terça-feira, 28 de abril de 2015

Falemos do clássico e de Lopetegui

Lopetegui começou a sua análise com uma verdade incontornável: «Só houve uma equipa aqui que quis ganhar, e fomos nós». Mas essa verdade tem duas adendas: 1) não era o Benfica quem precisava de ganhar; 2) o FC Porto não fez o suficiente para ganhar.

O que falhou na Luz?
Nenhum campeonato se perde por empatar em casa do rival. Mas neste caso, gorou-se a nossa última possibilidade de passarmos para a frente do campeonato. O Benfica está muito perto de fazer pela primeira vez aquilo que o FC Porto fez 12 vezes nas últimas 3 décadas: ganhar pelo menos dois campeonatos seguidos. Algum dia teria que ser. São 30 anos de hegemonia, mais do que possam conhecer por parte de qualquer outro clube. Uma hegemonia que não terminou, simplesmente deparou-se com um rival fortalecido nos últimos anos e com um annus horribilis do FC Porto, seguido de um quase ano zero que ninguém quis assumir.

Esta será, possivelmente, a primeira época desde 88-89, na altura com Quinito/Artur Jorge, em que o FC Porto não vai ganhar nenhum troféu. Fez uma óptima campanha na Liga dos Campeões, e em termos de campeonato superou largamente a média de golos, pontos e de imbatibilidade nos últimos 20 anos. Suficiente para considerar uma boa época? Para a história, não. Suficiente para considerar a aposta na era Lopetegui um fracasso? Também não.

Uma equipa que faz uma Champions como o FC Porto merece todo o crédito. Falar em jogos fáceis, num contexto de Liga dos Campeões, é absurdo. O favoritismo não garante nada. Se garantisse, não tínhamos perdido contra Zagrebs, APOELs e Artemedias em épocas em que fomos campeões nacionais. Em termos de campeonato, que era o grande objectivo da temporada, temos à 29ª jornada mais pontos, golos e melhor defesa do que a maioria das temporadas das últimas duas décadas. A diferença? O Benfica tem mais pontos. E independentemente de o FC Porto ter, por manifesta culpa própria, feito apenas 1 ponto contra o Benfica, ninguém vai esquecer como é que o galo se aguentou no poleiro. Ou pelo menos não deviam.

É cedo para um balanço absoluto. Mas há a reter algo: Pinto da Costa vai ser, muito provavelmente, reeleito para o 14º mandato, dentro de um ano. Basta querer. E neste momento, a ser reeleito não é pelo que foi feito no 13º mandato (em termos de títulos, para já o saldo é uma Supertaça, além do pior prejuízo da história da SAD), mas sim pelo seu passado no FC Porto. E se a resposta de Pinto da Costa à ameaça de uma quebra no seu legado se chama Lopetegui, então pelo menos por cá merece o apoio.

Lopetegui é o treinador em quem Pinto da Costa e o FC Porto mais investiram, e sendo um treinador que não ganhou ainda nada já está referenciado por Real Madrid e Milan. Não é à toa. É um treinador que lidera um projecto a três anos. O saldo, para já, foi de uma boa Liga dos Campeões, um campeonato com líder forjado e no qual Lopetegui e os jogadores não podem ser os máximos responsáveis (na primeira volta houve muita gente a nanar), e aposta e reestruturação nas camadas jovens, passo a passo. Os títulos podem não chegar este ano, mas é um passo seguro para que retomemos esse caminho em 2015-16. Para já, há 4 jogos para ganhar. O resto aprofundaremos e debateremos depois, sabendo que não podemos confiar em Pinto da Costa sem confiar em Lopetegui. Não há que trocar de treinador: há que ver e perceber que erros foram cometidos esta época e corrigi-los.

Já agora: Pedroto foi, até hoje, o único treinador da era Pinto da Costa que esteve uma época inteira (sem trocas de treinador) sem ganhar títulos. Não é por isso que deixou de ser uma referência. Ah, e um pormenor: nunca ganhou ao Benfica na Luz. 





Casemiro (+) - Enorme jogo, dos melhores que fez pelo FC Porto. Ótimo no desarme, na saída de bola, na pressão sobre o portador e na dimensão física. Meio braço a torcer: hoje faz jus a todos os elogios que recebia no início da época e às imensas vassalagens da Marca e do AS; meio braço, porque de facto no início da época Casemiro não jogava metade do que joga hoje. Neste momento é o 6 que fez o FC Porto superar a ausência de Fernando.

Alex Sandro (+) - Com o FC Porto a acusar uma preocupante falta de profundidade, foi ele quem mais tentou combater esse problema. Foi quem mais vezes foi à linha cruzar, raramente deixou o flanco descoberto, deu apoio ao ataque e está cada vez mais forte nos movimentos interiores, embora falhe ainda muitas vezes na hora de soltar a bola. Fez mais que qualquer extremo do FC Porto em campo.





A falha de Lopetegui (+/-) - A estratégia de Lopetegui não foi muito diferente da utilizada em Lille. Jorge Jesus, sendo um bom treinador no futebol português, é limitado quando a sua equipa tem que assumir uma gestão de posse e um futebol mais pautado. Lopetegui tentou ganhar o meio-campo, e isso foi bem pensado. O FC Porto esteve forte no corredor central, mas houve um grande problema: os corredores. Com Brahimi a mostrar desde Dezembro porque é que andava no Granada (os pés são os mesmos, mas passa-se algo naquela cabeça), o FC Porto esteve sempre manco nos corredores, raramente forçou o um para um contra o frágil e amarelado Eliseu e preocupou-se tanto em ganhar o meio-campo que, com isso, deixou de ter tantas condições para ganhar o jogo. Estratégia a afinar. Tello fez falta, sobretudo porque o Benfica apostou tudo na armadilha do fora-de-jogo (7 vezes).

Apanha, Jackson! (-) - Numa equipa com 4 médios, todos eles com boa capacidade de passe, seria de esperar mais critério no último passe. Mas nada disso aconteceu. Tirando um passe de Herrera na segunda parte, o FC Porto nunca entregou uma bola em condições a Jackson. A equipa, sem profundidade nos corredores, não conseguiu abrir o bloco do Benfica. E acabou por recorrer a um filme já visto: hesitação na saída de bola até ao momento em que alguém, muitas vezes Maicon, dá o bico à espera que Jackson apanhe. Exigimos demasiado a Jackson neste jogo, dando-lhe tão pouco.

Sem estofo (-) - O FC Porto não acreditou que ia sair da Luz líder. Simplesmente não acreditou. Faltava o lance do click. Todos falam do 3x1 com Villas-Boas, mas a verdade é que se o Fernando não tem varrido o Jara antes do golo do Moutinho provavelmente o FC Porto não teria virado a eliminatória. Faltou o tal lance que desse motivação ao FC Porto. Só tivemos um lance a que pudéssemos chamar oportunidade de golo, o chuto do Jackson na primeira parte. Fizemos muito pouco. O Benfica de JJ iria sempre ser resultadista, que é algo que aprendeu a ser contra o FC Porto. Também será hora de nos readaptarmos face à postura do Benfica: uma dose mais acentuada de pragmatismo e um pouco menos de respeito pelo adversário.

PS: Nos próximos dias os posts poderão não ser tão frequentes, por motivos de indisponibilidade (daí o atraso nesta análise), mas as crónicas de jogo e as grandes questões em torno do FC Porto nunca deixarão de ser aqui debatidas. A seu tempo, leve o tempo que levar.

sábado, 25 de abril de 2015

Freitas e o 25 de Abril

Atravessar a ponte era um tormento. Durante a vigência do Estado Novo, para o FC Porto ir ao Estádio da Luz era quase derrota pela certa. 6-0, 7-0, até 12-2, derrotas sucessivas. Ao longo de 41 anos, foram apenas quatro as vezes em que o FC Porto conseguiu ganhar na Luz. E a única vez que isso implicou ser campeão foi em 1940.

Pedido do Estado Novo
O FC Porto ainda não era feito da fibra que desafia a hostilidade e que não presta vassalagens, muito menos a quem as reclama por estatuto atribuído por terceiros e não por mérito próprio, a casas que se diziam soberanas mesmo precisando do próprio FC Porto para crescer. Numa das muitas relíquias partilhadas neste valioso arquivo, vemos aqui ao lado o descaramento da ligação Benfica-Estado Novo: a pedinchar junto de adeptos do FC Porto para que pagassem do seu bolso para ajudar a construir o Estádio da Luz. Era uma oportunidade, diziam. Porque na época, para se ser grande, só sendo Benfica. Era «a» oportunidade. Isto dos mentores de uma célebre campanha na época: «O Último Impulso - Quem não deu que dê agora, quem já deu que torne a dar».

Em 1974 tudo começou a mudar. Caiu o Estado Novo, faz hoje 41 anos, precisamente o tempo de vigência do regime salazarista. Menos de dois meses depois do 25 de Abril, Eusébio deixa o Benfica. Contra o Benfica de Eusébio, o FC Porto nunca tinha sido campeão. E o Benfica perde em pouquíssimo tempo as duas maiores forças: a força sobre-humana de Eusébio e a força política.

Pinto da Costa ainda não tinha pegado na pasta do futebol, mas já se sentiam ventos de mudança. O FC Porto estava habituado a ganhar na Luz quase de década em década. E nos dois jogos pós-25 de Abril... ganhou os dois. Um com Monteiro da Costa, o homem dos 2-0 de 1951, graças a Júlio «Kelvin» Carlos, e outro com Aymoré Moreira. As coisas estavam a mudar. 

Pedroto deixou o medo
atrás da ponte
Pinto da Costa chega para o cargo de diretor de futebol, ainda com Américo de Sá, e José Maria Pedroto regressa a casa. Perguntaram-lhe, ao treinador, qual era o motivo de ser tão difícil, no passado recente, para o FC Porto jogar na Luz. Nasce aí a expressão «roubos de igreja». E pela primeira vez um treinador do FC Porto tem honras de ver uma frase sua fazer manchete no jornal A Bola. Nasce uma campanha sem igual pró-Benfica e anti-FC Porto, em vésperas de um clássico.

Era um taco-a-taco na luta pelo título, não muito diferente do que estamos a viver em 2014/15. O Benfica levava 2 pontos de avanço (na altura a vitória valia 2 pontos) e contava com uma onda de apoio sem igual. No FC Porto, mesmo com os tempos de mudança pós-25 de Abril, ainda havia pernas a tremer. Íamos jogar para a liderança na Luz, frente a cerca de 120 mil adeptos, num clima de absoluta hostilidade.

Nesse dia, Pedroto deu a palestra mais cedo, mas decidiu inovar no aquecimento. Mandou Freitas, um armário que fomos buscar ao Restelo, aquecer sozinho. Com uma instrução bem clara: levantar o pirete para a bancada. A partir do momento em que o terceiro anel começasse a vaiar, apontar o dedo do meio bem lá para cima. Não há imagens que o documentem, mas contou o nosso Pedro Marques Lopes que Freitas ficou da cor do cal. Uma nota: o Freitas era angolano. O recorde de decibéis num estádio de futebol deve ter sido batido nesse dia. Se não veio abaixo, é porque a campanha do Último Impulso, em 1954, de facto rendeu bem e garantiu cimento de qualidade.

Freitas, campeão de 78
Freitas esteve 20 minutos a aquecer sozinho. Depois entrou o resto da equipa. De Fonseca a Celso, de Rodolfo a Oliveira, os jogadores tiveram um santo aquecimento, pois já não havia forças na bancada para assobiar. John Mortimore contou mais tarde que nunca tinha visto algo parecido: um treinador a começar a enfraquecer o adversário no aquecimento.

No final, o resultado foi atípico: 0-0. O Benfica continuou na frente do campeonato com este resultado, que não nos servirá, de todo, amanhã. Mas tinha sido mais um passo seguro pela ponte. O FC Porto já não entrava a perder. Prova disso foi que no final de 1977/78 festejámos, após 19 anos de jejum, o título de campeões. Precisamente com os mesmos pontos do Benfica, que é um dos cenários em aberto para 2014/15. Cenário pelo qual temos que lutar até ao último segundo, por cada milímetro de terreno, sob toda e qualquer hostilidade que possamos - e vamos - encontrar.

A pressão está toda do lado do Benfica. Tem uma oportunidade de ouro para ganhar o primeiro bicampeonato em 30 anos, passou quase toda a época na frente do campeonato sem que o deixassem cair, foi arrumado na Luz da Taça e fez uma época medíocre nas competições europeias. Tem 3 pontos de vantagem, ganha no confronto directo, joga em casa e o FC Porto em 80 anos de campeonato só por uma vez ganhou por mais de um golo na Luz (apesar dos 3-1 da Taça, de 2010-11, e dos históricos 5-0 no terramoto da Supertaça). Não ganhar este campeonato será um golpe mais rude que o pontapé do Ademir e do Kelvin juntos. Têm tudo a perder e arriscam nada ganhar. Um tanto à imagem da situação do FC Porto, reconheça-se. São 90 minutos de vida ou morte. E é para isto que todos vivemos, com a ânsia de libertar o Freitas que há dentro de nós e a mística que adormeceu em maio de 2013. Hora de despertar.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Entre os paninhos quentes e a realidade

Ser portista é um privilégio sem igual. É ser adepto do clube que mais títulos festejou no séc. XXI, com a proeza à mistura de sermos recordistas de presenças na Liga dos Campeões, a par de Real Madrid e Barcelona (temos mais presenças do que, por exemplo, Benfica e Sporting juntos), conquistámos 3 troféus internacionais numa década e somos casa onde nasceram ou cresceram alguns dos melhores jogadores do mundo. Um adepto que esteja insatisfeito com o FC Porto é um adepto que nunca estaria satisfeito com clube nenhum.

Um pré-balanço de 2014-15
E a verdade é que não ganhamos nada desde agosto de 2013. É muito tempo para o FC Porto, sobretudo pela forma como nos habituamos a ganhar e festejar sistematicamente todas as épocas. A questão é: era possível fazer mais nesse período?

Em 2013-14 tivemos assumidamente a pior época da era Pinto da Costa. Em contraste, apanhámos um Benfica muito forte, que nos bateu em duas meias-finais e no campeonato não nos deu hipóteses na segunda volta. Quando um clube tem a pior época em 30 anos, o normal é assumir um ano zero. Mas a exigência e historial do FC Porto não permitiu isso. A partir do momento em que perdemos o campeonato em 2013-14, já estávamos a pensar em ganhar o título no próximo ano. 

No FC Porto ninguém suporta a ideia de estar um ano sem ganhar nada. Isso é bom. Mas achar que ganhar é automático é mau. Perdemos a Taça da Liga, como sempre a perdemos, quer com Jesualdo, AVB ou Vítor Pereira. Na Taça de Portugal, perdemos um jogo onde o grau de dificuldade é mais alto: um clássico. Perdemos por culpa própria, treinador e jogadores. Qualquer equipa tem maus jogos em todas as épocas, para o FC Porto calhou ser um jogo que custou uma competição e que o Sporting não repetirá tão cedo no Dragão. Prova disso é que quando lá voltou, foi bem dif3r3nt3.

E agora há o campeonato. Estamos a 3 pontos do Benfica. A balança da sorte com as arbitragens em momentos-chave da época seria mais do que suficiente para anular estes três pontos e inverter os pratos. Em condições normais, sem todos os episódios que vão sendo aqui relatados quase em vão da Liga Aliança, o FC Porto seria líder do campeonato, confortável, e provavelmente ia à Luz para jogar para o xeque-mate. 
Danilo, exemplo de
valorização de activos

Mas há algo que não podemos ignorar, que é agora termos uma concorrência muito forte a lutar por títulos. Desde que Jorge Jesus entrou no Benfica, o rival passou a ter orçamentos ao nível dos do FC Porto, jogadores de classe mundial, um treinador com um estilo de jogo que nunca ganhará na Europa mas em Portugal é difícil de parar, e uma estrutura com crescente influência nos órgãos de decisão do futebol português. Esta é a primeira vez em mais de 30 anos que o Benfica está a lutar por um bicampeonato. Foi muito tempo, daí que qualquer adepto do FC Porto se tenha habituado à ideia de que o FC Porto nunca estará 2 anos sem ser campeão. Está nas nossas mãos evitar que isso aconteça, mas não podemos engolir a ideia de que ganhar títulos é fácil e automático e que não estamos a competir com um rival fortalecido, cuja maior força na luta por este campeonato nem tem sido futebolística.

O que tem feito o FC Porto de Lopetegui no campeonato? Tem mais 12 pontos do que o ano passado, mais pontos do que em qualquer época do tetra Co Adriaanse-Jesualdo, apenas menos um ponto à 29ª jornada que o FC Porto campeão europeu com Mourinho. Temos a melhor defesa dos últimos 20 anos e a melhor defesa das Ligas europeias. Em termos de ataque, temos o terceiro melhor ataque dos últimos 20 anos. O treinador e o plantel já têm meses de trabalho, por isso já cansa dizer que é um ano com muita gente nova, mas repita-se mais uma vez: novo treinador, novo plantel, novas realidades, tempo para crescer.

Monteiro da Costa
Domingo vamos à Luz disputar o jogo mais difícil da época, um jogo onde temos de ganhar por 2 golos para dependermos de nós. E para quem não sabe: em toda a história do campeonato, só por uma vez o FC Porto ganhou por mais de um golo em casa do Benfica. Foi em 1951, por 2-0 (obra de Monteiro da Costa).

Logo, exigir à equipa de Lopetegui que vença por mais de dois golos na Luz, coisa que em 80 anos na história do FC Porto só aconteceu uma vez, é extremamente ingrato. Querem resumir o trabalho de Lopetegui e a definição do seu futuro a um resultado que, em 80 anos, só aconteceu uma vez? Isso é que é exigência. Uma exigência que, em 80 tentativas, o FC Porto só cumpriu uma vez. 

Que temos que fazer? Lutar com tudo pelos três pontos. Fazer um bom jogo, um jogo bem conseguido, onde evidenciamos as nossas qualidades e tentamos anular as do adversário. Em suma, fazer tudo o que fizemos contra o Bayern na primeira mão. Ou ter a eficácia que não tivemos no FC Porto x Benfica da primeira volta. Agora, exigir que o sucesso da época seja refém da obtenção de um resultado que, com base no historial, tem 1,25% de hipóteses de acontecer? Não contem com disposição para isso. A única coisa que podemos pedir é que Lopetegui e os jogadores deixem claro que fizeram o que estava ao seu alcance para lutar pelo objectivo. FC Porto e Benfica jogam para título, no final só um vai festejar. De um lado o céu, do outro o inferno.

Uma vitória sem igual
Falámos da Taça da Liga, da Taça de Portugal, do Campeonato. Sobra a Champions. E mais uma vez temos que destacar a grande Champions que o FC Porto fez, tão boa que fez alguns adeptos acreditarem/pensarem que o FC Porto tinha algum tipo de favoritismo/obrigação para eliminar o Bayern Munique. Não tinha, nunca teve. Recordando o que foi escrito após o 3-1 da primeira mão: «Uma equipa que tenha dois golos de vantagem em Munique só tem uma coisa garantida: vai levar massacre». Não resistimos a esse massacre, mas voltámos a fazer história na Europa.

Perguntinha: quantas vezes um clube português ganhou um jogo dos quartos-de-final da Liga dos Campeões? Duas. Ambas o FC Porto. Uma ao Lyon, por 2-0, em 2004. E esta, com Lopetegui, ao todo-poderoso Bayern, por 3-1. Qualquer adepto preferia ir às meias-finais. Mas a verdade é que esta foi a maior vitória de um clube português num jogo dos quartos-de-final da Champions desde que a Taça dos Campeões Europeus foi substituída. E foi conseguida com um mérito e brilhantismo que nenhum 6-1, em casa da equipa mais forte da Europa, pode apagar. E ainda há quem se preocupe com o que adeptos dos rivais possam dizer da eliminatória com o Bayern. Meus caros, se tiverem algum amigo benfiquista ou sportinguista que saiba o que é ganhar um jogo dos quartos-de-final da Champions (no caso do Sporting, lá chegar), façam favor de apresentá-lo. E já agora, estar em 11 jogos de Champions sem perder.

Por isso, não. Não aceito que o futuro de Lopetegui e o sucesso do FC Porto em 2014-15 possa ser decidido com base no que vai acontecer no Domingo, na Luz. Mas também tenho a certeza que Lopetegui e os jogadores não aceitam acabar a época sem títulos. Têm 90 minutos para dar uma prova cabal disso mesmo. Apenas mais 90 minutos.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Uma boa Champions, uma eliminatória normal, um mau jogo

Não é um dia feliz para ser portista. Isto porque somos os únicos adeptos de futebol que não podem desfrutar daquilo que o Bayern Munique fez, em particular nos primeiros 45 minutos. Podemos apontar os muitos erros cometidos por Lopetegui e os jogadores na primeira parte - oh, se podemos! -, mas tudo se resume a isto: eles não deram hipóteses. O Bayern deu um banho de bola. Desafio alguém a mostrar 45 minutos melhores do que estes por parte de uma equipa esta época.

Todos os ingredientes jogavam a seu favor e o Bayern foi letal. Cada tiro, cada melro. Não somos brasileiros, mas como no Mundial 2014 lá estava a língua portuguesa a ser trucidada pela alemã em 45 minutos. Não nos deram hipóteses. O Bayern fez hoje aquilo que o FC Porto não o deixou fazer na primeira mão. A única surpresa (ou a única contrariedade à lógica) foi não o ter feito no Dragão.

A lei do (muito) mais forte
O Bayern tem plantel, treinador e projecto assumidamente construído e com provas dadas para ganhar a Liga dos Campeões. Para o FC Porto, pensar em algo mais do que os 1/8 já seria ir além das expectativas e objectivos traçados. Perder uma eliminatória por 3 golos nestas circunstâncias é normal. Não temos que estar conformados ou satisfeitos, que não estamos, temos que aceitar a superioridade de quem é, em condições normais, melhor do que nós. Ou que tem armas muito melhores do que as nossas.

Desde o momento em que saiu a bolinha do sorteio que tínhamos um objectivo: lutar, disputar a eliminatória, orgulhar e dignificar o clube. Na primeira mão fizemos tudo isso com nota máxima. Nos primeiros 45 minutos da segunda mão, não fizemos nada disso, porque o Bayern foi muito, muito melhor do que nós. E na segunda parte, já o conseguimos (o Bayern não precisava de fazer muito mais, mas ninguém faz 90 minutos daquilo que o Bayern fez no primeiro tempo). Aquele remate do Jackson, do qual nenhum portista se vai esquecer, era o momento do se... Mas foi também o momento que mostra que o FC Porto, mesmo perdendo por 5-0 ao intervalo, ainda estava lá para tentar bater o pé ao Bayern.

Não é uma vitória moral. É cumprir com aquilo que estava ao nosso alcance: lutar, fazer tremer um Bayern de argumentos superiores em toda a linha, brindar os adeptos com momentos de alegria e orgulho durante a eliminatória e terminar a época com objectivos cumpridos na Liga dos Campeões, financeira e desportivamente. É difícil pedir mais do que isto.

Fizemos uma boa Liga dos Campeões, onde fomos eliminados numa eliminatória «normal», fazendo um mau jogo na segunda mão. Ao 12º jogo o FC Porto caiu na Europa. Quando voltarem a ouvir falar de um clube português que vá aos 1/4 da Champions invicto, por favor avisem. Orgulho no percurso da equipa. Lutámos pela eliminatória e pelo golo que nos fizesse acreditar até aos 86 minutos, altura em que Marcano é expulso e Xabi Alonso dá a estocada final. O trabalho que começou em agosto, quando ainda nem bilhete para a Champions tínhamos, não pode ser avaliado com base no que se passou entre os 14 e os 40 minutos de um único jogo, logo contra a equipa com mais argumentos para ser campeã europeia.





Jackson Martínez (+) - O que faz um jogador de uma equipa que está a perder por 5-0, arrisca levar mais e sabe que, aconteça o que acontecer, no fim da época vai ganhar muito mais dinheiro para outro lado? Jackson honrou o símbolo que levava ao peito e a braçadeira no braço. Acaba a segunda parte completamente rebentado, a lutar contra tudo e contra todos, disputando cada bola como se o apuramento dele dependesse. Não pensou um único segundo no Benfica, nem no risco de se lesionar. Foi até aos limites, provando não só o grande ponta-de-lança que é, como também o grande líder e capitão. Este senhor tem lugar no museu. É um dos nossos 5 maiores goleadores de sempre na Liga dos Campeões e ficará na história do clube.

Rúben Neves (+) - Lançar um miúdo de 18 anos para um jogo dos 1/4 da Liga dos Campeões quando a sua equipa está a perder por 5-0? Se nos dissessem isso no início da época, achávamos um ato de loucura. Neste caso foi um ato de lucidez. O Bayern baixou obviamente o ritmo, não só porque quis e podia, mas também porque era impossível repetir o que fez na primeira parte. Mas quando o FC Porto chega ao intervalo, tem 36% de posse. Acaba a partida com 47%, muito graças à entrada de Rúben Neves. 85% de eficácia de passe (Evandro teve 100%, mas jogou menos e não arriscou tanto), agressividade na recuperação e saída de bola, critério e inteligência, determinação em ajudar o FC Porto a fazer um, dois golos. Nota para Ricardo. Já não havia muito a fazer defensivamente, então ajudou o ataque (mais que Quaresma e Brahimi) e esteve no lance do golo.





Toda a primeira parte (-) - O Bayern foi demolidor, e dava a ideia que estava num dia em que ia atropelar fosse quem estivesse do outro lado. Mas isso não invalida o demérito que o FC Porto teve na estratégia e na abordagem de jogo. Lopetegui entendeu apostar em Reyes. O FC Porto já ganhou uma Taça UEFA a jogar com Ricardo Costa a lateral e já defrontou o Barcelona com Aloíso na esquerda, não é por aí. O problema foi a forma como (não) se defendeu. «Laterais» a fechar demasiado por dentro, Quaresma e Brahimi muito mal a fechar os flancos e a defender, e um amadorismo no jogo aéreo que faz corar qualquer equipa (aos 27 minutos estamos a perder por 3-0, por três lances perdidos no jogo aéreo). Fabiano, Maicon, Marcano, Indi e Casemiro foram incapazes de lidar com este vendaval. Era difícil de o fazer, mas também nunca se demonstraram preparados para o enfrentar. A estratégia falhou redondamente.

O FC Porto cumpriu e superou as expectativas que estavam definidas para a Liga dos Campeões. Tentou ao máximo ir mais além, não conseguiu. Agora é tempo de pensar no Benfica, e tentar virar uma eliminatória onde estamos a perder por 2-0. Só não levantamos a cabeça porque para isso ela teria que baixar primeiro.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Sie sind die Besten


Lopetegui e os jogadores já devem ter ouvido mil e uma vezes a proeza de 1987, em Viena. E já chega. Esqueçam o que se passou há 28 anos. Vocês não precisam disso. A única inspiração de que precisam é o vosso próprio trabalho: a forma como há menos de uma semana secaram uma equipa que está obrigada a ser melhor do que o FC Porto.

Nem João Pinto, nem Futre, nem Madjer, nem Juary. Foram Maicon e Indi quem reduziram Lewandowski a pouco mais de nada. Foi Casemiro quem ganhou todos os duelos físicos, Óliver quem comandou todos os momentos do jogo, Herrera quem nunca deixou que o meio-campo do Bayern tivesse tempo para pensar. Foi Brahimi quem meteu cola na bola para arrastar marcações, Quaresma quem aos 10 minutos já os estava a fazer arrancar cabelos e Jackson Martínez a ir a um nível tão sobre-humano que Guardiola só conseguiu encontrar explicação em infiltrações. Amanhã não estarão lá Danilo e Alex Sandro, estarão outros dois. Vá, um saltinho até Viena: quantos portistas se lembram de uma grande finta, um grande golo ou uma jogada de antologia de Frasco? Pois o calcanhar de Madjer começa depois de ele sair do banco.

Chega de Viena. Agora um pouco de masoquismo: vamos a 1999-2000. Estávamos a disputar o acesso às 1/2 da Champions ao mesmo tempo em que corríamos atrás do prejuízo no campeonato, a morder os calcanhares a quem seguia no primeiro lugar. E o Bayern, que nesse ano ganhou Bundesliga e Taça, jogava para o triplete europeu. Fez 8 golos ao Real Madrid na fase de grupos, jogava com uma base de seleção alemã e ainda tinha dois brasileiros chatos na frente. Eliminar o FC Porto era canja, pensavam eles.

E a verdade é que para o Bayern eliminar o FC Porto nesse ano precisou de um golo nos descontos da segunda mão e de uma das mais habilidosas arbitragens que a Champions alguma vez viu, autoria do sr. Hugh Dallas. Para quem acha que é exagero, eis o que o Record viu na altura:

«Teve mesmo requintes de malvadez esta derrota amarga do campeão português, queixoso das decisões do árbitro escocês Hugh Dallas, que decidiu sempre a favor dos bávaros nos lances de maior rigor. Sabendo-se o dinheiro que estava em causa neste jogo, a malvadez deste J.R. vindo da Escócia fez lembrar as malfeitorias que na célebre série televisiva com o seu nome faziam uns aos outros pelo domínio dos poços de petróleo...»

Este ano não há Dallas, mas contem com todos os J.R. Ewing que possam imaginar. O Bayern tornou a Bundesliga aborrecida. Foi dar 7 à Roma, 7 ao Shakhtar e com a queda do Dortmund e do Schalke é o portador da bandeira alemã na UEFA. Um clube português arrumar a única equipa alemã em prova? Heresia. Ninguém quer isso.

A Liga dos Campeões não pode avançar sem ter Guardiola, treinador que já a ganhou 2 vezes, e os 9 campeões do Mundo/Europeus com que o Bayern jogou no Dragão (e em Munique já terá mais). E imaginar o Estádio Olímpico de Berlim organizar a final da Champions sem ter lá uma equipa alemã? Pior, a ideia de ter que obrigar aquela gentinha toda a desemerdar-se minimamente com o português? E o Hopfner e o Rummenigge a imaginarem que o maior orçamento da história do Bayern pode não chegar para ultrapassar os 1/4 da Champions?

Como veem, Lopetegui e jogadores, ainda não entraram em campo e já dão muitas preocupações ao Bayern e a demais alemães. Com o mérito do vosso trabalho, iniciado há 10 meses e espelhado no jogo da primeira mão. 

Toda a Europa do futebol está à espera que o Bayern passe. E Thomas Müller disse uma verdade inquestionável: o Bayern ganhar por 2-0 não seria nada de anormal. Mas no FC Porto detestamos a normalidade. Porque se ela fosse regra, neste momento o Bayern não teria que estar preocupado por todos os motivos enumerados acima e a correr atrás de uma desvantagem de 3-1. Uma última nota, agora para os alemães. Por muito que estejam determinados a correr e a dar a volta, acreditem: vocês precisam disto muito mais do que nós. Mas nós queremos isto muito mais do que vocês.

domingo, 19 de abril de 2015

À espera que o risco compense

Hernâni decisivo
Vamos à faca de dois legumes do Pacheco. Colocar em campo um 11 declaradamente constituído por suplentes (neste caso que não jogarão na terça-feira) tem sempre um duplo efeito. Como vantagem, a oportunidade de quem joga aproveitar para mostrar serviço e dizer presente aos titulares, mostrando ao treinador que podem contar com ele. Por outro lado, joga um 11 com poucas rotinas, entrosamento, neste caso com uma nova dinâmica, em que os jogadores nem sempre conseguem mostrar o seu melhor nestas circunstâncias.

Mas os adeptos, mesmo que não o saibam, não têm nem nunca tiveram nada contra a rotatividade. O problema não é a rotatividade, são os possíveis maus resultados. E é verdade que uma equipa com menor estabilidade é mais susceptível a falhar em momentos cruciais.

Lopetegui disse claramente «estamos a pensar no Bayern e no Benfica». Foi essa a mensagem ao plantel, aos adeptos, aos adversários. Foi um risco de Lopetegui, embora o 11 em campo tivesse mais do que obrigação que ganhar um jogo em casa à Académica. E esse objectivo foi conseguido e era possível ter obtido um resultado mais volumoso, embora a equipa tivesse tremido como poucas vezes acontece no Dragão: deixámos a Académica atacar 16 vezes, rematar 8, ter 2 grandes ocasiões de golo. Mas o teste no final foi superado, é a 12ª vitória consecutiva no Dragão, com apenas 3 golos sofridos, e o plantel está preparado para a difícil semana que aí vem. A antevisão aos 2 jogos será feita a seu tempo.





Hernâni (+) - Muitas vezes a sua cabeça imagina coisas que os pés não conseguem fazer, o que o leva a perder lances que precisa de aprender a encarar com objectividade e simplicidade, e tem que aprender a jogar em zonas mais interiores. Mas a sua velocidade, capacidade de jogar em profundidade e a forma como disputa as bolas divididas (dois lances em que vai ao chão, levanta-se, ganha ao defesa e faz a assistência) são mais-valias. Num daqueles dias em que o guarda-redes, por mais limitado que seja, parece decidido em brilhar contra um grande (até Hernâni só marcou na recarga), foi decisivo.

Rúben e Evandro (+) - Elegância, precisão, dinâmica. Em dose de dupla. Nenhum deles tem a dimensão física de Casemiro, a verticalidade de Herrera e o virtuosismo de Óliver, o que explica que este trio seja o preferido de Lopetegui. Mas nenhum deves fica a dever muito quando é chamado. Nem melhor nem pior, diferentes. Rúben Neves tem a mais invulgar precisão e variação de passe que podemos conhecer num rapaz de 18 anos. E Evandro, inteligentíssimo, segura a bola como poucos, distribui com critério e dá sempre a dinâmica certa à equipa. Estiveram ontem no Dragão, podiam estar terça-feira em Munique.





Quintero (-) - O FC Porto ainda não sabe o que fazer ao seu talento. Mas o pior que tudo, Quintero também não. Surge a jogar a partir da linha, onde não tem a capacidade de explosão para criar desequilíbrios e mais facilmente se esconde do jogo. Quando a bola chega aos seus pés, é capaz do melhor passe. Mas o problema é a incapacidade de Quintero em descobrir a bola. A jogar nesta função, dificilmente se afirmará. Mas o problema é que ao fim de 30 minutos já está ofegante e não tem a capacidade física, a todos os níveis, para ser o terceiro médio de um 4x3x3. Não há nenhum adepto que não conheça o seu talento. Mas também já não deve haver nenhum que não tema por ver tanto potencial em corda bamba. Urge resolver no fim da época o que fazer a/com Quintero.

Desacerto a rever (-) - Aboubakar em novas funções. Foi sempre o apoio para um ataque que não tinha referência (faria mais sentido num 4x4x2), com interessantes movimentações fora da grande área e a abertura que deu o 1x0. Mas na hora de finalizar, foi demasiado perdulário. Neste caso não era preciso ser Jackson, era preciso ser eficaz (algo que nem Jackson o foi). Ricardo e Reyes, num jogo em que não devia ser necessário fazer muito defensivamente, cometeram lapsos que diante de um Bayern custarão caro. Porque uma coisa é apanhar Rafael Lopes e o grande portista Ivanildo, outra é levar com Lewandowski ou Müller em cima. E a equipa, colectivamente, apesar de ter criado cerca de 10 situações de finalização, deixou a Académica ameaçar muito com pouco. Um risco inerente ao risco de Lopetegui assumiu.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

O Inferno de Dante

Sempre preparados
Copo meio cheio ou meio vazio? Não foi Xabi Alonso que perdeu aquela bola. Foi Jackson que a recuperou. Também não foi Dante a perder a bola. Foi Quaresma a recuperá-la. Como é que uma equipa fortíssima, com a maior percentagem de passes certos na Champions, com 9 jogadores titulares que já ganharam Liga dos Campeões/Mundial (os únicos 2 que não o fizeram são Bernat, o jogador mais utilizado por Guardiola, e Lewandowski, um dos melhores pontas-de-lança do mundo e o segundo melhor em campo no Dragão) consegue sofrer dois golos daquela forma em 10 minutos? Simples: mérito do FC Porto.

Nunca o Bayern ou Guardiola levaram com uma pressão tão grande como a de hoje do FC Porto. O Bayern está habituado a jogar contra equipas recuadas, que dão espaço na primeira fase de construção, que só pensam em sair para o contra-ataque quando o Bayern perder a bola ou falhar um passe. O FC Porto não esperou por isso. Forçou o Bayern a perder a bola, forçou o Bayern a falhar passes, e reduziu alguns dos melhores avançados do mundo a muito pouco ofensivamente (tiveram mais bola e mais ataques, mas não foram mais perigosos).

Agora querem fazer de Dante e Boateng, titularíssimos na segunda defesa menos batida das Ligas europeias (a melhor é o FC Porto!), pernetas que caíram por cá de pára-quedas? Erraram porque o FC Porto os forçou a isso. Por isso é que erraram hoje e não noutros jogos da Liga dos Campeões ou da Bundesliga. Lopetegui e os seus foram premiados pela audácia, desinibição, coragem e determinação em representar o FC Porto ao mais alto nível. Uma verdadeira exibição à Porto, onde ninguém se encolheu, todos sabiam o que fazer e quiseram sempre mais do que o Bayern.

O Bayern fez quase 600 passes, o FC Porto nem metade disso. Mas a equipa soube agarrar-se à qualidade e utilidade em detrimento da quantidade. Porque se há uma bola e o Bayern em campo, normalmente essa bola é para o Bayern. Soubemos mantê-la longe das zonas de perigo e fomos lá buscá-la nas 3 vezes em que precisámos para marcar. Lopetegui e os jogadores estiveram sempre preparados, fazendo jus ao mote da temporada.

E agora, como escreveu Dante Alighieri, depois do inferno vem o purgatório (que será Munique), e só depois podemos pensar em chegar ao paraíso. Uma equipa que tenha dois golos de vantagem em Munique só tem uma coisa garantida: vai levar massacre, vai ter que sofrer, vai ter que estar preparada para ir buscar a bola ao fundo das redes e metê-la no meio-campo, vai ter que levar bolada, vai ter que se superar em todos os capítulos. Vamos pensar nisso depois de ganhar à Académica, ok?





Preparação e resposta (+) - A vitória não começa em erros do Bayern, começa no plano de jogo do FC Porto: forçá-los a errar. Assim foi. Guardiola ensinou um médio (Fàbregas) a jogar a avançado, mas Lopetegui tem em Jackson um avançado que sabe jogar como médio. Isto levou a que a equipa tivesse sempre o meio-campo equilibrado e depois contasse com o talento que recheia os flancos para sair para o ataque, além da insanidade que foi a pressão no corredor central. Alguém se lembra de um lance de Müller, Götze ou Lewandowski que tenha ficado na retina? O FC Porto esteve preparadíssimo a todos os níveis para vencer. Essa era a vitória que se exigia. A outra, o 3-1, foi um regalo.

Quaresma, sete anos depois (+) - Quando Quaresma se isola, traz à memória o FC Porto-Schalke 04, mas agora não havia Farias ali ao lado para reclamar a bola. «Dass, não faças como em 2008, faz como em Londres, ao Cech, trivela nisso!» E assim o fez. Esqueçam os dois golos: o momento, já perto do fim, em que vai até ao limite fazer um corte acrobático, que o rebenta todo, e que o leva a pedir substituição a Lopetegui (alguma vez o tinham visto pedir substituição antes?) é o que define a sua exibição: estava disposto a tudo para que o FC Porto ganhasse e dedicou-se até ao limite. Aquela braçadeira que perdeu, por culpa própria, no início da época pode regressar ao braço, por mérito próprio, na próxima pré-época.

Os tais dedos (+) - Guardiola queixou-se que faltavam mãos ao Bayern e dedos ao FC Porto. Um segredo que ninguém se preocupou em descobrir quando diziam que o pobre Bayern ia jogar com remendos: Guardiola contou com os seus 10 jogadores mais utilizados em campo. O FC Porto, apenas com 9 dos 10 mais. Pobre Bayern, tão desfalcado. Adiante. A defesa fechou mal e falhou o corte no golo do Bayern, mas globalmente fez um jogo bastante positivo. Bom entendimento entre Maicon e Martins Indi (quantas bolas ganhou Lewandowski de cabeça?), Danilo e Alex competentes a defender e perigosos a atacar (Danilo hoje mais conservador). Alex Sandro anda a pedir a renovação...

Casemiro, não há maior elogio que este: fez lembrar Fernando contra o Zenit em 2013. Que animal! Óliver esteve sublime a organizar e distribuir jogo, sempre rápido a reagir à perda. Herrera foi essencial para manter sempre os equilíbrios e dar velocidade pela zona central. Brahimi teve que se adaptar a jogar em zonas mais recuadas, mas guardou bem a bola, desequilibrou quando pôde e arrastou sempre 2 jogadores com ele. Boa entrada de Rúben Neves.

O trunfo (+) - Fez lembrar o regresso de Derlei à Corunha, em 2004. Regresso em pleno de Jackson, um segredo bem guardado no Olival. Que enormíssima exibição, do mais completo ponta-de-lança que o FC Porto alguma vez teve. Jackson faz tudo. Não há função que não consiga desempenhar. E fá-lo com o bónus de que (quase) tudo o que faz, faz bem,  com uma exibição que deve ter feito Lewandowksi corar de vergonha. Aboubakar no banco e Gonçalo na bancada não tinham outro remédio que não fosse aplaudir. Top. Admire e aprendam.





Então... (-) - Meus senhores. Ganharam por 3-1 a uma equipa que: tem um orçamento que ronda os 400 milhões de euros; é treinada por um treinador top, que ganhou 2 Champions, 3 Mundiais de Clubes e marcou uma geração no futebol internacional; tem 6 campeões do mundo no 11 e uma carrada de campeões europeus; tem o estatuto e o peso que leva a que não se expulse um guarda-redes que faz falta sobre um jogador isolado aos 2 minutos; é uma equipa alemã, e a final da Champions vai jogar-se em Berlim; foi a 3 das últimas 5 finais da Champions; está a passear na Bundesliga e só tem que pensar na Champions; em 22 jogos nunca tinha perdido com clubes portugueses em eliminatórias; e que foi largos períodos dominada e massacrada pelo FC Porto, que não vai às meias-finais há 11 anos, joga com plantel e treinador novos esta época, está sob enorme pressão no campeonato e ainda luta contra os ostracismo que não conhece fronteiras.

A eliminatória ainda é uma incógnita. Mas o jogo, por si só, hoje merece ser recordado como um dos grandes triunfos da história do FC Porto. Como em Viena, 90 minutos que honram os pergaminhos do clube e que merecem espaço entre eles. Em 180 minutos é mais difícil? Talvez. Mas de Viena ao Dragão foram 180 minutos em que todos se renderam ao que se passou: o FC Porto foi melhor do que o Bayern e desfez a lógica do futebol. Um divino orgulho onde muitos esperariam uma Divina Comédia.


terça-feira, 14 de abril de 2015

Violar os regulamentos é inteligente e não é por acaso, dizem eles

O treinador/jogador que nunca pediu cartões que se acuse. É frequente acontecer, e por vezes até dá direito a aplausos nas bancadas, como aconteceu com Maniche e Jorge Costa contra o Partizan. Isto num jogo da Liga dos Campeões. O que não é nada habitual é um treinador admitir que o fez deliberadamente.

A história da «intenção» é sempre subjetiva, por mais flagrante que possa ser. Os jogadores mais inteligentes matam um contra-ataque ou puxam um adversário para sacar o cartão, outros fazem-lo à descarada ao demorar a marcar bolas paradas. Como foram por exemplo os casos recentes de Talisca e Nani. Num futebol onde os regulamentos não são apenas uma formalidade, ambos teriam sido suspensos.

O problema está sempre na subjetividade. Porque facilmente se arranja a desculpa de dizer que o jogador demorou a bater a bola parada para queimar tempo, como os guarda-redes tantas vezes fazem. Mas que desculpa vão arranjar para Jorge Jesus ter admitido que o Benfica decidiu violar normas do regulamento disciplinar?


«Não foi por acaso que o Eliseu viu o amarelo antes e não foi por acaso que Maxi Pereira viu o amarelo hoje. Vamos continuar assim, gerindo um jogador de cada vez. Se tivesse que fazer gestão, fazia por detrás. Foi isso que fizemos, fizemos primeiro com o Eliseu e hoje com o Maxi Pereira. A primeira linha não pode estar carregada de amarelos, porque é preciso agressividade, é preciso ir à luta e se houver muitos jogadores carregados de amarelos eles vão-se poupando. Por isso optámos por limpar primeiro os laterais e deixar de fora dos avançados. Neste momento temos o Samaris, o Jonas e o Salvio e a ideia foi essa: optar por limpar primeiro atrás», Jorge Jesus, 11-04-2015, MaisFutebol. Conclusão: Jorge Jesus diz que o Benfica até consegue decidir quando é que os seus jogadores veem ou não cartões. Disciplina divina.

Pelas palavras de JJ,
Maxi deve ser suspenso
Aqui vemos o treinador do Benfica a afirmar que os jogadores planeiam quando vão levar cartões. À luz dos regulamentos, se Maxi Pereira viu cartão propositadamente, não jogaria nem contra o Belenenses nem contra o FC Porto. Mas como a subjectividade está presente, os regulamentos são usados conforme o jeito que derem. Faz lembrar um FC Porto x Benfica de 2009. Lisandro simulou penalty, é verdade, mas foi preciso uma pontaria do caraças para torná-lo no primeiro e único jogador a ser suspenso por simular uma grande penalidade. Aqui os regulamentos deram jeito.

Houve portistas que estranharam o facto de Danilo e Herrera não terem visto cartões e estarem assim em risco para defrontar o Benfica. Não há nada a estranhar, tendo em conta que Lopetegui não limpa cartões. Curiosamente, não se vê (quase) ninguém a questionar o cartão amarelo a Maxi Pereira e Jorge Jesus a admitir a violação da norma disciplinar em causa, mas não faltou quem debatesse a razia de suspensões que o FC Porto sofreu antes de ir ao Bessa. Danilo, Alex Sandro e Casemiro: nenhum deles provocou a amostragem de cartões contra o Vitória de Guimarães, mas da imprensa a comentadores não faltou quem dissesse que Lopetegui estava a limpar os cartões. Nem com Lopetegui a protestar contra os cartões, ao contrário do que fez Jorge Jesus, que admitiu a manipulação dos mesmos.

Mas que se pode esperar do burgo? Isto foi o que o Record escreveu quando Nani forçou um cartão. «Nani foi protagonista de uma situação, no mínimo, caricata. Caricata mas, diga-se, inteligente para o "infrator" (...) É mesmo caso para dizer que Nani foi inteligente, pois sabe a importância de estar presente no Minho». Ora para um dos principais títulos desportivos do país, que se dedica a fazer semanalmente uma Liga da Verdade, violar os regulamentos é ser inteligente. Auto-explicativo.

14-04-2015
Assim vai a forma como se trata o futebol português, com o mesmo jornal a juntar-se à campanha sem escrúpulos e vergonha do colinho que regula a Liga Aliança. «Benfica levado ao colo», em letras gordas. Adeptos brincarem com isso nas redes sociais compreende-se. Quando um jornal desportivo acha perfeitamente normal ironizar com isso, é a falência moral completa.

Mesmo com a forma forjada como o Benfica se aguentou largas semanas na liderança, a 6 jornadas do final o FC Porto ainda está na luta pelo título. Por isso está na hora de formar a onda vermelha, que não é um fenómeno de bancada, é um fenómeno de imprensa. O Benfica tem sempre mais adeptos, não é segredo para ninguém. Mas será que não há 2 dedos de testa para associar as (quase) enchentes na Luz às promoções de bilhetes que têm feito?

FC Porto, e até o Sporting e outros clubes, certamente teriam muito mais gente nas bancadas se tivessem bilhetes à venda por 2 euros. O Benfica tem sempre mais, mas a diferença não seria tão larga. Mas o que sentiria quem paga lugar anual para depois andar a ver adeptos irem para as bancadas a 2 euros? Vale tudo para chegar ao título que apare a razia que vai chegar no verão.  O FC Porto está desde Setembro a correr atrás do prejuízo e a lutar contra tudo e contra todos (mas infelizmente, não com todos - e o problema está aqui). Se isto não honra e reedita os pergaminhos do clube, não sei o que o fará.

À margem deste pobre campeonato português, o FC Porto luta amanhã por mais uma página dourada no futebol europeu. Vencedor de sete títulos internacionais reconhecidos por FIFA e UEFA, um dos recordistas de presenças na Liga dos Campeões e agora perante o desafio de defrontar aquela que é muito provavelmente a melhor geração de jogadores alemães desde a queda do muro de Berlim. Estar entre os melhores era o objetivo. Sermos ainda melhores é a tarefa do dia a dia. Ser melhor do que os melhores, a ambição e o desafio de amanhã.

domingo, 12 de abril de 2015

Ao colinho da determinação

Teoricamente, o que nesta altura vale muito pouco, era o teste mais difícil para o FC Porto até ao final da época, além do clássico. Mais uma vez, a equipa superou-se. Ninguém criou tantas situações de golo e rematou tantas vezes em Vila do Conde como o FC Porto. Houve pressa em resolver, sem pensar na Champions, e quando foi preciso responder a um lapso a equipa não se coibiu. 

Abordagem correta
Só uma grande exibição, com empenho e determinação, conseguiria superar novamente a (in)competência do Conselho de Arbitragem da FPF: para um jogo em casa da última equipa a derrotar o Benfica, nomeia uma dupla de auxiliares composta pelo 46º melhor auxiliar (de uma lista de 53) da época passada (Bruno Trindade) e pelo 11º do escalão C2N3 (Sergio Jesus). O resultado esteve à vista.

Lopetegui não pensou um único segundo no Bayern - prova disso foi a forma insistente como pedia sempre mais pressão, mais concentração, mais critério, e inclusive a gestão da equipa - e o FC Porto passou um teste difícil. Será difícil projetar já o que esperar de um jogo que se vai disputar entre uma eliminatória europeia, mas contra a Académica interessará acima de tudo vencer, se possível por números generosos. E vamos ver se o mestre Viterbo também fará a gentileza de entrar borradinho no Dragão, com 3 centrais e a deixar-nos jogar no meio-campo deles sem pressão. De certeza que nos daria jeito arrumar esse jogo nos primeiros 20 minutos.





Laterais (+) - Impecáveis. O FC Porto esteve muito forte no envolvimento pelos corredores, graças à excelente exibição de Danilo e Alex Sandro. O primeiro jogou ao nível que nos habituou e que impressionou o Real Madrid, com mais um bom golo. Mas o seu melhor momento é no último lance do jogo: entra com tudo para ganhar um lance na grande área, para fazer o 4x1, o árbitro apita e a primeira coisa que Danilo vai fazer é explicar ao colega como é que queria a bola passada para rematar. À Capitão. Alex Sandro esteve endiabrado no ataque - foi o jogador que mais vezes rematou, deu muito apoio a Brahimi, esteve forte nos movimentos interiores e, apesar de muitas vezes demorar a soltar a bola, foi isso que lhe permitiu dar o 2x0 a Danilo. 

Criatividade (+) - Três estilos virtuosos, três estilos diferentes, três boas exibições. Com Herrera algo desconcentrado (talvez o único) e Casemiro com pouca margem para aventuras no ataque, Óliver foi dinamizador da equipa, que solicitava os flancos, dava sempre a linha de passe para o toque curto e foi soberbo na pressão, sem fazer uma única falta em todo o jogo. Brahimi esteve bem melhor. Tem mais liberdade do que Quaresma para levar a bola em vez de procurar já o cruzamento, desposicionou várias vezes a defesa do Rio Ave, esteve três vezes perto do golo (numa até o celebrou) e apesar de por vezes se agarrar demasiado à bola só teve duas perdas. Já Quaresma voltou a apostar na fórmula enquadrar-cruzar: fez 10 cruzamentos, mais 7 do que Danilo, teve dois remates perigosos além do seu golo e dá um jeitaço na forma altruísta como pressiona e fecha o corredor. Ter Lopetegui deve ter sido a melhor coisa que lhe aconteceu na carreira depois de Bölöni.

Impecável
O esteio (+) - Se algo custou no jogo de ontem, foi ver que aquele Marcano não vai defrontar o Bayern. Varreu tudo o que havia para varrer, não cometeu uma única falta em todo o jogo, foi sempre rápido e prático a sair a jogar e não merecia que Danilo e Maicon tivessem sido papados no golo do Rio Ave. Um central completíssimo, que em boa verdade faz lembrar a afirmação de Pedro Emanuel no FC Porto: chegou algo já tarde, mas em boa hora e a tempo de se tornar importantíssimo.

Outros destaques (+) - Excelente, a estratégia de Lopetegui, a pedir pressão e agressividade sem parar na primeira parte, como é hábito. A reacção à perda da bola é o ponto mais forte do FC Porto e vai também ser a nossa principal arma frente ao Bayern. Ainda não foi desta que os cantos renderam, mas pela primeira vez viu-se a equipa tentar marcá-los de forma diferente, o que pelo menos mostra que Lopetegui já percebeu que há algo de errado (finalmente!). E um destaque para Aboubakar. Não foi feliz na finalização, nota-se que é um jogador que baixa a cabeça quando as coisas não correm bem, mas o mérito do 3x1 é dele, pelo trabalho e pelo altruísmo em oferecer o golo a Hernâni, que se estreou a marcar.





A rever (-) - Genericamente, não houve nenhum erro táctico ou no plano de jogo. A equipa esteve sempre bem posicionada, sempre preparada para responder ao pouco perigo do Rio Ave. Os dois lances de maior perigo do adversário são erros individuais, não estruturais: a má abordagem de Danilo e a falha de Maicon na dobra, no golo do Rio Ave, e uma falha de Herrera (não pode cometer estes lapsos na Champions) na saída de bola. Erros que contra o Bayern podem custar muito caro. 

PS: O coitadinho do Bayern jogou ontem com amostras de jogadores como Xabi Alonso, Dante, Bernat, Lahm, Thiago, Müller, Götze e Lewandowski. Provavelmente, qualquer um destes jogadores seria titular e estrela no FC Porto, que só por acaso ganhou em Vila do Conde sem o seu maior assistente (Tello) e o seu maior goleador (Jackson). Mas o Bayern é que está debilitado, coitado.

sábado, 11 de abril de 2015

Se o FC Porto quer, é porque merece atenção

Domingos, Sá Pinto, Jesualdo, Vercauteren, Oceano, Leonardo Jardim e Marco Silva. Sete treinadores em 4 anos não é benéfico para nenhum jogador, muito menos para um jovem como André Carrillo, com muito potencial mas pouca consistência, que desse conjunto de treinadores pouco tempo teve para aproveitar os dois melhores (Jesualdo e Jardim). Num clube habituado a conviver nos últimos anos com crises directivas e internas, mais difícil se pode tornar.

Oportunidade só em Janeiro
Mas genericamente todos concordam que há ali um projecto de jogador interessante, com tudo para explodir. Esta é a época em que está a jogar mais pelo Sporting, mas não é Marco Silva quem fará dele jogador de equipa grande, que jogue (salte a redundância) à jogador de equipa grande. Tudo isto para lançar a questão: é jogador para o FC Porto?

É muito simples. O jogador interessaria ao FC Porto a partir do momento em que chegasse a 1 de Janeiro de 2016, podendo assinar a custo zero (nestes casos, há sempre prémios de assinatura/fidelidade e intermediações chorudas - há ainda dúvidas sobre como se processam as novas regras de intermediação FIFA para transferências em free agent). Vai chegar até estas condições? O mais provável é que não.

Tal como houve interesse em Bruma, é normal que haja interesse em Carrillo. Mas há um dado que muda tudo: já foi noticiado que o FC Porto quer o jogador, tal como até já foi noticiado que o FC Porto poderia apresentar uma proposta efectiva por Carrillo no próximo verão (Bruno de Carvalho provavelmente preferiria ajoelhar-se perante Bettencourt, ex-presidente do Sporting e chefe de gabinete de Stock da Cunha no Novo Banco, do que aceitar uma proposta do FC Porto para evitar uma saída a custo zero).

O que é que isto muda? Carrillo acaba de ver abrirem-se portas de mercado que noutras circunstâncias talvez estivessem fechados. Porque se há algo que a Europa do futebol sabe, é que se o FC Porto quer, então muito provavelmente é bom e corre elevados riscos de se tornar um grande jogador. Sobretudo quando o FC Porto acabou de fazer mais uma grande operação, com a venda de Danilo ao Real Madrid, e mais uma vez os jornais estrangeiros falaram das centenas de milhões que entraram em transferências nos cofres da SAD nos últimos anos (a pergunta da praxe nestes casos: para onde foi o dinheiro? Abram os R&C que lá não faltam respostas).

Esta é uma lição já aprendida por outros clubes, mas nem sempre bem sucedida. Porque leva tempo, porque requer know-how. Um exemplo, Raúl Jiménez. O Atlético não chegou a Jackson, então quis o sucessor que o FC Porto queria para Jackson. Não cumpriu as expectativas do Atlético, que agora não se importaria nada que Jimenez fosse de facto o sucessor de Jackson no FC Porto, a evoluir e rodar por cá em 2015-16.

Zahavi trouxe Moutinho
Voltando à questão. Então se havia dificuldades em encontrar clubes que quisessem pagar significativamente por Carrillo, agora os potenciais interessados já sabem que o jogador vale a pena, porque o FC Porto está interessado. Noutros tempos, isto até poderia significar um aumento da proposta de renovação (como foi o caso do jackpot que saiu a Adrien Silva em 2012). Neste caso, significa mais mercado para o jogador no verão de 2015, última tentativa do Sporting o vender. 

Uma consequência de querer romper com fundos e mundos, pois isso motiva que se afastem influentes empresários, como Zahavi, que por acaso tem 50% de Carrillo e foi determinante para João Moutinho vir para o FC Porto em 2010. Esperar que Carrillo (e neste caso o Sporting) não tivesse propostas no verão seria muita sorte, e até poderia implicar um ano parado e a impossibilidade de dar um passeio em Lisboa.

O FC Porto deve estar atento às boas possibilidades de negócio, como esta poderia ser, a custo zero. Não são muitos os casos de jogadores contratados a custo zero que vingaram no FC Porto, mas a tendência será cada vez maior para deixar jogadores em situação free agent. Porque com as restrições da FIFA face às intermediações nas transferências, um negócio a custo zero com prémios bem chorudos interessará muito mais. Felizmente, o FC Porto já tem bons extremos nos seus quadros, e neste momento não corre riscos de perder nenhum no próximo verão. Não será a posição que gerará mais preocupações, ao contrário do que aconteceu na última pré-época.

Um parênteses para o mercado antes da determinante visita ao Rio Ave, onde só um FC Porto de Champions, sem pensar na Champions, passará hoje com distinção.