Já lá vão uns bons meses desde que Francisco Marques começou a divulgar e-mails de conteúdo comprometedor a envolver o Benfica, a arbitragem e os bastidores do futebol português. Até à data, as consequências práticas das divulgações semanais foram zero. Nada mudou, não houve punições, o Benfica segue impune. A única valia, até à data, foi a exposição do modus operandi que fez do Benfica tetracampeão e um eventual condicionamento para as épocas que se seguem.
Desde então, todos os que pretendem esclarecimentos sobre este caso - o FC Porto nunca acusou diretamente o Benfica de corrupção; o que fez foi expor matéria e apelar a sucessivas investigações - aguardam tomadas de posição públicas por parte das instâncias competentes. Passaram-se semanas sem haver uma única busca por parte da Polícia Judiciária.
No verão, o MP e a PJ terão tentado levar a cabo buscas ao Benfica, mas o Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa não cedeu as procurações. E segundo a revista Sábado, tal foi obra do juiz Jorge Marques Antunes, no seu último dia de serviço na instrução criminal, antes de ser transferido para outro tribunal. Foi o único esboço de uma tentativa de uma busca ao Benfica nos últimos meses.
Até que segunda-feira, no início desta semana, tivemos a confirmação de que as buscas ao Estádio da Luz estavam para breve. Como? Através desta declaração de João Correia, porta-voz da equipa de advogados do Benfica.
“É absolutamente essencial que o Ministério Público e a Polícia Judiciária venham aqui a esta casa e verifiquem se aquilo que é divulgado pelo Porto Canal corresponde ou não à realidade.” Frase publicada no site oficial do Benfica há três dias.
Portanto. Estão há meses, na praça pública, conteúdos que urgem ser alvo de investigação. E por milagre das coincidências, só hoje, três dias após este comunicado do Benfica, é que a PJ se apresenta no Estádio da Luz para começar a fazer buscas no caso dos e-mails!?
Isto faz lembrar aquela dona de casa muito preocupada com a forma como vai receber os convidados, que pede ao marido para empatar um pouco as visitas no hall de entrada enquanto dá um último jeitinho à sala. Então, enfim, tem a certeza que a sala está um brinquinho, pronta para receber as pessoas.
Como é claro, a partir do momento em que o Benfica incentiva a PJ a comparecer no Estádio da Luz, já tem a garantia de que a sala está bem arrumadinha. A PJ não vai encontrar absolutamente nada. Já estão a ver onde isto vai redondar: caso arquivado por falta de provas nas buscas.
Isto faz lembrar todo o caso dos vouchers, em que também havia matéria para punir o Benfica por práticas ilícitas, em todo o dossier da Liga Aliança.
Bruno de Carvalho revelou, no início de outubro de 2015, as ofertas ilegais que o Benfica fazia a equipas de arbitragem de todos os seus jogos. Só um ano depois é que foram feitas buscas no Estádio da Luz. Um ano depois! E qual foi a reação do Benfica a essas buscas? O Benfica emitiu um comunicado a afirmar que foi a própria SAD a convidar a PJ a fazer buscas na Luz.
Ora, precisamente o mesmo que acontece agora no caso dos e-mails. Não é surpresa que, poucas horas após as buscas da PJ, o Benfica já tenha emitido um comunicado a realçar que foi o próprio clube a apelar à investigação: «Desde o primeiro momento [o Benfica] requereu e disponibilizou-se a fornecer toda a informação necessária a um cabal esclarecimento de toda esta situação». A papel químico.
Este passo faz parte da lavagem já orquestrada e cujo desfecho já se antevê. A PJ não vai encontrar provas. Os cartilheiros virão a público, de peito cheio, afirmar que não houve provas nenhumas, que o clube colaborou com a investigação, que abriu a sua casa e que ninguém conseguiu encontrar nada. Tudo isto até ao passo final: caso arquivado.
O FC Porto prometeu, no final de julho, que «o melhor ainda está para vir». É caso para se prepararem para expor «o melhor», porque se depender destas buscas da PJ, o Benfica sairá do caso dos e-mails da mesma forma que saiu dos vouchers: a rir-se e de forma livre e impune.
Dizer que o FCP nunca acusou o Benfica, parece-me ser um pouco desajustado. Pois quando o FJMarques diz que, "existe um esquema de corrupcao para favorecer o Benfica", parece-me claramente que esta a acusar o Benfica. No entanto, ainda bem que ele fez essa acusao. Estas buscas so pecam por tardias...
ResponderEliminarApesar do pessimismo deste artigo devido a esta busca "à lá carte", a esperança está em que actualmente é algo difícil se não impossível, apagar totalmente rastos informáticos. É disso que eles têm e devem ter medo, porque sabem o que fizeram.
ResponderEliminarSaudações Portistas!
Com o jeitinho à casa, ainda se encontrava o entulho debaixo dos tapetes.
ResponderEliminar4 meses de aviso prévio, deram tempo de mudar a mobilia, a tapeçaria e mesmo o soalho.
Desconforta-me que a 3 dias das buscas João Correia tenha afirmado que queriam que as mesmas fossem feitas depressa, para se comprovar que tudo o que foi difundido no Porto Canal é mentira. Poderá significar que estavam informados das buscas e que já eliminaram as provas.
ResponderEliminarNo entanto, quero acreditar que uma diligência desta dimensão - com juízes, delegados do ministério público, especialistas e inspetores - só terá sido efetuada na forte convicção de ser bem-sucedida. Certo será que o que está nos servidores não será eliminável. E refiro-me apenas aos e-mails…
Apagar devem ter apagado mas....há só um pequeno detalhe, é que o servidor neste caso a PT, tem de guardar todos os registos durante 5 anos por isso salvo algum "erro"casual a PJ tem acesso à tudo...caso queria.
ResponderEliminarNão é PT, é Altice. E os registos não são a mesma coisa que conteúdo, mas os metadados podem dar para muita investigação.
EliminarPor muito que limpem , deixam sempre rasto . Mesmo que sejam eliminados no servidor ... cito perito especialista
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