segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

T(r)emer até ao final

Três pontos que foram simultaneamente o mais importante, o melhor e a única coisa boa no jogo de ontem. Não havia margem para falhar e, no final, a equipa não falhou. Em três jogos na Grande Lisboa, o FC Porto de Peseiro saca 9 pontos. Mas a próxima jornada, em Braga, vai definir muito do papel que o FC Porto ainda poderá ter na luta pelo título. Até lá há um apuramento para o final da Taça para confirmar, mas a 25ª jornada tem que ser tratada como uma verdadeira final para o FC Porto. 






Brahimi (+) - Decisivo e de regresso às grandes exibições. Além de ter feito um golo, foi sempre o mais perigoso e rematador da equipa (4 remates, 2 à baliza). E mesmo sem nunca abdicar das voltinhas, acertou em todas as tentativas de drible perante a linha defensiva (5/5), além de ter conseguido levar a melhor em 8 de 12 duelos individuais. Pelo meio ainda esteve perto do 3x0 e fez um passe para golo que não teve seguimento.

Iker Casillas (+) - A equipa sofre golos há seis jogos consecutivos (nove consentidos), e o guarda-redes vai sendo o último responsável. Voltou a ser imprescindível, segurando o 2x1 em dois pares de ocasiões. Seguro nas saídas aos cruzamentos, voltou a garantir serenidade em momentos de aperto. Está a atravessar a sua melhor fase ao serviço do FC Porto, e oxalá que esteja a guardar a sua melhor exibição para a próxima jornada. Bem vamos precisar.


Suk (+) - Ganhou o lugar a Aboubakar e voltou a distinguir-se pela pressão agressiva e constante que faz sobre os defesas adversários. Não é mais eficaz do que Aboubakar nem garante mais golos (Aboubakar marca a cada 158 minutos, Suk para já tem média de um golo a cada 247 minutos), mas Suk tem a desvantagem de só ter chegado no mercado de inverno. Está a surpreender pela positiva no jogo aéreo: além de ter uma boa capacidade de antecipação, tem um gesto técnico interessante no cabeceamento. Destaque para a exibição completa de Herrera na primeira hora de jogo, até o meio-campo rebentar por completo (a saída de André André já tardava), e para mais um jogo limpo de Marcano






A exibição (-) - Estar a ganhar por 2x0, após ter feito apenas um remate à baliza, é algo que não acontecerá muitas vezes. Mas nem assim o FC Porto partiu para uma exibição tranquila, em que evidenciasse clara superioridade sobre o Belenenses. A primeira parte já tinha sido equilibrada: 5 remates para cada equipa e 51% de posse para o FC Porto. A segunda não mudou. O Belenenses acaba o jogo com 11 remates (3 à baliza), tantos quanto o FC Porto. Acaba o jogo com 55% de posse de bola, ou seja, o FC Porto não controlou o jogo com bola na segunda parte e perdeu o meio-campo. O Belenenses teve a mesma eficácia de passe: 76%. E o Belenenses fez oito passes para zonas de perigo, contra sete do FC Porto, além de ter conseguido ganhar mais duelos individuais (51-45). Se o remate de Carlos Martins ao poste tabelasse para dentro e se Tonel não tivesse tido aquela infelicidade, poderíamos estar com um estado de humor bem diferente. No plano individual, ainda não se viu Jesús Corona em 2016. Não é fácil, logo na primeira época de FC Porto, falhar a pré-época e apanhar dois treinadores com estilos completamente diferentes. 

Capela ou agressividade a mais? (-/+) - Do 8 ao 80. Contra o Moreirense, o FC Porto pareceu uma equipa de anjinhos: só fez uma falta nos primeiros 75 minutos, o recorde de uma equipa da liga nesta época. Contra o Belenenses, a equipa mudou por completo: 14 faltas ao intervalo, 24 no final do jogo. O Belenenses acabou com apenas 10. Não é que o FC Porto tenha sido assim tão mais agressivo: este fenómeno começa na facilidade de João Capela em marcar faltas contra o FC Porto. Por outro lado, o facto de o FC Porto ter permitido que o Belenenses tivesse sempre a iniciativa de jogo com bola, sobretudo na segunda parte, obriga a equipa a cometer mais faltas perto da sua grande área. E Carlos Martins quase o aproveitava. É essencial não só pressionar como cometer as faltas mais à frente. 

Dentro das expetativas
A sério, uma estátua (-) - As hipérboles no futebol abundam, seja para o melhor ou para o pior. Mas isto não é um exagero: Marega não acertou uma única ação enquanto esteve em campo. Podemos, com boa fé, isolar duas exceções: um passe para Maxi e uma arrancada em que, após fazer uso do que de bom tem (a capacidade física e aproveitar a bola em profundidade), acaba por escorregar. Foi penoso ver cada abordagem sua ao jogo. Receções, passes, desmarcações, desarmes e tentativas de remate: tudo o que Marega fez, fez mal. A sua exibição parecia uma compilação do Watts da Europsort. E que culpa tem o jogador disso? Absolutamente nenhuma. Ninguém pode ser obrigado a dar mais do que o que sabe. E ninguém está no direito de questionar o empenho de Marega, pois de certeza que ninguém mais do que ele quer aproveitar esta oportunidade - possivelmente porque sabe que caiu do céu e que dificilmente voltará a ter outra assim na sua carreira.

Peseiro utiliza-o há 7 jogos consecutivos, o que até pode indicar que vê alguma coisa nele - ou simplesmente sente que não tem melhor no plantel. Mas não foi ele o responsável pela sua contratação, e seria bom ouvir o responsável pela sua aquisição. Por uma simples razão: se Marega der jogador no FC Porto, quem o foi buscar merece uma estátua, pois conseguiu de facto ver o que mais ninguém viu. Não foi o único, pois quando O Tribunal do Dragão escreveu que se tratava de uma má contratação não faltaram adeptos, nas caixas de comentários, a dizer o contrário. Mas não foi nenhum desses adeptos que decidiu investir 4M€ nele. Se Marega der jogador, saia uma estátua para quem o for buscar; se não der, quem o foi buscar por aquele preço que se explique. Afinal, numa equipa cujo orçamento para esta época ronda os 150M€, ver o quarteto defensivo (Maxi, Chidozie, Marcano, Ángel) e o trio de ataque (Marega, Suk e Varela) com que o FC Porto terminou o jogo dá muito que refletir.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Cuidem da dieta dos delegados

Todo o cuidado é pouco. É tempo de supervisionar e controlar a dieta de todos os delegados que vão votar nas eleições para o novo presidente do Conselho de Arbitragem, após o anúncio da saída de Vítor Pereira. Não há-de algum deles sofrer de uma grande indisposição no dia das votações.

Isto para recordar a forma como Vítor Pereira foi eleito presidente do CA, há quatro anos. Vítor Pereira venceu contra Luís Guilherme por 42-41. Houve um voto nulo e um dos delegados faltou à votação. Tratava-se de José Albano Domingues, delegado de Viana do Castelo, que não ia votar em Vítor Pereira, mas que a meio da viagem para a sede da FPF sofreu um ataque de diarreia e faltou à reunião.

Faça-se a devida homenagem a Bocage: foi graças à merda que Vítor Pereira conseguiu fazer um trabalho de merda nos últimos quatro anos. É quase poético. Mas não há motivos para festejar a saída de Vítor Pereira, sobretudo face aos dois nomes que estão a ser lançados à sucessão: o ex-árbitro Duarte Gomes e o presidente da APAF, José Fontelas Gomes. Começando por avaliar Duarte Gomes.


Duarte Gomes é um assumido benfiquista, ainda que a competência não tenha clube. Foi, por exemplo, o único árbitro dos últimos anos a admitir ter errado num jogo contra o FC Porto (e já lá vão mais de 4 anos desde que o fez, por causa de um penalty por marcar contra o Marítimo). Na altura, causou enorme celeuma no CA, com Vítor Pereira a ficar chocado e revoltado por um dos seus árbitros vir a público admitir que errou contra o FC Porto. Desde então, mais nenhum árbitro se atreveu a fazê-lo.

Duarte Gomes esteve também em destaque na última grande aparição pública de Antero Henrique em defesa do FC Porto: quando, juntamente com Rui Cerqueira, o FC Porto apresentou 15 erros cometidos por Duarte Gomes no clássico frente ao Benfica. É de realçar que, nesse jogo, o FC Porto foi campeão na Luz, mas não deixou de se insurgir contra a má arbitragem; nos últimos tempos, em que não ganha títulos mas tem tantas ou mais queixas face à arbitragem, o FC Porto quase não reage. As pessoas são as mesmas, o clube é diferente.


O historial de Duarte Gomes, o árbitro que assinalou três penaltys em 10 minutos a favor do Benfica em 2011 (e dos quais só um não deixou quaisquer dúvidas), não fica por aqui...





Mas a última entrevista de Pinto da Costa, há um mês, abriu novas perspetivas sobre Duarte Gomes, que decidiu abandonar a arbitragem há um mês. «Duarte Gomes vai abandonar a arbitragem provavelmente a pretexto de uma lesão, mas eu creio que o Duarte Gomes, um indivíduo de grande formação, licenciado em Direito, percebeu como as coisas funcionam, e para não ser amanhã um novo Marco Ferreira decidiu abandonar a arbitragem». Desconhecíamos, no universo FC Porto, tamanha consideração por Duarte Gomes.

Curioso que Duarte Gomes tenha terminado a carreira em janeiro e que já esteja a ser associado à presidência do Conselho de Arbitragem. Faz lembrar Pedro Proença, que também saiu da arbitragem mais cedo para, meio ano depois, ser eleito presidente da Liga. Duarte Gomes já deu uma entrevista ao Expresso este mês, na qual garante que não ambiciona, para já, ser presidente do CA. Mas depois lá diz que está disponível para ceder os seus conhecimentos à arbitragem no futuro.

Curiosamente, Duarte Gomes até já fez as pazes com o... Sporting. Em fevereiro de 2014 o Jornal do Sporting escrevia que recusava este árbitro, por ser um «reconhecido benfiquista que prejudica sistematicamente os seus rivais» (a APAF estava a nanar quando um dos seus árbitros - na verdade, quatro deles - foi difamado desta maneira?). O Sporting foi sempre um clube que protestava perante Duarte Gomes, que nos últimos anos só agradava ao Benfica e a Jorge Jesus.





Mas nada é eterno: curiosamente as pazes, aparentemente, foram feitas na semana passada: 


Mais curioso ainda é que Fontelas Gomes e Duarte Gomes, apontados como os dois nomes candidatos ao CA, tenham estado juntos na mesma visita ao Sporting. Mas é de esperar que o futuro da arbitragem passe por ambos. Em 2011, Luís Guilherme e Lucílio Baptista estavam na lista concorrente contra Vítor Pereira, que foi o eleito. Então, Lucílio Baptista e Luís Guilherme acabaram por passar para a comissão de nomeações, sobre a qual nunca se pronunciam - logo, os supostos rivais de Vítor Pereira foram eleitos para um cargo no qual se abstêm de tudo o que Vítor Pereira possa decidir. Será curioso ver se Bruno de Carvalho também vai falar desta vez em «aliança».

Sobre Fontelas Gomes, foi eleito para a APAF em 2013, em lista única. Foi um árbitro da terceira categoria, mas trabalhou durante vários anos na TAP e tem negócios na restauração (está na moda, portanto). No início de novembro foi protagonista da Palhaçada Fresquinha, na qual, como tantos outros, invocou regulamentos que não se aplicavam ao caso para justificar as ofertas ilegais do Benfica aos árbitros. E José Fontelas Gomes sempre se insurgiu contra o sorteio dos árbitros: ou seja, com ele tudo continuará igual, árbitros escolhidos a dedo. 

De recordar o seu papel na época 2014-15. Quando Lopetegui, o único elemento do FC Porto a contestar as arbitragens, se atreveu a dizer que não podiam ser o árbitros a decidir o campeonato, José Fontelas Gomes ficou ofendido. Curiosamente, a APAF nunca ficou ofendida com nenhuma das afirmações de Jorge Jesus ao longo dos últimos anos, nem quando João Gabriel falou de um campeonato que era «um tributo aos árbitros».

Nos últimos anos nenhum treinador do FC Porto acusou diretamente um árbitro de errar deliberadamente, de querer prejudicar o FC Porto ou beneficiar o Benfica. Jorge Jesus, não raras vezes, proferiu declarações bem mais graves em torno das arbitragens. Mas nunca mereceu nenhum reparo. Limpinho. Descubra as diferenças:



É este o cartão de visita de Fontelas Gomes, que segundo O Jogo e o DN tem apoio do FC Porto para o cargo. É uma piada? Todas as intervenções de José Fontelas Gomes enquanto presidente da APAF foram para atacar o FC Porto, sempre que havia críticas à arbitragem, e defender sempre o Benfica. E se há um ano o FC Porto lutava pelo regresso do sorteio dos árbitros, agora vai apoiar um sujeito que é contra o sorteio!? De realçar que Vítor Pereira disse isto: «Colinho e manto protetor? Estamos habituados a ser bode expiatório dos insucessos». Fontelas Gomes está na mesma linha de discurso: quando o Benfica critica as arbitragens, não reage; quando o FC Porto o faz, tenta logo silenciar o clube e culpa ou o seu treinador ou os seus jogadores.

Duarte Gomes ou José Fontelas Gomes. Um é um ex-árbitro que durante anos não mereceu nada mais do que críticas por parte do FC Porto; outro, enquanto líder da APAF nos últimos dois anos (antes tinha estado no cargo interinamente), legitimou tudo o que aconteceu no passado recente e condenou sempre toda e qualquer crítica do FC Porto.

Se o FC Porto não se demarca destas duas hipóteses, o futuro não trará nada de bom. E quem se conformar com uma destas escolhas não terá moral para contestar qualquer tipo de nomeação nas arbitragens nos próximos anos.

PS: Vários leitores discordaram por completo de que para o FC Porto fosse mais fácil ganhar em casa ao Dortmund do que ao Chelsea em Londres. No seu direito, claro, mas a história do FC Porto diz isso mesmo: em casa contra equipas alemãs, o FC Porto ganhou 10 jogos, empatou 3 e perdeu 4. Em Inglaterra, perdeu 16 e empatou 2. Claramente podem alegar que o plantel do FC Porto estava desfalcado. Mas repare-se que o Dragões Diário diz que o FC Porto jogou com «muitos remendos por causa das lesões». Não, não foi, pois o único titular lesionado era Martins Indi. O problema não eram as lesões, era sim a falta de opções num plantel mal construído e que não foi reforçado em janeiro. E José Peseiro não tem culpa da falta de peças que tem - só pode ser responsabilizado pela forma como estrutura as peças que tem, mas nunca pela falta de qualidade das mesmas. Mas tal como Paulo Fonseca em 2013-14, não tem o melhor plantel à disposição, mas podia ter tentado fazer melhor com o que tinha, pois pouco tinha a perder. 

Ninguém está em condições de exigir títulos a José Peseiro: só se exige que faça o melhor possível. Ninguém pode acreditar que contra o Dortmund tenha sido feito o melhor possível para ganhar pelo menos esse jogo, já que virar a eliminatória era uma utopia. De qualquer forma, o patamar de exigência não pode recuar ao ponto de acharmos que é pedir muito que o FC Porto tente fazer - pelo menos tentar - o que o PAOK e o Krasnodar fizeram este ano: ganharam ao Dortmund na Liga Europa. Esperemos que também não seja pedir muito ganhar ao Belenenses, que também trocou de treinador e apostou numa nova filosofia, e não repetir a vergonhosa exibição da época passada no Restelo.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Prova dos nove

O Dortmund é melhor. Joga melhor. Está mais bem preparado. Cedo impôs as suas armas para continuar na Liga Europa. E o FC Porto nada fez para passar a eliminatória. Com tudo isto, o apuramento do Dortmund e a eliminação do FC Porto da Liga Europa acontecem com toda a naturalidade.

Desistir antes de começar
O FC Porto já ficou praticamente sem hipóteses de passar pelo resultado da primeira mão. Restavam pouco mais do que ilusões. Mas acontece que José Peseiro desistiu da competição ainda antes do jogo no Dragão. É isso que dizem as suas escolhas iniciais, legítimas, mas primeira causa de mais uma derrota no Estádio do Dragão. Tal como aconteceu em Londres: sabia-se que o FC Porto dificilmente resistiria ao Chelsea, mas pelo menos pedia-se que a equipa deixasse claro que fez tudo para ganhar. Não fez, e por isso Lopetegui recebeu justas críticas. Neste caso, o FC Porto também não fez o que estava ao seu alcance frente ao Dortmund. Com a diferença de que, apesar de tudo, deveria ser mais acessível ganhar ao Dortmund no Dragão do que ao Chelsea em Londres.

José Peseiro não é um bom orador, nunca foi. Tem um discurso igual ao de tantos outros no futebol português, feito de clichês e frases para lugares comuns. Isso não é um problema. Ter um bom discurso faz parte de um bom treinador mas não faz um bom treinador. José Peseiro teria, isso sim, que tentar implementar as suas ideias na equipa, sabendo que iria ter sempre a justificação de que estava em fase pós-Lopetegui. Afinal, Lopetegui, ao fim de 18 meses, deixou uma equipa que estava (quase) de rastos; José Peseiro ainda pouco tempo teve, mas como era esperado a mudança de treinador acabou por não surtir ainda grande efeito - a maior diferença é que, comparativamente ao início de janeiro, o FC Porto está mais longe da liderança e fora da Europa. Não só por falta de tempo, como por falta de opções. Em quantidade e qualidade.

Má época nas competições europeias, e veremos o quanto isso se vai refletir perante a necessidade de vender jogadores no final da época. Culpas repartidas entre plantel, Lopetegui, José Peseiro, azar em momentos chave (o jogo do Dortmund foi em fora de jogo, mas neste caso não muda nada na eliminatória) e a construção e gestão do plantel por parte da SAD. O FC Porto falhou em toda a linha na UEFA em 2015-16.






Danilo Pereira (+) - Era fácil prever que era a melhor contratação da época, pois foi tudo aquilo que deveria ser uma contratação à Porto - a viagem até Portimão era dispensável, mas enfim, valia o que estava a custar. E confirma-o a cada dia. Defensivamente, esteve impecável, ganhando 90,9% das bolas divididas e duelos contra jogadores do Dortmund. Acertou 86,7% dos passes, ainda foi ao ataque tentar dois remates (ninguém no FC Porto rematou mais) e foi sempre o primeiro - e muitas vezes único - a tentar empurrar a equipa para a frente. A sua influência também cresce no balneário - no início da época poucas vezes abria a boca, mas agora dá instruções, pede linhas de passe, dá na cabeça aos colegas. O FC Porto 2016-17 tem aqui um dos capitães. Destaque ainda para a exibição de Marcano e para o banco do FC Porto: há muito que não tínhamos tanta qualidade no banco. O problema é que essa qualidade está de braços dados com jogadores rebentados fisicamente, outros com marés de desinspiração e outros que não têm revelado o maior interesse na luta por um lugar no 11.








A abordagem ao jogo (-) - A crítica pode começar em quem deixou que José Peseiro chegasse a este jogo com apenas um central disponível. O FC Porto não pode reclamar ser uma equipa com ambições europeias sem ter sequer uma dupla de centrais para jogar na UEFA. E daqui nasceu o problema: se é certo que Danilo Pereira era essencial no meio-campo, Layún também era essencial pelo seu papel ofensivo no flanco esquerdo. E estando o FC Porto a perder por 0x2 na eliminatória, deixar o seu maior dínamo ofensivo no centro da defesa, acima de tudo preocupado em que o FC Porto não sofra mais golos, mostra que José Peseiro, por muito difícil que fosse montar um 11 consensual, estava acima de tudo preocupado em não sofrer golos. Se é certo que Brahimi e Corona têm estado em má forma e que Herrera e André André não estejam a ter a maior consistência, quem escala esta equipa titular não pode pensar em ganhar ao Dortmund.

Média de golos (-) - Não é que houvesse expetativas de que José Peseiro fizesse o milagre. Não só porque a matéria prima mão é a melhor, mas também por se tratar de um treinador sem um currículo de conquistas. Mas a administração da SAD confiou-lhe a responsabilidade - não pelo trabalho feito, que pouco tem, mas mais pelas ideias do treinador, que vão ao encontro de um futebol mais ofensivo. Era sabido que a equipa iria pior defensivamente com José Peseiro (leva nove jogos), e assim tem sido. Desde António Feliciano, em 1972, que o FC Porto não tinha um treinador com uma média de golos sofridos tão alta (1,44). Em comparação com o passado recente, Vítor Pereira teve 0,72, Paulo Fonseca 0,84 e Julen Lopetegui 0,68. 

Em defesa de Peseiro, importa realçar que está num ciclo de jogos difícil, tendo já jogado contra Benfica e Dortmund. A maioria dos jogos foram difíceis, logo não tem a vantagem que outros treinadores do FC Porto tiveram, ao jogar contra adversários mais acessíveis para equilibrar a balança. Mas é uma conta fácil de fazer: um treinador que trabalha pouco as equipas defensivamente + uma defesa de remendos = a pior média de golos sofridos dos últimos 40 anos. É uma crítica que não vale a pena ser repetida sempre que a equipa sofre golos, mas ou se exige mais do treinador ou condena-se quem não é capaz de formar um plantel que ofereça, pelo menos, uma dupla de centrais para jogar na UEFA.

A chegada de José Peseiro também trouxe expetativas quanto a uma equipa mais ofensiva. Uma vez mais, missão altamente ingrata: não era possível pedir ao FC Porto que marcasse 5 golos ao Dortmund. Mas o rendimento ofensivo da equipa tem que disparar nos próximos jogos. José Peseiro abre com uma média de 1,44 golos por jogo. Nos últimos 50 anos, pior só Víctor Fernández (1,07) e José Couceiro (1), que curiosamente também pegaram na equipa após a demissão de treinadores (um padrão ou infeliz coincidência?). No passado recente, Vítor Pereira e Lopetegui tiveram média de 2,04 e Paulo Fonseca 1,86.

É preciso mais golos deste FC Porto, sobretudo porque muitos adeptos, em defesa de José Peseiro, realçam que este sofre mais golos porque não insiste na posse de bola estéril que era praticada muitas vezes com Lopetegui, preferindo correr mais riscos no ataques. Ok, mas convém que a estatística comece a refletir isso: uma equipa que faça de facto mais golos. Mas volta-se a colocar a questão: problema da estratégia do treinador ou simplesmente jogadores que não estão à altura?

Zero de perigo (-) - O Dortmund só teve que fazer 3 faltas durante todo o jogo.  Três. O FC Porto não teve um único jogador capaz de pegar na bola, ultrapassar um adversário e forçar logo o Dortmund a ter que ir à dobra e a abrir espaço no seu meio-campo. Zero de criatividade nesta equipa. Brahimi e Corona, os mais virtuosos, estavam no banco, mas também não têm estado em grande forma; Evandro não conseguiu capitalizar o efeito pelo seu golo ao Moreirense e poucas vezes pegou no jogo (acabámos agosto a debater a ausência de um médio-ofensivo - e eis onde estamos); Varela é um extremo de apoio, não de rasgo, e não foi capaz de criar perigo em nenhum lance. Marega, enfim, há que continuar a confiar nos muitos portistas que ficaram entusiasmados com a sua contratação, que viram qualidades que mais ninguém vê - se calhar o próprio Marega ainda está à procura delas, ou a guardá-las para um momento Kelvin. Schmelzer disse antes do jogo que não sabia quem era Marega. Provavelmente assim continua, pois Marega não passou nenhuma vez por ele. Não é por falta de empenho, nunca há-de ser. É por outra coisa, chamada qualidade. Se não estiver na Turquia na próxima época vai ser uma grande surpresa. Aboubakar, depois de resolver o clássico na Luz e ir ao banco, esteve sempre sozinho e desapoiado no ataque - sempre que baixou para segurar a bola, as jogadas não tiveram seguimento. Assim ninguém resiste.

Plano negativo (-) - Já todos perceberam que não deverá haver futuro para José Ángel no FC Porto. Está sem confiança e nunca revelou ser no FC Porto o lateral seguro e consistente que se mostrou em Espanha e Itália - e que na altura fez com que a sua contratação fizesse todo o sentido. Por outro lado, a equipa do FC Porto está habituada a que o seu flanco esquerdo seja sempre uma fonte de subidas perigosas do lateral; mas Ángel não é Layún a atacar. E, neste FC Porto, mais ninguém é. Mas Layún estava demasiado ocupado a tentar que o Dortmund não marcasse mais...

O FC Porto teve apenas 37% de posse de bola, o que significa que nunca foi capaz de ser forte na reação à perda e poucas vezes perturbou a gestão do Dortmund (bateu o recorde de número de passes no Estádio do Dragão: 652). A bem da verdade, a determinada altura o FC Porto começou a recuperar mais bolas, tendo que chegou a forçar o Dortmund a uma eficácia de passe que caiu para os 82%. O problema é que equipa recuperava a bola, mas depois... nada. Note-se que Hummels teve três perdas de bola graves logo nos primeiros 10 minutos. A diferença? Quando Boateng e Dante fizeram asneira no Dragão, há um ano, o FC Porto não perdoou e caiu em cima do Bayern; ontem não havia ninguém para castigar o Dortmund.

Era difícil conseguir algo de bom, mas era obrigatório tentar fazer melhor. Com a Taça de Portugal declarada como ponto de honra para esta época, sobram 11 jornadas no campeonato. Se estivéssemos já na 32ª jornada, poderia acontecer o impensável e inaceitável: o Sporting poder ser campeão no Dragão com uma derrota por 1x0. Até lá, há que tentar fazer os (im)possíveis para que esse possa ser um jogo em que haja algo a conquistar, e não algo a evitar.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

João Capela goleia por 11x0

João Capela é alérgico a tripas e francesinhas. E tem vertigens quando passa pela ponte do Freixo. Não há outra justificação possível. Pela 11ª vez consecutiva no campeonato, João Capela vai arbitrar um jogo do FC Porto fora do Dragão.

Mais uma vez, a extrema coerência do Conselho de Arbitragem entra em ação. Como é nos jogos fora de casa que há, teoricamente, mais probabilidades de perder pontos, João Capela é sempre nomeado para os jogos fora de casa do FC Porto. São já 11 consecutivos no campeonato. Por que é que João Capela só serve para arbitrar nos jogos fora de casa?

Últimos jogos de João Capela com o FC Porto
Entre todas as competições, dos últimos sete jogos com Capela o FC Porto perdeu quatro, empatou um e venceu apenas dois. O mais recente jogo foi o da 4ª jornada, contra o Arouca. Para quem não se recorda das incidências dessa partida, conseguiu mostrar mais cartões ao FC Porto (6) do que aqueles que o Benfica viu nas quatro primeiras jornadas do campeonato juntas. Além disso, nesse jogo o Arouca viu apenas um cartão. 

João Capela é atualmente o árbitro que mais cartões mostra em Portugal. Tem neste momento o recorde de cartões amarelos (157), expulsões (13) e total de cartões (170). Isto aliado ao historial de jogos complicados do FC Porto com este árbitro tem tudo para correr bem. O timing para chamar João Capela para mais um jogo do FC Porto é acima de tudo interessante.

O Benfica x Sporting que se avizinha será importantíssimo, pois pode significar a possibilidade de o FC Porto saltar para o 2º lugar ou ficar perto de depender matematicamente de si próprio para ser campeão; se fizer a sua parte, pelo menos vai recuperar terreno, que é o mais difícil nesta fase. Contas que só interessam se o FC Porto fizer a sua parte e vencer os seus jogos. De qualquer forma, lançar João Capela nestas circunstâncias mostra que o Conselho de Arbitragem é, de facto, muito coerente no que faz. Mas essa coerência só agrada a um clube.

O que Pinto da Costa afirma hoje é gravíssimo. Pelos vistos, Luís Guilherme e Lucílio Baptista são pagos para não fazerem nada, pois nas reuniões para as nomeações de árbitros abstêm-se de se pronunciar, o que deixa Vítor Pereira confortável para nomear quem quer a seu bel-prazer. É de notar que dentro do próprio Conselho de Arbitragem há contestação a Vítor Pereira (alastrada a diversos casos, desde Pedro Proença a Marco Ferreira), mas ele não cai. Não tarda e encomenda mais um artigo de opinião ao Record, o seu pronto-socorro.

O presidente poderia ter aproveitado para questionar o porquê de João Capela só servir para arbitrar jogos do FC Porto fora de casa, mas preferiu dizer que não sabia que Capela tinha sido nomeado para arbitrar o Belenenses-FC Porto. Ainda assim aproveitou para colocar em foco o nome de José Ferreira Nunes, que segundo diz está a gerar revolta dentro do CA pela forma como controla as classificações e os observadores.

Todas as notas deveriam ser tornadas públicas. Por norma, o CA só passa as notas à imprensa (A Bola, Record e a TSF são as vias de referência para o efeito) quando é para realçar que os árbitros que fizeram más arbitragens em jogos de Benfica e Sporting tiveram classificações negativas. Tornar as notas públicas ajudaria a compreender os critérios de nomeação. Ou não, pelo contrário: tornaria ainda mais injustificáveis as nomeações de Vítor Pereira. É por isso que continuam em sigilo.

De Ferreira Nunes, o que dizer? Dizem que tem dois amores. Não há problema: Mário Wilson e Sérgio Conceição também eram grandes adeptos da Académica enquanto representavam Benfica e FC Porto. Mas de todos os jogos da Académica que Ferreira Nunes possa ter visto, parece que só dois momentos lhe pareceram significativos o suficiente para os partilhar nas redes sociais.




«Deixem o homem torcer pela Briosa, não faltou ao respeito a ninguém», dirão. Tudo bem. Mas avisem o dr. Ferreira Nunes que, quando ele queria fazer «gosto» na página Golo da Académica, acabou por carregar na página Golo do Benfica.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Desmistificando: Otávio

É uma daquelas imprecisões prontas a lançar confusão: «Otávio chegou gratuitamente ao FC Porto», diz o Record. «Otávio chegou livre aos dragões», escreve A Bola. Como é lógico, não é verdade. Trata-se da eterna confusão (sim, aparenta ser mais ignorância do que má-fé) entre direitos económicos e direitos federativos.

A saber: direitos económicos são o passe do jogador, cujos 100% podem ser repartidos por diversas entidades (entretanto a FIFA proibiu a partilha do passe por terceiros). Já os direitos federativos são meramente os direitos de inscrição do jogador. Neste caso, não se podem partilhar. Não é possível inscrever 50% de um jogador na FPF, como é lógico. Logo, quando se lê coisas como «o clube tem 100% dos direitos desportivos do jogador», é absurdo, pois não é possível ter um jogador de outra forma.

67,5% por 7,5M€
Neste caso, o «custo zero» que associam a Otávio é nada mais, nada menos do que a transferência dos direitos federativos do Internacional para o FC Porto. Os direitos federativos não movimentam dinheiro, o que movimenta dinheiro é o passe do jogador. Neste caso, o Internacional já não tinha qualquer percentagem do passe de Otávio quando este foi transferido para o FC Porto, pois antes o Internacional vendeu a maioria do seu passe ao BMG.

Assim sendo, em 2014 o FC Porto comprou 33% do passe de Otávio, por 2,5M€, não ao Internacional mas sim ao Coimbra Esporte Clube, que é o clube do BMG, destinado a ponte como transação para outros clubes. É utilizado para inscrever e posteriormente passar jogadores para vários clubes do Brasileirão, entre eles o Internacional. Entretanto a SAD passou a ter apenas 32,5% de Otávio, pois cedeu 0,5%, não se sabe publicamente por quanto ou a quem.

Depois disso, o passe de Otávio ficou assim repartido: 33% continuam no Coimbra Esporte Clube; 20% pertencem a uma empresa registada em 2012 com o nome G. E. Assessoria Desportiva; e os restantes 15% ficaram na posse do pai de Otávio.

Durante a época 2014-15, Otávio não custou nada ao FC Porto na transação, pois a dívida de 2,5M€ ao clube do BMG manteve-se inalterável. Estava previsto a SAD fazer esse pagamento ao longo desta época.

A SAD ficou com direito de comprar mais 35% do passe de Otávio, podendo então ficar com até 67,5% do seu passe. Mas não pode comprar a parte do Coimbra Esporte Clube: pode comprar apenas a parte do pai de Otávio e da referida empresa de assessoria. E não será nada barato: comprar estes restantes 35% custa 5 milhões de euros.

Conforme foi opinado aquando da sua contratação, Otávio foi uma contratação cara e inflacionada, mas que tinha o que não têm os Samis da gestão da SAD: sentido desportivo. Tratava-se, e trata-se, de um jogador que mostra grande potencial e qualidade técnica. Demorou, mas está finalmente a mostrá-lo em Guimarães, com uma sequência de jogos que já lhe devem valer pelo menos um lugar na próxima pré-época.

Foi positivo para ele ficar em Guimarães. É bom não esquecer que só começou a ser titular em dezembro. No momento em que regressasse ao FC Porto, o mais provável era passar mais tempo no banco ou na bancada. No meio-campo de Lopetegui não caberia (o mais provável era ser desviado para a ala). Com Peseiro talvez tivesse mais espaço, mas o treinador terá entendido ter melhores soluções para o curto prazo. E não faria muito sentido tirar Otávio de Guimarães quando ele tinha acabado de lá conquistar a titularidade. Poderia ter sido um caso Hélder Barbosa v2.0.

Desde que começou a ser titular em Guimaães, Otávio já fez 6 golos e 6 assistências. Além disso, está finalmente a ter condição física para aguentar 90 minutos (coisa que por exemplo Quintero nunca conseguiu), algo que pode fazer toda a diferença com vista ao regresso ao FC Porto. Joga e faz jogar, tem tudo para ser uma opção válida para o médio prazo do FC Porto.

Isto para concluir: não chegou a custo zero, não, e até foi/será bem caro, pois em 2014 o FC Porto pagou por potencial, não por qualidade imediata - prova disso é que só a partir da 3ª época poderá ganhar um lugar no plantel. Mas a qualidade, felizmente, está toda lá. E a avaliar pela sua postura em Guimarães, o mais importante também: trabalhar a qualidade que tem. 

Reviravolta anormal

Virar um jogo de 0x2 para 3x2 é raro e difícil. Basta dizer que desde 1999 que não acontecia - na altura o FC Porto eliminou o Famalicão da Taça, por 4x2, com o bis de Quinzinho aos 118 minutos e um golo de Féher aos 119. Se nos restringirmos apenas ao campeonato, não acontecia desde os 3x2 ao Benfica, na Luz, em 1976, graças a um golo de Ademir e a um bis de Júlio Carlos nos minutos finais.

Aliás, em toda a história do campeonato, esta foi apenas a 4ª vez que o FC Porto venceu um jogo depois de estar a perder por 2x0. Mas isto quer acima de tudo dizer uma coisa: é extremamente difícil uma equipa abrir com uma vantagem de 2x0 frente ao FC Porto. E o Moreirense fê-lo com uma naturalidade assustadora.

Fazer 3 golos ao Moreirense deveria ser normal. Anormal foi estar a perder por 2x0 com o Moreirense à meia hora de jogo. Pela sexta vez em sete jogos, o FC Porto entra a perder, e quase sempre com golos apontados nos primeiros 10 minutos.

Nos últimos 2 jogos no Dragão, o FC Porto sofreu quatro golos. Durante a era Lopetegui, o FC Porto, é bom lembrar, esteve um ano inteiro sem sofrer golos no Dragão no campeonato, além de ter vencido 20 jogos consecutivos em casa ao longo de 2015. É normal que a equipa piore defensivamente, não só pela mudança de treinador (o modelo de Peseiro é isto - uma equipa constantemente exposta defensivamente; não é defeito, é feitio, o FC Porto saberia disso quando o contratou) como pelo desinvestimento em termos de qualidade no setor. 

Por muito que uma reviravolta assim seja saborosa, o FC Porto foi forçado a fazer o que só tinha feito 3 vezes em toda a sua história para vencer o Moreirense no Dragão. Uma vitória que deveria ter sido natural apareceu de forma muito suada. É bom ver que a equipa nunca se rendeu apesar das adversidades, mas em 2015 o FC Porto sofreu apenas 6 golos em 26 jogos no Dragão. Nos últimos 2 jogos, foram logo 4. É mera estatística, claro. Mas não é boa.






Layún (+) - Impressionante. Bateu com sangue frio o penalty, assistiu Suk (será que o problema das bolas paradas do FC Porto em 2014-15 seria resolvido com um batedor assim?) e lançou a jogada do 3x2. Mas mais do que isso, foi o dínamo de todo o corredor esquerdo do FC Porto ao longo de 90 minutos. Cruzou 18 vezes (10 deles tiveram resposta dos colegas na grande área!), criou nove situações de finalização e personificou toda a alma da equipa. 

Maxi Pereira (+) - Sempre incisivo na aproximação à grande área, apareceu várias vezes em zonas de finalização, esteve forte nos movimentos interiores e muito da reviravolta passou por ele. Claro, há o lance do penalty. André Micael corta a bola limpinho com o pé direito, facto. O problema é depois: chegar primeiro à bola não dá o direito de logo a seguir varrer o adversário. E é isto que separa Jonas de Maxi: Jonas saltou deliberadamente para o chão para provocar uma simulação; Maxi não. Maxi vai ao chão porque André Micael, com o seu pé esquerdo, atingiu Maxi no pé de apoio. Maxi não se lançou para a piscina, foi derrubado quando tinha o pé de apoio fixo no chão. Mas contacto era inevitável, o que daria ao árbitro justificação para não marcar penalty. Agora, simulação, não, de todo, pois Maxi só vai ao chão porque o atingem no pé de apoio. Não que não fosse capaz de simular, pois em oito anos aprende-se muita coisa. 

Aposta em Evandro (+) - Foi uma alteração extremamente curiosa. Com o Moreirense fechado, de que precisava o FC Porto? De largura pelos flancos. Mas José Peseiro não quis aquilo que tantas vezes era exigido ao FC Porto de Lopetegui: mais velocidade e largura. Preferiu colocar Evandro para reforçar a capacidade de circulação no meio-campo, pois Maxi e Layún estavam praticamente a jogar como extremos e garantiam a tal largura pelos corredores. Foi um risco. E correu bem.

Bola na grande área (+) - O que tantas vezes faltou ao FC Porto nos últimos meses aconteceu ontem em fartura: meter gente na grande área e lá criar situações de finalização. E daqui saiu um recorde no campeonato: 20 remates dentro da grande área. No meio de tantas bolas, alguma havia de entrar. Entraram as suficientes para a reviravolta, mas em lances de jogo algo periféricos (penalty, canto e um inesperado golpe de ninja). Se o FC Porto tiver 20 remates dentro da grande área, não há jogo no campeonato que não ganhe.


Outros destaques (+) - Grande jogo de Suk, que se destacou sobretudo no jogo aéreo: ganhou 6 bolas de cabeça na grande área adversária. Sempre aplicado, ainda está a aprender a jogar tendo uma linha defensiva completa à sua frente, mas vontade não lhe falta. Aproveitou a oportunidade. Grande destaque também para Casillas, que livrou o FC Porto várias vezes do 3º golo. E Herrera chega de forma quase impossível ao lance do 3x2 (se fosse o Ronaldo já estavam a fazer cálculos para descobrir quanto é que ele saltou), embora tenha manchado a sua exibição pela constante hesitação à frente da grande área. Bem a equipa na avalanche ofensiva para chegar à reviravolta.






Factor Chidozie (-) - Para quem tenha memória curta, Chidozie jogava como médio-defensivo nos sub-19 há um ano. E revelou-se um jogador normalíssimo nessa posição, sem nada que recomendasse particularmente a sua contratação. Na equipa B, adaptado a central, evoluiu muito. Mas continua a ser tudo aquilo que era antes e depois do jogo na Luz: um jogador totalmente inexperiente. Chidozie tem falhas de posicionamento graves e gritantes - são 3 em 2 jogos, provocando 3 golos para os adversários. Não é o único culpado, claro que não. E nem sequer o primeiro: está a cometer as falhas esperadas e próprias de um jogador com esta inexperiência. Não é um produto das escolas de centrais do FC Porto, pois só chegou em 2014 e para jogar como médio-defensivo. Já agora, para quem realça a grande escola de centrais do FC Porto: que têm em comum Lima Pereira, Fernando Couto, Jorge Costa ou Ricardo Carvalho? Nenhum deles era titular na defesa do FC Porto aos 19 anos e todos tiveram que ter experiência sénior antes de serem titulares no clube. Se já temos um treinador que nunca teve equipas fortes na transição defensiva, tendo um setor defensivo limitado torna tudo mais complicado.

Subrendimento (-) - A equipa do FC Porto parece esgotada fisicamente, com particular incidência em alguns jogadores. A equipa mudou de preparador físico e, embora não se possa estabelecer uma relação-causa, há jogadores que estão rebentados. André André já vem desde os últimos tempos com Lopetegui: perdeu a influência que teve em outubro/novembro. Não acelerou o jogo, foi quase sempre lento a reagir e foi uma sorte (?) ter feito os 90 minutos. Num jogador como André André, a condição física faz toda a diferença. Herrera, apesar de nunca parar de correr e da forma como inventou o 3x2, foi muitas vezes lento a soltar a bola, e hesitou demasiado quando aparecia à entrada da grande área. Corona não existiu: 45 minutos sem que se revelasse em nenhum lance. Parece ter sido um dos jogadores que acusou mais a troca de treinadores. Tempo, paciência e trabalho, é o que se pede. 


PS: Os factos e o rigor são essenciais para qualquer defesa. Sem eles, perde-se a razão. Isto a propósito do que escreveu o Dragões Diário: «São já muitos os penaltis que (Jorge Ferreira) assinala mal a favor do Benfica em situações decisivas». Não é por nada, mas o penalty em Paços de Ferreira foi o primeiro assinalado por Jorge Ferreira a favor do Benfica na sua carreira. Podiam ter sido evocadas 10 razões para criticar as suas arbitragens, mas o Dragões Diário escolheu logo uma que não é verdade. Assim perde-se a razão. E já não é a primeira vez que a newsletter oficial do clube falha num dos pilares de Pinto da Costa: o rigor.

PS2: As votações MVP dos jogos em atraso foram repostas. 

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Jonas tem que ser suspenso e a SAD tem que reagir

Estamos habituados a muita coisa no futebol português, como violar os regulamentos do CA para proteger o Benfica e contrariar todas as normas da FIFA para promover determinados árbitros escolhidos a dedo. O denominador comum tem sido sempre um: o benefício ao Benfica.

Mas uma vez mais, não pode haver margem para dúvidas: Jonas, o melhor marcador do Benfica, tem que ser suspenso. Quem o diz são os próprios regulamentos da Liga. Todos sabem qual é o lance em causa: a simulação de Jonas frente ao Paços de Ferreira.

Tribunal O JOGO, 21-02-2016
A Comissão Disciplinar é muito clara no que toca a simulações para penaltys:

Artigo 154 do Regulamento Disciplinar da Liga
Ora então segundo os regulamentos, quem simula penalty e interfere no marcador (na altura o Benfica fez o 2x1 em cima do intervalo) deve ser suspenso. Mais, Jonas pode ser suspenso até três jogos. Mas adivinhem lá quem foi o único jogador, em toda a história do futebol português, a ser suspenso pela simulação de uma falta? Lisandro López, num jogo frente ao Benfica, em 2009.


A diferença de tratamento é gritante. Por norma, as instâncias disciplinares defendem a perspetiva dos árbitros. Mas Pedro Proença escreveu no relatório de jogo que assinalou penalty devido a «uma rasteira sobre adversário», no lance entre Yebda e Lisandro. Será fácil de deduzir que Jorge Ferreira também escreveu que houve uma rasteira sobre Jonas. Mas segundo o precedente aberto com Lisandro, isso não interessa. Não interessa se os árbitros foram induzidos em erro, o que interessa é o que se vê nas imagens televisivas. Logo, Jonas tem que ser suspenso e pode falhar até três jogos. E se ainda há dúvidas, basta ouvir as palavras de um responsável do Benfica: os regulamentos são para cumprir.
Na altura, sabem quem foi que denunciou Lisandro e fez uma participação? O próprio Benfica, parte interessada em que o FC Porto ficasse sem o seu melhor avançado. Não é então de esperar outra coisa que não uma participação formal do FC Porto, caso contrário os seus responsáveis mostram que não estão minimamente empenhados na luta pelo título de campeão e revelam absoluta indiferença em que o Benfica possa eventualmente chegar ao tricampeonato. Não é aceitável, muito menos a menos de dois meses de recondução - não vale a pena falar em «eleições» - para um novo mandato de quatro anos.

Tal como não é aceitável que Jonas não seja suspenso, pois os regulamentos são claros, é igualmente inaceitável que os responsáveis do FC Porto não reajam prontamente a este caso. Não é uma pitadinha de ironia no Dragões Diário: é uma participação formal ao Conselho de Disciplina.

E que mais se pode dizer do árbitro Jorge Ferreira, aqui na foto ao lado num jantar num restaurante com uma decoração sugestiva? Há um ano, abriu um novo capítulo na Liga Aliança, ao tornar-se no primeiro árbitro em Portugal a expulsar um jogador por protestos, ele que já tem um longo historial de jogos arbitrados de onde o Benfica saiu beneficiado. Além disso, este trata-se do árbitro sobre o qual Jorge Jesus sabe «muita coisa do ano passado», além de há um mês ter feito uma arbitragem habilidosa no Dragão.

Ou o FC Porto continua à espera que José Peseiro e o plantel façam milagres, ou os seus responsáveis começam finalmente a agir como alguém que esteja, de facto, empenhado no sucesso do FC Porto e em luta declarada pelo regresso do clube aos títulos. 

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Jogar para perder por poucos

O FC Porto não jogou para não perder: jogou para perder por poucos. Seria muito difícil sair da Alemanha com um resultado positivo, não só dada a qualidade do adversário como as próprias limitações do plantel do FC Porto, que diz querer ganhar uma competição em que se estreia com o extremo a lateral, o lateral a central, um novo meio-campo e um ataque inédito, numa projeção de 4x4x2 que nunca o chegou a ser e que rapidamente voltou ao limbo do 4x3x3.

Mais do que começar a atacar as invenções de José Peseiro - até porque não foi pela readaptação de alguns jogadores que perdeu -, é altura de refletir: os mais recentes treinadores do FC Porto inventam por convicção, ou simplesmente tomam decisões em função da limitação do plantel? Dispensar um central, vice-capitão, para depois ir a Dortmund com esta inovadora defesa só nos melhores sonhos daria bom resultado. Já para não falar que temos um dos mais importantes jogadores da primeira volta (André André) rebentado fisicamente, mas a SAD optou por não reforçar o meio-campo no mercado de inverno.

Mas a verdade é que não foi pela posição de Varela (se tivesse apanhado Jorge Jesus na sua carreira, podem ter a certeza que tentá-lo-ia adaptar a lateral) nem de Layún (o lateral que não defende bem foi o melhor do FC Porto jogando como central) que o FC Porto fez tão pouco em Dortmund. Foi pela estratégia da equipa, que abandonou toda e qualquer identidade para passar a jogar como equipa pequena - ou, se preferirem, reconhecendo toda e qualquer superioridade no adversário.

O FC Porto nunca virou uma eliminatória depois de ter perdido por 2-0 fora de casa. Respeito e consideração por quem comprou, atempadamente, bilhete para a segunda mão é o mínimo e máximo que se pode pedir.






A destacar (+) - Casillas, sem culpas nos golos sofridos, fez o que pôde. Martins Indi fez um bom jogo de marcação a Aubameyang, embora tenha traído Casillas no lance do 2x0. Layún, sabendo-se que como lateral o seu ponto franco é defender, acabou por ser uma boa surpresa no centro da defesa, não cometendo nenhuma falha clamorosa. E Herrera voltou a ser o médio com melhor eficácia de passe do FC Porto, ao acertar 90,9% dos passes, embora, sabe-se lá porquê, ainda alimentem o mito de que Herrera é quem mais passes falha. Tentou ligar os setores e organizar a equipa entre a anarquia tática, em vão. A equipa não merece acusações de falta de empenho, pois esse não faltou. O problema foi outro...






Deixar jogar (-) - Chegou a ser frustrante a forma como o FC Porto se encolhia perante o Dortmund no início de construção. Onze jogadores atrás da linha da bola, sem pressionar. É certo que a equipa não podia abrir espaços para o Dortmund entrar no seu meio-campo, mas a perder e a precisar de marcar o FC Porto fez muitíssimo pouco. Mais do que o facto de só ter tido um terço da posse de bola, choca o FC Porto ter deixado o Dortmund ter uma eficácia de 90% de passe. Isso mostra que a equipa poucas vezes perturbou o Dortmund na troca de bola. Aliás, o Dortmund conseguiu uma sequência de 1m49s sempre a trocar a bola, à largura do campo, sem que o FC Porto a recuperasse.

Sem acutilância (-) - O FC Porto deixou o Dortmund ter bola, mas quando a recuperou pouco fez. O Dortmund só fez 6 faltas em todo o jogo, o que mostra que nunca precisou de ser uma equipa agressiva perante o FC Porto. O FC Porto fez apenas 3 remates em todo o jogo, contra 19 do Dortmund, e o mais perto que esteve de criar perigo foi num remate à figura de Sérgio Oliveira e na última tentativa de Suk, já perto do fim. O FC Porto raramente levou a bola a zonas de perigo, ao fazer apenas 3 passes para ocasião de golo. O Dortmund fez 16. Antes da Luz, Peseiro prometeu que o FC Porto ia manter a sua identidade, e manteve. Em Dortmund, abandonou-a por completo em prol de tentar perder por poucos. 

Outros destaques negativos (-) - Se Varela, aos 31 anos, faz em Dortmund a estreia numa nova posição, não parece correto apontar nada ao jogador. Rúben Neves esteve mal, particularmente no passe (falhou 10), e acusou a falta de dimensão física para um jogo desta natureza e o facto de estar rodeado de uma nova equipa, sem conhecer a dinâmica de passe da mesma. Os próximos meses não serão fáceis para Rúben Neves: passou de um treinador que privilegiava a transição lenta, apoiada e muita circulação de bola (onde Rúben Neves se destacava) para um que prefere transições mais rápidas, onde o médio mais recuado é menos solicitado no papel de circulação, além de ter que partilhar o espaço à frente da defensa com um segundo médio. Há muito para trabalhar.

Brahimi foi inconsequente, e meteu na cabeça que tem que fazer tudo sozinho quando a equipa, coletivamente, nada faz. O problema é que Brahimi não recua para dar linha de passe aos colegas, recua para agarrar-se à bola quando ainda tem 50 metros à sua frente. Nota-se que não sente a maior confiança no coletivo que o rodeia, mas não pode jogar assim. Nem um remate, um passe de rotura ou um cruzamento na linha de fundo para amostra. Aboubakar nunca foi solicitado, é certo, mas esteve sempre cercado pelo Dortmund e não conseguiu um único remate. Marega, numa exibição dentro das expetativas, já tem uma história para contar aos netos: um jogo completo ao serviço do FC Porto, em Dortmund, na UEFA. Um sonho realizado, mas podemos esperar muito mais de um jogador que, segundo o site oficial do FC Porto, «reúne características físicas e técnicas que fazem lembrar Hulk». De facto, quem tem um Hulk consegue ser campeão sem ponta-de-lança, como em 2011-12. Mas tomara que em 2015-16 a única carência fosse um ponta-de-lança. 

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

O pós-Maicon na defesa

Não é uma situação comparável à de Jorge Costa, mas que acaba com um desfecho idêntico: empréstimo a outro clube. Não concordo com a saída de Maicon, mas entendo, desejando apenas que a palavra de José Peseiro tenha sido essencial na resolução deste processo.

Renovar, sair e... voltar?
É um processo que já é habitual na SAD: renovar com jogadores antes de eles serem emprestados, mesmo sem que isso implique que há planos futuros para os atletas em causa. Izmailov, Kelvin ou Walter são alguns exemplos recentes de jogadores que renovaram antes de serem emprestados. 

Maicon renovou por mais um ano, e desconhece-se se o São Paulo vai assumir a totalidade dos salários do jogador. Sendo um empréstimo válido por apenas quatro meses, Maicon vai basicamente fazer alguns jogos no campeonato paulista, onde só vai ter possibilidades de fazer dois ou três jogos a sério, e deverá participar em alguns jogos na fase de grupos da Libertadores. Basicamente, vai ocupar-se até se decidir, no final da época, o que fazer com o jogador.

Até lá, o FC Porto fica com apenas dois centrais dos que começaram a época, Marcano e Indi. Se em janeiro já todos realçavam que havia carências no eixo defensivo, agora pior ainda. Oxalá não se caia no erro de achar que Chidozie vai ser a solução para todos os problemas. Ainda se trata de um jogador inexperiente, e não é um (bom) jogo que muda isso. Todos são inexperientes antes de começar, mas há uns contextos mais favoráveis do que outros para integrar jovens.

É também um desafio para José Peseiro, que nunca trabalhou com nenhum grande central nem fez evoluir um grande defesa. Os melhores defesas com que trabalhou foram Beto e Polga, o que não é um grande atestado. Além disso, no FC Porto havia a tradição de os centrais habitualmente titulares fazerem um acompanhamento aos jovens que vão sendo lançados. Indi e Marcano dificilmente assumirão esse papel perante Chidozie ou Verdasca.

Verdasca à espreita
Falando em Verdasca, trata-se de um dos poucos sobreviventes do projeto Visão 611. Da equipa de sub-14 que em 2009 foi apresentada, restam também Andorinha, Rui Moreira e Rúben Macedo. Mas Verdasca ainda passou pelo Boavista, antes de regressar para os juvenis. É um central de grande valor e potencial, mas há que compreender os riscos de fazer a estreia frente a um tal de Aubameyang, que passa por qualquer defesa antes que este consiga pronunciar o seu nome.

Chidozie também se estreou a frio na Luz e teve nota bastante positiva. Falhou no lance do golo do Benfica, mas a partir daí não voltou a errar, o que não era fácil. Mas o adversário não deixou de ter oportunidades para complicar a vida ao FC Porto. Há a expetativa de Marcano recuperar a tempo, mas se tiver que jogar Verdasca há que haver tolerância e compreensão para as circunstâncias da sua estreia. O problema não é o miúdo que entra cometer erros: é não ter vindo nenhum reforço para o setor. Felizmente, José Peseiro está a trabalhar com o que tem em vez de lamentar o que não tem - e estaria no seu direito fazê-lo.

Na Alemanha, há que lutar por um resultado que dê perspetivas de apuramento na segunda mão, no Dragão, reconhecendo que o favoritismo está do outro lado - como esteve na maioria das grandes conquistas europeias do FC Porto.

PS: A inútil Comissão de Instrução e Inquérito da Liga, que legitimou quem infringiu os regulamentos, instaurou um processo contra o FC Porto pelo que se escreveu no Dragões Diário após o jogo com o Arouca. De um organismo inútil, não se pode esperar outra coisa senão parvoíces destas. Por outro lado, possivelmente seria evitável se o Dragões Diário, em vez de andar a fazer um joguinho de parentescos e coincidências face ao árbitro, se limitasse a factos. Mas nem isso conseguiram fazer, pois nem sequer foram capazes de reconhecer que o golo anulado a Brahimi era responsabilidade do árbitro auxiliar (que continua sem nome), não de Rui Costa. O Dragões Diário queixa-se que «a Liga de Clubes quer silenciar a livre expressão de opinião», mas o que o Dragões Diário fez também não foi dar opinião, foi enumerar uma série de coincidências familiares em relação a Rui Costa, insinuações sem concretização, quando a única coisa que tinha que fazer era identificar o erro gravíssimo do auxiliar de Rui Costa. Mas nem isso conseguiram fazer, fazendo lembrar a ridícula campanha do Benfica contra Pedro Proença por um erro de Ricardo Santos. Por fim o Dragões Diário diz hoje, pela primeira vez, que é uma espécie de «provedor do sócio». Se é, deixa ainda mais a desejar, pois raramente aborda os temas que realmente inquietam a massa adepta do FC Porto - basta passar os olhos pela bluegosfera. Quando o FC Porto apresentou o Dragões Diário, era descrito como um jornal diário para informar os adeptos do clube. Mas hoje diz-se que afinal é algo para «dar eco ao sentimento dos milhares de adeptos subscritores». Em que ficamos?

PS2: O blogue continua temporariamente sem sondagens para os prémios MVP.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Temos que ganhar ao Moreirense

Primeira reação à vitória na Luz: temos que ganhar ao Moreirense. Todo e qualquer efeito positivo que possa advir desta vitória perder-se-á ao primeiro deslize. Continuamos na mesma situação que antes do clássico: sem depender de nós e sabendo que cada perda de pontos pode tornar-se irrecuperável. Antes disso ainda haverá um dificílimo jogo na Liga Europa, frente ao Dortmund, mas que em nada muda os planos no campeonato: há que ganhar ao Moreirense.

Dito isto, três pontos saborosíssimos, num jogo em que, como seria de se esperar, ganhou quem foi mais eficaz. O Benfica teve mais bola, remates, ataques e ocasiões de golo, mas não faltou sangue frio a este FC Porto, abençoado pela chuva e por San Iker. E acima de tudo, foi uma vitória para José Peseiro.

A esmagadora maioria dos treinadores teria recuado Danilo Pereira. Peseiro optou por não mexer no meio-campo e lançou Chidozie. O miúdo não tremeu e Danilo foi, uma vez mais, um dos melhores em campo. Além disso, todos os sinais dados por José Peseiro ao longo da partida passaram por nunca recuar, por tentar ganhar o jogo. 

Como um dia disse Vítor Pereira, o Benfica pagava caro a alteração de ADN frente ao FC Porto. Neste caso, foi o FC Porto a manter o seu ADN e a sair vitorioso graças a isso. Peseiro manteve sempre a mesma matriz da equipa e, com o jogo empatado ao intervalo, trouxe uma equipa ainda mais determinada e ofensiva para o segundo tempo. Tudo isto poderia ser uma conversa diferente se Casillas não tivesse tido tão grande noite, mas entre todas as circunstâncias e adversidades só há que ficar satisfeito com o trabalho de jogadores e treinadores.


Iker Casillas (+) - A melhor exibição com a camisola do FC Porto, com meia dezena de defesas absolutamente decisivas. Mais do que as defesas e uns reflexos invejáveis, fartou-se de dar instruções à nova dupla de centrais que tinha à sua frente e transmitiu claramente confiança aos colegas. E mesmo tendo o Benfica jogadores fortes no jogo aéreo - a dupla de centrais do FC Porto, contrariamente, não é a mais forte pelo ar -, nunca tremeu nas saídas aos cruzamentos. Impecável.


O líder da reviravolta
Danilo Pereira (+) - Esquece as férias de verão: não só vais ao Euro 2016 como a titularidade na posição 6 terá que ser, por mérito, tua. Mérito de José Peseiro ao mantê-lo no meio-campo, sem alterar o seu fundamental papel em campo: sentido posicional perfeito, forte no desarme, na recuperação e na cobertura e raramente falhou no primeiro passe. Fisicamente esteve um monstro, contra adversários que por vezes pareciam aviões, com asas bem abertas. Imprescindível.

Héctor Herrera (+) - Quando, aos 28 minutos, fez o empate com um bom remate de fora da grande área, o FC Porto ainda nem um remate tinha feito. Este golo mudou a história de um jogo que corria o risco de se aproximar do 2x0. Foi o motor da equipa, dando sempre linha de apoio e nunca deixando de pressionar (recuperou 3 bolas no meio-campo do Benfica) e procurar o espaço. Eficácia de passe muito acima da média da equipa (o FC Porto acertou 77% dos passes, Herrera acertou 86%; e o Benfica 81%, já agora). E a braçadeira fica-lhe bem.

Outros destaques (+) - Não se podia pedir mais a Chidozie. No golo do Benfica notou-se toda a sua inexperiência (tentou ir ao encontro de Renato Sanches e abriu o espaço para Mitroglou entrar nas suas costas), mas este foi o primeiro jogo a sério da carreira de um miúdo que, na época passada, jogava a médio-defensivo (e não particularmente bem, a adaptação de Luís Castro a central foi feliz) nos sub-19. Mas esta acabou por ser a única grande falha que cometeu, num jogo que vai querer recordar para sempre.

Decisivo
André André subiu de rendimento na segunda parte, e embora não tão influente quanto Herrera foi importante na pressão no meio-campo do Benfica e como referência para a circulação. Brahimi também esteve bem melhor na segunda parte, com a particularidade de ter sido quando procurou a combinação com o colega (André André) em vez de serpentear que o FC Porto chegou ao 2x1. Aboubakar faz o golo da vitória, que é o melhor que se pode pedir a um ponta-de-lança, mas não se limitou a isso: arrancou, tentou desequilibrar em movimentos interiores, segurou a bola e aguentou a marcação forte do adversário. Destaque ainda para a entrada madura de Rúben Neves em campo: entrou numa fase em que não era preciso pezinhos de lã, mas sim rigidez. Entrou, viu cartão, varreu dois ou três e manteve o Benfica longe da grande área.

Reação de Peseiro (+) - O FC Porto começou mal. Quase 30 minutos em que a equipa nem um remate conseguia fazer. Felizmente, o treinador mudou a tempo e desistiu da ideia de meter André André à esquerda e fazer Brahimi surgir nas costas de Aboubakar. O FC Porto passou a funcionar melhor. André André e Herrera ficaram mais disponíveis para pressionar o Benfica na primeira zona de construção e isso mudou o jogo. A equipa esteve muito forte na recuperação (26 cortes) e Peseiro nunca fez alterações no sentido de recuar a equipa, mas sim de a manter pressionante e forte no meio-campo. Pode agradecer a Casillas, pois caso contrário toda a sua estratégia teria ido pelo cano, mas ganhar um jogo nestas circunstâncias e sob tantas adversidades é sempre louvável.


A rever (-) - O FC Porto apostou num modelo de transição mais rápida, mas a bola nas costas da defesa adversária poucas vezes funcionou: oito vezes apanhados em fora de jogo. Não é pouco, até porque o Benfica também não tinha um quarteto defensivo que seja de eleição (tudo composto por jogadores que só são titulares por não haver melhor disponível). A equipa entrou mal, como já foi dito, mas Peseiro reagiu a tempo. Corona foi a unidade mais apagada, Brahimi deixou muitas vezes Layún sozinho a fechar o flanco e enquanto André André estava à esquerda o FC Porto não conseguia pressionar. Um segundo golo do Benfica nesta fase acabava com o jogo. Nota ainda para a entrada de Marega, muito displicente: não sabia se tinha que segurar a bola, dando largura à circulação, ou se tinha logo que procurar a profundidade. Mas o pior foi aquele lance nos descontos, em que pode dar a bola a Aboubakar para matar o jogo mas decide inventar uma brincadeira qualquer. A diferença é que o FC Porto, felizmente, não precisou daquela bola para ganhar o jogo. Uma sorte que Renteria não teve em 2007.

Segue-se a Liga Europa, num dos estádios mais maravilhosos da Europa. Um resultado que permita ao FC Porto ter perspetivas de apuramento no Dragão seria bom. Nas contas do campeonato, tudo na mesma: não podemos perder pontos e temos que esperar por deslizes dos rivais. E oxalá não seja necessário voltar a precisar de uma noite tão inspirada de Casillas. O FC Porto ganhou o clássico, mas só os próximos jogos dirão se ganhou alguma coisa ao ganhar o clássico.

PS: Para a posterioridade ficam as imagens de Layún, à patrão, a refrescar-se graças a uma garrafa que lhe foi atirada por um adepto do Benfica. Ficam aqui os agradecimentos a esse generoso adepto: depois de um jogo tão intenso para o FC Porto, água fresquinha é o ideal para hidratar os jogadores. Obrigado a esse benfiquista que ajudou ontem o FC Porto. Um gesto de desportivismo fica sempre bem.