segunda-feira, 30 de novembro de 2015

A fatura de 100 milhões que vai além do treinador

Imbula - 20M€
Adrián - 11M€
Corona - 10,5M€
Quintero - 9,5M€
Diego Reyes - 7M€
Walter - 6M€
Ghilas - 3,8M€
Kayembé - 3,165M€
Kelvin - 3M€
Hernâni - 2,9M€
Otávio - 2,5M€
Evandro - 2,35M€
Gudiño - 2M€
Lichnovsky - 1,837M€
Victor Garcia- 1,8M€
Ricardo Pereira - 1,6M€
Caballero - 1,53M€
Licá - 1,5M€
Abdoulaye - 1,5M€
Andrés Fernández - 1,1M€
Sérgio Oliveira - 650k
Josué - 500k

Estes 22 jogadores custa(ra)m, no seu total, mais de 95 milhões de euros ao FC Porto - excluindo comissões, encargos e salários. Todos eles têm algo em comum: têm contrato com o FC Porto e não jogaram frente ao Tondela.

Poderíamos falar de 100 milhões de euros se considerássemos contratações cujo custo não é revelado pela SAD, exemplos que vão de Osvaldo a Bolat, de Tiago Rodrigues a Roniel. Ora, 100 milhões de euros é mais do que o FC Porto consegue faturar em receitas operacionais numa boa época. E estamos a falar de 22 jogadores, um plantel completo, num clube com equipa B.

Claro que só podem jogar 11 de cada vez, e muitos destes jogadores são jovens ainda à procura de espaço para se afirmar no FC Porto. Além disso, nenhum clube acerta em todas as contratações que faz. Mas é sintomático: 100 milhões de euros à parte. Logo isto é um dos grandes problemas do FC Porto que passam muito além do treinador. 

Adrián López
De todos estes jogadores, só dois se podem enquadrar no mito da espanholização promovida por Lopetegui: Andrés, um dos mais baratos (e cuja contratação não fez nenhum sentido), e Adrián López, que chegou ao FC Porto sobretudo pela mão de Jorge Mendes e num negócio muito particular da SAD (sem envolver comissões, prémio de assinatura e com um faseamento de pagamento pouco habitual - o R&C do primeiro semestre já poderá confirmar o pagamento de parte do valor).

Além disso, vários destes jogadores só chegaram ao FC Porto por via de (se terem sujeitado a passar primeiro por) determinados empresários, quase sempre os mesmos. Num clube com tão ampla prospeção, a nível mundial, dá que pensar serem sempre os mesmos a meterem jogadores no FC Porto. Ou, como foi o caso de Víctor Garcia, o FC Porto a deixar que os empresários metam mão primeiro antes de comprarem.

Com a proximidade do mercado de inverno, e face à possibilidade do FC Porto ir em busca de reforços - não faz sentido ouvirem agora o treinador se não for para o manter até ao fim da época... -, serve isto para recomendar máxima prudência e minuciosidade à SAD. Olhar mais ao departamento de scouting e menos aos catálogos dos empresários do costume. E pensar que o mercado de inverno serve para meter jogadores na equipa titular, não promessas ou projetos de jogador nos quadros do clube. Luchos, sim. Hernânis, não.

Já temos 100M€ à espera por render. Não vale a pena sobrecarregar este valor por quem não vier para entrar na equipa no curto prazo. E com tantos investimentos por rentabilizar, além de todas as promessas da formação e da equipa B, é tempo de questionar qual será o limite para tanto despesismo da SAD.

domingo, 29 de novembro de 2015

Esmiuçar de uma bronca que esteve por um fio

Há vitórias que conseguem disfarçar muitas coisas más. A de ontem não foi uma delas. Tudo o que de mau foi feito ficou exposto. A única coisa que o grande golo de Brahimi e a defesa de Casillas conseguiram foi assegurar os três pontos. Que quase fugiam por incompetência própria.

Lopetegui chegou a recordar, e bem, que o Sporting só ganhou ao Tondela com um penalty nos descontos. Faltou foi frisar uma coisa: só ganhou assim porque foi incompetente e incapaz de matar o jogo mais cedo. Aconteceu o mesmo com o FC Porto, que fez duas jogadas coletivas de jeito em todo o jogo. Duas, apenas duas, e ambas no fim da primeira parte (remates de Aboubakar e André André).

De resto, foi uma zerada de futebol contra uma equipa recém-promovida, em campo neutro, com um plantel cuja folha salarial não paga seis meses de salário de quem o FC Porto tinha na bancada. É verdade, estes três pontos valem o mesmo que numa goleada por 6x0. A diferença é que a jogar assim não hão-se ser muitas as vezes em que a equipa consegue os três pontos. 





O pouco a destacar (+) - Brahimi, até aos 44 minutos, foi o único a tentar algum lance de perigo do lado do FC Porto. Fez um golo que nasce unicamente do génio individual, aos 28 minutos. Casillas, que até estava intranquilo, tremia quando era pressionado e tinha que jogar com os pés, acabou por ser decisivo, na defesa do penalty. Danilo esteve bem defensivamente enquanto jogou a 6, André André fartou-se de trabalhar em todo o lado e Tello foi o único a dar alguma coisa ao ataque na segunda parte.







Isto não é versatilidade (-) - A versatilidade, com jogadores capazes de desempenhar várias funções, é uma valia. Mas no FC Porto não há versatilidade: há falta de clareza nas funções de vários jogadores. Bueno, depois de uma exibição na Taça de Portugal a jogar da faixa para o meio, é colocado atrás do ponta-de-lança. E durante a segunda parte, apesar de Lopetegui não estar no banco, vemos o ridículo que é André André (que jogou em 3 posições) ir ao banco perguntar ao adjunto (Rui Barros ou Martínez?) onde é que ele tinha que jogar. Não há instruções pré-definidas. Falta de preparação gritante do lado do FC Porto.

Dança sem sentido
Não há justificação (-) - Lopetegui já não estava no banco, mas as alterações partiam de si. Começa por trocar Bueno por Tello. Tudo bem, Bueno esteve nas duas melhores jogadas do FC Porto, mas de resto sempre perdido entre ser 3º médio ou 2º avançado. O pior vem depois. André André passa para o meio, onde faz sentido que esteja, mas começa uma dança sem fim na equipa. Saiu Marcano, entra Rúben Neves, Danilo recua para central, Indi passa da direita para a esquerda, Herrera recua para duplo pivô. Depois sai Brahimi, entra Maicon. Danilo volta a avançar, André André volta para a ala, Herrera fica à frente de um duplo pivô. Uma confusão que leva a algo ridículo, que é ver André André ter que ir ao banco perguntar qual é a posição que deve ocupar. O principal motor da equipa sem saber que função tem que ocupar. 

Não há palavras para isto: os jogadores não sabiam o que fazer em campo. Não há instruções pré-definidas. Pior, Lopetegui expõe a equipa e imensas mexidas quando ele próprio não está no banco. Quando o treinador não está no banco, têm que imperar os automatismos da equipa. Este jogo revelou que o FC Porto não os tem.

Depois, é simplesmente incompreensível a justificação de Lopetegui, ao dizer que tem que tirar os centrais amarelados pois o Tondela ia jogar de forma direta. Mas o FC Porto fica preocupado com futebol direto do Tondela!? A solução não é mudar os centrais: é matar o Tondela no início de construção! Pressionar, ter bola, e não deixar que o Tondela parta para o chuveirinho. E depois, vendo Maicon o cartão, como é? Vamos pedir uma 4ª substituição para precaver este problema? E nessa 4ª substituição, iria novamente mexer em todos os setores? Respeitar o adversário, tudo bem. Temê-lo, nunca. Se Lopetegui tinha razões para crer que Manuel Mota iria tentar prejudicar o FC Porto, isso é um problema que iria além do que têm que ser as suas opções técnicas. Ter receio do futebol direto do último classificado da liga é a pior manifestação de Lopetegui desde que assinou pelo FC Porto.

Mau futebol (-) - Como já foi referido, o FC Porto só fez duas jogadas dignas de registo em todo o jogo, ambas no final da primeira parte. De resto, valeu a inspiração de Brahimi e duas ou três iniciativas de Tello na segunda parte. Dizer que o Tondela também só rematou com um penalty é falacioso, pois não era suposto o contrário. 

Uma sombra de 2014-15
Má estratégia (-) - Faz todo o sentido usar André André na ala contra uma equipa mais forte, mas não diante do Tondela. Primeiro, pois o FC Porto precisa de André André no corredor central, o que acaba por retirar profundidade no flanco. Depois, a equipa bem pode circular a bola, mas depois falta uma referência para a decisão. O FC Porto não dá a ideia de circular a bola com vista a um cruzamento, um remate ou fazer a bola chegar a determinado jogador em determinada posição. O FC Porto circula a bola... e depois logo se vê. Uma anarquia tática completa, na qual só o anárquico talento de Brahimi salvou a equipa.

Subrendimento (-) - Voltamos à velha questão: quando os jogadores falham, a tática falha; ou quando a tática falha, os jogadores falham? Ontem falhou sobretudo a estratégia e gestão da equipa técnica, mas isso não invalidou o excessivo subrendimento de algumas individualidades. Maxi Pereira e Layún estiveram inseguros a defender e pouco incisivos a atacar, sobretudo o mexicano - e se Lopetegui não tem 2 extremos a dar largura, se o lateral está em subrendimento fica meia equipa coxa. Herrera, sem ser titular no campeonato há 2 meses, falhou os mais primários dos passes e não deu nada à equipa do meio-campo. O jogador que vai receber o Dragão de Ouro para Futebolista do Ano não está a jogar um terço do que mostrou em 2014-15. E Aboubakar está nitidamente sem confiança, desgastado, mas chega a parecer que já nem ele sabe onde estar e o que fazer. Andou sempre longe do seu habitat, mas no meio de tanta desorganização...


Foi mau. Foi muito mau. Uma exibição pior do que na Madeira, em Moreira de Cónegos ou contra o Braga, mas que rendeu três pontos. Oxalá Lopetegui e os jogadores percebam rapidamente que, assim, os três pontos não irão aparecer muitas mais vezes.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Transferir jogadores é uma trabalheira

O Tribunal do Dragão errou. Errou quando, em março, recomendou aos leitores que se tornassem intermediários de jogadores, a melhor profissão do mundo. Foi um erro deixar essa recomendação: não enverguem por essa carreira, pois dá uma trabalheira imensa.

Surge isto a propósito das aquisições discriminadas pelo FC Porto no R&C do primeiro trimestre. O FC Porto detalha apenas cinco transferências (Imbula, Corona, Danilo Pereira, Victor Garcia e André André). E apesar de apresentar apenas cinco jogadores, a SAD revela que pagou comissões a... 14 (!) empresas/empresários. Imaginem a trabalheira que estas entidades todas devem ter tido para assinar meia dúzia de papéis. A saber:

- Onsoccer International - Gestão de Carreiras Desportivas, S.A.
- Media Base Sports, S.L.
- 380 Around Marketing, S.L.
- Northfields Sport BV
- Cantera Latina SA de CV
- Tigerfish Ltd.
- Energy Soccer
- Proeleven
- Calitecs SA
- Gondry Financial Services Limited
- Vela Management Limited
- Alexander Zahavi
- Ricardo Riviera
- Pedro Regufe
Relatório e Contas da SAD do primeiro trimestre de 2015-16
Não vão encontrar mais do que informação residual, leia-se moradas fiscais, para a maioria destas empresas-fantasma. O FC Porto especifica ainda um pagamento de 1M€, mas não revela por que jogador. Mas vamos por partes. Primeiro, avaliando as cinco operações especificadas pelo FC Porto, sendo que a SAD não revela a rúbrica fornecedores, logo neste momento não é possível confirmar quanto e quem deve a SAD.

20M€
Imbula e Corona - Negócios proporcionados pela Doyen Sports (no caso de Corona, com interferência de quem trouxe Otávio para o FC Porto), inflacionados pela impossibilidade de partilhar direitos económicos com terceiros, e nos quais o risco é totalmente atribuído ao FC Porto. A ideia é valorizar tanto o médio francês como o extremo mexicano para depois serem transferidos. Os jogadores quase podem passar pelo FC Porto sem que a SAD mexa um cêntimo, pois a ideia é que o comprador futuro supere o investimento do FC Porto. Veja-se o exemplo de Brahimi, por quem o FC Porto ainda só pagou 500 mil euros, e que não ficará para além do fim da época. A engenharia financeira com a Doyen para contrariar o fim da partilha de passes imposta pela FIFA, essa, é que não deixa de expor o quão dependente a SAD está de terceiros para fazer grandes investimentos em jogadores. A diferença é que o risco é cada vez maior, pois é uma avaliação de 30,5M€ em 2 jogadores que são produtos inacabados e que nem foram convocados para jogar com o Tondela - Lopetegui não tem que meter a jogar quem tem que ser valorizado, tem que meter a jogar quem acha que treina e joga para isso. Quem não vê os treinos não tem direito de julgar as convocatórias do treinador. Um dos problemas do FC Porto, a tal falta de mística, não é não ter jogadores que são portistas desde pequeninos - é contratar jogadores que no momento em que assinam pelo FC Porto já têm em vista uma transferência.

2,8M€, 80%
Danilo Pereira - Assim se vê a imposturice do presidente do Marítimo, que andou muito ativo aquando das notícias que apontavam Danilo ao Sporting, dizendo que o euro era igual a norte e a sul e mais umas quantas nhaniches. Danilo já nem era do Marítimo, era do Portimonense. Foi comprado por Teodoro Fonseca, o empresário de Hulk e de Walter, e só depois transferido para o FC Porto. 2,8M€ por 80% do passe não é uma avaliação despropositada para o valor de Danilo, de todo, mas mostra que só se queixa de guardanapos quem não é usado como tal para benefícios pessoais. 

Victor Garcia - O FC Porto podia tê-lo comprado logo no primeiro ano em que esteve emprestado? Podia, pois podia. Mas terá sido mais interessante deixar que fosse a Northfields Sports, uma empresa de Marcelo Simonian, a comprar primeiro Victor Garcia, por uma ninharia, para depois o FC Porto comprar 50% do passe com inflação: 1,8M€. Alguma vez viram algum jogador sair da Venezuela com uma avaliação de 3,6M€? Gostamos de Victor Garcia, mas esta política aplicada na equipa B, de receber jogadores estrangeiros por empréstimos para depois comprá-los já com inflação (como foi exemplo também - e sobretudo - Kayembé) a empresários serve os interesses de muita gente, mas não do FC Porto. Se acham que é bom, comprem logo, porque se for caro, então não é adequado para chegar à equipa B; caros deviam ser os que chegam e jogam logo na equipa A. Por exemplo, Gleison já não se livrará de uma compra inflacionada se ficar no FC Porto. Até porque é jogador do Portimonense, de Teodoro Fonseca. E jogadores como Ismael Díaz ou Leonardo Ruiz (pois, novamente emprestado), quanto custarão se ficarem a título definitivo no clube? 

André André - Chegou ao FC Porto pelo valor da cláusula de rescisão que tinha em Guimarães e também com intervenção de António Araújo, que tinha parte do passe. Neste momentos todos concordam que foi uma excelente compra, a valer cada cêntimo. 

Quando custou?
Agora, de destacar que o FC Porto pagou 8,622 milhões de euros com encargos com transferências. Não é tudo comissões, pois aqui também estão por exemplo os prémios de assinatura para os jogadores, mas também não é possível ver os valores detalhados. E a SAD devia fazê-lo. Por exemplo, quanto custou Osvaldo? Os 4M€ que um vice-presidente do Benfica o acusou de ter custado (e que não foi desmentido) é o preço de um ano de contrato ou algum valor pago ao Sud America?

O FC Porto revela, por exemplo, que Maxi Pereira custou 2M€. O empresário fazia essa exigência ao Benfica para renovar com o jogador, logo é natural que tenha recebido esse valor, mas o FC Porto não especifica a quem o pagou, nem confirma que Simonian também interferiu no negócio. Mas depois, o FC Porto especifica que pagou 6,645M€ em comissões (comissões, aqui já sem prémios de assinatura) entre julho e setembro de 2015. 6,645M€. Onde está aquela regra da FIFA que dizia que, doravante, os empresários só tinham direito a 3% das transferências totais?

De realçar ainda que no período homólogo de há um ano, o FC Porto detalhou a contratação de 7 jogadores (Adrián, Indi, Brahimi, Aboubakar, Marcano, Otávio e Evandro) e especificou o pagamento de comissões a 15 entidades. Há cada vez mais bocas a chegarem à chucha. Mas, coitados, transferir jogadores é uma trabalheira que nós, meros mortais e adeptos, não estamos à altura de compreender. 

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Por que Lopetegui não vai sair

«Os primeiros três meses da época 2015/16 não servem para mais do que lançar pistas do que vai ser o ano desportivo. Grande parte do período é passado na preparação da equipa, com a integração dos novos elementos e a sistematização das rotinas do grupo. Julen Lopetegui manteve-se como treinador da equipa profissional de futebol, o que facilitou todo este processo inicial.»

O trecho acima citado é assinado pelo Conselho de Administração do FC Porto e abre o Relatório e Contas do 1º Trimestre de 2015-16 (que vai ser analisado ao longo dos próximos dias, naturalmente - podem desde já sugerir temas que queriam ver analisados primeiro). 

O FC Porto justifica assim o porquê da continuidade de Lopetegui após uma época sem títulos: garantir estabilidade na equipa técnica, já que não consegue fazê-lo no plantel. Curioso. Quando se fala em transmitir «mística», pensamos sempre em jogadores, nunca em treinadores. Como o FC Porto não tem, ou não tinha jogadores, jogadores para assegurar essa passagem de valores, apostou na continuidade de Lopetegui.

Agora, há duas formas de avaliar a continuidade de Lopetegui. Uma é a época 2015-16. Outra é tudo aquilo que se passou desde que Lopetegui foi contratado como treinador do FC Porto. A SAD estará a seguir a primeira opção; a generalidade dos adeptos, a segunda.

O que foi a época 2014-15? Uma época muito acima da média acima da Liga dos Campeões, de valorização do plantel não só para grandes vendas (Danilo, Jackson, Alex) como na revelação de novos valores (Rúben Neves à cabeça), na qual o FC Porto não foi campeão nacional por fatores que até podia não conseguir controlar, mas também que não quis combater a nível diretivo. Perdemos pontos por culpa própria? Claro, como todas as equipas perdem em todos os anos. O que não é normal é uma equipa ganhar tantos pontos de forma ilícita, como foi o caso do campeão de 2014-15. Taça de Portugal, claro, uma desilusão, naquilo que foi um erro reconhecido por (quase) todos, embora os clássicos sejam os jogos onde há maiores probabilidades de perder.

Trocar de treinador só por trocar, que foi o que aconteceu na transição Vítor Pereira-Paulo Fonseca, era cometer erros do passado. Ou viria alguém declaradamente melhor e mais experiente, habituado a valorizar jogadores e conquistar títulos (já agora, que sugestões dentro deste perfil?), ou assumia-se o plano de continuidade. O FC Porto preferiu a continuidade de Lopetegui.

O que aconteceu contra o Dynamo Kiev? O FC Porto sofreu a primeira derrota da época e deixou de ser a única equipa invicta das Ligas europeias. Pinto da Costa nunca na vida irá despedir um treinador por sofrer a primeira derrota da época. O problema, claro, é que foi mais do que uma derrota contra o Dynamo Kiev. Foi deixar um grande objetivo da época por um fio (os 1/8 da Champions) e reacender desconfianças que muitos já mantêm desde a época passada.

Mas a SAD não estará a pensar em 2014-2016. Está a pensar em 2015-16. Normalmente, uma equipa que faz 10 pontos na fase de grupos da Champions passa a eliminatória. O FC Porto já atingiu essa marca, mas pode não chegar. É uma desilusão, claramente, até porque os resultados na Liga dos Campeões estavam a ser a maior valia da era Lopetegui. Cair para a Liga Europa será um rombo nas justificações para a continuidade do técnico.

Dito isto, Pinto da Costa (que é quem tem a palavra) não vai demitir Lopetegui. Lógico que não, mesmo que o FC Porto falhe a passagem aos 1/8 da Champions. Paulo Fonseca falhou-a, continuou e só pôde sair ao 3º pedido de demissão. Vítor Pereira falhou-a, continuou e foi campeão. Co Adriaanse falhou-a, continuou e foi campeão. Já Víctor Fernández conseguiu ir aos 1/8, mas foi despedido em janeiro. após perder um jogo... do campeonato.

Pinto da Costa não gosta de trocar de treinadores a meio da época. E sempre que demitiu, a decisão não partiu dele, mas dos treinadores. Sobretudo quando ainda há objetivos exequíveis em jogo. Nem que a equipa caia para a Liga Europa, tudo aponta para a continuidade de Lopetegui, que continuará sempre sujeito aos resultados do campeonato (não se pode perder mais pontos em relação ao Sporting, até porque vamos ter um clássico na pior altura possível - no início de janeiro, depois das festas, dos sul-americanos irem todos passar o natal a casa, viagens longas, alguns excessos e dias sem a preparação adequada, e logo no estádio onde temos piores resultados). 

Os adeptos não são obrigados a subscrever a aposta de Pinto da Costa. Mas sabendo-se que Pinto da Costa nunca cede a vontades exteriores, há dois caminhos possíveis: desistir de Lopetegui e de quem aposta nele; ou perceber que o treinador não vai sair, logo há que continuar a expor o que está mal, tentando corrigir os erros, destacando o que vai sendo feito de positivo e procurando sempre melhorar. 

É a 3ª vez consecutiva que Pinto da Costa contrata um treinador que, a determinada altura, vê a sua cabeça ser pedida pela generalidade dos adeptos. Quando, no último verão, se viam pedidos que iam de Marco Silva a Rui Vitória, nota-se que o problema nem é o treinador: é não ganhar. A generalidade dos adeptos, no fundo, quer é ganhar, e acha que o treinador é causa primária de qualquer derrota. Lopetegui, sobretudo no último jogo, teve grandes responsabilidades, mas trocar de treinadores não é um atalho para passar a vencer. Pelo menos não na política de Pinto da Costa, que faz sempre apostas de risco, levando treinadores para o FC Porto que não estão habituados a lutar por títulos...

... Mas pela primeira vez, vimos a SAD justificar a continuidade de um treinador com as saídas que vão acontecendo no plantel. É uma mudança de política: saem cada vez mais titulares, então que se mantenha o treinador. Se Lopetegui terminar 2015-16 sem títulos, de certeza que não iniciará a terceira época. Mas até lá, será para continuar. Pinto da Costa assim o decide.

No fim da época, então, não será apenas altura de avaliar a era Lopetegui, mas sobretudo o 13º mandato de Pinto da Costa.


PS: Por falta de tempo, O Tribunal do Dragão dedica muito pouco tempo de antena a outras modalidades do clube, que certamente mereciam muito mais atenção. Mas o que vai acontecer no próximo sábado, com o hóquei em patins, merece aqui total reprovação. O FC Porto vai defrontar o Barcelona, num clássico da Liga Europeia, e vai ter que jogar no Pavilhão Municipal de Fânzeres, pois o Dragão Caixa vai estar a ser preparado para a Gala dos Dragões de Ouro. Uma gala que, no passado recente, resume-se a momentos de «humor» muito duvidoso e a entregas supersónicas de Dragões de Ouro, que nem deixam os premiados discursar 10 segundos, é mais importante do que um FC Porto-Barcelona? Não, não é. E tendo o hóquei em patins um significado tão grande para Pinto da Costa, só se torna mais incompreensível. 

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Esmiuçar de uma grande bronca

Começando pelo fim: foi o pior jogo da era Lopetegui. E esse jogo coloca tudo a perder naquela que vinha sendo a maior valia na era Lopetegui: a Liga dos Campeões. FC Porto praticamente fora da Champions, sem ilusões, o que é um grande rombo no planeamento da época. Mas vamos por partes.

Após quase um ano, chega a primeira derrota no Dragão, depois da equipa ter alcançado 20 vitórias consecutivas e sempre a jogar melhor do que o adversário. O FC Porto de Lopetegui tinha marcado sempre na Liga dos Campeões, em 15 jogos consecutivos. Foi a primeira derrota desde 2013 no Dragão para a Champions. Ao fim de tanto tempo temos que aceitar uma derrota, que é normal acontecer no futebol, sobretudo na Liga dos Campeões. Mas não podemos aceitar as circunstâncias em que a derrota aconteceu.

O Dynamo não é uma equipa fraca, longe disso, é sempre um adversário que impõe jogos equilibrados ao FC Porto. Tem maior poderio financeiro, maior força salarial, e até podem alegar que tiveram a felicidade de ter um penalty e de ter aproveitado um duplo-erro de dois dos nossos melhores jogadores (Brahimi e Casillas) para fazer o 2x0 e matar o jogo. Nada disso serve de desculpa, pois independentemente disso o FC Porto não fez nada para ganhar o jogo. Nada.

Foram 90 minutos francamente maus. Pior, depois de uma primeira parte já fraca, a equipa não melhorou. Os jogadores pareciam mortos, sem reação, sem interesse, sem empenho. Um pouco o reflexo do banco, com Lopetegui completamente impotente para mudar o rumo dos acontecimentos e a levar um banho tático de Rebrov, treinador a fazer por merecer ser seguido com atenção. 

Não é fácil estar há mais de um ano a ser sempre melhor do que os adversários e não ter, por vezes, uma quebra. Mas foi uma quebra que aconteceu quando até um empate bastava. E depois de sofrer o 1x0, só se poderia esperar que o FC Porto respondesse a matar, pois estava à distância de um golo para alcançar o segundo maior objetivo da época. E nunca esteve sequer perto de o fazer. 

Perder na Madeira, empatar em Kiev ou empatar com o Braga não foram momentos decisivos, pois eram etapas de longos percursos. Já se criou o chavão de que «Lopetegui falha nos momentos decisivos», mas esta época ainda não tínhamos tido desses momentos. Até ontem. Lopetegui e os jogadores falharam, redondamente, num momento decisivo, sobretudo porque é-lhes cobrada a fatura de um elevado despesismo da SAD. E sem os 1/8 da Champions, podem contar muito bem com saídas a meio da época (que nem com os 1/8 garantidos estavam livres de acontecer, de todo), o que significa um rombo no maior objetivo, que era lutar pelo título de campeão. 

Resta o jogo em Londres. O apuramento é possível, claro. Mas vamos ser francos e realistas. Se perdermos em Londres, salvo circunstâncias muito específicas, a culpa não será de Lopetegui e dos jogadores. Será normal, pois o normal para o FC Porto é perder em Inglaterra. Gostamos de desafiar as dificuldades, o impossível e a história, mas isso não significa que não as reconheçamos.

Não criem teorias sobre uma crise do Chelsea, pois um Chelsea que está mal na Premier League significa que vai apostar a dobrar na Liga dos Campeões. Mourinho sabe-o bem. O FC Porto nunca ganhou em Inglaterra, nunca. Perdeu 88% dos jogos que lá disputou. Só conseguiu dois empates, ambos em Old Trafford, um em 2004 e outro em 2009, golpes de teatro de Costinha e Mariano aos 89 minutos. Basta ver o que foram 4 dos últimos 5 jogos do FC Porto em Inglaterra: 4-1 com o Liverpool, 4-0 e 5-0 com o Arsenal e 4-0 com o Manchester City.

O normal, para o FC Porto, é perder em Inglaterra. Não significa que não tenhamos que combater essa normalidade, mas não deixa de ser o desfecho tradicional no clube. Perder em Londres não será culpa de Lopetegui e dos jogadores. Mas ter perdido com o Dínamo foi.





André André (+) - E nada mais há a destacar. André André nem esteve particularmente bem no passe (68%), mas entrou contra a lateralização da equipa. Pressionou, arrancou 4 faltas, fez dois remates que encontraram os ferros da baliza, arranca um lance merecedor de penalty e tentou empurrar a equipa para a frente. É irónico: por vezes criticavam Lopetegui por jogar com 4 médios e não com dois extremos, mas ontem que jogou com 3 médios e dois extremos os efeitos foram totalmente contrários. Afinal, a diferença não está entre ter 4 ou 3 médios. Está entre ter ou não ter André André em campo.





Zerada (-) - O FC Porto fez 569 passes. O Dínamo 348. O FC Porto fez apenas 3 remates à baliza, em 9 tentativas. O Dynamo fez 6, em 17. O FC Porto, exceção a duas iniciativas de André André, não criou ocasiões de golo. O Dynamo sim. Consequência de uma circulação lenta e excessiva, com o FC Porto eternamente à espera de encontrar espaço, e sem perceber que tem que ser a própria equipa a criar esse espaço. Sem um jogador capaz de ser 3º médio em campo, Brahimi e Tello inexistentes no espaço interior e os laterais a chegarem pouco à linha, o FC Porto não existiu. Ninguém se entendeu no meio-campo porque não havia criatividade para jogar entre linhas. Zero.

Derrocada (-) - Lopetegui tinha que mudar algo ao intervalo, porque nada da primeira parte tinha funcionado. Tinha que reagir, e reagiu. Mas reagiu desfazendo a defesa, o meio-campo e nada mudando na construção da equipa. Lopetegui não quis impôr a força do FC Porto. Quis tentar travar Derlis e Yarmolenko quando estava a perder por 1x0. Maxi não estava a saber lidar com Derlis, verdade, mas não era jogador para ser substituído, a não ser por problemas físicos (que não os tinha). Yarmolenko também estava a libertar-se bem de Layún, o que fez Lopetegui meter Layún à direita, Indi à esquerda, recuar Danilo e redefinir o meio-campo (sem com isso nada mudar). A equipa não melhorou absolutamente nada. A única coisa de positiva que se viu foi André André. O que só condena ainda mais a opção inicial de Lopetegui, que teve medo do Dynamo quando já estava a perder por 1x0. 

Subrendimento geral (-) - Um treinador não pode ser culpado por erros individuais, como foi o momento do 2x0 do Dynamo ou até o penalty de Imbula, mas tem que assumir responsabilidades perante o rendimento coletivo da equipa. Que, diga-se, foi caótico. Casillas extremamente mal batido. Maxi Pereira, por mais falta que pudesse fazer na segunda parte, esteve em dificuldades perante os extremos do Dynamo, o mesmo que Layún, a expor as suas fragilidades defensivas. Danilo, como central, é para esquecer. Imbula está naquela versão que lhe valeu a distinção de flop de 2014 para o L'Équipe, e é bom que acorde, pois quem lhe prometeu uma transferência depois de passar pelo FC Porto de certeza que não imaginava que andasse a jogar assim (muito menos como 3º médio). Rúben Neves, jogando mais adiantado, não conseguiu dar largura ou profundidade. Tello nunca encontrou espaços, Brahimi não conseguiu um único lance desconcertante (e ainda há quem esfregue as mãos para janeiro...), Aboubakar desta vez não serviu nem foi servido e Corona e Osvaldo só marcaram presença na ficha de jogo. Uf...

Os jogadores têm responsabilidade perante tamanha falta de atitude, oh se têm, pois quem não se empenha na Champions, num jogo de apuramento para os 1/8, não se empenha em mais lado nenhum. Mas uma equipa que não funciona em nada, durante 90 minutos, é uma equipa que não está preparada. Assim não há protagonista que resista.

Ganhar a Tondela, União e Paços e depois lutar contra a história para fazer história em Londres, sabendo que 9 de dezembro não será o dia em que saímos da Liga dos Campeões. Já 24 de novembro...

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Seriedade, parte 2

Depois da forma como a equipa foi eliminada precocemente na temporada passada, o FC Porto poupa no entusiasmo o que ganhou em seriedade na Taça de Portugal. Resolveu cedo e não sentiu necessidade de fazer muito mais.

Se é verdade que do outro lado estavam amadores, estavam amadores a fazer o jogo das suas vidas. Do lado do FC Porto, 11 sem rotinas e estímulo competitivo baixo, a jogar contra 11 jogadores atrás da linha da bola, sem espaço, num mau relvado. Jogos que têm tudo para correr mal se não houver seriedade. 

De notar que entre as equipas da primeira liga, além do FC Porto, a única que se apurou sem ganhar pela margem mínima foi o Nacional. De resto ou é nos penáltis, ou no prolongamento, ou por um golo. Uma competição que é decidida nos detalhes, seja num dérbi, seja num jogo de David contra Golias. Que seja esta a imagem de marca a manter: seriedade.





Bueno (+) - Lopetegui dizia dele que era um avançado disfarçado de médio. Contra o Angrense foi um extremo disfarçado de finalizador. Não tem velocidade para rasgar a partir da ala, mas foi interessante vê-lo nesta nova função: jogar atento ao espaço interior, dar o corredor a Ángel e aparecer mais vezes na grande área (algo que tem faltado muito ao FC Porto quando se usa e abusa de Aboubakar em zonas recuadas). Resultado: duas vezes na grande área, dois golos à ponta-de-lança. Se é difícil encaixá-lo no meio-campo, Lopetegui ganhou mais uma solução para encaixar Bueno na equipa.


Ángel (+) - Não tendo nada para fazer defensivamente (que, basicamente, é o que acontece com Layún e Maxi na maioria dos jogos do campeonato), tinha que dar nas vistas no ataque. E fê-lo. Sempre a dar profundidade, a decidir com maior precisão e rapidez e a cruzar para o 1x0. Foi contra o Angrense, pois foi, mas a confiança tinha que começar a ser ganha em algum lugar. E não ia ser na Champions, de certeza. Uma palavra para Imbula, confortável na posição 6 e mais rápido e prático a decidir, embora o Angrense não oferecesse pressão nenhuma.





É preciso mais (-) - Esperava - e espero - muito mais de Varela no FC Porto de Lopetegui. Excessivamente lento e preso de movimentos desde que começou a partida. Notou-se a falta de entendimento com o lateral, normal para um 11 com poucas rotinas, mas não foi objetivo, não fez bons cruzamentos e não ultrapassou nenhum defesa em velocidade. Muito, muito pouco. O mesmo para Osvaldo. Fez a assistência para o 2x0 e nota-se a vontade de trabalhar fora da grande área, mas não está a conseguir ser incisivo e muitas vezes decide mal. Nunca foi um goleador, o FC Porto saberia isso desde que o contratou, mas temos que esperar mais dele. Sobretudo nas próximas semanas, pois o mercado de janeiro está aí à porta.

Terça-feira é dia de alcançar o segundo maior objetivo da época: a qualificação para os oitavos-de-final da Champions. De preferência invicto, com mais uma vitória, e logo se verá se com o estatuto de cabeça de série para os 1/8. Lopetegui pode ser o primeiro treinador de um grande português a ir duas vezes aos 1/8 da Champions nas últimas 6 épocas. Se fosse fácil, não era para nós.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Layún e a política da SAD

Layún terá 28 anos quando o contrato de empréstimo do Watford terminar. E podemos começar precisamente por esta questão da idade: entre as 40 compras mais caras da história do FC Porto, nenhum jogador tinha 28 anos. O jogador mais caro de 28 anos contratado pelo FC Porto foi Marc Janko (solução de mercado de inverno), que ficou meio época. Depois foi Nuno Espírito Santo, trazido por Jorge Mendes e que viveu sempre na sombra ora de Baía, ora de Helton. O 3º foi Jankauskas, depois de uma época no Benfica que agradou a Mourinho.

Os grandes investimentos do FC Porto, em toda a sua história, nunca foram efetuados em jogadores de 28 (ou mais) anos. E quando vemos que o mais caro foi Janko (3M€) e que a opção de compra de Layún é de 6M€, vemos o quão contra-natura face à política da SAD é considerar comprar o mexicano nestes moldes.


É cedo para avançar para a compra de Layún, mas não é cedo para debater em que medida este negócio se enquadradinha na conhecida política da SAD. Quando o FC Porto investe 6 ou mais milhões de euros num jogador, por norma mais tarde há transferência milionária (ou pelo menos que gere mais-valias e cubra o investimento financeiro). Foi assim em 80% dos casos.

Exceção feita aos jogadores que ainda estão ligados aos quadros do clube, entre as contratações por 6 ou mais milhões o FC Porto só falhou com Defour, Pelé (moeda de troca), Rodríguez e Postiga (envolveu moeda de troca) na sua segunda passagem pelo FC Porto. De resto, sempre que avançou com 6M€ por um jogador, o FC Porto conseguiu lucrar. Mas o FC Porto nunca avançou com 6M€ por um jogador de 28 anos. Nem com 5, nem com 4 milhões. Fê-lo sempre com jovens.

No que toca a vendas, o FC Porto já fez transferências bastante lucrativas com jogadores de 28 anos, como foram exemplo Jackson Martínez, Bruno Alves, Lucho González ou até Zahovic. Por outro lado, o FC Porto não tem hábito de vender e comprar no mesmo defeso. Logo podemos tomar por referência os 29 anos que Layún teria em 2017. E com esta idade, não há registo de grandes vendas por parte do FC Porto.

Contratar Layún é inverter a política da SAD. Como é lógico, não vamos comprar Layún a pensar que vamos vendê-lo por 30M€ passados três anos. É uma contratação que foge ao habitual, mas no último verão já vimos o FC Porto fugir à tendência, ao contratar Casillas, Osvaldo e... Maxi Pereira.

E daqui podemos partir para a comparação da dupla Danilo-Alex Sandro e Maxi Pereira-Layún. Já todos vimos as comparações a nível ofensivo, mas há algo que está a faltar na questão do rendimento. Danilo saiu por 31,5M€, Alex Sandro por 26M€, depois de ambos terem custado 22,6M€, além de encargos. Já Maxi Pereira foi contratado em free agent e Layún chegou por empréstimo. 

Todos vão concordando que o FC Porto não perdeu nada a nível de rendimento. Mas se Maxi, saindo do Benfica, só encontrou boas portas para prosseguir a carreira num rival e se Layún estava no Watford não era por serem laterais mais desejados do que Danilo e Alex Sandro. Mas algo fez a diferença: experiência.

O FC Porto substituiu dois dos melhores laterais da Europa, que foram contratados seguindo a política habitual da SAD (contratar jovens caros e vendê-los a bom preço), com o recurso a dois jogadores que contrariam a tal política da SAD: experiência, jogadores feitos, capazes de chegar, jogar e render, em vez de ter que esperar por período de adaptação e que atinjam a maturidade.

Ninguém sente falta de Danilo e Alex Sandro porque o FC Porto contratou jogadores feitos, capazes de pegar de estaca na equipa. Maxi Pereira tinha muitos anos de campeonato português e vasta experiência internacional. Layún, além de também ser experiente, é um lateral que ataca muito bem, algo que encaixa totalmente no modelo de Lopetegui e no futebol português. Nenhum deles seria jogador para gerar mais-valias, mas ambos foram capazes de chegar, jogar e fazer esquecer quem cá estava. Não se nota a saída de Danilo e Alex Sandro porque o FC Porto contratou certezas para o curto prazo. 


Promessas o FC Porto já tinha. Rafa é a maior delas todas, e prova-o a cada semana de trabalho na equipa B, envergonhando quem achou que Kayembé é que era um projeto interessante de lateral. E Rafa é um jogador que tem mais de 10 anos de casa e não houve escalão em que não prometesse ser uma opção de grande futuro. Para a lateral-direita, também já havia Víctor Garcia, jovem que, embora não haja ainda confirmação a nível de R&C, já terá sido bem mais caro do que aquilo que seria esperado aquando do seu primeiro empréstimo ao FC Porto.

O lateral-esquerdo do futuro
Tanto Rafa como Víctor são jovens que podem evoluir no sentido de chegar à equipa A do FC Porto. Não faz sentido que continuem na equipa B para lá de 2015-16. Não podemos cair no romantismo de dizer que já podiam estar a jogar regularmente na equipa A, pois de certeza que não iam formar a dupla com maior produtividade ofensiva da Europa, como são Maxi e Layún. Mas não vale a pena pensar em promessas quando já temos duas assim na equipa B. E são promessas que já têm capacidade para crescer na sombra dos habituais titulares - temos Cissokho e Ángel a discutir um papel para o qual Rafa bastaria. E quando Layún sentou na Champions, quem jogou à esquerda foi Indi. Só a massa salarial implicada por dois jogadores que não jogam, no caso Cissokho e Ángel, já ajudaria e muito a manter Layún.

Ainda sobre Layún. Apesar da opção de compra ser de 6M€, é especulativo tomar esse valor como inflexível. Trata-se de um jogador da rede Pozzo, o que se por um lado pode significar um investimento mais reduzido (veja-se o exemplo do Granada, que ainda só recebeu 500 mil euros por Brahimi, jogador desejado por meia Europa), por outro dificilmente será jogador para ser contratado sem envolver terceiros. Para a SAD, não importa reduzir apenas a dependência de mais-valias, mas também a dependência de envolver terceiros em contratações. Além disso, o Watford só vendeu um jogador em toda a sua história por mais de 6M€ - Ashley Young, internacional inglês do Man. United.

Dito isto, faz todo o sentido que o FC Porto pense em mais Maxis e Layúns: jogadores feitos, capazes de chegar e render, pois jovens promessas já temos em diversos setores nos quadros do clube. Por outro lado, a SAD nunca dependeu tanto de mais-valias como neste momento. E se há um ano tínhamos uma dupla de laterais capaz de render 50M€, neste momento não temos dupla de laterais para mais-valias. Isso vai exigir mais de outros jogadores... ou que a SAD decida de uma vez por todas meter travão e controlar os investimentos: pensar em mais jogadores rodados e menos em promessas para o médio/longo prazo. Não queremos que o FC Porto deixe de ter jovens de grande potencial, claro que não. Precisamos sempre deles. Mas o que muitos não querem perceber é que não precisamos de ir ao mercado se já os temos nos nossos quadros. Assim, deixem o mercado para os jogadores de hoje, porque os de amanhã já cá estão. 

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Salto à Segunda Circular

«Constatou-se que é fácil prejudicar o Sporting num jogo de futebol… Só é possível desejar que a visão do Artur Soares Dias melhore na próxima época. Sinto que o Sporting foi prejudicado, como sentem todos que viram o jogo. São lances que nem merecem discussão», Carlos Freitas, diretor-desportivo

«No jogo do passado domingo no Porto, quer os adeptos presentes, quer a equipa de futebol profissional não foram respeitados. Estamos a proceder à averiguação dos acontecimentos e iremos agir em conformidade», Godinho Lopes, presidente

«Os árbitros têm de perceber que se não estão em condições de exercer a sua profissão, vão para a pesca mas não podem dirigir jogos deste gabarito. A dois metros do sítio não vêem um penálti tão claro… O que é preciso é haver pessoas competentes a apitar. Isto tem de acabar de uma vez por todas. Como? Com processos, processos-crime», Carlos Barbosa, vice-presidente

«Escorregou? Devia ser penalty»
Três dirigentes do Sporting a queixarem-se da arbitragem por causa do mesmo lance. A saber, por causa de um lance num FC Porto x Sporting de 2011. Aconteceu já no tempo de descontos: Rolando escorregou e, posteriormente, acabou por dar uma braçada na bola. Soltou-se uma imensa indignação por causa deste suposto penalty por marcar. Não era para menos. Ao perder por 3x2 no Dragão, o Sporting ficava a 35 pontos do primeiro lugar e a 16 do 2º, isto à 27ª jornada. Aquele penalty mudaria a história toda do campeonato, claramente.

Na altura, ficámos a saber que a partir do momento em que um jogador escorrega não tem desculpa para nada. Rolando desequilibrou-se por completo quando escorregou e foi por isso que deu com o braço na bola. Mas não teve desculpa na praça pública. Escorregou, fez falta, então era penalty. Foi assim há 4 anos. Agora as regras mudaram.

O que vimos em Arouca foi muito, muito pior do que fez Rolando. Naldo escorrega, projeta-se para a frente, sem qualquer hipótese de jogar a bola, e vira ao contrário um jogador do Arouca que estava pronto para rematar sem oposição. Num só lance seria penalty, expulsão e golo para 1x0. Mas agora, ao contrário do que se passava há quatro anos, descobrimos que quando um jogador escorrega torna-se inocente de tudo o que possa acontecer a seguir. 

«Escorregou? Toca a levantar, que escorregadelas não dão penalty»
O que está em causa é, simplesmente, o critério. Por exemplo, Pedro Henriques, na sua coluna no jornal O Jogo, diz que este lance de Naldo não é penalty, tal como disse que há quatro anos não havia penalty de Rolando. Nos demais, o critério parece que mudou subitamente. Poderão dizer, claro, que estes três dirigentes acima citados já não estão ligadas ao Sporting. É verdade, mas o clube é o mesmo. Quem tanto se orgulha da sua fundação não pode ignorar que a história do Sporting começou - e desde então é contínua - em 1906, não foi a 24 de março de 2013.

Curiosamente, não se vê ninguém na praça pública a realçar que se tratava de um penalty. Já há 4 anos, tanto A Bola como o Record não hesitaram em afirmar, na sua capa, que era falta para grande penalidade. Quatro anos depois, shiu, ninguém viu. Já sabíamos que o Sporting está na frente do campeonato graças aos penaltys. A novidade é que não está apenas devido aos penaltys marcados, mas também àqueles que ficaram por marcar. 

Ainda a propósito do jogo em Arouca, João Mário diz algo extremamente acertado: «Até onde sei os treinadores não podem entrar dentro de campo». Tem toda a razão, mas o clube que tem Jorge Jesus como treinador é o último a poder queixar-se disto.

Peça de valor comercial
A rematar, do outro lado da Segunda Circular, soube-se hoje que os árbitros já prestaram esclarecimentos (por e-mail, que isto de pedir testemunhos on the record é coisa pré-histórica) sobre as prendas do Benfica. E os títulos que se vão lendo na imprensa desportiva é algo assim: «Árbitros confirmam prendas do Benfica dentro dos limites autorizados».

Mais poeira para o ar. Mas quais limites, se os regulamentos da FPF não falam em limites alguns? Os 200 francos são fixados pela UEFA para as competições europeias, não é para a liga portuguesa. O que os regulamentos da FPF dizem é que os árbitros não podem aceitar presentes com valor comercial. Como por exemplo, uma camisola histórica de Eusébio à venda no seu site por 59,90€, além das refeições pagas para dias posteriores aos dos jogos do Benfica. Libertem quanta poeira quiserem, mas qualquer regulamento que seja invocado só confirma o que já se sabe: Benfica fez ofertas ilegais a árbitros

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Invictos

Pela primeira vez em muito tempo, não foi a equipa a puxar pelos adeptos no Dragão: os adeptos é que puxaram pela equipa, que podia muito bem ter cedido à pressão depois de desperdiçar tantas ocasiões de golo. Mas os adeptos que se fizeram ouvir, sobretudo depois do início da segunda parte, empurraram a equipa para a vitória. Mais do mesmo, por favor.

Uma vitória que inclui todas as virtudes e defeitos do FC Porto de Lopetegui. Obrigação cumprida, com um resultado que torna o FC Porto a única equipa do top 15 europeu sem derrotas. Não é nada para embandeirar em arco, porque nas contas finais é mais vantajoso ganhar dois jogos e perder um do que ganhar um e empatar dois, mas os registos de imbatibilidade dão sempre confiança para continuar a trabalhar e evoluir.

21 pontos em 9 jogos, exatamente o mesmo que há um ano, mas abaixo das quatro épocas anteriores. O importante é recuperar o primeiro lugar o mais rapidamente possível. Se a equipa não ceder terreno, será uma questão de tempo. O Sporting, que está na liderança, é a equipa com mais penaltys em Portugal (5) e a 3ª com mais penaltys na Europa. Sem as grandes penalidades, não teria conseguido 3 vitórias. E três das suas vitórias foram conseguidas com golos para lá do minuto 85. Há quem lhe chame estrelinha de campeão, mas só mais à frente veremos se havia estrelinha ou sorte a disfarçar fraquezas. Até final do ano civil, é obrigação do FC Porto tentar fazer o pleno de vitórias na liga. Depois, faremos contas à deslocação a Alvalade. Nos próximos 7 jogos, cinco serão fora de casa. Ciclo difícil e de exigência.





Layún (+) - As notícias de que o FC Porto estaria a pensar em comprá-lo fizeram-lhe bem. Defensivamente, um lateral não tem muito a fazer quando joga no Dragão. Assim Layún pode jogar como gosta - com todo o corredor para explorar, mais espaço interior, e estar sempre perto da grande área adversária. Defensivamente tem lacunas, algumas consideráveis, mas a atacar é o protótipo de lateral perfeito para o FC Porto. Assistência e golo, ambos de qualidade. Não se pode pedir mais.


Segurança defensiva (+) - Parecendo que não, o V. Setúbal chegou ao Dragão tendo tantos golos marcados como o FC Porto. Ainda assim, nem um remate para amostra. Marcano e Indi limparam tudo e o FC Porto já leva 16 jornadas consecutivas sem sofrer golos em casa. São 24 horas sem sofrer um único golo em casa. Registo louvável. E mais uma palavra para Maxi Pereira, que descobriu Layún para o 2x0 - os dois laterais a construírem um golo no ataque. Se não há nada para fazer defensivamente, é assim que deve ser.





Vamos acabar com isso? (-) FC Porto x Maccabi: Danilo a aquecer aos 15 minutos. FC Porto x Braga: Rúben Neves a aquecer aos 15 minutos. FC Porto x V. Setúbal: André André a aquecer aos 15 minutos. Três jogos consecutivos em que Lopetegui já tem um jogador a aquecer ao quarto de hora. E é caso para dizer que já chega. De certeza que não é para espicaçar quem está em campo, pois Lopetegui acaba por não mexer antes do intervalo. Colocar cedo um jogador a aquecer é sinal de que Lopetegui não gosta do que vê. Mas três jogos consecutivos é de mais. Lopetegui repete sempre a mesma fórmula no meio-campo, então que diferenças espera ele? O que isto vai parecendo é uma equipa que não se preparou ao longo da semana, e que passado 15 minutos já sente que está tudo mal e que tem que mudar. Assim não, mister. 

Desgaste de Aboubakar (-) - Não é que Aboubakar tenha deixado de ter situações de finalização. Mas uma vez mais, o uso que Lopetegui dá ao ponta-de-lança retira ao FC Porto capacidade de ter presença na grande área adversária. Aboubakar está sempre forçado a jogar longe da baliza, a dar a apoio a linhas recuadas. O meio-campo é que devia dar algo mais ao ataque, em vez de Aboubakar ter que se andar a sacrificar. O jogo não correu bem a Evandro, nem aos médios do FC Porto na verdade, o que reduziu ainda mais a capacidade de meter gente em zonas de finalização. Felizmente, na segunda parte Lopetegui mudou a tempo. Resultado? Aboubakar estava perfeitamente posicionado na zona do ponta-de-lança para fazer o 1x0 (e os centrais do V. Setúbal estavam fora do lance, pois o FC Porto meteu mais gente na grande área). É necessário manter o nosso ponta-de-lança mais perto da baliza. Afinal, temos 16 jogos consecutivos sem sofrer golos. Não porque os nossos guarda-redes e defesas brilham em todos os jogos, mas porque os adversários pouco atacam no Dragão. A rever.


sexta-feira, 6 de novembro de 2015

A queda de mais um mito

Não há portista (e benfiquista) que não se lembre. Na pré-época de 2014-15, o FC Porto fazia um «investimento sem igual», tinha «o plantel mais caro da história do futebol português» e estava a fazer uma aposta de extremo risco para tentar recuperar o título. Já o Benfica, se bem se recordam, era um coitadinho, que perdeu meia dúzia de titulares, vendeu muitos dos seus bons jogadores e estava muito poupadinho comparativamente ao FC Porto. Era o pânico desprovido de coerência.

E agora vamos ao fim do mito. Em 2014-15, foi campeão quem mais investiu. Quem? O Benfica. O coitadinho Benfica, que estava nas lonas, gastou mais do que o FC Porto, que supostamente seria a equipa mais cara da história do futebol português. Não é uma surpresa, pois isso já tinha sido assinalado neste espaço, mas agora temos a confirmação dos números da SAD do Benfica. E uma vez mais constatamos a dualidade de critérios na praça pública: o Benfica era quem mais gastava, mas aos olhos de muitos era o coitadinho poupadinho que não chegava aos calcanhares do FC Porto; já o FC Porto tinha que ser campeão porque, basicamente, era quem mais estava a investir. Não foi.

No exercício de 2014-15, o FC Porto teve gastos totais de 166,8M€. E o Benfica teve gastos de... 178,9M€. Por norma, no futebol português é campeão quem mais investe. É extremamente raro haver uma exceção a esta regra. Isso não quer dizer que o FC Porto tem que gastar mais todos os anos para ser campeão. Largos dias têm cem anos, e o FC Porto ainda tem muitos dias pela frente. Não queremos uma época de descontrolo total para recuperar um título se isso compromete a estabilidade do clube a curto/médio prazo. Nunca. O FC Porto nunca se esgotará numa época. 

Como é lógico, não faltará quem se aproveite da tal questão semântica já aqui debatida para discutir os números. Mas o facto é este: quem mais gastou foi o Benfica, o coitadinho Benfica que estava em poupança de custos. No futebol português, já é normal ser campeão quem mais investe. Se aliarmos isto ao que o Benfica investiu noutros setores, leia-se colinho, assim se explica como se conquista um bicampeonato. O FC Porto tinha um orçamento alto o suficiente para lutar pelo título até ao fim, claro - e lutou. E todos sabem o que desequilibrou a balança. Mais: o Benfica, com um orçamento de quase 180M€, não conseguiu passar a fase de grupos da Champions e nem à Liga Europa foi.

Se o investimento do FC Porto era de desespero, como disse este sujeito, então o que era o investimento do Benfica, que foi ainda maior?


No balanço operacional, como tem sido hábito, o Benfica apresenta melhores resultados do que o FC Porto: 4,5 milhões negativos contra 16,7M€ negativos do FC Porto. Este défice operacional já vem sendo corrente nas contas da SAD. Mas depois entramos no campo das mais-valias, e aí a balança inverte a favor do FC Porto. O Benfica teve 78,8M€ de proveitos com atletas (num verão em que varreu meio plantel), enquanto o FC Porto gerou 90M€. O Benfica ficou, assim, com um saldo positivo de 34,9M€ com atletas, enquanto o do FC Porto superou os 50M€.

Podem alegar que o aumento de custos do Benfica (43,9M€ em amortizações e despesas com transferências, contra 38,9M€ do FC Porto - lá está, até em contratações/transferências gastaram mais) se deve ao fim do fundo do clube, mas é uma despesa como as outras. É investir em jogadores, é despesa com o plantel. 

Além disso, no fim da época o FC Porto acabou com um resultado líquido de 20M€, contra os 7,1M€ do Benfica. E sem milhões da treta. A título de curiosidade, o orçamento de 25M€ anunciado por Bruno de Carvalho foi, na verdade, de 81,2M€. Ou seja, as despesas totais do poupadinho Sporting aumentaram 43,7% num ano. Vamos ver como será em 2015-16, já com Jorge Jesus e contratações para o topo da folha salarial do clube. 

Até seria interessante comparar os orçamentos dos três clubes para 2015-16, mas o FC Porto, uma vez mais, foi o único a detalhar a sua proposta de orçamento à CMVM. Podem conferi-la aqui. Por isso, podem contar com uma coisa na praça pública: Benfica e Sporting são uns poupadinhos, que gastam muito pouquinho e por isso a nada estão obrigados, e o FC Porto é que está obrigado a ganhar tudo, pois é quem mais gasta. Vale tudo para sacudir a pressão.

Já agora, a propósito ainda da vitória em Israel. É preciso ser-se de uma ignorância profunda e triste para não perceber o quão difícil é, sob qualquer circunstância, ganhar um jogo fora de casa na Europa. Seja em Haifa, seja em Barcelona. Já citamos o exemplo de Jorge Jesus (3 vitórias em toda a carreira fora de casa na Champions - e quer ele ir à final), mas reparem só no Sporting: 4 anos, 17 jogos, sem ganhar fora de casa na Europa. Estamos a falar de um clube sobretudo habituado à Liga Europa, mas isso só dá razão ao quão difícil é ganhar fora de casa na UEFA. É que o FC Porto, na Champions, trava-se com as melhores equipas da Europa. A Liga Europa tem um nível competitivo abaixo. E aí, veja-se que o Sporting foi a estádios como os do Vaslui, Legia, Videoton, Genk e Skenderbeu e não foi capaz de ganhar um único jogo.

Não podemos comparar o FC Porto ao Sporting, claro que não, pois não se mistura quem ganha na Champions com quem não ganha na Liga Europa. Mas é apenas mais um exemplo do facciosismo quando debatem sobre os objetivos e obrigações do FC Porto. Parece fácil. Não é. Tudo pressiona a equipa, com falsidades como ser fácil ganhar um jogo fora de casa na UEFA ou ter o plantel mais caro da história do futebol português. Cabe a cada portista combater os mitos. Não há mito que resista a factos e números, mas muitos continuarão a esconder factos e números para alimentar mitos.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Parece fácil. Não é

4 jogos, 10 pontos. Aos 12 milhões de euros pela presença na fase de grupos, já se acrescentam 5M€ pela prestação da equipa. Falta um ponto para chegar aos oitavos-de-final, arrecadar mais 5,5M€ e fazer o market pool disparar para valores na ordem dos 4M€. Os objetivos ficarão assim cumpridos para a edição 2015-16 da Champions. Para já, importa bater o Dynamo Kiev. Vencer, pois o FC Porto não sabe jogar para o pontinho. Nem devia.

A um ponto dos 1/8
O FC Porto cumpriu a difícil obrigação. Três vitórias consecutivas na fase de grupos da Liga dos Campeões, sendo que era na dupla-jornada com o Maccabi e na receção ao Dynamo que tudo ficaria decidido. Não ficamos em euforia por ter 9 pontos, sentimo-nos com dever cumprido por ter 10. Há que ganhar ao Dynamo para sentenciar este objetivo da época. Se pudermos ir a Londres discutir o primeiro lugar já com a qualificação assegurada, melhor, até porque todos conhecemos o historial altamente negativo do FC Porto em Inglaterra.

A vitória contra o Maccabi não foi brilhante, mas foi boa, segura, tranquila. Ganhar um jogo fora de casa na Champions merece sempre nota positiva. É sempre difícil, seja em Barcelona ou Borisov, Haifa ou Munique. Que o diga por exemplo Jorge Jesus, que em toda a sua carreira só ganhou 3 jogos fora de casa na Champions, aos colossais Otelul, Anderlecht e Basel. Lopetegui já vai em 4, com uma ida aos 1/4 da Champions pelo meio e mais uma aos 1/8 à distância de um ponto. A carreira do treinador que diz que se for para o estrangeiro vai a uma final da Champions resume-se a uma única passagem de fase de grupos. É caso para dizer: se Lopetegui, sendo mau, já faz mais do que Jesus, que é bom, na Champions, então imaginem se Lopetegui fosse bom. Irony alert, convém apontar.



Danilo Pereira (+) - O jogo em que melhor se entendeu com Rúben Neves. Nem uma falta em todo o jogo, ocupou sempre bem o espaço, mesmo estando muitas vezes desapoiado no momento defensivo. Foi o médio com melhor eficácia de passe (91%), mas não se limitou a jogar simples, como foi exemplo dois excelentes passes a rasgar para Tello e Aboubakar. Exibição completa.

Layún já marca
Laterais (+) - Dos pés de Maxi Pereira e Layún já saíram sete passes para golos esta época. Por esta altura, há um ano, Danilo e Alex Sandro tinham fabricado apenas três golos. Ofensivamente a equipa não perdeu nada. Excelente assistência de Maxi Pereira para André André, antes de um belo golo de Layún, a fazer uso da parte positiva de ter um destro a jogar à esquerda. A grande diferença é que Layún tem rasgo para ser extremo e procurar a baliza - nunca veríamos Fucile, que tantas vezes jogou à esquerda, fazer um golo daqueles, por exemplo. Maxi Pereira não tem culpa do penalty, por ter sido um lance inventado pela equipa de arbitragem, logo defensivamente também estiveram ambos competentes.

André André (+) - O movimento e o cabeceamento no 2x0 é de goleador. Fez a abertura para Tello inaugurar o marcador. Apareceu bem entre linhas, deu espaço para Maxi subir no corredor, ajudou a dar apoio em zona interior, arrancou faltas, pressionou. Mais uma exibição completa de André André. Isto já não é apenas um excelente momento de forma. E ontem até recebemos a boa notícia de que, daqui a uns aninhos, a linhagem dos Andrés poderá ter mais um membro. O FC Porto agradece.

Cristian Tello (+) - Mesmo no seu pior momento de forma, Tello tem um dom: saber onde posicionar-se. Consegue sempre encontrar o espaço vazio onde sabe que pode criar perigo. Quando a bola entra no seu espaço, já se sabe que vai chegar a zona de perigo, mesmo que ele nem sempre tome a melhor decisão. Excelente na desmarcação e finalização do 1x0, muito bem na assistência para Layún. Combinou muito bem com o lateral e respondeu a tudo: à ausência de Brahimi, à presença de Corona no banco e à entrada de Varela. Assim o lugar é dele.



Joga quem rende (+) - Herrera (8M€), Imbula (20M€) e Corona (10,5M€). O FC Porto tinha jogadores mais caros no banco do que o 11 titular. E mesmo que estes três jogadores sejam nomes que o FC Porto tem que valorizar, Lopetegui não obedece a preços ou estatutos. Não estavam bem, deu oportunidades a outros. E quem entrou correspondeu da melhor forma. Assim se obriga o plantel a estar sempre a 100% e em máxima concentração competitiva. Além disso, é de destacar a importância de uma vitória numa equipa - nunca é de mais lembrar - renovada. Tello, contratado em 2014, era o jogador em campo com mais jogos pelo FC Porto, e está longe de ser um veterano.


Ausência de pressão (-/+) - Quando jogamos fora, na Liga dos Campeões, não podem esperar ópera rock (inserir estilo de música favorito). Vencer já é bom. Vencer de forma folgada, melhor ainda. E vencer com absoluta tranquilidade, como o FC Porto o fez, melhor ainda. Ainda assim, há muito a rever, sobretudo a forma como o FC Porto (não) pressionou o Maccabi. O FC Porto deixou uma equipa limitada tecnicamente ter 48% de posse de bola. Podemos assumir que se tratava de uma estratégia, uma vez que Lopetegui saberia que o Maccabi, sendo tecnicamente limitado, podia ter bola mas não criaria perigo. 

Em parte, é verdade. O Maccabi corria pelo corredor central, mas quando chegava à grande área o FC Porto quase sempre resolvia - apesar de Casillas ainda ter sido forçado a algum trabalho. O FC Porto nunca aplicou no seu jogo uma pressão constante, ainda que possa ter entendido que não precisava de o fazer. O FC Porto não teve menos posse de bola do que o habitual (52%) por ter feito transições mais rápidas, mas sim por não ter pressionado tanto o adversário e não ter recuperado tantas bolas.

Ainda assim, de destacar negativamente o distanciamento entre linhas do FC Porto, o que expõe a equipa a riscos que, contra o Dynamo ou Chelsea, terão consequências, e a ineficácia em alguns lances de finalização. Nada impediu a vitória tranquila em Haifa, mas fica a garantia de que contra o Dynamo ou o Chelsea esta estratégia/erros/displicência terá outras consequências. Tempo de pensar no Vit. Setúbal, cuja única derrota esta época foi em casa do Marítimo.


PS: Mariana Cabral apresenta-se assim no Expresso: «Quando disse em casa que queria ser jornalista, o pai, também ele jornalista, levou as mãos à cabeça e proibiu-a.» A avaliar pela sua crónica da vitória do FC Porto em Israel, o paizinho tinha muita razão. O ramo ficava a ganhar. Já agora, menina (visto não poder utilizar o termo jornalista), recordemos lá a matemática da última vez em que o Benfica saiu de Israel. 

Na verdade, a menina tem razão: equipa portuguesa + viagem a Israel = a 3. É matemática.