segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

A Clockwork Orange

Sérgio Conceição e os seus drugues continuam a semear o pânico nas balizas adversárias e superaram a marca dos 100 golos em jogos oficiais, tornando-se a quinta equipa da Europa a consegui-lo (depois de PSG, Man. City, Real Madrid e - quem diria? - Liverpool). Mas a nível interno, este registo só pode ter particular agrado acrescido para o treinador, que se tornou o timoneiro com a melhor média de golos no FC Porto ao fim de 40 jogos dos últimos 40 anos


Os 64 pontos em 24 jornadas (melhor só os 68 do FC Porto de Villas-Boas) mantêm o FC Porto numa boa posição para a reta final da temporada, mas vem aí o jogo mais importante da época: a receção ao Sporting. É um jogo de importância vital, pois em caso de vitória o FC Porto arruma um candidato da luta pelo título; por outro lado, um empate pode permitir ao Benfica passar a depender dele próprio na luta pelo Campeonato. As contas fazem-se jornada a jornada, mas não dá para secundar a importância de vencer na sexta-feira. 

O Portimonense não era, nem de perto nem de longe, um dos jogos mais complicados até ao final da época, mas a pressão e o cansaço são cada vez maiores e o calendário mais curto. A equipa respondeu com eficácia e controlo, mesmo perante a ausência de 5 dos 11 jogadores mais utilizados por Sérgio Conceição. Nunca deixamos de realçar que o plantel do FC Porto é curto, mas a uma equipa que goleia quando falta meia equipa titular... que mais se pode pedir?




Marega e o volume ofensivo (+) - Os melhores 45 minutos ao serviço do FC Porto. Marega começou com uma boa finalização, de primeira, a passe de Soares, e pouco depois acertou finalmente um cruzamento na I Liga, ao servir Otávio para o 2x0. A fechar a primeira parte, voltou a finalizar de primeira, novamente bem posicionado, após cruzamento de Maxi Pereira.

No entanto, houve algo a diferenciar a primeira parte de Marega dos demais jogos ao serviço do FC Porto: foi muito mais eficaz nas suas ações com bola. Só falhou um passe no primeiro tempo, acertou os 2 dribles que tentou, marcou nas 2 únicas vezes em que rematou e foi apenas desarmado uma vez pelos adversários, além de ter ganho 7 dos 10 duelos que disputou. Na segunda parte esteve bem menos ativo, mas foi a primeira vez ao serviço do FC Porto em que teve saldo positivo em todas as suas intervenções na partida.


E em semana de FC Porto x Sporting, podemos aproveitar para aprofundar um tema: Marega tem 20 golos, tantos quanto Bas Dost. Mas há um detalhe a fazer a diferença: o holandês já marcou 4 golos de penalty na Liga, enquanto o maliano não marcou nenhum desta forma (ainda que a Liga tenha oferecido um golo a Marega, ao considerar o auto-golo de Marcelo na jornada passada como sendo da autoria do avançado do FC Porto - e se é este o registo oficial, então há que segui-lo). Marega está, por isso, a marcar mais do que Bas Dost.

Como se explica isto? O holandês do Sporting é, sem dúvida, mais eficaz: tem 20 golos em 45 remates, enquanto Marega já rematou 78 vezes. A diferença? O FC Porto cria muitas mais ocasiões de golo e coloca muitas mais vezes a bola nos seus avançados do que o rival de sexta-feira. Bas Dost, no Sporting, é obrigado a ser mais eficaz, pois não recebe tantas vezes a bola. Já no FC Porto, seja com Aboubakar, Soares ou Marega, o volume ofensivo da equipa permite a criação de tantas ocasiões de golo que, eventualmente, elas acabam por entrar. Isto só valoriza o trabalho ofensivo realizado por Sérgio Conceição, um treinador que sempre dizia preferir o 1x0 ao 5x4. A verdade é que o FC Porto de Conceição é um dos mais concretizadores da história do clube. 

Já agora, um pouco de trivia no mesmo âmbito: o Estoril, o mesmo Estoril que muitos deram como desaparecido na quarta-feira, tem mais passes para finalização na I Liga do que o Sporting (246 dos canarinhos contra 224 dos leões). E o mesmo Portimonense que foi agora goleado pelo FC Porto também tem números mais favoráveis do que o Sporting, com um total de 231 ocasiões criadas. Logo, não é que os dois últimos adversários do FC Porto não tenham querido atacar: a equipa portista é que não deixou e impôs a sua superioridade.

Soares (+) - Vai fechar o mês de fevereiro com intervenção direta em 10 golos, igualando o mês de dezembro de Aboubakar. Assistiu Marega para o golo inaugural e respondeu com um belo golpe de cabeça a um cruzamento de Diogo Dalot. Teve algumas dificuldades nos duelos contra os defesas do Portimonense (foi desarmado 8 vezes), mas voltou a entender-se com Marega e a saber movimentar-se a toda a largura em cima da linha defensiva adversária. Não contava em janeiro, agora deixou todos apreensivos face a uma eventual lesão que o pode afastar do clássico.

Laterais (+) - Nervoso nos primeiros minutos, Diogo Dalot foi ganhando confiança e metros pelo corredor e brilhou na segunda parte, primeiro com um grande cruzamento para Soares, depois com alguma sorte a servir Brahimi. Bom, estamos habituados a que o lateral-esquerdo do FC Porto faça assistências - e cá estão mais duas. A questão é: vale a pena ficarmos entusiasmados com o futuro de Dalot? É que o seu contrato acaba em 2019, ainda não foi renovado, está a ser observado desde os sub-17 por grandes clubes mundiais e a questão de Rúben Neves não deixou nenhum adepto confiante face à forma como a SAD olha para a formação e para o futuro. Renovar, para ontem. Maxi Pereira também voltou a fazer um jogo certinho, com destaque para a assistência para Marega, e tem compensado com experiência aquilo que já lhe falta em frescura nas pernas. 

Fator Iker (+) - O guarda-redes espanhol esteve 422 minutos sem sofrer golos nas balizas do FC Porto, e a sequência só foi quebrada de bola parada, num lance muito consentido pela defesa. Tendo em conta que José Sá saiu da baliza do FC Porto com uma média de um golo sofrido a cada 92 minutos, isto, por si só, já revela a importância de ter o melhor e mais experiente guarda-redes no 11 titular. Casillas dá segurança, voz de comando e estabilidade à baliza e à defesa à sua frente. E por mais incrível que possa parecer, fez 5 defesas em Portimão - o guarda-redes da equipa da casa fez apenas uma, até porque o Portimonense rematou mais (13-8). 

Outros destaques (+) - Sérgio Oliveira e Herrera voltaram a controlar o meio-campo, desta vez com e sem bola. Não se aproximaram muito da grande área adversária, mas foram eficazes e seguros no controlo do miolo - o mexicano particularmente bem no passe e na circulação (95% de acerto), o português melhor nas ações defensivas (10 intervenções). Otávio foi aparecendo a espaços, mas lançou a jogada do 1x0 e marcou ele próprio um golo, tendo sempre procurado a bola ora à direita, ora mais em zonas interiores. 

Faltam 10 jornadas, 10 finais. Melhor ataque, melhor defesa, melhor futebol. Venha o Sporting.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Foi mesmo mais do que 45 minutos

«Até metia dó ver o Estoril em campo. Não conseguia dar dois toques na bola. (...) quando se prepara 45 minutos e não se consegue dar três toques na bola, não se ganha uma bola, não se ganha uma segunda bola (...)». Foram declarações muito, muito fortes as expressadas por Ivo Vieira no final da partida. Não é hábito vermos um treinador rasgar assim a sua equipa, a quente, no final das partidas. Mas houve um rasgão ainda maior: dentro de campo. 

O FC Porto devorou completamente o Estoril em campo. O Estoril não conseguiu fazer nada porque o FC Porto não deixou, com uma exibição que quase apetece a dispensa de circulação, espaço entre-linhas, profundidade e os conceitos habituais. Foi, simplesmente, um massacre.

Fortíssimos na reação à perda da bola, rápidos a definir e a atacar, sistematicamente a levar a bola à grande área e a criar ocasiões de golo. Lances ganhos pelo ar, pelo chão, no corpo a corpo, fosse como fosse. O FC Porto sufocou por completo o Estoril e personificou, na perfeição, a vontade em chegar ao título de campeões nacionais.

Eram precisos dois ou três golos e o FC Porto fê-los com facilidade. E nem havia assim tantas razões para duvidar que isso seria possível. Afinal, estamos a falar do segundo melhor ataque do FC Porto dos últimos 32 anos à 23ª jornada - melhor só o FC Porto de Robson, em 1996, que levava 62 golos, mais um do que os marcados até ao momento nesta época. Foram três, podiam ter sido muitos mais. Em 45 minutos, nos quais o FC Porto aplicou uma intensidade e criou uma quantidade de ocasiões que poucas equipas conseguem em 90'.

Cinco pontos de vantagem a 11 jornadas do final. Que significa isto? Nada. Basta o clássico com o Sporting correr mal e, aí, já damos ao Benfica a oportunidade para tentar chegar ao primeiro lugar quando os dragões forem à Luz. Por isso, nada está ganho, nada está garantido. Garantia apenas esta: é essencial vencer o Portimonense.




Iván Marcano (+) - O massacre ofensivo começou cá atrás: na forma como Marcano se fartou de lançar ataques com passes longos e bolas metidas na perfeição nos flancos. Inteligentíssimo a colocar as bolas ora em Marega, ora em Brahimi, ora ele próprio a ganhar alguns metros e a empurrar a equipa para o meio-campo do Estoril. Com os avançados do Estoril a darem pouco trabalho, serviu basicamente como o primeiro construtor de jogo.

Héctor Herrera (+) - Para a frente, para trás, para a direita, para a esquerda. Herrera pressionou, desarmou, cortou, passou, criou, sempre de dentes cerrados e em máxima intensidade. Foram 45 minutos de alta rotação nos quais Herrera esteve em todo o lado, inclusive na génese dos dois golos de Soares, depois de ele próprio ter ficado perto de inaugurar o marcador.

Soares (+) - Terceira jornada consecutiva a bisar, desta feita em dois lances oportunos, nos quais cumpriu a máxima dos pontas-de-lança: estar na grande área para o último toque. Mas não se limitou a isso, pois não raras vezes descaiu para os flancos, baralhou as marcações e criou ainda duas ocasiões de golo. Já leva sete golos em fevereiro, está com a confiança renovada e agarrou o lugar no 11, perante a ausência de Aboubakar das opções. Uma vez mais, Sérgio Conceição recupera um jogador que esteve de malas feitas. 


Estratégia (+) - De encontro aos parágrafos iniciais: o FC Porto engoliu por completo a equipa do Estoril, empurrando os 11 jogadores para a sua grande área e encontrando sempre superioridade em todos os momentos do jogo, quer nos duelos, quer nas bolas divididas, quer no jogo aéreo. A equipa soube levar a bola até à grande área do Estoril como nunca, tanto que, da totalidade dos 23 remates na partida, apenas um foi obtido de fora da grande área. A velocidade de execução, as constantes quedas dos avançados nos flancos e a pressão constante sobre o Estoril foram chaves para uma vitória importante, categórica e curta, tamanha que foi a superioridade do FC Porto. Negativo, muito negativo, só mesmo as lesões de Alex Telles e Corona.

Segue-se o Portimonense. Dá para fingir que são só 45 minutos?

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Muito mais do que 45 minutos

- 1955/56, Dorival Yustrich
- 1987/88, Tomislav Ivic
- 1995/96, Bobby Robson
- 2003/04, José Mourinho
- 2010/11, André Villas-Boas
- 2012/13, Vítor Pereira

O que têm em comum estes 6 treinadores? Foram os únicos, na história do FC Porto, a chegar à 23ª jornada da I Liga invictos. E foram todos campeões nacionais. 

Os 45 minutos que faltam disputar frente ao Estoril valem, por isso, muito mais do que um acerto de calendário, muito mais do que três pontos, muito mais do que uma vantagem reforçada sobre Benfica e Sporting.

São 45 minutos que podem recolocar o FC Porto num trilho de sucesso histórico e tornar Sérgio Conceição o 7º treinador da história do clube a atingir esta meta de invencibilidade. 

São 45 minutos para alcançar aquilo que só por seis vezes foi feito em 84 anos de história de Campeonato português. No pressure, kids

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Cinco no jogo mais importante da semana

Era essencial vencer, pelas mais variadas razões: para reabilitar o moral da equipa e dos adeptos depois da Champions, para responder à pressão dos rivais e para assegurar que, aconteça o que acontecer na Amoreira, o FC Porto vai iniciar a 24ª jornada da Liga na liderança isolada do Campeonato. Os 45 minutos frente ao Estoril vão, assim, definir se o FC Porto vai ganhar alguma margem de erro à entrada para a reta final do Campeonato. 


A receita terá que ser a mesma de hoje: uma entrada forte, agressiva, com uma linha de pressão alta e incansável na recuperação de bola e eficácia na hora de atirar à baliza. Não há margem/tempo para esperar pelo erro ou desgaste do adversário, pois tal não acontecerá, e se já estamos habituados a jogar contra equipas fechadas com 0x0 no marcador, neste caso tudo aponta para um Estoril a defender com tudo e todos. Nada que 45 minutos à Porto não possam resolver. 




Entrada a matar (+) - Brahimi a solicitar Alex Telles nas costas; o cruzamento para a grande área, já com três unidades para três jogadores do Rio Ave; Soares não domina da melhor forma (ou conta como assistência?), mas apareciam logo três jogadores à entrada da grande área para a sobra; Sérgio Oliveira arriscou o remate, mas também já tinha Maxi isolado pela direita. Uma jogada com diversas soluções e que resultou num golo madrugador, que deu tranquilidade ao FC Porto rumo à goleada. A equipa soube pressionar bem e praticamente não deixou o Rio Ave entrar com perigo na grande área, limitando a equipa visitante a remates de meia distância.

Sérgio Oliveira (+) - Abriu o marcador com um remate colocado, mas foi sobretudo nas tarefas mais recuadas que se destacou, ajudando a equilibrar a equipa com uma boa ocupação de espaço e contribuindo com 10 ações defensivas, além de ter ganho 8 dos 11 duelos que disputou. Não apareceu muito na circulação de bola (fez apenas um passe a cada 3 minutos), mas compensou com um bom sentido posicional e uma pressão forte sobre o adversário. Prolongou o bom momento no Campeonato. 

Soares (+) - O reforço de inverno da época passada parece querer repetir a dose. Teve intervenção direta em 6 golos nos últimos 3 jogos internos - se no lance do 1x0 o passe para Sérgio Oliveira pareceu um mau domínio de bola, no 2x0 correspondeu com um belíssimo cabeceamento e soube ser oportuno para fechar o marcador, além de ter arrancado um vermelho que ficou por mostrar a Tarantini. Ainda criou mais duas situações de perigo e voltou a ter movimentações interessantes nas diagonais curtas. Sérgio Conceição avisou que dependeria de Soares decidir se a porta se abria ou fechava. O brasileiro parece decidido em arrombá-la.


A entrada de Óliver (+) - Na segunda parte, o FC Porto controlou sobretudo o espaço e não estava a conseguir fazer circular a bola. A entrada de Óliver significou o melhor momento do FC Porto na partida - tabelas, jogadas ao primeiro toque, maior velocidade de circulação e a obrigar o Rio Ave a correr atrás da redondinha. A jogada com Brahimi ficou na retina, tão boa que nem o argelino acreditou na oferta. Vinte minutos que mostraram que Óliver pode ser um oásis de tranquilidade quando é preciso guardar e circular a bola, em vez de fechar as linhas e limitar a equipa a bolas em profundidade.

Palavra também para mais duas assistências de Alex Telles de bola parada - são já 11 no Campeonato. Em toda a Europa, só Neymar (12) e De Bruyne (14) têm mais. 




Definição e discrição (-) - Notou-se que Brahimi precisava de um golo. Estava à procura da jogada, do momento que lhe daria confiança a nível individual. A verdade é que as coisas não saíram particularmente bem ao argelino - falhou 6 dos 11 dribles que tentou, criou apenas uma ocasião de golo e atirou uma bola à trave. Já quando o resultado estava feito, Brahimi pareceu querer sempre escolher o caminho mais complicado, trocando o jogo coletivo pela tentativa do lance individual.

Corona ajudou muitas vezes Maxi no corredor e teve alguns pormenores interessantes, mas uma vez mais não conseguiu ter efeitos práticos no ataque - não fez nenhum passe para finalização, falhou os 4 cruzamentos que tentou e não conseguiu nenhum drible eficaz. Muitas vezes a movimentação/iniciativa correta, mas faltava o momento de definição.

Já Marega voltou a marcar, chegando aos 17 golos na Liga, e bem pode agradecer o bom cruzamento de Alex Telles e o desvio de Marcelo para a própria baliza, caso contrário teriam sido 90 minutos de quase total anonimato: Marega fez apenas 5 passes em todo o jogo, tocou16 vezes na bola (metade das de Iker Casillas) e não fez nenhum passe para finalização nem nenhum cruzamento em 90 minutos. O maliano picou o ponto de bola parada, mas no jogo jogado raramente conseguiu aparecer. 

Segue-se então o Estoril e a necessidade de 45 minutos à Porto. Literalmente.

domingo, 18 de fevereiro de 2018

A culpa de Conceição e do plantel

14-02-2018: o dia da maior derrota caseira da história do FC Porto. Os 5-0 sofridos diante do Liverpool superam, em volume de resultado e desilusão, os 6-2 que tinham sido sofridos nos longínquos anos de 1943 e 1945 contra os Unidos de Lisboa e os Belenenses. O que choca é isso: a expressão do resultado, que surpreendeu o próprio Liverpool. A derrota, essa, é mais do que natural. 


Sérgio Conceição e o plantel são culpados disso mesmo: o milagre que têm feito esta época é tão vasto que fez crer os adeptos que era possível competir frente a este Liverpool. Pura ilusão, mas que é inerente ao espírito de qualquer adepto do FC Porto. Os portistas são incapazes de olhar para uma eliminatória sem pensar em superá-la. Achavam que era possível superar este jogo como pensaram que o FC Porto de Luís Castro eliminaria o Sevilha, que FC Porto de Lopetegui resistiria em Munique, que o FC Porto de Peseiro ganhava ao Dortmund e que o FC Porto de Espírito Santo bateria a Juventus. Há jogo que não pensem em ganhar? Há jogo em que não sintam que há uma certa obrigação de vencer?

A verdade é que não temos, neste momento, pedalada para o Liverpool, nem para ambicionar a mais do que a fase de grupos da Champions. Em vez de A podia jogar B, Sérgio Conceição poderia ter optado por outra estratégia, mas o Liverpool, com maior ou menor facilidade, passaria esta eliminatória. Isto não é acaso nenhum e não nos podemos esquecer que já foi com imensa felicidade que o FC Porto conseguiu passar a fase de grupos - para todos os efeitos, o objetivo traçado e que já foi cumprido. O resultado final tem o poder de maquilhar 90 minutos, mas não nos podemos esquecer do trajeto até aqui.

Quem acompanhou os jogos da fase de grupos, com olhos de ver (o que, muitas vezes, não é o mesmo que olhos de adepto), já saberia que iria ser muito difícil tirar alguma coisa deste jogo. Recordamos somente dois dados escritos n'O Tribunal do Dragão há dois meses.

«Os guarda-redes do FC Porto estão entre os que menos trabalho tiveram na fase de grupos. Casillas e José Sá, juntos, fizeram 14 defesas, a 3ª marca mais baixa entre as equipas qualificadas (menos só Juventus e Basileia). No entanto, há que ter em conta que o FC Porto sofreu 10 golos, ou seja, as equipas adversárias quase conseguem marcar um golo a cada dois remates ao alvo. »

Lá está. Os guarda-redes do FC Porto não tiveram muito trabalho na Champions, mas quando os adversários rematam, na maior parte das vezes, dá golo. Foi o que aconteceu. O Liverpool atirou 6 vezes ao alvo e marcou 5 golos. O guarda-redes do Liverpool fez mais defesas do que José Sá. Mas quando os adversários rematam de forma enquadrada com a baliza... Normalmente dá golo. Outro detalhe:

«O FC Porto foi a equipa qualificada que menos tempo teve a bola em seu poder (23 minutos de tempo útil) e a 2ª pior percentagem de acerto no passe (77%). Algo a rever para quem quer sonhar nos 1/8.»

Aí está. O FC Porto foi alérgico à bola na fase de grupos. Basta recordar que, antes da goleada aos suplentes do Mónaco, o FC Porto tinha feito 10 golos: 7 de bola parada, uma bola em profundidade, um golo de contra-ataque e uma jogada de insistência na grande área. Ou seja, não viram o FC Porto marcar um golo que fosse após circulação e ataque planeado. Nada. Ou era de bola parada ou com uma bola direta na frente. Fomos uma equipa com muitas dificuldades em relacionar-se com a bola na fase de grupos. 

O que se viu na receção ao Liverpool? Adversário com 68% de posse de bola aos 10 minutos e 74% aos 20 minutos. Pecado mortal, relacionando isto com a forma como o TdD terminava a crónica da vitória frente ao Chaves: «E certamente que, frente ao Liverpool, não poderemos dar-lhes a bola como demos ao Chaves.» Por outro lado, era assim que o FC Porto vinha jogando desde a fase de grupos; era pouco credível que fosse possível mudar completamente para uma eliminatória com o Liverpool. 

Mas foi a morte do artista. O FC Porto não corrigiu este aspecto relativamente à fase de grupos e cometeu o erro de dar a bola ao Liverpool. Com os executantes e eficácia que a equipa inglesa tem, tinha tudo para correr mal. Demos o ouro ao bandido e o adversário fez o que quis do FC Porto.

A história poderia ter sido diferente? Podia. Se Otávio tivesse feito o 1x0, se Soares tivesse aproveitado a oportunidade a fechar a primeira parte, se José Sá não tivesse falhado... Se, se, se. Quando começamos a enumerar demasiados «ses», estamos em território perdido. 

Sejamos francos. Superar a fase de grupos, tendo em conta o futebol que o FC Porto apresentou, já foi notável. Não é normal uma equipa com tantas dificuldades no jogo com bola vingar na Champions. Logo, não é acidente. O que acontece é que o Liverpool é um bocadinho melhor do que Besiktas ou Leipzig. E fizemos dois grandes resultados contra o Mónaco, mas a fase de grupos revelou que o Mónaco se calhar não era assim tão bom. Não deu para corrigir os erros - ou mudar algumas coisas - após a fase de grupos e, assim, a derrota é uma mera consequência. Sérgio Conceição tentou não mudar muito, mas infelizmente não funcionou. 

Embora a superioridade do Liverpool seja natural, há algumas coisas que têm que ser discutidas. E indo diretamente ao assunto: se querem ganhar o Campeonato, a dobradinha, metam Iker Casillas na baliza. Estas coisas pesam. José Sá é bom rapaz, fez duas boas defesas contra o SC Braga, mas a única coisa que faz melhor do que o espanhol é a reposição da bola em campo (sim, há que dar mérito a Sá - repõe melhor a bola do que Iker, embora o português jogue mais vezes curto do que o espanhol). A maioria das bolas que vão à baliza de José Sá dão golo. Certo, podia ter feito mais no lance do 1x0, mas nos outros pouco podia fazer. Mas psicologicamente, mesmo para a equipa, é desolador saber que se os defesas deixarem escapar alguma bola provavelmente vai dar golo. 

Aquilo que José Sá está, neste momento, a fazer na baliza do FC Porto fá-lo-iam Vaná ou Fabiano. Ou Beto ou Bracalli. Ou Andrés Fernández ou Ricardo Nunes. Temos Iker disponível e não faz sentido nenhum que não seja o titular. É melhor do que José Sá (das 24 bolas que foram à sua baliza na Champions, 12 deram golo). Ponto. Os melhores têm que jogar. Sejamos francos: os adeptos só aceitam, toleram, esta opção de Sérgio Conceição por o FC Porto estar a liderar o Campeonato. Imaginem que esta seria uma decisão tomada por Paulo Fonseca ou Lopetegui. Ninguém ponderaria sequer a hipótese de Sá treinar melhor do que Iker...

E agora um pouco de contexto. A Champions reúne as melhores equipas da Europa. São 32 equipas. Centenas de horas de futebol. Centenas de futebolistas que foram utilizados no decorrer da prova. E entre todos esses jogadores, há apenas um, apenas um, que perdeu a bola na maioria das vezes que tocou nela. Só mesmo para reforçar: entre toda a competição, e todo o universo de Champions, só um jogador perde a bola na maioria das vezes em que interfere no jogo. Não vale a pena dizer quem é, pois. 

Marega tem sido um bom profissional no FC Porto, trabalha muito, tenta fazer o melhor que pode. Mas ver o FC Porto depender de um jogador com tamanhas e insuperáveis limitações no ataque é absolutamente penoso. Saímos do mercado de inverno, contratámos 3 jogadores de caraterísticas ofensivas (um deles um regresso após empréstimo) e parece que continua a não haver outro plano senão ter Marega no 11. Como podemos considerar que o mercado de inverno foi um sucesso neste sentido?

Sim, sim, Marega tem 16 golos no Campeonato. Não marcou na Champions, nem contra o top 4 da Liga (basicamente em nenhum jogo de grau de dificuldade elevado, mas isso é um problema de toda a equipa), mas para todos os efeitos é o melhor marcador do FC Porto na Liga. Mas considerando a quantidade de vezes em que a equipa lhe serve a bola na grande área e o facto de ser o mais rematador do plantel (ainda que 73,8% dos seus remates tenham sido desenquadrados), acaba por ser mais consequência de tempo de utilização/contexto de jogo do que da própria valia técnica individual do jogador. Não que não haja mérito na dimensão física e, não raras vezes, no bom posicionamento que Marega consegue assumir (veja-se o exemplo do clássico do Benfica - Marega desperdiça as 3 ocasiões, mas foi sempre ele a aparecer em posições favoráveis para finalizar). Mas não chega.

Os adeptos habituaram-se a observar/reconhecer que Marega luta muito pelo corredor direito, mas objetivamente: quantas vezes viram Marega ir à linha e sacar de um cruzamento eficaz?; quantas vezes viram Marega fazer uma diagonal, enquadrar-se com a baliza e rematar? A verdade é que a esmagadora maioria das disputas de Marega acabam por ter zero efeitos práticos. Muita luta, poucas consequências. Solução? Reconhecer que Marega pode ser importante em vários momentos no Campeonato português, mas não pode ser aquele jogador que vai estar sistematicamente 90 minutos em campo à espera que saquem de um coelho da cartola.

Não pode, por exemplo, ser comparável a Brahimi, que do nada pode inventar uma jogada que ajuda a resolver um jogo. Marega não faz isso, não pode resolver nada por si próprio, logo a equipa não pode estar dependente dele. As coisas estão a correr mal? Tirem Marega do jogo, pois possivelmente será o último a resolver algo sozinho. E porquê jogar sempre quase por decreto no 11? Porque não guardar Marega para uma segunda parte e enquadrá-lo no caudal ofensivo da equipa? 

Tem que haver mais soluções. Vêm aí jogos essenciais e, embora Marega vá certamente contribuir com alguns golos no que resta do Campeonato, não poderemos dar-nos ao luxo de ter um jogador que, nos clássicos, vai matar quase todas as jogadas de ataque com más receções e domínios de bola. 

Quanto à Champions, e por mais que este resultado tenha doído, a verdade é que esta é a única competição na qual o FC Porto já cumpriu os objetivos para esta época. SAD e equipa definiram os oitavos com meta e os resultados foram atingidos. Mais do que isso, neste momento, não dá. Não se esqueçam de como começou a época: o FC Porto foi o único clube castigado pela UEFA por não cumprir o fair-play financeiro para 2017-18. Esta conquista já ninguém tira à SAD. E Sérgio Conceição, antes de dar o primeiro treino, ficou logo sem 3 jogadores na lista de inscritos para a Champions, consequência da péssima gestão financeira e desportiva da SAD do FC Porto. Exigir o quer que fosse desta época, a nível europeu, era uma utopia.

Querem voltar a elevar a fasquia? Apresentem a fatura a quem aproximou o FC Porto da ruína financeira e não a quem tem feito milagres. Sim, Sérgio Conceição e este plantel têm feito milagres. Cumpriram os objetivos na Champions, estão a um passo da final da Taça de Portugal e dependem de si próprios para continuar na liderança da Liga, num dos campeonatos mais difíceis e competitivos dos últimos anos. 

Treinador e jogadores são culpados por isso: por terem reabilitado competitivamente o FC Porto num contexto de extrema incompetência/indiferença na SAD, que não cumpre o fair-play financeiro, não renova contratos (Aboubakar sendo uma das poucas excepções), não vende jogadores por verbas significativas sem a intervenção de Jorge Mendes no verão e não dá a cara na hora da pior derrota caseira da história do FC Porto. Se os adeptos acreditam que podem ser campeões, que podem fazer a dobradinha e que podiam ser competitivos diante do Liverpool é única e exclusivamente graças a Sérgio Conceição e ao grupo por ele liderado. Por isso, assim se justifica e se subscreve o aplauso dos adeptos que ficaram no Dragão após a maior derrota da história do clube a jogar em causa. Não pelos 90 minutos que ficaram para trás, mas pelo que aí vem. 

Venha o Rio Ave e os 90 minutos mais importantes da semana. 

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Pareceu fácil

Uma das mais assinaláveis vitórias nesta temporada, não só pelo volumoso resultado como por todas as circunstâncias a envolver este jogo. Desde logo, a ausência de Marcano, Danilo e Aboubakar da ficha de jogo; depois, as presenças de Ricardo e Brahimi no banco, como forma de gestão do treinador (e gestão não significa estar a poupar jogadores para a Champions, mas sim lidar com as consequências físicas do pós-clássico). 

Ora, se juntarmos Alex Telles a este lote, temos aqui os seis melhores jogadores da primeira volta. Cinco deles não entraram no 11 do FC Porto, frente a um Chaves que não perdia em casa há meio ano e que está a bater às portas dos lugares europeus. E o melhor elogio é sempre este: ninguém deu pela falta deles, face a uma exibição sólida e a revelar a melhor face de «segundas linhas», de Maxi a Soares, de Sérgio Oliveira a Otávio.

Este contexto revela diversas soluções, mas o plantel nunca deixou de ser curto; a diferença é que o treinador está a tirar o máximo proveito dele. Há naturalmente sempre casos em que os adeptos sabem que os jogadores em causa podiam, deviam, dar algo mais (não esquecendo que para tal é preciso continuidade no 11), como Óliver ou Corona, mas genericamente o plantel está a ser valorizado. 

São já 90 golos esta época, em 36 jogos. Na época passada, o FC Porto tinha feito apenas 88 em 49. E o mais notável é que todo o plantel está envolvido nesta marca - tirando os reforços de inverno, todos os elementos integrantes do plantel já participaram diretamente em pelo menos 2 golos esta época. Se tirarem Jonas ou Bas Dost aos rivais, os resultados - ou a falta deles - ficam à vista; já o FC Porto dá uma prova de superação num jogo em que entra sem 5 jogadores-chave. 




Soares (+) - Esteve com pé e meio fora do FC Porto (daí a repescagem de Gonçalo Paciência e o facto de o brasileiro já nem ter integrado este post de comparação entre os avançados do clube), mas a mudança acabou por não se concretizar, apesar de o mercado na China ainda estar aberto. E em boa hora para Sérgio Conceição, que viu o brasileiro dizer «presente» numa altura em que Aboubakar está de fora, Marega num péssimo momento de forma e os reforços de inverno com as dificuldades típicas em entrar no 11.

O brasileiro fez dois golos, o 2x0 num fabuloso remate, mas o melhor da sua exibição foi a forma como conseguia desmarcar-se em diagonais curtas, permitindo que os médios fizessem passes em profundidade curtos e não a habitual bola longa para os avançados africanos na frente. A sua exibição pecou apenas pela fraca qualidade de passe (perdeu metade das bolas que disputou), apesar de ter chegado a servir Marega de bandeja para o 3x0. 

Meio-campo (+) - Algumas dificuldades de entendimento na primeira parte, com ambos a pisarem muitas vezes o mesmo espaço, mas Sérgio Oliveira e Herrera partiram para mais uma exibição sólida a meio-campo. A equipa trocou a posse por transições rápidas e a verdade é que a estratégia funcionou, com os 2 médios a criarem 5 ocasiões de golo e apenas um passe falhado (de Sérgio) no próprio meio-campo. Sérgio Oliveira fez a assistência para o 1x0 e fechou, com um grande golo, o resultado, após uma bela combinação com Herrera. 

Outros destaques (+) - Tirando dois ou três lances em que se põe a jeito para a amostragem de cartão ou mesmo para uma grande penalidade, exibição sólida de Maxi Pereira, com grande disponibilidade a atacar e a assistir Soares para o 2x0, além de só ter perdido uma bola nos primeiros 50 metros. Otávio, sobretudo na primeira parte, mostrou finalmente qualidade esta época - bem a movimentar-se nas costas de Soares e Marega e a baralhar as marcações da equipa do Chaves, tendo ainda criado duas ocasiões de golo. 




Mais controlo (-) - Foi estratégia: ter menos bola, jogar de forma mais direta e deixar o Chaves circular no seu meio-campo (tirando os 3 grandes, o Chaves é a equipa que melhor passa a bola na Liga, mas muitas vezes de forma inconsequente). Foi o caso: o Chaves teve mais bola, fez mais passes, mas o único remate com algum perigo dentro da grande área foi a tentativa de Tiba na primeira parte.

Por outro lado, o FC Porto fez muitas mais faltas do que é hábito (23, contra 8 do Chaves). E se é certo que não fez nenhuma nos primeiros 30 metros, o que reforça que se tratava de estratégia, é natural que deixar o adversário ter tanta bola vá forçar a equipa a mais faltas. E a média de faltas da equipa disparou desde que Danilo saiu da equipa. Num Campeonato em que se apita com facilidade contra o FC Porto, isto é pôr-se a jeito, e o Chaves podia mesmo ter inaugurado o marcador com uma grande penalidade. Uma das raras vezes em que o FC Porto conhece o benefício, mas já se sabe que basta uma má jornada para perder a liderança. E certamente que, frente ao Liverpool, não poderemos dar-lhes a bola como demos ao Chaves. 

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Agora com um final feliz

Quarto clássico da época. Quarta vez em que o FC Porto é superior ao rival. Quarto jogo sem sofrer golos. A primeira vitória, que não deixou de pecar por escassa - e o histórico recente de meias-finais da Taça de Portugal é um exemplo de que um 1x0 em casa não é garantia de nada. Mas quatro clássicos em que o FC Porto parece ser a única equipa a querer assumir-se como grande e a jogar para ganhar, isso sim, é a melhor garantia de que o trabalho desenvolvido por esta equipa está recheado da matéria que faz campeões. 




Ricardo Pereira (+) - Chega a ser irrisório que este jogador nunca tenha feito um jogo oficial pela seleção nacional e que tenha jogado apenas 54 minutos em jogos de preparação. Numa altura em que a fadiga física se faz sentir no plantel, Ricardo continua com uma frescura física invejável e cada vez mais confiante/acutilante no último terço. Galga metros com ou sem bola, garante a profundidade no flanco mas não se inibe ele próprio de explorar o espaço interior. A cobertura defensiva continua a ser a lacuna a corrigir - e podia ter custado caro no minuto 90 -, e pode e deve melhorar os cruzamentos, mas com Ricardo o FC Porto tem, neste momento, um dos melhores laterais da Europa. Alguém se lembra de Danilo?

Sérgio Oliveira (+) - Muita gente - inclusive/sobretudo o treinador - pensou nele como o 3º médio para o 4x3x3 da equipa nos grandes jogos. A verdade é que essa fórmula não estava a funcionar na hora de garantir vitórias. Mas o problema talvez não estivesse no jogador em si, mas sim no seu papel em campo. É no 4x4x2, e numa excelente dupla com Herrera, que Sérgio Oliveira faz os seus 2 melhores jogos com a camisola do FC Porto, ele que não fazia 2 jogos completos seguidos há dois anos - o que não deixa de ser surpreendente, sobretudo por se tratar de um jogador que, no passado recente, nunca dava ares de aguentar 90 minutos e ser pouco intenso. Está mais agressivo, ocupa melhor o espaço e conseguiu assinar o cruzamento para o golo da vitória numa jogada que não é hábito ver o FC Porto fazer (cruzamento do médio antes dos últimos 22 metros). De suplente do Nantes a titular do FC Porto com o mesmo treinador: Sérgio Conceição sabia, de facto, o que estava a fazer. 


Estratégia (+) - Ouvir a conferência de Jorge Jesus no final da partida era entrar numa realidade paralela. O Sporting voltou a ser vulgarizado frente ao FC Porto e completamente anulado naquilo que são os seus princípios - profundidade pelos flancos, bola para a grande área (leia-se, para Bas Dost). O FC Porto secou o adversário pelos corredores e limitou o Sporting a duas ou três investidas do sempre perigoso Gelson Martins. Pouco mais. 

Além disso, a estratégia do Sporting para este jogo pressupunha, com a linha defensiva reforçada, ter mais soluções na saída de bola. Mas não funcionou, pois o FC Porto nunca recuou e soube sempre fechar todos os espaços - Sérgio Oliveira juntava-se a Marega e Soares na linha de pressão, enquanto Brahimi e Corona (bem a colocar as bolas na grande área) fechavam os corredores. Herrera ficava exposto no eixo, mas a equipa nunca se desequilibrou. O Sporting fez 5 remates à baliza do FC Porto em 270 minutos de clássicos. Tudo dito.




Faltou matar (-) - Na época 2013-14, quando o FC Porto venceu o Benfica por 1x0 nas meias-finais, Quintero mandou uma bola ao poste nos descontos. Muitos portistas temeram: «Espero que esta bola não nos faça falta». Fez. Abril ainda vai distante, FC Porto e Sporting atravessarão diferentes momentos de forma até lá e a equipa adversária não poderá apequenar-se como tem feito até aqui. Mas poderíamos, sem dúvida, ter dado já uma machadada na eliminatória, tamanha que foi a subserviência do adversário. O Sporting tentou quanto possível minimizar os estragos e levar a eliminatória para Alvalade, algo que acaba por conseguir. Cabe ao FC Porto ir à procura do golo e obrigar o Sporting a expor-se de uma maneira que não o fez nos três clássicos já disputados. 

Agora o Chaves, equipa que não perde em casa há meio ano. Fica o aviso. 

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Os Pentas: Janeiro de 2018

Quatro vitórias, dois empates e um sabor agridoce ao cair do pano. O mês de janeiro ficou marcado pelo afastamento da Taça da Liga, que pôs fim a uma série de 10 vitórias consecutivas, e pelo comprometedor empate na visita ao Moreirense - uma igualdade já entretanto redimida no arranque de fevereiro, com o regresso à liderança isolada da I Liga e agora com vantagem reforçada. Para já, ficam os melhores do último mês. 

5. Héctor Herrera

MVP dos quartos-de-final da Taça de Portugal, Héctor Herrera continua longe de ter os melhores números nas zonas de decisão (fez apenas um golo no último mês), mas isso não retira mérito ao seu papel na equipa. Por exemplo, já criou 26 ocasiões de golo no Campeonato, apenas superado por Brahimi e Alex Telles no plantel, e está a apenas dois passes para finalização do seu máximo da época passada. Ainda assim, é no papel de recuperador que mais se destaca, ele que é o jogador do FC Porto com maior média de desarmes e recuperações de posse por 90' no Campeonato. E a eficácia de 86% no passe continua a colocá-lo muito acima da displicência que, muitas vezes, e algumas por culpa do próprio, lhe teimam em associar. 

4. Felipe

É caso para dizer: o mês de dezembro passado no banco fez-lhe muito, muito bem. Depois da enchurrada de erros que vinha cometendo jogo após jogo, e que lhe custou a perda da titularidade para Diego Reyes, Felipe acordou e entrou finalmente numa sequência de boas exibições. Autoritário, forte no jogo aéreo e a inventar menos na retaguarda, assinou a vitória na visita ao Feirense (ainda que tivesse sido expulso - não voltou a ver cartões desde então) e passou a ser o central com mais duelos aéreo defensivos ganhos na Liga (80, à frente dos 76 de Marcano), além de ser o 2º com mais interceções (50). O que lhe falta na saída de bola e na cobertura compensa no jogo aéreo, nas dobras e na forma como se limita, muitas vezes, a afastar o perigo para longe. 

3. Ricardo Pereira

Fez apenas uma assistência para golo em janeiro, mas a sua consistência é notável, seja na defesa ou a jogar mais adiantado no corredor. Não é um lateral possante fisicamente, mas compensa com a forma aguerrida como disputa cada lance. Comparativamente com Alex Telles, embora não seja tão forte a cruzar, assume bastante mais os lances de 1x1 (59% de acerto), tem maior eficácia de desarmes pelo chão (54%) e tem uma interessante média de 53% de eficácia no jogo aéreo, o que não deixa de ser notável para um jogador que é algo leve. Nas últimas semanas Ricardo tem apostado mais nas diagonais quando chega ao último terço e subiu para 75% de acerto em remates enquadrados com a baliza. Falta-lhe melhor colocação no remate. 

2. Alex Telles

Não surpreenderia ninguém se vencesse «Os Pentas» de Janeiro, mas a verdade é que Alex Telles não foi eleito MVP pelos leitores d'O Tribunal do Dragão em nenhum dos jogos do último mês, algo que acabou por ter peso nas contas finais. O que não significa que a sua influência não seja evidente. O brasileiro somou mais três assistências no último mês e, neste momento, já leva 15 passes/cruzamentos para golo entre todas as competições. É o 5º jogador das Ligas europeias que mais passes para finalização fabrica e está entre os 8 que mais assistências assinaram. Há ainda a destacar o facto de conseguir jogar de forma limpa e agressiva ao mesmo tempo: ainda só viu um cartão amarelo na Liga. 

1. Yacine Brahimi

O mago argelino regressa ao topo d'Os Pentas, muito graças à forma fulgurante como arrancou o mês de janeiro. Eleito MVP nas vitórias contra V. Guimarães e Feirense, o terceiro melhor driblador das Ligas europeias (111 dribles eficazes, apenas atrás de Neymar e Messi) já teve intervenção direta em 17 golos esta época. Defensivamente, Brahimi também continua a destacar-se (só Danilo e Herrera recuperam mais bolas por jogo do que ele). Se é certo que a fechar o mês lhe faltou algum fulgor, também não deixa de ser verdade que há um denominador comum: quando Brahimi não está no seu melhor, toda a equipa sofre o mesmo. Sem Brahimi, o FC Porto é muitas vezes uma equipa previsível, de bola na frente e limitada nas ideias no último terço. Por isso, mesmo quando não está no seu melhor, Brahimi é absolutamente essencial e continua a nivelar por cima o nível da equipa. 

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Expresso Telles dá-te asas

«Os 45 minutos que faltam disputar frente ao Estoril eram uma oportunidade para reforçar a liderança da Liga. Agora são a oportunidade para recuperá-la. Basta uma jornada para tudo mudar novamente. Para o bem ou para o mal

O post anterior d'O Tribunal do Dragão terminava desta forma. E aí está: bastou uma jornada para tudo mudar novamente, agora para o bem. Se na jornada anterior o FC Porto perdeu 2 pontos em relação ao Sporting, agora ganhou 3 e recuperou a liderança isolada do Campeonato, sabendo que se vencer o Estoril pode ganhar uma vantagem de 5 pontos sobre os rivais. A derrota do Sporting não deixa de ser um aviso para o quão difíceis serão os 45 minutos frente ao Estoril, mas o FC Porto, em termos pontuais, está melhor do que estava antes de defrontar o Moreirense. Quem diria?


Três cruzamentos de Alex Telles, três cabeçadas, três pontos. A mesma fórmula funcionou três vezes e foi o suficiente para assinar uma vitória difícil mas merecida, apesar das condicionantes provocadas pelas ausências de Marcano e Danilo, o desgaste físico em vários jogadores-chave e o ciclo complicado que se antevê no calendário. 

O SC Braga foi ao Dragão rematar muito mais vezes do que é normal (14 - como termo de comparação, note-se que o Benfica rematou 7 vezes quando foi à Invicta, e o Sporting, na totalidade dos 2 clássicos já disputados esta época, também disparou apenas 7 vezes), José Sá teve o dobro do trabalho que tem sido hábito, mas o FC Porto soube ser superior e inteligente frente ao SC Braga. 





Alex Telles (+) - Vamos uma rodada de números para se perceber a influência que o lateral-esquerdo tem no FC Porto. Alex Telles é, neste momento, o 5º jogador com mais passes para finalização das Ligas europeias, com 64, só atrás de De Bruyne (78), Özil (70), Fàbregas e Payet (67). Mas claro, aqui estamos a falar de médio ofensivos. Considerando apenas os laterais, a diferença é abismal na Europa: os mais próximos de Alex são Kolarov (53) e Kimmich (42), que também podem jogar no meio-campo, ao contrário do lateral do FC Porto. 

É claro que o facto de Alex Telles bater as bolas paradas ajuda-o nesta estatística (tal como ajudou Layún a ser o maior assistente da Europa em 2015-16), mas a verdade é que o brasileiro também se encontra entre os 8 maiores assistentes das Ligas Europeias, com 9 passes para golo, a par de Messi e Pogba e a apenas dois passes decisivos de Neymar e De Bruyne (11 cada). 

Se aliarmos tudo isto à competência defensiva de Alex Telles e à incansável forma como percorre o corredor durante os 90 minutos, conclui-se que estamos perante um lateral de calibre europeu e que dá continuidade à linhagem de grandes laterais-esquerdos no FC Porto, muito bem secundado pelo sempre competente Ricardo Pereira no flanco oposto.


José Sá (+) - Desde que assumiu a titularidade no FC Porto, José Sá vem tendo uma vida relativamente tranquila nas balizas do Campeonato, praticamente exposto à média de apenas uma defesa por jornada. Claro que há outras variáveis a ter em conta, como as saídas a cruzamentos e a reposição da bola em jogo, mas José Sá tem sido sempre um guarda-redes com relativo pouco trabalho (tem um total de 16 defesas, 8 delas a remates de fora da grande área). Certo é que ontem fez duas excelentes defesas, que ajudaram o FC Porto a manter-se na frente em momentos importantes. Ter pouco trabalho, mas dizer «presente» no pouco que tiver: nunca se pedirá muito mais a um guarda-redes.

Sérgio Oliveira (+) - Pela primeira vez desde a vitória no Mónaco, o FC Porto venceu com Sérgio Oliveira no 11, e com o médio a fazer uma das suas melhores exibições com esta camisola. Dividiu as despesas do meio-campo com Herrera e foi o jogador mais influente na bola corrida, com 72 ações com bola e uma interessante média de 23 duelos disputados (14 ganhos), mais do que é hábito no meio-campo do FC Porto. Falhou alguns passes (78% de acerto), mas fez dois passes para finalização, acertou todos os dribles que tentou (4/4), teve 9 ações defensivas e conseguiu um golo, tornando a sua exibição no equilíbrio perfeito - bem na recuperação, mas também a fazer a diferença no ataque. Provavelmente ganhou a titularidade para o próximo jogo. 




Escolha facilitada (-) - Ainda no jogo passado se questionava como é possível Marega fazer sucessivamente os 90 minutos (e já lá iremos outra vez), mas admitindo que as alternativas para a asa direita - Hernâni e Corona - quase ajudavam a compreender e aceitar essa opção. E voltou a ser o caso com o extremo mexicano. Se há plantel em que Jesús Corona deveria conquistar a titularidade no FC Porto, era este. E não será muito audaz dizê-lo: se é não é titular consistentemente este ano, então provavelmente nunca o será. E assim torna-se bem mais difícil para Sérgio Conceição escolher. Ou então mais fácil, pois Corona não ganha o lugar num plantel em que os seus concorrentes faziam parte da lista de dispensas do FC Porto.

Corona parece ser atraído sempre pela hipótese mais complicada - Brahimi também nem sempre escolhe o melhor caminho, mas sabe proteger e colar a bola ao pé, enquanto Corona a perde com maior facilidade. O mexicano criou apenas uma jogada de algum perigo, conseguiu apenas um cruzamento e perdeu a maioria dos duelos que disputou (6/11). O facto de Ricardo estar sempre a subir também deveria ajudar Corona a criar desequilíbrios no corredor, mas voltou a não ser o caso. 

Alternativa, por favor? (-) - Há noites, exibições, em que os números falam por si próprio e nem aquelas variáveis que não são calculadas (o empenho, a garra, a vontade) servem de atenuante. Passando a enumerá-los:

- 0 remates enquadrados com a baliza;
- 0 dribles eficazes;
- 0 passes para finalização;
- 0 cruzamentos;
- 9 passes certos (o pior dos 22 titulares);
- 7 duelos perdidos;
- 1 ocasião flagrante falhada;
- 4 maus controlos de bola;
- 5 faltas cometidas, 2 sofridas;
- 1 corte sobre a linha de baliza;
- 90 minutos em campo. 

Agora a sério. Dá para experimentar dar soluções à equipa sem Marega no ataque? Mister? Corona? Hernâni? Alguém, por favor?

Segue-se a Taça de Portugal e uma difícil receção ao Sporting, na primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal. E como já se percebeu, basta um jogo para mudar ou inverter a disposição dos dois clubes. No entanto, após 270 minutos de clássicos sem sair do 0x0, e agora recuperada a liderança isolada da I Liga, é a oportunidade para uma afirmação de força e personalidade.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Guardiola, VAR, 54 remates e um golo

Este post começa com algo diferente: a análise a um golo do... Manchester City, mais concretamente o golo que foi apontado pela equipa de Guardiola aos 90+5 minutos de um jogo frente ao Southampton.


Quem tiver oportunidade que observe os últimos 40 segundos do jogo. Último minuto, Southampton a defender com 11 atrás da linha da bola. E o que faz o City? Passes curtos, circulação, tabelas, desmarcação. Mesmo perante a pressão do relógio e do resultado, uma equipa que se manteve fiel aos seus princípios de jogo até ao último instante. O remate de Sterling podia até ter ido para a bancada, mas vimos uma equipa que tinha um plano e agarrou-se a ele até ao último instante.

A determinada altura, aquilo que vimos no Moreirense x FC Porto foi um caos tático total. O chamado «tudo ao molho e fé em Deus». Jogadores fora de posição, tudo em pânico a tentar meter a bola na grande área. E o mais irónico de tudo isto é que podia perfeitamente ter funcionado, pois o FC Porto acaba por chegar ao golo no último minuto.

E muito do que se passou acaba por se resumir a esse lance. É absolutamente inaceitável que, em plena época de implementação do VAR, as equipas de arbitragem continuem a ignorar o apoio desse sistema. É muito simples: o auxiliar Paulo Miranda não tem um ângulo de visão favorável no momento em que Ricardo vai ganhar a bola de cabeça e devolvê-la para a zona central, onde aparecem Soares (este sim, em posição irregular) e Waris (o único a participar na jogada e sem que ninguém, em perfeita honestidade, possa garantir que está em posição de fora-de-jogo).

Paulo Miranda, naquele lance, deveria ter a sensibilidade de deixar correr a jogada. O FC Porto marcava, o FC Porto festejava. Depois, se houvesse posição irregular, então certamente o VAR informaria a equipa de arbitragem de que o lance teria sido ilegal. O que não foi o caso. É um lance em que não é possível escrutinar qualquer fora-de-jogo a Waris. É um lance de dúvida. Já estão todos fartos de ouvir que «em caso de dúvida beneficiasse quem ataca». Não, não é preciso: em caso de dúvida usem a porra do VAR!

Mais. Este foi o quarto empate do FC Porto na I Liga. E tal como aconteceu na receção ao Benfica e na visita ao Desp. Aves, há mais uma grande penalidade flagrante a ficar por assinalar, desta vez com o guarda-redes a socar Felipe em cheio. O VAR deveria, precisamente, acabar com a existência deste tipo de lances: aquele que podem passar despercebidos aos olhos da equipa de arbitragem no relvado, mas que nas imagens televisivas não deixam margem para dúvidas.

Os erros de arbitragem não desculpam mais uma exibição em que o FC Porto joga a meio-gás, mas devem ser sempre assinalados. Dos oito pontos que o FC Porto não conseguiu somar neste Campeonato, seis deles tiveram forte influência de erros de arbitragem. Poderíamos estar a falar de uma equipa com 18 vitórias em 19 jornadas.

Depois da péssima preparação para esta época, chegar ao início de fevereiro a depender de si próprio para se manter na liderança do Campeonato, a um (grande) passo do Jamor e com os objetivos na Champions cumpridos já é, por si só, um milagre que tem como base o trabalho de Sérgio Conceição e do plantel. Mas ver sistematicamente o campo inclinado a cada perda de pontos torna esta missão impossível algo ainda bem mais difícil de alcançar.





Laboratório (+/-) - Um lance que poderia estar neste momento a correr o mundo: aquele livre de Alex Telles, à futebol de praia, foi uma das mais brilhantes jogadas estudadas que já vimos no FC Porto. Imprevisível, a todos os níveis, com uma execução perfeita no plano: colocar Brahimi na cara do golo. A má finalização de Brahimi manchou uma jogada que mostra trabalho de casa. Por outro lado, há que realçar: uma equipa que trabalha tão bem este tipo de lances, de bola parada, não consegue arranjar outra alternativa que não seja despejar bolas na frente à espera que alguém apanhe uma? Infelizmente, este lance provavelmente não voltará a funcionar na I Liga, pois a colocação de Alex Telles já «denunciará» se vai voltar a tentar bater desta forma. Que foi perfeito, foi. Ou quase.

Os laterais (+) - Inconformismo puro. Juntos, Ricardo e Alex Telles foram responsáveis por 187 ações com bola e tentaram 17 cruzamentos, além de terem passado os 90 minutos a fazer piscinas defesa-ataque/ataque-defesa. Fartaram-se de correr e de tentar dar largura a corredores que encontraram os muito desinspirados Marega e Brahimi. Nem sempre tomaram a melhor decisão (o remate de meia distância de Alex Telles, já em tempo de compensação, foi um disparate e um exemplo de quem já não tinha um plano de jogo a seguir), mas ninguém lhes pode apontar o dedo por falta de garra e empenho.

Zonas de ação de Alex Telles e Ricardo Pereira
Felipe (+) - Ainda deve estar a tentar compreender como é que aquela bola não entrou. E, diga-se, Felipe tinha que meter aquela bola lá dentro. Um jogador com a sua dimensão física, com uma entrada mais determinada, teria levado tudo à frente naquele lance: entrava bola, entrava jogador, entrava tudo. Foi a mancha numa exibição que esteve bem perto de ser irrepreensível. Ganhou 9 dos 12 lances de cabeça que disputou, foi o mais rematador do FC Porto (3 tentativas, as mesmas de Soares) e ganhou todos os lances pelo chão (3/3). O Moreirense não fez um único remate na direção da baliza de José Sá e, perante a falta de Marcano, Felipe assumiu-se como o patrão da defesa, numa das melhores exibições da época. Faltou, literalmente, apenas o golo. 





Circulação de bola (-) - O minuto 34 sintetiza um pouco daquilo que foi a incapacidade do FC Porto para circular a bola (ainda que o relvado, de facto, não estivesse nas melhores condições). Sem qualquer oposição, e com o Moreirense com as linhas bem recuadas, Felipe e Reyes deixam escapar a bola pela linha lateral no início de construção. Foi o exemplo de uma equipa que parecia estar a jogar junta pela primeira vez, sem saber muito bem como começar a construir.

De facto, este era um novo meio-campo. Herrera mais recuado, perante a ausência de Danilo, Óliver mais à frente e Paulinho, em estreia, a jogar a partir da direita. Mas é incompreensível a incapacidade do FC Porto em fazer tabelas, em jogar curto nos últimos 30 metros, em procurar o espaço entre linhas. Este Moreirense sofria golos há 17 jogos consecutivos. Bombear a bola para as costas da defesa, num campo curto e com uma equipa com a linha defensiva baixa, não funciona.

Eficácia (-) - Os golos anulados frente a Sporting e Moreirense foram lances de manifesta infelicidade (será a palavra correcta?) para o FC Porto. Mas quando olhamos para os resultados que ficam para a história, nos últimos 315 minutos de jogo o FC Porto fez um golo - e teve que ser um defesa do Tondela a oferecê-lo. O FC Porto já perdeu o estatuto de melhor ataque da Liga e tem tido, de facto, imensas dificuldades para chegar ao golo.

Durante este ciclo de 315 minutos, o FC Porto rematou 54 vezes, das quais apenas 19 à baliza. E entre todas estas ocasiões, os dragões tiveram 12 oportunidades flagrantes de golo (isto é, sem um opositor entre o rematador e a baliza para além do guarda-redes) - falharam 11 e só mesmo Marega acertou frente ao Tondela.

Na I Liga, o FC Porto tem uma média de um golo a cada 7,32 remates. Logo, se nos últimos 54 remates só um acabou em golo, não é preciso muito mais para se concluir que há um problema de eficácia neste momento no ataque. Estávamos felizes por 2018 não ter CAN em janeiro/fevereiro, mas a verdade é que pouco se viu dos atacantes africanos do FC Porto em Moreira de Cónegos e nas últimas semanas. Se todos os jogadores que estavam a garantir golos se apagam... Waris e Paciência terão mesmo que ser «reforços».

Lugar cativo? (-) - É difícil comentar este tema, e é difícil apontar seja o que for a Sérgio Conceição, que fez milagres até aqui. Mas se com a saída de Iker Casillas do 11 habitual o treinador provou que não havia lugares cativos, o que dizer quando vemos um jogador não dar uma para a caixa em 90 minutos e continuar em campo? As coisas não correram bem a Brahimi, e não é difícil perceber porquê: está completamente esgotado fisicamente. O mesmo era visível em jogadores como Alex Telles, Herrera, Aboubakar, e o próprio Marega.

Paulinho, que esteve nas três jogadas de perigo na primeira parte, foi o primeiro a sair, para dar lugar a Soares, protagonista de três ocasiões desperdiçadas no ataque. Waris substituiu Aboubakar (um remate, um bom passe na primeira parte e pouco mais) e até poderia ter sido o herói no último instante, mas nota-se claramente que ainda se está a adaptar a uma nova realidade e não está entrosado com os colegas.

Sérgio Oliveira entrou já numa fase de desespero. Começa mal, ao falhar dois passes, mas depois colocou duas vezes a bola em zona de finalização, cumprindo a sua missão para os instantes finais - meter a bola na grande área.

Ok, só dava para tirar três. E se Corona não corresponde nos treinos - e nos jogos -, torna-se difícil condenar Sérgio Conceição por não o lançar mais vezes, mas a falta de alternativas é demasiado gritante. Herrera, que começa por substituir Danilo, acaba o jogo a jogar com Marega na frente. Brahimi criou apenas uma ocasião de golo em toda a partida, o cruzamento para Soares.

Mas o mais preocupante é que, no último jogo antes do fecho do mercado, não se vislumbrou outra alternativa que não seja manter Marega em campo 90 minutos, mesmo sem o maliano dar uma para caixa. Exceção a um passe para Paulinho, Marega não conseguiu fazer nada em campo. Fez apenas um remate, aos 90', sem perigo; acertou apenas 3 passes dos 13 que tentou; falhou as suas 2 tentativas de drible; não cruzou nenhuma vez. Foi provavelmente o seu pior jogo nas competições nacionais esta época. 

Desde que Marega entrou no 11 titular, o avançado falhou apenas 16 minutos de jogo por vontade do treinador - em ambos os casos, foi substituído para a ovação, em dois jogos em que conseguiu bisar. De resto, é Marega e mais 10. O maliano luta muito, tem a interessante média de contribuição de quase um golo por jornada, mas não podemos estar dependentes de um jogador que erra muito mais do que acerta. Pode até regressar aos golos já diante do SC Braga, mas chega a parecer que o FC Porto versão 2017-18 não pode prescindir em instante algum de Marega. Nem Madjer, Deco ou Hulk tinham utilização tão cativa na equipa. 

É Marega que é assim tão bom? Ou é o FC Porto que está tão curto em soluções? Só há algo pior do que ver Sérgio Conceição confiar sistematicamente em Marega para fazer 90 minutos: é que se calhar não sobram mesmo assim tantas soluções. E entre o talento intermitente/molengão de Corona ou até Otávio, e um Hernâni que só tem servido para fazer número (mais até na bancada do que na ficha de jogo), o treinador prefere o empenho e a capacidade física de Marega. É penoso ver o maliano nestas situações em campo. Mas chegámos a um pouco em que parece que resta aceitar isso. 

Os 45 minutos que faltam disputar frente ao Estoril eram uma oportunidade para reforçar a liderança da Liga. Agora são a oportunidade para recuperá-la. Basta uma jornada para tudo mudar novamente. Para o bem ou para o mal.