domingo, 29 de junho de 2014

O FC Porto e os fundos de transferências ao Raio-x, parte I

O Tribunal do Dragão inicia hoje uma série de publicações sobre um tema que consegue ser sempre tema de discussão e ao mesmo tempo tabu: os fundos de transferências e as terceiras partes nos negócios. Quanto dinheiro o FC Porto já perdeu com isto? Era mesmo necessário recorrer a fundos? Quem está por trás dos fundos de transferências? São algumas das questões a que tentaremos responder a partir de hoje. E começamos por 2003, ano em que o FC Porto começou a surpreender o futebol moderno, com a conquista da Taça UEFA e a tornar célebre a máquina que transformava tostões em milhões. 

FC Porto só tinha 50% de
Deco em 2003
O primeiro caso é Deco e apresenta desde logo uma particularidade que é muito frequente: a antecipação dos empresários. Em muitos casos, antes dos jogadores serem contratados por um clube, são primeiro adquiridos por empresários, que compram o seu passe e já sabem que, mais tarde, o clube vai comprar a sua parcela por três ou quatro vezes mais. De Fernando a Lucho González, de Lisandro López a Hulk, só no FC Porto os exemplos são diversos. E serão um tema para outro dia.

Muitos adeptos desconhecem este dado, mas quando o FC Porto ganhou a Taça UEFA tinha apenas 50% de Deco. Onde estava o restante passe? Nas mãos de Jorge Mendes (Gestifute, se preferir). E foi aqui que se iniciou uma nova modalidade no FC Porto, o de alienar e adquirir percentagens de passes a empresários, que se multiplicavam por fundos de investimento e agências de representação de jogadores.

Ricardo Carvalho rendeu
3,75M a um fundo
Depois de ter ganho a Taça UEFA, em julho o FC Porto comprou 20% de Deco a Jorge Mendes por 2,25 milhões de euros e cedeu ainda 5% de Paulo Ferreira e 5% de Ricardo Carvalho. No mês seguinte, comprou mais 15% por 1,25 milhões de euros e cedeu 10% de McCarthy, que tinha acabado de custar 7,856 milhões de euros. O FC Porto detinha, assim, 83,33%, pois ainda cedeu 1,67% do passe à First Portuguese Football Players Fund - o foco desta primeira parte.

Criado em 2004 e extinto em 2008, foi o primeiro caso em Portugal de uma série de investidores «anónimos» que se apercebeu que o futebol podia ser uma mina de ouro a explorar sem transparência e sem escrúpulos. Muitos deles com ligações directas ou indirectas a dirigentes de Boavista, Sporting e FC Porto, os 3 clubes que negociaram com o First Portuguese Football Players Fund. Poderíamos escrever sobre o Sporting, que perdeu mais de 15 milhões de euros nesta modalidade (Cristiano Ronaldo, por exemplo, deu mais de 5 milhões ao FPFPF, que comprou 35% pela irrisória quantia de 627 mil euros antes de ele ser vendido ao Man. United), mas vamos focar-nos no que interessa: o FC Porto.

No início de 2004, o FC Porto alienou os passes de 11 jogadores de uma só vez, por 6,165 milhões de euros. A saber: Paulo Machado (16,67%), Ivanildo (16,67%), Vieirinha (16,67%), Ricardo Costa (13,33%), Hugo Almeida (16,67%), Deco (1,67%), Pedro Mendes (16,7%), Paulo Ferreira (10%), Ricardo Carvalho (12,5%), Bruno Moraes (10%) e Benni McCarthy (13,33%). Nunca foi relevada a quantia correspondente a cada percentagem. Mas enquanto o FPFPF garantiu que a percentagem mais baixa era de 1,67% e a mais alta de 16,67%, o FC Porto, no comunicado à CMVM, disse que a mais baixa era 2,5% e a mais alta 25%... Uma diferença nunca justificada.

Em setembro do mesmo ano, mesmo após o FC Porto ter ganho a Liga dos Campeões e registado as maiores receitas da história do clube, nova alienação de passes. Desta vez, foram 2,5 milhões por 9% de Quaresma, 8,5% de Diego, 2,5% de Carlos Alberto, 10% de Pepe e 8% de Seitaridis. Em 2004-05, segundo a Deloitte, o FC Porto teve receitas de 110 milhões de euros (lucro de 25 milhões), mais do que Benfica (49,7) e Sporting (34,2) juntos. Havia necessidade de alienar aqueles passes? Não, de todo. Foi uma operação destinada a servir as necessidades ou os interesses do FC Porto? Não. Uma opinião, claro, mas como é regra neste blogue suportada pelos números.

Paulo Ferreira deu
2M a um fundo
Recuemos mais atrás, ao verão de 2004, quando o FC Porto vendeu Deco, Paulo Ferreira e Ricardo Carvalho. Foi noticiado e declarado que a operação rendeu 71 milhões de euros, dos quais 6 milhões correspondentes ao passe de Quaresma. Mas a verdade é que o proveito líquido destas três operações situou-se apenas nos 46 milhões de euros.

O FPFPF recebeu 2 milhões por Paulo Ferreira, 350 mil euros por Deco e 3,75 milhões de euros por Ricardo Carvalho, fora a parte de Jorge Mendes. Só com estes três nomes já cobriram o «investimento» nos 11 jogadores do FC Porto.

No início de 2008, o FC Porto fechou a ligação ao fundo e teve que readquirir as restantes percentagens que a FPFPF detinha, tendo pago 1,6 milhões de euros por Ricardo Quaresma (9%), Paulo Machado (16,7%), Ivanildo (16,7%) e Vieirinha (16,7%).

Neste primeiro balanço à ligação do FC Porto aos fundos de transferências, concluímos que o FC Porto encaixou 8,665 milhões de euros ao alienar parte dos passes de 16 dos seus futebolistas em 2004. Uma verba que, face aos bons resultados financeiros em 2002-03 e 2003-04, pelas conquistas na UEFA e pelas maiores receitas em transferências da história do futebol português, não era necessária para a subsistência e custos correntes da SAD.

Já o FPFPF, depois de ter investido os 8,665 milhões de euros, encaixou... 14,51 milhões de euros. Conclui-se assim que o primeiro fundo a que o FC Porto teve ligação deu um prejuízo de 5,845 milhões de euros à SAD. Tudo isto no tempo em que a política despesista era bem mais contida. A justificação para que a ligação ao FPFPF fosse encerrada, aliás, foi pelo FC Porto entender que a «partilha de risco» não se justificava. Ah, como os tempos mudam...

Clone de Mangala está garantido. O «atestado de incompetência» aos guarda-redes e o sucessor de Fernando

Dado como certo no FC Porto pela imprensa holandesa e pelo jornal O Jogo, Bruno Martins Indi vai mesmo reforçar o Dragão. O acordo com o Feyenoord e com o jogador já foi alcançado e o central, que também pode jogar a defesa-esquerdo, nascido em Portugal vai mesmo reforçar o FC Porto após o Mundial 2014.

Martins Indi é reforço
Na melhor das hipóteses, integrará o estágio na Holanda, pois após o Mundial Indi ainda vai ter direito a 2 semanas de férias. Caso o México elimine a Holanda, o mais recente reforço do FC Porto juntar-se-á ao plantel e a Lopetegui - que pediu a sua contratação - em Horst.

Uma contratação de grande valia - verba inferior aos 8 milhões noticiados na Holanda, embora sendo difícil que o FC Porto garanta a totalidade do passe -, pois Indi, apesar de jovem (22), já tem uma considerável rodagem internacional e é titularíssimo na seleção holandesa. Importa esclarecer que, apesar de ter nascido em Portugal, contará como futebolista estrangeiro no FC Porto e não ajudará às inscrições na UEFA.

Como o Tribunal do Dragão tinha adiantado, a hipótese Balanta perdeu força há duas semanas e o FC Porto centrou atenções entre Indi e Manolas, dois nomes apreciados por Lopetegui. A escolha recaiu sobre o primeiro, numa altura em que ainda há indefinições quanto ao quarteto de centrais (Abdoulaye está no mercado e a permanência de Maicon não é dado adquirido; quanto a Rolando, o FC Porto não baixa dos 5 milhões e o Inter não sobe dos 3,5, por isso a hipótese do regresso ganha força; e o City já convenceu o FC Porto, mas ainda não convenceu Mangala - e Pinto da Costa continua a tentar resistir à necessidade de vender Mangala e Jackson, procurando manter um, o que se avizinha como sendo extremamente difícil). Mas o FC Porto antecipa-se no mercado e garante desde já o sucessor de Mangala. Já para a sucessão de Jackson Martínez, não se vê nome nenhum na imprensa. Isto pode querer dizer muito - ou tudo - do nome que Pinto da Costa decidiu manter.

Alguns adeptos podem e devem questionar o facto de se investir na defesa quando o ataque continua carenciado, mas a ordem de chegada pouco interessa: o que interessa é que cada nome alinhavado seja confirmado. O próximo pode ser Keylor Navas.
Prioridade de Lopetegui

Entre o FC Porto e o guarda-redes já há acordo, mas o Levante vendeu Iborra e ganhou um balão de oxigénio nas finanças. A base negocial está nos 6 milhões de euros e o clube espanhol subiu um pouco mais as exigências, mas a vontade do guarda-redes e o facto de só ter contrato mais 1 ano poderão ser decisivas. O que pode dificultar o lado do FC Porto, todavia, é que o nome preferido para substituir Navas, o português Eduardo, assinou pelo Dinamo Zagreb.

Mas no caso de Navas, o jornal Superdeporte, pelo segundo dia consecutivo, traz o interesse do Benfica (perto de perder Oblak) à sua capa. Quando o assunto é FC Porto vs Benfica no mercado, isso leva à necessidade de uma reflexão. Com o alegado interessado do SLB: surge a necessidade de um esforço extra; ou surge a justificação para um esforço extra? O comum adepto vibra com jogadores que são desviados do SLB; já o adepto mais atento avalia se o rival não é metido ao barulho para justificar a inflacção ou a simples concretização da transferência. Estaremos atentos ao desenrolar do processo.

Outro grande desafio de Lopetegui será superar o atestado de incompetência que está a passar a Bolat, Kadú, Fabiano e Ricardo (Sérgio Conceição já pediu para ter Bolat em Braga). Sim, porque estes quatro guarda-redes ainda não fizeram nenhum treino e já sabem que o treinador não conta com eles para número 1. Lopetegui e Arévalo convenceram a SAD da necessidade de um novo guarda-redes, mas a responsabilidade e pressão serão altas: Fabiano convenceu grande parte dos adeptos depois da lesão de Helton e Navas será o guarda-redes mais caro da história do clube. Este é um desafio assumido pela equipa técnica e que terá que saber gerir.

Lopetegui congelou Ghazal
Outra grande expectativa prende-se com o sucessor de Fernando. O acordo para Aly Ghazal reforçar o FC Porto foi congelado para que Lopetegui avaliasse outras ou melhores soluções para o lugar. Ou para os lugares, pois Lopetegui pode escapar à figura do tradicional trinco e optar por implementar o duplo pivô.

Alguns adeptos estão traumatizados com o duplo pivô de Paulo Fonseca, mas a verdade é que isso não foi mais do que uma expressão celebrizada por adeptos e imprensa e que não correspondia ao modelo de jogo do FC Porto. Paulo Fonseca tentou, sempre sem sucesso, colocar dois médios na saída de bola, com o triângulo tradicional na fase ofensiva (1-2) e na pressão à construção de jogo do adversário. No início de construção, regressava ao 2-1. Um duplo pivô não significa que se jogue em 4-2-3-1. Significa sim que o meio-campo do 4-3-3 assume um posicionamento diferente mediante a transição defensiva ou a transição ofensiva. Vai chegar um jogador para o lugar de Fernado, mas não necessariamente o sucessor de Fernando.

Entretanto, Juan Carlos Cordero confirmou que Brahimi vai mesmo deixar o Granada... Sem confirmar o seu destino. «الهدوء».

sábado, 28 de junho de 2014

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Pré-época: primeiro teste a 7 de julho

Está definido o calendário de pré-época para 2014-15. Dia 3 de julho é a data marcada para apresentação ao trabalho, com todos os jogadores contratualmente ligados ao FC Porto (exceção feita aos que foram ao Mundial 2014) a terem ordens para comparecer no Olival.
Lopetegui vai treinar com
ex-emprestados e atletas da B

Tal como aconteceu nas duas últimas épocas, O Tribunal do Dragão confirmou que o primeiro jogo será disputado contra o Valadares Gaia, dia 7 de julho, à porta fechada. Cinco dias depois, é a vez de defrontar o Rio Ave, também à porta fechada, antes da partida para o estágio na Holanda.

Para o estágio na Holanda estão marcados jogos contra Venlo (16/07) e Genk (19/07). O jogo de apresentação aos sócios já foi confirmado e está marcado para 27 de julho, contra o Saint-Étiénne.

O segundo estágio, um pedido de Lopetegui para poder trabalhar com o grupo (quase) completo antes do início da época, decorrerá de 2 a 9 de agosto em Inglaterra. No dia 3 o FC Porto vai defrontar o Everton, em Goodison Park, e a 9 de agosto vai jogar em casa do WBA.

O facto do FC Porto ir disputar o play-off da Champions tem levado alguns adeptos a alertar que o defeso vai ser mais curto. Pelo contrário: a época vai começar mais tarde. Como o FC Porto não vai disputar a Supertaça Cândido Oliveira este ano, vai entrar em competição uma semana mais tarde.

A diferença é que vai estrear-se na UEFA um pouco mais cedo. O primeiro jogo do play-off está marcado para 19-20 de agosto e o segundo para 26-27 de agosto. Por isso, a lista provisória de inscritos para a UEFA terá que ser entregue atempadamente. Portanto, será essencial fechar dentro dos possíveis os dossiês entradas/saídas antes do estágio em Inglaterra.

Como o FC Porto vai participar no play-off, a estreia no campeonato vai ser antecipada, restando saber se será a 15 ou 16 de agosto.

Entretanto, já foi confirmado pela imprensa desportiva que Oliver Torres chegou hoje ao Porto, para fazer exames médicos e assinar contrato.  O negócio já foi avaliado aqui e não há muito mais a acrescentar, a não ser dar as boas vindas ao atleta, a primeira contratação com carimbo de Lopetegui e uma política rara nos últimos anos no FC Porto: um jogador adquirido a pedido expresso do treinador.

Mundial rende mais de 600 mil euros ao FC Porto

Dos nove jogadores contratualmente ligados ao FC Porto que foram ao Brasil, oito estão apurados para os oitavos-de-final do Mundial 2014. Ironicamente, Varela é o único que vai regressar atempadamente a Portugal, depois de se ter tornado no segundo jogador da história do FC Porto a marcar em Mundiais pela selecção portuguesa, depois de Raul Meireles.
Varela é o único que volta
já a casa

Lopetegui, infelizmente, vai receber jogadores a conta-gotas na pré-época que arranca a de 3 julho, não só devido aos que vão regressar mais tarde do Brasil como devido aos reforços que só serão garantidos posteriormente. Felizmente, a SAD teve a sensibilidade de aceder ao pedido do treinador para realizar um segundo estágio, em Inglaterra, onde já está previsto que o grupo já esteja completo - infelizmente, com o mercado aberto até ao início de setembro, será quase impossível ter um agosto descansado e imune a especulações.

Mas a permanência de oito jogadores (a contar com Fucile, que está de saída em fim de contrato) no Brasil também traz boas notícias do ponto de vista financeiro. O Tribunal do Dragão fez as contas e a SAD já garantiu mais de 600 mil euros pela presença dos seus atletas no Mundial 2014.

A FIFA paga 2.180 euros por dia pela presença de cada jogador no Brasil, segundo garantiu Jérôme Valcke. O valor pode diferenciar devido à taxa de câmbio, mas não andará muito distante disto.

A contagem teve início duas semanas antes do Mundial e terminou no dia 26, no final da fase de grupos. Só nesta fase, 9 jogadores em 28 dias de competição, o FC Porto garantiu 549.360 euros. Mas como há mais selecções em provas, os prémios vão aumentar nos oitavos-de-final.

Prémios acrescidos pela chegada aos oitavos-de-final:
México (Herrera e Reyes): 13.080 €
Colômbia (Quintero e Jackson): 8.720 €
França (Mangala): 8.720 €
Uruguai (Fucile): 3.460 €
Argélia (Ghilas): 8.720 €
Bélgica (Defour): 10.900 €

Contas feitas, o bolo chega aos 600.780 euros.
Quintero já marcou

Depois, ainda é possível somar...

Colômbia:
Se chegar aos quartos, mais 26.160 €;
Se chegar às meias-finais, mais 17.440 €;
Se chegar à final, mais 21.800€.

Uruguai:
Se chegar aos quartos, mais 13.080 €;
Se chegar às meias-finais, mais 8.720 €
Se chegar à final, mais 10.900 €.

França: 
Se chegar aos quartos, mais 8.720 €;
Se chegar às meias, mais 8.720 €;
Se chegar à final, mais 10.900 €.
Herrera está a ser
dos melhores

Argélia:
Se chegar aos quartos, mais 8.720 €;
Se chegar às meias, mais 8.720 €;
Se chegar à final, mais 10.900 €.

México:
Se chegar aos quartos, mais 26.160 €;
Se chegar às meias-finais, mais 17.440 €;
Se chegar à final, mais 17.440 €.

Bélgica: 
Se chegar aos quartos, mais 8.720 €;
Se chegar às meias, mais 8.720 €;
Se chegar à final, mais 8.720 €.

Nesta pespectiva, apesar de prejudicar a pré-época de Lopetegui, a final do Mundial mais rentável para o FC Porto seria entre México e Colômbia. Não só pelas indemnizações, mas como pela própria valorização /evolução que Herrera, Quintero e Jackson Martínez estão a ter.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Palavra de capitão

Contrato até 2016
«Estou concentrado no Mundial, depois vou de férias e volto para fazer a preparação com o FC Porto. O meu contrato vai até 2016. Não sei o que vai acontecer depois mas, neste momento, faço parte da equipa do FC Porto».

«Lopetegui? Ainda não o vi. Como estou aqui ainda não sei. Vou descobrir as suas qualidades e a sua maneira de trabalhar quando regressar ao FC Porto».

Mangala está a recusar o City ou a jogar com o City?

Sob qualquer circunstância e aconteça o que acontecer nos próximos dias, tornou-se um profissional de que se pode orgulhar. E o FC Porto também. 

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Fernando «abre» o mercado. E dava para comprar quantos Garays?

Sobre o negócio Fernando já aqui tínhamos falado. Não há muito mais a acrescentar. Apenas expectativa para confirmar qual o encaixe líquido com a transferência, algo que só descobriremos em outubro, quando forem apresentadas as contas 2013-14.
Até sempre, campeão

De Fernando não há muito mais a dizer. Excelente jogador e profissional, que dentro de campo personificava como poucos aquilo que é ser um jogador à Porto. Merece a oportunidade de ter algo novo que corresponda às suas ambições desportivas e financeiras. Boa sorte, Fernando!

O negócio com o Manchester City, como já tinha sido aqui escrito, não podia incluir Mangala nas negociações. Essa é uma questão à parte... e concreta. Como alguma imprensa já noticiou, o City apresentou, de facto, uma proposta de 40 milhões de euros por Mangala, o mesmo jogador que há um mês dizia preferir um convite do Chelsea. E não da boca para fora.

Jogadores como Mangala podem e devem ser premiados pelos seu profissionalismo, mas os interesses do FC Porto estão primeiro lugar... Sabendo-se que daqui a 2 anos Mangala termina o contrato. Se o Chelsea pode ou irá competir com os números do Manchester City, esperemos para ver.

Sobre Jackson Martínez, que fez dois belíssimos golos no Brasil, será uma questão de ver até onde a corda estica. Na perspectiva do Valência, o jornal Superdeporte tem valido a pena cada leitura e ainda hoje escreveu que as próximas 48 horas serão decisivas...  Pelo acordo com a Fundação Valência e Peter Lim. O acordo com a banca será necessário para começar a investir. 

A barreira mínima dos 30 milhões de euros, que o Atlético de Madrid disponibilizou-se a bater aquando das conversações por Oliver Torres, parece estar garantida. Mais cláusula, menos cláusula, mais milhão, menos milhão, a boa forma no Mundial pode ajudar ao negócio. Resta saber se a menos de uma semana do final do mês a SAD vai tentar um acordo relâmpago - o mesmo se aplica a Mangala - para minimizar o buraco de 2013-14 ou se vai apostar já em 2014-15. O sucessor de Jackson, esse, é uma incógnita. Até porque Pinto da Costa ou está mesmo determinado a puxar a corda até ao limite, ou não está mesmo interessado em vender.

Em caso de saída, o desejo de Lopetegui para esta posição específica pode ser caro, mas Jackson foi o abono de família nos últimos dois anos. Um investimento forte para esta posição deve ser prioritário, sobretudo com Tello perto de ser reforço por empréstimo, restando apenas que o FC Porto se decida a arcar com os salários do jogador, que não acredito serem insuportáveis. Ghilas, que também está perto de ter companhia para ir à mesquita, não está preparado para ficar com a posição 9. E a voz do treinador merece ser ouvida neste capítulo. Sobretudo quando 3 centrais que estão no Mundial e no topo dos referenciados para reforçar a defesas custam todos acima de sete, oito milhões de euros.

Recuando a Mangala, tocar no tema é inevitável: o encaixe dá para comprar quantos Garays? Sete? Oito? Tomo a liberdade de recuperar o comentário como resposta a um leitor, com duvidas sobre a transferência é de 6 ou 15 milhões de euros.

Não há absolutamente nada de errado. Simplesmente o Benfica é um clube especial.
O que é que as SAD têm que fazer quando há transferências? Declarar o valor TOTAL da transferência e só depois, no relatório e contas, é que detalham a distribuição pela(s) terceira(s) parte(s).

Vão ler os comunicados de André Gomes, Rodrigo, Ramires, Di Maria... O que vão ver é muito simples: vão ver o valor TOTAL da operação. Nos comunicados do FC Porto, desde Iturbe a João Moutinho ou James Rodríguez, vão ver o valor TOTAL da operação. E até no Sporting, se quiserem ver os comunicados de venda de Ilori, Bruma ou Wolfswinkel, vão ver o valor TOTAL da operação.

À CMVM é sempre declarado o valor TOTAL do negócio. Logo, ao lerem o comunicado sobre o Garay, tirem as vossas próprias conclusões.

O trânsito entre Lisboa e São Petersburgo ainda não acabou.

Se a matemática não me falha, e seguindo o eterno conselho do Cherne, fazendo as contas Garay (que considero ter sido o melhor central em Portugal do último ano, honestamente) dá prejuízo ao Benfica. Mas tendo em conta que este negócio é apenas parte e não o todo, aguardemos para ver como se reforça o rival, que em 2014 entre empréstimos bancários e obrigacionistas tem a pagar ou cobrir 174,215 milhões de euros. Libras boas, há quem diga. Rublos bons, agradecem eles.

terça-feira, 24 de junho de 2014

O momento é eterno, o protagonista não

Podia ser um espaço dedicado ao golo do Ademir, ao calcanhar do Madjer, ao aceno fatal do Deco em Gelsenkirchen ou ao voo do Falcao em Dublin. A história do FC Porto é rica em momentos que são eternizados com um único pontapé ou cabeceamento, mas há um que mereceu uma distinção acima de todas as outras: o golo de Kelvin, no célebre minuto 92.

Futuro não passa
pelo FC Porto
O espaço K não representa apenas um momento na história do FC Porto. Representa toda a história de Kelvin no FC Porto. O menino brasileiro virou um campeonato ao contrário com um pontapé. Decisivo, sim, sobretudo por ter sido na penúltima jornada. Mas num campeonato, um ponto na primeira jornada pode ser tão decisivo como um na última para as contas finais. Em 2006/07, o FC Porto foi campeão com um ponto de vantagem. E se Bruno Moraes não tivesse derrubado o Benfica à cabeçada no último minuto?

O momento foi de Kelvin. Mas e se Liedson não tivesse feito a tabela? E se Varela, antes, não tivesse soltado para o lado esquerdo? E se João Moutinho não tivesse recuperado a bola num lançamento de linha lateral para o Benfica? Mais do que um golo de Kelvin, foi um golo do FC Porto. Mais um na sua história.

Depois de ter sido o herói em 2012-13, Kelvin ficou no plantel quase para ser peça de museu. Que sentido faria inaugurar o espaço K com um jogador emprestado ao Guimarães? Foi por isso que Kelvin ficou no plantel. E com isso queimou-se um ano em que Kelvin podia evoluir como necessita. Não foram apenas os adeptos e o jogador a ficar agarrados às memórias do minuto 92: os próprios dirigentes do FC Porto agarraram-se a isso.

A memória é eterna. Kelvin não, por isso está de saída do FC Porto, por não entrar nos planos de Lopetegui. O clube prefere o empréstimo e não faltam interessados na primeira liga, mas o jogador pode entender que está na hora de sair a título definitivo, após 3 anos a tentar ser opção regular na equipa principal (no primeiro ano foi emprestado ao Rio Ave). Resta à SAD encontrar a melhor solução para um jogador que entra e sai do clube sem que nunca a imprensa tivesse conseguido descobrir (ou pelo menos publicar) quem é o seu empresário. É obra.

Pedro Moreira no viveiro de Jorge Mendes

Em janeiro foi apresentado como bandeira para a aposta na formação por parte de Pinto da Costa. A entrevista foi do pior que já foi dado pelo presidente, por isso a promessa acaba por valer tanto como a continuidade de Lucho ou a renovação com Paulo Fonseca. Mas não deixa de surpreender.

Rio Ave cresce
com Mendes
Aos 25 anos, Pedro Moreira nunca fez uma época «decente» de primeira liga e jamais convenceria Lopetegui a incluí-lo no plantel principal. Mas renovar com um jogador para depois emprestá-lo, já depois de terem tido acordo para o transferir para a Académica, é uma decisão em tudo incompreensível. Sobretudo tendo em conta que Pedro Moreira nunca chegará a um nível que lhe permita jogar a alto nível na equipa principal. Além disso, ao contrário do que possam pensar, Pedro Moreira não é um jogador formado no FC Porto face aos regulamentos da UEFA.

Pedro Moreira chega a um clube que tem no seu «diretor-geral» e «(des)investidor» Jorge Mendes, também empenhado na (re)construção do plantel de 2 dos 3 grandes e nas vendas de um terceiro. Mas o clube que hoje tem maior influência de Jorge Mendes é o Rio Ave.

O empresário é detentor dos passes de Marcelo e Felipe Augusto e vai transferi-los para outro clube, com FC Porto e Benfica no raide das possibilidades, pois em Valência e Mónaco há limite para extracomunitários.  Na carteira de Mendes também estão Tiago Pinto, Ederson, Ukra, Diego Lopes, Alberto Rodríguez, Roderick Miranda e Luis Gustavo, além do treinador Espírito Santo, a ser colocado no Valência, e de Fabinho, «emprestado» ao Mónaco. Marcelo e Felipe Augusto são os primeiros peixes graúdos a sair do viveiro. Quem serão os próximos?

sábado, 21 de junho de 2014

Uma lição para 2014-15

Opinião do jornalista André Viana, no jornal O Jogo, 21-06-2014
Vale a pena recordarmos a época 2013-14? Vale. Valerá sempre. É uma época que não deve ser enterrada no passado, mas sim que deve ser esmiuçada ao máximo, perceber o que falhou, onde falhou, porque falhou, porque as falhas não foram corrigidas ou porque o foram já tarde. Se O Tribunal do Dragão tivesse tido a sua estreia na blogosfera há mais tempos, seria tema para largos dias. Como as atenções já estão voltadas para 2014-15, optamos pela versão curta.

Paulo Fonseca fez um mau trabalho no FC Porto. Não conseguiu perceber que parte do trabalho de um bom treinador é adaptar as suas ideias à equipa e não adaptar apenas a equipa às suas ideias. Mas foi apenas a ponta do iceberg de problemas que foi a época passada. Não é que tenha sido mal planeada. O problema é que o plano foi mal executado, mal gerido, mal remendado. Os resultados foram uma consequência de todo o resto. Treinador, SAD, grande parte dos jogadores: o cartório de culpas tocou a todos.

A lição de Paulo Fonseca
Com Herrera e Quintero a brilharem no Brasil, rapidamente surge a ideia entre alguns adeptos: a culpa, afinal, era de Paulo Fonseca, que não pôs os jogadores a render. Nada de que possa discordar mais. O plantel do FC Porto não tinha, efectivamente, qualidade suficiente para competir a bom nível na UEFA e para fazer frente a um Benfica que gastou muito e gastou bem; já nós gastámos muito, mas não necessariamente bem. Não para a época 2013-14.

Nomes como Reyes, Herrera, Quintero e Ghilas foram excessivamente caros para a época 2013-14. Mas podem tornar-se baratos para a época 2014-15. O processo de evolução é natural e não é caso raro os futebolistas sul-americanos precisarem de um maior tempo de adaptação. Mas não é por estes quatro jogadores - entre outros - começarem a render com Lopetegui que isso significa que o problema se esgotava no treinador. O plantel não tinha a profundidade necessária e não há barco que resista à despedida do seu comandante a meio da jornada. A certidão de óbito foi assinada com uma rescisão de luxo.

Águas passadas? Não. Águas onde o FC Porto tem que navegar. Na revista Dragões, o presidente diz que «não temos a capacidade financeira de alguns, mas sempre soubemos com menos fazer mais». O passado recente não diz isso, presidente, diz que temos feito menos com mais. E reporto às palavras do presidente por ser o único elemento da SAD a dar a cara após a má época. Não precisa de assumir que 2013-14 foi uma desilusão: precisa é de fazer o possível para 2014-15 não ser assim.

Pinto da Costa deixa a promessa: «Todos juntos vamos construir mais uma grande equipa.» Uma promessa agradável de se ler. Mas este também foi o mote da época passada e o plantel revelou-se curto. A questão: quem achou que o plantel para 2013-14 era suficiente para lutar pelo título? Não foi Paulo Fonseca, que não teve palavra nem para somar, nem para subtrair nomes ao plantel. Por isso, ouça-se o treinador, ouça-se Lopetegui. Paulo Fonseca ainda poderá, afinal, ter deixado uma valiosa lição no Dragão: não há super-estrutura que ultrapasse a importância do treinador.

Empréstimos bancários e obrigacionistas: quanto deve a SAD do FC Porto?

Um leitor d'O Tribunal do Dragão lançou a questão: quanto tem a SAD do FC Porto a pagar por empréstimos nos próximos tempos? Fomos ao último relatório e contas trimestral fazer e detalhar as contas, contabilizando apenas os empréstimos bancários e obrigacionistas. Refira-se que a taxa anual média é de 7,45%.

Fernando Gomes, o sucessor de
Angelino Ferreira na SAD
Junho de 2014 - 10 milhões de euros. Empréstimo obrigacionista de 2011-14, que fica desde já coberto com o novo empréstimo obrigacionista, de 20 milhões de euros, com maturidade em 2017.

Outubro de 2014 - 30 milhões de euros. Este empréstimo, celebrado com o BES, prevê o pagamento de 23 milhões de euros em julho e 7 milhões em outubro. Mas há uma garantia que obriga a SAD a liquidar o montante total assim que venda Mangala ou Jackson Martínez. Quer isto dizer que o dinheiro da venda de Mangala ou Jackson Martínez entrará, directamente, para a liquidação deste empréstimo.

Abril de 2015 - 2,1 milhões de euros. Empréstimo também com o BES.

Maio de 2015 - 30 milhões de euros. Empréstimo obrigacionista 2012-15. Não haverá a mínima hipótese da SAD liquidar este empréstimo durante a época 2014-15, a não ser que consiga, literalmente, vender todo o plantel. Por isso, a solução inevitável acabará por ser a emissão de novo empréstimo obrigacionista, para 2015-18, ou bancário. A única dúvida será o valor a ser emitido, mas é mais do que garantido que o balanço da procura/oferta vai ser «um sucesso» (ler mais aqui).

Janeiro de 2016 - 1,75 milhões de euros. Empréstimo com o BES, 4 prestações de 437,5 mil euros entre julho de 2014 e janeiro de 2016.

Setembro de 2016 - 17 milhões de euros. Empréstimo com o BES, 5,5 milhões de euros contabilizados como corrente e 11,5 não corrente. As prestações: 5,5 milhões em setembro de 2014, 5,5 milhões em setembro de 2015 e 6 milhões em setembro de 2016.

Dezembro de 2016 - 2,268.750 milhões de euros. Empréstimo com Milennium BCP, com verba corrente de 825 mil euros. Doze prestações trimestrais entre março de 2014 e a referida maturidade do empréstimo.

Um bolo total de 93,12 milhões de euros. Até ao final do ano civil, excluindo o empréstimo obrigacionista já coberto este mês e os empréstimos abaixo dos 2,3 milhões de euros, há a pagar 30 milhões de euros até outubro (vai ser liquidado antes, com as vendas de Jackson e/ou Mangala) e 5,5 milhões de euros em setembro. É a realidade da FC Porto SAD, neste momento, e um problema que será solucionado com a venda a curto prazo de jogadores. A questão que sobra é a de sempre: modelo (in)sustentável até quando?
Relatório e contas do terceiro trimestre 2013-14 da SAD do FC Porto
Por curiosidade, e a desafio de outro leitor, um olho aos rivais. Tendo em conta que o Sporting foi alvo de uma reestruturação financeira, o caso é particular e não merece comparação. Mas espreitemos o que dizem as contas do rival Benfica.

Carrega, dívida!
De março de 2014 a abril de 2016, o Benfica tem a pagar/cobrir 264,215 milhões de euros entre empréstimos bancários, empréstimos obrigacionais e "outros empréstimos", nomeadamente o Papel Comercial 2014-19, este já com maturidade em abril último. Isto excluindo as taxas de juro, com média anual de 7,93%.

Se nos focarmos apenas no ano de 2014, têm maturidade este ano as dívidas de 64,3 milhões ao BES (abril), 24,6 milhões pelo Papel Comercial (abril), 315 mil euros ao Afisa (julho) e dois empréstimos obrigacionistas de 35 milhões (outubro) e 50 milhões (dezembro). Por isso, não é surpresa que Matic, André Gomes e Rodrigo só tenham servido para tapar uma cárie. Mas calma, porque o terceiro trimestre deu lucro de 20 milhões. Despachem-se a preencher o cupão enviado pelos CTT.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

O negócio Oliver Torres, a barriga de aluguer e os empréstimos ao FC Porto

Desde a criação da sua SAD, o FC Porto teve (excluindo os empréstimos à equipa B e os negócios de «transição» como Federico Scoppa, que não têm relevância desportiva) apenas sete jogadores por empréstimo de outros clubes no plantel principal utilizados como tal. Sete em 17 anos. Passamos a recordá-los.
McCarthy, o pioneiro

Benni McCarthy (2001/02) - Chegou em janeiro para reforçar um ataque que tinha Kaviedes, Esnáider, Alessandro e Pena e no qual o jovem Hélder Postiga era a melhor opção. Acabou com 14 golos em 17 jogos, a maioria nos últimos jogos, e havia uma opção de compra de 3 milhões de euros, segundo o Celta de Vigo. Não foi exercida, mas McCarthy voltou e fez-se goleador.

Adriano Louzada (2005/06) - Chegou também em janeiro, para reforçar o pouco produtivo ataque de Co Adriaanse (Lisandro jogava na ala, Postiga estava a ser reinventado como número 10, Sokota foi aposta falhada, McCarthy lesionou-se e os jovens Bruno Moraes e Hugo Almeida não chegavam). Emprestado pelo Cruzeiro, fez 7 importantes golos para a conquista do título. Havia opção de compra e foi exercida, por cerca de 1,2 milhões. Importante na época seguinte (12 golos), irrelevante nas que se seguiram.

Fucile (2006/07) - Emprestado pelo Liverpool de Montevideo, a cláusula de compra de 400 mil euros foi uma pechincha. Foi uma boa aquisição e uma mais-valia enquanto quis defender o FC Porto com um mínimo de profissionalismo e respeito pelos superiores.

Mariano González (2007/08) - Emprestado pelo Palermo, chegou a ser rotulado como flop e demorou a revelar utilidade, mas uma boa ponta final convenceu os adeptos e o FC Porto a contratá-lo. A opção de compra, de cerca de três milhões de euros, foi exercida.

Andrés Madrid (2008/09) - Era um nome habitualmente apontado ao FC Porto, não só pelas boas épocas no Braga mas sobretudo pela sua representação. Chegou na altura mais improvável, em janeiro, quando era suplente do Braga. Com opção de compra, mas em boa hora não exercida. Hoje está no Mirandela.

Diego Valeri (2009/10) - Chegou a ser rotulado como promessa argentina, mas não se impôs, apesar de Jesualdo Ferreira lhe ter concedido algumas oportunidades. Havia opção de ampliar o empréstimo e cláusula de compra de 5 a 7 milhões de euros. As duas opções foram descartadas.

Liedson (2013/14) - Vamos lembrar-nos apenas que fez o passe para o golo do Kelvin, ok?

Sete empréstimos, todos com opção de compra, excepção feita ao veterano Liedson, uma aposta de recurso pela admiração do presidente pelo antigo goleador do rival Sporting e pelo efeito psicológico que a transferência podia provocar. Sete empréstimos é muito pouco, mas é normal para um clube com uma política como a nossa.

Um empréstimo para render
O FC Porto não é barriga de aluguer de ninguém. É um clube que compra os seus próprios activos, valoriza-os e vende-os. Ou pelo menos era assim. O FC Porto é um clube cada vez menos dono dos seus activos. São cada vez mais os jogadores alienados com fundos (quase todos a darem prejuízo, um tema que vai merecer uma análise mais aprofundada no futuro) e, em 2013-14, todos os reforços contratados não o foram a 100%. Nem mesmo contratações na primeira liga, como Licá, Ricardo ou Carlos Eduardo, foram a 100% (no caso de Josué, o FC Porto já tinha 50%). Este foi um primeiro sinal de mudança de tempos. Agora temos outro.

Oliver Torres está a caminho do Dragão, o jornal Marca já o dá por garantido. Tem apenas 19 anos e o empréstimo ao Villarreal esteve longe de ser um sucesso. Não é um jogador feito, muito pelo contrário. Tendo o FC Porto nos seus quadros jovens que precisa de desenvolver, que sentido faz desenvolver os jogadores dos outros? Pode Oliver Torres pegar de estaca no FC Porto? Lopetegui conhece-o bem e foi o treinador a pedir a sua contratação, mas será difícil chegar, ver e vencer. O que não significa que o FC Porto não possa tirar proveitos com o seu empréstimo.

Ter uma opção de compra pode ser irrelevante. Ter uma opção de 20 milhões de euros e não ter vale o mesmo. Mas há a hipótese do FC Porto exigir o que exigiu com Casemiro, quando tentou o seu empréstimo em janeiro: uma cláusula pela valorização do jogador, que levaria o Atlético a ter que pagar mediante o número de jogos/rendimento individual/títulos conquistados pelo FC Porto. Há, também, a hipótese do FC Porto ficar com parte do passe de Oliver Torres, o que numa negociação futura pode ser valioso. Certo é que no FC Porto como o conhecemos, não vamos ser barriga de aluguer para o Atlético. Não sem com isso ganhar algo mais do que um protótipo de jogador.

Além disso, está longe de ser um dado adquirido que Oliver Torres seja o único motivo de interesse nas conversações entre FC Porto e Atlético, que procura um sucessor para Diego Costa e pode ter que reforçar a defesa.

PS: No meio de tantos espanhóis, é inacreditável que ainda não nos tenham apontado a mais recente aquisição da Gestifute, de seu nome Santiago Mina.

Um legado que é eterno

Nenhum homem morre quando a sua obra é eterna. Teles Roxo vive. Pôncio Monteiro vive. Sardoeira Pinto vive.

29/08/1933-19/06/2014

Dedicou quatro décadas da sua vida ao futebol do Porto, primeiro na AF, depois no FC Porto. Apoiou Pinto da Costa na candidatura à presidência do clube, em 1982, e foi nesse ano que assumiu o cargo de presidente da Mesa da Assembleia Geral, que manteve até hoje. Outro ocupará o seu lugar. Substituí-lo? Isso é impossível.

Mais do que dizer adeus, é hora de partilhar a responsabilidade de cuidar do legado de Sardoeira Pinto: o FC Porto, hoje mais pobre que nunca. Mas de pé. Como sempre esteve e sempre estará, enquanto a integridade, dedicação, paixão, competência e lealdade com que Sardoeira Pinto serviu o clube for tomada como exemplo pelos demais, de administradores a adeptos.

A meu filho, que pergunte, «quem era o Dr. Sardoeira Pinto?», respondo: «Quem seria o FC Porto sem homens como o Dr. Sardoeira Pinto?». Homens como já não há.

Obrigado, doutor!

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Rolando, Antero Henrique e a mensagem que não é só para presidentes. Os centrais e um «até já»

«Tudo o que fazemos, tudo o que pensamos fazer, tem uma exclusiva finalidade: servir o FC Porto!» As palavras de Cesário Bonito estão na galeria dos presidentes, mas não são apenas para os presidentes: são para todos aqueles ligados ao FC Porto.

A possibilidade de um
«reforço» inesperado
A saída de Rolando foi atribulada e de pouco valerá recordar toda a polémica em seu redor. Um profissional exemplar e competente, ao longo de quase cinco anos, que desde a conquista da Liga Europa viu a sua situação ser mal gerida por SAD (no que toca a propostas) e treinador (na utilização e na inibição para a mesma).

Disse que «Villas-Boas tem o meu número?». Disse sim. E na mesma intervenção lembrou que tinha contrato com o FC Porto e que a direção é que ia decidir se era altura para ele sair. De Rolando, nunca foi notícia um amuo, nem queixas em redes sociais. Quando foi emprestado ao Nápoles, soltou tudo de uma vez, acusando Vítor Pereira e Antero Henrique de lhe fazerem «a vida negra». Poderia ser evitado? Podia. Mas erros cometem-se sempre: o que importa é saber corrigi-los em prol de interesses superiores: os do FC Porto.

Rolando é um elemento que conhece o balneário, já foi capitão do FC Porto, experiente, com qualidade e foi um dos melhores centrais da Serie A do último ano. Numa altura em que o FC Porto vai necessitar de um ou dois centrais (a continuidade de Abdoulaye não é garantida, Mangala é um caso no mercado ainda por resolver), pode Rolando vir a ser a solução que falta? Pode.

As negociações com o Inter Milão estão num impasse. O clube quer ficar com Rolando e Rolando gostava de ficar em Itália, mas os números em cima da mesa ainda não convenceram o FC Porto a libertar o central, que tem contrato até 2015. Neste momento, as propostas não chegam a um terço do valor pelo qual Rolando podia ter saído em 2011. Quer isto dizer que neste momento, financeiramente, Rolando nunca renderá tanto como desportivamente - um pouco à imagem do que a SAD entende ver em Varela, segundo foi contado recentemente pelo jornal O Jogo.

Um défice de liderança
Qual será a melhor opção para reforçar a defesa? Apostar em mais um central promissor (já há Reyes, que nem titular numa defesa com três centrais, no México, está a conseguir ser) ou num central experiente que é necessário (desde a saída de Otamendi que não há ninguém para esse papel, sendo Maicon uma incógnita neste momento). Para central experiente, Rolando é a melhor solução. Seria necessário renovar, pois só contrato por mais um ano, mas esse seria um obstáculo fácil de superar.

Rolando é oficialmente representado por João Cardoso, o seu empresário de sempre e que considera um pai, mas Peppino Tirri, um empresário italiano com boas relações com Alexandre Pinto da Costa (que está em vias de levar Licá para Itália), tem procuração para o negociar para Itália (à imagem de Jackson Martínez, o capricho de Peter Lim). Da mesa com o Inter ainda não saiu qualquer acordo. A transferência ainda é a prioridade, mas caso esta falhe Rolando deverá ser integrado no plantel.

Alguns adeptos poderão questionar: será possível a integração de Rolando depois de toda a polémica com Antero Henrique? Respondo com outra questão: que melhor prova de uma estrutura unida e a remar para o mesmo lado do que deixar para trás as questões pessoais em prol do FC Porto? Aguardemos o desfecho do caso, certamente resolvido até ao final do mês.

Uma porta sempre aberta
Rolando, como possível resposta à dificultada contratação de Balanta, não disfarça um problema: o FC Porto, uma das melhores escolas de centrais na Europa, tem um défice nos seus quadros para esta posição, que afecta inclusive os escalões de formação. O dinamarquês Malte Johansen é hipótese, mas para os sub-19. O chileno Igor Lichnovsky tem feito correr tinta, com vista a um ingresso na equipa B. E há ainda uma grande incógnita no defeso: o jovem Pedro Monteiro, que se juntou à carteira de António Araújo (por estes dias no Brasil - país de onde vão chegar mais atletas para ingressar nos sub-19 do FC Porto, juntando-se ao compatriota Elvis) e está entre Braga e Pedroso. Três boas apostas, caso se confirmem, e o central Júnior Pius promete dar que falar na equipa B já na próxima época.

Equipa B essa que, ouviu o Tribunal do Dragão, já não contará com Nuno Capucho (inicialmente apontado como adjunto de Luís Castro), de saída para o Minho, após sete anos a trabalhar na formação do clube. Pode acompanhar a nova geração de bons treinadores na sua linha (Pedro Emanuel, Nuno Espírito Santo, Sérgio Conceição) e merece a oportunidade a solo, após uma exemplar dedicação ao clube. Boa sorte, que esta porta fica aberta. Mais saídas dos quadros técnicos a confirmar nos próximos dias.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Balanta e o outro lado da balança

Há sempre dois lados. A necessidade do FC Porto, um clube assumidamente vendedor, fazer vendas nos próximos 13 dias para salvar as contas 2013-14 já era conhecida. Daí o impasse na aquisição de alguns reforços. Mas importa lembrar a outra perspectiva: há clubes na mesma situação.

O custo de ter que vender
para depois comprar
Se é certo que Real Madrid e Barcelona, clubes que não dependem de mais-valias em transferências para subsistirem, têm jogadores dispensáveis que agradam ao FC Porto - embora o facto de ter que esperar que decidam o seu lugar no plantel prejudique o FC Porto na construção do seu, num processo mais lento do que seria recomendável -, os clubes de menor poderio financeiro também estão em contra-relógio.

Veja-se o exemplo de Ayoze Perez. O Tenerife, o empresário e o jogador tinham acordo verbal com o FC Porto desde o fim de março, mas a necessidade de garantir dinheiro vivo no imediato falou mais alto. O Newcastle acenou com o depósito directo de 1,5 milhões de euros no prazo de 7 dias e o negócio concretizou-se. O que o FC Porto verdadeiramente perdeu com este negócio, só o tempo o dirá.

Isto a propósito de Balanta. O central colombiano está referenciado como prioridade número um para substituto de Mangala (cuja saída também está num impasse), mas o River Plate encontra-se na mesma situação que FC Porto e Tenerife: necessidade de fazer um encaixe para as contas de 2013-14. Perante a demora na concretização da proposta, o FC Porto corre o risco de deixar Balanta escapar, uma vez que o central tem vários interessados em Itália.

O River Plate, com problemas de tesouraria, poderá ceder à necessidade de garantir dinheiro a curto prazo. Esperar por 1 de julho - ou pela primeira grande venda, e Fernando não chega - para começar a incluir despesa é uma necessidade do FC Porto, que mesmo na próxima época vai deparar-se com o mesmo problema. Veja-se o exemplo do rival Benfica, que já tem tudo tratado para vender Enzo Pérez ao Valência, mas com um pormenor combinado: depositar o dinheiro da transferência apenas a partir de 1 de julho, em 2014-15, de modo a começar já a salvar as contas da próxima época.

Este é preço de ser um clube assumidamente vendedor. O FC Porto depende de vendas para depois investir, o que obriga a uma ginástica negocial e de prospecção minuciosa. Sobretudo quando faltam apenas duas semanas para começar a pré-época e meia dúzia dos jogadores que farão parte do plantel de Lopetegui estão no Mundial 2014.

Começar a pré-época a conta gotas já será um furo no planeamento, mas pode abrir oportunidade para jogadores da equipa B, que à partida só fariam número, possam mostrar serviço e convencer Lopetegui. Rafa, Ivo Rodrigues e André Silva não podem entrar nas contas - e o Tribunal do Dragão ouviu que é um trio que merece a simpatia de Lopetegui -, porque deverão representar Portugal na fase final do apuramento para o Europeu de sub-19. Mas Mikel, Kayembe, Tozé (o empréstimo ao Estoril está num impasse) e Gonçalo Paciência, com possibilidade de surgir espaço para mais um ou dois nomes, podem aproveitar.

O primeiro reforço para 2014-15, o aperto no cinto e a burguesia

Era o mais tecnicista, criativo, talentoso e promissor jogador do plantel principal do FC Porto para 2013-14. Fez capas de jornais como poucos, bastava tocar na bola para as bancadas susterem respiração à espera de ver o que ia sair daquele pé esquerdo. No final, não cumpriu com as expectativas. Mas haverá alguém que o tenha cumprido na época passada?

Quintero: investir antes
de pôr a render
Quintero fez 34 jogos na época passada, mas foi titular em apenas 5 e em grande parte deles o tempo de jogo foi residual. Por isso, a SAD não foi forçada a comprar «mais Quintero» - tinha direito até 90% do passe, mas como Quintero não somou tempo de jogo suficiente o FC Porto mantém apenas os 50% que comprou em 2013, por 5 milhões de euros. Mas esse bolo vai crescer.

Quintero vai ser um dos investimentos para 2014-15, com a SAD a assumir a compra de maior percentagem do passe, que está na posse do Pescara. A crença de que Quintero vai explodir na próxima época está na base da decisão, que ainda assim obedecerá à mesma estratégia dos reforços que ainda vão chegar - despesas incluídas em 2014-15.

É um dado quase adquirido que a SAD vai fechar 2013-14 com prejuízo. Os primeiros nove meses deram prejuízo de 38,7 milhões de euros (mesmo incluindo a venda de Otamendi e libertando Lucho, o mais bem pago do clube) e o quarto semestre não será auto-sustentável, por isso para evitá-lo seria necessário incluir as vendas de Fernando, Mangala e Jackson, que teriam que ser concretizadas até 30 de junho. O calendário vai apertando e até Fernando, que recebeu ordens para interromper as férias no Brasil, viajar para o Porto e aguardar a luz verde para viajar para Manchester, acabou por regressar ao país natal com a situação por oficializar. 

Os reforços - na verdadeira acepção da palavra - só poderão ter entrada nas contas a partir de 1 de julho, caso contrário o prejuízo será ainda maior. A entrada, a ocorrer antes, só irá agravar o buraco de 2014-15, que por si só já será bem grande e obrigará a vendas logo em maio/junho, sem qualquer outro tipo de alternativa. Um orçamento de 90 a 100 milhões de euros é insustentável para qualquer clube português - sobretudo para um clube que faz uma má época e depende de mais-valias para cobrir metade da despesa - e o aperto no cinto vai chegar com naturalidade.

Mas o foco do texto está em Quintero, uma aposta para 2014-15. Já se percebeu que não deverá ter espaço para brilhar no Mundial, mas com o empenho, dedicação e humildade que em grande parte da última época não teve conseguirá tornar-se um «reforço» de peso.

Expetativas a cumprir,
pelo treinador e pelo clube
Curioso é seguir a tendência de alguma imprensa desportiva. Barrada e Brahimi são jogadores similares a Quintero, que se enquadram dentro de um determinado perfil: um 10 criativo, com qualidade de passe, visão de jogo, que joga melhor por dentro e que consegue desequilibrar em zona central (embora Brahimi seja melhor em drible em progressão e possa render na linha). Porque estaria Lopetegui à procura de um jogador como Barrada se já tem Quintero? Planos diferentes para o colombiano ou o pensamento de que ainda não está preparado para ser titular no FC Porto? O investimento da SAD no resto do passe deve responder à questão.

Chame-se à atenção à capa do jornal O Jogo de 16 de junho, ao referir-se à «lista cara» de Lopetegui. A imagem de que o FC Porto contratou um treinador burguês não vai pegar. A SAD, pela gestão nos últimos anos, será sempre a última a poder julgar a burguesia de um treinador, que neste caso não existe.

Lopetegui foi contratado para o FC Porto com um plano a seguir e com a necessidade clara de que seriam necessários reforços para determinados sectores. Até agora, Lopetegui não viu ser confirmado nenhum dos nomes que pediu. Pelo contrário, as chegadas de Ricardo e Sami são apostas unilaterais do clube (e o segundo vai ser dispensado no fim de Agosto). Ser contratações a custo zero não justifica, pois há serviços de intermediação, prémios de assinatura e salários a pagar. 

O investimento em nomes de que o treinador não precisa e que não vão obedecer à política do FC Porto (valorização e venda de activos) só pode dizer que, se há margem para isso, então tem que haver margem para corresponder ao pedido - e ao prometido - ao treinador. A não ser que haja um cinto diferente para cada calça.