entraves à sua saída. Se quiser ir, que o FC Porto assim o permita. Sai como campeão e terá a oportunidade de mostrar, noutro contexto, a sua valia. Caso contrário, é natural que os resultados atingidos esta época justifiquem a sua continuidade. 

Pergunta(s): Que jogadores da equipa B têm lugar no FC Porto em 2016-17?

PS: Na sondagem sobre quem mais se destacou na equipa B, foram considerados apenas os 20 jogadores mais utilizados esta época. Maurício foi excluído, por ter saído em janeiro e não pertencer ao FC Porto. Podem escolher mais do que um jogador.

domingo, 8 de maio de 2016

Tração dianteira

Um raro jogo onde o FC Porto se soube adequar às circunstâncias, responder às dificuldades e em que efetivamente se viu que o intervalo serviu para mudar alguma coisa. Mais um golo sofrido, mais uma reviravolta e uma vitória que não servirá para mais do que tentar restaurar o moral da equipa para a final da Taça.

Não se pode necessariamente falar em preparação para o Jamor, pois Peseiro mudou sete jogadores de um jogo para o outro, mas foi interessante ver a resposta de alguns jogadores e o regresso de soluções importantes para a final da Taça. 

A primeira parte não foi boa, mas na segunda o FC Porto teve aquilo que muitas vezes faltou esta época: pragmatismo e sentido prático. O FC Porto teve 70% de posse de bola na primeira parte, mas só rematou 5 vezes e só criou uma situação de perigo na grande área do Rio Ave.

Na segunda parte, o FC Porto fez menos 34% de passes do que na primeira e até teve menos posse de bola do que o Rio Ave (49%). Mas rematou mais vezes (10), criou cinco situações de finalização na grande área e foi muito mais rápido nas transições. Aproveitou o balanceamento de um Rio Ave que precisava de ganhar e que, também por ser treinado por um dos melhores treinadores do nosso campeonato (mais cedo ou mais tarde Pedro Martins vai treinar um grande, resta saber se o fará na altura e circunstâncias adequadas), é uma equipa que assume o jogo quando joga em casa. 

Uma vitória que teria sabido bem noutras circunstâncias, mas que neste caso é apenas um risco em mais uma jornada para o final de um campeonato que nunca será de boa memória. 


Sérgio Oliveira (+) - Acompanhou a má primeira parte da equipa, mas na segunda o seu rendimento melhorou. Usa e abusa dos disparos de meia distância (7 tentativas), tanto que lá conseguiu fazer um belo golo. Falha demasiados passes para um médio do FC Porto (eficácia de 78%), mas isso também se justificou por ter tentado alguns passes de ruptura, sobretudo pelo jogo mais direto que o FC Porto fez na segunda parte. Não mantém a intensidade ao longo dos 90 minutos, mas ainda se destacou em algumas ações defensivas, com 4 recuperações de bola. 


Iván Marcano (+) - Bons olhos vejam o seu regresso. Pelo ar é tudo dele, e esteve muito bem antecipação, sem inventar e sempre tentando cortar os lances da forma mais simples e prática possível. É neste momento o melhor central do plantel, ou pelo menos aquele que dá mais garantias quando está em campo. E isso reflete-se na estatística, com Marcano a ter a maior percentagens de duelos aéreos (61,1%) e outras situações defensivas (58,7%) do plantel (Maicon era o central com maior eficácia e números dos três grandes...). Por outro lado, Marcano fica atrás de nomes como André Pinto, Boly, Coates, Lisandro ou Rúben Semedo. Isso já não é uma crítica a Marcano, mas sim ao nível dos centrais do FC Porto. 

Outros destaques (+) - Sem problemas na defesa, Maxi Pereira esteve sempre disponível para o ataque e conseguiu fazer mais uma assistência, a sua 11ª no campeonato (juntos, Danilo e Alex Sandro fizeram 8 na época passada). Varela fez mais um jogo em que se destacou mais nas ações defensivas (8 recuperações!) do que propriamente no ataque, mas acabou por fechar as contas do jogo. André Silva voltou a distinguir-se pela entrega e pela forma como desgasta as defesas adversárias, embora saiba que nenhum ponta-de-lança segura a titularidade sem golos. Se quiser estrear-se a marcar no Jamor não será, de todo, um problema.


Fosse como fosse (-) - Não interessa se seria um pontapé de bicicleta, uma carambola, uma Mano de Dios ou um belo remate como o que Postiga acabou por fazer: a bola tinha que acabar, de alguma forma, na baliza do FC Porto. O remate de Postiga foi muito bom, mas foi apenas mais um jogo em que uma equipa, seja de que forma for, consegue fazer o golo da ordem contra o FC Porto. São já 25 golos sofridos esta época, mais do dobro da época passada, e não se via uma defesa tão permeável desde os tempos de Octávio Machado. Poderíamos dizer que ninguém tem culpa (exceção à perda de bola infantil de Brahimi e um posicionamento algo comprometedor de Helton) que Postiga tenha rematado com tamanha inspiração, mas o problema é que isto não foi um golo raro: foi apenas mais uma prova de que qualquer equipa, seja de forma hoje, lá consegue marcar ao FC Porto. E uma reviravolta numa final da Taça não é a coisa mais fácil de se fazer.

PS: O FC Porto B conseguiu vencer a Segunda Liga, sendo a primeira equipa B a ganhar uma competição em Portugal, e a segunda na Europa, depois do Real Madrid Castilla. Obviamente que o objetivo de uma equipa B não é ganhar o campeonato, mas sim preparar jogadores para a equipa A, por isso só mais à frente veremos os frutos saídos desta conquista. Mas é um prémio justo e meritório para o trabalho desempenhado por todos os profissionais do FC Porto B, que a seu tempo merecerão o seu próprio post, naturalmente. Parabéns, miúdos: ganhar hoje para preparar o FC Porto para as vitórias de amanhã.