Não há portista (e benfiquista) que não se lembre. Na pré-época de 2014-15, o FC Porto fazia um «investimento sem igual», tinha «o plantel mais caro da história do futebol português» e estava a fazer uma aposta de extremo risco para tentar recuperar o título. Já o Benfica, se bem se recordam, era um coitadinho, que perdeu meia dúzia de titulares, vendeu muitos dos seus bons jogadores e estava muito poupadinho comparativamente ao FC Porto. Era o pânico desprovido de coerência.
E agora vamos ao fim do mito. Em 2014-15, foi campeão quem mais investiu. Quem? O Benfica. O coitadinho Benfica, que estava nas lonas, gastou mais do que o FC Porto, que supostamente seria a equipa mais cara da história do futebol português. Não é uma surpresa, pois isso já tinha sido assinalado neste espaço, mas agora temos a confirmação dos números da SAD do Benfica. E uma vez mais constatamos a dualidade de critérios na praça pública: o Benfica era quem mais gastava, mas aos olhos de muitos era o coitadinho poupadinho que não chegava aos calcanhares do FC Porto; já o FC Porto tinha que ser campeão porque, basicamente, era quem mais estava a investir. Não foi.
No exercício de 2014-15, o FC Porto teve gastos totais de 166,8M€. E o Benfica teve gastos de... 178,9M€. Por norma, no futebol português é campeão quem mais investe. É extremamente raro haver uma exceção a esta regra. Isso não quer dizer que o FC Porto tem que gastar mais todos os anos para ser campeão. Largos dias têm cem anos, e o FC Porto ainda tem muitos dias pela frente. Não queremos uma época de descontrolo total para recuperar um título se isso compromete a estabilidade do clube a curto/médio prazo. Nunca. O FC Porto nunca se esgotará numa época.
Como é lógico, não faltará quem se aproveite da tal questão semântica já aqui debatida para discutir os números. Mas o facto é este: quem mais gastou foi o Benfica, o coitadinho Benfica que estava em poupança de custos. No futebol português, já é normal ser campeão quem mais investe. Se aliarmos isto ao que o Benfica investiu noutros setores, leia-se colinho, assim se explica como se conquista um bicampeonato. O FC Porto tinha um orçamento alto o suficiente para lutar pelo título até ao fim, claro - e lutou. E todos sabem o que desequilibrou a balança. Mais: o Benfica, com um orçamento de quase 180M€, não conseguiu passar a fase de grupos da Champions e nem à Liga Europa foi.
Se o investimento do FC Porto era de desespero, como disse este sujeito, então o que era o investimento do Benfica, que foi ainda maior?
No balanço operacional, como tem sido hábito, o Benfica apresenta melhores resultados do que o FC Porto: 4,5 milhões negativos contra 16,7M€ negativos do FC Porto. Este défice operacional já vem sendo corrente nas contas da SAD. Mas depois entramos no campo das mais-valias, e aí a balança inverte a favor do FC Porto. O Benfica teve 78,8M€ de proveitos com atletas (num verão em que varreu meio plantel), enquanto o FC Porto gerou 90M€. O Benfica ficou, assim, com um saldo positivo de 34,9M€ com atletas, enquanto o do FC Porto superou os 50M€.
Podem alegar que o aumento de custos do Benfica (43,9M€ em amortizações e despesas com transferências, contra 38,9M€ do FC Porto - lá está, até em contratações/transferências gastaram mais) se deve ao fim do fundo do clube, mas é uma despesa como as outras. É investir em jogadores, é despesa com o plantel.
Além disso, no fim da época o FC Porto acabou com um resultado líquido de 20M€, contra os 7,1M€ do Benfica. E sem milhões da treta. A título de curiosidade, o orçamento de 25M€ anunciado por Bruno de Carvalho foi, na verdade, de 81,2M€. Ou seja, as despesas totais do poupadinho Sporting aumentaram 43,7% num ano. Vamos ver como será em 2015-16, já com Jorge Jesus e contratações para o topo da folha salarial do clube.
Até seria interessante comparar os orçamentos dos três clubes para 2015-16, mas o FC Porto, uma vez mais, foi o único a detalhar a sua proposta de orçamento à CMVM. Podem conferi-la aqui. Por isso, podem contar com uma coisa na praça pública: Benfica e Sporting são uns poupadinhos, que gastam muito pouquinho e por isso a nada estão obrigados, e o FC Porto é que está obrigado a ganhar tudo, pois é quem mais gasta. Vale tudo para sacudir a pressão.
Já agora, a propósito ainda da vitória em Israel. É preciso ser-se de uma ignorância profunda e triste para não perceber o quão difícil é, sob qualquer circunstância, ganhar um jogo fora de casa na Europa. Seja em Haifa, seja em Barcelona. Já citamos o exemplo de Jorge Jesus (3 vitórias em toda a carreira fora de casa na Champions - e quer ele ir à final), mas reparem só no Sporting: 4 anos, 17 jogos, sem ganhar fora de casa na Europa. Estamos a falar de um clube sobretudo habituado à Liga Europa, mas isso só dá razão ao quão difícil é ganhar fora de casa na UEFA. É que o FC Porto, na Champions, trava-se com as melhores equipas da Europa. A Liga Europa tem um nível competitivo abaixo. E aí, veja-se que o Sporting foi a estádios como os do Vaslui, Legia, Videoton, Genk e Skenderbeu e não foi capaz de ganhar um único jogo.
Não podemos comparar o FC Porto ao Sporting, claro que não, pois não se mistura quem ganha na Champions com quem não ganha na Liga Europa. Mas é apenas mais um exemplo do facciosismo quando debatem sobre os objetivos e obrigações do FC Porto. Parece fácil. Não é. Tudo pressiona a equipa, com falsidades como ser fácil ganhar um jogo fora de casa na UEFA ou ter o plantel mais caro da história do futebol português. Cabe a cada portista combater os mitos. Não há mito que resista a factos e números, mas muitos continuarão a esconder factos e números para alimentar mitos.
Já agora, a propósito ainda da vitória em Israel. É preciso ser-se de uma ignorância profunda e triste para não perceber o quão difícil é, sob qualquer circunstância, ganhar um jogo fora de casa na Europa. Seja em Haifa, seja em Barcelona. Já citamos o exemplo de Jorge Jesus (3 vitórias em toda a carreira fora de casa na Champions - e quer ele ir à final), mas reparem só no Sporting: 4 anos, 17 jogos, sem ganhar fora de casa na Europa. Estamos a falar de um clube sobretudo habituado à Liga Europa, mas isso só dá razão ao quão difícil é ganhar fora de casa na UEFA. É que o FC Porto, na Champions, trava-se com as melhores equipas da Europa. A Liga Europa tem um nível competitivo abaixo. E aí, veja-se que o Sporting foi a estádios como os do Vaslui, Legia, Videoton, Genk e Skenderbeu e não foi capaz de ganhar um único jogo.
Não podemos comparar o FC Porto ao Sporting, claro que não, pois não se mistura quem ganha na Champions com quem não ganha na Liga Europa. Mas é apenas mais um exemplo do facciosismo quando debatem sobre os objetivos e obrigações do FC Porto. Parece fácil. Não é. Tudo pressiona a equipa, com falsidades como ser fácil ganhar um jogo fora de casa na UEFA ou ter o plantel mais caro da história do futebol português. Cabe a cada portista combater os mitos. Não há mito que resista a factos e números, mas muitos continuarão a esconder factos e números para alimentar mitos.
....já partilhei....pró mundo.
ResponderEliminaralguém coloque este homem como nosso representante num qualquer debate televisivo. Isso sim era elevar o nível. Estávamos nós melhor representados e a televisão muito melhor servida. Parabéns. Fantástico blog. Mereces um palco maior e uma audiência muito maior. Chamar responsabilidades a quem as tem. É serviço público.
ResponderEliminarConcordo. O trabalho de pesquisa, conhecimento histórico e cruzamento de dados está muito acima da média. Grande, grande trabalho neste blog.
EliminarMais um excelente artigo, parabéns.
ResponderEliminarcabe a equipa e ao treinador combater os mitos e ganhar sempre ou quase sempre. O treinador deveria saber que em portugal é assim que tratam o porto e que ele treina a equipa " mais cara do futebol portugues para a tal comunicaçao social toda lisboeta", ele ate é basco deveria saber como funcionam as coisas em relaçao a madrid em espanha por exemplo.
ResponderEliminarSempre em Grande TDD mais 1 Grande Post.
ResponderEliminarEsses mitos pressionaram e muito o FC Porto na época passada, sobretudo o Lopetegui, "o espanhol que tinha em mãos o plantel mais caro da história do futebol português, tendo visto os seus pedidos concretizados pela SAD" (estou curioso em perceber se houve uma discrepância tão grande assim comparativamente com a époda do Paulo Fonseca - se nao me engano nesse ano o Porto atingiu os 30 M€ em compras de jogadores e ele teve muitos, se não todos, dos jogadores que pediu e que quis trazer com ele).
ResponderEliminarMuito bem.
ResponderEliminarAbraço!
Eu sei que este nao é um espaço para debater a (ir)realidade de outros clubes... mas confesso estou cada vez mais baralhado com os milhoes da treta...
ResponderEliminarAssim, falando da realidade porto apenas... como é que nos poderiamos vender...sei lá... o... Gleison por 15 Milhoes de euros e efectivamente registar isso nas nossas contas e continuar a trabalhar sem que se notem outras operaçoes que "compensem" a treta que isso seria? Nao deveriamos ter pagamentos de emprestimos ocultos? ou jogadores a sair por tuta e meia para compensar a brincadeira?...
É que a brincar a brincar, ja são 60Milhoes pelo menos...
Abraço
Hugo
O problema é que o discurso oficial da capital parece dar imenso jeito a uns quantos Portistas. São eles invariavelmente os primeiros a afiar as favas e a afinar o discurso do contra. Obrigado ao TdD por não desistir de deixar as coisas claras e no seu lugar.
ResponderEliminaro orçamento de 25M€ anunciado por Bruno de Carvalho foi, na verdade, de 81,2M€.
ResponderEliminarComo se chegou aos 81M ? fiquei curioso
Lopetegui atacado ontem pelo CM e no Dragoes Diario nem uma palavra?!?
ResponderEliminarExcelente trabalho TDD, mais uma vez.
ResponderEliminarConheço alguns desses "portistas" que são os primeiros a bater...são os mesmos que pagam a carnideTV porque gostam muito do campeonato inglês.. enfim..
Lol.
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