segunda-feira, 24 de abril de 2017

O melhor ataque dos últimos 20 anos

Trivia: qual era, à entrada para a 29ª jornada, o melhor ataque do FC Porto em casa dos últimos 20 anos? A resposta pode chocar: este. Este mesmo FC Porto, ontem incapaz de fazer um golo ao Feirense, mas que tinha, em igualdade com o FC Porto de Villas-Boas, o melhor aproveitamento de golos em jogos em casa (40). 

O mesmo FC Porto que acabou a seco em jogos contra Tondela, Setúbal, Belenenses, Paços de Ferreira e Feirense, que joga um futebol limitado desde as ideias que iam sendo trabalhadas na pré-época (por vezes disfarçado por bolas paradas e pelo talento individual dos jogadores, mas a base foi sempre inegável e nunca mostrou uma equipa com estofo de campeão), tinha o melhor ataque no Dragão. 

Em 30 jornadas, apenas uma derrota. A melhor defesa do Campeonato, que se mantém. E fora de casa, o segundo menor número de golos sofridos dos últimos 30 anos. Como é que uma equipa com estes predicados chega a esta fase a jogar tão sofrível futebol?

O mais frustrante é isto: este FC Porto joga pouco. Mas tinha, tem, condições para ser campeão nacional. É frustrante que numa época de tão pobre futebol, de tão pobres e inconsequentes ideias do seu treinador, de uma série de apostas falhadas (e outras ganhas, com mérito, essencialmente com reforços brasileiros), o título ter estado ali sempre ao virar da esquina, ao alcance.

Nos últimos 5 jogos, o FC Porto ganhou um. Desperdiçou 8 pontos. Esses 8 pontos já teriam arrumado a discussão da luta pelo título, e fariam do FC Porto um relativamente inesperado campeão em 2016-17. 

Este jogo contra o Feirense foi, novamente, um espelho da época. Uma equipa que não jogando particularmente bem não deixou de criar as suas oportunidades, de ter todas as condições para ganhar o jogo. Agora, não digam que estão a fazer tudo para serem campeões, pois quem serve oito pontos de bandeja em cinco jornadas, na decisiva reta final do campeonato, pode ter a ambição, mas não mostra estofo para tal.

Nuno Espírito Santo e os jogadores não têm, é claro, culpa de mais uma arbitragem prejudicial com dois lances de penalty, nem que Brahimi e Corona tenham estado ausentes quando havia (ou então devia haver!) planos para o regresso ao 4x3x3. Mas olhar para campo e ver uma equipa tão mal preparada, sem fio de jogo, com dificuldades contra qualquer equipa do campeonato português, com jogadores desviados das suas posições sem benefício para atletas e equipa...

Esta não foi uma época preparada para fazer do FC Porto campeão - basta recordar todas as incidências da pré-época, desde o atraso na chegada de reforços, as indefinições nas saídas, as lacunas que ficaram por colmatar e as ideias que NES ia demonstrando querer implementar -, mas no final das contas havia hipóteses de lá chegar. E provavelmente foram goradas nas últimas semanas.

Faltam quatro jornadas. E a maior incógnita não é saber se o Benfica vai perder pontos. É saber se o FC Porto não vai desperdiçar os que sobram. Lutar pelo título até ao fim sempre foi a ambição e, admita-se, algo que a determinada altura da época pareceu impossível. O problema é não notarmos que o fim talvez já aí esteja.



Movimentos de Maxi e Alex
Laterais (+) - O mapa ao lado é altamente ilustrativo: Maxi Pereira e Alex Telles passaram o jogo no meio-campo adversário, fizeram quilómetros e corresponderam na perfeição àquilo que NES sempre quis para os seus laterais (máxima profundidade). O problema é que sobem quase sempre numa missão solitária, sem os apoios apropriados no jogo interior, e assistiram a um festival de desperdício entre os 30 (!!) cruzamentos que conseguiram fazer para a grande área. Mas atenção: entre estes 30 cruzamentos, só um resultou num remate à baliza e outros quatro chegaram a zonas de perigo. O problema é que para um cruzamento ser perigoso, há que ter um avançado pronto para finalizar. Se André Silva e Soares andam ocupados a passear-se pelos flancos ou longe da grande área, nada feito. 

Que os adeptos não percebam as ideias de NES é uma coisa. Não é para os adeptos perceberem: é para a equipa perceber, render e ganhar jogos através delas. Que os adeptos não percebam, não há problema. Que os jogadores em campo não pareçam perceber, já é grave. Fica a grande nota de mérito para Maxi Pereira e Alex Telles: por eles, o resultado seria outro. 

Raio de ação de Danilo
Danilo Pereira (+) - O raio de ação de Danilo Pereira diz tudo: esteve em todo o lado, sempre à procura do primeiro momento de construção. Ganhou metros no terreno para empurrar a equipa para cima do Feirense, mas sempre em vão. Ganhou todos os lances pelo ar, tentou descomplicar, a determinada altura tentou ele subir no terreno, procurando um atalho que evitasse que a bola passasse por um miolo sem capacidade para encontrar espaço e servir os avançados. 

Mourinho chegou a dizer que com 11 Paulos Ferreiras ganha-se um campeonato. Com 11 Danilos talvez não fosse diferente. 



Tudo em redor de André Silva (-) - E, consequentemente, o próprio André Silva. Sim, não havia Corona e Brahimi, o que dificultou a tarefa para as alas. Mas uma vez mais, NES quer fazer dos avançados o que eles não são. Desta vez, André Silva até esteve mais vezes em zona interior (Soares caiu mais sobre a esquerda), mas nada, nada funcionou e a exibição de André Silva foi uma nulidade: tocou 2 vezes na bola na grande área, fez 7 passes, não ganhou nenhum lance pelo ar, fez dois dribles (na zona do meio-campo) e não fez um único remate (exceção ao golo anulado por fora de jogo). Alex Telles rematou mais, Casillas tocou mais vezes na bola e Karamanos, o ponta-de-lança do Feirense, fez mais passes e ganhou mais bolas divididas do que André Silva. 

Um dos mais promissores pontas-de-lança da Europa, que andou a carregar a equipa às costas na primeira metade da época, não está a render absolutamente nada nos últimos jogos. O que mudou? Não o jogador, mas a missão que agora lhe dão dentro de campo. Não há milagres, sobretudo recordando o quão felizes foram os avançados de Rio Ave e Valência no passado recente.

Cruzar, repetir! (-) - Ponto prévio: o FC Porto teve oportunidades, várias, para ganhar o jogo. E quando um jogador se exibe ao nível de Vaná, torna-se difícil. O FC Porto fez 14 remates na grande área, o recorde desta época. Mas isto não é um caso de «se uma bola tivesse entrado ninguém falava disso». Não. Foi dito o mesmo em jogos anteriores, onde a bola parada, André Silva, Brahimi ou Soares davam a pincelada que disfarçava muita coisa. 

Foi mais um desses jogos. O FC Porto teve oportunidades, mas os meios para os fins são sofríveis. André André e Óliver Torres poucas vezes encontraram os avançados, a equipa não se entendia no jogo interior, os avançados atropelavam-se no mesmo espaço e tudo acabou por resultar no mesmo: tentar meter a bola diretamente na grande área, usando e abusando da profundidade que Maxi e Alex Telles davam (e deram-la muito bem). 

Neste FC Porto não há ideias no espaço interior, há poucas desmarcações, poucas tabelas que abram o espaço, uma equipa que reagiu várias vezes mal ao momento da perda (algo que já fez bem esta temporada) e incapacidade para aproveitar todo o caudal que, com mais ou menos qualidade, foi levado à grande área. 

E no meio de tantas adversidades, o que mais revolta será sempre isto: o FC Porto tinha, tem, condições para chegar ao título em 2016-17. Não «graças a», mas «apesar de».

terça-feira, 18 de abril de 2017

Do 2 para o X2

É a principal consequência do empate em Braga: o Benfica já pode rever os seus planos para Alvalade. Se o FC Porto fizesse a sua parte, não haveria alternativa para o Benfica: teria que jogar para ganhar ao Sporting, riscando a estratégia defensiva e de contenção que Rui Vitória já abraçou em outros clássicos. Mas com a igualdade em Braga, tudo mudou: o Benfica pode agora jogar para dois resultados no clássico. Uma mudança no totobola que certamente vão apreciar. 

O título ainda é possível, mas não para a equipa que esteve em campo diante do SC Braga, sobretudo na primeira parte. As gírias são muitas vezes vazias e pouco sustentadas, mas neste caso assenta que nem uma luva: uma equipa que não joga nada. Bem sabemos que o talento individual dos jogadores - leia-se Brahimi - e as bolas paradas (ninguém marca mais do que o FC Porto desta forma no Campeonato) têm os seus limites para aguentar o barco, mas uma equipa que quer ser campeã, por mérito próprio, não joga desta forma. 

Isso, tal como na época 2014-15, não pode invalidar ou abafar o que se vai passando ao som do apito. Foi mau de mais. O Braga bateu o recorde de faltas cometidas em Portugal (32!) e, ainda assim, conseguiu a proeza de acabar o jogo com menos cartões do que o FC Porto e com 11 jogadores em campo. As arbitragens inclinaram nitidamente o campo em desfavor do FC Porto esta época. Isso é algo de que Nuno Espírito Santo e os jogadores não têm culpa. Mas o passado recente, nomeadamente há duas épocas, mostrou bem que os adeptos (a maioria) preferem vaticinar o demérito para a ausência de títulos do que culpabilizar as péssimas arbitragens. Tem que haver um equilíbrio, claro. 

Em 2014-15 fizemos 82 pontos, e não chegou para o título por um fenómeno chamado colinho. Neste momento, na melhor das hipóteses, o FC Porto pode chegar aos 83 pontos, sendo certo que já tem mais golos sofridos do que na totalidade da referida temporada, o que também vai deteriorando o mérito possível no futebol praticado esta época: o bom trabalho defensivo. 

Estar, neste momento, ainda na luta pelo título continua a ser um grande superar de expetativas, tendo em conta a forma como foi preparada a pré-época. Mas após meses e meses de adversidades que, de maneira mais ou menos ortodoxa, a equipa ia conseguindo superar, é desolador testemunhar a apatia, falta de ideias e o caos táticos que se passeou em Braga. Eram capazes de mais. Deviam ser capazes de mais. 

E agora? Resta torcer pelo Sporting, esperar que consigam vencer o Benfica. E caso esse milagre aconteça, nos restantes 5 jogos pode não ser necessário apenas vencer, mas sim também golear. E isso não se consegue a jogar como em Braga.




Brahimi (+) - Não poderemos contar com ele frente ao Feirense, por ter dito algo em francês que, rezam as crónicas, o quarto árbitro não percebeu. Ou então sim: se foi de facto isto que aconteceu, o FC Porto tem que se socorrer de todas as vias necessárias para anular a expulsão. É ridículo de mais para ser verdade. Sapunaru, um dos nossos, divertia-se a mandar os árbitros irem para as couves em romeno. Aparentemente, os árbitros percebiam o que ele dizia, pois se não percebessem, segundo o mesmo critério, teria sido mandado muitas vezes para a rua. Absurdo.


Futebolisticamente falando, é um oásis no futebol do FC Porto: à sua volta, só se vê um deserto, um deserto de ideias coletivas. Brahimi recebe invariavelmente a bola em zonas demasiado distantes da baliza. Consegue sempre deixar um ou dois para trás, mas depois não aparecem soluções em zonas mais interiores. Está a rematar mais (foi o mais rematador da equipa), mas sobretudo por não encontrar alternativas. Vai remando contra a maré com inconformismo, irreverência e uma revolta nítida de quem quer que as coisas saiam melhor. A ele e à equipa. 

Alex Telles (+/-) - Somou mais uma assistência para golo e foi o jogador que conseguiu forçar mais vezes a entrada na grande área adversária (mais do que Brahimi ou até Soares e André Silva, o que mostra bem o resultado de encostar André Silva ao flanco - já lá vamos). Só perdeu um lance de 1x1 e criou mais duas situações de golo, infelizmente desperdiçadas, e cometeu o erro num momento crítico: o cruzamento do qual saiu o 1x0. Ainda assim, soube reagir ao erro. 

O livre dos 85' (+/-) - Isto não nasce da inspiração do momento: é um tipo de lance que se trabalha nos treinos, e que tem que ser repetido muitas vezes até sair bem. E saiu (quase, quase...) bem. Minuto 85, livre em zona frontal, e o reflexo de qualquer equipa pode ser o de tentar o remate direto ou a bola bombeada para a grande área. Mas ali houve calma, cabeça e inteligência para surpreender o adversário e tentar um novo tipo de bola parada: bola curta no livre, cruzamento para a grande área e Danilo a aparecer na perfeição na zona de finalização. Mas não apenas Danilo: o próprio Felipe aparece solto de marcação mesmo ao lado, pronto para encostar. Infelizmente, Danilo falhou uma grande oportunidade, naquela que foi uma das melhores jogadas do FC Porto 2016-17 - e só foi preciso três toques para a criar. Tivesse a bola entrado e poderia ter sido uma jogada a marcar a época. Mas, pelo menos, viu-se trabalho de casa dos treinos. Não o suficiente para passar no exame, infelizmente. 




André Silva à direita (-) - Não há palavras simpáticas para o descrever: André Silva está a ser uma nulidade encostado à faixa direita. E isso não tem a ver com a qualidade do jogador, mas sim por não ter caraterísticas para jogar naquela posição, naquelas funções. Vale para André Silva como valeria para Soares: temos dois pontas-de-lanças feitos para jogar na grande área, não encostados na faixa para servir de apoio a um ataque que pouco produz. 

André Silva jogou várias vezes com grande amplitude e liberdade na primeira metade da época, mas sempre tendo o eixo como referência. Sabia que tinha que aparecer na grande área, os movimentos que tinha que fazer, quando devia descair nos flancos para dar apoio. E quando André Silva começou a jogar mais por dentro em Braga, fazia-o bastante distante da grande área. O resultado foi este: André Silva tocou duas vezes na bola na grande área, perdeu 16 vezes a posse e só conseguiu ganhar um lance de 1x1. Sofrível, o equivalente a se algum dia um treinador tivesse a ideia de colocar Fernando Gomes, Jardel ou Falcao no flanco. 

Não foi André Silva que desaprendeu. Simplesmente André Silva não pode desempenhar o papel que NES idealiza para aquela função. Nem ele nem Soares. Cabe a NES decidir: ou muda o sistema, ou então terá que rever os seus planos para aquela posição e quiçá jogar com apenas Soares ou André Silva. É certo que os dois juntos já revelaram sintonia e produtividade, mas com o puxão de André Silva para o flanco direito jogar com um ou dois não está a fazer diferença. 

O vazio de ideias (-) - Bola longa, bola longa, bola longa. Patada para a frente, patada para o flanco, quem quiser quem a apanhe. É sofrível chegar a esta fase da época e ver o FC Porto jogar assim, sem a capacidade de sair em apoio, encontrar soluções entre linhas, jogar no pé em vez de procurar sempre o espaço. Não há ideias: a partir do momento em que a equipa adversária fecha os flancos, o FC Porto não tem outra alternativa senão dar a bola a Brahimi ou atirá-la em profundidade, à procura do espaço que não existe.

Este é um dos Bragas mais caóticos dos últimos tempos, e mesmo assim o FC Porto foi incapaz de aproveitar as limitações de uma equipa que a cada dois passes falhava um. Sim, o SC Braga teve apenas 55% de passes certos na segunda parte. Ou seja, a cada 10 passos que fazia, praticamente falhava metade. Diz isto que o FC Porto é capaz de recuperar a bola ou perturbar a circulação do adversário. Isso sim. O problema vem depois: não sabe o que fazer com ela. E sem a bola parada ou a inspiração individual dos jogadores, nada feito. 

E no meio de todas estas limitações e dificuldades, o FC Porto chega à 30ª jornada ainda com esperanças na luta pelo título. O equivalente a percorrer uma maratona com cãibras, muitas vezes a mancar, uma técnica de corrida questionável, mas ainda sim ter a meta à vista e apenas um gajo à frente a correr, também ele a arrastar-se de bengala para chegar à meta. Há esperanças de que sofra uma rasteira e que fique caído. Mas com corridas como a de Braga não vamos lá. 


PS: Muitos leitores notaram e questionaram uma redução no número de publicações d'O Tribunal do Dragão nas últimas semanas, algo que chegaram a chamar de «silêncio». Não se trata de silêncio ou ausência de temas que merecem comentário, mas indisponibilidade profissional e pessoal para corresponder ao número de posts desejado. As crónicas de jogo serão sempre publicadas (mesmo com atrasos, como aconteceu neste caso), mas não tem havido o tempo desejado para explorar outros conteúdos.

Ainda assim, há o reconhecimento que deve ser dado ao trabalho que está a ser realizado no Porto Canal, em particular no programa Universo Porto. O Tribunal do Dragão escreveu, um dia, numa reação a uma pequena polémica que muitos recordarão, isto: «O Tribunal do Dragão faz o que gostaria que fosse o clube a fazer. O que provavelmente todos os leitores deste espaço gostariam que fosse o clube a fazer.» E é mesmo isso que o Porto Canal, em particular nas intervenções de Bernardino Barros e Franciso J. Marques, está a fazer: uma defesa sustentada do FC Porto nos bastidores e meandros do futebol português. Pertinente, incisiva, perspicaz. O Tribunal do Dragão terá sempre o seu cantinho na bluegosfera, mas é bom ver o FC Porto, finalmente, servir-se das suas vias oficiais para fazer o tipo de trabalho que os leitores se habituaram a apreciar neste espaço. 

segunda-feira, 10 de abril de 2017

À lei de Brahimi

Estava difícil. Depois de dois 0x0 altamente penalizadores contra o Belenenses, tudo fazia crer que a probabilidade de levar um murro de Samaris era bem mais alta do que o FC Porto acertar com a baliza dos do Restelo. Felizmente, e novamente com uma bola parada a desbloquear uma exibição imprópria para quem quer manter-se na luta até ao final, a vitória acabou por chegar e acontecer com naturalidade, mantendo o FC Porto nesta luta ingrata de ter que estar de ouvidos postos em campos adversários. 

Segue-se uma jornada em que o Benfica recebe um dos seus clientes favoritos na Luz, antes do FC Porto ter a sempre difícil deslocação a Braga. Se quisermos colocar as esperanças no Sporting, primeiro há que superar esta barreira. 




Secar o adversário (+) - Pensem nos golos sofridos pelo FC Porto ao longo da época e notem algo em comum: todos os golos são consentidos com remates já dentro da grande área. O FC Porto é uma equipa muito pouco exposta à meia distância dos adversários. E quando, além de não ceder grande espaço à entrada da grande área, ainda consegue controlar a profundidade nas costas da defesa, estamos perante um belo trabalho defensivo.

O Belenenses não é nenhum exemplo de equipa que ataque categoricamente (é na verdade das piores da Liga), mas limitar o adversário a dois únicos toques na grande área ao longo de 90 minutos, mantendo sempre o Belenenses longe dos últimos 20 metros, é sempre um fator de destaque. Um exemplo de como defender bem sem nunca ter que assumir uma estratégia defensiva.

Brahimi (+) - Se não tivesse sido reintroduzido na equipa, provavelmente a luta pelo título já seria uma questão apenas para 2017-18. Joga numa realidade à parte da equipa, o único capaz de inventar coisas sozinho com bola. Abriu e fechou a vitória através de bolas paradas, mas uma vez mais, foi o jogador com mais faltas arrancadas, dribles eficazes e duelos ganhos ao longo da partida. Está num grande momento e custa imaginar que um jogador com o seu virtuosismo possa terminar uma terceira época no FC Porto sem meter as mãos num troféu. Ainda vamos a tempo de mudar isso.


Outros destaques (+) - Danilo de volta à forma que nos habituou - em forma de parede à frente da defesa. Ganhou todos os lances pelo ar, só perdeu uma disputa de bola e ainda contribuiu com um golo. Maxi Pereira e Alex Telles, sobretudo na primeira parte, foram responsáveis pelos poucos momentos em que o FC Porto conseguiu criar o desequilíbrio através da manobra coletiva da equipa. Soares voltou aos golos e a forma como assentou no 4x3x3 reforça o que já se sabia: quando está firme no eixo do ataque, pronto a receber a bola em vez de tentar ser o que não é (não tentou nenhuma situação de 1x1 desta vez) e tentar desdobrar-se pelos flancos, pode fazer a diferença. Palavra ainda para a bela entrada de Corona, novamente com uma exibição que irrita: ora é titular para andar desaparecido, ora salta do banco para mudar por completo o jogo. Assim também se torna difícil para o treinador apostar nele: saber que é capaz de render mais em 10 ou 15 minutos saído do banco do que em 70 como titular. 




Demasiado recuados (-) - O FC Porto defendeu bem. O problema é outro: a forma como estava recuado não para defender, mas para atacar. Uma vez mais, André André e Óliver Torres tiveram como maior raio de ação o meio-campo do FC Porto do que o do adversário. Perceber-se-ia se apenas um dos médios viesse atrás dar apoio a Danilo na saída de bola. Mas quando todos os nossos médios vão atrás da linha de meio-campo para começar a construir, algo vai mal.

Mais, o próprio Brahimi foi vítima dessa dinâmica. Brahimi foi o melhor em campo, mas foi também o jogador com mais perdas de bola, de longe. Porque muitas vezes ia receber a bola ainda com 45 metros de corredor pela frente, muito longe da baliza. Isso provoca mais desgaste em Brahimi, as probabilidades de perder a bola aumentam, e permite que o Belenenses tenha sempre tempo e espaço para se reorganizar defensivamente. Sobretudo a jogar em casa, não se percebe o porquê do FC Porto recuar tanto no momento de construção. Quanto mais metros ganharmos no terreno, mais próximos estaremos da baliza e maior capacidade Brahimi terá para resolver. 

Nervosismo (-) - Um filme já muitas vezes visto esta época: a bola parada libertou a equipa de um claro nervosismo e falta de ideias para atacar. E mesmo após o regresso dos balneários, a equipa continuou lenta, sem imprevisibilidade, presa de movimentos e extremamente dependente das subidas de Alex e Maxi para criar o desequilíbrio. Sim, desde do início da época que o FC Porto aposta muito nas subidas dos laterais para dar profundidade e provocar o momento de superioridade numérica. Mas quando não aparenta haver ideias para mais nada, é preocupante. Unidades como Óliver e André Silva vão ter que render mais no que resta da época, onde há não há apenas a pressão de vencer: há a pressão de saber que basta um deslize para tudo desabar.  

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Sobreviver ao jogo do título

Assim pensou o FC Porto na Luz. A equipa e o treinador sentiram que era melhor segurar o empate do que arriscar perder na procura pela vitória. Só os três pontos colocariam o FC Porto a depender de si próprio, mas no final a equipa sentiu mais confiança em esperar que outra equipa - porventura o Sporting - tire pontos ao Benfica, em vez de arriscar sair da Luz sem um ponto (dessa forma, o Benfica doravante teria que escorregar em duas jornadas, enquanto assim continua a bastar uma - que de nada valerá se o FC Porto não fizer o seu trabalho). Mais do que tentar ganhar, o FC Porto mostrou que o que importava era sair daquele jogo vivo. E saiu. 


Foi a primeira vez que o Benfica de Rui Vitória foi superior num clássico, algo que deve merecer claramente preocupação do FC Porto. Mas convém não esquecer este pormenor: o melhor Benfica dos clássicos não marca um golo de bola corrida. Só o consegue de penalty, ainda que para isso tenha voltado a valer San Iker. 

É um tricampeão de carne e osso que está do outro lado, que no clássico foi melhor do que o FC Porto, mas que não tem vindo a fazer um campeonato em nada superior. Mas merece a preocupação que o Benfica, a quem bastava o empate, tenha feito mais na procura pela vitória do que o FC Porto. Sem que lhe tenha valido de muito. 

Demos um passo atrás nas duas últimas jornadas (o FC Porto passa a ter menos um ponto, menos golos marcados e mais sofridos do que na última época em que esteve na luta pelo título até ao final), mas o Benfica também não deu nenhum em frente. Todos os portistas vão ter grandes expetativas de que o Sporting dê uma ajuda, mas para isso há que fazer a nossa parte - o V. Setúbal tem que servir de exemplo, e o resto do calendário vai oferecer jogos bem mais complicados. Sem margem para errar.




Iker Casillas (+) - Casillas é um dos raros históricos do Real Madrid que é relativamente respeitado pelos adeptos do Barcelona. Admirável, tamanha a rivalidade entre os dois clubes, até porque Casillas passou 16 anos no Real Madrid. No FC Porto, não está há sequer há dois anos... e já entende a rivalidade com o Benfica ao extremo. Não é elegante, mas é ilustrativo: aquele gesto mostrou bem o quão Casillas quer ganhar o Campeonato. Não só ganhar o Campeonato, mas também ganhar o Campeonato ao Benfica. E contribuiu tanto quanto pôde, com dois pares de defesas que aguentaram o pontinho. Quando se fala do bom balneário do FC Porto este ano, não é possível ignorar o papel de Casillas: um profissional que fala não pelo seu passado no Real Madrid, mas por entender aquilo que é o FC Porto. Ah, perdeu tempo? Perdeu. Certamente porque lhe disseram que tinha que segurar o empate. E segurou.


Maxi Pereira (+) - Não dá para disfarçar: os quase 33 anos de Maxi Pereira pesam cada vez mais nas pernas. É notório que lhe custa a recuperar cada vez mais no corredor, sobretudo num jogo em que Alex Telles, no flanco oposto, pouco conseguiu subir. Maxi Pereira não está no auge da sua frescura física, mas podem contar com uma coisa: vai continuar a lutar pelo FC Porto até cair para o lado. O que lhe faltou em pernas compensou com determinação, garra e inconformismo. Foi lá à frente, na raça, fazer o golo do empate e manter o FC Porto de pé na luta pelo título. E por ele, o FC Porto continuará de pé nessa luta. Pelo menos até que Maxi caia para o lado.

Yacine Brahimi (+) - Todos os defesas já sabem o que é que Brahimi vai fazer: vai rodar sobre a bola, tentar puxar para a linha de fundo, aproximar-se da pequena área e fazer o passe atrasado. E mesmo assim, caem sempre: poucos conseguem tirar a bola a Brahimi. Tem o dom de ser imprevisível sendo previsível. O ataque do FC Portos só existiu nos seus pés, na forma como arrastou e rasgou a defesa do Benfica, numa noite em que Corona, Soares e André Silva pouco conseguiram fazer em sentido prático. Falta uma coisa no seu futebol, que é a capacidade de rematar mais quando arranja espaço à entrada da grande área, mas nem isso desta vez o impediu de ser o mais rematador em campo. E uma vez mais vimos muito trabalho de Brahimi sem bola, com 16 duelos ganhos e 12 recuperações. Tem sido um símbolo de inconformismo neste plantel e um oásis numa equipa à qual falta rasgo individual. Com Brahimi, haverá sempre uma solução. Se dá para chegar ou não ao título, veremos. Mas com ele dá para acreditar. 

Uma palavra para um bom jogo de André André, o melhor do meio-campo.




Deixar o Benfica crescer (-) - A boa exibição do FC Porto frente ao Benfica, no Dragão, deveu-se sobretudo à forma como a equipa apertava logo o rival no início de construção. Não dava espaço, obrigava o Benfica a falhar na saída de bola, e depois sim apostava nas transições rápidas que NES tanto aprecia. Na primeira volta funcionou enquanto a equipa declarou essa estratégia. Na Luz, nada disso. O FC Porto entrou a medo, nervoso, com as linhas recuadas. Se é certo que ninguém pode entrar na Luz a oferecer espaço nas costas, o Benfica de Rui Vitória treme sobretudo quando se depara com um rival que assume o jogo e que é forte na pressão.

O FC Porto esteve perdido em campo durante os primeiros 20 minutos, altura em que Óliver fez o primeiro remate e a equipa começou a crescer e a ganhar confiança. Não foi o dia mais feliz para o muitos jogadores, desde Felipe a Corona, passando por Danilo, mas uma equipa que quer ser campeã não pode permitir que o Benfica assuma com tanta facilidade o jogo. Sobretudo quando ainda não o tinha conseguido fazer em clássicos com Rui Vitória.

Sozinh9s (-) - Percebe-se a intenção de NES em reforçar o meio-campo. E entre Soares e André Silva, a opção nunca seria totalmente consensual. Mas tanto um como outro passaram por enormes dificuldades frente ao Benfica: quase sempre longe da grande área, descaídos para o flanco sem sucesso (Brahimi, apesar da intenção de fazê-lo passar para a zona interior, acabava sempre por criar o desequilíbrio a partir do lado esquerdo), expostos a um trabalho que não devia ser o seu. O caso de Soares vem sendo discutido há algumas semanas: é sofrível a forma como é invariavelmente desarmado no 1x1. E não é culpa do jogador, pois não tem caraterísticas para aquela função. Soares faz a diferença na grande área, ou a atacar a profundidade (excelente a forma como sentou Nélson Semedo, porventura o único momento em que conseguiu tirar um defesa da jogada), não a servir de bengala do lado esquerdo para um ataque que, assim, fica sem referência no eixo e na grande área. André Silva também não entrou bem na partida, num clássico muito difícil para os pontas-de-lança do FC Porto, e que a dinâmica ofensiva da equipa não facilitou. Ou havia Brahimi, ou tinha que haver Yacine. Não houve outra solução para o FC Porto.

Meio-campo de rastos (-) - André André e Óliver lutaram, lutaram, lutaram tanto quanto puderam. Mas foi notório, sobretudo à entrada para os últimos 20 minutos, que o meio-campo do FC Porto estava completamente rebentado. Nuno tomou a opção de refrescar a linha da frente, sem mexer no trio do meio-campo, mas  o setor já mal dava resposta em campo. E se o FC Porto estava, declaradamente, à procura de segurar o resultado, ter bola era essencial. A opção passou por mudar as peças de um ataque que mal existia, ao invés de refrescar um meio-campo que não estava a conseguir segurar o Benfica. A exibição de Corona ia pedindo a saída, mas não ter reagido à perda do meio-campo podia ter custado muito caro - Pizzi jogou solto e fez 7 passes para zona de remate, mais do que toda a equipa do FC Porto junta. Deixar o playmaker do adversário com tanto espaço não é bom sinal em qualquer parte do mundo. 

Segue-se o regresso ao Dragão, frente a um Belenenses ao qual não fizemos golos nem na primeira volta nem na Taça da Liga. Serve de aviso. E até ao final da época, já sabemos que não há-de haver empate que nos valha. Pelo menos não no calendário do FC Porto.